Tema 3  Surrealismo nas artes visuais

Como você entende a palavra surreal? Acredita que a arte possa representar coisas que estão “para além do real”? Você acha que a arte pode representar, além da nossa imagem externa, o que sentimos e sonhamos?

Fotografia em preto e branco. Homem idoso de cabelos brancos, com as mãos atrás das costas, usando camisa branca, gravata e paletó escuro. Ele está à frente de um quadro emoldurado, em que há a pintura de uma pessoa de camisa branca, paletó escuro e um chapéu-coco, mas no lugar onde estaria a cabeça da figura há um espaço vazio.
renê magrite e uma de suas obras em 1965. Local desconhecido.

A palavra surrealismo deriva do termo francês surrréaliste. Essa palavra foi criada para designar algo que está “além da realidade”, ou seja, que ultrapassa a realidade.

Os surrealistas estabeleceram um modo diferente de interpretar o mundo e de se expressar artisticamente. Eles desejavam romper as barreiras entre a razão e a emoção, o sonho e a realidade, o consciente e o inconsciente.

Na imagem desta página, vemos renê magrite (1898-1967), que foi um dos principais artistas surrealistas. No entreguerras, em meados de 1920, o Surrealismo se consolidou como um movimento artístico na Europa – o que também podemos chamar de vanguarda. Inicialmente, foi um movimento literário, mas logo suas características se estenderam para áreas como pintura, música, teatro, cinema e fotografia.

Para ler

quérol líuis Alice no país das maravilhas. Tradução de Nicolau SEVITCHENCO.Ilustrações de Luiz Zerbini. São Paulo: Sesi-

Clássico da literatura universal, esse livro, escrito em 1865, portanto muito antes do surgimento do movimento surrealista, apresenta histórias e personagens que intrigam e causam estranhamento pelas situações imprevisíveis e absurdas enfrentadas por elas.

Respostas e comentários

Objetivos

Conhecer obras surrealistas e entender o contexto de surgimento do Surrealismo.

Conhecer técnicas surrealistas de criação visual.

Estabelecer comparações entre obras de arte de estilos diferentes.

Experienciar trabalhos artísticos de fórma individual.

Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre zero um), (ê éfe seis nove á érre zero dois), (ê éfe seis nove á érre zero quatro), (ê éfe seis nove á érre zero cinco), (ê éfe seis nove á érre zero sete), (ê éfe seis nove á érre três um), (ê éfe seis nove á érre três três) e (ê éfe seis nove á érre três cinco).

Contextualização

Até aqui, os Temas 1 e 2 basearam-se na representação da figura humana, nos seus diversos usos ao longo da história e, mais especificamente, no hiper-realismo, com as suas relações com a cultura visual das animações, cinema etcétera Nessa etapa, o Surrealismo é apresentado como um caminho próprio da arte para pensar o humano para além da fórma e da imagem. Ao longo da Unidade, algumas referências serão apresentadas, revelando como a dimensão humana da arte trabalha também emoções, desejos e medos.

Indague os estudantes sobre o que eles entendem por “surreal”. Peça que deem exemplos de coisas que parecem ir além da realidade, do compreensível.

Você pode propor uma leitura da imagem. O artista renê magrite, que aparece em frente à pintura, veste uma roupa parecida com a do sujeito da pintura, mas não há um sujeito na pintura. Nós podemos ver as roupas com um caimento realista, como se vestissem um corpo, mas não vemos o rosto de quem veste essa roupa. Como é possível que a pessoa que traja esse terno esteja e não esteja lá?

Vanguardas modernas

Com base nessa provocação, você poderá introduzir o que foi o movimento surrealista, uma vanguarda da arte moderna. Primeiro, explique que, desde o final do século dezenove e durante toda a primeira metade do século vinte, estavam em voga as vanguardas. Artistas se reuniam e, a partir de uma estética e de ideias específicas, definiam uma tipologia de produção artística que deveria reverberar uma nova concepção de arte. São muitas: Impressionismo, Expressionismo, Suprematismo, Fauvismo, Futurismo, Cubismo, Dadaísmo etcétera

O Surrealismo

Trata-se da vanguarda que emprestou as ideias da psicanálise – recém-criada por Sigmund fróid – para fazer da arte um campo de expressão do inconsciente, um espaço de livre pulsão, tal como os nossos sonhos.

A formalização do Surrealismo ocorreu com a publicação de um manifesto produzido pelo poeta André Breton (1896-1966), em 1924. Esse manifesto revelava o desejo de criar uma expressão artística que resgatasse as emoções e a liberdade de criação.

Faça no diário de bordo.

Entre textos e imagens

O Manifesto surrealista

Leia alguns trechos do Manifesto surrealista, escrito por André Breton (1896-1966) em 1924.

“Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoares.

Só o que me exalta ainda é a única palavra, liberdade. Eu a considero apropriada para manter, indefinidamente, o velho fanatismo humano. Atende, sem dúvida, à minha única aspiração legítima. Entre tantos infortúnios por nós herdados, deve-se admitir que a maior liberdade de espírito nos foi concedida. Devemos cuidar de não fazer mau uso dela. Reduzir a imaginação à servidão, fosse mesmo o caso de ganhar o que vulgarmente se chama a felicidade, é rejeitar o que haja, no fundo de si, de suprema justiça. Só a imaginação me dá contas do que pode ser, e é bastante para suspender por um instante a interdição terrível; é bastante também para que eu me entregue a ela, sem receio de me enganar (como se fosse possível enganar-se mais ainda). Onde começa ela a ficar nociva, e onde se detém a confiança do espírito? Para o espírito, a possibilidade de errar não é, antes, a contingência do bem? reticências

Agradeça-se a isso às descobertas de fróid. Com a fé nestas descobertas desenha-se afinal uma corrente de opinião, graças à qual o explorador humano poderá levar mais longe suas investigações, pois que autorizado a não ter só em conta as realidades sumárias. Talvez esteja a imaginação a ponto de retomar seus direitos. Se as profundezas de nosso espírito escondem estranhas forças capazes de aumentar as da superfície, ou contra elas lutar vitoriosamente, há todo interesse em captá-las, captá-las primeiro, para submetê-las depois, se for o caso, ao contrôle de nossa razão. Os próprios analistas só têm a ganhar com isso. reticências

Com justa razão fróid dirigiu sua crítica para o sonho. É inadmissível, com efeito, que esta parte considerável da atividade psíquica (pois que, ao menos do nascimento à morte do homem, o pensamento não tem solução de continuidade, a soma dos momentos de sonho, do ponto de vista do tempo a considerar só o sonho puro, o do sono, não é inferior à soma dos momentos de realidade, digamos apenas: dos momentos de vigília) não tenha recebido a atenção devida. A extrema diferença de atenção, de gravidade, que o observador comum confere aos acontecimentos da vigília e aos do sono, é caso que sempre me espantou. É que o homem, quando cessa de dormir, é logo o joguete de sua memória, a qual, no estado normal, deleita-se em lhe retraçar fracamente as circunstâncias do sonho, em privar este de toda consequência atual, e em despedir o único determinante do ponto onde ele julga tê-lo deixado, poucas horas antes: esta esperança firme, este desassossego. Ele tem a ilusão de continuar algo que vale a pena. O sonho fica assim reduzido a um parêntese, como a noite. E como a noite, geralmente também não traz bom conselho.”

BRETON, André. Manifesto surrealista, 1924. Disponível em: https://oeds.link/C4enCV Acesso em: 18 fevereiro 2022.

Questão

1. Converse com os colegas sobre os trechos lidos. O que eles parecem representar?

Respostas e comentários

Entre textos e imagens

A escrita de manifestos foi bastante utilizada pelas vanguardas europeias para delimitar e divulgar as ideias de cada movimento artístico. Explique aos estudantes que um manifesto artístico é como um texto protesto, que propõe uma revolução nos modos de fazer arte.

Leia o texto do manifesto surrealista com eles destacando ao que o manifesto se direciona: à imaginação!

Detenha-se em cada uma das palavras-chaves de cada trecho destacado: liberdade; imaginação; razão; sonho.

Pergunte aos estudantes o que compreendem de cada parágrafo, mas com atenção aos trechos destacados e a essas palavras.

Pergunte a eles: o que a arte tem a ver com cada uma dessas palavras: liberdade, imaginação, razão, sonho? Como o Surrealismo poderia ajudar a trazer o significado dessas palavras para mais perto de nós?

Pergunte também que sentidos essas palavras têm em suas vidas e como eles se sentem ao ler o texto. Observe que ele não é apenas um texto informativo: ele evoca uma atmosfera, um clima; ele tem uma fôrça invocativa própria a um manifesto, que provoca as nossas emoções.

Por fim, pergunte a eles: se vocês fossem escrever um manifesto como esse, com palavras de ordem e uma proposta artística revolucionária, qual seria o tema desse manifesto?

Questão

1. Auxilie os estudantes a destacar elementos do texto e a fazer análises sobre eles, bem como relacioná-los ao conteúdo da página anterior.

Sugestões de atividades

1. De modo integrado aos componentes Língua Portuguesa ou História, os estudantes podem fazer uma pesquisa sobre outros manifestos – futurista, antropofágico, pau-brasil, entre outros. Eles poderão selecionar um manifesto e o trecho que mais chamou a atenção para produzir uma reflexão no diário de bordo. Eles poderão produzir essa reflexão com base nas seguintes perguntas:

a) Qual é o manifesto selecionado? Quando foi publicado? Quem o escreveu?

b) Como é o tipo de escrita desse manifesto?

c) O manifesto revela uma posição contra ou a favor de algo? Se sim, do quê?

d) Comente o trecho selecionado, destacando o elemento que mais chamou a sua atenção.

Os estudantes poderão ser avaliados pela interpretação, pela inferência sobre as principais ideias e pela formulação da justificativa do seu interesse pelo manifesto e trecho selecionados.

2. Se os estudantes se manifestassem a favor ou contra algo na escola, o que reivindicariam? Separe os estudantes em grupos de até cinco participantes e peça que escrevam uma carta de manifesto a favor de alguma transformação na escola. Essa proposta poderá ser desenvolvida em parceria com o professor de Língua Portuguesa e poderá apresentar a estrutura textual de uma carta ou dos manifestos. Lembre-se de não fazer juízo de valor sobre aquilo que os estudantes escolherem destacar como importante ou interessante para mudar na escola. O importante é avaliá-los pela criatividade na escolha de um tema, escrita do texto e pela capacidade de se articular com os colegas para produzir uma proposta coesa.

Imagens além do real

A obra reproduzida nesta página também é de autoria de renê magrite, artista belga que, aos 12 anos, teve seu primeiro contato com a pintura. Ao longo da carreira, Magritte se destacou por criar pinturas que representassem algo que não parece real.

Pintura. Homem de cabelo grisalho, vestindo camisa branca, gravata azul, colete cinza e paletó preto. Ele está sentado diante de uma mesa com toalha branca, sobre a qual há um copo transparente, um prato branco com comida e um pedaço de pão. Ele tem quatro braços, com os quais ao mesmo tempo entorna uma garrafa de vinho no copo, enchendo-o, manipula a comida no prato com os talheres e leva à boca um pedaço de pão.
. O mago (autorretrato com quatro braços). 1951. Óleo sobre tela, 35 por 46 centímetros. Coleção particular.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Observe a imagem desta página e responda às questões a seguir.
    1. Depois de observar a pintura, você consegue dizer quem seria a pessoa representada nela?
    2. O que mais chamou sua atenção nessa imagem?
    3. Você acha que podemos classificar essa obra como surrealista? Em caso afirmativo, por quê?
    4. O que você acha da escolha do título dessa pintura? Se pudesse dar outro nome a ela, qual seria? Comente com os colegas.
Versão adaptada acessível

1. Com base na imagem descrita, responda às questões a seguir.

a) Você consegue dizer quem seria a pessoa representada nela?

b) O que mais chamou sua atenção nessa imagem?

c) Você acha que podemos classificar essa obra como surrealista? Em caso afirmativo, por quê?

d) O que você acha da escolha do título dessa pintura? Se pudesse dar outro nome a ela, qual seria? Comente com os colegas.

Respostas e comentários

Contextualização

Incentive os estudantes a fazer relações entre essas imagens e outras referências que eles já viram. Provavelmente, elas não pareçam tão disruptivas se comparadas a referências dos desenhos animados, jogos ou aos memes e filtros de fotografia da internet.

Pergunte a eles: quando vocês leem o título Imagens além do real, o que vem à cabeça de vocês? Que imagens além do real vocês conhecem? Em que tipos de mídia vocês encontram imagens que parecem ir além da realidade? Qual é a referência de imagem mais “surreal” que vocês conhecem? Vocês alterariam algo nessa imagem para torná-la ainda mais surreal? O que vocês mudariam nela?

Esse tipo de pergunta poderá acionar o imaginário estético e o repertório da cultura visual dos estudantes, mas também poderá acionar imagens surreais da realidade.

Foco na linguagem

1. a) Incentive os estudantes a elaborar hipóteses livremente. Em seguida, peça que leiam a legenda e pergunte, mais uma vez, quem seria essa pessoa. Caso os estudantes não saibam, informe que autorretrato é o nome dado aos retratos que um indivíduo faz de si mesmo, e leve-os a concluir que, nessa obra, está representado , o autor da pintura.

b) Provavelmente, os estudantes vão mencionar o fato de Magritte ter-se representado com quatro braços.

c) O objetivo é que eles percebam que a pintura de renê magrite mostra uma composição que não é possível na realidade.

d) Incentive-os a dizer suas sugestões de um novo título para a obra de Magritte e a justificá-las para os colegas. Nesse momento, eles podem ressignificar essa pintura.

Técnicas surrealistas

Os artistas surrealistas utilizavam uma série de técnicas para obter os resultados desejados em suas produções visuais. Uma dessas técnicas é a colagem.

A colagem consiste na criação de uma obra por meio da sobreposição ou da justaposição de elementos como recortes de jornais, revistas e papéis pintados.

Observe a aplicação da técnica da colagem na obra do artista máks Ernest (1891-1976).

Para produzir a obra A anatomia, jovem casada, máks Ernest recortou imagens de revistas e as colou sobre um suporte de papel, além de ter utilizado guache e grafite.

Colagem em preto e branco. Figura de corpo humano de aspecto feminino com o rosto formado por parte humana e parte metal, com olhos fechados e corpo de manequim no qual faltam um dos braços e as duas pernas, apresentando peito de metal e um espaço vazio no abdome. O corpo da figura está sobre uma espécie de cabine aberta. Ao fundo há uma paisagem abstrata.
, mács. A anatomia, jovem casada. 1921. Colagem com recortes de revistas, guache e grafite sobre papel, 10,7 por 7,8 centímetros. Centro Georges Pompidou, Paris, França.

Outra técnica utilizada pelos surrealistas era a cubomania. Essa técnica consiste na realização de uma colagem feita de uma imagem recortada em quadrados e organizada aleatoriamente. Observe um exemplo de aplicação da cubomania na obra de Gueracim Lucá (1913-1994).

Colagem. Retrato de um rosto humano de aspecto feminino, de cabelos claros, com um véu azul-claro. Ele está fragmentado em diversas partes de forma quadrada. O rosto é formado por olhos claros e o direito está levemente sobreposto ao esquerdo. Não há nariz nem boca.
Luca, . Cubomania 24. Sem data. Colagem, 76 por 56 centímetros. Coleção particular.
Respostas e comentários

Contextualização

Antes de seguir com a leitura, proponha uma análise das imagens. Observe os termos destacados: colagem e cubomania. Pergunte aos estudantes o que veem e como interpretam as imagens. Como teriam sido feitas? Elas lembram alguma imagem que os estudantes já conhecem? Qual e por quê?

Comente com eles que os artistas do Surrealismo deram asas à imaginação, e seus modos de expressão foram ilimitados. Eles trabalharam com técnicas artísticas muito diferentes, as colagens, assemblages, fotomontagens, reinventaram objetos de uso cotidiano e deram nova significação a eles.

Agora, discuta cada uma das técnicas destacadas:

A colagem como técnica artística utiliza a sobreposição, a dispersão e a junção de imagens distintas. Mesmo aparecendo em obras de alguns artistas do passado, ela se evidencia com as vanguardas artísticas do início do século vinte.

Já a cubomania é também uma técnica de colagem, em que as imagens resultam de uma reorganização na qual predomina afórma geométrica, comumente o quadrado. Os artistas se preocupavam com os processos de transformação do que é real em outra realidade, que se aproximasse das imagens dos sonhos. Para isso, pesquisaram as técnicas que conduzissem a essa transformação.

Sugestão de atividade

Pesquise a técnica da frottage, que é bastante simples e que pode ser uma experiência interessante para a sala de aula. Basicamente, você coloca um objeto com textura sob uma folha de papel, pinta com um giz de cera ou lápis grafite (de preferência 6B) e a imagem é transferida. Você pode fazer uma demonstração com uma moeda, por exemplo. São muitos os tipos de material que podem ser usados, desde tecidos e folhas de árvores até as texturas do piso e das paredes da escola. Essa é uma experiência que mobiliza os estudantes e pode ser um meio interessante de aproveitar os objetos e superfícies do espaço escolar para fazer arte!

Por dentro da arte

A psicanálise

A psicanálise é uma teoria aplicada sobretudo ao campo da saúde. Ela ajuda as pessoas a lidar com seus sofrimentos psíquicos, como a angústia e a ansiedade, estudando as relações dos comportamentos e sentimentos das pessoas com os seus desejos inconscientes. As pessoas frequentam a clínica psicanalítica e conversam com um analista sobre os seus problemas, medos, conflitos, buscando um lugar para se expressar e também para se ouvir e se autoconhecer.

Pintura. À esquerda, homem de costas, de cabelo castanho, usando terno preto e chapéu-coco preto. Ele está diante de uma paisagem litorânea com faixas de areia, de mar e de céu azul com nuvens brancas. À direita, há uma cortina rosada com o recorte da silhueta do mesmo homem, através da qual aparece a paisagem.
, . La Decalcomanie. 1966. Óleo sobre tela, 81 por 100 centímetros. Centro Georges Pompidou, Paris, França.

Para entender a psicanálise, é preciso compreender a noção de inconsciente. A ideia fundamental dessa noção é a de que nós não temos consciência de todas as nossas decisões, gestos e palavras; de que expressões inconscientes nossas acabam aparecendo sem querer, na fórma de palavras, ações, comportamentos e sonhos. É assim que se manifesta boa parte dos nossos medos e desejos.

O sonho é um objeto de estudo importante para a psicanálise: nos sonhos, o nosso inconsciente se apresenta sem filtro, misturando passado, presente e futuro das maneiras menos lógicas, muitas vezes refletindo aquilo que não sabemos como nomear ou enfrentar no dia a dia. ciguimûn fróid, considerado o criador da psicanálise, é autor de um livro chamado A interpretação dos sonhos, que foi uma referência muito forte para o Surrealismo. É por isso que as imagens da arte surrealista são um pouco perturbadoras: elas evocam as imagens do inconsciente.

Respostas e comentários

Por dentro da arte

Essa seção está relacionada com uma abordagem da psicanálise como prática clínica, ou seja, com a psicanálise aplicada à saúde. Muitas pessoas pensam que terapia e análise servem apenas para pessoas com sofrimentos psíquicos intensos. Mas, na verdade, todos nós temos problemas, medos, anseios, angústias com as quais não sabemos lidar. Por isso, dispa-se de qualquer preconceito ao trabalhar com esse tema.

Para que os estudantes entendam melhor os conceitos apresentados, como o de inconsciente, pergunte sobre os sonhos deles. Eles se lembram de sonhos? Eles têm algum sonho recorrente? Como é o tempo nesse sonho? Onde o sonho se passa e quem são as pessoas presentes no sonho?

Promova uma conversa sobre isso. Deixe que eles se guiem pelas narrativas dos colegas e compartilhem livremente. A psicanálise, aliás, utiliza uma ideia de fluxo inconsciente das palavras, em que um assunto engata no outro, de modo que as verdadeiras questões que promovem o sofrimento se apresentam, muitas vezes, sem que a pessoa perceba. Deixe que eles conversem livremente e, depois que a conversa tiver se desenvolvido, você pode interromper e contar que a prática livre de conversa é parte do tratamento psicanalítico: as pessoas falarem e se perceberem falando. Depois de falar, elas começam a perceber como falam, o que repetem, quais questões as incomodam mais, como tendem a reagir aos estímulos emocionais etcétera

Depois, pergunte sobre como esses sonhos poderiam ser convertidos em arte. Poderiam ser pintados, fotografados? Poderiam ser descritos em fórma poética ou literária? Informe a eles que a arte é muito utilizada como modo de acessar os nossos sofrimentos emocionais e lidar com eles e que, por isso, muitas outras técnicas clínicas, como a arteterapia, fazem da prática artística um campo de autocuidado e autodescoberta.

Entre textos e imagens

O caligrama

Observe o caligrama criado pelo poeta Guilhóum Apolinér (1880-1918). Esse é um método de criação de poemas em que a composição com as letras e as palavras resulta em uma imagem que agrega sentido ao texto. Essa técnica influenciou fortemente os artistas surrealistas.

Fotografia. Sobre fundo cinza, caligrama formado com algumas palavras dispostas em linhas onduladas, outras formando triângulos e círculos, com os dizeres: "Jamais esquecerei esta viagem noturna na qual ninguém disse nada. O partida sombria lá morriam nossos 3 faróis. O noite terna de antes da guerra. O cidades nas quais corriam. Os ferradores mobilizados. Entre meia noite e uma da manhã. Para Lisieux a muito azul. Ou então. Para asas de ouro. E a vezes nós paramos para trocar um pneu que havia estourado."
apolinér, . Caligramas. Introdução, organização, tradução e notas de Álvaro Faleiros. segunda edição Cotia, São Paulo: Ateliê Editorial; Brasília, Distrito Federal: Editora ú êne bê, 2019, página 85.

No Brasil, há uma forte tradição com a poesia visual. Observe o poema “Pós-tudo”, do brasileiro Augusto de Campos.

Fotografia. Sobre fundo escuro, caligrama formado com palavras alinhadas à esquerda e à direita, algumas de um lado a outro, no qual cada letra é formada por quatro traços no formato dela, com os dizeres: 'Quis mudar tudo mudei tudo agora pós tudo ex tudo mudo'.
CAMPOS, Augusto de. Pós-tudo (1984). Viva vaia. São Paulo: Perspectiva, 1994.

Faça no diário de bordo.

Questão

1. Como você interpretaria esse poema? Como você o lê?

Respostas e comentários

Entre textos e imagens

Como visto, o Surrealismo começou na literatura, sendo apropriado depois pelos artistas visuais. Muitas técnicas das criadas e experimentadas pelos artistas surrealistas misturavam textos, imagens e a ideia de um fluxo espontâneo e inconsciente de criação, tanto na escrita como na visualidade. Uma das técnicas se chamava caligrama, que era, na prática, um poema visual, no qual as letras e a distribuição das palavras não são pensadas apenas como texto, mas também como imagem.

Uma característica marcante do Surrealismo é o fato de as imagens não terem apenas uma interpretação: os artistas realizam proposições capazes de promover uma pluralidade de possibilidades interpretativas. Assim também se dá no caso dos poemas.

Sugestão de atividade

Leia e proponha uma interpretação do poema pelos estudantes. O que eles veem? O que eles compreendem do poema? Como acham que foi feito?

Eles podem fazer um exercício de criação com a técnica do caligrama. Proponha a eles que tentem criar um poema visual apenas usando as palavras. Exemplo:

E

S

C

A

D

A

Você pode sugerir outras palavras para os estudantes experimentarem a ideia de poesia visual no diário de bordo. Exemplos: OVO; CÍRCULO; ESPIRAL; BOCA; OLHO; CUBO; CHUVA; VENTO; ALEGRIA; TRISTEZA. Lembre-se: eles não podem usar nenhum outro recurso visual que não a página vazia e as letras e palavras.

Se desejar, busque poesias visuais brasileiras para dar continuidade a essa reflexão e experimentação. Os estudantes podem contribuir para essa busca por meio de uma pesquisa que sistematize a produção de alguns poetas brasileiros, como Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Arnaldo Antunes, a fim de compartilhar com a turma.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

 

Vamos fazer um trabalho com a técnica da cubomania, criada pelos surrealistas. Para experimentar essa técnica, vamos retomar o tema de trabalho de toda essa Unidade de artes visuais: a figura humana na arte.

Material

  • Página de revista de rosto completo com uma figura humana (pode ser um retrato, mostrando apenas o rosto, ou de corpo inteiro)
  • Uma folha de papel colorido com o mesmo tamanho
  • Uma base de papelão ou papel paraná do mesmo tamanho
  • Tesoura com pontas arredondadas
  • Cola líquida ou em bastão
  • Régua
  • Caneta esferográfica

Procedimentos

  1. Recorte a figura humana do fundo em que ela está inserida e cole na folha de papel colorido. Se preferir, você pode conservar elementos do fundo da imagem original.
  2. Depois, cole essa montagem sobre o fundo de papel paraná ou papelão. Ao final, ela deve ter o mesmo tamanho. Se necessário, recorte e descarte as bordas.
  3. Vire o trabalho e determine um número de colunas e linhas. Com a ajuda da régua, faça um gride de linhas verticais e horizontais com o mesmo tamanho.
  4. Recorte cada quadrado e reserve.
  5. Ao final, faça uma montagem com os quadrados. Eles podem ser colados sobre uma nova superfície ou podem ficar soltos para que as pessoas interfiram sobre ele.
  6. Mostre o resultado para os seus colegas e confira também o trabalho deles. Conversem sobre essa experiência e sobre as relações que ela tem com os conteúdos trabalhados sobre o Surrealismo.
Colagem em preto e branco. Imagem fragmentada, formada por diversas figuras quadradas, nas quais se identificam diferentes partes de corpos de mulher. Não é possível identificar se compõem um único corpo, mas podem ser identificados dois rostos femininos.
. Untitled (Cubomania), 1945. Colagem, sem dimensões. Coleção particular.
Respostas e comentários

Experimentações

Essa proposta retoma uma das técnicas surrealistas apresentadas.

Enquanto os estudantes experimentam, caminhe pela sala e contribua para a montagem do trabalho final. Eles devem construir imagens totalmente novas com os quadrados que cortarem, desprendendo-se da expectativa de fazer algo correto, compreensível ou seguro. A proposta é lançar-se radicalmente à experimentação.

Avaliação

Converse com os estudantes sobre como se sentiram ao realizar essa atividade. Eles poderão também ser provocados a fazer relações com os conteúdos discutidos ao longo do Tema 3. Poderão ser avaliados por seu engajamento na proposta, pelas contribuições aos colegas que precisaram de ajuda e pela participação com perguntas, respostas e comentários durante a introdução e a finalização da proposta.