Tema 2 A linguagem musical
Das musas à música
Você sabia que a palavra música remontaglossário à Grécia antiga? A origem dessa palavra tem relação com as musas, que, na mitologia grega, eram divindadesglossário que inspiravam os artistas e os pensadores a escrever poemas, narrativas, peças de teatro, músicas e a realizar cálculos.
Na mitologia grega, eram nove as musas e cada uma delas inspirava uma das artes. É importante lembrar que, para os gregos da Antiguidade, a música era sempre associada à poesia e à dança.
Observe, a seguir, a reprodução de uma pintura de um artista do século O tema dessa pintura é o mito das musas. Note cada detalhe da reprodução atentamente. Você acha que é possível estabelecer alguma relação entre a representação das musas e a arte que elas inspiram?
Um dos primeiros instrumentos musicais
Na abertura desta Unidade, você conheceu um pouco da história e do trabalho realizado pelo quinteto Vento em Madeira e descobriu que todos os integrantes do grupo são instrumentistas, ou seja, tocam instrumentos musicais. Você sabia que os seres humanos produzem instrumentos musicais há milhares de anos e que a flauta está entre os instrumentos mais antigos de que se tem conhecimento?
Estudos indicam que, há cêrca de 40 mil anos, os seres humanos teriam começado a atribuir sentido aos sons que ouviam ou aos sons que eles mesmos emitiam. Essa consciência teria surgido da audição de sons naturais, como grunhidos (sons emitidos por alguns animais), gritos, palmas e o bater dos pés. Por meio dessa consciência, nossos antepassados passaram a utilizar esses sons em ações do cotidiano, como a comunicação entre integrantes de um grupo, a organização de caçadas e o aviso sobre possíveis perigos.
Foi o desenvolvimento dessa consciência sonora que possibilitou aos seres humanos criarem os primeiros instrumentos musicais. A flauta da fotografia é uma réplica de um instrumento musical que foi produzido há cêrca de 35 mil anos. Acredita-se que a flauta original tenha sido feita do osso de uma ave.
Faça no diário de bordo.
Experimentações
• Assim como nossos antepassados utilizavam os sons dos instrumentos para se comunicar, nesta experimentação, você criará um sistema de comunicação sonora com um colega.
Procedimentos
- Individualmente, façam uma lista de perguntas em que as possíveis respostas sejam unicamente “sim” ou “não”. Por exemplo: você gosta de comer maçã? Você virá à escola amanhã? Você fez a lição de casa de Matemática?
- Criem conjuntamente um som específico para a resposta afirmativa e outro para a negativa.
- Agora você está pronto para fazer a sua entrevista. Faça as perguntas em voz alta para a sua dupla e, em seguida, feche os olhos. Seu colega deverá responder utilizando os sons definidos para “sim” e “não”. Por fim, anote as respostas sonoras que você escutou e confira, ao final da entrevista, se identificou corretamente o que o colega respondeu.
As flautas indígenas
As flautas têm papel importante em rituais e em cerimônias de diferentes povos indígenas e são produzidas com diversos materiais, como ossos de animais, troncos de árvores e pedaços de bambu.
Grupos que vivem no Parque Indígena do Xingu, no estado de Mato Grosso, por exemplo, tocam a uruá (flauta feita de bambu) durante o Cuarúpi, cerimônia realizada em homenagem aos mortos. A origem dessa cerimônia está relacionada à fórma como os povos do Xingu acreditam que a humanidade tenha sido criada. O Cuarúpi é realizado por diferentes povos indígenas e é composto de várias atividades, como danças, cânticos e lutas.
A flauta uruá é feita com dois tubos longos de tamanhos diferentes. Esses tubos não têm furos, e as notas são obtidas por meio das diferentes maneiras como os tocadores posicionam os lábios quando sopram. A obtenção das notas também está relacionada com o tamanho de cada um desses tubos.
Artista e obra
diuêna Tikuna
diuêna Tikuna nasceu na Terra Indígena Tukuna Umariaçu, localizada em Tabatinga Amazonas , na fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia. diuêna é autora de mais de vinte composições, todas escritas na língua tikuna. Suas canções abordam aspectos relacionados à identidade cultural e aos direitos dos povos indígenas.
A seguir, temos a letra da canção “ (em português, A anciã vive em mim a sua juventude), canção que trata da importância da valorização da sabedoria ancestral como um presente para as futuras gerações.
Ouça o áudio “Trecho de (A anciã vive em mim a sua juventude), composição e interpretação de diuêna Tikuna" e acompanhe a letra reproduzida a seguir. Abaixo de cada verso da letra em tikuna está a tradução para o português.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
TIKUNA, Djuena. In: TIKUNA, Djuena. Tchautchiüãne. Manaus: Estúdio 301, 2017. CD. Faixa 9. (Trad. professor Sansão Tikuna.)
Os elementos da linguagem musical
A música é uma linguagem que nos possibilita expressar e comunicar ideias, pensamentos e sensações por meio da organização dos sons e do silêncio. A linguagem musical é composta de vários elementos, entre eles o ritmo, a melodia e a harmonia.
O ritmo
Você já deve ter observado que a natureza segue um ritmo. Pense, por exemplo, na alternância entre o dia e a noite ou no ciclo de vida dos seres vivos. Esses fenômenos acontecem em uma sequência ordenada de eventos que denominamos ritmo. O nosso corpo também apresenta um ritmo: as batidas do coração, por exemplo, acontecem de acordo com um batimento ritmado que se chama pulsação.
O ritmo é um dos principais elementos da linguagem musical e refere-se à ocorrência dos sons (alternando entre fortes e fracos) e do silêncio em um período de tempo. Por essa razão, podemos afirmar que, na música, o ritmo relaciona-se diretamente com a duração dos sons (propriedade que você conheceu na página 105).
Faça no diário de bordo.
Experimentações
- Acompanhado por gravações musicais, caminhe pelo ambiente em diferentes velocidades e direções. Simultaneamente, tente acompanhar o ritmo da música batendo palmas e coxas, seguindo as orientações do professor. Aproveite para explorar movimentos, gestos e sons corporais variados.
- Nesta atividade, com a orientação do professor, você se reunirá em grupo com alguns colegas para criar breves sequências rítmicas utilizando os sons produzidos pelo corpo. Para isso, siga as instruções a seguir.
- Experimentem as possibilidades sonoras do corpo (palmas, estalo de dedos, bater nas pernas, bater os pés, sons diversos feitos com a boca, entre outros).
- Estruturem uma breve sequência de sons produzidos pelo corpo que possa ser facilmente memorizada. Registre a sequência que você criou em seu diário de bordo. Caso consiga desenvolver diferentes ritmos, aproveite e anote todas as suas composições.
- Repitam a sequência criada de acordo com uma regularidade rítmica, sem acelerar nem diminuir a duração dos sons.
- Apresentem sua sequência aos colegas e peçam a eles que tentem reproduzi-la.
A melodia e a harmonia
Em música, chamamos melodia a sequência de sons musicais ouvidos ou tocados um após o outro, de modo que se expresse um sentido musical. Em uma canção, por exemplo, a melodia é a parte da música que o cantor canta, emitindo sons (notas musicais) sem a letra. Nas músicas instrumentais, ou seja, nas músicas em que não há o canto, geralmente podemos encontrar as melodias nas partes mais destacadas da música, que podem ser tocadas por apenas um instrumento ou por vários.
A harmonia é o resultado sonoro equilibrado decorrente da combinação de vários sons tocados simultaneamente (que podem ser chamados acordes). As harmonias geralmente são usadas como acompanhamento das melodias.
Experimentações
• Siga as instruções e realize a atividade proposta.
a) Leia o trecho da canção “Luar do sertão” reproduzido a seguir. Essa leitura deve ser feita em voz alta e de fórma contínua.
(2×)
“Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão.”
CEARENSE, Catulo da Paixão; PERNAMBUCO, João. Luar do sertão. Intérpretes: Luiz Gonzaga e Milton Nascimento. In: GONZAGA, Luiz. A festa. , érre cê á 1981. Faixa 1.
b) Agora, cante esse trecho da canção. Observe que algumas palavras são cantadas mais rapidamente e outras, mais lentamente, estabelecendo um ritmo. Quais são as palavras cantadas de modo mais lento do que as outras?
c) Cante novamente a canção, mas agora com a boca fechada, sem pronunciar as palavras, e perceba os diferentes sons musicais. Note que, mesmo sem dizer as palavras, você conseguirá reconhecer a melodia da canção.
d) Ouça o áudio "Trecho de 'Luar do sertão', de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco". Perceba que a primeira parte da gravação apresenta a melodia executada pela voz do cantor. Na segunda parte, o violão executa a harmonia da mesma canção e, por fim, na última repetição, a melodia foi enriquecida pela harmonia dos acordes executados de modo arpejado (com as notas tocadas em sequência, e não simultaneamente).
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
PARA ASSISTIR E OUVIR
• Tum Pá, ao vivo. Barbatuques. Direção: Núcleo Barbatuques. Brasil: ême cê dê, 2014. 1 dêvedê (52 minutos).
Esse dêvedê traz o registro do show Tum Pá. A proposta do Barbatuques é utilizar o corpo como instrumento musical. O grupo explora a produção de músicas com o corpo e a recriação de canções da cultura popular brasileira.
PARA LER
• ROCA, Núria. Música. São Paulo: Escala Educacional, 2009.
Esse livro transporta o leitor para o mundo da música, propondo diversas experiências com essa linguagem artística.
Entre textos e imagens
O ritmo na poesia
Você descobriu nesta Unidade que o ritmo é um elemento fundamental para a música e para a dança. O ritmo, no entanto, se encontra também em produções de outras linguagens. Você sabia, por exemplo, que é possível perceber e empregar o ritmo em um poema? Leia o poema a seguir.
Ritmo
Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco
Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes
No arroioglossário
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa
até que enfim
se desenrola
toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!
QUINTANA, Mario. In: CARVALHAL, Tania Franco organização. Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. página 385. cópiráiti bái Elena Quintana.
Note que o ritmo − além de fazer parte do título do poema − é construído pelo poeta Mario Quintana (1906-1994) com recursos como a alternância de sílabas (fortes e fracas), a alternância de versos (longos e curtos) e a repetição de palavras. Observe que esses recursos conferem sonoridade ao poema.
Faça no diário de bordo.
Questões
1. Seguindo as orientações do professor, leia o poema “Ritmo” com os colegas, em diferentes velocidades.
Versão adaptada acessível
1. Seguindo as orientações do professor, declame o poema "Ritmo" com os colegas, em diferentes velocidades.
2. Observe se a mudança da velocidade da escuta do poema altera a fórma como você o compreende. Anote suas reflexões no diário de bordo.
Faça no diário de bordo.
Experimentações
• Seguindo as instruções a seguir, você fará um exercício musical.
a) Cante com os colegas a canção do áudio "'Luar do sertão', de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco" e acompanhe a letra reproduzida a seguir.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Luar do sertão
(2×)
“Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão.
Oh! Que saudade
Do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão.
Este luar cá da cidade, tão escuro,
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão.
(2×)
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão.
Se a lua nasce
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão.
E a gente pega
Na viola que ponteiaglossário
E a canção é a lua cheia
A nos nascer no coração.
(2×)
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão.
Coisa mais bela
Neste mundo não existe
Do que ouvir-se um galo triste
No sertão, se faz luar.
Parece até
Que a alma da lua
É que descantaglossário
Escondida na garganta
Desse galo a soluçar.
(2×)
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão.
Ah, quem me dera
Que eu morresse lá na serra
Abraçado a minha terra
E dormindo de uma vez.
Ser enterrado numa grotaglossário pequenina
Onde à tarde a sururinaglossário
Chora a sua viuvez.
(2×)
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão.”
CEARENSE, Catulo da Paixão; PERNAMBUCO, João. Luar do sertão. Intérpretes: Luiz Gonzaga e Milton Nascimento. In: GONZAGA, Luiz. A festa. , érre cê á 1981. Faixa 1.
b) Com a orientação do professor, com os colegas, escreva uma paródia da canção “Luar do sertão”. A letra deverá descrever os aspectos da região, cidade ou bairro em que você mora. Enfoque as características do lugar onde vive, tanto as positivas quanto as negativas. No caso das negativas, busque incorporar as possibilidades de ação que podem, de alguma contribuir para a melhora dessa condição. Registre a sua composição em seu diário de bordo.
Avaliação
Após realizar as atividades propostas, responda às questões a seguir em seu diário de bordo.
a) Defina, com suas palavras, os três elementos da linguagem musical e suas principais características.
b) Você gostou de realizar as atividades em grupo? Qual foi sua maior dificuldade?
Glossário
- Remontar
- : ter origem em.
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- Divindade
- : ser divino, sagrado.
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- Arroio
- : pequeno curso de água; riacho.
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- Pontear
- : dedilhar em instrumento musical de cordas.
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- Descantar
- : cantar ou tocar.
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- Grota
- : cavidade na encosta de um morro.
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- Sururina
- : espécie de ave.
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