Tema 4 Uma “ópera” popular
As escolas de samba
No início do século vinte, o centro do Rio de Janeiro passou por diversas reformas urbanas, com a demolição de antigos prédios e o alargamento de avenidas. Com essas reformas, a população mais pobre foi expulsa da região central e se viu obrigada a erguer barracos nos morros próximos ou se deslocar para áreas distantes do centro da cidade. Naquela época, o cenário do município do Rio de Janeiro obteve a configuração que se mantém até hoje, passando a ser composto de alguns bairros muito ricos, sobretudo no centro e na zona sul, e de grandes grupos de moradias precárias nos morros.
Nos bairros pobres, viviam muitos músicos que ajudaram a consolidar o samba urbano carioca, iniciado nas festas promovidas pelas tias baianas (mencionadas no Tema anterior). No bairro conhecido como Estácio, por exemplo, viviam os sambistas que, em 1928, fundaram o bloco Deixa Falar, considerado mais tarde a primeira escola de samba do Brasil.
Acredita-se que a expressão escola de samba deva-se ao fato de que a séde do bloco Deixa Falar funcionava perto de uma escola no bairro do Estácio. Os sambistas que frequentavam o local diziam que ali também funcionaria uma escola, mas uma “escola de samba”.
O Sambódromo do Rio de Janeiro
Pouco tempo depois da Deixa Falar, diversas outras escolas de samba foram fundadas, como a do morro da Mangueira e a do morro do Salgueiro. Anos depois, teve início a competição entre essas escolas de samba, que era disputada na praça Onze.
Como esses desfiles atraíam um grande público, em 1935 eles foram oficializados pela prefeitura do Rio de Janeiro. Com o passar do tempo, os desfiles cresceram, o número de escolas de samba aumentou e o Carnaval passou a ser realizado em uma grande avenida do Rio de Janeiro, a Rio Branco.
Em 1984, nessa avenida, foi inaugurada a Passarela Professor Darcy Ribeiro, projetada pelo arquiteto Oscar Niemáier (1907-2012). O lugar, popularmente conhecido como Sambódromo, recebe em todo Carnaval um campeonato das escolas de samba do Rio de Janeiro. Nesse campeonato são considerados vários aspectos do desfile das escolas de samba, como a fórma de apresentação do tema escolhido e a beleza das fantasias. Embora tenham começado no Carnaval carioca, desfiles e concursos de escolas de samba são promovidos em várias cidades brasileiras.
Faça no diário de bordo.
Experimentações
- Você já assistiu a um desfile de escola de samba ou participou de um? Em caso afirmativo, fale dessa experiência com os colegas de turma.
- Entreviste uma pessoa mais velha da sua família ou da comunidade onde você vive. O objetivo é resgatar as memórias do Carnaval da sua região. Para a entrevista, considere o roteiro de perguntas a seguir. Anote as respostas em seu diário de bordo e, seguindo as orientações do professor, apresente os dados aos colegas.
- Há eventos de Carnaval na sua cidade? Quais?
- Você já participou desses eventos? Em caso afirmativo, poderia contar como foi essa experiência?
- Você acha que o Carnaval mudou ao longo do tempo?
- Em sua opinião, qual a importância do Carnaval para o Brasil?
O encontro de muitas linguagens
Muitos comparam os desfiles de escola de samba aos grandes espetáculos de ópera. Nessa comparação com a ópera, no Carnaval, o libreto seria o enredo (o tema a ser apresentado no desfile) e a orquestra, a bateria (conjunto de instrumentos de percussão que acompanham o desfile).
Os desfiles carnavalescos, assim como a ópera, reúnem elementos de diferentes linguagens. O conhecimento de técnicas relacionadas às artes visuais, como a pintura e a escultura, por exemplo, é fundamental para a produção dos elementos que compõem um desfile de Carnaval, como os carros alegóricos e as fantasias.
Os carros alegóricos são grandes cenários móveis montados sobre estruturas de caminhões ou de ônibus. Fazem parte desses cenários diversos elementos visuais, como móveis, objetos e esculturas, que representam trechos ou elementos do enredo escolhido. Além dos elementos visuais, os carros alegóricos transportam alguns integrantes da escola.
As fantasias − que são as vestimentas que os integrantes da escola usam − equivalem ao figurino do teatro e auxiliam no desenvolvimento do enredo escolhido pela escola. O profissional responsável por transformar a ideia de um enredo em um desfile é chamado carnavalesco.
O teatro e a dança
O desfile de uma escola de samba lembra uma grande apresentação teatral, na qual “atores” e “atrizes” cantam e encenam uma história para o público, que acompanha, das arquibancadas, o espetáculo. Elementos cênicos, como expressões corporais e faciais, ocupam cada vez mais espaço nos desfiles de escolas de samba. Os integrantes da comissão de frente (o grupo que vai à frente da escola, abrindo o desfile), por exemplo, especializam-se cada vez mais na encenação de histórias, em apresentações que reúnem elementos do teatro e da dança.
A dança também faz parte da apresentação das alas dos passistas, que muitas vezes são coreografadas, e das exibições do mestre-sala e da porta-bandeira. Cabe à porta-bandeira levar o estandarte, espécie de bandeira que simboliza a escola.
A música nos desfiles de escola de samba
O samba-enredo é a música composta para contar a história escolhida pela escola de samba. Os intérpretes cantam essa música durante toda a apresentação da escola no desfile. Eles são popularmente conhecidos como “puxadores”, pois cabe a eles animar os integrantes da escola para que cantem o samba-enredo. Um dos mais importantes intérpretes do Carnaval carioca foi o cantor e compositor Jamelão, apelido de José Bispo Clementino dos Santos (1913-2008). Integrante da escola de samba Estação Primeira de Mangueira por décadas, Jamelão é considerado um dos mais importantes sambistas brasileiros.
A bateria
A bateria é outro elemento musical essencial nos desfiles de escolas de samba. Responsável por manter o ritmo ao longo do desfile, ela é considerada o “coração” de uma escola de samba. Entre os instrumentos que compõem a bateria, destacam-se o chocalho, a cuíca, o agogô, o tamborim, a caixa, o repique, o atabaque e diversos tipos de surdo.
Ouça, no áudio “Os instrumentos da bateria de uma escola de samba”, o som de cada um desses instrumentos e a apresentação de uma bateria completa. Assim como nas orquestras, as baterias têm um regente, que é o diretor de bateria, também chamado de mestre de bateria.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Faça no diário de bordo.
Pensar e fazer arte
- Forme um grupo com quatro colegas e escolham um tema para criar um samba-enredo. Façam uma pesquisa a respeito do tema escolhido, pois a criação de vocês deve apresentar detalhes desse tema. Para acompanhar a apresentação da canção criada por vocês, criem instrumentos de percussão utilizando tampas de panela, latas, garrafas plásticas, entre outros materiais. Na data agendada pelo professor, apresentem seu samba-enredo aos colegas e assistam às produções dos outros grupos.
- Com seu grupo, estruture um projeto básico de desfile de Carnaval, contendo os seguintes elementos:
- Duas alas, sendo obrigatória a presença da ala das baianas, com a descrição da justificativa e da relação das alas com o samba-enredo e o design do figurino.
- Maquete física ou digital de dois carros alegóricos com a descrição textual da relação deles com o samba-enredo.
- Desenho da bandeira da sua escola de samba que será carregada pela porta-bandeira.
Avaliação
a. Como foi a experiência de criar o samba-enredo e o projeto de desfile de Carnaval? Comente com os colegas e o professor.
Faça no diário de bordo.
Autoavaliação
Ao longo do estudo desta Unidade, você conheceu o trabalho de diferentes compositores brasileiros, como Carlos Gomes e Heitor Villa-Lobos, além de ter tido contato com músicos e compositores estrangeiros, como o francês Jórgi Bizê e o alemão Johann Sebastian bá.
Você conheceu ainda peças de ópera, alguns de seus intérpretes e também o samba e suas origens. Além disso, vivenciou a criação coletiva de um samba-enredo.
Agora que chegamos ao final desta Unidade, é importante que você reflita sobre o seu aprendizado e o caminho que percorreu até aqui.
Para isso, responda às questões a seguir.
- Cite alguns conteúdos apresentados nesta Unidade que o ajudaram a compreender a linguagem da música. Justifique suas escolhas.
- Cite a atividade prática que mais o ajudou a compreender a linguagem musical. Justifique sua escolha.
- Como você se sentiu durante a realização de leituras, análises de textos e compartilhamento de informações com os colegas? Justifique sua resposta.
- Como você se sentiu durante a realização das atividades práticas desta Unidade? Justifique sua resposta.
- Em que sentido este estudo mudou a maneira como você vivencia a música? Cite um ou mais exemplos.
- O que poderia ajudá-lo a aprofundar seus conhecimentos sobre música?
- Reflita sobre as práticas de pesquisa realizadas nesta Unidade. Você aprendeu novos modos de fazer pesquisa?
- As propostas desta Unidade contribuíram para transformar a sua visão da sociedade? Se sim, como?
- Como as propostas desta Unidade contribuíram para pensar o seu próprio repertório musical e o dos colegas?
- O que você descobriu de novo sobre a linguagem da música e como isso reverbera em seu gosto?