Tema 3 A experiência do canto coletivo
O canto gregoriano
Na atividade proposta no final do Tema 2, você experimentou cantar com os colegas, formando um pequeno coro. Em português, os termos coro e coral são sinônimos e são utilizados para se referirem a um grupo de cantores que se apresentam juntos.
A palavra coro tem origem no termo grego córos, que significa “canto em conjunto”. Na Grécia antiga, o canto coletivo fazia parte das festas em homenagem ao deus Dionísio e, muitas vezes, era acompanhado de danças e de declamações poéticas. Observe a ânfora na fotografia e note que as pinturas feitas nela mostram um coro formado por cinco homens.
Uma das fórmas mais tradicionais de canto coral que se desenvolveu ao longo da história e ainda se mantém é o canto gregoriano, gênero musical característico dos rituais católicos.
Criado na Idade Média, o canto gregoriano recebeu esse nome em homenagem ao papa Gregório ih (540-604). Inicialmente, o canto gregoriano consistia em um estilo de música vocal com apenas um tipo de voz, todos os cantores cantando em uníssono, e de caráter sereno e calmo.
Esse tipo de canto em uníssono e sem acompanhamento instrumental é chamado de monodia ou monofonia.
Ouça o áudio “Canto gregoriano”.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Respostas e comentários
Objetivos
• Conhecer a música coral e sua história, sobretudo o canto gregoriano.
• Perceber a diferença entre monofonia e polifonia.
• Entender o que é escritura musical e identificar os elementos e as informações de uma partitura.
• Experimentar a criação de audiopartitura.
• Conhecer diferentes tipos de coral e perceber as suas distintas vozes, assim como a importância da regência para os corais.
• Vivenciar o canto coletivo.
• Experienciar a criação de obras artísticas de fórma coletiva.
• Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.
Habilidades favorecidas neste Tema
(ê éfe seis nove á érre zero um), (ê éfe seis nove á érre um seis), (ê éfe seis nove á érre um sete), (ê éfe seis nove á érre um oito), (ê éfe seis nove á érre um nove), (ê éfe seis nove á érre dois zero), (ê éfe seis nove á érre dois dois), (ê éfe seis nove á érre dois três), (ê éfe seis nove á érre três um), (ê éfe seis nove á érre três dois), (ê éfe seis nove á érre três três) e (ê éfe seis nove á érre três cinco).
Contextualização
Durante a audição de “Canto gregoriano”, mostre aos estudantes como os cantores entoam uma melodia com poucas variações de altura e permanecem em uma região vocal média, de tal modo que as palavras (em latim) possam ser ouvidas com facilidade. Comente com eles que o canto gregoriano surgiu na Idade Média, período da história da Europa que se estende do século cinco ao século quinze em que a Igreja católica detinha grande domínio e influência da sociedade.
A música cristã
Na Igreja cristã primitiva, as canções entoadas tinham diversas origens: reuniam elementos de músicas judaicas e de canções profanas de outras culturas, como a grega e a romana. De muitas dessas canções foram conservadas apenas as letras, pois as melodias se perderam. Algum tempo depois, os monges católicos passaram a registrar as melodias em pergaminhos. Nos primeiros séculos da Igreja cristã, os fiéis participavam dos cultos cantando, batendo palmas, dançando discretamente ou tocando algum instrumento. A partir do século cinco, com a expansão do Cristianismo, a Igreja procurou uniformizar o culto, e o papa Gregório primeiro (540-604) determinou que em todos os cultos deveriam ser tocadas as mesmas músicas. Nessa época, a Igreja proibiu a execução de instrumentos musicais nas cerimônias religiosas, determinando que as canções deveriam ser apresentadas apenas com a voz – considerada uma criação divina.
Se julgar oportuno, chame a atenção para a pintura reproduzida nesta página e comente que, após sua morte, o papa Gregório I foi canonizado e recebeu o título de São Gregório Magno.
A monofonia e polifonia
Você deve ter percebido na audição desse áudio que, no canto gregoriano, há poucas variações de som: não há grandes saltos nem intervalos muito espaçados entre as notas. Por ser constituído de apenas uma melodia, o canto gregoriano é classificado como música monofônica.
Com o passar do tempo, os músicos cristãos passaram a compor músicas que reuniam mais de uma melodia, chamadas polifônicas. Nas músicas polifônicas várias vozes soam ao mesmo tempo e se combinam em diferentes melodias. Com o desenvolvimento da música polifônica, também surgiu a necessidade de a escrita musical se tornar mais precisa e o ritmo passou a ser registrado nas partituras também com mais exatidão.
Ouça o áudio “Diferença entre monofonia e polifonia” para compreender a diferença entre elas.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
- Ouça novamente o áudio "Diferença entre monofonia e polifonia" e responda.
- Qual é o instrumento musical utilizado nesse áudio? Você conhece essa música? É a mesma música que está sendo tocada de fórma monofônica e polifônica?
- Assim como na gravação que você escutou, cante a canção escutada com os seus colegas, explorando essas duas possibilidades: a monodia e a polifonia. Se possível, grave ambas as práticas musicais para analisar a sua produção.
Respostas e comentários
Foco na linguagem
1. a) O instrumento utilizado na execução da música é o piano. A música, executada de fórma monofônica e polifônica, é a cantiga popular “Marcha, soldado”.
b) Organize a turma em dois grupos. Peça aos estudantes que cantem ao mesmo tempo a canção “Marcha, soldado”, a fim de vivenciar uma canção monofônica. Em seguida, peça a um dos grupos que inicie a canção primeiro; quando esse grupo começar a cantar o segundo verso (“quem não marchar direito”), o segundo grupo inicia, ao mesmo tempo, a mesma canção (a partir do primeiro verso), criando duas linhas melódicas distintas sobrepostas, para uma experiência polifônica. Explique aos estudantes que essa fórma de cantar uma mesma melodia de maneira intercalada, ou seja, cada grupo iniciando em um tempo diferente, é chamada de cânone e é muito explorada no canto coral. Depois, veja quais foram as impressões que tiveram e as dificuldades que enfrentaram nessas práticas.
Caso julgue necessário, retome com os estudantes o conceito de melodia. Chamamos de melodia uma sequência de sons que são ouvidos ou tocados um depois do outro, criando um sentido musical.
A polifonia
Comente com os estudantes que as primeiras obras polifônicas foram produzidas entre os séculos doze e treze e destaque a relação entre a música polifônica e a arquitetura gótica. Explique-lhes a importância do trabalho da Escola de Notre-Dame, nome atribuído a um grupo de músicos franceses que viveram entre os séculos doze e treze. Eles desenvolveram – simultaneamente à construção da catedral de Notre-Dame, no século doze – a música polifônica e registraram as peças que produziram nesse período. Os músicos da época também se preocuparam em desenvolver sons que se adaptassem à construção das catedrais góticas.
Ainda em relação à arte gótica, comente que ela se estabeleceu em meados do século doze e que revolucionou a arquitetura europeia. As igrejas góticas eram muito altas, com torres que apontavam para o céu. Outro elemento fundamental e característico das construções góticas é o arco ogival, composto de dois arcos que se encontram em fórma de lança. Com o arco ogival, a estrutura da construção tem maior capacidade de sustentação do peso, possibilitando a elevação do teto.
O canto coral
Você aprendeu que o canto coral é realizado desde os tempos mais antigos e que a escrita (ou o registro) musical que conhecemos atualmente foi criada por pessoas que praticavam uma das fórmas mais conhecidas de canto coral: o canto gregoriano.
Ao longo dos anos, o canto coral deixou de estar vinculado apenas a celebrações religiosas e, assim, surgiram corais com repertórios e formações variados. Atualmente, existem corais que cantam, por exemplo, canções de gêneros populares, como o samba e o rock.
Em relação à sua formação, há corais que têm apenas vozes infantis, corais somente com vozes de homens adultos ou com vozes de mulheres adultas ou, ainda, corais mistos. Os corais adultos ou com vozes mistas, em geral, são divididos em quatro grupos: os contraltos, os baixos, os sopranos e os tenores. Esses grupos de vozes são chamados naipes.
Respostas e comentários
Coral do Carmo do Recife
Se julgar oportuno, dê outras informações sobre o Coral do Carmo do Recife. Criado em 1949 pelo frei Pio Moreira, esse coral é composto apenas de vozes masculinas e teve como proposta inicial apresentar-se nas missas dominicais na Basílica do Carmo do Recife. Preservado ao longo dos anos, o acervo musical do coral revela um pouco da versatilidade desse grupo: peças sacras, eruditas e gregorianas diversificadas e raras. Hoje, o Coral do Carmo do Recife é uma referência em canto coral no Brasil. Um fato interessante é que, de sua formação original, de 1949, resta ainda um componente, o professor de latim aposentado Zildo Costa, que, com o regente Josias Gouveia, faz um trabalho de preservação musical.
Um coral misto
O Coral da Universidade Federal de Mato Grosso (ú éfe ême tê) é um exemplo de coral misto. Criado em 1980, esse coral atualmente é formado por contraltos, baixos, sopranos e tenores e desenvolve um trabalho de canto com os estudantes, os professores e a comunidade do entorno da universidade.
Dirigido pela regente e professora desde 1989, esse coral apresenta em seu repertório peças sinfônicas e música erudita, popular e regional.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
1. Acompanhado de um adulto, pesquise, em seu bairro e em lugares que você frequenta, locais em que, em geral, as pessoas cantam juntas (igrejas, praças, shows) e que tipo de música elas gostam de cantar. Depois, compartilhe suas descobertas na data agendada pelo professor.
Respostas e comentários
Foco na linguagem
1. Para esta atividade, esclareça que é importante que os estudantes estejam acompanhados de um adulto. Forneça previamente um roteiro para eles seguirem ao fazer a pesquisa. Ao organizar a proposta de pesquisa, agende uma data para a apresentação dos resultados, lembrando que essa atividade pode exigir determinado tempo dos estudantes fóra da escola. Sugira a eles que comecem pesquisando em seus respectivos bairros os espaços possíveis onde poderia haver grupos corais, como igrejas, escolas e ônguis. Para facilitar, a pesquisa pode ser realizada em grupos. Caso não sejam encontrados grupos corais na região, solicite aos estudantes que pesquisem na internet coros brasileiros diversos. Após a organização dos grupos, proponha que sejam recolhidos os seguintes dados:
a) Qual é o perfil dos integrantes do coral? (Crianças, adultos, coros profissionais, amadores etcétera)
b) Qual é o tipo de repertório do coro e de que fórma ele é executado? (Música sacra, popular, erudita, a capela, com acompanhamento de instrumentos etcétera)
c) Quais são as possíveis ra- zões que levam uma pessoa a participar de um coral?
Artista e obra
Na página anterior você viu uma fotografia de regendo o Coral da ú éfe ême tê. nasceu em São Leopoldo (Rio Grande do Sul) e se graduou em música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (u éfe érre gê ésse). Além de ser a regente desse coral, é professora na ú éfe ême tê. A seguir, você vai ler uma entrevista de .
“Entrevistador: , fale um pouco do coral que você rege atualmente: o estilo, os cantores e as apresentações.
Dorit Kolling: Atualmente sou regente do Coral da ú éfe ême tê, um grupo formado por alunos, professores, servidores técnicos, pessoas da comunidade em geral de Cuiabá e Várzea Grande, município vizinho à capital. Desenvolvemos um repertório variado, que vai do regional, passando pelo popular, pelo erudito e também sinfônico, que fazemos em conjunto com a Orquestra Sinfônica da ú éfe ême tê. O coral realizou inúmeros concertos e já participou de diversos encontros e festivais de coros em diversos estados do Brasil, além de cidades do Uruguai, da Argentina e do Paraguai.
Entrevistador: Qual é a importância da regência para o coral?
Dorit: Entendo que o regente é o líder que assume a função de mentor, não apenas técnica, mas também artisticamente, que necessita de condições para fazer prosperar a ‘ideia’ de desenvolver um trabalho coral. O regente deve ‘provocar/extrair’ dos cantores o elemento expressivo de cada um, o que resultará na expressividade do grupo todo, não ‘apagando’ as singularidades de cada voz, mas sim construindo o som coral desejado a partir da multiplicidade de timbres e ‘cores vocais’.
Entrevistador: O que alguém que queira reger um coral precisa saber?
Dorit: Robert L. , um importante autor e maestro que referencio em minhas aulas, afirma que o regente coral é, em primeiro lugar, um administrador, em segundo, um professor e, finalmente (e não menos importante), um regente. Assim, considero importante que, na formação e estudo de um regente, ele se dedique a essas áreas [mencionadas anteriormente]. A regência, no meu entender, é uma arte de múltiplas faces que necessita de um complexo trabalho de preparação. Além dos conhecimentos musicais gerais e de uma formação específica, o regente coral deve possuir características próprias de um ‘líder’, para dinamizar de modo conveniente o grupo, conduzindo-o firmemente para alcançar o objetivo proposto, que é o de se expressar por meio da música vocal.
Continua
Respostas e comentários
Artista e obra
Comente com os estudantes que, em geral, os corais são regidos apenas com as mãos, mas alguns regentes preferem usar a batuta (vareta para marcar o compasso) ao reger o coro.
Na fotografia, Dorit rege o Coral da ú éfe ême tê e orquestra usando a batuta.
Leia o texto com os estudantes, propondo a eles que façam inferências para destacar as informações mais importantes de cada pergunta e resposta. Por exemplo: no caso da pergunta “Caso alguém queira cantar em um coral, o que essa pessoa precisa saber para participar?”, quais palavras da resposta sintetizam a opinião da regente? Resposta: há várias possibilidades, entre elas a própria atividade vocal, mas também a convivência, a cooperação, a autoexpressão, a comunicação e o gôsto pela música.
Continuação
Entrevistador: O regente coral também pode reger outros tipos de agrupamentos musicais, como bandas e orquestras?
Dorit: O regente coral, se tiver formação, pode sim reger outros agrupamentos musicais como bandas e orquestras. No entanto, sempre é importante frisar que o estudo constante e a pesquisa são importantes em qualquer área. Cada tipo de agrupamento (coral, orquestra, banda) possui especificidades, e o regente, para que tenha êxito ou sucesso em seu trabalho, precisa conhecer e estudar essas características. Por exemplo: para um regente coral, além dos conhecimentos específicos de música, da técnica de regência, precisa conhecer a voz humana, pois ele trabalha diretamente com esta especificidade. Já o regente de orquestra precisa conhecer os instrumentos musicais e suas particularidades.
Entrevistador: Como você se prepara para os ensaios?
: O ensaio coral é o momento em que podemos estimular, nos coralistas, capacidades associadas à inteligência, à sensibilidade, à percepção auditiva, à capacidade vocal e ao senso rítmico. Paralelamente, o ensaio deverá dar prazer e relaxamento a cada coralista. Por isso, a preparação minuciosa do regente é de fundamental importância. O regente deve levar em consideração que um coral, em sua maioria, reúne pessoas de diversas características, interesses, habilidades e opiniões.
Entrevistador: Caso alguém queira cantar em um coral, o que essa pessoa precisa saber para participar?
Dorit: Cantar em coro traz consigo algumas premissas importantes. Inicialmente, pensamos em participar de um coro pela atividade musical vocal em si. No entanto, há muitas outras premissas e motivações que fazem com que pessoas queiram participar de um coro, por exemplo: a convivência social, o sentido de coletividade, a possibilidade de fazer novos amigos; o que reflete a função social da atividade coral, uma vez que é uma atividade integrativa e cooperativa; a função de expressão emocional da música, uma vez que se trabalha a sensibilidade, a liberação de emoções e sentimentos; a função de comunicação, uma vez que nos utilizamos da música, da canção, para expressarmos algo. [Mas] [...] penso que, acima de tudo, o principal requisito para uma pessoa participar de um coral é a vontade, o compromisso e gostar de música.
Entrevistador: Dorit, você teria alguma dica para os jovens que têm interesse em se tornarem regentes ou musicistas?
Dorit: Bem, penso que, assim como para qualquer área profissional, o jovem deve associar o interesse pela área (paixão, gosto, vontade) e o estudo. Tendo em vista essas duas vertentes, o jovem deve dedicar-se para que, com estudo e dedicação, possa se realizar profissionalmente e, no nosso caso, musical e artisticamente. Escolha cursos, escolas e/ou professores de referência, busque sempre participar de grupos musicais, ouça música, vá a concertos e apresentações. Invista em bons instrumentos, materiais e equipamentos.”
Entrevista concedida especialmente para esta Coleção, em junho de 2018.
A escrita musical
Em suas prováveis origens e durante muito tempo, as músicas estiveram associadas a rituais diversos e eram transmitidas oralmente de uma geração à outra, apoiadas apenas na memória coletiva. Nesse momento, não havia a preocupação de que essa transmissão se realizasse de maneira precisa em termos de alturas e durações dos sons, uma vez que a função da música era apenas acompanhar esses rituais.
Com o passar do tempo, porém, teve início, em algumas culturas, a preocupação com fixar e transmitir de modo mais preciso os sons. Para facilitar a transmissão dos conhecimentos musicais, os seres humanos, em determinadas partes do mundo, passaram a criar fórmas de registrar os sons que ouviam ou imaginavam para, posteriormente, poder reproduzi-los.
Na Antiguidade, diferentes povos utilizaram fórmas variadas de registrar os sons. Os gregos, por exemplo, usavam letras do alfabeto para fazer esse registro. Ao longo da história, no entanto, foram sendo desenvolvidas fórmas mais complexas de registro musical.
Por volta do século nove, na Europa, monges que praticavam o canto gregoriano decidiram inserir pequenos sinais gráficos sobre o texto para indicar as variações de altura da música. Esses sinais eram chamados neumas. Depois de algum tempo, os sinais passaram a ser incluídos sobre linhas horizontais. Observe um exemplo desse registro na imagem reproduzida a seguir.
Respostas e comentários
Contextualização
Comente com os estudantes que todas as fórmas de registro gráfico dos sons podem ser chamadas de notação musical. Explique-lhes que a mais antiga fórma de notação de que se tem notícia provavelmente foi realizada por meio de sinais manuais. Esse método era empregado, por exemplo, pelos egípcios na Antiguidade. Comente também que, provavelmente, os gregos desenvolveram o mais antigo registro musical gráfico de que se tem notícia: o “Epitáfio de Seikilos”. Datado do século I, esse registro musical grego foi gravado em uma pedra funerária e encontrado na região da atual Turquia. Se julgar oportuno, proponha aos estudantes uma pesquisa sobre antigas fórmas de registro musical.
A partitura
Os sinais criados pelos monges para representar as notas musicais deram origem, após várias transformações, à partitura, registro manuscrito ou impresso utilizado atualmente. Nas partituras, as notas musicais são representadas por sinais gráficos desenhados sobre cinco linhas horizontais e os espaços entre elas. Essas linhas formam um pentagrama ou pauta musical. As notas mais graves ficam nas linhas mais baixas e as notas mais agudas, nas linhas mais altas do pentagrama.
A partitura, assim como um texto, deve ser escrita e lida da esquerda para a direita. Observe o exemplo a seguir e ouça o áudio "Notas musicais".
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
No início de toda partitura existe um símbolo que indica uma nota de referência a partir da qual as demais alturas serão fixadas na pauta e receberão um nome (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si). Esse símbolo se chama clave e se localiza do lado esquerdo da partitura. A mais utilizada é a clave de sol, destacada na imagem a seguir.
Outras informações que constam de uma partitura são o título da música, o nome do compositor, a indicação do instrumento musical e o andamento, ou seja, a velocidade em que a música deve ser tocada. Observe essas informações na partitura reproduzida a seguir.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
- Agora que você conheceu alguns aspectos da partitura, que é uma fórma de registro musical convencional, vai ter a experiência de realizar um registro musical mais livre. Esse registro se chama audiopartitura.
- Com a orientação do professor, ouça uma música com os colegas.
- Procure fazer um registro gráfico em seu diário de bordo que possibilite lembrar elementos sonoros marcantes. Esse registro é livre e pode ser feito tanto por meio de desenhos figurativos quanto por sinais inventados, por exemplo.
- Depois, compartilhe o seu registro com os colegas, mostrando para eles como os elementos desenhados por você remetem aos sons ouvidos.
Respostas e comentários
Foco na linguagem
Esta atividade pode ser realizada tanto individualmente quanto em pequenos grupos. Previamente, com os estudantes, escolha a música que será ouvida por todos, preferencialmente instrumental, para que eles se fixem em aspectos sonoros musicais.
1. a) Proponha a audição inicial de uma música previamente escolhida pelos estudantes e por você.
b) Explique que a proposta é fazer um registro livre e pessoal dessa música considerando a sonoridade geral e/ou detalhes específicos ouvidos pelos estudantes. Reforce que o registro deverá auxiliá-los a, de algum modo se lembrar da música depois. Enquanto os estudantes estiverem trabalhando nos registros, deixe a música soando em um volume mais baixo.
c) Lembre-se de valorizar todas as fórmas de registro criadas pelos estudantes. Comente que essas fórmas de escrita criadas individualmente por eles são importantes para o desenvolvimento de uma audição musical mais acurada, porém pouco eficientes para o estabelecimento de um código de escrita musical mais preciso.
O objetivo desta atividade é levar os estudantes a elaborar uma proposta de registros criativos.
Indicação
Apresente aos estudantes partituras para que eles se familiarizem com essa fórma de registro musical. No site Sésqui Partituras, disponível em: https://oeds.link/b9KtOr (acesso em: 24 maio 2022), é possível consultar e baixar partituras para diversos instrumentos e estilos musicais, além de ouvir a execução de várias partituras apresentadas.
Artista e obra
Birds on the wires
Em 2009, o músico e publicitário Jarbas Agnelli usou recursos digitais para compor a música “Birds on the wires” (Pássaros nos fios, em português). Para criar essa obra, ele usou como referência uma fotografia de pássaros sobre fios de alta tensão, que ele viu em um jornal e que o remeteu à imagem de uma partitura. Observe a seguir uma reprodução dessa fotografia.
Nesse mesmo dia, Jarbas Agnelli decidiu transformar a fotografia em música e criou uma melodia com base na posição dos pássaros nos fios. Ele desejava ouvir a melodia que os pássaros estariam “criando” no momento daquela fotografia.
“Birds on the wires” integrou, em 2014, o Festival Internacional da Linguagem Eletrônica (File), um importante evento de “arte e cultura digital” realizado no Brasil.
Observe a seguir uma reprodução do trecho inicial da partitura.
Respostas e comentários
Artista e obra
Convide os estudantes a observar a fotografia que deu origem à composição e estabelecer relações entre as duas obras. Em seguida, se possível, apresente-lhes um vídeo que o artista criou com base nas duas obras.
No vídeo é possível perceber mais detalhes em relação à grafia musical, como o fato de que, quando os sons são tocados simultaneamente, em blocos, as notas são escritas “empilhadas”, ou seja, uma embaixo da outra. Esse vídeo pode ser acessado no site da File – Eletronic language international festival, disponível em: https://oeds.link/RENtDX. Acesso em: 24 maio 2022.
Por dentro da arte
Pautas musicais ilustradas
Os ilustradores russos Alêquissei e trabalham juntos em uma série de desenhos feitos sobre partituras musicais.
Nesse trabalho, Alexei e Lena ilustram cenas coloridas do cotidiano que, ao se confundirem com os elementos musicais que há originalmente na partitura (notas musicais, claves, linhas, entre outros), ganham uma nova dimensão compondo imagens divertidas e inusitadas.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
- Inspirado na obra de Alêquissei e Lena, siga as instruções a seguir e as orientações do professor.
- Selecione uma música que você escuta frequentemente em qualquer atividade do seu cotidiano fóra da escola.
- Tire fotografias (selfies) ou faça desenhos para criar um vídeo curto, utilizando essa música como trilha sonora e as imagens que você criou como material visual.
- Apresente a sua produção na data pré-estipulada.
Respostas e comentários
Por dentro da arte
Comente com os estudantes que, na pauta, o título em russo pode ser traduzido livremente como “criança” ou “brincadeira”, e que a expressão em italiano allegretto vivace, na terminologia musical, refere-se a um andamento moderadamente rápido.
Caso os estudantes tenham curiosidade, comente que se trata de uma partitura para piano. Nas partituras para esse instrumento, há sempre uma pauta dupla, pois o pianista toca notas diferentes com a mão direita e com a mão esquerda. Na pauta de cima (mão direita), geralmente se usa a clave de sol e são escritos os sons médios e agudos. Na pauta de baixo (mão esquerda), geralmente se usa outra clave, chamada clave de fá, e os sons grafados são graves e médios.
Foco na linguagem
Para essa proposta, verifique a familiaridade tecnológica e as condições dos estudantes.
Caso essa proposta seja inviável, ela pode ser convertida em uma atividade de desenho e produção de cartazes, associada à apreciação musical da obra selecionada.
Organize também uma data para a apresentação dos vídeos criados ou proponha fórmas de compartilhá-los entre os estudantes da turma.
Indicação
Atualmente, a relação entre linguagem visual e sonora tem se ampliado. Se considerar oportuno, explore com os estudantes algumas dessas interações.
• O site Google Arts e Culture possibilita a criação de músicas com base em imagens, como pinturas. A cada diferente combinação de elementos visuais, os sons emitidos se transformam. Disponível em: https://oeds.link/6pHRau. Acesso em: 25 março 2022.
• A reactable pode ser definida como um sintetizador visual. É uma tecnologia desenvolvida em uma universidade e já utilizada por muitos artistas, como a cantora biork, para produzir música a partir de uma mesa eletrônica, com luzes e símbolos que podem ser articulados e mobilizados para produzir e combinar sons. Disponível em: https://oeds.link/UdEgDL. Acesso em: 21 julho 2022.
Apresente essas referências em sala de aula e converse com os estudantes sobre como é cada vez mais fácil articular sons e imagens, para além das partituras musicais, com o uso de recursos eletrônicos.
Faça no diário de bordo.
Experimentações
• Com a orientação do professor, reúna-se com os colegas de turma. Vocês vão participar de uma atividade de canto coletivo. Para isso, sigam as instruções a seguir.
- Fiquem em pé e em silêncio. Orientados pelo professor, vocês vão pressionar com os dedos indicador e médio de uma das mãos o local do pescoço no qual se localiza a artéria carótida. Vocês vão sentir com os dedos as “batidas” (pulsação) do coração pelo período de um minuto.
- Depois, caminhem pela sala de aula. Essa caminhada deve seguir o ritmo da pulsação de seu coração. Vocês conseguem perceber que o ritmo da caminhada de alguns colegas é diferente do ritmo da sua caminhada? Em caso afirmativo, descrevam essas diferenças.
- Quando o professor solicitar, formem uma roda. O professor agora vai criar alguns ritmos. Vocês vão acompanhar esses ritmos batendo palmas ou estalando os dedos.
- Depois, o professor vai produzir um som usando a boca. Esse som deve ser imitado por todos os integrantes da roda. Cada um pode sugerir um som diferente a ser imitado pelo grupo.
- Agora, para finalizar esta atividade, vocês vão escolher uma canção que todos (ou a maioria) conheçam. Vocês vão cantar todos juntos, em roda, a canção escolhida, marcando o ritmo com os pés ou batendo palmas. Lembrem-se de respirar com tranquilidade e de deixar os braços soltos ao lado do corpo nesta atividade de canto. Ouçam a voz dos colegas enquanto vocês cantam e procurem perceber quais têm a voz mais grave e quais têm a voz mais aguda.
- Ao final da atividade, depois de terem cantado a canção, conversem com o professor e os colegas sobre como foi a experiência de cantarem juntos.
Avaliação
Para finalizar esta atividade, reflita sobre o aprendizado que obteve ao longo deste Tema. Depois, responda à questão a seguir.
a. Durante a realização da atividade, você percebeu diferenças e semelhanças entre as vozes dos integrantes de seu grupo? Escreva no diário de bordo o nome dos colegas de seu grupo que parecem ter a voz mais grave e o nome daqueles que parecem ter a voz mais aguda. Depois, você vai compartilhar essas respostas com os colegas, verificando se eles tiveram a mesma percepção que você teve. (Se vocês tiverem realizado algum tipo de registro no diário de bordo durante a atividade, podem recorrer a ele para responder a esta questão.)
Respostas e comentários
Experimentações
Nessa atividade, peça ajuda aos estudantes para arrastar as carteiras para as laterais da sala de aula a fim de deixar o espaço livre para a atividade.
a) Oriente os estudantes na localização do ponto no qual vão “sentir” com os dedos a carótida no pescoço (que fica na altura do pomo de adão – proeminência popularmente conhecida como “gogó”). Explique que eles devem deslizar o dedo para a lateral do pescoço, mantendo a mesma direção até a altura da orelha, e sentir a pulsação. Marque para a turma o tempo de início e de término em um relógio.
b) Pergunte aos estudantes por que esses ritmos são diferentes. Incentive-os a dizer as hipóteses que tiverem elaborado. Depois, comente com eles que cada pessoa tem um número de batimentos próprio: em algumas o batimento é mais rápido, em outras, mais lento.
c) Oriente os estudantes nessa etapa da atividade. Crie alguns ritmos diferentes (por exemplo, batendo palmas, batendo o pé no piso, batendo as mãos em alguma parte do corpo)
d) Crie algum som com a boca para ser imitado pelos estudantes. Esse som pode ser produzido, por exemplo, por movimentos de vibração dos lábios ou da língua, usando os efeitos de estalidos diversos, a partir de consoantes sonoras etcétera Dê preferência a sons sem altura definida.
e) Nessa atividade, é fundamental deixar os estudantes à vontade para cantar. Nessa faixa etária, é comum que eles se sintam envergonhados e refratários a esse tipo de atividade. Por essa razão, proponha a realização de cada um dos procedimentos da atividade. Aos poucos, eles vão se soltar e vão se permitir participar do canto coletivo.
f) Estimule os estudantes a contar como foi essa experiência, aproveitando para pedir a cada um que fale na sua vez, para não interromper o colega.
Avaliação
Os estudantes devem expor sua percepção e compará-la com a dos colegas.
Avalie como os estudantes se envolvem com a prática vocal, mantendo-se concentrados e empenhados para a melhor performance possível.
É provável que alguns não se interessem pelo canto ou se sintam constrangidos com a exposição. Nesses casos, sugira alternativas, como auxiliar na organização, nas gravações e nos registros da atividade, ou, se alguns deles tocarem um instrumento, realizarem o acompanhamento musical.
Faça no diário de bordo.
Pensar e fazer arte
• Durante esta Unidade, você foi convidado a experimentar práticas musicais vocais e de percussão corporal associadas à performance musical coletiva. Agora, está na hora de ampliar as apresentações em sala de aula para o restante do contexto escolar, produzindo um show de talentos vocais na sua escola. Com seus colegas, sigam as instruções a seguir e as orientações do professor.
- Verifiquem a possibilidade de datas e locais em que seja possível realizar esse evento.
- Façam uma pesquisa com os membros da comunidade escolar para saber quem possui alguma prática vocal individual ou coletiva (canta em uma banda, sozinho ou em um coral) e convide-o a participar de um show de talentos.
- Após a confirmação e a organização dos participantes, desenvolvam meios de divulgação para a formação de público. Podem ser criados cartazes ou pode ser realizada uma divulgação digital. Lembre-se de confeccionar materiais atrativos para chamar a atenção da plateia. Considere também convidar os familiares e os moradores do entorno da sua escola.
- No dia do evento, se possível, registre as apresentações em vídeo e divulgue nas plataformas digitais da sua escola.
Respostas e comentários
Pensar e fazer arte
Inicialmente, auxilie os estudantes a verificar a disponibilidade de espaço e datas viáveis para a realização do show de talentos. Não se esqueça de que é possível que alguns grupos necessitem de equipamento técnico específico (caixas de sons e instrumentos, por exemplo) situação que requer organização prévia ou adaptações.
Não é necessária a seleção de muitos grupos ou vozes para esse dia; além disso, caso haja poucas inscrições para as apresentações, elas podem ser realizadas em pequenos espaços e curto período, como o intervalo. O importante é a criação de espaços de execução e escuta musical, além de promover a integração dos estudantes.
Os próprios estudantes da sua turma podem aproveitar uma das canções que treinaram ao longo da Unidade para se apresentarem no dia do show. Auxilie-os na produção do material de divulgação do evento e, caso possível, nos equipamentos para gravação das apresentações.
A avaliação será pautada na participação e na capacidade de organização em grupo dos estudantes. Espera-se que haja envolvimento e que a comunidade escolar possa apreciar a execução de músicas “ao vivo” de fórma estimulada e participativa.
Faça no diário de bordo.
Autoavaliação
Ao longo desta Unidade, você conheceu mais alguns outros aspectos da linguagem musical.
Durante esse estudo, você foi apresentado a alguns instrumentos de percussão, teve a oportunidade de conhecer alguns grupos musicais que utilizam o corpo e alguns objetos do cotidiano para criar suas músicas.
Você também teve a oportunidade de criar e experienciar improvisações utilizando vozes e sons corporais, e teve contato com a classificação das vozes.
Conheceu ainda diferentes estilos de música e aprendeu noções da escrita musical. Você também conheceu uma partitura ilustrada e teve a oportunidade de realizar um registro musical livre.
Além disso, experimentou a realização de atividades de canto que o levaram a ter contato com esses conhecimentos em diferentes situações.
Todo esse aprendizado é muito importante para desenvolver o modo como você se relaciona com a linguagem musical em contextos variados.
Agora que chegamos ao final desta Unidade, é importante que pense nesse aprendizado e no percurso que realizou até este momento.
Reflita e responda em seu diário de bordo às questões a seguir.
- Cite a proposta desta Unidade de que você mais gostou. Mencione também a proposta que mais o ajudou a compreender a linguagem musical. Justifique sua escolha.
- Descreva o que você achou da experiência de participar das atividades de canto. Depois, compartilhe sua resposta com o professor e os colegas.
- Ao chegar ao fim desta Unidade, você considera que esse estudo mudou a maneira como você aprecia a música? Em caso afirmativo, explique como.
- Após ter estudado esta Unidade, reflita sobre o que poderia ajudá-lo a saber mais sobre música.
- De que modo os aprendizados da Unidade contribuíram para aprofundar a sua relação com as músicas das quais você gosta?
- A partir dos aprendizados e experiências da Unidade, como você acha que a música pode estar mais presente no espaço escolar?
- Você acha que a música o ajuda a pensar a sua vida em um sentido mais amplo? Se sim, por quê?
Respostas e comentários
Autoavaliação
Proponha aos estudantes que revisitem a Unidade e as atividades realizadas em cada Tema. Essa é uma oportunidade de refletir sobre o processo de aprendizagem da linguagem musical. Oriente-os a retomar as anotações que fizeram para responder às questões.
Aproveite para revisitar os objetivos de cada Tema e revisar as habilidades trabalhadas, de modo a verificar se a aprendizagem contemplou os objetos de conhecimento pertinentes ao ensino de música.
Se possível, retome algumas das propostas com eles, fazendo uso das anotações no diário de bordo para que os estudantes se lembrem das pesquisas, discussões, reflexões e experimentações.
Nesta Unidade, eles não discutiram apenas uma linguagem artística, mas também a sua relação com a vida de um modo mais amplo, com temas como o bullying, a saúde mental, as culturas indígenas e os direitos humanos, entre outros. Você pode ler as perguntas do livro em voz alta, em roda, e propor uma retomada desses temas.
Outro ponto a ser observado são as práticas de pesquisa implementadas, como seminário, uso de recursos digitais, criação de cartazes etcétera Os estudantes podem se autoavaliar tendo em vista os modos de organização e cooperação que cada um deles, individualmente, e os grupos precisaram colocar em andamento para concluir as propostas.
Por fim, não deixe de considerar que a autoavaliação oferecerá subsídios para você repensar a sua prática pedagógica para o desenvolvimento das competências e das habilidadespropostas. O que você faria diferente? Há lacunas de aprendizagem que poderão ser corrigidas ou revistas nas próximas Unidades? De que modo você pode adaptar as propostas para lidar com as necessidades específicas dessa turma?