Tema 2  A voz e o canto

O corpo humano e a produção da voz

No Tema 1, você aprendeu que a voz é um dos elementos que podemos utilizar na criação vocal. Descobriu ainda que, além de cantar, podemos produzir com a voz muitos outros sons que se transformam em música.

Para que a voz seja emitida, o corpo humano põe em funcionamento, simultaneamente, diversos órgãos e músculos.

Um dos principais órgãos responsáveis pela voz é a laringe, que fica na região do pescoço. Na laringe, há duas pregas vocais, também conhecidas como “cordas vocais”. Essas pregas, que são compostas de tecido muscular, vibram com a passagem de ar, produzindo o som que vai se transformar na voz.

O tamanho, a espessura e a elasticidade das pregas vocais ajudam a definir se as vozes vão ser mais agudas ou mais graves.

Fotografia. Menino de cabelo cacheado castanho, vestindo moleton marrom. Está de olhos fechados, boca aberta, tocando uma guitarra marrom. Ao fundo, violões e guitarras expostos em uma vitrine.
O formato da laringe e das pregas vocais determina o timbre de voz de uma pessoa. Fotografia de 2012.
Respostas e comentários

Objetivos

Entender como a voz é produzida pelo corpo humano.

Compreender o processo de muda vocal.

Retomar a classificação das vozes.

Conhecer músicos brasileiros de diferentes estilos.

Compreender a origem da música sertaneja e sua transformação ao longo dos anos.

Participar de uma atividade de canto e percussão corporal.

Experienciar a criação de obras artísticas de fórma coletiva.

Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre um seis), (ê éfe seis nove á érre um sete), (ê éfe seis nove á érre um nove), (ê éfe seis nove á érre dois zero), (ê éfe seis nove á érre dois um), (ê éfe seis nove á érre dois dois), (ê éfe seis nove á érre dois três), (ê éfe seis nove á érre dois seis), (ê éfe seis nove á érre três um), (ê éfe seis nove á érre três dois), (ê éfe seis nove á érre três três), (ê éfe seis nove á érre três quatro) e (ê éfe seis nove á érre três cinco).

Contextualização

Se julgar oportuno, converse com os estudantes sobre a produção e a percepção do som, fazendo uma ligação com os conhecimentos da Física. Explique que o som é produzido pela vibração dos corpos, isto é, qualquer objeto ou parte do corpo, ao entrar em movimento, desloca o ar até a sua orelha. Comente que, ao tocar a corda de um violão, por exemplo, ela vibra e produz um som, que é repercutido e ampliado no interior do instrumento (que é oco). Essa vibração tem o formato de uma onda, e, dependendo de suas características físicas, o desenho dessa onda se diferencia. Assim é determinada sua qualidade sonora. Do mesmo modo, as características na anatomia da laringe, da garganta, da boca e do nariz das pessoas geram vozes diferentes.

Leve os estudantes a perceber que, ao inspirar, nós contraímos o músculo do diafragma e das costelas, fazendo com que o ar seja inspirado pelo nariz passando por faringe, laringe e traqueia até chegar aos pulmões. Quando relaxados, esses músculos comprimem os pulmões, fazendo com que o ar que está dentro deles seja forçado a fazer o caminho contrário (traqueia, laringe, faringe, nariz e/ou boca). Quando a pessoa vai falar, as pregas vocais recebem um comando do cérebro para se aproximarem e gerar uma resistência ao ar que vai passar por elas. Essa resistência faz as pregas vocais vibrarem, produzindo a onda sonora.

De acôrdo com a fórma em que se encontram lábios, língua, dentes e palato, vão ser produzidos os sons das diferentes vogais e consoantes que, ao serem encadeadas, formam as palavras para a compreensão da informação.

Qualquer alteração das estruturas do aparelho fonador pode modificar a qualidade da voz. Por exemplo, quando a pessoa grita muito, ela pode machucar as pregas vocais e ficar rouca, pois a vibração dessas estruturas estará alterada pela presença do machucado, ou, quando a pessoa está gripada e com o nariz entupido, a voz dela fica “nasalada”, pois está passando menos ar e onda sonora pelo nariz do que deveria.

Arte e muito mais

A voz na adolescência: mudanças na voz de meninos e de meninas

“A adolescência consiste no período de transição entre a infância e a idade adulta que, de acôrdo com a Organização Mundial da Saúde (ó ême ésse), ocorre dos 10 aos 19 anos de idade. É quando o corpo todo se transforma ]. Ocorrem mudanças evidentes, como o surgimento de barba nos meninos e de seios nas meninas, até outras alterações mais intrigantes, como a voz.

A voz é produzida por meio da vibração das pregas vocais, que ficam no pescoço, na região conhecida como ‘gogó’ (também chamada ‘pomo de adão’) dos meninos. Se observarmos, o pescoço das crianças é bem parecido nas meninas e nos meninos, ambos redondos e pequenos. Com o avançar da puberdade, o hormônio testosterona − em maior quantidade nos meninos do que nas meninas − age no crescimento do pescoço, fazendo que ele cresça em velocidade e em formato diferentes, levando ao ajuste dos músculos da voz, afinando-a, assim como se afinam as cordas de um violão. No final dessa fase, a voz já se adapta ao novo formato do pescoço, permanecendo em um tom mais grave nos homens e mais agudo nas mulheres.

Se, em seis meses, a voz continuar desafinando, um fonoaudiólogo – que é o profissional que cuida da voz – pode fazer alguns ajustes para que a laringe se adapte mais rapidamente a essa transição.”

Texto da fonoaudióloga Daniela Barbosa escrito especialmente para esta Coleção, em agosto de 2018.

Fotografia. Menino adolescente de cabelo curto castanho, vestindo camisa branca e agasalho azul. Ele apoia a mão sobre a garganta e está de boca aberta.
Após a mudança vocal, a voz dos meninos, em geral, torna-se mais grave. Fotografia de 2017.

Faça no diário de bordo.

A mudança da voz é apenas uma das muitas transformações corporais que acontecem com meninos e meninas durante a adolescência. Às vezes, essas mudanças podem causar insegurança, medo e vergonha. É possível que sejam motivo de bullying no ambiente escolar, isto é, de desrespeito e violência sistemática entre colegas, causando sofrimento. É preciso que estejamos atentos para nos proteger e proteger os colegas desse tipo de violência. Vamos conversar sobre isso? Como podemos nos corresponsabilizar por um ambiente escolar mais saudável e empático?

Ícone. Tema contemporâneo: SAÚDE
Respostas e comentários

Sugestão de atividade

Proponha aos estudantes que, em pequenos grupos, produzam livremente sons vocais agudos e graves, fortes e fracos e de diferentes timbres. A seguir, peça a eles que escolham um trecho de uma canção conhecida e experimentem cantá-lo de diversas maneiras, variando cada um desses parâmetros sonoros. Proponha também um arranjo vocal coletivo dessa canção: organize os estudantes em grupos e monte com eles uma sequência na qual cada parte será cantada por um dos grupos e de um modo diferente, alternando, por exemplo, partes fortes e fracas ou timbres masculinos e femininos. Incentive-os a fazer experimentos com diferentes sequências e a eleger o modo de cantar que ficou mais interessante.

Reflexões sobre o bullying

Essa conversa com os estudantes se relaciona com o Tema contemporâneo transversal Saúde. É uma oportunidade para trabalhar a saúde mental dos estudantes.

O bullying é um modo de violação física ou simbólica cometida de maneira contínua e sistemática. É motivo de grande sofrimento para as pessoas que são vítimas – pessoas com sexualidades dissidentes, racializadas negras e indígenas, obesas ou acima do peso, jovens mulheres cujo corpo está em transformação, pessoas com dificuldade na fala ou na visão, pessoas com deficiência etcétera Trata-se de um problema comum no ambiente escolar. É importante considerar que os jovens têm poucos espaços para conversar sobre seus medos, inseguranças, anseios, perspectivas de futuro, desejos.

Conversar sobre o bullying é, então, um modo de garantir que estudantes que são vítimas dele tenham um espaço seguro de escuta e que os colegas também tenham a oportunidade de pensar sobre as próprias inseguranças, que são, muitas vezes, a razão pelas quais eles cometem o bullying – a tentativa de projetar sobre o outro a dificuldade de lidar com os próprios medos e inseguranças. Crie um espaço de reflexão que estimule a empatia, o respeito e a solidariedade entre os estudantes.

Conduza um debate sobre esse tema, com escuta e atenção às experiências que os estudantes compartilharão. Ao final do debate, peça aos estu­dantes que se reúnam com colegas de sua confiança para registrar as reflexões no diário de bordo.

Saúde vocal

Essa é um oportunidade para trabalhar também a saúde vocal. Reforce com os estudantes a importância do cuidado com a voz, como beber bastante água, não gritar, não falar excessivamente, não forçar a voz em locais ruidosos, ingerir alimentos que favorecem a limpeza e a lubrificação das cordas vocais, como maçã e frutas cítricas, entre outros cuidados.

A voz é a ferramenta de trabalho para diferentes profissionais, como cantores, mas também professores, vendedores, radialistas, telefonistas, entre tantos outros. Ela é também um recurso utilizado no dia a dia e nas relações pessoais.

Muitos profissionais realizam exercícios vocálicos orientados por fonoaudiólogos para modular a voz, o sotaque, a altura, utilizando técnicas específicas.

Por dentro da arte

A “voz” da Terra

Você já imaginou como seria se a Terra falasse? O que será que ela diria?

Para tentar ouvir o que a Terra “diz”, o artista estadunidense realizou durante cinco anos uma pesquisa para desenvolver a obra Sonic Pavilion(Pavilhão Sônico, em português), exposta no Instituto Inhotim, em Brumadinho (Minas Gerais), na qual os visitantes ouvem os sons emitidos pela Terra. Observe as fotografias desta página e da página seguinte.

Fotografia. Vista externa de um pavilhão redondo com paredes de vidro e teto plano sobre um terreno. Ao redor, árvores e vegetação densa.
Fotografia. Interior de um pavilhão circular com paredes de vidro e vegetação na área externa. Dentro dele, algumas pessoas estão sentadas, e outras estão em pé.
, . Sonic Pavilion. 2009. Pavilhão de vidro e aço, revestido de película plástica, poço tubular de 202 métros de profundidade, microfones e equipamento de amplificação sonora. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). A primeira fotografia (de 2009) mostra uma visão externa da obra, e a segunda (de 2017), uma visão interna.
Respostas e comentários

Por dentro da arte

Comente com os estudantes que obras como Sonic Pavilion são classificadas como site-specific (“local-específico”), ou seja, uma obra que será desenvolvida de acôrdo com o ambiente onde ela for instalada.

Criações como essa podem acontecer tanto em ambientes fechados, como as galerias de museus, quanto em espaços ao ar livre, como no Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. Aproveite para comentar com os estudantes que o Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim abriga um dos maiores acervos de arte contemporânea do Brasil. Proponha a eles que visitem o site da instituição, disponível em: https://oeds.link/h9Znpc, acesso em: 24 maio 2022. Nele, é possível acessar imagens e obter informações sobre as obras de artistas de diferentes nacionalidades.

A obra de

A obra Sonic Pavilion consiste em um tubo de 202 metros de profundidade instalado no solo. Nesse tubo, foram colocados diversos microfones que captam o som do interior da Terra em tempo real, retransmitindo-o por meio de um sistema de amplificação. Os sons são emitidos em um espaço no qual os visitantes têm uma experiência auditiva e visual.

Ouça o áudio “Sons captados pela obra Sonic Pavilion, de ”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Fotografia. Destaque da abertura de um tubo circular metálico em uma superfície de madeira.
Fotografia. Interior de um pavilhão circular com paredes de vidro e vegetação na área externa. O salão tem piso de madeira, e uma rampa com corrimão. Há pessoas descendo pela rampa.
As fotografias desta página mostram a abertura do tubo que capta os sons do interior da Terra, na obra Sonic Pavilion (2009), de . Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografias de 2009 e 2017.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

 

  • Na produção audiovisual (filmes, séries, jogos digitais, animações etc.), os sons dos ambientes (paisagem sonora) são utilizados para dar veracidade à dramaturgia, compondo os efeitos sonoros de uma produção.
    1. Na sua casa, imagine que você é responsável pela criação dos efeitos sonoros de um filme de ficção científica. Esse filme fala sobre uma viagem espacial no futuro para um planeta desconhecido.
    2. Utilizando os objetos que possui em casa, produza e grave sons que representarão a paisagem sonora da natureza desse lugar. Use a sua criatividade.
    3. Seguindo as orientações do professor, apresente a sua produção em data previamente marcada.
Respostas e comentários

Contextualização

Explique aos estudantes que, no áudio “Sons captados pela obra Sonic Pavilion , de ”, há sons captados em determinado dia e horário.

Enfatize que esse padrão sonoro jamais se repete, pois depende dos ruídos emitidos pela Terra.

A voz na dublagem

Nos desenhos animados, nos filmes e nas séries de língua estrangeira a que assistimos, as vozes são gravadas por dubladores. A dublagem é a gravação da voz posterior à filmagem ou à criação das imagens, sincronizada com o movimento labial das personagens ou com a narração dos eventos.

A dublagem pode ser da voz falada ou das canções das produções audiovisuais. Ela é comumente feita por atores e as partes musicais também podem ser gravadas por cantores.

Fotografia. Homem de cabelos curtos pretos, usando blusa cinza, óculos e fones de ouvido pretos. Ele está de frente para as telas de dois computadores: no da esquerda há um texto e no da direita há um gráfico com ondas sonoras. 
Ele está de boca aberta e seu dedo indicador está apontando para as telas. Há  um microfone na altura da boca dele.
Dublador em estúdio de dublagem. Fotografia de 2021.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

 

Em dupla ou em pequeno grupo, sigam as orientações e registrem as reflexões desta experimentação no diário de bordo.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Selecionem um pequeno vídeo que contenha um diálogo de duas ou três personagens.
  2. Observem o tempo e a quantidade de falas e reescrevam o diálogo alterando o tema da conversa.
  3. Treinem a sincronia labial observada no vídeo com o texto produzido e compartilhem a produção com os colegas da sala.
Respostas e comentários

Experimentações

Esta atividade requer o acesso a vídeos na internet ou a qualquer gravação audiovisual. Auxilie os estudantes na escolha desse material para que seja curto e corresponda aos requisitos propostos na atividade. Caso não seja possível o acesso a qualquer tipo de gravação, esta atividade pode ser adaptada para representações cênicas realizadas entre os próprios estudantes.

O canto

Ao pensarmos em música, é comum nos lembrarmos dos intérpretes (cantores e cantoras) das canções de que mais gostamos. Isso ocorre porque, na maioria das vezes, ouvimos muitas músicas vocais, aquelas que têm o canto como elemento central, com ou sem o acompanhamento de instrumentos musicais.

Você aprendeu nas páginas anteriores que há diferenças de altura entre as vozes. Algumas pessoas têm a voz mais grave e outras têm a voz mais aguda.

Se prestarmos atenção, vamos perceber essa variação de altura entre as vozes dos cantores. Você já notou isso? Alguns têm a voz mais aguda e outros, a voz mais grave, sejam homens, sejam mulheres. Quando duas pessoas cantam juntas ao mesmo tempo, elas podem executar a mesma melodia e o mesmo ritmo de modo sincronizado. Assim, essas duas vozes se fundem e escutamos praticamente como se ambas fossem uma única voz. Musicalmente, chamamos esse modo de cantar de canto em uníssono. Na Unidade 1, você aprendeu que a palavra uníssono também é utilizada na dança. Você se lembra em que situação?

Há músicas em que as duas vozes não cantam igualmente, cada uma delas canta notas diferentes. Nesse caso, chamamos a melodia principal e, por extensão, o cantor que a executa de primeira voz, e a melodia que a acompanha e, por extensão, o cantor que a executa de segunda voz.

Fotografia em preto e branco. Dois homens brancos e de cabelos curtos, vestindo camisa xadrez e tocando violão, com a boca aberta. Diante eles há um microfone.
A dupla de música sertaneja Tonico e Tinoco. Fotografia de 1970.

Essa formação é muito comum entre os cantores que se dedicam à música sertaneja, um dos estilos musicais mais populares do Brasil. Entre os pioneiros da música sertaneja estão João ­Salvador Perez (1917-1994) e José Salvador Perez (1920­‑2012), que formavam a dupla Tonico e Tinoco. Ouça, no áudio “‘Casa caipira’, de Cornélio Pires e Tinoco”, o registro de uma canção gravada por essa dupla e acompanhe a letra, reproduzida a seguir.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Casa caipira

“Pouco distante da aguada glossário

Lá no chapadão que vira

Uma casinha barreada glossário

De uma família caipira


A cêrca de pau a pique glossário

Logo ao chegar se depara

Dando um quadro todo chique

Uma porteira de vara


Um paiolglossário , um galinheiro

Um pequenino pomar

Bem no canto do terreiro

Uma pedra de afiar


Do telhado sobre a beira

O sinal da enxurrada

Formado pela goteira

No tempo da chuvarada


No cochoglossário perto da porta

Come milho o burro baioglossário

Caboclo corta taquaraglossário

Fazendo cesta e balaio


Esse caboclo que é gente

Que baixinho cantarola

Recostado no batente

Ponteiaglossário a sua viola.”

PIRES, Cornélio; TINOCO. Casa caipira. In: TONICO e TINOCO. 34 anos de glória. São Paulo: Chantecler, 1976. Faixa 6.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Após ouvir a regravação da canção “Casa caipira”, responda às seguintes questões em seu diário de bordo.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Que lembranças essa canção despertou em você? Comente com o professor e os colegas.
  2. Que diferenças você percebe entre as vozes dos cantores? Converse com os colegas.
Respostas e comentários

Contextualização

Espera-se que os estudantes se recordem de que, em dança, a palavra uníssono é utilizada para se referir a coreografias em que os dançarinos executam o mesmo movimento, ao mesmo tempo.

Comente que no canto em dupla, em geral, a voz principal é a mais aguda e a segunda voz, a mais grave, mas, em algumas músicas, essa relação pode se inverter, ou seja, a melodia principal pode estar na voz mais grave e a voz aguda ser a que acompanha. Essa inversão ocorre com mais frequên­cia no contexto da canção popular.

Sobre a dupla Tonico e Tinoco, comente com os estudantes que, nascidos em uma fazenda no interior do estado de São Paulo, os irmãos João e José eram filhos de um imigrante espanhol que trabalhava em fazendas desse mesmo estado. Os avós maternos dos irmãos animavam bailes na região, e João e José cresceram influenciados pela música tocada pela família. Aprenderam a tocar violão e também animavam as festas locais. Na década de 1940, eles cantaram pela primeira vez em uma rádio do interior de São Paulo. Nessa mesma época, eles se mudaram para São Paulo (São Paulo), quando passaram a usar os nomes Tonico e Tinoco.

Foco na linguagem

1. a) Estimule os estudantes a falar de suas experiências. Pode ser que alguns deles se sintam motivados a contar histórias familiares, pois muitas famílias vivem ou tiveram origem em locais parecidos com esse descrito na letra da canção.

b) Espera-se que os estudantes percebam que as vozes são entoadas em dueto, mas em alturas diferentes: a primeira voz é bem aguda, e a segunda voz é mais grave. Procure fazer com que eles ouçam a música mais de uma vez, atentamente, pois a percepção das duas vozes não acontece na primeira audição e requer muita concentração. Chame a atenção para o primeiro verso de cada estrofe, momento em que a primeira voz é cantada de modo bem agudo, facilitando a percepção das duas vozes. Como desafio, após várias audições, proponha também que eles ouçam a música tentando cantar só a primeira voz e, depois, somente a segunda. O ato de cantar acompanhados da gravação, mesmo que apenas em alguns trechos, também contribui para o apuro na percepção das vozes.

Ao som da viola

Ao longo de sessenta anos de carreira, Tonico e Tinoco gravaram 83 álbuns, e entre as canções mais conhecidas da dupla estão “Tristeza do Jeca” e “Chico Mineiro”. Essa dupla se tornou uma das mais conhecidas da música sertaneja e até hoje é uma referência para outros cantores desse estilo musical.

A dupla Tonico e Tinoco popularizou a moda de viola, estilo musical que, de acôrdo com alguns especialistas, deu origem à música sertaneja. A moda de viola é um tipo de canção de ritmo recitativo, em que se conta uma história geralmente relacionada a aspectos do dia a dia dos trabalhadores rurais, como o cotidiano dos boiadeiros, os causos e as histórias de amor.

Fotografia. Grupo musical formado por nove homens. Eles estão sentados sobre um palco. Da esquerda para direita, dois homens tocam tambor, um homem toca um pandeiro, um homem toca um triângulo, e cinco homens tocam violão. Em frente ao palco, o público assiste sentado à apresentação.
Apresentação de moda de viola em Serro (Minas Gerais), em 2012.

As modas de viola, em geral, são cantadas em duas vozes e acompanhadas pelos solos de viola caipira.

Fotografia. Viola de dez cortas e corpo bege com ilustrações de flores finas.
Viola caipira criada pelo músico e luthier Braz da Viola, em São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos (São Paulo), 2010. Curva superior (menor): 25 centímetros; cintura: 20 centímetros; curva inferior (maior): 36 centímetros.

A viola caipira é um instrumento musical de cordas que se originou da viola, instrumento criado na Europa e trazido para o Brasil pelos colonizadores europeus. Um pouco menor que o violão, esse instrumento tem cinco ou seis pares de cordas de metal. Esses pares de cordas são afinados na mesma nota e tocados juntos, como se formassem uma só corda.

Agora ouça o áudio “Solo de viola caipira”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Os trabalhadores rurais são encontrados em todas as regiões brasileiras. Cada região possui elementos culturais que constituem a identidade daquela localidade.
    1. Converse com diferentes adultos sobre quais são as referências musicais que os trabalhadores rurais da sua região apreciam.
    2. Organize uma lista de músicas que essas comunidades escutam e compartilhe o repertório musical com os colegas da turma.
Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que as letras das modas de viola descrevem e enaltecem, de maneira nostálgica, a vida no campo e normalmente contam histórias de amor ou anedotas envolvendo personagens como lavradores e boiadeiros.

Se possível, apresente mais informações sobre a chamada cultura caipira. O texto “A cultura caipira”, disponível nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual, aprofunda esse tema.

Foco na linguagem

Esta atividade necessita ser realizada em casa. Organize uma data para a apresentação das informações coletadas. Sugira aos estudantes também, se possível, que visitem duplas ou grupos artísticos que se dediquem à música que represente a identidade da sua região.

Vale ressaltar a relevância da possibilidade de esses grupos ou duplas se apresentarem no espaço escolar. Se necessário, prepare uma lista de referências que tenha relação com as manifestações folclóricas da sua região para facilitar a pesquisa dos estudantes.

O pioneirismo da dupla As Galvão

A viola caipira também é o principal instrumento musical utilizado nas canções da dupla As Galvão, uma das primeiras duplas compostas exclusivamente de mulheres que ganharam espaço e se firmaram na música sertaneja.

Por muito tempo conhecida como Irmãs Galvão, a dupla estreou em 1947 e tem como integrantes as irmãs Méri Galvão e Marilene Galvão.

Além de cantoras, elas são instrumentistas – Mary toca acordeão e Marilene, viola. Em 1955, elas lançaram o primeiro disco. Nesse período, a dupla fez muito sucesso nos programas de rádio e, depois, em programas de música sertaneja na televisão. As Galvão consolidou seu trabalho e tem em seu repertório mais de trezentas canções gravadas ao longo da carreira.

Ouça o áudio “’Magia da viola’, de Méri Galvão e Mário Campanha, com a dupla As Galvão”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Magia da viola

“Não sei explicar

A estranha magia do teu olhar

Me prende, me agita

Que coisa bonita me falta o ar

Das mãos as carícias

O som da viola me faz transpirar

Me enrosco em teus braços

Buscando a certeza do amor num olhar

(2X)

Violeiro, meu bom companheiro

Me ajude a rimar

Viola, meus olhos nos olhos

De um bom violeiro me ajude a cantar

Assim sou criança

Mulher esperança, esperando amanhã

Sou vento que se embala

Mulher que se cala eu sou sua fã

Das mãos as carícias

O som da viola me faz transpirar

Me enrosco em teus braços

Buscando a certeza do amor num olhar.”

GALVÃO, Méri; CAMPANHA, Mário. Intérpretes: Irmãs Galvão. In: Irmãs Galvão. Raízes da música sertaneja. Rio de Janeiro: Warner Music Brasil, 2000. Faixa 14.

Fotografia. Duas mulheres brancas e idosas estão com a boca aberta e seguram microfones. A da esquerda tem cabelos castanhos curtos  e veste blusa vermelha e saia estampada. A da direita tem cabelos loiros curtos e veste blusa laranja e marrom e calça bege.
As Galvão durante o programa especial Viola, Minha Viola, em São Paulo, em 2010.
Respostas e comentários

Contextualização

Ao ouvirem a canção gravada pela dupla As Galvão, chame a atenção para a presença das duas vozes femininas, uma mais aguda e outra mais grave. Aproveite para esclarecer que os conceitos de grave e agudo são relativos, ou seja, embora tenhamos a tendência de considerar os sons com frequências altas agudos e os sons com frequências baixas graves, na comparação entre dois sons diferentes, tenham eles frequências altas ou baixas, sempre haverá um mais grave e outro mais agudo. No caso das vozes humanas, a voz masculina geralmente é mais grave do que a feminina, mas, entre as vozes masculinas, por exemplo, há as mais agudas e as mais graves.

O mesmo vale para os parâmetros de intensidade (forte e fraco) e duração (curto e longo).

Artista e obra

Orquestra Paulistana de Viola Caipira

A Orquestra Paulistana de Viola Caipira foi fundada em 1997. Embora a orquestra contenha outros instrumentos musicais, a viola caipira é o elemento central das apresentações. Todas as músicas do repertório do grupo, inclusive as eruditas, são executadas com esse instrumento.

Os objetivos dos integrantes da orquestra são a pesquisa, a valorização e a difusão da cultura caipira. O grupo realiza, por exemplo, a gravação de letras e de arranjos de modas de viola tradicionais como fórma de preservá-los.

Uma das marcas da Orquestra Paulistana de Viola Caipira é a diversidade do repertório. Além de modas de viola, o repertório inclui canções da Música Popular Brasileira (ême pê bê) e composições de músicos eruditos.

Ouça o áudio “Trecho do 1º movimento do 1º concerto: ‘Primavera’, da peça musical As quatro estações, de , com a Orquestra Paulistana de Viola Caipira”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Fotografia. Palco com vários músicos sentados lado a lado, tocando instrumentos de cordas. À frente deles há um homem em pé, de cabelo preto, vestindo camisa e calça pretas, segurando uma batuta e com os braços abertos, regendo a orquestra.
Apresentação da Orquestra Paulistana de Viola Caipira em São Paulo (São Paulo), em 2013.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Ouça, agora, o áudio “1º movimento do 1º concerto: ‘Primavera’, da peça musical As quatro estações, de ”, uma gravação da versão original dessa mesma peça musical e responda: quais são as principais diferenças entre essa versão e a que você ouviu anteriormente? Comente com os colegas.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Respostas e comentários

Foco na linguagem

1. O objetivo da atividade proposta é ampliar o conhecimento e as referências musicais dos estudantes. Forneça algumas informações sobre o concerto original do compositor barroco Antonio Vivaldi (1678-1741). Comente que a peça As quatro estações é formada por um conjunto de quatro concertos, e cada um deles (Primavera, Verão, Outono e Inverno) remete a uma estação do ano. Na partitura original para violino solista e orquestra de cordas eruditas (violino, viola de arco, violoncelo, contrabaixo acústico e cravo), cada um desses concertos vem acompanhado de um soneto que fala da respectiva estação. Proponha também a audição da versão original desse concerto a fim de que os estudantes percebam as diferenças de timbre entre a Orquestra de Viola Caipira e uma Orquestra de Cordas de música erudita desse período.

Espera-se que os estudantes identifiquem diferenças na instrumentação.

A música sertaneja

Como vimos nas páginas anteriores, a moda de viola está na origem da música sertaneja. É justamente por isso que, por muito tempo, seguindo a tendência das modas de viola, a música sertaneja caracterizou-se pelas canções cujas letras tratavam do campo, acompanhadas por solos de viola. As canções produzidas nessa fase fazem parte do estilo sertanejo raiz.

Entre os representantes do sertanejo raiz estão os irmãos José Ramiro Sobrinho (1939­‑2010) e Ranulfo Ramiro da Silva (1942-1999), conhecidos como Pena Branca e Xavantinho. Muito cedo, eles desenvolveram o gôsto pela viola e logo começaram a cantar em dupla.

O primeiro nome da dupla foi Xavante e Xavantinho. O nome Pena Branca e Xavantinho surgiu em 1970 e permaneceu até 1999, quando a dupla deixou de existir após a morte de Xavantinho.

A letra reproduzida a seguir foi composta por Xavantinho. Leia-a e ouça uma gravação original dessa canção no áudio “‘Rancho triste’, de Xavantinho, com a dupla Pena Branca e Xavantinho”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Rancho triste

“Seu moço, lá na roça ainda existe

Um ranchinho muito triste

Porque não tem morador

Um dia o lavrador cheio de filhos

Deixou a roça de milho

E pra cidade se mudou.

Pensando ser feliz mais que na roça

Deixou a sua palhoça

Pra morar no arranha-céu

Mas tudo não passou de um sonho antigo

Hoje sem lar, sem abrigo

Desempenha o seu papel.

(2X)

E a morena tem saudade da viola

E o caboclo tem saudade do sertão


E hoje, sem terra e sem moradia

Vive na periferia

Solitário e sem razão

Agora nem João, nem Maria

Só revolta todo o dia

Na procura do seu chão.

E aquele rancho triste lá no mato

Espera seu filho nato

Pra de novo ser feliz

A volta pro sertão de um sertanejo

É maior que um desejo

É viver e ser feliz.

(2X)

E a morena tem saudade da viola

E o caboclo tem saudade do sertão.”

XAVANTINHO. Rancho triste. Intérpretes: Pena Branca e Xavantinho. In: Pena Branca e Xavantinho: violas e canções. Vela Produções Artísticas Musicais e Comércio limitada., 1993. Lado A. Faixa 5.

Fotografia. Dois  homens negros tocando viola. O da esquerda tem cabelos curtos e veste camisa xadrez e calça azul.  O homem da direita tem cabelos curtos e cavanhaque. Ele sorri. Ao fundo, árvores e uma cerca.
A dupla sertaneja Pena Branca e Xavantinho. Fotografia de 1987.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Que aspecto social é abordado na canção “Rancho triste”? Seguindo a orientação do professor, discuta essa questão com os colegas.

Respostas e comentários

Contextualização

Explique aos estudantes que a moda de viola se transformou em música sertaneja por volta da década de 1920. No entanto, essa denominação passou a ser utilizada somente por volta de 1950. Esse processo foi consequência do êxodo rural, ou seja, da transferência dos trabalhadores do campo para os grandes centros urbanos. Os temas nostálgicos passaram a ser predominantes nas canções do gênero, assim como a idealização do mundo pastoril, visto que essas pessoas se distanciaram de seu local de origem. Comente que a canção “Rancho triste” é um exemplo dessa realidade.

Ressalte o fato de que o áudio “‘Rancho triste’, de Xavantinho, com a dupla Pena Branca e Xavantinho” traz uma gravação original da canção pela dupla Pena Branca e Xavantinho.

Se julgar oportuno, após a audição, proponha aos estudantes um exercício de percepção. Peça a eles que tentem perceber se essa canção é cantada em uníssono (os dois cantores cantam juntos a mesma melodia) ou se há mais de uma voz (uma melodia principal – primeira voz – e uma melodia secundária – segunda voz −, que acompanha a melodia principal). Auxilie os estudantes a perceberem que, embora os cantores estejam cantando juntos a mesma letra, na verdade eles cantam a duas vozes (uma mais grave e outra mais aguda).

Foco na linguagem

1. Espera-se que os estudantes comentem que a música aborda os problemas decorrentes do crescimento acelerado da população urbana, com destaque para a falta de moradia. Explique-lhes que, além disso, outros problemas decorrentes da rápida urbanização são a falta de saneamento básico e de transporte público, a violência etcétera

Do sertanejo raiz ao sertanejo universitário

Com o passar do tempo, a música sertaneja modernizou-se. A viola passou a dividir espaço com instrumentos como o acordeão, o violão e a guitarra elétrica, e as histórias de amor foram se tornando um tema cada vez mais comum das composições.

Influências internacionais também contribuíram para as mudanças ocorridas na música sertaneja. A guarânia, um estilo musical tradicional do Paraguai, e o country estadunidense, por exemplo, ao longo dos anos, promoveram modificações melódicas e temáticas na música sertaneja.

Na década de 1980, com a formação da dupla Chitãozinho e Xororó e, posteriormente, na década de 1990, com o surgimento das duplas Zezé Di Camargo e Luciano e Leandro e Leonardo, a música sertaneja se popularizou ainda mais e se tornou um dos principais produtos da indústria fonográfica brasileira.

Fotografia. À esquerda, um homem de chapéu branco vestindo camisa branca, calça jeans e casaco marrom toca um violão em frente a um microfone. À direita, um homem de cabelo castanho, vestindo casaco preto e calça jeans azul-marinho toca um banjo. Ao fundo do palco, cenário em tons de vermelho escuro iluminado por fachos de luz branca.
Chitãozinho e Xororó em apresentação em São Paulo (São Paulo), em 2018.

A partir do ano 2000, a música sertaneja recebeu novas in­fluências que culminaram no surgimento do sertanejo universitário. Essa denominação deve-se ao fato de muitas duplas desse estilo musical terem se tornado conhecidas em festivais de música realizados em universidades das regiões Centro-Oeste e Sudeste do país. No sertanejo universitário, diferentes estilos e ritmos, como o rock, o axé e o pagode, são combinados com a música sertaneja tradicional.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Registre em seu diário de bordo quais são as duplas ou artistas solos que, atualmente, são expoentes da música sertaneja. Em seguida, anote também quais são os principais locais em que esses musicistas são escutados, como: rádios, festas, internet, entre outros. Você considera que esse estilo musical faz sucesso, atualmente, na grande mídia ou não é reconhecido no cenário musical? Justifique a sua resposta.

Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que o processo de transformação musical é constante, e as novas gerações agregam aos ritmos do passado novas influências e tecnologias, como os instrumentos elétricos. Diga-lhes que, nas décadas de 1980 e 1990, a música sertaneja passou a ocupar lugar de destaque na indústria fonográfica. Foi realizado grande investimento publicitário e de marketing para a promoção dos cantores. Atualmente, no sertanejo universitário, ocorre a mescla da música sertaneja com ritmos de diferentes origens, até mesmo os internacionais, como o rock e o countryestadunidense.

Foco na linguagem

1. Com os estudantes, faça uma consulta de quais são as referências musicais sertanejas da turma e, se possível, promova uma apreciação musical dos artistas comentados.

Explique que um artista expoente é aquele que tem notoriedade no ramo musical ou reconhecimento pelo grande público. Destaque que as músicas mais conhecidas são aquelas disponibilizadas e consumidas em massa nos principais meios de comunicação e divulgação musical (rádio, televisão e internet). Consequentemente, esses artistas são os mesmos que realizam a maior circulação nacional e shows, já que têm mais fãs. Esse sistema é resultado de uma indústria cultural que constrói e movimenta o cenário cultural de massa.

Espera-se que os estudantes observem ainda que haja certas variações regionais, que a música sertaneja é um dos estilos mais escutados no Brasil, com vários artistas e composições sendo lançados constantemente.

Entre textos e imagens

Invasão feminina na música sertaneja

reticências Das Irmãs Galvão [hoje chamadas As Galvão] e Inezita Barroso a Roberta Miranda e Paula Fernandes, a presença feminina no sertanejo sempre se deu de miliampér esporádica, apoiada mais no talento individual do que numa busca coletiva por espaço. Porém, nos últimos anos as mulheres começaram a dominar as paradas de sucesso do gênero musical que agrada milhões de pessoas de Norte a Sul do Brasil. Esse novo cenário emerge no momento em que o empoderamento feminino e a igualdade entre homens e mulheres ganham fôrça e espaço de discussão na sociedade.

Se pegarmos qualquer lista das canções sertanejas mais tocadas nas rádios do país, com certeza encontraremos hits consagrados de artistas como Marília Mendonça [1995-2021], Maiara e Maraísa, Simone e Simaria. [Ao] conquistarem seu espaço num universo até então dominado só por homens, as mulheres já quebrariam um estereótipo e um preconceito. reticências

O sertanejo ganha vozes femininas a cada dia; está crescendo, e isso é bom, ter alguém que represente as mulheres neste universo. Mas isso é só o começo. E a música sertaneja só tem a agradecer.”

ROBERTO, Zé. Invasão feminina na música sertaneja. Marília Mendonça, Maiara e Maraísa estão na linha de frente. Jornal Opção, 30 junho 2017. Disponível em: https://oeds.link/i7Nx20. Acesso em: 23 maio 2022.

Fotografia. Mulher branca, de cabelos longos e castanhos, de vestido dourado e brilhante. Ela segura um microfone com a mão direita diante da boca aberta. Ao lado dela, mulher branca, de cabelos longos e pretos, vestindo macacão prateado e brilhante. Ela segura um microfone com a mão esquerda  diante do corpo.
Show da dupla Simone e Simaria em São Paulo (São Paulo), em 2017.

Faça no diário de bordo.

Questões
  1. De acôrdo com o texto, por que é importante a conquista das mulheres no universo da música sertaneja?
  2. Como essas conquistas na música sertaneja contribuem para o empoderamento feminino?
Respostas e comentários

Entre textos e imagens

Pergunte aos estudantes se eles conhecem o termo estereótipo. Incentive-os a responder livremente. Depois, comente que, nesse contexto, essa palavra se refere ao fato de, no universo da música sertaneja, até há algum tempo, o predomínio ter sido masculino. Como as mulheres conquistaram seu espaço na música sertaneja, acabaram rompendo com essa predominância, abrindo espaço para as intérpretes mulheres nesse gênero musical.

Questões

1. Incentive os estudantes a responder com base no texto. Depois, comente com eles que a conquista feminina na música sertaneja configura uma conquista maior da sociedade e que hoje as mulheres passaram a dominar os sucessos desse gênero musical.

2. Pergunte aos estudantes se eles já ouviram o termo empoderamento. Em caso afirmativo, pergunte em que circunstâncias. Depois, comente que, por meio do empoderamento, pessoas ou grupos tentam obter mudanças de âmbito social e cultural. Conclua que as conquistas das mulheres no universo da música sertaneja contribuem para discutir a igualdade entre homens e mulheres.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

 

 Com a orientação do professor, agora você vai participar de uma atividade de canto com um grupo de colegas. Para isso, acompanhe as etapas a seguir.

  1. Forme um grupo com sete colegas.
  2. Organizem uma lista de canções que gostariam de cantar. Façam um estudo da origem da canção, dos artistas envolvidos (compositores e intérpretes) e do estilo.
  3. Realizem uma votação para escolher uma dessas canções para apresentar para a turma em sala de aula. Procurem também gravações distintas da mesma canção, caso haja, para obter mais referências.
  4. Agora é hora de ensaiar. Com o grupo, cantem algumas vezes a canção escolhida, para que todos os integrantes aprendam a letra e a melodia.
  5. Criem algum tipo de acompanhamento com percussão corporal para acompanhar a canção.
  6. Essa percussão pode ser acompanhada de uma coreografia, ou seja, de uma série de movimentos que sejam previamente estabelecidos por vocês.
  7. Apresentem a canção escolhida por vocês.
Fotografia. Quatro meninas e quatro meninos lado a lado, com a boca aberta em movimento e as mãos sobre o peito.
Atividade de canto com um grupo de estudantes. Fotografia de 2018.

Avaliação

Para finalizar o estudo deste Tema, reflita sobre essa atividade. Considere as experiências vivenciadas e responda no diário de bordo às questões a seguir.

Ilustração. Ícone Diário de bordo.
  1. Como foi a experiência de escolher uma música e cantá-la em grupo?
  2. Cite uma situação em que, como na atividade prática anterior, você cantou em uníssono com outras pessoas.
Respostas e comentários

Aquecimento para a atividade 

Na página 66, os estudantes vão realizar uma atividade de canto. Assim, se possível, oriente-os quanto à importância do aquecimento vocal. Explique que, como nós cantamos com nosso corpo, e diversos músculos estão relacionados a essa atividade, também é necessário realizar aquecimentos para flexibilizar a voz e evitar possíveis danos causados por tensões ou mau uso do trato vocal. Leia, a seguir, alguns exemplos de aquecimento vocal.

Exercícios de respiração que envolvam a sonorização por meio da fricção dos lábios e da língua: brrrrrrrrr, variando as alturas.

• Recitar trava-línguas em velocidades diferentes, buscando a melhor articulação possível e exagerando na dicção.

• Cantar uma canção de uma maneira confortável do ponto de vista da emissão vocal, isto é, de modo que seja possível cantá-la sem tensões ou desconfortos vocais. Em seguida, caso seja possível, cantar novamente a mesma canção explorando timbres variados da voz, executando-a tanto de modo mais grave (comumente conhecida como “voz grossa”) quanto de fórma mais aguda (comumente conhecida como “voz fina”).

Experimentações

Oriente os estudantes a fazer a lista de canções, a buscar a origem e o estilo delas.

Nesta atividade, auxilie-os na escolha das músicas debatendo todos os assuntos envolvidos, com especial atenção para a letra das canções. Verifique também a viabilidade de ouvir a canção escolhida, priorizando aquelas de realização simples e procurando indicar também novas referências do estilo musical escolhido. Procure gravações para que os estudantes possam cantar com algum tipo de acompanhamento musical.

Na internet é possível localizar também playbacks da canção escolhida, isto é, mídias que tenham somente os instrumentos da canção sem a voz do cantor, como em um caraoquê. Fique atento à tonalidade da canção escolhida, garantindo que os estudantes a alcancem para evitar algum tipo de desgaste vocal desnecessário com gravações muito agudas ou muito graves. Retomando o conhecimento adquirido nesse Tema, chame a atenção para o fato de que eles cantam em uníssono, isto é, todos cantam juntos a melodia da canção.

Se julgar oportuno, retome o conceito de percussão corporal apresentado no Tema 1. Além da percussão, é fundamental que os estudantes possam articular música e movimento. Assim, caso seja necessário, ajude-os na definição dos “passos” da coreo­grafia que acompanhará a apresentação.

Se for possível, organize uma apresentação na escola, como fórma de incentivar os estudantes a ensaiarem. É importante lembrar que a finalidade da apresentação também deve se voltar aos interesses da turma para não se tornar uma atividade sem a participação significativa dos estudantes. Outra possibilidade é finalizar a atividade com uma gravação audiovisual.

Avaliação

Incentive os estudantes a falar do processo, estimulando, assim, a reflexão acerca da experiência vivida. Incentive-os ainda a estabelecer relações entre situações vividas fóra da escola e a atividade prática realizada. Observe se eles conseguiram criar a proposta em grupo de modo pacífico e organizado. Avalie como desenvolveram e aprimoraram a coordenação motora, individualmente, associada ao canto e à percussão corporal com sincronia.

Glossário

Aguada
: lugar onde há água potável.
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Barreado
: de paredes cobertas de barro.
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Pau a pique
: parede feita com ripas e coberta de barro.
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Paiol
: local de armazenagem de produtos agrícolas.
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Cocho
: local onde os animais se alimentam.
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Baio
: de cor castanha.
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Taquara
: planta de caule oco.
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Pontear
: dedilhar.
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