Tema 3  O intérprete na dança contemporânea

O intérprete-criador

Na fotografia, observamos uma cena do espetáculo de dança Tríptico sertanejo com a dançarina e atriz Mônica Augusto, que é também cofundadora e intérprete-criadora da companhia DUAL Cena Contemporânea, na qual, como intérprete de dança, participou da criação de diversos espetáculos. Mônica fez parte do Coletivo ême érre , sob direção do artista Luis Ferron, e, como atriz, integrou a Companhia Fábrica São Paulo e o Núcleo Experimental do sézi-São Paulo. Ao longo da história, os intérpretes de dança cênica ocuparam diferentes papéis. Até o século dezenove, por exemplo, eles apenas executavam as danças criadas por outras pessoas e, além disso, eram valorizados, principalmente, por suas habilidades físicas. No entanto, a partir do século vinte, com o surgimento da dança contemporânea, muitos coreógrafos se tornaram também intérpretes e dançarinos, e começaram a participar dos processos de criação dos espetáculos. Esse é o caso de Mônica Augusto, no espetáculo Tríptico sertanejo, que vamos conhecer nesta Unidade, e em outras produções de sua companhia de dança em que ela atua como intérprete-criadora.

Fotografia. Destaque de uma mulher apenas com o rosto iluminado sobre um fundo escuro. Ao redor dela há silhuetas de mãos e corpos masculinos obscurecidos.
A intérprete-criadora Mônica Augusto, no espetáculo Tríptico sertanejo, apresentação da companhia DUAL Cena Contemporânea, no Teatro Municipal de Mauá, Mauá (São Paulo), em 2018.
Respostas e comentários

Objetivos

Entender o conceito de intérprete-criador.

Refletir sobre a liberdade na composição de movimentos que caracterizam a dança contemporânea.

Relacionar dança e literatura.

Compreender a luz como elemento cênico.

Experienciar a criação relacionando dança e literatura.

Experienciar a luz como elemento cênico.

Experienciar a criação de obras artísticas de fórma individual e coletiva.

Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre zero nove), (ê éfe seis nove á érre um zero), (ê éfe seis nove á érre um dois) e (ê éfe seis nove á érre um quatro).

Contextualização

Comente com os estudantes que o fato de os intérpretes terem passado a participar da elaboração de danças das quais são também criadores fez com que os processos de criação passassem a ser cada vez menos hierárquicos e mais coletivos e colaborativos. Se julgar oportuno, apresente aos estudantes mais informações a respeito do conceito de intérprete-criador (ou criador-intérprete), apresentado nesse tópico.

O texto a seguir aborda a relação desse conceito com a dança moderna.

O criador-intérprete na dança contemporânea

reticências Reafirma-se hoje a figura do ‘criador-intérprete’ – nomenclatura que referencia um percurso de pesquisa do profissional em seu próprio corpo em busca de uma espécie de resolução investigativa. Este formula novas perguntas com o seu corpo para que possam caminhar em algum tipo de procedimento técnico e metodológico.

reticências

A reafirmação da figura do criador-intérprete no século vinte veio conduzida por mulheres.

A pesquisa do movimento das primeiras criadoras modernas – lsadora Duncan, , , greém, e méri uíguiman – iniciava-se em seu próprio corpo. A dança moderna propunha uma representação onde a mulher não se dissolvia na personagem, como nos balés românticos e de repertório, mas evocava uma presença muito mais concreta a partir de suas próprias referências de mundo.

reticências

As criadoras americanas (1877-1927) e marta greém (1894-1991) e a alemã méri uíguiman (1886-1973) pretendiam uma representação do ser humano de seu tempo, estandarte este da modernidade, mas o fizeram de maneiras particulares. A dança perde o discurso universal peculiar da dança clássica e conquista uma nacionalidade identificada com cada país. E também uma identidade de cada criador. Embora com motivações comuns, como a visão de uma dança mais livre e a necessidade de expressar o corpo do homem de seu tempo e de sua nação, e com um certo trânsito de informações entre os criadores, a dança americana terá qualidades diferentes da europeia. O pragmatismo americano abre possibilidades para a negação do antigo (balé) para o surgimento do novo, enquanto a Alemanha não conseguirá extinguir de sua dança o expressionismo, nem a paisagem pós-guerra.”

NUNES, Sandra Meyer. O criador-intérprete na dança contemporânea. Revista Nupeart – Núcleo Pedagógico de Educação e Arte Ceart-Udesc, volume 1, página 84-87, setembro 2002.

Por dentro da arte

A dança contemporânea

Você já ouviu a expressão dança contemporânea? No que será que essa dança é diferente das outras danças que você conhece? A dança contemporânea não se resume a técnicas ou códigos e passos predeterminados e conhecidos previamente. Trata-se de uma coleção de sistemas e métodos de pesquisa, criação e estudos do movimento.

Os grupos que se dedicam à dança contemporânea desen­volvem propostas de trabalho que possibilitam explorar diferentes movimentos. Essa liberdade na composição dos movimentos leva o dançarino a se tornar um intérprete-criador de suas coreografias. É o que acontece com Mônica Augusto, no espetáculo Tríptico sertanejo, no qual ela atua como coreógrafa e dançarina (intérprete).

Observe a fotografia reproduzida a seguir. Nela, podemos ver uma cena do espetáculo Segundo, que aborda a complexa temática da mulher e sua multiplicidade de papéis na sociedade contemporânea. Os dançarinos Gabriel Côrtes e Tainara Carareto são os criadores desse espetáculo e também atuam nele como intérpretes.

Fotografia. Homem de cabelo curto e barba preta, veste camiseta cinza e calça azul. Ele está deitado no chão, apoiado do lado esquerdo do corpo. À frente dele há uma mulher de cabelo castanho, usando vestido azul-escuro, com a perna esquerda flexionada para a frente e a direita esticada para trás. Ela está com a cabeça voltada para trás, com o braço esquerdo ao longo do corpo e o direito esticado para a frente.
Os intérpretes-criadores Gabriel Côrtes e Tainara Carareto se apresentam no espetáculo Segundo, em Goiânia (Goiás), em 2013.
Respostas e comentários

Por dentro da arte

Comente com os estudantes que a dança contemporânea não utiliza apenas um conjunto de códigos, como o balé clássico faz. Ela usa diferentes procedimentos que visam à consciência do próprio corpo e à obtenção de habilidades necessárias para que os dançarinos compartilhem composições em dança que podem estar relacionadas a questões políticas, sociais, culturais, autobiográficas, comportamentais e, cotidianas, entre outras.

É possível orientar uma discussão sobre o que vem a ser um código: conjunto de regras, acordos, combinados comuns a todos que regem e organizam determinado estilo de dança; o código faz com que as danças se pareçam e também se universalizem. Pode-se também conversar sobre a dança contemporânea, ou seja, a dança “dos dias de hoje”, que não constitui um estilo com passos prontos como o balé, ojazz, o hip-hop, mas uma fórma de compreender a dança como autoria e pesquisa (cada coreógrafo pesquisa e encontra os próprios movimentos e cenas de dança).

Segundo sexo

A peça de dança contemporânea criada em 2013 por Tainara Carareto e Gabriel Côrtes faz referência em seu título ao livro Segundo Sexo (1949), da escritora francesa Simone de Beauvoir. Nessa obra, a escritora discute os diferentes papéis que as mulheres desempenhavam na sociedade da época, e também as condições de desigualdade entre homens e mulheres.

Para elaborar o espetáculo, a dupla reuniu um grupo interdisciplinar e colaborativo com estudantes universitários de 13 áreas das artes e ciências humanas para construir uma personagem que expressasse os diferentes papéis sociais que as mulheres desempenham nos dias atuais.

Se considerar oportuno, a partir dessas informações, aprofunde a conversa com os estudantes sobre as condições de igualdade entre homens e mulheres nos dias atuais. Há diferenças entre os papéis desempenhados por homens e mulheres atualmente? Quais são essas diferenças? Como seria possível superá-las?

Esse diálogo é uma oportunidade para abordar reflexões sobre cidadania e civismo, mobilizando os estudantes para refletirem sobre a importância da construção de uma sociedade justa e igualitária.

Tríptico sertanejo

Muitas vezes, a dança contemporânea dialoga com outras linguagens artísticas, trazendo à cena componentes que vão além da movimentação (um dos elementos centrais da linguagem da dança). O espetáculo Tríptico sertanejo, por exemplo, faz uso de histórias populares e da literatura para criar um espetáculo que se origina da frase “O sertão está em toda parte” do livro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa (1908-1967).

Você já foi a algum espetáculo de dança que dialoga com outras linguagens artísticas? Em caso afirmativo, qual?

Fotografia. Homem de cabelo preto curto, vestindo colete cinza e calça marrom está descalço, apoiado sobre a perna esquerda, segurando gravetos finos e longos. Acima, uma lua amarela aparece no cenário de fundo preto.
O dançarino Kleber Cândido no espetáculo Tríptico sertanejo, da companhia DUAL Cena Contemporânea, no Teatro Municipal de Mauá, Mauá São Paulo, em 2018.

Tríptico sertanejo, dirigido por Ivan Bernardelli, é apresentado em três partes que são conectadas entre si. Nela, um boi encantado conduz os espectadores pelas histórias das lendas femininas do cangaço, pelos espaços vazios dos sertões após a Guerra de Canudos e pelos sapateados dos tropeiros gaúchos e paulistas. Por meio da dança contemporânea e junto com canções e danças associadas a manifestações tradicionais da cultura brasileira como o bumba meu boiglossário , a companhia narra as lendas associadas às cangaceiras, aborda morte, violências e destruições causadas pela guerra e as tradições dos tropeiros, dançando as histórias e culturas do sertão desde o Nordeste até o Sudeste do país. O espetáculo começa com referência à Guerra de Canudos, ocorrida entre 1896 e 1897, no sertão da Bahia, que levou à morte de cêrca de 20 mil “conselheiristas” (nome dado aos seguidores de Antônio Conselheiro) e 5 mil soldados, terminando com a destruição do povoado de Canudos. Todos os dançarinos iniciam o espetáculo em cena e seus figurinos e movimentos sugerem que estão representando os “conselheiristas” e sua luta. Além de dançar, os artistas cantam e usam bastões de madeira, batendo-os com força no chão de modo a produzir sons ritmados. Pouco a pouco, vão saindo de cena e deixando os bastões sobre o corpo de Kleber Cândido, que dança sozinho tentando equilibrá-los. A parte da guerra é seguida pela parte das lendas das mulheres que participaram do movimento do cangaço no sertão do país. Fecha o espetáculo a parte que se refere aos tropeiros.

Respostas e comentários

Contextualização

Se possível, apresente um vídeo do espetáculo Tríptico sertanejo para os estudantes, disponível no site da companhia de dança Dual. O contato com o espetáculo é também uma oportunidade para aprofundar as reflexões sobre acessibilidade e dança já iniciadas no Tema anterior, com referência nas participações do intérprete-criador Hélio Feitosa, que trabalha com suas deficiências físicas criando movimentos coreográficos próprios. Caso considere oportuno abordar a trajetória desse intérprete-criador, apresente a peça Duo para dois perdidos, que é dançada por Feitosa com Ivan Bernardelli.

Em Tríptico sertanejo, a companhia investiga e dança na peça temas históricos e presentes na nossa formação cultural, como os movimentos do cangaço e dos tropeiros e a Guerra de Canudos. No caso dos tropeiros, por exemplo, a abordagem do espetáculo provoca uma visão crítica ao modo heroico como muitas vezes tropeiros, e associados a eles os bandeirantes, são representados nas narrativas históricas do Sudeste do Brasil. Já no caso do cangaço, o espetáculo chama a atenção para o protagonismo das mulheres, muitas vezes narradas apenas como esposas das figuras principais dos bandos.

Sugestão de atividade

Para aprofundar os conhecimentos dos estudantes sobre esses temas, a sugestão é que sejam orientadas pesquisas de imagens documentais e artísticas.

Essa proposta de pesquisa e análise documental pode ser feita em parceria com o professor de História.

Organize-os em grupos de três a cinco pessoas e peça que escolham um dos três temas norteadores do espetáculo (a Guerra de Canudos, as mulheres cangaceiras e os tropeiros) para pesquisar. O foco será a pesquisa de imagens documentais e históricas ou representações artísticas dessas manifestações usando, se possível, os livros disponíveis na biblioteca da escola. Peça a eles que escolham entre duas e três imagens sobre um mesmo tema para observar mais detidamente e exercitar o olhar crítico e investigativo sobre elas.

Algumas perguntas podem ajudar nesse exercício:

Quando essas imagens foram produzidas? Elas são imagens da época dos acontecimentos históricos e culturais ou posteriores?

Quais histórias vocês imaginam que elas contam?

Há informações complementares sobre elas? Como essas informações, se existirem, auxiliam na investigação sobre os temas?

Como é o ambiente ou cenário da imagem?

Há pessoas nessas imagens? Se sim, como foram registradas ou representadas?

• Quais são as diferenças e as semelhanças entre as imagens?

Peça a eles que façam anotações com base nessas perguntas e em outros aspectos que eles possam perceber e observar nas imagens. Ao final, organize uma roda para que os grupos possam compartilhar as imagens encontradas e as investigações sobre o tema que fizeram com base nelas.

Entre textos e imagens

Grande Sertão: veredas

Leia, a seguir, um trecho do livro Grande sertão: veredas

reticências O sol. O céu de não se querer ver. O verde carteado do gramealglossário . As duras areias. As árvorezinhas reticências A diversos que passavam abandoados de araras – araral – conversantes. Aviavamglossário vir os periquitos, com o canto-clim. Ali chovia? Chove – e não encharca poça, não rola enxurrada, não produz lama: a chuva inteira se soverteglossário em minuto terra a fundo, feito um azeitezinho entrador. O chão endurecia cedo, esse rareamento de águas. O fevereiro feito. Chapadão, chapadão, chapadão.

De dia, é um horror de quente, mas para a noitinha refresca, e de madrugada se escorropicha o frio, o senhor isto sabe. Para extraviar as mutucasglossário , a gente queimava folhas de arapavacaglossário . Aquilo bonito, quando tiçãoglossário acêso estala seu fim em faíscas – e labareda dalalala. Alegria minha era Diadorim. Soprávamos o fogo, juntos, ajoelhados um frenteanteglossário o ao outro. A fumaça vinha, engasgava e enlagrimava. A gente ria.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. página 236.

Faça no diário de bordo.

Questões
  1. Você já havia lido algum texto do escritor Guimarães Rosa? Em caso afirmativo, comente com os colegas que texto foi e o que você achou da leitura.
  2. Com base na leitura desse trecho, como você imagina que era o local onde estava o narrador e Diadorim?
  3. Entre as cenas descritas nesse trecho, qual chama mais sua atenção? Por quê?
  4. O que Diadorim e Riobaldo (narrador-personagem) faziam na cena descrita no segundo parágrafo?
  5. Na sua opinião o que Riobaldo quis expressar com a frase “Alegria minha era Diadorim”?
Respostas e comentários

Entre textos e imagens

Essa seção pode ser convertida em uma proposta interdisciplinar com Língua Portuguesa. É possível fazer uma aula integrada entre os componentes. Certifique-se de que, em cada pergunta, os estudantes conseguem fazer inferências diretas sobre o texto, identificando quais trechos ou estruturas do texto conduzem as interpretações deles.

As questões se referem a compreensões gerais sobre o texto e sua narrativa. Para elas há respostas objetivas, mas também espaço para que os estudantes criem outras hipóteses e possibilidades; mantenha esse convite aberto ao trabalhar com as perguntas.

Após o trabalho com o texto, comente com os estudantes sobre Guimarães Rosa, escritor brasileiro nascido em Minas Gerais. Suas obras são quase todas ambientadas no sertão. O livro Grande sertão: veredas, publicado pela primeira vez em 1956, é considerado sua obra-prima e está entre as obras mais significativas da literatura brasileira.

Questões

1. Incentive os estudantes a responder à questão e a comentar suas eventuais leituras de Guimarães Rosa. Amplie perguntando o que eles acharam desse trecho do livro Grande sertão: veredas.

2 e 3. Incentive os estudantes a imaginar e descrever o ambiente e as cenas que compõem esses trechos do livro; a construção dessas imagens mentais com eles será relevante para a abordagem sobre iluminação e as propostas práticas da próxima página.

4. Escute com atenção o que os estudantes trazem sobre o sentido dessa frase, pois ela se abre para múltiplas interpretações.

5. Se considerar oportuno, comente que Diadorim é o amor idealizado de Riobaldo, o narrador-personagem do livro. Diadorim durante quase toda a trama do livro é descrito como um jovem e somente nas páginas finais é revelado que ele é uma pessoa do sexo feminino que se veste e se comporta como homem.

A luz como elemento cênico

Observe, mais uma vez, a fotografia do espetáculo Tríptico sertanejo, da página 34. Note que há um foco de luz projetado sobre a intérprete. O modo como a luz ilumina os bailarinos/dançarinos não é aleatória e faz parte da concepção do espetáculo na dança como um todo. Não é apenas o movimento que compõe uma obra artística de dança. Além dele, existem outros elementos importantes que se relacionam com os corpos e os movimentos dos bailarinos para construir um sentido comum do espetáculo de dança. Um desses componentes é a luz.

Um espetáculo de dança resulta de uma rede de relações entre os movimentos (o que se dança), o intérprete (quem dança) e o espaço cênico (onde se dança). A luz é um dos elementos que compõem o espaço cênico.

Você percebe como a luz é utilizada na imagem? Que sensações essa imagem desperta em você?

Fotografia. Homem de cabelo preto curto, vestindo colete cinza e calça marrom está de costas, descalço e apoiado sobre a perna esquerda, com a mão direita apoiada na perna direita flexionada. Ao redor dele, aparecem braços de outros atores, cujas mãos seguram gravetos finos e longos. Acima, uma lua amarela aparece no cenário de fundo preto.
Cena do espetáculo Tríptico sertanejo, da companhia DUAL Cena Contemporânea, no Teatro Municipal de Mauá, Mauá (São Paulo), em 2018.

Luz e sombra

Além de ser parte da criação artística de um espetáculo, o trabalho com luz nos palcos usa recursos técnicos (lâmpadas, filtros coloridos para luz, estruturas que sustentam e direcionam os holofotes etcétera) e princípios físicos do modo como a luz e a sombra se formam. A luz (natural ou artificial) é um tipo de onda eletromagnéticaglossário que podemos ver, composta de partículas que transportam energias. Já as sombras (ou penumbras) são áreas que aparecem quando um objeto, como nosso corpo, por exemplo, é colocado à frente de uma fonte de luz.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Coloque-se na frente de um foco de luz e projete a sombra do seu corpo, fazendo alguns movimentos.
  2. Nos movimentos, faça com que a sua sombra se encontre com a dos colegas.
Respostas e comentários

Contextualização

Auxilie os estudantes na leitura da fotografia e deixe que eles elaborem hipóteses livremente. Espera-se que, com base na leitura dessa imagem, eles percebam que a luz dialoga com os movimentos dos dançarinos e com o cenário e gera uma ambientação dúbia, que pode remeter à luz da lua cheia ou a um amanhecer já com sol forte no sertão.

Se julgar conveniente, comente com os estudantes que, no começo do século dezesseis, as apresentações teatrais que antes aconteciam nas ruas e nos espaços públicos passaram a acontecer em salas fechadas. Isso gerou a necessidade de algum tipo de iluminação para que as cenas fossem visíveis ao público. Como a luz elétrica seria inventada apenas no século dezenove, foi preciso criar alternativas para essa nova fórma de apresentação dos teatros. Assim, primeiro as velas passaram a fazer a função da iluminação, seguidas pelas lâmpadas a óleo e a gás.

A invenção da lâmpada elétrica em 1879 foi um marco importante não só para a humanidade, mas também para a iluminação cênica, pois, a partir dali, houve mais possibilidades de se ter diferentes tipos de iluminação para compor um espetáculo. Ressalte que, assim como vimos sobre a criação da dança e música em Sãm uád: rua do encontro, em muitos espetáculos a luz também é criada ao mesmo tempo da obra. O comum é imaginarmos que música, figurino, cenografia e iluminação são áreas “menores” que servem à coreografia ou à peça teatral. São características da arte contemporânea a diluição dessas hierarquias e o fato de todas as áreas que compõem o espetáculo serem igualmente responsáveis pela construção da dramaturgia e do resultado final.

Foco na linguagem

1. Se o dia estiver ensolarado, essa experiência pode ser feita no espaço externo da escola usando a luz natural. Mas, ela pode ser feita na própria sala de aula, usando a iluminação artificial do espaço. Se for na sala de aula, abra um espaço para a prática, afastando mesas e cadeiras.

Incentive os estudantes a realizarem essa experiência por algum tempo até que estejam bem focados nos movimentos e suas projeções.

2. Auxilie na divisão dos trios ou duplas. Oriente-os a fazer essa experiência algumas vezes.

Sugestão

Essa também pode ser uma oportunidade para trabalhar de fórma interdisciplinar com o professor de Ciências da Natureza, tanto para realizar novas experiências práticas quanto para aprofundar a compreensão teórica de aspectos físicos da luz. Uma possibilidade de conteúdos a serem trabalhados interdisciplinarmente são asfórmas de propagação do calor por meio da luz.

Luz e criação

A criação da luz em um espetáculo de dança pode despertar os sentidos e provocar a imaginação de quem assiste. Também cria ambientes e sugere sensações como a do passar do tempo.

Para isso, são utilizados elementos como lâmpadas de diferentes cores, variações na intensidade da luz e variação nos focos iluminados. Isso contribui para que os espectadores construam diferentes interpretações e leituras. No espetáculo Tríptico sertanejo, por exemplo, a luz é também uma imagem que compõe o cenário, sugerindo o sol em horas diferentes do dia ou a lua cheia. É também um instrumento percussivo, que em alguns momentos é desprendido do cenário e tocado pelos intérpretes.

Agora, observe a fotografia do espetáculo Terra trêmula, da DUAL Cena Contemporânea.

Você percebe as diferentes utilizações da luz no espetáculo entre esta cena do espetáculo Terra trêmula e as cenas do Tríptico sertanejo, que você conheceu neste Tema?

Fotografia. Palco com atores ocultos pela sombra. No centro, iluminada por uma luz amarela que forma desenhos no chão,  está uma mulher de cabelo preso em coque. Ela veste camiseta branca e calça cinza, está agachada diante de  pedras dispostos lado a lado.
A intérprete-criadora Mônica Augusto em cena do espetáculo Terra trêmula, apresentado pela companhia DUAL Cena Contemporânea, no Museu do Rafu, em São Paulo (São Paulo), em 2014.

O profissional que cria e executa os efeitos de luz de um espetáculo chama-se iluminador. Nesses dois espetáculos da companhia DUAL, o trabalho de criação da luz foi feito pelo iluminador Osvaldo Gazotti.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


Com uma lanterna e em um ambiente escuro, experimente o uso da luz para criar efeitos visuais sobre o rosto. Você pode explorar diferentes expressões faciais, mas também verificar como diferentes ângulos da luz modificam a sua percepção sobre o rosto e o corpo. O que muda quando a luz vem de cima? O que muda quando a luz vem de baixo? E de lado? E quando a luz ilumina as costas, e não a face? Explore esse recurso e faça reflexões em seu diário de bordo.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
Respostas e comentários

Contextualização

Incentive os estudantes a dizer o que percebem em relação à utilização da iluminação nesses espetáculos. Depois, enfatize para eles a direção da luz (de onde vem), a cor da luz utilizada (que efeitos provoca no cenário, no figurino e nos atores), as fórmas que a iluminação gera (fachos, círculos) e o que a luz está “iluminando” (qual é a ênfase: um dançarino ou o palco todo?).

Se julgar oportuno, comente com os estudantes que o iluminador pode desenvolver projetos de iluminação de outras áreas, por exemplo, exposições de artes visuais e arquitetura.

Caso considere oportuno, questione os estudantes sobre os efeitos da luz em suas vidas. Pergunte-lhes como se sentem à luz do sol, se têm costume de dormir no escuro, se a iluminação de suas casas é composta de luzes brancas, amarelas ou mesmo de outras tonalidades, se é comum acenderem velas ou lamparinas em casa. Converse também com eles sobre as características da iluminação da sala de aula e da escola. Pergunte se há tipos de iluminação em seu cotidiano que lhes transmitem sensações distintas. Você pode perguntar se há, por exemplo, tipos de iluminação que sugerem calma ou que os ajudam a estudar.

Após essa conversa, pergunte aos estudantes se eles já tiveram oportunidade de assistir a algum espetáculo em que a iluminação lhes chamou a atenção. Caso a resposta seja positiva, indague como foi a experiência e do que se lembram em relação às sensações causadas pela iluminação.

Comente que a luz é parte importante da composição de um espetáculo, capaz de transformar um espaço cênico modificando a textura, o tamanho, a cor, o volume, o contorno e a intensidade do brilho das pessoas e dos objetos que compõem uma cena. É capaz também de limitar ou ampliar uma área e ajudar a comunicar sensações e sentimentos em uma composição cênica.

Experimentações

Oriente os estudantes a realizar a proposta em sala de aula ou em casa, a depender das possibilidades de iluminação da escola e do uso de uma lanterna. Eles devem perceber o potencial que a luz representa para produzir sensações e efeitos em linguagens artísticas como a dança.

Os estudantes devem produzir uma reflexão sobre essa experimentação no diário de bordo. Você pode também propor uma roda de conversa para que eles compartilhem as suas impressões.

Faça no diário de bordo.

Pensar e fazer arte

Experimentando alguns elementos de composição cênica (figurino, trilha sonora, espaço cênico etcétera), você vai criar uma pequena história com base em um trecho do livro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Junto com seus colegas, você vai atuar como intérprete-criador, inventando coletivamente esta narrativa.

Momento 1 – Criação da história

a. Com a orientação do professor, leia algumas vezes o trecho a seguir com os colegas.

“Diadorim e eu, nós dois. A gente dava passeios. reticências Diadorim acendeu um foguinho, eu fui buscar sabugos. Mariposas passavam muitas, por entre as nossas caras, e besouros graúdos esbarravam. Puxava uma brisbisa. O ianso do vento revinha com o cheiro de alguma chuva perto. E o chiim dos grilos ajuntava o campo reticências.”

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1998. página 33.

  1. Agora, reúna-se com três colegas para criar alguns movimentos com base nesse trecho.
  2. Leiam juntos novamente o trecho anotando os verbos (ações). Tentem executar essas ações com o corpo, criando movimentos de dança.
  3. Procurem outras palavras do texto que sugerem movimento. Brinquem de “dar vida”, por meio do corpo, a essas expressões.
  4. Experimentem transformar de diversas maneiras essas palavras em movimentos. Não precisa ser uma mímica da palavra. Ela é só o ponto de partida para vocês descobrirem e criarem movimentos. Façam rápido, devagar, movimentos grandes e pequenos, mudem de nível no espaço (alto, médio e baixo).
  5. Depois, escolham os movimentos de que mais gostaram.
  6. Retomem as anotações dos verbos retirados do texto e percebam se, após experimentá-los em movimentos, surgiram outros que não estavam no texto, mas vocês queiram incluir.
  7. Leiam juntos a lista de verbos e comecem a imaginar uma outra história, totalmente nova, que vocês poderiam contar com base nesses verbos. Não precisa ser uma narrativa longa, nem uma história complexa. Essa pequena história vai conectar essas palavras entre si e com o corpo, criando uma sequência coreográfica. Por exemplo: o que poderia acontecer depois de um movimento que se originou de um verbo como “ajuntar”? Ou da palavra “vento”?
  8. Experimentem essa sequência coreográfica e verifiquem se a ordem dos movimentos está pronta, se todos do grupo estão satisfeitos com o que criaram ou se é necessário fazer ajustes para que os movimentos se conectem melhor uns aos outros.
  9. Por fim, definam a ordem (começo, meio e fim) da coreografia.
Respostas e comentários

Pensar e fazer arte

Nessa proposta, os estudantes vão se dividir em grupos para criar uma coreografia, com base em um texto, a fim de contar uma história com os movimentos da dança e outros elementos de composição cênica, como espaço e figurino.

O objetivo é que eles experimentem a criação coreográfica como intérpretes-criadores e os processos coletivos de elaboração da dança cênica. Outro aspecto importante da proposta é a percepção deles de que a coreografia pode ser uma maneira de contar uma história com o corpo.

Acompanhe os processos coletivos de criação, tirando as dúvidas dos grupos e auxiliando no que mais for necessário durante o processo.

A prática terá três momentos: criar a história, montá-la e contá-la, que podem acontecer em duas ou três aulas, usando espaços diferentes na escola.

Momento 1: não é necessário trabalhar a interpretação do texto, pois ela será feita a partir da seleção de verbos e do trabalho corporal com as palavras. Apenas dedique um momento com eles para investigar o significado de algumas palavras, como sabugo (espiga de milho sem os grãos) e revinha – do verbo revir – (retornava), e os neologismos (palavras criadas) que há nesse trecho: brisbisa, ianso, revinha, chiim. Comente que essas são palavras que foram inventadas pelo escritor. Brisbisa: neologismo que reproduz o som da brisa; ianso: provavelmente significa “rumor do vento”; chiim: cricrilar dos grilos (conforme MARTINS, Nilce Sant’Anna. O léxico de Guimarães Rosa. São Paulo: êduspi, 2001).

Incentive os estudantes a dedicar um tempo para experimentar o começo do processo de criação, por ser um momento importante.

Oriente-os a fazer sequências coreográficas curtas, de, no máximo, quinze movimentos, pois não é necessário contar uma longa história. Você pode usar como exemplo um filme bem curto, como se essa história fosse contada com três a cinco cenas, no máximo.

Momento 2 – Montagem da história

  1. Com a orientação do professor, escolham um local da escola que tenha a ver com a história que vocês pretendem contar, para ser o cenário.
  2. Pratiquem algumas vezes a coreografia nesse espaço.
  3. Pensem em um título para a coreografia.
  4. Conversem sobre outros dois elementos de composição cênica que vocês poderão usar para ajudar a contar a história: o figurino e a trilha sonora.
  5. Para a escolha do figurino, pensem em roupas que vocês já têm e que não limitem os movimentos do corpo.
  6. Para a escolha da trilha sonora, considerem os movimentos de dança criados. Que estilo musical poderia combinar com eles?
  7. Ensaiem algumas vezes com a canção escolhida a fim de “encaixar” os movimentos no ritmo musical.

Momento 3 – Contação da história

  1. Vistam os figurinos e ensaiem a coreografia, antes de contar a história/apresentar a coreografia aos colegas.
  2. Recebam as pessoas no espaço escolhido e indiquem onde elas devem se sentar para assistir.
  3. Antes de começarem a dançar, contem aos colegas qual é o título da coreografia.
  4. Apresentem a sequência coreográfica.
  5. Ao final, conversem com os colegas que assistiram à apresentação e perguntem qual história eles imaginaram considerando os movimentos dançados, o figurino e o espaço. É possível que eles imaginem histórias diferentes daquela que vocês criaram. Como nem sempre usamos palavras na dança, a interpretação da história pode variar bastante.

Avaliação

Para finalizar, reflita sobre suas aprendizagens, respondendo às seguintes questões em seu diário de bordo. Depois, compartilhe as respostas com os colegas.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Como foi a experiência de fazer uma coreografia para “contar uma história”, tendo como referência um trecho de um texto literário?
  2. De que maneira as práticas experimentadas ao longo da Unidade ajudaram na sua atuação como intérprete-criador?
Respostas e comentários

Momento 2: auxilie os estudantes na escolha do cenário, considerando as possibilidades da escola e também que seja um espaço em que caiba o público.

Oriente-os sobre a escolha do figurino com o intuito de utilizarem roupas que eles já tenham e sejam usadas no dia a dia, pensando em algum acessório que possa ajudar a contar a história. Auxilie-os, também, a planejar como vão tocar a trilha sonora, que pode ser executada por meio de um aparelho celular, por exemplo.

Momento 3: deixe um tempo curto para os grupos ensaiarem as sequências e depois defina com eles qual será a ordem das apresentações.

Faça no diário de bordo.

Autoavaliação

Ao longo desta Unidade, você se aproximou da dança e aprendeu vários conceitos relacionados a essa linguagem.

Você aprendeu o que é coreografia, qual é o papel do coreógrafo e que relação se estabelece entre a dança e a música.

Além disso, você conheceu a origem do balé, os principais elementos dessa dança, como o figurino e os movimentos, e a relação do balé com a música. Você também conheceu propostas contemporâneas de dança, descobriu a importância do intérprete e do intérprete-criador.

Você ainda descobriu durante o estudo desta Unidade como a luz pode fazer parte de uma composição cênica.

Além disso, realizou diversas atividades práticas e experienciou os níveis espaciais da dança, vivenciou sequências de dança em uníssono, oposição e sucessão, experimentou atuar como intérprete-criador, relacionando dança e literatura, e explorou o espaço, o figurino e a trilha sonora para criação em dança.

Chegamos ao final desta Unidade, e é importante que você reflita sobre o que aprendeu e sobre o caminho percorrido até este momento.

Para você realizar essa reflexão, responda em seu diário de bordo às questões a seguir.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Mencione a proposta desta Unidade de que você mais gostou. Além disso, qual proposta mais o ajudou a compreender a linguagem da dança? Justifique a sua escolha.
  2. Como foi sua experiência de participar das propostas de atividades das seções Experimentações e Pensar e fazer arte desta Unidade?
  3. Este estudo mudou a maneira como você aprecia a dança? Em caso afirmativo, de que maneira?
  4. O que você acha que poderia ajudá-lo a conhecer melhor ainda a dança?
Respostas e comentários

Autoavaliação

Nesse momento, peça aos estudantes que retomem as anotações que fizeram nas atividades que realizaram nesta Unidade para que eles reflitam sobre o processo de aprendizagem da linguagem da dança e para que respondam às questões de autoavaliação.

Aproveite para revisitar os objetivos de cada Tema e revisar as habilidades trabalhadas, de modo a verificar se a aprendizagem contemplou os objetos de conhecimento pertinentes ao ensino da dança e de outras linguagens presentes na Unidade.

Você pode pedir aos estudantes que leiam as perguntas individualmente, em silêncio, e que revisitem o diário de bordo, olhando página por página e definindo o que é mais importante destacar para responder às questões.

Em um segundo momento, peça-lhes que se sentem em roda e leia todas as perguntas com eles. Peça-lhes que compartilhem as reflexões que fizeram individualmente, de modo que cada pergunta seja respondida por alguns dos estudantes. Tente desdobrar as respostas para que eles compartilhem e narrem as experiências e as percepções que tiveram ao olhar o diário de bordo, possibilitando também que eles mostrem algo do próprio diário ou que leiam trechos.

Durante todo esse processo, aproveite para realizar uma avaliação do seu trabalho. Ao ouvir os estudantes, você considera que conseguiu cumprir com os objetivos de cada etapa? Acredita que conseguiu criar uma atmosfera e uma cumplicidade em sala de aula para que os estudantes se sentissem seguros para experimentar a linguagem da dança e para compartilhar as suas descobertas com o grupo?

Glossário

Bumba meu boi
: é uma manifestação artística e popular da cultura afro-brasileira criada no Nordeste do país. Tradicionalmente, conta a história mítica em torno da figura de um boi, e envolve dança, música e vestimentas.
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Grameal
: capim.
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Aviar-se
: preparar-se.
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Soverter-se
: soterrar-se, desaparecer.
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Mutuca
: mosca que se alimenta de sangue.
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Arapavaca
: árvore também conhecida como arapiraca.
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Tição
: pedaço de lenha ou de carvão aceso ou meio queimado.
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Frenteante
: frente a frente.
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Onda eletromagnética
: aquela que propaga energias elétrica e magnética.
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