Tema 2  Representações rupestres

Registros pré-históricos no Brasil

Nas páginas anteriores, você conheceu alguns exemplos de pintura mural. O uso de paredes, muros e tetos como suporte para a produção visual, no entanto, acompanha os seres humanos desde a Pré-História. Na imagem a seguir, por exemplo, podemos observar expressões visuais produzidas há milhares de anos sobre paredes rochosas.

Fotografia. Pintura rupestre de seres que lembram figuras humanas ou animais antigos. Algumas dessas figuras possuem quatro patas, além de caudas ou rabos, outras aparecem com somente quatro membros. Elas estão pintadas em tons de branco e vermelho sobre rochas.
As pinturas rupestres na Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato Piauí, remontam a milhares de anos. Fotografia de 2000.

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Foco na linguagem

  1. Observe a imagem e responda:
    1. Descreva os elementos que você observa na imagem reproduzida nesta página.
    2. Você imagina o que essas figuras representam?
    3. Que cores você identifica nas figuras representadas?
    4. Que materiais, em sua opinião, foram utilizados na produção desses registros?
    5. Em sua opinião, por que nossos antepassados produziam essas imagens sobre as rochas?
Versão adaptada acessível

1. Com base na descrição da imagem, responda:

a) Quais detalhes chamaram mais a sua atenção na imagem?

b) Que tipos de animais poderiam ser esses que a imagem parece representar?

c) Cite as cores que aparecem na imagem.

d) Que materiais, em sua opinião, foram utilizados na produção desses registros?

e) Em sua opinião, por que nossos antepassados produziam essas imagens sobre rochas?

2. Hoje, que espaços são utilizados pelos seres humanos para a criação de imagens?

Arte e muito mais

A Serra da Capivara

O Parque Nacional Serra da Capivara, localizado no estado do Piauí, foi fundado em 1979 por iniciativa da arqueóloga niêde Guidon. Na década de 1970, por meio das escavações dirigidas por essa pesquisadora no município de São Raimundo Nonato, foram descobertos centenas de artefatos de pedra lascada e fragmentos de carvão vegetal. O local em que foram encontrados esses vestígios é um abrigo de paredes rochosas cobertas por mais de mil registros visuais.

Fotografia. Mulher de cabelo curto grisalho e óculos de armação arredondada, vestindo camiseta azul. Ao fundo, há silhuetas de pessoas sobre uma ponte de visitação para as pinturas rupestres.
A arqueóloga niêde Guidon. Ao fundo, visitantes observam pinturas rupestres no sítio Boqueirão da Pedra Furada, Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato Piauí. Fotografia de 2003.

Essas figuras rupestres datam, possivelmente, de 5 mil a 17 mil anos e testemunham o modo de pensar e de representar dos seres humanos que viveram nessa região naquela época. Ali, está concentrado um dos maiores conjuntos de pinturas rupestres do mundo.

Em 1991, o Parque Nacional Serra da Capivara foi reconhecido como bem do patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e, em 1993, como parte do patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn). O parque também é reconhecido por seu patrimônio natural, pois abriga espécies animais e vegetais características da Caatinga, vegetação típica da Região Nordeste. Dentro do parque, vivem gaviões, tamanduás, onças, mocós, cotias e muitos outros animais da fauna brasileira.

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Forme um grupo com os colegas para refletirem juntos sobre o exemplo da Serra da Capivara. Vocês deverão dialogar e responder à seguinte questão: para que serve uma política de preservação como essa?

Ícone. Tema contemporâneo transversal Meio ambiente.
Fotografia. Destaque de uma mulher de costas, de cabelo preso, vestindo camiseta. Ela segura uma câmera e fotografa as pinturas rupestres de animais feitas em uma parede rochosa.
Visitante diante de pinturas rupestres no Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato Piauí. Fotografia de 2010.

A arte rupestre

As figuras do Parque Nacional Serra da Capivara estão entre os mais antigos registros visuais encontrados no Brasil e no continente americano. Registros como esses, na atualidade, são chamados arte rupestre.

A palavra rupestre tem origem no idioma francês e denomina todo tipo de imagem produzida sobre as paredes das rochas. Para pintar e desenhar, nossos antepassados utilizavam materiais naturais, como carvão, sangue de animais, ossos e pigmentos extraídos de vegetais. Arqueólogos e historiadores acreditam que eles usavam os dedos e objetos simples, como pincéis feitos de pelos e de penas de animais, para criar essas figuras nas rochas.

Os registros rupestres podem ser encontrados em diversos lugares do mundo. Observe as imagens a seguir.

Fotografia. Destaque de pintura rupestre de gado sobre uma rocha.
Pinturas rupestres na Caverna de Lascaux, na França. Acredita-se que esses registros tenham sido produzidos há, aproximadamente, 17 mil anos. Fotografia de 2010.
Fotografia. Pintura rupestre mostrando contornos de seres humanos em torno de bovinos.
Pinturas rupestres feitas há cêrca de 3 mil anos por membros do povo San na Caverna da Guerra. Parque Maloti-Drakensberg, África do Sul. Fotografia de 2012.

Mãos em negativo

Observe a imagem reproduzida na Caverna das Mãos. Essas pinturas foram feitas há mais de 9 mil anos na província de Santa Cruz, na Argentina. O que há de diferente entre essas pinturas e as imagens que vimos nas páginas anteriores?

Para criar as figuras rupestres que aparecem nessa imagem, os nossos ancestrais não utilizaram os dedos nem pincéis feitos de pelos ou de penas de animais. Para fazer essas pinturas, eles colocavam a mão sobre a rocha e sopravam pigmentos sobre ela para pintar seu contorno nessa superfície. Essa técnica atualmente é conhecida como mãos em negativo. As figuras pintadas nas paredes da Caverna das Mãos representam o registro da presença humana naquele local há milhares de anos.

Fotografia. Pintura rupestre mostrando mãos humanas contornadas em tintas de tons de preto, laranja e marrom.
Pinturas rupestres na Caverna das Mãos, em Santa Cruz, Argentina. Fotografia de 2007.

As incisões rupestres

Além das pinturas, existem figuras rupestres que foram obtidas por meio de córtes feitos na rocha, provavelmente com o uso de objetos pontiagudos ou de lascas de pedra. As figuras obtidas utilizando-se esse processo são chamadas incisões.

A seguir, podemos observar uma fotografia da Pedra do Ingá, em Ingá, na Paraíba. Acredita-se que as incisões feitas nessa pedra têm mais de 8 mil anos. Existem muitas versões sobre os possíveis significados dessas incisões e sobre a utilidade das figuras inscritas nessa rocha.

Fotografia. Vista de paredão rochoso com incisões de símbolos rupestres antigos. As formas possuem curvaturas e padrões.
Incisões rupestres da Pedra do Ingá, em Ingá Paraíba. Fotografia de 2014. Detalhe de incisões rupestres da Pedra do Ingá.

Arte rupestre é arte?

A noção de arte tem poucos séculos. Ela foi criada na Europa e, por muito tempo, foi relacionada a uma certa ideia de “belo” e à figura do artista como aquele que se expressa emocionalmente por meio da arte.

Muitos povos não tinham uma palavra para definir “arte”. Mas isso não os impedia de produzir imagens e objetos com um grande valor estético, independente de terem um uso decorativo ou de servirem à caça ou a finalidades como rituais e cerimônias religiosas.

Ao analisar figuras como essas, podemos nos perguntar: isso é arte? A resposta para essa pergunta depende da informação sobre o uso que era feito dessa figura. Mas ela também depende do nosso ponto de vista individual. Por isso, podemos também nos fazer essa pergunta de outras maneiras: eu reconheço a beleza daquilo que vejo? Identifico, no que vejo, um valor poético?

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Experimentações

Esta proposta retoma um dos elementos em comum entre todos os exemplos de pinturas rupestres vistos anteriormente: a materialidade. Que materiais eram utilizados nessas pinturas? Como eram coletados? Como eram processados para se tornar tinta ou pigmento? Você e os colegas vão produzir pinturas com pigmentos e materiais naturais. Para aglutinar o pigmento, vão utilizar uma técnica comum entre artistas do Brasil e do mundo: a têmpera de ovo. Você sabia que é possível fazer tinta com um ovo?

Material

  • 2 ovos
  • 1 copo de água
  • Óleo de cravo, vinagre ou própolis para proteger a tinta de fungos e bactérias
  • Temperos e alimentos coloridos: açafrão, urucum, café, pó de beterraba, folhas verdes e escuras amassadas e coadas
  • Papel grosso e resistente à tinta
  • Potinhos de isopor ou outro material para preparar a tinta
  • Peneira pequena
  • Pincel
  • Pote de água para lavar o pincel
  • Pano para secar o pincel

Procedimentos

  1. Quebre o ovo e separe a clara da gema. Retire a película com a ajuda de uma peneira. Reserve a gema.
  2. Pingue algumas gotas do óleo de cravo, vinagre ou própolis. Isso vai proteger a tinta para que ela não estrague rápido.
  3. Em potes ou suportes diferentes, coloque um pouco da gema do ovo, algumas gotas de água e o pigmento de sua preferência. Misture com a ajuda do pincel.
  4. Você e os colegas poderão produzir tintas de cores diferentes para compartilhar. Se cada um produzir uma com um pigmento diferente, vocês rapidamente terão uma grande variedade. Lembrem-se de limpar e secar o pincel durante a troca de tinta.
  5. Com as tintas em mãos, você já pode começar a sua pintura. Que tal tentar representar os materiais naturais que você usou para preparar essa tinta?

Avaliação

Depois de realizar essa experiência, converse com os colegas sobre os seguintes pontos e registre suas respostas no diário de bordo.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Que diferenças vocês percebem entre pintar com materiais feitos por vocês e pintar com materiais industrializados?
  2. Que dificuldades vocês tiveram durante o processo e como fizeram para solucioná-las?
  3. Que relações vocês estabelecem entre essa experiência e as discussões do Tema 2?

Depois de expor o seu ponto de vista e de acolher as opiniões dos colegas, aproveite para mostrar o seu trabalho e ver também as pinturas dos colegas.