Tema 2 A representação do corpo humano na arte
A Vênus de Willendorf
Os seres humanos produzem esculturas desde os tempos mais antigos. A obra retratada nas fotografias desta página, por exemplo, foi criada há milhares de anos. Observe as imagens e depois responda às questões propostas.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
- Observe a escultura retratada nesta página e responda às perguntas a seguir.
- O que essa escultura representa?
- Qual foi o material usado na produção dessa escultura? Você consegue imaginar como essa peça foi produzida?
- Observe, na legenda, a altura dessa escultura. Em sua opinião, por que essa obra teria sido confeccionada com essas dimensões?
Arte e muito mais
O corpo e a cultura
As representações artísticas do corpo humano podem revelar a percepção em relação ao próprio corpo em diferentes sociedades e em distintos períodos. Tais representações também nos revelam os critérios ou modelos que cada sociedade utilizou para definir o que é belo, ou seja, os padrões de beleza estabelecidos em cada período da história.
É provável que a primeira tentativa de padronizar um ideal de beleza para o corpo humano tenha se originado entre os gregos, na Antiguidade. Para eles, o corpo ideal devia seguir um padrão matemático, simétrico e proporcional. Com base nesse conceito de beleza, os gregos produziram uma série de esculturas que representam essa beleza idealizada, bem distinta dos corpos no mundo real. Observe a escultura reproduzida nesta página.
Por que se usa o termo Vênus?
Nos séculos dezoito e dezenove, pesquisadores atribuíram o nome Vênus a esculturas de figuras femininas. Existem muitas estatuetas parecidas com a Vênus de Willendorf. Observe as imagens reproduzidas a seguir.
Já a imagem a seguir mostra a pintura O nascimento de Vênus. Nessa nova versão do mito de Vênus, vemos uma representação do corpo feminino pintado há cinco séculos, mas baseado na noção de beleza grega: corpo atlético e com proporções específicas com uma pose – joelhos ligeiramente dobrados, corpo e cabeça levemente jogados para o lado – que busca dar naturalidade a esse corpo.
De lá para cá, o modelo de beleza do corpo feminino já mudou outras vezes. Hoje em dia, as revistas e os desfiles de moda exibem corpos femininos magros e altos, muito diferentes, por exemplo, do que eram os corpos das modelos há 50 anos.
Faça no diário de bordo.
• O modelo de beleza do corpo feminino, e também do masculino, corresponde necessariamente a um padrão real? O que devemos fazer para reconhecer e valorizar as nossas belezas do modo como elas são? Com a orientação do professor, em uma roda de conversa, vamos debater sobre isso?
Iconografias do corpo humano
Observe a imagem reproduzida nesta página. Ela foi feita na Idade Média, período marcado pelo pensamento religioso. Durante essa época, a Igreja católica encomendava pinturas de temas religiosos para disseminar e propagar sua doutrinaglossário .
Para os artistas medievais, não havia a preocupação de representar fielmente um objeto, mas apenas de ilustrar temas oficiais e religiosos. De acôrdo com os preceitos religiosos da época, o corpo era fonte de pecado, por isso era representado com contornos discretos e quase totalmente coberto, como se pode notar na obra reproduzida nesta página. Figuras sacras, como as retratadas, eram pintadas não como a representação de uma pessoa comum, mas como um ícone de uma figura sagrada. É por isso que essa mesma imagem pode ser encontrada em pinturas, afrescosglossário e iluminuras de diferentes séculos sempre com as mesmas cores e a mesma posição, que representam valores daquela narrativa religiosa. A esse tipo de representação damos o nome de iconografia.
Renascimento na arte
Em meados dos séculos quinze e dezesseis (entre 1400 Depois de Cristo e 1500 Depois de Cristo), sobretudo na Itália, houve um resgate do pensamento e da estética da Grécia antiga. O corpo humano representado como marco para a relação entre proporção e beleza voltou ao centro da cena artística. Esse período é conhecido como Renascimento. Os artistas renascentistas também se dedicaram à produção de esculturas. As esculturas renascentistas eram feitas com a intenção de imitar a realidade. Esses artistas buscavam reproduzir as expressões e as proporções do corpo branco, já que o Renascimento aconteceu na Europa.
Uma das mais expressivas esculturas renascentistas é Davi, produzida por Miquelângelo Buonarroti (1475-1564) e reproduzida nesta página. Essa obra revela a influência da arte greco-romana e mostra a representação do corpo em posição semelhante àquela que vimos na obra Apoxiomeno. Essa peça foi esculpida em um bloco de mármore de mais de 5 metros de altura e mostra Davi, o herói bíblico que venceu o gigante Golias.
Um dos detalhes que mais chamam a atenção nessa obra é o fato de as mãos de Davi terem sido esculpidas intencionalmente enormes pelo artista Michelangelo. Em sua opinião, por que Miquelângelo teria esculpido mãos tão grandes? Comente com os colegas.
Por dentro da arte
O renascimento do Rárlem
O termo renascimento é muito associado aos séculos catorze e quinze na Europa, com a retomada dos valores culturais e estéticos da Antiguidade clássica. No entanto, ele já foi aplicado a outros contextos, com outras finalidades culturais.
O assim chamado “Renascimento do ” Rárlem foi um período, posterior à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), de grande florescimento político-cultural negro na região do Rárlem, em Nova iórque. Ali, houve uma profusão de experiências culturais no campo da música, da literatura, das artes visuais, da dança, da moda, do teatro e da política. O grande marco para esse movimento foi o livro O novo negro: uma interpretação, de alãn . lóqui Essa época inspirou muitos outros movimentos civis negros, como o Black power e o Black is beautiful.
Em geral, esse termo compreende um período aproximado entre 1918 e 1930, no qual se formou um ideário em todas essas frentes de atuação, baseado em orgulho racial, expressão criativa e valorização da intelectualidade negra. Tudo isso aconteceu porque naquela época e naquela região houve um grande fluxo migratório de famílias negras de outras regiões dos Estados Unidos e do Caribe.
Além da circulação da arte e da literatura, havia a luta por direitos civis para a população negra – como trabalho, participação política, acesso digno à educação etcétera – e a produção de jornais, que circularam pelo mundo e que, aliás, realizaram intercâmbios com jornais produzidos por negros do Brasil.
Nas artes visuais, muitos artistas, homens e mulheres, representaram a figura das pessoas negras com muita criatividade e dignidade. A artista UÍLER é uma delas.
O Brasil, assim como os Estados Unidos, é um país com um grande percentual de população negra, além de uma forte influência das culturas de origem africana na língua, na arte, na culinária e nos modos de organização social. As pessoas negras sempre produziram arte, reconhecendo que ela é um modo de contar as suas histórias, manter tradições e ganhar representatividade no mundo. Por isso e pela qualidade dessa produção artística, os museus e outros espaços de arte têm se revisado criticamente para criar o devido espaço a essa produção artística.
E você, conhece artistas negros e negras? Como o trabalho deles ajuda a ler melhor o mundo em que você vive?
Entre textos e imagens
Histórias afro-atlânticas
O Brasil também tem muitos artistas negros e negras proeminentes, atuantes em diferentes momentos históricos. Atualmente, muitas exposições, conteúdos on-line e publicações têm conquistado o devido espaço para a expressão das ideias e da arte desses artistas e pensadores.
Leia a transcrição de trechos da entrevista com Hélio Menezes na revista O 2º ato, publicada em 2019.
“O 2º ato esteve no Instituto tômi ôtáque para conversar com Hélio Menezes, um dos curadores da mostra Histórias afro-atlânticas, que marcou a cena das artes visuais em 2018.
Nestes tempos em que setores conservadores da sociedade brasileira hostilizam as comunidades e saberes negros, vale abrirmos a percepção para a potência encantadora de uma arte que moveu e move o mundo. reticências
[Hélio Menezes:] há muitos anos não se via uma produção artística negra tão potente e tão numerosa. Não só no Brasil, mas especialmente partindo do Brasil, a gente fez uma espécie de percurso da produção artística e intelectual negra, pelas Américas, pelo Caribe, pela África, especialmente pela África Atlântica, colocando em diálogo, em tensão, os diferentes períodos, artistas de diferentes táticas, suportes, temas, inspirações e poéticas, para recontar algumas histórias afro-atlânticas que no geral não aparecem nos nossos livros . reticências
Então era necessário dar um novo impulso, uma nova linguagem, trazendo essa exposição que ocupou dois museus, duas grandes instituições da cidade de São Paulo para tematizar as questões negras por um viés especialmente elaborado pelo olhar e produção de artistas negros do Brasil, das Américas, das Áfricas e do Caribe.”
No vídeo da entrevista, o curador e pesquisador caminha pela exposição, comentando algumas obras em sua singularidade e em relação com o todo.
“A gente começa essa seção, por exemplo, tomando a releitura que Abdias do Nascimento faz da bandeira brasileira. Ele verticaliza a nossa bandeira. Ele retira as palavras ‘ordem e progresso’ e substitui pela palavra ‘Okê’, do iorubá, que é uma saudação ao orixá Oxossi. Ele aparece aqui representado pelas suas insígnias; um arco e flecha que estruturam essa bandeira. É uma leitura que ele fornece para o nosso próprio país. Vale lembrar, ele fez essa obra durante o regime militar. Em 1970, Abdias do Nascimento já não estava aqui no Brasil; ele já estava vivendo como um exilado nos Estados Unidos.”
Para a entrevista, Hélio Menezes escolheu destacar alguns artistas e obras, como Abdias do Nascimento e Rosana Paulino. Eles podem ser um marco para iniciar na escola uma discussão sobre a produção artística e o pensamento negro no Brasil. Observe como ele apresenta os artistas ao mesmo tempo que descreve as imagens.
“Temos, por exemplo, Rosana Paulino, que aparece com uma obra de uma série mais ampla chamada Bastidores. Ela fez uma pesquisa nos arquivos da própria família, arquivos fotográficos – os documentos de sua família – e, por sobre fotografias de mulheres parentes suas, nesse instrumento que também se chama bastidor. E o título da obra também tem esse duplo sentido: o bastidor, que é tanto esse instrumento oval onde se faz a costura, como os bastidores, que é o que está por detrás da cena. Ela brinca com essa dualidade e faz uma sutura por sobre a boca [da fotografia] dessas mulheres. reticências A partir de questões do presente, volta a imagens do passado para problematizar questões que não só dizem respeito ao nosso passado escravocrata, que ainda se mantém de alguma maneira, que se reconstrói no nosso cotidiano atual.”
O 2º ato. Entrevista Hélio Menezes sobre impulsos, horizontes e tensões – visita mediada à expo Histórias afro-atlânticas. Disponível em: https://oeds.link/zCaT80 Acesso em: 18 fevereiro 2022.
Questão1. Você sabe o que é curador?
Faça no diário de bordo.
Experimentações
• Ao longo do Tema 2, a representação da figura humana foi trabalhada em diferentes suportes artísticos. Agora, você fará representações da figura humana em seu diário de bordo, desenhando os seus colegas.
Material
- Canetinhas
- Lápis de cor
- Lápis grafite
Procedimentos
a) Para iniciar a atividade, você e seus colegas devem sentar-se em uma área aberta da escola, como o pátio, a quadra ou o jardim.
b) Vocês poderão usar lápis de cor, lápis grafite e canetinhas para desenhar.
c) Procure desenhar no papel exatamente aquilo que você vê, como em um desenho de observação. É uma tentativa de fazer um desenho realista, agregando sombra, movimento e proporções próximas do real.
d) Depois de fazer algumas tentativas, troque de posição e busque outros modelos.
e) Ao final da atividade, vocês podem formar rodas e olhar os diários de bordo uns dos outros.
f) Para finalizar a atividade, conversem sobre essa experiência. Considerem falar sobre as dificuldades que tiveram, sobre como tentaram solucioná-las e busquem destacar os pontos fortes e de maior interesse nos desenhos que os colegas apresentaram.
Glossário
- Doutrina
- : conjunto de ideias de uma religião.
- Voltar para o texto
- Afresco
- : a pintura feita sobre paredes ou tetos de gesso, quando a massa ainda está úmida.
- Voltar para o texto