Tema 3 Surrealismo nas artes visuais
Como você entende a palavra surreal? Acredita que a arte possa representar coisas que estão “para além do real”? Você acha que a arte pode representar, além da nossa imagem externa, o que sentimos e sonhamos?
A palavra surrealismo deriva do termo francês surrréaliste. Essa palavra foi criada para designar algo que está “além da realidade”, ou seja, que ultrapassa a realidade.
Os surrealistas estabeleceram um modo diferente de interpretar o mundo e de se expressar artisticamente. Eles desejavam romper as barreiras entre a razão e a emoção, o sonho e a realidade, o consciente e o inconsciente.
Na imagem desta página, vemos renê magrite (1898-1967), que foi um dos principais artistas surrealistas. No entreguerras, em meados de 1920, o Surrealismo se consolidou como um movimento artístico na Europa – o que também podemos chamar de vanguarda. Inicialmente, foi um movimento literário, mas logo suas características se estenderam para áreas como pintura, música, teatro, cinema e fotografia.
Para ler
• quérol líuis Alice no país das maravilhas. Tradução de Nicolau SEVITCHENCO.Ilustrações de Luiz Zerbini. São Paulo: Sesi-
Clássico da literatura universal, esse livro, escrito em 1865, portanto muito antes do surgimento do movimento surrealista, apresenta histórias e personagens que intrigam e causam estranhamento pelas situações imprevisíveis e absurdas enfrentadas por elas.
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Entre textos e imagens
O Manifesto surrealista
Leia alguns trechos do Manifesto surrealista, escrito por André Breton (1896-1966) em 1924.
“Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoares.
Só o que me exalta ainda é a única palavra, liberdade. Eu a considero apropriada para manter, indefinidamente, o velho fanatismo humano. Atende, sem dúvida, à minha única aspiração legítima. Entre tantos infortúnios por nós herdados, deve-se admitir que a maior liberdade de espírito nos foi concedida. Devemos cuidar de não fazer mau uso dela. Reduzir a imaginação à servidão, fosse mesmo o caso de ganhar o que vulgarmente se chama a felicidade, é rejeitar o que haja, no fundo de si, de suprema justiça. Só a imaginação me dá contas do que pode ser, e é bastante para suspender por um instante a interdição terrível; é bastante também para que eu me entregue a ela, sem receio de me enganar (como se fosse possível enganar-se mais ainda). Onde começa ela a ficar nociva, e onde se detém a confiança do espírito? Para o espírito, a possibilidade de errar não é, antes, a contingência do bem? reticências
Agradeça-se a isso às descobertas de fróid. Com a fé nestas descobertas desenha-se afinal uma corrente de opinião, graças à qual o explorador humano poderá levar mais longe suas investigações, pois que autorizado a não ter só em conta as realidades sumárias. Talvez esteja a imaginação a ponto de retomar seus direitos. Se as profundezas de nosso espírito escondem estranhas forças capazes de aumentar as da superfície, ou contra elas lutar vitoriosamente, há todo interesse em captá-las, captá-las primeiro, para submetê-las depois, se for o caso, ao contrôle de nossa razão. Os próprios analistas só têm a ganhar com isso. reticências
Com justa razão fróid dirigiu sua crítica para o sonho. É inadmissível, com efeito, que esta parte considerável da atividade psíquica (pois que, ao menos do nascimento à morte do homem, o pensamento não tem solução de continuidade, a soma dos momentos de sonho, do ponto de vista do tempo a considerar só o sonho puro, o do sono, não é inferior à soma dos momentos de realidade, digamos apenas: dos momentos de vigília) não tenha recebido a atenção devida. A extrema diferença de atenção, de gravidade, que o observador comum confere aos acontecimentos da vigília e aos do sono, é caso que sempre me espantou. É que o homem, quando cessa de dormir, é logo o joguete de sua memória, a qual, no estado normal, deleita-se em lhe retraçar fracamente as circunstâncias do sonho, em privar este de toda consequência atual, e em despedir o único determinante do ponto onde ele julga tê-lo deixado, poucas horas antes: esta esperança firme, este desassossego. Ele tem a ilusão de continuar algo que vale a pena. O sonho fica assim reduzido a um parêntese, como a noite. E como a noite, geralmente também não traz bom conselho.”
BRETON, André. Manifesto surrealista, 1924. Disponível em: https://oeds.link/C4enCV Acesso em: 18 fevereiro 2022.
Questão1. Converse com os colegas sobre os trechos lidos. O que eles parecem representar?
Imagens além do real
A obra reproduzida nesta página também é de autoria de , renê magrite artista belga que, aos 12 anos, teve seu primeiro contato com a pintura. Ao longo da carreira, Magritte se destacou por criar pinturas que representassem algo que não parece real.
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Foco na linguagem
- Observe a imagem desta página e responda às questões a seguir.
- Depois de observar a pintura, você consegue dizer quem seria a pessoa representada nela?
- O que mais chamou sua atenção nessa imagem?
- Você acha que podemos classificar essa obra como surrealista? Em caso afirmativo, por quê?
- O que você acha da escolha do título dessa pintura? Se pudesse dar outro nome a ela, qual seria? Comente com os colegas.
Versão adaptada acessível
1. Com base na imagem descrita, responda às questões a seguir.
a) Você consegue dizer quem seria a pessoa representada nela?
b) O que mais chamou sua atenção nessa imagem?
c) Você acha que podemos classificar essa obra como surrealista? Em caso afirmativo, por quê?
d) O que você acha da escolha do título dessa pintura? Se pudesse dar outro nome a ela, qual seria? Comente com os colegas.
Técnicas surrealistas
Os artistas surrealistas utilizavam uma série de técnicas para obter os resultados desejados em suas produções visuais. Uma dessas técnicas é a colagem.
A colagem consiste na criação de uma obra por meio da sobreposição ou da justaposição de elementos como recortes de jornais, revistas e papéis pintados.
Observe a aplicação da técnica da colagem na obra do artista máks Ernest (1891-1976).
Para produzir a obra A anatomia, jovem casada, máks Ernest recortou imagens de revistas e as colou sobre um suporte de papel, além de ter utilizado guache e grafite.
Outra técnica utilizada pelos surrealistas era a cubomania. Essa técnica consiste na realização de uma colagem feita de uma imagem recortada em quadrados e organizada aleatoriamente. Observe um exemplo de aplicação da cubomania na obra de Gueracim Lucá (1913-1994).
Por dentro da arte
A psicanálise
A psicanálise é uma teoria aplicada sobretudo ao campo da saúde. Ela ajuda as pessoas a lidar com seus sofrimentos psíquicos, como a angústia e a ansiedade, estudando as relações dos comportamentos e sentimentos das pessoas com os seus desejos inconscientes. As pessoas frequentam a clínica psicanalítica e conversam com um analista sobre os seus problemas, medos, conflitos, buscando um lugar para se expressar e também para se ouvir e se autoconhecer.
Para entender a psicanálise, é preciso compreender a noção de inconsciente. A ideia fundamental dessa noção é a de que nós não temos consciência de todas as nossas decisões, gestos e palavras; de que expressões inconscientes nossas acabam aparecendo sem querer, na fórma de palavras, ações, comportamentos e sonhos. É assim que se manifesta boa parte dos nossos medos e desejos.
O sonho é um objeto de estudo importante para a psicanálise: nos sonhos, o nosso inconsciente se apresenta sem filtro, misturando passado, presente e futuro das maneiras menos lógicas, muitas vezes refletindo aquilo que não sabemos como nomear ou enfrentar no dia a dia. ciguimûn fróid, considerado o criador da psicanálise, é autor de um livro chamado A interpretação dos sonhos, que foi uma referência muito forte para o Surrealismo. É por isso que as imagens da arte surrealista são um pouco perturbadoras: elas evocam as imagens do inconsciente.
Entre textos e imagens
O caligrama
Observe o caligrama criado pelo poeta Guilhóum Apolinér (1880-1918). Esse é um método de criação de poemas em que a composição com as letras e as palavras resulta em uma imagem que agrega sentido ao texto. Essa técnica influenciou fortemente os artistas surrealistas.
No Brasil, há uma forte tradição com a poesia visual. Observe o poema “Pós-tudo”, do brasileiro Augusto de Campos.
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1. Como você interpretaria esse poema? Como você o lê?
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Experimentações
• Vamos fazer um trabalho com a técnica da cubomania, criada pelos surrealistas. Para experimentar essa técnica, vamos retomar o tema de trabalho de toda essa Unidade de artes visuais: a figura humana na arte.
Material
- Página de revista de rosto completo com uma figura humana (pode ser um retrato, mostrando apenas o rosto, ou de corpo inteiro)
- Uma folha de papel colorido com o mesmo tamanho
- Uma base de papelão ou papel paraná do mesmo tamanho
- Tesoura com pontas arredondadas
- Cola líquida ou em bastão
- Régua
- Caneta esferográfica
Procedimentos
- Recorte a figura humana do fundo em que ela está inserida e cole na folha de papel colorido. Se preferir, você pode conservar elementos do fundo da imagem original.
- Depois, cole essa montagem sobre o fundo de papel paraná ou papelão. Ao final, ela deve ter o mesmo tamanho. Se necessário, recorte e descarte as bordas.
- Vire o trabalho e determine um número de colunas e linhas. Com a ajuda da régua, faça um gride de linhas verticais e horizontais com o mesmo tamanho.
- Recorte cada quadrado e reserve.
- Ao final, faça uma montagem com os quadrados. Eles podem ser colados sobre uma nova superfície ou podem ficar soltos para que as pessoas interfiram sobre ele.
- Mostre o resultado para os seus colegas e confira também o trabalho deles. Conversem sobre essa experiência e sobre as relações que ela tem com os conteúdos trabalhados sobre o Surrealismo.