Tema 2  As danças circulares

As origens da dança

A imagem reproduzida nesta página mostra incisões feitas há milhares de anos nas paredes de uma caverna. Note as figuras gravadas. Quantas figuras há na imagem? E o que essas figuras parecem fazer?

Fotografia. Parede rochosa marrom-clara com desenhos inscritos em relevo formando contornos de seres humanos. Ao lado,em destaque, detalhe da imagem  mostrando algumas silhuetas humanas, umas ao lado das outras, em diferentes posições.
Réplica de incisões rupestres da Caverna de Addaura, em Palermo, Itália. Museu Arqueológico Regional, Palermo. Os registros originais datam de cêrca de 8000 antes de Cristo Detalhe de réplica de incisões rupestres da Caverna de Addaura.

A imagem mostra a representação de figuras que têm fórmas humanas. Note que as figuras que estão na posição vertical (em pé) parecem realizar um movimento circular e que, no centro, duas delas estão na posição horizontal (deitadas). Você percebeu que todas as figuras parecem movimentar partes do corpo, como braços, pernas e tronco? Outro aspecto a ser observado nas incisões de Addaura é que as figuras representadas parecem usar máscaras de animais. Observe o detalhe da imagem.

Estudiosos acreditam que as incisões da Caverna de Addaura representam um ritual dançado e que essa é a mais antiga representação de dança realizada em grupo de que se tem conhecimento. Essas incisões sugerem que, desde os tempos mais antigos, os seres humanos utilizam a dança para se relacionar com o mundo ao redor e manifestar suas crenças.

A dança e o sagrado

Ao longo da história, a dança foi a fórma encontrada por povos de diferentes culturas para se relacionar com o sagrado e manifestar suas crenças, como no Tema 1, em que conhecemos um pouco sobre a relação entre dança e espiritualidade nas culturas dos povos indígenas Guarani Êmibiá e Yanomami.

Os gregos antigos, que viviam na região onde hoje é a Europa, acreditavam que a dança teria sido ensinada pelos deuses para que os mortais se alegrassem e pudessem homenageá-los. Observe a imagem desta página. Ela mostra esculturas produzidas na Grécia há mais de 3 mil anos.

Essas esculturas representam três pessoas que dançam em roda e uma figura central que toca liraglossário . Como você aprendeu na Unidade anterior, na Grécia antiga, a dança e o teatro faziam parte dos festivais realizados em homenagem a Dionísio.

Esculturas de argila representando três mulheres unidas pelas mãos, em semicírculo, ao redor de outra, que está ao centro. As figuras femininas têm tonalidades de marrom. Tons de marrom-escuro ornamentam os corpos e as vestimentas e, nos rostos, demarcam olhos e bocas.
Dança circular de mulheres. cêrca de 1300 antes de Cristo Esculturas de argila, dimensões variadas. Museu Arqueológico de Heraklion, Creta, Grécia.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Com o professor e os colegas de turma, procurem lembrar quais danças acontecem com as mãos dadas. Escolha uma e responda a algumas perguntas:
    1. Como a dança é realizada? Com quais movimentos?
    2. Há quanto tempo você conhece essa dança?
    3. Onde e com quem você aprendeu a dançá-la?
    4. Essa dança é praticada por algum motivo específico, como festa, brincadeira ou prática religiosa?
  2. Registre em seu diário de bordo os nomes das danças mencionadas pelos colegas que você não conhecia, como são os movimentos delas e de onde elas são.
    ilustração. Ícone Diário de bordo.

A dança odici

Na Índia, a dança surgiu atrelada ao teatro e com forte ligação com as crenças desse povo. Existem comprovações arqueológicas de que a dança era praticada na região há mais de cinco mil anos. Uma das danças mais populares da Índia é a odici, realizada por meio de gestos das mãos, movimentos corporais e expressões faciais, e até hoje é muito praticada na Índia.

Conforme registros rupestres encontrados na caverna de udaiagiri, na cidade de bubânes uár, na Índia, essa dança surgiu por volta do século dois antes de Cristo Uma das caraterísticas das coreografias desta dança é o uso de mudras, que são gestos das mãos com diferentes significados.

Fotografia. Apresentação de dança indiana. Mulher de cabelo castanho, preso e com um adorno de tom claro na parte posterior da cabeça, realiza passo de dança. Ela está descalça e, com a perna direita cruzada à frente da esquerda, toca o chão com a ponta do pé. O pé esquerdo, mais atrás, está todo apoiado no chão. Os braços estão abertos, cotovelos flexionados, com as duas mãos unidas à frente, na altura do peito, segurando uma flor vermelha. A bailarina veste roupas em estilo indiano: blusa justa de mangas curtas e calça acinturada e com as pernas bufantes, tudo em tons de vermelho e laranja. Ela usa adornos como brincos, colares, pulseiras grandes e cinto de contas.
A brasileira Silvana Duarte é bailarina e professora de odici. Na fotografia ela faz a posição “oferenda de flores à mãe-terra” em uma apresentação em São Paulo São Paulo, em 2013.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Outra dança tradicional da Índia é o kathakali. Essa é uma dança que se caracteriza por ser dramatizada e na qual os dançarinos utilizam máscaras, maquiagem, acessórios e vestimentas muito coloridos. Observe a fotografia a seguir.

Fotografia. Apresentação de dança indiana ao ar livre. Os intérpretes usam chapéus grandes ornamentados em tons de laranja, vermelho, amarelo e preto e vestem-se nos mesmos tons. As saias são compridas e rodadas, com listras coloridas na barra.  Na pintura facial  predomina o tom verde, com detalhes amarelos. À esquerda, uma figura de vestimenta vermelha, longa, usa na cabeça uma grande máscara de várias faces. No fundo da cena, à esquerda e à direita, uma multidão assiste à apresentação.
Apresentação de dança kathakali, em côtchi, na Índia. Fotografia de 2016.

A dança asteca

A dança também era parte da cosmovisãoglossário dos astecas, povo que ocupava o território que corresponde ao atual México antes de ser derrotado pelos colonizadores espanhóis. Os astecas acreditavam em vários deuses e, assim como os gregos antigos, realizavam festivais para homenageá-los.

Ilustração. Aquarela representando uma dança do povo asteca. Dispostos em uma roda,  vários homens indígenas com cocares de penachos verdes e túnicas brancas com desenhos vermelhos formando linhas na barra, ou círculos rodeados de pontos com com raios. Alguns usam uma tanga e a túnica nos ombros. Na roda, há duas pessoas fantasiadas de animais: uma de tigre e outra de pássaro. No centro da roda, há duas pessoas tocando tambores. Nas mãos, todos levam objetos adornados de diferentes maneiras.
TOVAR, Ruán de. O modo de dançar dos astecas - a última dança do primeiro contato. (cêrca de 1585). Aquarela sobre papel, 21 por 15,2 centímetros. In: Códice Tovar. Biblioteca John Carter Brown, Providence, Estados Unidos.

Na imagem reproduzida, pode-se ver a representação de uma dança que fazia parte de um festival asteca em homenagem a tezcatlipôca, o deus do céu noturno e da memória.

Arte e muito mais

O Códice Tovar

A palavra códice refere-se ao conjunto de desenhos e escritos feitos por escribas astecas e por outros habitantes da região do México, antes e depois da conquista espanhola. Nos códices, os povos originários narram eventos importantes de sua história e descrevem a organização do império e as cenas da vida diária dos astecas.

Publicado em 1585, atribui-se o Códice Tovar a um jesuíta mexicano, Ruán de Tovar (1546-1626). O Códice Tovar contém informações detalhadas sobre os rituais e as cerimônias realizados pelos astecas. Esse documento é ilustrado com 51 pinturas de página inteira.

A formação circular

Observe, mais uma vez, as imagens reproduzidas nas páginas 81 (incisões rupestres), 82 (escultura grega) e 84 (dança asteca), e, depois, responda: o que as danças mostradas nessas imagens têm em comum?

Possivelmente, você percebeu que as três imagens apresentam danças de períodos distintos, mas que acontecem em roda, as chamadas danças circulares.

A disposição em círculo é uma característica das danças que integram rituais, como nos casos abordados nas páginas anteriores. A formação circular, no entanto, também faz parte de danças recreativas e artísticas de povos de diferentes culturas.

Ao longo da história, a formação circular foi incorporando outras possibilidades, com diferentes modos de agregar pessoas, de construir espaços e de discutir ideias. Assim, foram surgindo danças com círculos concêntricos (uma roda dentro da outra), com ou sem as mãos dadas, em formato de caracol, entre outras.

A fotografia a seguir, por exemplo, mostra um grupo de pessoas dançando a sardana, uma dança típica da Catalunha, região do leste da Espanha. Nessa dança, mulheres e homens dão as mãos, erguem os braços e formam um grande círculo que se movimenta ao som de uma banda. Considerada um símbolo da Catalunha, a sardana é realizada em festas, comemorações e também em encontros que acontecem em ruas e praças.

Fotografia. Homens e mulheres adultos, de diferentes idades e tipos físicos, dançam na praça de uma cidade. Estão de mãos dadas, formando uma grande roda. Ao fundo, há edifícios antigos e árvores altas.
Pessoas dançam a sardana em Barcelona, Espanha. Fotografia de 2018.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

As danças em roda são praticadas em várias regiões do Brasil e do mundo, com algumas características em comum e outras específicas de cada lugar. Na nossa cultura também conhecemos e praticamos diversas danças. Para saber quais danças as pessoas da sua escola conhecem, e talvez descobrir danças que você não conhecia, realize com os colegas entrevistas com outras pessoas da escola.

Momento 1 – Roteiro de entrevista

  1. Reúna-se com dois ou três colegas para fazer um roteiro de entrevista com até sete perguntas.
  2. Como o objetivo da entrevista é descobrir novas danças, não se esqueçam de incluir no roteiro perguntas que ajudem a conhecê-las. Pode ser interessante saber também onde e com quem a pessoa entrevistada aprendeu aquela dança, se tem um nome e se ela sabe em quais lugares ela é dançada.
  3. Elaborem também outras perguntas, pensando em outras coisas que vocês gostariam de saber a partir da entrevista.
  4. Ao final da entrevista, vocês podem pedir ao entrevistado que ensine um ou dois passos das danças que conhece e pratica.

Momento 2 – Entrevistas

  1. Entrevistem até três pessoas da escola, funcionários ou estudantes, de diferentes faixas etárias.
  2. Registrem no diário de bordo aquilo que vocês considerarem mais importante ou que lhes tenha chamado a atenção nas entrevistas.
    ilustração. Ícone Diário de bordo.
Ilustração. Menina negra de cabelo cacheado castanho, preso em um coque alto, vestindo camiseta branca e calça azul. Ela tem nas mãos uma folha de papel e se dirige a um homem branco de cabelo curto castanho, vestindo camiseta azul e calça roxa. Ele gesticula enquanto fala. Atrás, há janelas de uma sala de aula com silhuetas de uma mulher em pé diante de crianças sentadas em carteiras.

Momento 3 – Partilha

  1. Depois das entrevistas, retornem para a sala de aula a fim de partilhar com os colegas o que vocês aprenderam e descobriram.
  2. Utilize as anotações do seu diário de bordo para se lembrar daquilo que considerou mais importante.
  3. Com seu grupo, mostre alguns passos das danças aprendidas.

Glossário

Lira
: instrumento musical de cordas. Para tocá-la, as cordas são dedilhadas.
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Cosmovisão
: é a fórma como os povos concebem o mundo, incluindo aspectos culturais, religiosos, sociais e leituras da realidade.
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