Tema 3  A arte de fazer rir

A comédia

Provavelmente, ao ouvir a palavra comédia você logo pensará em espetáculos de teatro, shows de música ou, ainda, em programas de televisão ou da internet que são engraçados, ou seja, que provocam o riso. No entanto, os espetáculos teatrais cômicos existem desde a Antiguidade. A comédia está nas origens do teatro como o conhecemos hoje e é um dos gêneros teatrais explorados pelos gregos antigos.

Além de buscar provocar o riso no espectador, a comédia grega tinha como características marcantes a presença de personagens que representavam pessoas comuns, a crítica social e o desenvolvimento de histórias com desfecho feliz.

Um dos principais autores de comédias gregas foi Aristófanes (cêrca de 447 antes de Cristo 385 antes de Cristo). Acredita-se que esse dramaturgo, ao longo da vida, tenha escrito quarenta peças, das quais apenas onze chegaram na íntegra até nós. Uma das principais características da obra de Aristófanes era a sátira social e política. A sátira é um recurso ainda muito utilizado por escritores, humoristas e artistas, em que se utiliza uma espécie de crítica bem-humorada para refletir sobre situações, pessoas ou temas.

Fotografia. Escultura em mármore branco em formato de um busto de um homem de cabelo ondulado, barba longa e expressão séria.
Cópia romana do busto de Aristófanes (século dois). Escultura em mármore, 50 centímetros (altura). Museu do Louvre, Paris.
Fotografia. Vaso de cerâmica preta, com duas alças laterais e pintura em tons de dourado e vermelho mostrando um homem idoso de cabelo  e barba longa brancos, usando roupa vermelha, com a cabeça entre os degraus de uma escada de madeira. À frente dele há um homem de cabelo preto, chapéu e roupa vermelha segurando um cetro. Entre eles há uma figura de mulher de perfil emoldurada.
ASTEAS. Vaso grego. século quatro antes de Cristo Cerâmica policromada, 37 (altura) por 36 centímetros (diâmetro). Museu Gregoriano Etrusco, Vaticano.

As aves

Os textos teatrais produzidos pelos gregos antigos ainda hoje são montados por companhias de teatro do mundo todo. Para isso, em geral, esses textos passam por uma adaptação, ou seja, é realizada uma transposição, tanto dos textos quanto das imagens e das relações ali presentes, para o novo contexto em que serão encenados. A fotografia desta página, por exemplo, retrata uma montagem da comédia As aves, escrita por Aristófanes em 411 antes de Cristo.

Essa montagem foi realizada pela Comédie-Française, companhia e espaço teatral fundados em Paris, na França, em 1680. O responsável pela adaptação do texto original de Aristófanes foi o diretor teatral Alfredo Arias.

Fotografia. Em um palco, três atores: à esquerda, um homem de cabelos castanhos curtos, vestindo camisa branca e calça laranja. Ele tem o rosto pintado de branco e está sentado no chão, de perfil, com as costas encostadas em uma poltrona  e  os braços apoiados sobre os joelhos. Sentada na poltrona, uma mulher idosa de cabelos loiros e coroa de louros dourada, veste calça, camisa e sobretudo em tons de marrom e dourado. À esquerda dela, de pé, há uma mulher de cabelo loiro, vestindo blusa laranja, calça preta e sobretudo bege, com um par de asas de plumas brancas nas costas. Ambas olham para o lado esquerdo. Ao fundo, vê-se   silhuetas em tons de vermelho de duas pessoas usando asas.
Os atores Lo ik Korbe-rí, Catherine e Martine em cena do espetáculo As aves, da Comédie-Française, em Paris, França, em 2010.

A peça original de Aristófanes conta a história de dois homens que, cansados da corrupção das relações sociais na Grécia, decidem abandonar o lugar onde moram para viver entre os pássaros. Para tanto, além de convencer as aves, eles têm de negociar com os deuses.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Em sua opinião, quais elementos são necessários para uma comédia?
  2. O enredo da peça As aves pode ser considerado atual? Por quê?
  3. Você já assistiu a uma cena, a um programa ou a uma peça teatral que era cômica, mas tratava de um assunto sério e importante para a sociedade? Comente com seus colegas.
Versão adaptada acessível

3. Você conhece alguma cena, programa ou peça teatral que seja cômica, mas trate de um assunto sério e importante para a sociedade? Comente com seus colegas.

A comédia satírica

Nas páginas anteriores, você descobriu que a sátira era uma característica marcante nas comédias de Aristófanes. Essa característica, também presente na commedia dell’arte – que conhecemos no Tema anterior –, marcou a produção de dramaturgos de diferentes períodos, como o francês Jãn Batíst Pokelãn (1622-1673), conhecido como .

Pintura. Homem branco, de cabelo longo, cacheado e ruivo, olhos azuis,  vestindo camisa branca e casaco cinza de gola dourada.
Molière. 1658. Óleo sobre tela, 55 por 48,5 centímetros. MuseuCondéChantilly, França.

Além de dramaturgo, Moliér era ator e foi muito influenciado pela commedia dell’arte. Por meio de suas peças, ele criticava e ridicularizava os comportamentos e costumes da sociedade de sua época. Entre suas principais obras está O tartufo, de 1664. Nessa peça, Moliér criticava de modo bem-humorado a falsa devoção religiosa de muitas pessoas. O teor crítico dessa peça causou incômodo, o que levou à sua censura, ou seja, sua encenação foi proibida.

A censura costuma acontecer com muitas comédias, que, por fazerem forte crítica social, acabam sendo proibidas em sociedades em que há esse tipo de restrição à liberdade de expressão. A fotografia a seguir mostra uma cena do espetáculo Tartufo-me, uma adaptação do texto original de Moliér.

Fotografia. Um homem de cabelos pretos curtos e vestindo um  casaco roxo segura um microfone, enquanto aponta com o indicador direito para a frente, posicionado sobre um palanque. Atrás dele,  sobre fundo escuro,  há uma cruz iluminada.
O ator Dimas Mendonça em cena do espetáculo Tartufo-me, em Manaus Amazonas , em 2018.

O avarento

Uma das peças mais conhecidas de Moliér é O avarento, de 1668. Você sabe qual é o significado da palavra avarento? Essa palavra é utilizada para se referir a alguém que não gosta de gastar dinheiro, o popular “pão-duro”. Esse é o perfil de Harpagão, a personagem principal dessa peça.

Em O avarento, Moliér representa de fórma irônica a inversão de valores, característica de uma sociedade norteada pelo interesse financeiro, o que torna esse texto, que foi escrito no século dezessete, extremamente atual. No Brasil, a peça O avarento teve diversas montagens e a personagem Harpagão foi interpretada por muitos atores, entre eles Paulo Autran (1922-2007), na montagem retratada na fotografia a seguir.

Fotografia. Palco com cenário composto por caixas de tamanhos diversos ao fundo. Em primeiro plano, no centro do palco, um homem de roupas claras e cabelos brancos, segura um objeto e  olha para outro homem, de cabelos longos castanhos e roupas pretas que gesticula com os braços abertos. Em segundo plano, no canto esquerdo do palco, um homem de barba preta e cabelos pretos, túnica e chapéu pretos segura uma espécie de livro e olha para os dois homens. Ao lado dele, um homem de calça e camisa claras, avental e chapéu de 'chef' está de braços cruzados observando a cena. Próximo a ele, há uma cadeira e uma pequena mesa de madeira.  Assim como ele, em segundo plano, dois casais de mãos dadas, vestidos com roupas claras e antigas e usando perucas observam também os dois homens ao centro.
Apresentação do espetáculo O avarento, em São Paulo São Paulo, em 2006.

Artista e obra

Paulo Autran

Paulo Autran nasceu em 1922 no Rio de Janeiro Rio de Janeiroe, em 1927, mudou-se para São Paulo São Paulo, onde, no final da década de 1940, iniciou sua carreira de ator. Ele atuou em montagens de obras clássicas do teatro mundial, como A dama das camélias, de Alecssandre Dumá (1802-1870), e Otelo, de Uíliam Xêiquispíer (1564-1616). O ator atuou também no cinema e na televisão. Paulo Autran faleceu em São Paulo São Paulo, em 2007, pouco tempo depois de participar da montagem de O avarento retratada na fotografia desta página.

Fotografia. Homem branco, idoso de cabelos brancos, vestindo camisa branca, lenço branco em volta do pescoço e casaco preto de gola cinza. Ele olha para a frente e gesticula com a mão esquerda.  Ele usa um anel, e o punho da camisa aparece sob a manga do casaco.
O ator Paulo Autran, como Harpagão, em cena da peça O avarento, em São Paulo São Paulo, em 2006.

A comédia de costumes

Observe a imagem reproduzida a seguir. Ela mostra uma cena do espetáculo O juiz de paz da roça, peça de teatro escrita na primeira metade do século dezenove que aborda os costumes de alguns grupos da sociedade brasileira daquela época.

Fotografia. Em um palco, em primeiro plano, um ator de bigode preto e sobrancelhas grossas usando  chapéu, camisa branca, colete azul e calça preta olha para a frente com as duas mãos na cintura e a boca aberta. Em segundo plano, da esquerda para a direita:  um ator de cabelos e bigode pretos, de calça preta, camisa branca e colete laranja, gravata azul gesticula; atrás dele outro ator  vestindo calça xadrez colorida, chapéu de palha e camisa branca; duas atrizes jovens, de cabelos castanhos presos,  vestindo saia colorida, com maquiagem nas bochechas; outro homem de cabelos e bigode castanhos vestindo paletó xadrez, calça preta e gravata vemelha com os braços para trás e  mulher com o cabelo trançado, vestido verde e bochechas pintadas gesticulando. Todos estão com a boca aberta e parecem cantar.
Cena do espetáculo O juiz de paz da roça, em montagem realizada pelo Grupo de Teatro Amador Trapos e Farrapos da Fundação Indaialense de Cultura , em Jaraguá do Sul Santa Catarina, em 2011.

Escrita por Luís Carlos Martins Pena (1815-1848), a peça O juiz de paz da roça foi encenada pela primeira vez em 1838. Martins Pena era formado em Comércio e seguiu a carreira diplomática, mas ficou conhecido por ter colaborado para a consolidação do teatro no Brasil.

Martins Pena escreveu cêrca de trinta peças de teatro e inaugurou no Brasil o gênero teatral comédia de costumes, que se caracteriza pela abordagem irônica e com humor dos usos e costumes de grupos sociais. Em suas peças, ele representou a sociedade brasileira da primeira metade do século dezenove, destacando os tipos e os hábitos comuns naquela época. Em O juiz de paz da roça, o autor trouxe à cena um olhar bem-humorado das atividades de um juiz e da simplicidade daqueles que viviam na roça (na zona rural).

O texto teatral

Textos como O juiz de paz da roça, que foram escritos para ser representados no palco, são chamados textos teatrais. Esses textos são produzidos por escritores, chamados dramaturgos, e, além de ser representados, podem ser publicados em livros. Os textos teatrais raramente têm um narrador. Neles, a história é contada pelas falas das próprias personagens. Como conhecemos a história pela voz e pelas ações das personagens, é possível saber o que elas pensam e, assim, conhecer sua personalidade.

A linguagem usada na peça varia de acôrdo com a situação, a época e o local, ou mesmo o grupo social abordado na história.

Nas próximas páginas você vai conhecer um trecho da peça O juiz de paz da roça, de Martins Pena. Ao ler esse trecho, observe que os diálogos são organizados com base na divisão dos textos entre as personagens José e Aninha. Perceba que o nome da personagem que deverá dizer o texto entra com letra maiúscula, à esquerda. Fique atento também para o modo como cada uma das personagens expressa suas vontades e como a realização dessas vontades depende da superação de certas dificuldades e oposições por meio da ação.

Observe as frases escritas entre parênteses ou no início da cena. Essas frases são chamadas rubricas (ou indicações de cena). Nelas, há orientações tanto para a encenação como para a atuação. Elas também indicam em que local a cena acontece, além de darem informações acerca do momento em que a peça se passa, se é dia ou noite, por exemplo.

As rubricas direcionadas à atuação indicam estados, emoções e/ou ações das personagens e auxiliam os atores na criação de gestos e intenções que deverão fazer em cena.

Além das rubricas, o texto teatral traz, algumas vezes, informações no início de cada cena. No trecho transcrito nas próximas páginas, por exemplo, Martins Pena usa as rubricas para indicar o figurino de uma das personagens, além de orientar os atores com relação a algumas das ações das personagens.

Fotografia em preto e branco. Retrato de um homem de cabelo escuro e sobrancelhas espessas, com barba em torno do queixo. Ele usa gravata-borboleta, camisa clara e casaco escuro.
Martins Pena em fotografia da década de 1840. Coleção particular.
Fotografia. Capa de livro com fundo amarelo,  com moldura em arabescos. No centro, o título em vermelho O juiz de paz da roça, e abaixo dele, os títulos em preto: QUEM CASA QUER CASA e O NOVIÇO.
PENA, Martins. Teatro de Martins Pena: O juiz de paz da roça / Quem casa quer casa / O noviço. terceira edição São Paulo: Martin clarrê, 2014. Capa de livro.

Entre textos e imagens

O juiz de paz da roça

Leia a seguir um trecho da peça O juiz de paz da roça, do escritor Martins Pena.

Cena í í

Entra José com calça e jaqueta branca.

José: Adeus, minha Aninha! (Quer abraçá-la.)

Aninha: Fique quieto! Não gósto destes brinquedos. Eu quero casar-me com o senhor, mas não quero que me abrace antes de nos casarmos. Esta gente quando vai à côrte, vem perdida. Ora diga-me, concluiu a venda do bananal que seu pai lhe deixou?

José: Concluí.

Aninha: Se o senhor agora tem dinheiro, por que não me pede a meu pai?

José: Dinheiro? Nem vintém!

Aninha: Nem vintém! Então o que fez do dinheiro? É assim que me ama? (Chora.)

José: Minha Aninha, não chores. Oh, se tu soubesses como é bonita a côrte! Tenho um projeto que te quero dizer.

Aninha: Qual é?

José: Você sabe que eu agora estou pobre como Jó, e então tenho pensado em uma coisa. Nós nos casaremos na freguesiaglossário , sem que teu pai o saiba; depois partiremos para a côrte e lá viveremos.

Aninha: Mas como? Sem dinheiro?

José: Não te dêglossário isso cuidadoglossário : assentarei praçaglossário nos Permanentesglossário .

Aninha: E minha mãe?

José: Que fique raspando mandioca, que é ofício leve. Vamos para a côrte, que você verá o que é bom.

Aninha: Mas então o que é que há lá tão bonito?

José: Eu te digo. Há três teatros, e um deles maior que o engenho do capitão-mor.

Aninha: Oh, como é grande!

José: Representa-se todas as noites. Pois uma mágica... Oh, isto é coisa grande!

Aninha: O que é mágica?

José: Mágica é uma peça de muito maquinismo.

José: Sim, maquinismo. Eu te explico. Uma árvore se vira em uma barraca; paus viram-se em cobras, e um homem vira-se em macaco.

Aninha: Em macaco! Coitado do homem!

Aninha: Maquinismo?

José: Mas não é de verdade.

Aninha: Ah, como deve ser bonito! E tem rabo?

José: Tem rabo, tem.

Aninha: Oh, homem!

José: Pois o curroglossário dos cavalinhos! Isto é que é coisa grande! Há uns cavalos tão bem ensinados, que dançam, fazem mesurasglossário , saltam, falam, etcétera. Porém o que mais me espantou foi ver um homem andar em pé em cima do cavalo.

Aninha: Em pé? E não cai?

José: Não. Outros fingem-se bêbados, jogam os socos, fazem exercício – e tudo isto sem caírem. E há um macaco chamado o macaco Major, que é coisa de espantar.

Aninha: Há muitos macacos lá?

José: Há, e macacas também.

Aninha: Que vontade tenho eu de ver todas estas coisas!

José: Além disto há outros muitos divertimentos. Na Rua do Ouvidor há um cosmoramaglossário , na Rua de São Francisco de Paula outro, e no Largo uma casa aonde se veem muitos bichos cheios, muitas conchas, cabritos com duas cabeças, porcos com cinco pernas, etcétera

Fotografia. Palco com atores vestindo roupas antigas. Em primeiro plano, no canto esquerdo, um homem vestindo terno listrado, camisa amarela e chapéu de palha está de braço dado com uma mulher jovem, com os cabelos presos em duas tranças, vestido longo e florido em branco e rosa e flores no cabelo. Do lado oposto, um homem de bigode espesso castanho, cabelos escuros, calça preta, paletó xadrez azul e gravata vermelha está com o braço direito estendido na direção do casal, que olha para ele,  com a palma da mão voltada para cima.  Ele olha para a frente e parece falar algo. Em segundo plano, da esquerda para a direita: mulher de vestido florido e cabelos loiros presos em rabo-de-cavalo; homem de cabelo preto e branco, bigode, calça preta, camisa branca, colete laranja e gravata borboleta azulestá com as mãos unidas; homem de cabelos e bigode pretos, calça preta, camisa branca e colete azul, gravata borboleta laranja está com os braços pra trás; homem vestindo calça xadrez, camisa branca, casaco marrom e chapéu de palha gesticula com a mão esquerda à frente da barriga e a direita sobre a cabeça; ao lado dele mulher de vestido verde e cabelos loiros presos em uma trança está com as mãos unidas à frente do corpo.
Cena do espetáculo O juiz de paz da roça em montagem realizada pelo Grupo de Teatro Amador Trapos e Farrapos da Fundação Indaialense de Cultura , em Jaraguá do Sul Santa Catarina, em 2011.

Aninha: Quando é que você pretende casar-se comigo?

José: O vigário está pronto para qualquer hora.

Aninha: Então, amanhã de manhã.

José: Pois sim. (Cantam dentro.)

Aninha: Aí vem meu pai! Vai-te embora antes que ele te veja.

José: Adeus, até amanhã de manhã.

Aninha: Olhe lá, não falte! (Sai José.)

reticências

PENA, Martins. O juiz de paz da roça. In: Comédias de Martins Pena. Edição crítica por Darcy Damasceno. Rio de Janeiro: Ediouro, 1968. página 86-89.

Faça no diário de bordo.

Questões

  1. Quais personagens fazem parte dessa cena da peça O juiz de paz da roça? Qual é a relação entre elas?
  2. Qual é o projeto de José? O que ele faz para convencer Aninha a se casar com ele?
  3. Qual é a reação de Aninha diante da proposta de José?

A comédia de costumes musicada

Outro escritor brasileiro que representou a sociedade de sua época por meio de textos teatrais foi Artur Azevedo (1855-1908). Ao acrescentar canções a suas peças, ele criou as comédias de costumes musicadas. Nessas peças, Artur Azevedo representou o cotidiano dos moradores do Rio de Janeiro na virada do século dezenove para o século vinte.

A referência para as criações de Artur Azevedo foi o teatro francês da época. Ele parodiava dramas que faziam sucesso na França, adaptando os cenários e as personagens para a realidade brasileira.

Entre as peças de maior sucesso de Artur Azevedo estão A capital federal (1897) e O mambembe (1904). Em A capital federal, o dramaturgo conta a história de uma família que deixa o interior de Minas Gerais para viver no Rio de Janeiro, na época a capital federal. Os conflitos de valores e costumes entre o casal e os moradores da capital são o tema principal dessa peça. Em O mambembe, por sua vez, o dramaturgo aborda o dia a dia e as dificuldades de um grupo itinerante de teatro. Esse espetáculo musical foi montado pela primeira vez em 1959, no Rio de Janeiro, pelo grupo Teatro dos Sete.

Fotografia em preto e branco. Retrato de homem de cabelo ondulado, bigode espesso vestindo camisa branca, gravata-borboleta, paletó e colete. Ele usa um tipo de óculos antigo, preso a um fio.
Retrato de Artur Azevedo. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro Rio de Janeiro.
Fotografia em preto e branco. Palco com pessoas usando roupas de época sentadas ao redor de mesas. Ao fundo, o cenário é  formado por uma grande pintura representando uma espécie de armazém antigo, com garrafas em prateleiras, cachos de bananas, cestos e esteiras de palha, réstias de cebola e vassouras penduradas no teto e nas paredes. As mulheres usam vestidos longos de manga longa e chapéus e os homens usam chapéu, paletó, colete, camisa e calça; alguns usam polainas. Ao lado de duas mulheres sentadas à mesa há um homem de bigode em pé, com as mangas da camisa presas nos braços, de colete escuro e avental branco.
Cena do espetáculo O mambembe, em montagem realizada pelo Teatro dos Sete, em 1959, no Rio de Janeiro Rio de Janeiro.

O cenário

O diretor e cenógrafo italiano Gianni Ratto (1916-2005) foi o responsável pela direção e pela criação dos cenários da montagem da peça O mambembe, realizada pelo Teatro dos Sete, em 1959. Para esse espetáculo, Ratto recriou, no final da década de 1950, os diversos ambientes descritos por Artur Azevedo em seu texto. Observe a seguir a reprodução do desenho de um dos cenários criados por Gianni Ratto para essa montagem.

O cenário, como vimos no Tema 1, é um dos elementos que compõem uma encenação teatral, pois, por meio de diferentes elementos visuais, como móveis, objetos, adereços e efeitos de luz, é possível compor o espaço no qual se passa determinada cena de um espetáculo.

Fotografia. Homem branco, de cabelos e barba brancos, usando óculos de armação arredondada. Ele sorri e está com as palmas das mãos unidas em frente ao peito
Gianni Ratto, em São Paulo São Paulo, em 2004.
Ilustração. Interior de uma espécie de armazém antigo com com algumas mesas e cadeiras espalhadas,  garrafas em prateleiras,  cachos de bananas, cestos e esteiras de palha, réstias de cebola e vassouras penduradas no teto e nas paredes.  Em frente a uma delas há tonéis e ao fundo, há um balcão com alguns embrulhos em cima.
Desenho do cenário do espetáculo O mambembe, do diretor Gianni Ratto.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Observe a fotografia da montagem do espetáculo O mambembe, reproduzida na página anterior; compare-a com o desenho do cenário reproduzido nesta página. Depois, responda: qual é a importância dos desenhos e estudos realizados pelos cenógrafos antes da execução dos cenários?
  2. Além do cenário, que outros elementos visuais auxiliam na montagem de uma peça teatral?
Versão adaptada acessível

1. Retome a fotografia da montagem do espetáculo O mambembe, reproduzida na página anterior; compare-a com os elementos descritos sobre o desenho do cenário reproduzido nesta página. Depois, responda: qual é a importância dos desenhos e estudos realizados pelos cenógrafos antes da execução dos cenários?

Faça no diário de bordo.

Pensar e fazer arte

 Sob a orientação do professor, forme um grupo com quatro colegas. Vocês vão realizar atividades de leitura dramática e montagem de cena.

Momento 1 – Leitura dramática

  1. Vocês vão apresentar uma leitura dramática da cena de José e Aninha, da peça O juiz de paz da roça.
  2. Com a orientação do professor, estudem coletivamente a cena de José e Aninha. Registrem os seguintes elementos da cena: onde ela ocorre; quais são os assuntos tratados; quais são as principais características de cada uma das personagens.
  3. Conversem sobre a cena e dividam as seguintes funções: atores, diretor, leitor das rubricas, sonoplasta, iluminador, diretor de arte (cenografia, figurino, maquiagem e adereços).
  4. Ensaiem a leitura dramática, com todos os elementos que vão integrar a apresentação (som, luz, cenografia, figurino, maquiagem e adereços) e apresentem-na aos demais colegas.

Momento 2 – Montagem de cena

  1. Com a orientação do professor e tendo como base a leitura dramática do texto, você e os colegas vão escrever uma cena para dar sequência ao trecho apresentado da peça O juiz de paz da roça. Vocês devem usar a imaginação para criar situações, novos diálogos e novas personagens para a cena. Vocês podem pensar, por exemplo, no destino que dariam ao casal José e Aninha.
  2. Registrem no diário de bordo o trecho que criaram. Não se esqueçam de colocar, à esquerda de cada frase, o nome da personagem que dirá cada fala, além das rubricas que julgarem necessárias.
    Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  3. Ao finalizar o texto, decidam em grupo quem representará cada personagem e se haverá necessidade de cenários, figurinos, maquiagem, sonoplastia ou iluminação para apresentar a cena que vocês criaram.
  4. Com a cena já preparada e ensaiada, vocês vão apresentá-la aos colegas da turma.
  5. Ao final das apresentações, forme uma roda de conversa com os demais colegas de turma e o professor. Conversem sobre as semelhanças e as diferenças que vocês notaram entre as cenas que foram inventadas e as cenas que foram apresentadas na atividade anterior, de leitura dramática.

Avaliação

Agora, reflita individualmente sobre o processo de criação experienciado ao longo da atividade proposta. Depois, responda no diário de bordo às questões a seguir.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Quais foram os desafios enfrentados por seu grupo durante a realização dessas atividades?
  2. Quais foram os elementos mais estimulantes desse trabalho realizado em grupo?
  3. Quais funções você exerceu na montagem da cena? Como se sentiu ao realizá-la?

Faça no diário de bordo.

Autoavaliação

Ao longo do estudo desta Unidade, você aprofundou seus conhecimentos sobre a linguagem teatral.

Você teve a oportunidade de conhecer alguns grupos, como a Companhia 2 de Teatro e a Companhia Teatral Milongas, que abordam o corpo e a gestualidade, realizando espetáculos de teatro sem utilizar as palavras.

Durante esse aprendizado, você entrou em contato com o cinema mudo e com a commedia dell’arte e refletiu sobre a função de alguns profissionais de teatro, como o cenógrafo, o figurinista e o aderecista.

Também experienciou comunicar-se por meio de expressões corporais, estabeleceu relações entre o teatro e a linguagem visual; vivenciou ainda a mímica e conheceu suas origens.

Nesse trajeto de aprendizagem, você estabeleceu contato com a comédia satírica, a comédia de costumes e também com as características do texto teatral.

Além disso, realizou atividades práticas nas quais vivenciou a comunicação realizada com o corpo e a criação de um texto teatral encenado em grupo.

Agora chegamos ao final desta Unidade, portanto é importante que você faça uma reflexão sobre tudo o que aprendeu até este momento e sobre o caminho percorrido até aqui.

Para isso, responda no diário de bordo às questões a seguir.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Dos conteúdos abordados ao longo desta Unidade, destaque três que mais lhe chamaram a atenção ao estudar e vivenciar.
  2. Identifique, entre os conteúdos estudados, um que você teve dificuldades de compreender.
  3. O estudo desta Unidade mudou a maneira como você aprecia o teatro? Justifique sua resposta.

Glossário

Freguesia
: área de uma paróquia.
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Dar-se cuidado
: preocupar-se.
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Assentar praça
: alistar-se.
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Permanentes
: efetivo da Guarda Nacional na época do Brasil Imperial.
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Curro
: curral.
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Mesura
: reverência, cumprimento.
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Cosmorama
: local onde se observam quadros de paisagens com lentes de aumento.
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