Tema 3  O formato circular nas manifestações culturais brasileiras

As festas juninas

A identidade cultural de um povo é constituída do encontro das diferentes heranças culturais, como a língua, os costumes, as tradições, os valores, as festas, a música, entre outros elementos.

No Brasil, os povos indígenas, europeus e africanos foram os primeiros grupos a contribuir para a formação da cultura nacional, conferindo à sociedade brasileira muitas de suas tradições e manifestações artísticas. Essas contribuições fizeram do Brasil um país multicultural.

Essa identidade cultural múltipla se faz notar de maneira consistente em diferentes expressões da cultura brasileira. Muitas se fazem visíveis na fórma de festas e de celebrações, que trazem as influências deixadas pelos diversos povos que por aqui passaram e se estabeleceram. Um exemplo são as festas juninas.

Na pintura reproduzida a seguir, quais elementos das festas juninas você reconhece?

Pintura. Em cores vivas, representação de festa junina na praça da matriz de uma cidade pequena. No centro da imagem, há uma igreja azul, com uma torre e uma cruz no alto dela. A porta é bege, em forma de arco. No pátio de terra, em frente da igreja, pares dançam a quadrilha, formando um grande roda. Os homens usam chapéu, camisa vermelha e calça branca e as mulheres estão de vestidos coloridos em tons de azul, rosa e amarelo.  À direita, entre os pares da roda, há um homem de paletó azul-escuro e uma mulher de vestido branco de noiva. No centro da roda, há uma fogueira. Na parte superior, destacam-se contra o céu diversos varais de bandeirinhas coloridas presos na torre da igreja.  O céu é azul-escuro e à direita aparece a lua cheia, em tom amarelado. Há barracas de comida e de diversão à direita e à esquerda do pátio, com pessoas circulando. Ao fundo, pessoas aglomeradas assistem à dança da quadrilha.
DEUS, Lourdes de. A grande quadrilha. 2014. Acrílica sobre tela, 100 por 150 centímetros. Coleção particular.
Respostas e comentários

Objetivos

• Compreender o significado de conceitos como identidade cultural e multiculturalismo.

• Reconhecer as festas juninas como exemplo de manifestação cultural que revela o caráter multicultural do Brasil.

• Identificar a formação cir­cular em danças que integram manifestações culturais brasileiras.

• Conhecer a ciranda, dança de roda tradicional brasileira, assim como a capoeira, manifestação cultural de origem afro-brasileira que reúne dança e música.

• Identificar os estilos da capoeira e seus principais movimentos, assim como os instrumentos musicais que dão o ritmo das rodas de capoeira.

• Experimentar o movimento da ginga em uma roda de capoeira.

• Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre zero nove), (ê éfe seis nove á érre um zero), (ê éfe seis nove á érre um um), (ê éfe seis nove á érre um dois), (ê éfe seis nove á érre um três), (ê éfe seis nove á érre um cinco), (ê éfe seis nove á érre dois um), (ê éfe seis nove á érre dois seis), (ê éfe seis nove á érre três dois), (ê éfe seis nove á érre três três) e (ê éfe seis nove á érre três quatro).

Contextualização

Comente com os estudantes que pesquisadores relatam que há possivelmente duas hipóteses sobre a origem do termo festa junina. A primeira trata das festividades religiosas que envolvem Santo Antônio, São João e São Pedro. A segunda diz que, em princípio, nos países católicos da Europa, a homenagem era feita apenas para São João, então chamada “Joanina”. Porém, há ainda relatos do acontecimento dessas festas antes mesmo de elas se tornarem ligadas à religiosidade católica. Na Antiguidade, elas faziam parte dos rituais que comemoravam a chegada do verão e tinham o intuito de afastar os maus espíritos que poderiam prejudicar as colheitas.

Comente com os estudantes que, antes mesmo da chegada dos europeus à América portuguesa, os povos indígenas realizavam no mês de junho celebrações ligadas à agricultura e que a contribuição desses povos para as festas juninas pode ser notada, principalmente, nos seus pratos típicos, que são feitos de milho, amendoim, batata-doce e mandioca. Explique que a cultura africana, por sua vez, se faz presente nas danças e nas brincadeiras da festa junina, como nas danças do coco e da embolada.

Se julgar oportuno, comente que o multiculturalismo dessa festa também se manifesta, por exemplo, na estrutura da quadrilha, que se originou na França, e na tradição dos fogos de artifício, originária da China.

A dança nas festas juninas

Uma das características principais das festas juninas é a quadrilha, dança de origem europeia que chegou ao Brasil no século dezenove, trazida pelos portugueses. Pode parecer estranho, mas essa dança, que é tão popular no Brasil, durante muito tempo foi praticada em festas realizadas pelos nobres. Ao longo do tempo, no entanto, a dança se popularizou, ganhou novos elementos e passou a integrar as festas juninas.

Um dos movimentos mais tradicionais da quadrilha consiste na formação de uma grande roda, como a retratada na fotografia a seguir e também na pintura reproduzida na página anterior.

Fotografia. Pessoas dançam a quadrilha em uma quadra de cimento. Acima, compondo um toldo, estão estendidos muitos varais de bandeirinhas coloridas de festa junina. Meninas de vestidos coloridos com babados enfeitados com fitas e meninos usando chapéu de palha, camisa xadrez e calça jeans estão de mãos dadas, formando uma roda. Ao fundo da cena há pessoas observando.
Crianças e adultos dançam a quadrilha com trajes típicos, em São Roque de Minas Minas Gerais. Fotografia de 2011.

Ao popularizar-se, a dança recebeu características regionais e transformou-se na quadrilha caipira, também conhecida como matuta. Na quadrilha caipira, mulheres e homens formam pares, ensaiam os passos, vestem-se com roupas remendadas, usam chapéu de palha e participam de uma encenação do casamento na roça. Há ainda a quadrilha estilizada: um grupo cria uma coreografia de acordo com a música escolhida e dança com trajes mais elaborados.

Respostas e comentários

Contextualização

Ao abordar o assunto da dança nas festas juninas e apresentar a quadrilha como uma de suas principais manifestações, você pode enfatizar que ela é uma dança coletiva e oriunda da mistura das culturas indígenas, africanas e europeias.

Esse também é um momento para saber se os estudantes já dançaram quadrilha ou outras danças tradicionais na escola e como percebem a prática, que está presente em muitas escolas. Questione os estudantes sobre quem participava da dança e onde dançavam.

É interessante problematizar que quem dança faz diferença – a faixa etária daqueles que dançam, grupos de mesma idade ou grupos formados de integrantes da comunidade escolar, profissionais de campeonatos de dança. Problematize também a importância de onde se dança a quadrilha: em parques, em quadras, na rua, em uma praça, em um local de competição (por exemplo, um salão). Depois, pergunte aos estudantes se, na quadrilha de que eles participaram, existia a grande roda. Qual seria o propósito da grande roda? No que se diferencia das outras progressões (o caminho da roça, por exemplo)? Peça a eles que falem de outros passos que já tenham visto ou dançado.

Você também pode dizer aos estudantes que, mesmo que a caracterização dos participantes das quadrilhas, que inclui roupas remendadas e dentes pintados de preto, seja considerada uma tradição, alguns pesquisadores questionam sua utilização, pois alguns de seus aspectos podem enfatizar preconceitos e reforçar estereótipos em relação às pessoas campesinas.

Se considerar conveniente, você pode propor aos estudantes a organização de uma coreografia de quadrilha baseada nos conhecimentos prévios deles sobre o assunto. Caso a escola tenha acesso à internet, você pode procurar com eles uma música para acompanhar a experiência da dança.

Curiosidade

A quadrilha junina brasileira teve origem em uma dança francesa do século dezoito, chamada quadrille, porque era dançada por quatro casais.

Os termos usados na quadrilha são uma versão abrasileirada de termos e palavras franceses:

• Alavantu (en avant tous): todos os casais vão para a frente.

• Anarriê (en arrière): os casais vão para trás.

• Changê (changer/changez): trocar/troquem o par.

• Cumprimento vis-à-vis: cum­pri­mento frente a frente.

• Otrefoá (autre fois): repete o passo anterior.

• Ao saruê (soirée): reunião social noturna, ordem para todos se juntarem no centro do salão.

O baião, o xote, o xaxado e o forró

Dependendo da região do país, outras danças também estão presentes nas festas juninas. O baião, o xote, o xaxado e o forró são algumas delas. Essas danças estão atreladas a ritmos musicais, ou seja, diferentemente do que ocorre em algumas das danças cênicas, música e dança não se separam. Por isso, ao ouvir um desses ritmos musicais, o corpo, muitas vezes, já “sabe” como dançar, sendo levado pelo ritmo, mesmo que você não seja um profissional.

Gravura colorida. A área da gravura é totalmente ocupada por uma aglomeração de homens e mulheres em preto e branco. Em primeiro plano, na parte inferior, destacam-se algumas figuras de homens e mulheres trajados com roupas de cores vivas como vermelho, amarelo, verde e azul, dançando em pares. No centro da imagem há quatro homens tocando instrumentos musicais. Um deles toca reco-reco, outro toca triângulo, o terceiro toca tambor e o quarto toca sanfona. O tambor está colorido de marrom e a sanfona de vermelho. O sanfoneiro usa camisa verde e chapéu de couro tradicional, com uma estrela na aba. Em toda a borda da gravura há um barrado com pequenos enfeites. Na borda inferior estão gravados o título da obra, "Forró sertanejo", e o nome do autor, J. Borges.
BORGES, José Franciso. Forró sertanejo. 2011. Xilogravura, 66 por 96 centímetros. Memorial jota Borges e Museu da Xilogravura.

Geralmente, essas danças acontecem aos pares (exceto o xaxado, que também se dança em roda). Apesar de serem danças que têm passos característicos, quando dançadas em ocasiões festivas, ao contrário de apresentações ao público, elas deixam espaço para as duplas improvisarem, criarem e, sobretudo, se divertirem.

A xilografia

A imagem reproduzida anteriormente mostra uma xilogravura. A técnica utilizada para produzir as xilogravuras é a xilografia e consiste no entalhe de figuras em um suporte de madeira, formando uma matriz para a impressão. Com a matriz pronta, o artista realiza a tintagem, ou seja, passa tinta sobre a madeira. Depois, aplica o papel sobre a matriz, imprimindo a imagem nele.

Fotografia. Homem idoso, de cabelo grisalho curto, vestindo camisa amarela. Com a mão direita, ele utiliza um formão para fazer entalhes em uma placa de madeira.
jota Borges entalhando uma matriz de xilogravura, em Bezerros Pernambuco. Fotografia de 2012.
Respostas e comentários

Contextualização

É possível que algumas dessas danças tenham aparecido com a proposta de entrevistas (seção Experimentações – Tema 2). Se for esse o caso, relembre com os estudantes quem citou essas danças e o que descobriram sobre elas.

Este também é um bom momento para fazer uma avaliação diagnóstica com os estudantes, perguntando quais desses ritmos e danças eles conhecem, como conheceram e incentivando-os a demonstrar passos das danças. Pergunte também se esses ritmos e danças os fazem se lembrar de artistas e de outras referências que possam ter. Na conversa, podem aparecer repertórios os mais diversos. Aproveite para conhecer um pouco mais sobre os repertórios e interesses dos estudantes, mesmo que as referências pareçam fugir do tema.

Caso seja oportuno, compartilhe com os estudantes a informação de que há muitas hipóteses para a explicação de como surgiu o forró. O pesquisador Luís da Câmara Cascudo (1898­-1986), escritor e folclorista brasileiro responsável por uma vasta pesquisa sobre a cultura popular brasileira e suas raízes étnicas, defende que a palavra forró tem sua origem no termo forrobodó, que era como os escravizados africanos chamavam as festas populares em que havia diversão, dança e música de ritmos diversos. Desse modo, a palavra forró denominaria a festa, o encontro com a finalidade de dançar e cantar. Em um baile de forró, as pessoas dançam ao som de vários ritmos, sobretudo o baião, o xote e o xaxado.

Ainda segundo Câmara Cascudo, o termo xote deriva da palavra schottische, que é uma melodia alemã bastante cadenciada. No início, o ritmo costumava habitar as festas de famílias nobres, mas logo se tornou muito popular, passando a ser um estilo apreciado por todos.

O baião, que teve sua origem no século dezenove no nordeste do país, po­pu­lari­zou-se com as músicas de Luiz Gonzaga (1912-1989), que deram novas características ao ritmo. O xote e o baião são similares no modo de dançar, mas as músicas geram sensações distintas, pois são executadas em ritmos e velocidades diferentes.

Em relação ao xaxado, Luís da Câmara Cascudo afirmou que é uma dança que tem origem no sertão de Pernambuco cujo nome provém do som das sandálias ou dos sapatos quando arrastados no chão. O xaxado acontece em círculo, e antigamente era dançado predominantemente por homens. Ficou bastante associado ao cangaço, pois era muito executado pelo bando de Lampião. Esses ritmos estão presentes em todo o país, sendo muito executados na Região Nordeste.

Pergunte aos estudantes se eles conhecem esses ritmos musicais e se os associam a danças.

Por dentro da arte

Baião

Na página anterior, você aprendeu que o baião é uma das danças realizadas nas festas juninas. Além de ser uma dança, o baião é um estilo musical cujos instrumentos mais característicos são a sanfona, o triângulo e o zabumba. A sanfona executa a harmonia e as melodias, o zabumba e o triângulo marcam o ritmo da música.

O baião se tornou conhecido em todo o Brasil graças ao cantor e compositor Luiz Gonzaga (1912-1989), conhecido como “O rei do baião”, e o advogado e letrista Humberto Teixeira (1915-1979), conhecido como “O doutor do baião”.

Ouça o áudio "'Baião', de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira" e acompanhe a letra a seguir.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Baião

“Eu vou mostrar pra vocês

Como se dança o baião

E quem quiser aprender

É favor prestar atenção

Morena chega pra cá

Bem junto ao meu coração

Agora é só me seguir

Pois eu vou dançar o baião

Baião...

  

Eu já dancei balancê

Xamego, samba e xerém

Mas o baião tem um quê

Que as outras danças não têm

Oi quem quiser é só dizer

Pois eu com satisfação

Vou dançar cantando o baião

Baião...

   

Eu já cantei no Pará

Toquei sanfona em Belém

Cantei lá no Ceará

E sei o que me convém

Por isso eu quero afirmar

Com toda convicção

Que estou doido pelo baião.

Baião...”

GONZAGA, Luiz; TEIXEIRA, Humberto. Baião. In: GONZAGA, Luiz. Baião. Rio de Janeiro: érre cê á Victor, 1949.

Fotografia. Sanfona preta. O teclado, com teclas brancas e pretas, está disposto do lado direito do instrumento. Na esquerda, acionados por botões, ficam os baixos. Ligando essas duas caixas harmônicas, na parte central fica o fole, que é flexível e pode ser expandido e comprimido..
A sanfona (54 por 35 centímetros) também é conhecida como acordeão.
Fotografia. Tambor de madeira com estrutura de ferro. Ao lado, uma baqueta de ponta arredondada e uma vareta fina.
O zabumba (20 por 40 centímetros) é um tipo de tambor. Baqueta ou maça: 20 por 1,4 centímetro; vareta fina: 35 centímetros.
Fotografia. Triângulo de ferro com uma baqueta de metal.
O triângulo (25 centímetros – lado do triângulo) é um instrumento de percussão feito de metal. Baqueta de ferro: 10 milímetros de espessura.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Como você dança o baião? Que tal aproveitar a canção “Baião” e os movimentos que você conheceu ou criou até agora para experimentar o ritmo dançando? Dançar pode ser um outro jeito de ouvir e conhecer uma canção!
  2. Descubra como, tradicionalmente, se dança o baião.
Respostas e comentários

Por dentro da arte

Depois de ouvirem a canção “Baião”, comente que o ritmo baião, considerado um subgênero do forró com outros ritmos, foi reconhecido em 2021 como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo ifãn.

Pergunte também a eles se conhecem outras canções de Luiz Gonzaga. Pode ser que eles citem canções conhecidas desse artista, como “Asa branca”, “Qui nem jiló” e “Luar do sertão”; esta, embora não seja de autoria de Luiz Gonzaga, é uma das canções interpretadas por ele que se tornaram mais conhecidas. Comente que na próxima Unidade eles terão a oportunidade de conhecer a letra e cantar a canção “Luar do sertão”.

Foco na linguagem

1. Abra um espaço na sala de aula para que os estudantes possam dançar. Oriente-os a prestar atenção à sonoridade dos instrumentos que compõem a parte instrumental da canção. Depois, estimule-os a dançar com base no ritmo da música, sem a preocupação de fazer passos específicos, como se a sala de aula fosse um salão de baile.

2. Se for possível, encontre links na internet de pessoas dançando baião com passos tradicionais, para compartilhar com os estudantes, ou oriente-os a fazer uma pesquisa.

A ciranda

Ao ouvir a palavra ciranda, provavelmente você se lembra de danças de roda e de músicas infantis, mas você sabia que os adultos também dançam ciranda? A ciranda é uma dança de formação circular tradicional em algumas regiões do estado de Pernambuco. De caráter comunitário, a ciranda pernambucana é praticada por pessoas de todas as idades. Essa manifestação cultural foi representada na pintura reproduzida nesta página.

Como em qualquer dança popular circular, não há um número exato de pessoas que participam da ciranda, por isso, às vezes é necessário que mais rodas se formem para acomodar todos os dançantes.

A dança é simples e acontece da seguinte maneira: de mãos dadas, os cirandeiros (dançarinos de ciranda) movimentam-se no sentido anti-horário (da direita para a esquerda), fazendo um trançado de braços e pernas. Uma figura central das cirandas é o mestre-cirandeiro. Cabe a ele organizar a ciranda e entoar as cantigas e os versos improvisados. Os batuqueiros são os responsáveis por tocar os instrumentos de percussão que marcam o ritmo da ciranda.

Pintura. Ambiente marinho com aves no céu, barcos e jangada no mar. Na faixa de areia há jangadas de diferentes tamanhos. À direita, destaca-se a vela amarela aberta, de uma das jangadas. Há pessoas na lida com as jangadas e pessoas transitando pela areia. Em primeiro plano, há um calçadão onde acontece uma ciranda. Quatro homens, um ao lado do outro, usando chapéu de couro, camisa verde e calça azul, tocam instrumentos musicais: tambor, sanfona, triângulo e flauta. Na frente deles há pessoas observando-os e, à direita, crianças e adultos dançam em roda, de mãos dadas. As vestimentas são coloridas, com pequenas estampas de flores, listras e xadrezes. Há pessoas descalças e pessoas calçadas.
SANTOS, Militão dos. Ciranda em Porto de Galinhas. 2010. Óleo sobre tela, 40 por 50 centímetros. Coleção particular.
Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que alguns dos instrumentos utilizados nas cirandas são o ganzá e o bombo. Explique, ainda, que algumas cirandas podem contar com a presença de um músico que toca um instrumento de sopro e, também, com um coral que responde aos versos cantados pelo mestre‑cirandeiro.

Conte-lhes que a ciranda é uma manifestação cultural em que há canto e dança, e que é dançada em uma roda de adultos – no entanto, as crianças também podem participar. De origem portuguesa, a ciranda chegou à América portuguesa no século dezoito, manifestando-se até a atualidade no Brasil em regiões como o Nordeste – onde é dançada mais cadenciadamente −, no litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, no Amazonas, em Roraima, no Mato Grosso do Sul, entre outros.

Se considerar oportuno, comente que alguns pesquisadores afirmam que a ciranda surgiu no estado de Pernambuco. Hoje ela pode ser encontrada em diversas regiões do país, e uma das hipóteses para a origem da palavra ciranda, encontrada no site da Fundação Joaquim Nabuco, é a seguinte:

Há várias interpretações para a origem da palavra ciranda, mas segundo o Padre Jaime Diniz, um dos pioneiros a estudarem o assunto, vem do vocábulo espanhol zaranda, que significa instrumento de peneirar farinha e que seria uma evolução da palavra árabe sarrande.

Disponível em: https://oeds.link/gqjJck. Acesso em: 4 fevereiro. 2022.

As letras das cirandas

As letras das cirandas muitas vezes são improvisadas pelos mestres e relacionam-se com o cotidiano dos cirandeiros. Leia, a seguir, a letra de uma das canções mais entoadas nas cirandas.

Quem me deu foi Lia

“Eu estava

Na beira da praia

Ouvindo as pancadas

Das ondas do mar


Esta ciranda

Quem me deu foi Lia

Que mora na ilha

De Itamaracá

BARACHO, Antonio; MELO, Manoel José de. Quem me deu foi Lia. Intérprete: Lia de Itamaracá. In: ITAMARACÁ, Lia de. Ciranda de ritmos. 2008. Faixa 1. cópiráiti 1980 bái EDICOES MUSICAIS limitada

Fotografia. Retrato de mulher negra, de turbante verde e vestido branco, cantando em um microfone, que segura com a mão direita. No pescoço ela usa colares de contas brancas e beges, de várias voltas,  e nos braços traz pulseiras de conchas. Ao fundo, há jogos de luzes coloridas, em tons de azul, verde e branco.
Lia de Itamaracá em apresentação realizada em Recife Pernambuco, em 2017.

A letra da canção repro­duzida nesta página faz menção a “Lia, que mora na ilha de Itamaracá”. O nome verdadeiro da Lia cantada nessa ciranda é Maria Madalena Correia do Nascimento. Nascida na ilha de Itamaracá, região metropolitana de Recife Pernambuco, Lia de Itamaracá, como ficou conhecida, é uma das mais famosas cirandeiras nordestinas.

Lia anima as rodas da ilha cantando e compondo cirandas. Na década de 1960, seu talento para a música foi reconhecido. O primeiro disco de Lia, intitulado A rainha da ciranda, foi gravado em 1977, e mais de vinte anos depois ela gravou seu trabalho seguinte, o cedê Eu sou Lia.

Inicialmente, a cirandeira era conhecida apenas por compositores, músicos e estudiosos da cultura nordestina, mas hoje seu trabalho é reconhecido em todo o Brasil e também internacionalmente.

Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que, em 2005, Lia, que além de trabalhar com a música é merendeira de uma escola estadual, recebeu o título de Patrimônio Vivo da Cultura Estadual de Pernambuco. Lia de Itamaracá dirige um centro cultural chamado Estrela de Lia, que fica na praia de Jaguaribe, na ilha de Itamaracá, e oferece cursos e lazer para a comunidade, incluindo crianças, jovens e adultos, além de promover ações culturais e educacionais que combatem o racismo e a discriminação. O centro cultural Estrela de Lia, que havia encerrado as atividades em 2010 por falta de recursos para sua manutenção e teve a situação agravada depois que fortes chuvas atingiram o local em 2014, foi reaberto em 2017 depois de uma campanha de Lia para sua reconstrução.

Experimentações

Vamos cirandar?

    Momento 1 – Aprendendo a canção

Com a orientação do professor, você e os colegas vão ouvir o áudio "'Quem me deu foi Lia', de Antonio Baracho da Silva e Manoel José de Melo", para aprender o ritmo e a letra da canção.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

    Momento 2 – Formação em roda

Agora que vocês já sabem como cantar a canção, faça uma grande roda com os colegas e o professor. Se a roda não couber no espaço da sala de aula, vocês podem fazer mais de uma roda, uma dentro da outra.

    Momento 3 – A ciranda

Para iniciar a ciranda, não se esqueçam de escolher uma pessoa para começar os passos e alguns colegas para “puxar” o canto na ciranda: eles cantarão os versos da canção e, em seguida, todos cantam com eles. Esses papéis podem ir mudando para que outras pessoas experimentem “puxar” o canto ou a dança na ciranda.

A capoeira

Observe a fotografia reproduzida nesta página. Ela mostra um grupo de pessoas praticando capoeira, manifestação cultural de origem afro-brasileira que reúne elementos de dança, música, jôgo e luta. Você pratica ou conhece alguém que pratique capoeira? Em caso afirmativo, como conheceu essa prática? Converse com os colegas.

Em sua origem, a capoeira era usada pelos africanos escravizados como fórma de defesa. Com o passar do tempo, foi adquirindo diferentes características e, ­atualmente, é vista como uma luta dançada e também um jôgo em que os praticantes utilizam diferentes movimentos de habilidade e fôrça física. Além disso, a capoeira é um momento de encontro, de celebração e de aprendizagem.

Hoje, a capoeira é praticada por pessoas de diferentes classes sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Durante muito tempo, entretanto, ela não foi bem-vista, e sua prática chegou a ser proibida no país. O Código Penal brasileiro de 1890 previa a pena de até seis meses de detenção para quem fosse flagrado no “exercício da capoeiragem”. Apenas a partir da década de 1930, a prática foi descriminalizada e passou a ser considerada um símbolo da cultura nacional.

Fotografia. Homens jogando capoeira em uma praça. Enquanto dois homens praticam os movimentos, atrás deles três homens tocam instrumentos musicais.
Roda de Capoeira Angola, na Ilha de Mar Grande Local, Vera Cruz Bahia . Fotografia de 2019.
Respostas e comentários

Experimentações

Momento 1: a proposta orienta a experimentação da ciranda. No entanto, em Pernambuco existem mestres-cirandeiros e batuqueiros com conhecimentos tradicionais que praticam e orientam as cirandas. Por isso é importante explicar para os estudantes que esta experimentação não é o mesmo que as cirandas tradicionais pernambucanas.

Momento 3: aproveite a experimentação para conversar com os estudantes sobre como eles estão percebendo a si mesmos e aos colegas depois de experimentar a ciranda e cantar juntos.

Contextualização

Incentive os estudantes a falar o que sabem a respeito da capoeira e como a conheceram (jogando na rua, em casa com a família, frequentando academia, pela televisão, em algum site ou canal da internet, em fotografias e histórias de livro etcétera Se houver algum estudante que pratique capoeira, peça-lhe que demonstre alguns movimentos ou cante alguma canção característica.

Depois, abra um debate com os estudantes partindo da seguinte questão: por que a prática da capoeira já foi considerada crime? Escute as hipóteses levantadas pelos estudantes e, a partir da conversa, comece a inserir algumas informações para contextualizar historicamente a prática.

Explique aos estudantes que, por meio de registros iconográficos e documentos históricos, é possível concluir que a capoeira é praticada desde o século dezoito. Comente com eles que essa manifestação cultural integra elementos da dança, da luta e do jôgo. Sobre a origem da capoeira, diga-lhes que pesquisadores acreditam que essa prática tenha sido trazida à América portuguesa por africanos escravizados que viveram, principalmente, nas zonas portuárias de cidades como Recife, Rio de Janeiro e Salvador. Eles defendem a ideia de que a capoeira praticada no Brasil combina elementos da cultura de diversos povos africanos. Para outros pesquisadores, no entanto, a capoeira teve origem em Angola.

Comente que na década de 1930, com a descriminalização da prática, surgiram duas modalidades principais de capoeira: a angola e a regional. Elas se diferenciam não somente por sua origem, mas também pela maneira como cada uma delas é jogada.

A capoeira angola segue os principais elementos das danças e lutas africanas e se mantém ligada a crenças e tradições religiosas. Vicente Francisco Ferreira Pastinha (1889-1981), conhecido como Mestre Pastinha, foi pioneiro no ensino de capoeira angola no Brasil. Ele abriu a primeira academia de capoeira angola em Salvador, na Bahia, em 1935, e dizia que tinha aprendido a capoeira com um angolano chamado Benedito.

A capoeira regional, por sua vez, manteve as origens africanas, mas incorporou elementos de outras artes marciais. O capoeirista baiano Manoel dos Reis Machado (1899-1974), o Mestre Bimba, foi o principal responsável pela criação e pela divulgação da capoeira regional no Brasil.

A roda de capoeira

Observe a fotografia desta página. Note que, como nas cirandas, na quadrilha e em muitas danças populares brasileiras, os capoeiristas se posicionam em roda.

Embora a capoeira hoje em dia possa ser aprendida em academias e escolas especializadas, a roda de capoeira ainda é o lugar onde se dá o aprendizado, ou seja, onde os mestres de capoeira, jogando, ensinam os movimentos e compartilham sua experiência.

Fotografia. Destaque de roda de capoeira. Os participantes vestem-se de camiseta e calça branca. No centro da roda, duas pessoas jogam, enquanto as demais aguardam a vez. Uma das pessoas está dando uma pirueta, com as mãos no chão, uma das pernas chutando o ar e outra apoiada no chão. A outra pessoa que está no jogo tem o corpo inclinado para a frente, as pernas abertas e os braços, também abertos, em posição de defesa. No fundo, cinco pessoas tocam instrumentos musicais. Da esquerda para a direita: uma toca atabaque, três tocam berimbaus e uma toca pandeiro.
Apresentação de capoeira no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 2014.

No centro da roda, é realizado o principal movimento da capoeira: a ginga. Na ginga, o capoeirista movimenta-se de um lado para o outro posicionando sempre uma das pernas atrás do corpo. Durante esse movimento, quando a mão direita do capoeirista está à frente, o pé direito fica atrás do corpo, e quando a mão esquerda está à frente, é o pé esquerdo que fica atrás do corpo, em um movimento alternado de mãos e pés. Você conhece alguém que pratica capoeira e sabe gingar?

Respostas e comentários

Mestre Bimba fundou em 1932, em Salvador, na Bahia, a primeira escola de capoeira regional do Brasil. A escola de Mestre Bimba recebeu o primeiro registro oficial em 1937 e passou a ser denominada Centro de Cultura Física e Capoeira Regional. Mestre Bimba foi pioneiro ao criar um projeto esportivo e pedagógico para a capoeira e ao estabelecer regras de comportamento para os capoeiristas.

Os mestres Pastinha e Bimba foram fundamentais para o reconhecimento e a difusão da prática da capoeira no Brasil e no exterior. Com o trabalho deles, a capoeira passou a ser considerada uma atividade esportiva, e seus principais movimentos passaram a ser organizados e estruturados.

Mencione que a roda de capoeira e o ofício dos mestres de capoeira foram reconhecidos, em 2008, como bens imateriais do patrimônio cultural do Brasil.

Mencione que estudiosos acreditam que um dos primeiros a usar o termo capoeira foi o pintor iôrrán morits Rugendas (1802-1858). No século dezenove, Rugendas produziu a litogravura Jogo de capoeira ou dança da guerra, disponível em: https://oeds.link/69viDK. Acesso em: 27 maio 2022.

Comente com eles que os movimentos apresentam variações de acordo com o estilo de capoeira: angola ou regional.

Explique que a diferença está no modo como o jogador os executa. Diga-lhes, ainda, que, ao longo dos anos, novos movimentos foram inseridos nas rodas de capoeira; porém, por meio de registros e documentos dessa manifestação cultural, é possível reconhecer alguns movimentos que permaneceram. O texto “Golpes e movimentos da capoeira”, indicado nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual, apresenta a descrição de alguns golpes de capoeira.

Comente com os estudantes que acredita-se que os africanos escravizados que foram trazidos para o Brasil tenham denominado o principal movimento da capoeira como ginga em homenagem à rainha africana inzinga imbandi. Depois leia com eles o texto reproduzido na seção da próxima página.

Entre textos e imagens

Rainha inzinga imbandi

Pintura em aquarela. Grupo de pessoas negras, de tanga, agrupadas atrás de uma mulher negra de cabelo crespo, preto, com uma coroa dourada na cabeça. Ela  traz uma faixa de tecido laranja ao redor do peito, uma saia longa de babados laranjas e azuis e um cordão azul-claro, comprido, amarrado na cintura. Estão ao ar livre, com o céu azul-escuro ao fundo.
CAVAZZI, Antonio. Rainha inzínga e seu séquito. 1622. Aquarela, dimensões desconhecidas. Coleção particular.

“O maior símbolo da resistência africana à colonização foi uma mulher. Rainha do indôngo, atual Angola, inzinga imbandi (1582-1663) entrou para a história como combatente destemida, exímia estrategista militar e diplomata astuciosa. Ela chefiou pessoalmente o exército até os 73 anos de idade e era tão respeitada pelos portugueses que Angola só foi dominada depois da sua morte, aos 81 anos.

Falar de inzínga é falar de um mundo ao mesmo tempo muito distante e muito próximo. Ela nasceu entre os africanos de língua bantu, os mesmos que, escravizados no Brasil, criaram o samba e a capoeira. Seu povo está, portanto, na raiz da nossa identidade nacional. A sociedade a que ela pertencia, no entanto, é bem pouco conhecida.

reticências

conseguiu manter a independência do seu povo durante todo o reinado e hoje permanece uma figura central na cultura de Angola, país ainda dividido por conflitos internos. No Brasil, apesar de quase desconhecida, a rainha inzínga ainda é homenageada em festas populares de origem bantu, como a congada. Zumbi dos Palmares, contemporâneo dela que adoraria tê-la conhecido, certamente diria: ela merece!”

, Gilberto. Rainha , número 164, maio 2001.

Faça no diário de bordo.

Questões

  1. Ao ler a imagem e o texto, o que mais chamou a sua atenção? Por quê?
  2. Na imagem que representa a rainha inzinga imbandi e sua comitiva, quais elementos você identifica?
  3. É possível identificar objetos, expressões corporais e faciais e outros elementos na imagem que tenham relação com o texto? Caso identifique, quais são eles?
  4. Você já ouviu falar de Zumbi dos Palmares? Por que você imagina que ele teria gostado de ter conhecido a rainha?
  5. Procure se lembrar com os colegas de outras mulheres negras que foram ou são líderes políticas importantes, como inzínga.
Versão adaptada acessível

1. Após ouvir a descrição da imagem e a leitura do texto, o que mais chamou a sua atenção? Por quê?

Respostas e comentários

Entre textos e imagens

Ao abordar a história da rainha inzinga imbandi, comente com os estudantes que algumas de suas principais características foram a capacidade de liderança e a habilidade política, que a ajudaram a proteger seu povo do interesse dos portugueses em escravizá-los e enviá-los à América. Hoje, inzínga é considerada um dos símbolos da resistência africana ao colonialismo europeu. Caso considere oportuno e se a escola tiver acesso à internet, apresente aos estudantes uma história ilustrada da vida dessa rainha africana, disponível em: https://oeds.link/gRKuYR (acesso em: 20 abr. 2023). Aproveite também para ressaltar a importância dos povos africanos de língua bantu para a formação da identidade cultural do Brasil.

Questões

1. Deixe que os estudantes façam associações diversas; não há certo ou errado. Apenas fique atento para o caso de reproduzirem nas suas leituras estereótipos racistas.

2. A esta pergunta, não há resposta certa ou errada. Convide os estudantes a perceber a imagem e, se considerar oportuno, incentive-os a fazer relações entre a imagem e os seus repertórios e as memórias pessoais.

3. Pode ser interessante identificar com os estudantes os símbolos que estão na imagem, como o arco e os colares que parecem feitos com búzios. Deixe, porém, que eles exponham suas leituras por algum tempo e destaque esses elementos se não aparecerem nas falas deles.

4. Caso os estudantes não conheçam Zumbi dos Palmares e tenham dificuldades para compreender a associação que o texto faz, conte para eles quem foi Zumbi. Para fazer essa contextualização, você pode ressaltar a liderança de Zumbi na resistência contra a escravidão na América portuguesa atuando a partir do Quilombo dos Palmares, e outros momentos de sua história de luta que considerar relevantes. Desse modo, será possível imaginar o encontro dele com a rainha inzínga e criar hipóteses com os estudantes para a pergunta.

Se julgar oportuno, oriente uma pesquisa sobre a história de luta de Zumbi dos Palmares e outras lideranças negras, especialmente mulheres, que lutaram contra a escravidão no Brasil.

5. É possível que os estudantes não se lembrem ou não conheçam mulheres negras como líderes políticas. Se for esse o caso, você pode mencionar algumas referências para que passem a conhecer ou se lembrem de alguma.

Comece com exemplos de mulheres da atualidade ou lideranças que atuam na comunidade onde os próprios estudantes estão; depois, você pode mencionar mulheres de épocas anteriores.

A música na capoeira

O ritmo das rodas de capoeira é ditado pelo toque de diferentes instrumentos musicais, como o berimbau, o pandeiro, o agogô e o atabaque. De origem africana, o berimbau é um instrumento constituído de uma vara de madeira em fórma de arco em que se estica uma corda de aço. Em uma das extremidades do berimbau, fica a cabaça, peça que funciona como uma caixa de ressonância, ou seja, ajuda a amplificar o som. O som desse instrumento é gerado quando a corda de aço é percutida por uma vareta e uma moeda ou objeto similar que, ao encostar na corda, muda a altura das notas emitidas. Ao tocar o berimbau, o músico deve aproximar e distanciar a cabaça do abdome como fórma de diversificar ainda mais os sons obtidos.

Observe que, na imagem, o percussionista segura um pequeno chocalho na mão direita. Chamado caxixi, esse instrumento faz o acompanhamento rítmico do berimbau. O ritmo também é ditado pelas palmas dos participantes da roda.

Fotografia. Em destaque, grupo de dois homens e dois jovens ao ar livre, em local arborizado, tocando instrumentos musicais. No primeiro plano, à esquerda, de camiseta branca e calça branca com faixa azul, um dos homens parece cantar enquanto toca berimbau. Em frente dele, de camiseta branca sem mangas e calção azul, outro homem toca agogô. Mais ao fundo, de camiseta branca sem mangas, um dos jovens toca atabaque e o outro, perto dele, toca pandeiro.
Percussionista toca berimbau (à esquerda na fotografia) em roda de capoeira, em Ruy Barbosa Bahia , em 2014.

Durante toda a apresentação da capoeira há cantos. Em alguns momentos, eles são en­toados em coro e, em outros, por um solista. Nos momentos de solo, o verso proferido pelo solista é respondido pelos demais integrantes da roda. Leia, a seguir, a letra de “Marinheiro só”, canção muito comum em rodas de capoeira.

Depois ouça o áudio "'Marinheiro só', da tradição popular".

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Marinheiro só

Refrão (2×)

“Eu não sou daqui

Marinheiro só

Eu não tenho amor

Marinheiro só

Eu sou da Bahia

Marinheiro só

De São Salvador

Marinheiro só


Refrão (2×)

Ó marinheiro, marinheiro

Marinheiro só

Quem te ensinou a nadar

Marinheiro só

Ou foi o tombo do navio

Marinheiro só

Ou foi o balanço do mar

Marinheiro só


Refrão (2×)

Lá vem, lá vem

Marinheiro só

Como ele vem faceiro

Marinheiro só

Todo de branco

Marinheiro só

Com seu bonezinho

Marinheiro só”

Da tradição popular.

Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que as canções são fundamentais nas rodas de capoe­ira. Na capoeira angola, os cantos, chamados ladainha, são proferidos no início da roda e caracterizados pela fórma“sofrida” como o cantador os entoa. Normalmente, o mestre que toca o berimbau principal é o responsável por entoar a ladainha. Além da ladainha, fazem parte das rodas de capoeira a chula e os cantos corridos. Explique aos estudantes que, assim que a ladainha é entoada, os capoeiristas que vão jogar aguardam abaixados ao lado do berimbau. Após a ladainha, é entoada a chula, momento em que são realizadas as saudações, e, em seguida, os cantos corridos. Nesse momento, o jôgo se inicia. Diga aos estudantes que a chula e a ladainha são “puxadas” por um solista e respondidas pelo coro. Na capoeira regional, não existem ladainhas, e o jôgo se desenvolve ao som dos cantos corridos.

Ao tratar dos instrumentos utilizados nas rodas de capoei­ra, destaque a importância do berimbau e comente com os estudantes que podem ser realizados diferentes toques com o instrumento. É possível obter mais informações a respeito dos toques do berimbau no texto “Cordas e sons do berimbau”, nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual.

Comente com os estudantes que os outros músicos tocam atabaque, pandeiro e agogô.

Faça no diário de bordo.

Pensar e fazer arte

Nesta Unidade, você e os colegas relembraram, conheceram e experimentaram diferentes movimentos e fórmas de dança. Também aprenderam sobre alguns espaços e momentos em que a dança está presente em nossa cultura: em palcos e outros locais cênicos, praças públicas, aldeias indígenas, festas etcétera Agora, vamos partir dessas referências e repertórios culturais para criar coletivamente uma coreografia.

Momento 1 – Pesquisa de movimentos

  1. Recorde os movimentos que você praticou nas últimas aulas, mas tente se lembrar fazendo-os. Reler as anotações no diário de bordo pode ajudar a relembrá-los.
  2. Escolha alguns deles para praticar.
  3. Pratique-os em diferentes velocidades, usando partes do corpo e o corpo todo, ocupando lugares diversos do espaço.
  4. Depois de repetir os movimentos algumas vezes de maneiras diferentes e em lugares diversos, transforme-os até que se tornem totalmente diferentes. Crie, no máximo, três movimentos.
  5. Reúna-se com mais quatro colegas para mostrar os movimentos que criou e conhecer os que eles criaram. Em seguida, experimente as criações dos colegas, para aprender os movimentos.
  6. Registrem os movimentos criados por cada um. Vocês podem fazer desenhos das sequências de movimentos, descrições escritas ou usar outro recurso para o registro.

Momento 2 – Pesquisa de imagens

  1. Vamos continuar a criação da coreografia pesquisando imagens. Reúna-se com o seu grupo para fazer uma pesquisa, que pode ser realizada em livros ou buscadores e sites na internet.
  2. A partir dos temas da Unidade, pesquisem e escolham até dez imagens com fórmas circulares, que contenham ou lembrem gestos corporais e representações de diferentes manifestações culturais e que tenham alguma relação com os movimentos criados anteriormente.
  3. Retomem os movimentos criados e observem que a cada vez que eles são praticados, eles podem ir se modificando. Isso é parte do processo de criação em grupo. Percebam que os movimentos que vocês criaram também são imagens, mas diferentes das bidimensionais que estão nos livros. A dança é umafórma de imagem em movimento.
  4. Após praticar algumas vezes esses movimentos, a partir das imagens, criem nomes para eles e anotem no diário de bordo.
    ilustração. Ícone Diário de bordo.

Momento 3 – Montagem da coreografia

a. Pensem sobre as relações que os movimentos criados têm entre si e definam como será a sequência deles. Os nomes dos movimentos podem ajudar nessa decisão coletiva. Anotem as possíveis sequências no diário de bordo.

ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Com a sequência coreográfica montada, ensaiem algumas vezes. É interessante que cada pessoa faça o movimento no seu próprio tempo.
  2. Apresentem a coreografia para os outros grupos e assistam também às coreografias deles. Depois, façam uma roda para conversar sobre essa experiência.
Respostas e comentários

Pensar e fazer arte

A proposta tem duração de três aulas, considerando as três etapas. Nos momentos 1 e 3, os estudantes vão realizar movimentos de dança. Por isso, abra um grande espaço na sala de aula ou procure outro local na escola que seja adequado para a prática.

Antes de começar a prática, faça um breve aquecimento corporal por cêrca de 5 minutos. Para fazer esse aquecimento, você pode orientar o grupo a fazer movimentos circulares passando pelas partes do corpo: cabeça, ombros, braços, cintura, pernas, joelhos e pés. A sugestão é que esse aquecimento seja feito em todas as aulas que envolverem práticas corporais, sempre antes de iniciar as práticas.

Durante a proposta, oriente os estudantes a ficar atentos aos colegas e aos espaços que estão ocupando, evitando acidentes.

Momento 1: estimule os estudantes a se movimentar com atenção ao corpo. Às vezes, nós nos lembramos dos movimentos antes com o corpo e só depois formamos a memória. Se julgar oportuno, coloque para tocar algumas canções apresentadas aos estudantes no trabalho com esta Unidade para ativar as memórias corporais dos movimentos criados ou aprendidos por eles. Assim como nas experimentações anteriores, incentive-os a pesquisar os movimentos durante algum tempo, ocupando diversos espaços da sala de aula e mudando aos poucos suas criações.

Momento 2: se for possível, use a biblioteca da escola ou a sala de informática para os momentos em que os estudantes deverão pesquisar imagens. Faça algumas perguntas que ajudem os estudantes a encontrar a relação entre as imagens e os movimentos, como: por que vocês escolheram essas imagens? O que elas têm em comum? Elas lembram algum movimento que vocês criaram? Remetem a algo de que tenham se lembrado? Não é necessário que os estudantes saibam responder a todas as questões, o importante é que eles reflitam sobre essas relações possíveis entre os movimentos criados e as imagens para continuar a proposta. Na escolha das imagens, se não houver acordo de todo o grupo sobre as dez imagens, pode-se definir uma quantidade de imagens que cada integrante pode escolher, de acordo com o tamanho do grupo. Converse brevemente com os estudantes sobre o processo de criação e como aquilo que foi criado individualmente se modifica com o tempo, quando é praticado e aprendido por outras pessoas. Muitas vezes, isso torna a criação mais interessante.

Momento 3: se considerar necessário, circule entre os grupos para verificar se os estudantes conseguem relembrar os movimentos. Se tiverem dificuldades, sugira-lhes que façam os movimentos da maneira deles sem se preocupar em reproduzir exatamente o que tinham criado antes. Verifique se os integrantes dos grupos estão conseguindo trabalhar coletivamente ou se há algum impasse ou, ainda, se têm dúvidas. Estimule-os a experimentar a dança de um mesmo movimento em tempos diferentes. Eles podem começar um depois do outro, por exemplo, ou dançar em ritmos diferentes. Ao final da experiência, possibilite a realização de uma roda de conversa para que troquem suas experiências em relação ao que foi vivenciado nesta proposta.

Faça no diário de bordo.

Autoavaliação

Ao longo desta Unidade, você se aproximou da dança e teve a oportunidade de conhecer e experimentar elementos próprios dessa linguagem.

Você aprendeu, por exemplo, que os movimentos podem ser classificados em funcionais e expressivos. Percebeu também as potencialidades expressivas de alguns dos movimentos que realiza em seu dia a dia.

Você descobriu ainda que, atualmente e nos tempos mais antigos, a dança é realizada pelos seres humanos em rituais e em festividades tradicionais.

Aprendeu também que a dança constitui um elemento fundamental da cultura de diferentes povos.

Todos esses conhecimentos que você obteve nesta Unidade podem ser muito importantes para ampliar seu olhar em relação à linguagem da dança nos mais diferentes contextos.

Agora que chegamos ao final desta Unidade, é fundamental que você reflita sobre o que aprendeu e sobre o caminho percorrido até este momento. Para tanto, responda em seu diário de bordo às questões a seguir.

ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Cite a proposta desta Unidade de que você mais gostou e que mais o ajudou a compreender a linguagem da dança. Justifique a sua escolha.
  2. Como foi realizar as atividades práticas com os colegas? Você se sentiu respeitado e acolhido em suas dificuldades?
  3. Este estudo mudou o modo como você vê a dança e o modo como se expressa com o corpo?
  4. O que poderia ajudá-lo a conhecer mais sobre a dança?
  5. Você encontrou oportunidades de acolher e ajudar os colegas nas propostas?
  6. Que relações você faz entre os aprendizados com a dança e as suas vivências pessoais?
  7. As reflexões e conversas desta Unidade mudaram o seu modo de pensar sobre algum aspecto da sua vida e do mundo à sua volta?
  8. Você acha que precisa ou pode melhorar em algum ponto? Qual?
Respostas e comentários

Autoavaliação

Antes de iniciar a seção, revisite os objetivos e as habilidades da Unidade. O texto do livro apresenta a trajetória de aprendizagem por meio da qual essas habilidades foram trabalhadas.

Neste momento, os estudantes vão retomar as atividades avaliativas ao longo da Unidade e refletir sobre seu processo de aprendizagem a respeito da linguagem da dança. Oriente-os a retomar as anotações feitas no diário de bordo.

Aproveite para revisitar os objetivos de cada Tema e revisar as habilidades trabalhadas, de modo a verificar se a aprendizagem contemplou os objetos de conhecimento pertinentes ao ensino de dança e outras Unidades temáticas da arte.

Lembre-se de que as respostas são pessoais e de que, neste momento, os estudantes não estão apenas retomando os conteúdos da Unidade, mas revisitando as suas experiências, memórias, afetos e, até mesmo, encarando dificuldades que possam ter vivenciado durante as aulas.

Embora o livro oriente a escrita direta no diário de bordo, você pode criar uma roda de conversa para ler e dialogar sobre as questões, antes de eles responderem por escrito. Esse momento de escuta e diálogo é muito importante para que os estudantes possam dimensionar os critérios com os quais vão fazer a autoavaliação a partir do que escutam também dos seus colegas. Eles precisam de parâmetro e referência para perceber o que é importante ter em conta durante esse exercício.

Fique atento para mediar possíveis conflitos ou mesmo experiências relatadas que representem dificuldades, frustrações, medos e angústias dos estudantes. Lembre-se de que o aprendizado com as artes tangencia não apenas as leituras de mundo, mas também as emoções dos estudantes. Seja acolhedor e tente criar uma atmosfera de escuta e de respeito.

Aproveite essa oportunidade para refletir sobre o seu próprio trabalho. Ao ouvir e ler o que os estudantes lembram e pensam sobre todo o percurso de aprendizagem da Unidade, o que você faria diferente? Há algum conteúdo que exige mais trabalho e dedicação? A mediação do repertório cultural e das ideias dos estudantes precisa de mais espaço nas aulas? Durante a roda de conversa, você percebeu disposição entre os estudantes? Observe todos esses aspectos e mobilize essas percepções para repensar o modo como usa e articula os conteúdos e as proposições do livro nas aulas.