Unidade 3  Dança: expressão e cultura

Fotografia. No centro de um palco, um homem de cabelo curto preto, vestindo camiseta sem mangas e calça manchadas de tinta roxa, verde e marrom. Está com os braços abertos e, movimentando-se para a frente, apoia-se em uma das pernas flexionada, enquanto a de trás fica levemente suspensa. O rosto está voltado para o chão. A sombra do ator projeta-se na cortina ao fundo do palco. Na cena, ao redor dele, à esquerda, sentado, há um homem de cabelo curto preto com o olhar voltado para uma pessoa que está com o seu corpo sobre as suas pernas, que estão dobradas para dentro. À direita da cena, sentada no chão, há uma mulher de cabelo longo castanho, vestindo camiseta de alças manchada de tinta. O rosto e o braço estão  adornados com pinturas tribais. No fundo do palco, virada de cabeça para baixo, há uma canoa rústica de madeira virada para baixo.
Cena do espetáculo Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos, da Cia. Oito Nova Dança. São Paulo (SP), 2014.

Nesta Unidade:

TEMA 1 A criação do movimento

TEMA 2 As danças circulares

TEMA 3 O formato circular nas manifestações culturais brasileiras

Respostas e comentários

Competências da Bê êne cê cê

As competências favorecidas nesta Unidade são:

Competências gerais: 1, 3, 4, 6 e 10.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3 e 5.

Competências específicas de Arte para o Ensino Fundamental: 1, 3, 4 e 8.

Objetos de conhecimento e habilidades da Bê êne cê cê

As habilidades favorecidas nesta Unidade são:

Artes visuais

Contextos e práticas

(ê éfe seis nove á érre zero três)

Dança

Contextos e práticas

(ê éfe seis nove á érre zero nove)

(ê éfe seis nove á érre um zero)

(ê éfe seis nove á érre um um)

Processos de criação

(ê éfe seis nove á érre um dois)

(ê éfe seis nove á érre um três)

(ê éfe seis nove á érre um quatro)

(ê éfe seis nove á érre um cinco)

Música

Materialidades

(ê éfe seis nove á érre dois um)

Teatro

Elementos da linguagem

(ê éfe seis nove á érre dois seis)

Artes integradas

Contextos e práticas

(ê éfe seis nove á érre três um)

Processos de criação

(ê éfe seis nove á érre três dois)

Matrizes estéticas e culturais

(ê éfe seis nove á érre três três)

Patrimônio cultural

(ê éfe seis nove á érre três quatro)

Sobre esta Unidade

Nesta Unidade, os estudantes são apresentados à linguagem da dança em duas dimensões: a do movimento em que a dança é um modo de conhecer o corpo e suas funções para além da arte, e a dimensão expressiva, isto é, criativa, poética, artística. Para isso, são abordadas diferentes referências da linguagem e os estudantes realizam diversas pesquisas e experimentações corporais com a dança, culminando na criação de uma coreografia.

De olho na imagem

Fotografia. No centro de um palco, um homem de cabelo curto preto, vestindo camiseta sem mangas e calça manchadas de tinta roxa, verde e marrom. Está com os braços abertos e, movimentando-se para a frente, apoia-se em uma das pernas flexionada, enquanto a de trás fica levemente suspensa. O rosto está voltado para o chão. A sombra do ator projeta-se na cortina ao fundo do palco. Na cena, ao redor dele, à esquerda, sentado, há um homem de cabelo curto preto com o olhar voltado para uma pessoa que está com o seu corpo sobre as suas pernas, que estão dobradas para dentro. À direita da cena, sentada no chão, há uma mulher de cabelo longo castanho, vestindo camiseta de alças manchada de tinta. O rosto e o braço estão  adornados com pinturas tribais. No fundo do palco, virada de cabeça para baixo, há uma canoa rústica de madeira virada para baixo.
Cena do espetáculo Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos, da Cia. Oito Nova Dança. São Paulo (SP), 2014.

Faça no diário de bordo.

  1. Observe a fotografia do espetáculo. O que mais chamou sua atenção?
  2. Que partes do corpo dos intérpretes estão mais evidentes?
  3. Os intérpretes estão mais próximos ou mais distantes do chão?
  4. Quais movimentos os dançarinos estão realizando na fotografia? E como estes movimentos poderiam continuar?
  5. Como são os figurinos e as maquiagens usados pelos intérpretes?
  6. Observe o cenário, os objetos e outros elementos que vemos na imagem. O que eles o levam a imaginar?
Versão adaptada acessível

6. O que a descrição dessa imagem leva você a imaginar? Pense em como o cenário está descrito, assim como os movimentos que as pessoas estão realizando, vestidas dessa maneira.

7. Os figurinos, a maquiagem e as partes do cenário vistos na fotografia remetem a alguma situação, a algum lugar ou a pessoas que você conhece ou já viu em filmes, séries, fotografias? Quais?

Versão adaptada acessível

7. Os figurinos, a maquiagem e as partes do cenário dessa fotografia remetem a alguma situação, a algum lugar ou a pessoas que você conhece de filmes, séries ou de outras fotografias das quais tenha ouvido a descrição? Quais?

8. Em sua opinião, por que esse espetáculo de dança se chama Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos?

Respostas e comentários

De olho na imagem

Faça dessa leitura de imagem uma oportunidade de realizar uma avaliação diagnóstica por meio da conversa. Você poderá verificar o desenvolvimento das habilidades de interpretação de imagem e como os estudantes dialogam e argumentam sobre a leitura da obra de referência. Você poderá desdobrar as perguntas e investigar as experiências prévias que os estudantes têm com a linguagem da dança. Verifique qual é o repertório dos estudantes sobre essa linguagem. Pergunte a eles se também dançam, quando, onde e em quais situações. Talvez esta Unidade do livro seja a primeira oportunidade que eles têm de vivenciar a dança como um campo de aprendizagem e conhecimento, e por isso será importante construir conexões com a vida cotidiana e o imaginário cultural que eles já têm. A depender do seu diagnóstico, readeque o uso das propostas e conteúdos da Unidade.

Se considerar oportuno, converse com os estudantes sobre a distinção entre os termos dançarino ou dançarina e . Para a dança contemporânea, o termo empregado usualmente é dançarino ou dançarina. Para o balé clássico, a palavra é mais comumente empregada. Nesta coleção, também foi empregado o termo intérprete (da coreografia) como sinônimo de e de dançarino ou dançarina.

1. Realize a leitura atenta da imagem com os estudantes. Dedique um tempo para escuta do que eles relatam, considerando e acolhendo as diversas compreensões que eles podem expressar. É possível que alguns estudantes estejam mais habituados a ler imagens e outros, menos. Por isso, é importante considerar todas as leituras pois, mesmo que aparentem desviar do assunto, elas dizem muito sobre a maneira como eles recebem e percebem essa fotografia.

2. Depois de eles terem respondido, se ainda houver dúvida, ajude-os a perceber que os braços, as mãos, as pernas, o joelho e a cabeça são algumas das partes do corpo dos intérpretes que estão em evidência para o público.

3. Incentive os estudantes a comentar o que observam na imagem. Depois que derem suas opiniões, comente com eles que o dançarino em destaque, no centro do palco, está em pé (posição mais distante do chão) e que os demais integrantes do espetáculo se encontram com o corpo todo mais próximo do chão. Observe com os estudantes que os dançarinos podem dançar em diferentes níveis de espaços em uma coreografia. Retome com eles o conceito de espacialidade, apresentado na Unidade anterior.

4. Solicite aos estudantes que observem a fotografia novamente e comentem suas impressões. Possivelmente eles mencionarão que os intérpretes (dançarinos) retratados estão realizando movimentos diferentes. Comente que, em muitas das apresentações de dança, como no caso do balé clássico, os dançarinos executam os mesmos passos, ou seja, dançam em “uníssono”.

5. Se considerar oportuno, comente com os estudantes que o figurino está sujo de terra. Chame a atenção para isso e peça a eles que reflitam sobre o significado do uso desse elemento natural em cena.

6. Após ouvir as impressões dos estudantes, pergunte se foram influenciados pelo título do espetáculo ou por alguma lembrança pessoal. Depois, apresente outras leituras possíveis: os braços abertos do dançarino central, por exemplo, lembram uma ave alçando voo. Questione-os: se outras partes do corpo estivessem em evidência, essa leitura seria a mesma? Por quê? Ao final, comente que a apreciação da dança não é somente a descrição do que está sendo visto – no caso, os braços abertos, o tronco inclinado, a cabeça pendente do dançarino ao centro –, mas o que essa descrição nos leva a pensar, imaginar, relacionar com aquilo que já conhecemos ou vivenciamos.

7. Incentive os estudantes a falar de suas experiências. É importante que eles entendam que a apreciação estética vai além da descrição. Ou seja, é importante que eles entendam que a descrição os leva a imaginar, lembrar e relacionar esse figurino com suas vidas e experiências. Por exemplo, o figurino do espetáculo retratado é composto de roupas cotidianas brancas “sujas” de barro e manchas claras de tinta. Isso pode remeter ao quintal, ao parque, à infância brincando na lama e a tantas outras experiências pessoais dos estudantes.

8. Estimule-os a elaborar hipóteses livremente. Depois, pergunte a eles se conhecem todas as palavras que compõem o título. Provavelmente, eles dirão que não conhecem as palavras xapiri e xapiripê. Explique que ambas têm origem indígena (e se referem aos “espíritos da floresta”), o que indica que o espetáculo aborda essa temática, tendo como referência rituais realizados por alguns povos indígenas brasileiros – como os Guarani Yanomami, cachináua, Kayapó mebengocrê, Tukano, Marubo, Guajá, Vauia, Karajá e quissedgê – e que tanto o figurino quanto os elementos cenográficos (a embarcação de madeira emborcada no palco, por exemplo) dialogam com aspectos culturais desses e de outros povos indígenas.

Artista e obra

Companhia Oito Nova Dança

A Companhia Oito Nova Dança, formada em 2000 por Lu Favoreto, cria espetáculos que dialogam com diferentes culturas.

Um de seus espetáculos é Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos, proposta que teve origem em uma investigação da companhia a respeito das crenças e dos rituais realizados pelos Yanomami, povo indígena que vive em áreas do Brasil e da Venezuela.

Para o povo Yanomami, xapiri são espíritos da floresta, das águas e dos animais, que brilham e se apresentam dançando e cantando sobre um chão espelhado.

A companhia também investigou danças e tradições de outros povos indígenas, como os Guarani Êmibiá, que vivem em diversos estados brasileiros, na Argentina e no Paraguai.

Fotografia. Cena teatral. No palco, há quatro atores, dois homens e duas mulheres. Os dois homens ocupam o centro da cena. Estão recurvados apoiando uma cabeça contra a outra. Ambos estão de peito nu, vestindo bermudas e descalços. O homem da esquerda traz, sobre a bermuda, uma saia curta, marrom-avermelhada, de plumas. O da direita, usa joelheiras pretas. Ambos apresentam pinturas corporais de linhas finas, em preto e cinza.  Mais ao fundo, à esquerda, há uma mulher de cabelo loiro preso e, à direita, uma mulher de cabelo escuro longo. Ambas usam vestido branco, estão descalças e têm pinturas corporais. Cada uma delas segura dois bastões, um em cada mão, que batem no chão enquanto se movimentam.
Cena do espetáculo Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos, da Companhia Oito Nova Dança. São Paulo São Paulo, 2014.

Ao longo dos anos, essa companhia tem realizado apresentações com coreografias que abordam diferentes temáticas. Você sabe o que é uma coreografia? Esse é o nome dos movimentos combinados que os intérpretes apresentam em um espetáculo de dança. O criador das coreografias é chamado coreógrafo.

Respostas e comentários

Artista e obra

Comente com os estudantes que a definição de coreografia apresentada nesta página é apenas para que eles tenham um primeiro contato com o assunto, pois esse tema será aprofundado no 7º ano.

Indicação

O livro A queda do céu: palavras de um xamã yanomami (Companhia das Letras, 2015), escrito por Davi Copênaua e brús álbertch, é uma referência importante de estudo para o professor, caso considere oportuno aprofundar os diálogos com a cultura dos Yanomami.

Se considerar oportuno, a partir da cosmovisão dos povos Yanomami, aborde o problema da devastação das florestas no Brasil. Essa pode ser uma boa oportunidade para abordar e discutir os temas Meio ambien­te (Educação ambiental) e Multiculturalismo (Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras), Temas contemporâneos transversais.

Uma das possibilidades para aprofundar esses temas é orientar os estudantes a pesquisar o desmatamento no território e nas regiões do país onde estão os Yanomami, com atenção ao modo como os indígenas analisam o problema.

Tema 1  A criação do movimento

Os movimentos expressivos

A imagem reproduzida na abertura desta Unidade mostra, no centro do palco, um dançarino fotografado no momento em que realizava alguns movimentos que deixam evidentes diferentes partes do corpo dele, como pernas, cabeça, braços e mãos. Agora, observe a imagem a seguir.

Fotografia. Três intérpretes dançam em uma palco. No centro,de costas, há um homem parcialmente calvo, descalço, sem camisa e de bermuda amarela, com pinturas corporais tribais. Está com os braços erguidos acima da cabeça e curvados para dentro, formando um arco. À esquerda do palco, há uma mulher de cabelo preto e vestido branco saltando no ar, para a frent, com os braçõs erguidos e abertos. Usa adorno de penas nos cabelos e pintura facial preta, como uma máscara na região dos olhos. À direita do palco, outra mulher de vestido branco está saltando no ar com os braços abertos. Os cabelos ruivos e longos. soltos, estão esvoaçando. As duas mulheres estão descalças. No fundo do palco, há uma canoa rústica virada para baixo.
Intérpretes da Companhia Oito Nova Dança no espetáculo Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos. Da esquerda para a direita, Denise Barretto, Raoni Garcia e Luciana Romano. São Paulo São Paulo, 2014.

Na imagem desta página, três integrantes da Companhia Oito Nova Dança aparecem em outra cena do espetáculo Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos. Note que o corpo deles se posiciona em diferentes espaços do palco e que cada intérprete realiza movimentos distintos, em diferentes direções. O intérprete que se encontra no centro da fotografia, por exemplo, tem os dois pés mais próximos do chão e os braços levemente erguidos e flexionados (dobrados). As intérpretes que estão ao lado dele no palco foram retratadas saltando e com os braços estendidos e abertos.

Esses e tantos outros movimentos realizados por dançarinos durante as apresentações de dança são chamados movimentos expressivos e, em geral, têm o objetivo de propor uma ideia, discutir um tema, promover reflexões ou mobilizarglossário as emoções do público.

Respostas e comentários

Objetivos

• Reconhecer o movimento corporal como fundamental para a composição cênica.

• Entender a classificação dos movimentos como funcionais e expressivos.

• Compreender que os movimentos funcionais podem integrar obras artísticas.

• Reconhecer a importância do dançarino e coreógrafo rúdolf Laban no estudo do movimento.

• Experienciar a realização de movimentos funcionais fóra de seu contexto original.

• Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre zero nove), (ê éfe seis nove á érre um zero), (ê éfe seis nove á érre um um), (ê éfe seis nove á érre um dois), (ê éfe seis nove á érre um três), (ê éfe seis nove á érre um quatro), (ê éfe seis nove á érre três um), (ê éfe seis nove á érre três dois) e (ê éfe seis nove á érre três quatro).

Contextualização

Retome com os estudantes a fotografia da abertura desta Unidade para que eles observem elementos que vão auxiliar na leitura da imagem desta página.

Comente com os estudantes que, assim como acontece com os demais povos indígenas, as crenças dos Yanomami estão diretamente relacionadas com elementos da natureza, como a floresta, os rios e os animais. O título do espetáculo da abertura − Xapiri Xapiripê, lá onde a gente dançava sobre espelhos −, por exemplo, é uma menção aos xapiri, espíritos da floresta que, de acordo com os Yanomami, têm a função de afastar doenças e proteger toda a humanidade de seres malignos. Os xamãs realizam rituais nos quais entram em contato com esses espíritos da floresta, os xapiri. E esses rituais envolvem dança e música.

Os Yanomami consideram a floresta um lugar sagrado, pois nela habitam os espíritos que protegem toda a humanidade. Essa é uma das razões que levam os membros dessa etnia a lutar pela preservação da natureza. Na cultura Yanomami, o mito que descreve o fim do mundo afirma que, se as florestas e os povos que vivem nela forem destruídos, os espíritos protetores abandonarão nosso mundo e o céu cairá sobre nossa cabeça.

Os movimentos funcionais

O movimento é um dos elementos estruturais que, com o espaço cênico (onde se dança) e o intérprete (quem dança), compõem as danças que conhecemos. Mas será que só existe o movimento “dançado”?

Nós nos movimentamos ao brincar, comer, subir e descer do ônibus, dar um abraço, sorrir, chorar e até mesmo durante o sono. Aliás, muitas vezes nem sequer percebemos alguns dos movimentos corporais que realizamos (por exemplo, ao respirar). Permaneça em silêncio por alguns segundos e logo notará os pequenos movimentos que seu corpo realiza para inspirar e expelir o ar.

Tente também perceber outros movimentos, que parecem pequenos, que você faz enquanto está sentado ou parado.

Existe uma série de movimentos que realizamos no dia a dia para atender a determinadas necessidades, como escovar os dentes, tomar banho, subir escadas, usar o telefone celular e empurrar uma cadeira. Esses movimentos têm sempre um objetivo específico e uma função, por isso, são chamados movimentos funcionais.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Fotografia. Ao ar livre, quatro adolescentes sentados lado a lado, em um banco, consultando seus celulares. Atrás deles há um arbusto todo verde. Da esquerda para direita: menino de cabelo curto, preto e crespo, vestindo camiseta preta e calça jeans azul; menina de cabelo longo, castanho, vestindo blusa azul-escura e calça jeans azul-clara; menino de cabelo curto, liso, castanho, vestindo camisa verde e calça bege; menina de cabelo longo, castanho, vestindo blusa rosa e calça jeans azul. O menino de camisa verde apoia o queixo na mão esquerda enquanto olha para a tela do celular da menina de blusa rosa.
Adolescentes utilizando aparelhos celulares. Fotografia de 2014.
Fotografia. Rostos sorridentes de cinco crianças abraçadas, com as cabeças unidas, olhando para baixo, onde foi posicionada a câmera. Menino de cabelo preto e curto, menina de cabelo castanho longo e preso em tranças, menina de cabelo preto curto, crespo e tiara colorida, menina de cabelo loiro, preso e menina de cabelo castanho, cacheado, solto.
Ao sorrir, movimentamos diversos músculos da face. Fotografia de 2015.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Quais movimentos funcionais você faz no seu cotidiano? Relembre-os e registre em seu diário de bordo usando a escrita, o desenho e outros modos de anotar.

ilustração. Ícone Diário de bordo.

2. Faça um dos movimentos da sua lista para que os colegas da turma tentem adivinhar qual é.

3. Como você relaciona o efeito do uso do celular em sua postura corporal?

Respostas e comentários

Contextualização

Chame a atenção dos estudantes para o fato de que todos nós produzimos movimentos o tempo todo no cotidiano. Você pode dizer a eles que, se há vida, há movimento e que, mesmo sem a nossa vontade, se estamos vivos, nosso corpo se movimenta. Organize uma roda de conversa e peça aos estudantes que compartilhem com os colegas quais são os movimentos que executam no cotidiano. No lugar em que estiverem sentados, peça que fechem os olhos e percebam os movimentos naturais do corpo, como a respiração (o movimento da caixa torácica e da barriga), as batidas do coração e o piscar dos olhos.

Se considerar oportuno, peça aos estudantes que mencionem outros movimentos cotidianos que eles realizam com uma parte do corpo ou com o corpo todo. Por exemplo: digitar (dedos) ou saltar uma poça d’água (corpo todo). Essa conversa vai preparar o trabalho com a proposta de criação e pesquisa com os movimentos do cotidiano.

Proponha, mais uma vez, a observação da fotografia da página 70 e explore a ideia de que os movimentos expressivos constituem umafórma de materializar uma ideia, um pensamento, uma sensação ou um sentimento. Comente que, para elaborar uma composição de dança, os diretores e os dançarinos, muitas vezes, costumam pesquisar um assunto em seus aspectos históricos, filosóficos, sociais e estéticos e suas experiências pessoais e visões em relação a ele. Desse modo, os criadores de obras de dança consideram aspectos de cunho teórico e experiencial para desenvolver investigações de movimentos e composições. Tais movimentos são chamados expressivos porque são capazes de mobilizar uma articulação entre nossa capacidade de sentir e a de refletir sobre determinado assunto.

Foco na linguagem

1. Incentive os estudantes a listar outros exemplos, além dos abordados no livro.

2. Estimule os estudantes na demonstração dos movimentos.

3. Conduza uma conversa sobre os efeitos do uso do celular para o corpo, destacando a curvatura dos corpos da fotografia, a hiperconcentração do movimento nas mãos e a cabeça abaixada. Você pode traçar um paralelo com os efeitos de desenhar em um papel pequeno, do tamanho de um celular, e de desenhar em uma superfície ampla, como uma parede. Destaque que, no primeiro caso, o corpo se fecha, tensiona, para atender ao tamanho diminuto do papel. No segundo caso, o corpo se abre e os movimentos tornam-se mais amplos e arejados. Converse com os estudantes sobre a importância de perceber os efeitos do uso de recursos digitais, como os celulares, nos nossos corpos.

Os movimentos funcionais nos espetáculos de dança

Os movimentos funcionais e expressivos estão presentes tanto em algumas danças tradicionais quanto em espetáculos de dança.

A Dança dos chondáro é uma luta-dança e patrimônio cultural do povo indígena Guarani Êmibiá que utiliza movimentos funcionais como levantar, abaixar, pular e correr para ensinar os meninos a se defenderem e terem agilidade. A dança também está associada à espiritualidade – para os Guaranis, ela é uma maneira de mostrar que estão em sintonia com as divindades (nhanderu cueri), que também dançam –, ao dia a dia e à resistência contra ameaças externas. Ela também é praticada como uma brincadeira, para transmitir alegria a quem está assistindo.

Fotografia. Cinco homens e dois meninos indígenas realizando uma dança em um terreno plano, de areia. Há vegetação variada, verde, ocupando todo o fundo. Os homens usam apenas bermudas e estão descalços, realizando movimentos de agachar e pular, enquanto se movimentam em círculo. As mãos estão apoiada nas laterais da cabeça. Um dos homens está mais à direita, agachado, fora do círculo de dançarinos. Com expressão sorridente, segura uma vara de madeira em cada uma das mãos.
Indígenas da etnia Guarani do núcleo Cachoeira da aldeia Rio Silveira praticando a Dança do chondáro, Bertioga São Paulo, 2019.

Na cultura guarani, são as pessoas mais velhas que ensinam essa tradição aos mais novos. E você, se lembra de algum movimento que aprendeu com seus avós, pais e tios ou com outras pessoas com mais idade?

Alguns grupos de dança também trazem os movimentos funcionais para a cena das apresentações, tornando-os movimentos expressivos. Uma dessas propostas é o espetáculo Dente de leite, da Focus Companhia de Dança, coreografado pelo dançarino e coreógrafo Alex Neoral. Para elaborar as coreografias desse espetáculo, Neoral selecionou alguns movimentos funcionais, com um sentido expressivo.

Na fotografia a seguir, por exemplo, em primeiro plano, vemos uma dançarina que, com a mão, encosta uma maçã na boca. Portanto, um movimento funcional (nesse caso, comer uma maçã) foi deslocado para uma situação de dança, propondo que imaginemos outras razões para a dançarina estar com uma maçã na boca, além da satisfação de uma necessidade corporal, ou seja, alimentar-se. O que você imagina que a dançarina está expressando com esse movimento?

Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que muitas danças, tanto as tradicionais quanto as cênicas, fazem uso de movimentos funcionais, mas transformando-os em movimentos expressivos.

Se julgar oportuno, proponha aos estudantes uma pesquisa sobre a dança dos Xondaro para explorarem os movimentos expressivos nela presentes.

A dança dos chondáro é considerada um patrimônio cultural dos Guarani Êmibiá. O reconhecimento desse patrimônio é fruto de trabalhos realizados por pesquisadores guaranis e não indígenas nos últimos anos.

Aproveite para conversar com os estudantes sobre o que é um patrimônio cultural e as diferenças entre os patrimônios material e imaterial.

Explique que o patrimônio cultural de um país é constituído por um conjunto de bens, como as manifestações culturais, os saberes, os trabalhos artísticos, as construções de reconhecido valor histórico e arquitetônico, os sítios arqueológicos e os ambientes naturais de importância paisagística. Os ritos, as celebrações, as fórmas de expressão e os diferentes conhecimentos e modos de fazer constituem o conjunto de bens imateriais de um povo. Transmitidos de geração em geração, esses bens, mesmo sem ser tocados ou medidos, são parte integrante do patrimônio nacional, pois revelam aspectos da identidade cultural de um povo. Há também os bens materiais, ou seja, os bens que podem ser tocados. Os bens materiais podem ser móveis (por exemplo, documentos, pinturas e esculturas) ou imóveis (por exemplo, conjuntos urbanos, monumentos e paisagens). Comente ainda que, no Brasil, o órgão responsável pela identificação, documentação, preservação e revitalização de bens que compõem o patrimônio cultural é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn).

Indicação

Uma referência para aprofundar seus conhecimentos sobre a dança dos Xondaro é o livro digital Xondaro Mbaraete: a fôrça do Xondaro (ifãn, 2013). A publicação é resultado do projeto Pesquisadores Guarani e reúne textos, fotografias e referências sobre o modo como a dança é praticada nos territórios Guarani Êmibiá, no Brasil.

A boca é o tema central das coreografias que compõem o espetáculo Dente de leite, da Focus Companhia de Dança. Nessa apresentação, a companhia de dança trata de ações do cotidiano que se relacionam com a boca, como comer, sorrir e beijar. O grupo também aborda a importância da boca como portadora da palavra, uma das fórmas que utilizamos para nos comunicar. Com base na ideia apresentada, imagine as funções da boca sendo realizadas pelo corpo todo.

Fotografia. Destaque de dançarinos em uma apresentação. Em primeiro plano, há uma mulher de cabelo preto curto. Ela usa camiseta curta azul e saia branca e segura, contra a boca bem aberta, uma maçã vermelha. Mais ao fundo, à esquerda, aparece parcialmente a figura de um dançarino e, à direita, a figura de uma dançarina, ambos tapando a boca com a mão direita, no mesmo gesto da dançarina que está em primeiro plano.
Os dançarinos da Focus Companhia de Dança Marcelo Jahú (ao fundo, à esquerda), Clarice Silva (em primeiro plano) e Mônica Burity se apresentam no espetáculo Dente de leite, no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 2013.
Fotografia. Apresentação de espetáculo de dança, em um palco de piso brilhante, fechado ao fundo por uma cortina de fios grossos marrom-alaranjados. Dois homens e três mulheres descalços, vestidos em tons de branco e azul realizam movimentos de dança. Posicionados em círculo, todos têm os braços braços abertos, com o direito erguido para o alto e o esquerdo mais abaixo, formando uma linha diagonal. O pé direito de cada um está apoiado sobre seu joelho esquerdo. Os corpos se inclinam para a frente, em diferentes graus. Em primeiro plano, à  esquerda, um dançarino veste camiseta sem  mangas e calça comprida. À direita,de perfil, outro dançarino veste short e camiseta sem mangas. Ao fundo, de costas, há duas dançarinas vestindo saia e blusa. Do lado esquerdo, aparece parcialmente o corpo de outra dançarina, de short e blusa.
Integrantes da Focus Companhia de Dança em apresentação do espetáculo Dente de leite, no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 2013.
Respostas e comentários

Espetáculo Dente de leite

Na leitura da imagem do espetáculo Dente de leite, elabore hipóteses com os estudantes sobre outros sentidos do movimento expresso pelas dançarinas, como o “calar-se”, pois a maçã está “obstruindo” a boca. Outra possibilidade é que seja uma referência à tradição católica de relacionar a maçã ao pecado.

Sugestão de atividade

Você pode promover uma experimentação curta em sala de aula, para que os estudantes investiguem no próprio corpo a experiência destacada pela peça Dente de leite.

Peça a eles que testem, com calma para poder experimentar a sensação física da musculatura do rosto e da boca, os movimentos que a boca faz no dia a dia. Você pode decompor esses movimentos entre a fala, a mastigação, a expressão das emoções, os movimentos involuntários (como o bocejo), movimento para assobiar etcétera. Destaque cada um deles e coloque-os como proposta. Você pode pedir a eles que repitam, lentamente, primeiro com bastante comedimento, e depois com exagero. Eles devem perceber o potencial expressivo da musculatura da boca e do rosto e compreender que o domínio dessa musculatura tem uma função expressiva e comunicacional muito importante, não só no dia a dia, mas também na arte.

Por dentro da arte

Tempos modernos

A transformação de movimentos funcionais em movimentos expressivos também pode ser observada em produções de outras linguagens artísticas. O movimento de apertar parafusos, por exemplo, é o elemento central de Tempos modernos, filme de 1936. Escrito e dirigido por Tcharls Tcháplin (1889-1977) – que, além disso, atua como protagonista −, o filme apresenta uma crítica aos modos de produção industrial baseados na divisão e especialização do trabalho em etapas, chamadas de linhas de montagem.

Nesse filme, a personagem principal – Carlitos, vivida por Tcháplin – é operário em uma fábrica na qual o trabalho é realizado de modo repetitivo e acelerado com o objetivo de aumentar a produção. De fórma bem-humorada, o filme mostra a personagem se esforçando para alcançar o ritmo de trabalho imposto por uma esteira, que, por sua vez, é controlada por uma máquina. Por fim, de tanto realizar a mesma atividade de modo repetitivo, ele se descontrola e passa a fazer o movimento de apertar parafusos mesmo quando está fórado trabalho.

Ao interpretar a personagem Carlitos, Tcharls Tcháplin atribuiu sentido expressivo a movimentos relacionados ao trabalho, como apertar parafusos, mover alavancas etcétera Tempos modernos é considerado um dos filmes mais importantes da história do cinema mundial.

Fotograma em preto e branco. Quatro homens realizam diferentes tarefas na esteira de uma linha de produção de uma fábrica antiga. Três deles vestem camiseta regata branca e calça preta. Da esquerda para a direita, o segundo deles veste camiseta e macacão listrado. O quarto homem usa boné de aba. Todos têm cabelo preto, curto e bigode. À esquerda, em primeiro plano, há a máquina que aciona a linha de produção. Ao fundo, grandes janelas envidraçadas.
Fotograma do filme Tempos modernos (1936), de Tcharls Tcháplin.
Respostas e comentários

Por dentro da arte

Comente com os estudantes que Tcharls Tcháplin foi um dos maiores nomes do cinema mudo. Explique que, no cinema mudo, as falas dos atores algumas vezes apareciam em textos inseridos entre uma cena e outra, e as apresentações, geralmente, eram acompanhadas por trilha musical executada por um pianista ou uma orquestra dentro do cinema. A trilha musical era muito importante, pois ajudava a criar o clima do filme. Tcháplin notabilizou-se pelo uso de mímica em filmes de comédia que conquistaram plateias do mundo todo. Carlitos foi a mais famosa personagem criada por Tcháplin e se tornou um símbolo do cinema mudo. Comente com os estudantes que, em Tempos modernos, além de dirigir, escrever e atuar, Tcháplin compôs a trilha sonora. Se possível, apresente um trecho do filme, disponível em: https://oeds.link/yv7kqp. Acesso em: 27 maio 2022.

Se for oportuno, comente com os estudantes que, no início do século vinte, passaram a ser aplicados os modos de produção industrial, que são técnicas que otimizam a produção. Basicamente, esses processos utilizam as linhas de montagem, o modo de produção em série, tarefas específicas para cada operário, além de otimizar a mão de obra a fim de evitar a morosidade, conforme pode ser visto em trechos do filme.

A mímica

A mímica é uma fórma de expressão artística basea­da em gestos, movimentos corporais e fisionômicos (expressões faciais). Por meio da mímica, uma pessoa pode se comunicar sem usar a fala, apenas fazendo sinais.

O tipo mais conhecido de mímica, nas artes cênicas, é a pantomima.

Na pantomima, o mímico usa o rosto todo pintado de branco, roupas pretas e luvas brancas, inspirando-se na imagem da personagem da commedia dell‘arte Pierrô.

Podemos classificar a pantomima em dois tipos: abstrato – utilizado para demonstrar pensamentos e sentimentos que não têm a necessidade de ser explicados ou compreen­didos literalmente; literal – que se caracteriza pela representação de ações concretas e objetos bem definidos em uma ação realista.

A mímica remonta ao teatro grego e perdura até os dias atuais.

Nos fotogramas do filme Tempos modernos (1936) reproduzidos nesta página, pode-se notar a atribuição de sentido expressivo ao movimento, por exemplo, de apertar parafusos em uma fábrica.

Fotograma em preto e branco. Homens em frente à esteira de uma linha de produção com maquinário e peças. Todos observam espantados um homem de cabelo curto e bigode, vestindo camiseta e macacão listrado, que faz uma careta e pantomimas com ferramentas para uma mulher de cabelo claro, curto e cacheado, que veste blusa escura e saia clara. A mulher apoia a mão direita contra o peito, em gesto de espanto.
Fotograma em preto e branco. Um homem de cabelo curto e bigode, vestindo camiseta e macacão listrado, está sorrindo apoiado em uma engrenagem gigante, usando ferramentas sobre a roda.
Fotograma em preto e branco. Um homem de cabelo curto e bigode, vestindo camiseta e macacão listrado, está em cima de uma escada observando o funcionamento de peças e engrenagens interligadas em uma grande máquina.
Fotograma em preto e branco. Um homem de cabelo curto e bigode, vestindo camiseta e macacão listrado, está sorrindo, com as mãos e antebraços apoiados em uma grande alavanca, à frente de uma maquina enorme. O corpo está inclinado em direção à alavanca e o pé direito levantado para trás.
Fotogramas do filme Tempos modernos (1936).

Para Assistir

Tempos modernos. Direção e produção: Tcharls Tcháplin. Estados Unidos: United Artists, 1936. 1 dêvedê (87 minutos).

Nesse filme, Carlitos, personagem interpretada por Tcharls Tcháplin, e uma jovem vivem em uma sociedade que privilegia o modo de produção industrial.

Respostas e comentários

Sugestão de atividade

Faça uma brincadeira de mímica com os estudantes.

Primeiro, escreva em papéis ações concretas, emoções e sentimentos. É importante variar entre essas possibilidades abstratas e literais, como vimos anteriormente. Dobre os papéis e misture todos em um saco plástico ou de pano.

Organize os estudantes sentados em roda no chão da sala e peça a um estudante voluntário que inicie o jôgo. Ele deve retirar um papel do saco plástico (ou de pano) e, sem falar para ninguém, realizar a ação ou o sentimento indicado no papel, no centro da roda.

Quem acertar será o próximo a fazer a mímica.

O jôgo termina quando todos forem ao centro da roda.

Ao final, pergunte a eles como foi fazer as mímicas e assistir aos colegas realizando as deles. Peça que elaborem e compartilhem suas impressões sobre as dificuldades e facilidades de se expressarem sem palavras, usando apenas os movimentos do corpo e as expressões faciais.

Retome os conceitos de movimentos expressivos e funcionais para ajudá-los na reflexão sobre a atividade.

Rudolf Laban e o estudo do movimento

Nas páginas anteriores, você descobriu que os movimentos podem ser classificados em expressivos, como os realizados pelos dançarinos retratados na abertura desta Unidade, e em funcionais, como aqueles que realizamos no dia a dia. Você também aprendeu que os movimentos funcionais podem ganhar sentido expressivo, como no espetáculo Dente de leite, na Dança dos chondáro e no filme Tempos modernos.

Essa classificação foi concebida e explorada por rúdolf Laban (1879-1958), dançarino e coreógrafo que rompeu com as propostas de danças cênicas europeias e desenvolveu uma nova maneira de conceber a dança e de se relacionar com essa manifestação artística.

Ao lado de outros artistas europeus do início do século rúdolf Laban acreditava no valor e na necessidade expressiva da arte. Seus trabalhos tinham forte componente emocional (sentir) e tratavam das questões humanas, como o ódio, a cobiça e o poder, gerados por situações sociais, como a eclosão das guerras mundiais e suas consequências para a sociedade. É importante destacar que, dessa os trabalhos artísticos de Laban também apresentavam críticas sociais.

Ao longo de sua trajetória na dança, Laban realizou uma série de estudos sobre o movimento humano, concluindo que movimento, emoção e pensamento são elementos inseparáveis.

Fotografia em preto e branco. Vista oblíqua, do alto. Um homem de cabelo curto, vestido de camisa e calça escuros, está de pé, gesticulando, de braços abertos, no centro de um círculo formado por um grupo de numerosas pessoas, sentadas em fileira dupla. As pessoas têm a atenção voltada para o homem que está no centro e os braços estendidos à frente, em direção a ele.
Rudolf Laban com um grupo de estudantes em uma aula de dança. Fotografia de 1931.
Respostas e comentários

Contextualização

Se necessário, retome com os estudantes a definição do que são os movimentos expressivos. Em geral, esses movimentos têm o objetivo de transmitir uma ideia ou mobilizar as emoções do público.

Pergunte-lhes se já ouviram a frase “pense antes de agir”. Depois, explique que, para rúdolf Laban, o fazer (agir) contempla tanto o pensamento quanto a emoção. Laban defendia que os seres humanos se movem porque pensam e sentem.

Apresente rúdolf Laban como autor dessa distinção entre movimentos funcionais e expressivos, informando aos estudantes que ele foi um importante pensador do século vinte cuja pesquisa influenciou diretamente a evolução do pensamento na dança. Explique que os estudos de Laban potencializam a ampliação do repertório de movimentos de um indivíduo e apontam para um tipo de experiência em dança que respeita a diversidade dos corpos e sugere a pesquisa como parte do aprendizado.

Se julgar oportuno, comente que o trabalho de Laban foi introduzido no Brasil por Maria Duchênis, dançarina húngara que estudou com Laban na Inglaterra e, fugindo da Segunda Guerra Mundial, se tornou professora de uma escola em São Paulo.

O autor, dançarino e pesquisador exerceu e ainda exerce forte influência na arte brasileira, em especial nas artes do corpo, e produziu uma obra literária com seus estudos sobre o movimento humano à qual muitas pessoas recorrem até os dias de hoje como fórma de aprofundar o entendimento sobre o movimento e sua expressividade.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

Você aprendeu nesta Unidade que os movimentos funcionais também são utilizados na dança, assumindo uma função expressiva. Os movimentos funcionais podem ser a base para criar novos movimentos. Vamos descobrir como? Nesta atividade, você experimentará a improvisação e a criação de movimentos da dança, usando os movimentos funcionais registrados no diário de bordo. Siga os procedimentos a seguir e atente-se às instruções do professor.

 Momento 1 – Um movimento

  1. Escolha um movimento funcional colecionado em seu diário de bordo e o realize algumas vezes. Enquanto o repete, observe se o movimento é mais curto ou longo, rápido ou lento, se utiliza poucas ou muitas partes do corpo para ser executado. Cada movimento que praticamos mobiliza o corpo de uma fórma diferente!
  2. Em seguida, brinque de transformar o movimento que você escolheu: aumente e diminua o ritmo (faça muito rápido e em câmera lenta), exagere o movimento (faça o movimento bem grande e bem pequeno).
  3. Volte ao movimento original. Como seria realizá-lo com outras partes do corpo? Pense no ritmo, na duração e nas direções. Experimente essa qualidade de movimento pelo corpo todo.
  4. Misture o movimento transformado com o movimento feito pelo corpo todo, tente fazer os dois movimentos juntos. Experimente essa junção dos movimentos de diferentes modos, variando os ritmos e as partes do corpo utilizadas. Aos poucos, os movimentos funcionais se transformam em movimentos de dança!

 Momento 2 – Onde o movimento acontece?

  1. Reúna-se com mais três ou quatro colegas para mostrar o que você criou e conhecer o que foi criado por eles.
  2. Em seguida, relembrem de qual movimento funcional cada um partiu. No dia a dia, esses movimentos são praticados em algum lugar específico da sua casa, da escola ou de outro local que você frequenta? Ou são praticados em vários lugares e momentos?
  3. Pensando nos lugares em que essas ações são praticadas cotidianamente, comecem a procurar algum espaço na escola para praticar os movimentos transformados. Pode ser um lugar onde vocês costumam fazer esses movimentos funcionais ou um lugar em que seja possível, por exemplo, imaginar os cômodos de uma casa.
Respostas e comentários

Experimentações

É interessante que a proposta seja feita em uma área externa da escola ou espaços internos de uso comum que não sejam a sala de aula.

Momento 1a: incentive os estudantes a escolher, inicialmente, um movimento bem simples, que tenha um tempo, um tamanho e uma direção bem definidos.

Momento 1b: estimule os estudantes a experimentar os movimentos dos modos mais variados possíveis.

Momento 1c: dê um tempo maior de exploração para que eles tenham tempo de descobrir movimentos novos.

Momento 2a: em grupos menores, os estudantes podem se sentir mais à vontade para compartilhar suas criações antes de partilhar com todo o grupo. Ao orientar essa e outras propostas de dança, fique atento aos grupos e, caso perceba que, mesmo assim, há alguns estudantes mais tímidos, é interessante conversar para entender como estão se sentindo e por quê.

Se a turma tiver muitos estudantes e isso dificultar a sua orientação aos grupos, é possível propor a experimentação com um número menor de grupos e com mais estudantes em cada grupo.

  1. Não se esqueçam de que este lugar escolhido deve ser adequado para realizar todos os movimentos funcionais transformados em dança pelo grupo. Se for um lugar da escola usado como lugar imaginário, ele pode também ser mais de uma coisa ao mesmo tempo, pode ser uma casa para um integrante do grupo e, ao mesmo tempo, um ônibus para outro etcétera
  2. Conversem um pouco sobre essa reflexão: quais sentimentos e sensações estão associados a este espaço real ou imaginado? Que inspiração ele traz?
  3. Usando o espaço escolhido, dividam o grupo em dois subgrupos e apresentem uns para os outros, repetindo algumas vezes os movimentos transformados em dança. Experimente expressar alguns sentimentos e sensações no momento de apresentar para os colegas do grupo. Os movimentos podem ser trabalhados com mais de uma referência expressiva e, até mesmo, opostas, como alegria e tristeza, tensão e relaxamento, sono e atenção, entre outras.

 Momento 3 – Roda de conversa

  1. De volta para a sala de aula, façam uma roda com toda a turma para conversarem sobre essa experiência e também contarem quais movimentos fizeram, o lugar que escolheram, os sentimentos e as sensações que experimentaram, como foi assistir a várias pessoas fazendo movimentos diferentes ao mesmo tempo etcétera
  2. Algumas coisas que você pensou, e talvez não queira ou não tenha tempo de compartilhar na roda, podem ser registradas em seu diário de bordo. Aproveite também para registrar algumas percepções que possam ajudá-lo a rememorar essa experiência, como o lugar escolhido pelo grupo, os movimentos funcionais transformados por vocês e o que sentiu enquanto fazia os movimentos.
    ilustração. Ícone Diário de bordo.
Ilustração. Grupo de crianças de diferentes tipos físicos sentadas, de pernas cruzadas,  em um tapete, formando uma roda. Todas vestem uniforme escolar composto de camiseta branca e bermuda azul. Um menino de cabelo preto e crespo dirige-se aos colegas enquanto gesticula com os braços erguidos.
Respostas e comentários

Momento 2d: se julgar oportuno, circule entre os grupos para saber como estão trabalhando, se estão com alguma dúvida sobre a proposta etcétera.

Momento 2f: essa proposta também pode acontecer com toda a turma ao mesmo tempo, passando com os estudantes por todos os espaços escolhidos para assistir à experimentação.

Momento 3: a proposta é pensada para uma aula, mas o tempo de realização vai variar de acordo com o envolvimento dos estudantes, o tamanho da turma etcétera. Pode ser orientado apenas o item b, no caso de o tempo ser reduzido.

Momento 3a: ao escutar o que os estudantes trazem para a roda de conversa, procure avaliar se eles conseguem compreender a diferença entre os movimentos funcionais e os expressivos e como um pode alimentar a criação do outro. Se for necessário, faça perguntas adicionais sobre esse assunto. Investigue também como foi para eles esse processo de criação com movimentos do dia a dia, se consideraram interessante, se tiveram alguma dificuldade etcétera.

Avaliação

dois recursos avaliativos potentes nessa proposta. Ambos podem ser considerados como avaliação em processo.

Em primeiro lugar, você deve observar a interação entre os estudantes e o esforço individual para cumprir todas as etapas da proposta, como criadores e como observadores. O respeito, a acolhida e a empatia são muito importantes para o desenvolvimento da confiança individual e da cumplicidade e solidariedade entre o grupo, e essas são habilidades socioemocionais que contribuem muito para a aprendizagem. Devem, portanto, ser valorizadas e observadas.

Em segundo lugar, no momento das conversas, você deve observar se os estudantes conseguem elaborar a experiência que vivenciaram, a ponto de sintetizá-la, compartilhá-la e relacioná-la com a dos colegas, construindo assim uma autopercepção e um senso de coletividade importantes para as linguagens artísticas, sobretudo quando envolvem a autoexposição e o trabalho corporal. É também importante verificar se os estudantes reconhecem e valorizam esses momentos de diálogo sobre a experimentação como um espaço de decomposição e reflexão sobre tudo o que envolve a aprendizagem com a arte, afetiva e conceitualmente.

Glossário

Mobilizar
: chamar a atenção.
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