Unidade 1  Um olhar sobre o Brasil

Fotografia. Vista geral de um morro totalmente ocupado por casas populares aglomeradas. Há pinturas de rostos humanos em preto e branco nos muros de algumas casas. O conjunto dessas pinturas compõem a intervenção artística.
JR. Mulheres são heroínas. 2008. Intervenção no Morro da Providência, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).

Nesta Unidade:

TEMA 1 Arte no Morro da Providência

TEMA 2 Paisagens e histórias do Brasil na arte

TEMA 3 O Modernismo e a identidade cultural brasileira

Respostas e comentários

Competências da Bê êne cê cê

As competências favorecidas nesta Unidade são:

Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 5 e 6.

Competências específicas de Arte para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8 e 9.

Objetos de conhecimento e habilidades da Bê êne cê cê

As habilidades favorecidas nesta Unidade são:

Artes visuais

Contextos e práticas

(ê éfe seis nove á érre zero um)

(ê éfe seis nove á érre zero dois)

(ê éfe seis nove á érre zero três)

Elementos da linguagem

(ê éfe seis nove á érre zero quatro)

Materialidades

(ê éfe seis nove á érre zero cinco)

Processos de criação

(ê éfe seis nove á érre zero seis)

(ê éfe seis nove á érre zero sete)

Sistemas da linguagem

(ê éfe seis nove á érre zero oito)

Artes integradas

Contextos e práticas

(ê éfe seis nove á érre três um)

Processos de criação

(ê éfe seis nove á érre três dois)

Matrizes estéticas e culturais

(ê éfe seis nove á érre três três)

Patrimônio cultural

(ê éfe seis nove á érre três quatro)

Arte e tecnologia

(ê éfe seis nove á érre três cinco)

Sobre esta Unidade

A Unidade aborda alguns pontos de vista sobre as produções artísticas no Brasil, considerando sua presença em diversas paisagens culturais e suas visualidades, construídas em processos históricos anteriores à colonização até os tempos atuais. Os temas trabalhados priorizam a compreensão de produções artísticas que compõem parte das referências identitárias da cultura brasileira, e contribuem para que os estudantes elaborem leituras críticas dos contextos sociais e históricos nos quais estão inseridos. Em primeiro lugar, a intervenção urbana é trabalhada com ênfase nas relações entre arte e crítica social na atualidade. Em seguida, as construções artísticas das paisagens culturais do país são abordadas com as pinturas de paisagem feitas por artistas viajantes do século dezessete e com a autorrepresentação das culturas e dos territórios de artistas contemporâneos, pertencentes a diferentes etnias indígenas, que se utilizam de recursos artísticos diversos (vídeo, bordado, stickers etcétera) em suas produções, além de projetos museológicos que propõem recriar espaços de memória e representação identitária. Arte como crítica social e os modos de representação identitária nacional no Modernismo brasileiro são discutidos por meio de suas propostas artísticas e rupturas associadas a movimentos sociais e de vanguardas artísticas.

De olho na imagem

Fotografia. Aglomerado de casas populares de tijolos aparentes em um morro. Há pinturas de detalhes de rostos de pessoas em preto e branco nos muros de algumas casas. Essas pinturas são realistas.
JR. Detalhe de Mulheres são heroínas. 2008. Intervenção no Morro da Providência, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Fotografia de 2008.

Faça no diário de bordo.

  1. Descreva as imagens reproduzidas na abertura da Unidade e nesta seção.O que elas mostram?
  2. Qual foi o suporte utilizado pelo artista para realizar esse trabalho?
  3. Como você acha que o artista realizou essa obra?
  4. Você já havia visto produções artísticas parecidas com essa? Em caso afirmativo, como elas eram?
  5. Obras como Mulheres são heroínas são chamadas intervenções. Você imagina o porquê desse nome?
  6. Você acha que as pessoas representadas nessa intervenção são homens ou mulheres? Por quê?
  7. Onde jota érre realizou essa obra? Você imagina por que ele teria escolhido esse lugar?
  8. Em sua opinião, quem seriam as pessoas representadas? Comente com o professor e os colegas descrevendo como você as imagina.
  9. Que outro título você daria para essa intervenção? Justifique sua escolha.
Versão adaptada acessível

4. Você já tinha tido contato com  produções artísticas parecidas com essa? Em caso afirmativo, como elas eram?

Respostas e comentários

De olho na imagem

Esse é um momento interessante para realizar uma avaliação diagnóstica, partindo da maneira como os estudantes percebem a imagem e como a associam aos seus repertórios culturais e a suas vivências cotidianas. É uma oportunidade para redirecionar seus caminhos de trabalho com os conteúdos presentes nesta Unidade, fazendo adaptações nos planejamentos elaborados para o uso do livro.

  1. Espera-se que os estudantes identifiquem as imagens aplicadas sobre paredes, muros e outros espaços retratados na fotografia, e reconheçam que Mulheres são heroínas é uma obra artística.
  2. Espera-se que os estudantes mencionem que, no caso da obra retratada nas fotografias, o suporte utilizado pelo artista foram paredes, muros, tetos e outros espaços da localidade onde o trabalho artístico foi realizado.
  3. Peça aos estudantes que elaborem hipóteses sobre o processo de produção da obra e as apresentem aos colegas. Pode ser que afirmem, por exemplo, que se trata de uma fotomontagem. Após ouvi-los, comente que ao longo da Unidade a técnica utilizada pelo artista será abordada.
  4. Talvez os estudantes associem Mulheres são heroínas com a arte do grafite ou com outro tipo de intervenção artística urbana. Destaque a dimensão positiva dessa representação, evidenciando a riqueza cultural e de vida das mulheres representadas na obra. Atenção para não reproduzir estereótipos sobre a vida nas favelas e periferias e para problematizar quaisquer preconceitos manifestos nas falas dos estudantes.
  5. Pergunte aos estudantes se eles sabem o significado da palavra intervenção e explique que é sinônima de interferência. Se for possível, apresente uma fotografia do Morro da Providência sem a ação do artista e refaça a pergunta. Ao final, espera-se que os estudantes percebam que, em obras como Mulheres são heroínas, o artista faz uma interferência em espaços que já existem.
  6. Caso os estudantes não mencionem, chame a atenção deles para a legenda da fotografia e peça que observem que a obra é intitulada Mulheres são heroínas. Explique que esse poderia ser um indício de que os rostos representados são de mulheres.
  7. Retome a legenda e ajude a turma a identificar que a obra foi realizada no Morro da Providência, no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).
  8. Caso eles não façam essa associação, questione-os se as mulheres representadas na obra poderiam, eventualmente, ser moradoras do Morro da Providência, localidade onde a obra foi realizada.
  9. Peça a eles que elaborem e falem livremente de seus títulos, justificando a escolha. Lembre-se de que não existe certo ou errado e de que todas as sugestões dos estudantes devem ser valorizadas.

Artista e obra

O artista jota érre

A criação artística que conhecemos no começo desta Unidade é de autoria do artista urbano francês Jean René, mais conhecido como JR. Na maior parte de suas produções, ele trabalha com fotografias em preto e branco aplicadas em painéis de grandes dimensões.

Em suas obras, jota érre trata de aspectos sociais e chama a atenção do público para questões relacionadas às pessoas que vivem no lugar onde a obra é desenvolvida. Em um de seus projetos, ele escolheu uma cidade e entrevistou idosos que acompanharam as transformações arquitetônicas ocorridas no local. Depois, fotografou esses idosos e aplicou as fotografias – de grandes proporções – sobre paredes de prédios dessa cidade. Intitulada Rugas da cidade, essa proposta promove uma reflexão a respeito das transformações decorrentes da passagem do tempo, tanto para as pessoas quanto para as construções.

Ao desenvolver o projeto Rugas da cidade em Havana, Cuba, jota érre contou com a colaboração do artista José Parlá, que criou desenhos e grafismos que faziam parte da composição. Observe a obra reproduzida.

Fotografia. Em primeiro plano, um homem de boné, camiseta regata e bermuda empurra um carrinho de mão com muitas frutas. Ao fundo, muro com grafite do perfil do rosto de um homem idoso com chapéu, barba e bigode brancos. Ele está com a cabeça levemente voltada para baixo.
jota érre; PARLÁ, José. Rugas da cidade. 2012. Intervenção em Havana, Cuba. Na parede, vemos a fotografia de um idoso (feita por jota érre) e, à esquerda, os grafismos de José Parlá. Fotografia de 2012.

Observe que o artista escolhe pesquisar e representar a história dos lugares a partir das pessoas que ali vivem e de suas narrativas. Esse processo criativo dá uma dimensão cultural e humana muito importante para os temas que serão trabalhados nesta Unidade: as relações entre a paisagem e as pessoas e a sua identidade cultural.

Respostas e comentários

Artista e obra

A página de abertura, a seção De olho na imagem e esta seção dedicam-se a apresentar um artista que busca transformar a percepção sobre determinado lugar ou paisagem a partir das pessoas que ali vivem e das histórias que elas têm para contar. Adiante, na seção Por dentro da arte, da página 17, essa relação será discutida, tendo em vista o documentário que o artista fez sobre a obra Mulheres são heroínas.

Pergunte aos estudantes se territórios culturais como o Morro da Providência também não produzem artistas ou coletivos que possam protagonizar essas intervenções, não apenas como tema, mas como os sujeitos por trás da proposta.

Pergunte a eles quais intervenções eles fariam na paisagem da imagem e nas paisagens nas quais eles mesmos vivem. O foco é despertar a atenção dos estudantes para como a arte pode transformar a percepção e as relações de um território e, na sequência, sobre como isso pode reverberar no contexto em que eles vivem.

Tema 1  Arte no Morro da Providência

Uma reflexão sobre a realidade

No começo desta Unidade, conhecemos uma criação que o artista francês jota érre realizou no Morro da Providência, no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Nessa produção, ele transformou fachadas, muros e tetos de casas em grandes painéis sobre os quais aplicou fotografias que ele fez de moradoras dessa comunidade. Para aplicar essas fotografias, jota érre utilizou a técnica do lambe-lambe, que você vai conhecer adiante. Observe a reprodução.

A obra de jota érre no Rio de Janeiro compõe um projeto intitulado Mulheres são heroínas, que já passou por países como Índia, Camboja e República do Quênia. O principal objetivo desse projeto foi dar visibilidade às mulheres que, em seu dia a dia, enfrentam situações de violência e de pobreza.

Fotografia. Vista de um muro lateral de uma casa de dois andares com grafite de um rosto de uma mulher por todo o muro.
JR. Detalhe de Mulheres são heroínas. 2008. Intervenção no Morro da Providência, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Fotografia de 2008.
Fotografia. Em primeiro plano, cinco crianças vestidas com roupas estampadas coloridas estão em pé, de costas, observando um muro com intervenção artística. Ao fundo, grafite realista em preto e branco de rostos de duas mulheres com turbantes na cabeça.
JR. Mulheres são heroínas. 2008. Intervenção realizada em uma rua de Monróvia, na Libéria. Fotografia de 2008.
Respostas e comentários

Objetivos

  • Compreender a relação entre as criações artísticas e os meios social, político e cultural.
  • Compreender o conceito de intervenção artística.
  • Entender a técnica do lambe-lambe e experimentá-la.
  • Experienciar a criação de trabalhos artísticos de modo individual.
  • Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre zero um), (ê éfe seis nove á érre zero dois), (ê éfe seis nove á érre zero três), (ê éfe seis nove á érre zero quatro), (ê éfe seis nove á érre zero cinco), (ê éfe seis nove á érre zero seis), (ê éfe seis nove á érre zero sete), (ê éfe seis nove á érre três um) e (ê éfe seis nove á érre três dois).

Contextualização

Pergunte aos estudantes por que as fotografias das pessoas que aparecem na imagem não foram expostas em um espaço fechado, como uma galeria ou um museu, mas nas construções da própria comunidade. Deixe que eles respondam livremente.

Depois comente que jota érre produz intervenções urbanas: suas obras são criadas e apresentadas em espaços públicos. Diga que a intervenção urbana faz parte do arco de práticas que denominamos arte pública. A arte pública existe desde tempos remotos, pois a arquitetura, a pintura e a escultura em monumentos e praças são, em essência, públicas; no entanto, no processo de produção desses exemplos, não houve a participação do público.

Em obras de arte contemporâneas, como as de jota érre, o processo criativo tem caráter colaborativo – o público é parceiro do artista na realização da obra. Essas produções ganharam importância nas grandes cidades, por isso, são também conhecidas como obras de arte urbanas.

Artistas como jota érre pretendem promover uma reflexão sobre a realidade da vida nas cidades, os problemas políticos, sociais e ambientais e as contradições do espaço urbano.

Para ampliar esse tema, consulte os textos “Arte urbana” e “Fotografia e cidade”, indicados nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual, que tratam das características da arte urbana e podem ajudar na abordagem desse tema em sala de aula.

Se considerar oportuno, mostre aos estudantes no mapa-múndi (ou em aplicativos, caso haja acesso à internet na escola) onde se localizam os países mencionados no texto e na legenda da segunda imagem.

Arte e muito mais

O Morro da Providência

O Morro da Providência começou a ser ocupado no final do século dezenove, quando cêrca de 10 mil soldados que haviam participado da Guerra de Canudos (1896-1897) deixaram a região onde ocorreu o conflito, no sertão da Bahia, para se instalarem no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), que, na época, era a capital do Brasil. Como na região onde ocorreu o conflito havia muitas “favelas” – nome dado a um tipo de árvore espinhenta, comum na região Nordeste –, os militares que se mudaram para o Rio de Janeiro deram esse nome ao morro onde construíram suas habitações.

Por essa razão, o Morro da Providência por muitos anos foi conhecido como Morro da Favela. Com o decorrer do tempo, a palavra favela passou a designar os conjuntos de habitações precárias que existem em todo o Brasil.

Faça no diário de bordo.

Ícone. Tema Contemporâneo Transversal. Multiculturalismo.

O que você sabe sobre a história do bairro onde mora? Com a orientação do professor, faça uma pesquisa sobre o histórico e as origens do seu bairro. Você pode entrevistar moradores do bairro para conhecer a história da formação, os primeiros habitantes, as primeiras transformações ocorridas etcétera

Pintura. Em primeiro plano, diversas pessoas vestidas com roupas coloridas caminham no calçadão à beira de um rio. Há postes de iluminação e de energia elétrica. Sobre a rua, à esquerda, uma pessoa anda de bicicleta. À direita, há um caminhão pequeno e barraquinhas de tendas listradas coloridas. Ao fundo, atrás do rio, avistam-se dezenas casas coloridas em um morro sob céu azulado.
PRAZERES, Heitor dos. Morro da Providência. 1965. Óleo sobre tela, 80 por 100 centímetros. Coleção particular.
Respostas e comentários

Arte e muito mais

Se for possível, apresente aos estudantes o vídeo disponível em https://oeds.link/7sZvmi (acesso em: 16 fevereiro 2022), que mostra o episódio do programa Um pé de quê? Favela, que fala da árvore chamada popularmente de “favela” e destaca sua relação com a origem do Morro da Providência, no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).

Proposta de pesquisa

A abordagem do Morro da Providência pode ser o ponto de partida para uma proposta de pesquisa interdisciplinar, a princípio com o componente História. Os estudantes podem pesquisar a Guerra de Canudos e outros conflitos nacionais, o que possibilitaria que eles relacionassem a história da formação de territórios como o Morro da Providência à história do Brasil no século dezenove, que é um dos objetos temáticos do componente História para o 8º ano.

Posteriormente, eles podem desenvolver a pesquisa proposta no livro de modo interdisciplinar com o componente Geografia a fim de analisar os fluxos migratórios e contribuir para a elaboração de uma apresentação dos resultados da pesquisa, experimentando recursos da cartografia e criando representações espaciais dos locais pesquisados.

Organize os estudantes em grupos de três ou quatro integrantes, que possam trabalhar em conjunto desde a coleta dos dados nos locais onde residem até a organização dos resultados. No entanto, caso não seja possível que façam a coleta dos dados juntos, indique que a façam separadamente e depois se encontrem para organizar os dados coletados em grupo. Se considerar oportuno, a organização dos dados em grupo também pode ocorrer em sala de aula.

A ideia é que os grupos coletem as seguintes informações, usando o diário de bordo para registrar os dados:

a) Quando o bairro surgiu?

b) O que havia ali antes?

c) Como suas famílias chegaram ao local e onde residiam antes?

d) Há algum ponto de referência que todos conhecem no local?

e) Quais outros dados são relevantes sobre esse bairro? (Aqui cabem, por exemplo, indicações dos locais preferidos dos estudantes no bairro.)

f) Caso os integrantes do grupo residam em bairros diferentes, indique que observem também as semelhanças e as diferenças encontradas sobre a formação e a história de seus bairros.

Após a coleta dessas informações, os grupos deverão utilizar os registros no diário de bordo para elaborar um cartaz e/ou mural, no qual o ou os bairro(s) esteja(m) representado(s) espacialmente, e um breve relatório dos dados coletados.

Ao final, os estudantes podem relatar como foi a experiência de pesquisa.

Mulheres são heroínas

O artista jota érre realizou ações do projeto Mulheres são heroínas em vários lugares do mundo. Seu objetivo sempre foi chamar a atenção para mulheres que, em seu cotidiano, vivem em situações de risco.

No Brasil, a ação de jota érre teve início com entrevistas, que foram gravadas em vídeo, realizadas por ele com moradoras do Morro da Providência. Diante das câmeras, essas mulheres relataram seu dia a dia, seu trabalho, seus sonhos e suas tristezas. Durante a entrevista, elas também foram fotografadas, e essas fotografias foram reproduzidas em grandes painéis dispostos em diferentes espaços do morro. Observe a fotografia.

Fotografia. Em um cenário com casas com os tijolos aparentes, uma grande escadaria e homens transportando caixas verdes. Há também um automóvel perua, postes com muitos fios elétricos e uma bandeira.
Na escadaria, vê-se, em tamanho grande, um grafite em preto e branco com o rosto de uma mulher.
JR. Mulheres são heroínas. 2008. Intervenção realizada em escadaria do Morro da Providência,Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).

Os registros em vídeo, realizados durante as entrevistas feitas nas diversas cidades para onde jota érre levou esse projeto, deram origem a um documentário, que foi lançado em 2010 e tem o mesmo título do projeto.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Observe a imagem e responda:
    1. Descreva os elementos que você vê na imagem.
    2. Sobre qual superfície o rosto da mulher aparece? Como você acha que essa sobreposição foi feita?
    3. Você associa essa imagem a alguma intervenção artística ou a uma imagem do lugar onde você vive? Já viu algum trabalho de arte parecido?
Versão adaptada acessível

1. Com base na imagem descrita, responda:

a) Que elementos da imagem chamaram sua atenção?

b) Sobre qual superfície o rosto da mulher aparece? Como você acha que essa sobreposição foi feita?

c) Você associa essa imagem a alguma intervenção artística ou a uma imagem do lugar onde você vive? Já viu algum trabalho de arte parecido?

Respostas e comentários

Contextualização

Ao falar da obra Mulheres são heroínas, comente com os estudantes que, em suas entrevistas, jota érre perguntou a elas: “Como existir em um mundo dominado pelos homens?”. Agora, é hora de os estudantes refletirem sobre essa pergunta. O que eles pensam sobre essa questão? Eles consideram que vivem em um mundo dominado pelos homens? O que significa a palavra dominação nessa pergunta? De que fórma eles pensam que essa dominação pode ser desfeita para que mulheres e homens possam viver em condições de igualdade?

Medeie a conversa, com atenção para que estereótipos e preconceitos não sejam reiterados, a fim de que as estudantes possam dizer como se veem em relação a esse tema. Se precisar de parâmetros para pensar a questão, escolha temas que exemplificam essa ideia, como a disparidade entre homens e mulheres na política institucional e a diferença salarial média entre homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos (você pode buscar estatísticas para exemplificar isso). Debata com os estudantes e possibilite que eles reflitam com segurança, acolhimento e respeito, afinal, o gênero é um marcador que atravessa as suas relações cotidianas, tanto na escola quanto na família.

Foco na linguagem

    1. Os estudantes provavelmente descreverão um cenário periférico, com casas com os tijolos aparentes, uma grande escadaria e homens transportando caixas verdes. Há também um automóvel perua, postes com muitos fios elétricos e uma bandeira. Na escadaria, vê-se, em tamanho grande, o rosto de uma mulher.
    2. O lambe-lambe com o rosto da mulher foi colocado sobre a escada. Provavelmente, ele foi cortado em tiras e colocado somente na parte vertical dos degraus para ser visto desse ângulo.
    3. Exemplifique como fazer essa associação e comparação. Deixe que os estudantes deem continuidade às associações.

Casa Amarela Providência

Após desenvolver a ação Mulheres são heroínas, jota érre idealizou a criação da Casa Amarela Providência, um espaço dedicado à arte e à cultura, localizado no Morro da Providência. Nesse espaço, os moradores da comunidade participam de oficinas de pintura, fotografia, teatro, dança etcétera Observe uma fotografia da fachada da séde da Casa Amarela. No alto dessa casa, há uma escultura em fórma de lua criada por jota érre.

A Casa Amarela Providência também propicia períodos de residência artística para artistas estrangeiros no Morro da Providência. Em 2012, por exemplo, o artista português Alexandre Farto Aka Vhils, conhecido como Vhils, participou de oficinas na Casa Amarela e desenvolveu um projeto artístico no morro.

Fotografia. Fachada de uma casa amarela de dois andares. Encobrindo o topo da casa, uma intervenção artística criada a partir de uma estrutura de madeira que simula a raiz de uma árvore, na qual se veem pequenas réplicas de casas da comunidade.
Fachada da Casa Amarela Providência, no Morro da Providência, idealizada por jota érre. Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), 2017.

Vhils é um artista urbano que se dedica a diferentes fórmas de expressão artística, como o grafite e a escultura. Uma característica marcante de suas criações é a utilização de materiais que ele encontra no lugar para desenvolvê-las.

Assim como jota érre, Vhils estampou o rosto de moradores em espaços do Morro da Providência. A técnica utilizada por ele, no entanto, foi outra. Em vez de aplicar as fotografias em muros e paredes, ele esculpiu o rosto dos moradores nas paredes. Vhils descascou as paredes para obter o contorno do rosto. Observe a fotografia.

Fotografia. Destaque de um muro com intervenção artística no qual estão esculpidos os rostos de uma garota de cabelo longo e cacheado sorrindo e de um bebê com bochechas grandes. À esquerda, pessoas andam na escadaria da comunidade. Ao lado, facha lateral de casas populares e postes de energia elétrica com fiação aparente. Ao fundo, vegetação.
Parede esculpida por Alexandre Farto Aka Vhils retrata o rosto de moradores do Morro da Providência, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Fotografia de 2012.
Respostas e comentários

Contextualização

Se julgar oportuno, comente com os estudantes que a fachada da Casa Amarela Providência é revestida por uma instalação de madeira criada pelos artistas Takao Shiraishi e Dirby.

Explique aos estudantes que uma residência artística é uma prática muito comum na arte contemporânea. Artistas passam um período hospedados, por meio de uma instituição cultural, para desenvolver uma relação com determinado contexto e território e, então, realizar trabalhos de impacto para o lugar.

Ao analisar a obra de Vhils, pergunte aos estudantes quem eles gostariam de ver retratado nas paredes dos locais por onde passam no dia a dia.

O texto a seguir fornece mais informações sobre o artista Vhils e seu trabalho no Morro da Providência, no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Se considerar oportuno, apresente-o aos estudantes.

Artista português “descasca superfícies” no Morro da Providência

reticências

Brutal e complexa, a poesia visual do artista português Alexandre Farto aka Vhils retratada em intervenções que marcam paisagens urbanas nos quatro cantos do globo, chega ao Brasil como parte da turnê mundial de seu projeto intitulado Descascando a superfície. reticências

Em paredes de casas a serem demolidas, Vhils consegue traduzir o sentimento humano ao esculpir nos muros rostos de habitantes da favela, que carregam a intensidade de suas histórias nas expressões. São cinco obras que passam a fazer parte do cotidiano da vizinhança.

O trabalho deste artista nascido em Lisboa, em 1987, reflete bem a procura de uma essência perdida, influenciado, durante sua infância, pelo confronto entre a herança visual da Revolução de Abril de 1974 e, na década seguinte, pela chegada da nova linguagem da publicidade capitalista, resultada do desenvolvimento desenfreado das cidades que subjugou o campo e transformou o panorama socioeconômico de Portugal.

reticências

A linha de trabalho do artista tem como base o grafite, ao qual esteve ligado durante grande parte de sua carreira, e a técnica do estêncil, que descobriu enquanto procurava novos caminhos de expressão. Do grafite, Vhils captou o conceito fundamental do ato de destruição enquanto fôrça criativa e, a partir dessa ideia, desenvolveu um modo de rea­lização que usa a remoção, decomposição ou destruição, através de instrumentos como o martelo, o escopro e o martelo pneumático.

De fórma simbólica, ao remover algumas destas camadas e deixar outras expostas, ele traz à superfície algo que foi deixado para trás, mas que ainda compõe o momento atual.

reticências

ARTISTA português “descasca superfícies” no Morro da Providência. Jornal do Brasil, 22 novembro 2012. Disponível em: https://oeds.link/ubEkHd. Acesso em: 20 abril. 2023.

Por dentro da arte

Documentário

O documentário é um gênero do cinema diferente da ficção. Para fazer um documentário, pode-se usar estratégias como entrevistas ou arquivos de áudio e vídeo, por meio dos quais se constrói um registro sobre temas e experiências reais. Em geral, os temas dos documentários variam, abordando assuntos como comportamento, animais, acontecimentos, objetos, emoções, ciências, diferentes culturas, entre outros.

Na imagem, vemos a capa de divulgação do documentário que o artista jota érre criou ao mesmo tempo que realizava o projeto de lambe-lambe no Morro da Providência, no Rio de Janeiro. Para fazê-lo, ele coletou cenas daquele território e também entrevistas com as pessoas que participaram do seu projeto.

Fotografia. Capa de documentário. Fotografia em preto e branco de uma mulher com piercing no nariz e um ponto no centro da testa, usando lenço na cabeça. Sobre a imagem, há a frase Women are heroes.
Capa do documentário Mulheres são heroínas (2010), de jota érre.

Para fazer o documentário, ele criou uma pergunta de ponto de partida: “Como existir em um mundo dominado pelos homens?”. Com base nessa pergunta, cada uma das participantes compartilhou o seu ponto de vista e contou um pouco sobre a própria história.

E você, gostaria de assistir a documentários sobre algum tema específico?

Respostas e comentários

Por dentro da arte

Estimule os estudantes a pensar para quais temas sociais o gênero cinematográfico do documentário poderia trazer visibilidade e relevância.

Se possível, assista ao documentário com os estudantes em sala de aula. Você pode encontrar a edição do projeto realizada no Brasil em: https://oeds.link/yxXsni. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Depois de assistirem, comente como as respostas dessas mulheres foram registradas. Diante das câmeras, elas relataram seu cotidiano, seu trabalho, sonhos e tristezas. Enquanto elas eram entrevistadas, eram também fotografadas. As fotografias foram feitas em close-up, ou seja, com grande proximidade e foco na expressão do rosto, o que nos possibilita perceber com maior precisão as emoções da pessoa fotografada ou filmada. Dessa maneira, a intervenção de jota érre promoveu um debate reflexivo entre os membros da comunidade sobre seu contexto socioeconômico e político, por meio das suas histórias pessoais e suas emoções.

Proponha uma reflexão sobre como o artista promoveu uma articulação entre as artes visuais e a linguagem do cinema.

Se desejar, você pode realizar outras exibições de documentários em sala de aula ou até mesmo pedir aos estudantes que realizem uma pesquisa em um documentário, seguindo estes procedimentos:

um. Em grupo, selecionar um documentário em uma plataforma de filmes gratuita na internet, que eles possam assistir em casa ou na sala de informática da escola.

dois. Levantar os principais pontos e questões trabalhados no documentário.

três. Realizar uma sessão de compartilhamento dessa pesquisa entre a turma.

Indicações

Há diversas plataformas disponíveis na internet com conteúdo gratuito para trabalhar em sala de aula.

A plataforma Ecofalante, por exemplo, é focada em questões ambientais e foi criada especialmente para dar suporte a propostas educativas (disponível em: https://oeds.link/t6prz8. Acesso em: 16 fevereiro 2022).

O projeto Diz aí desenvolve projetos com as juventudes de diferentes contextos do Brasil, a exemplo da juventude rural. A cada edição, um novo contexto é apresentado (disponível em: https://oeds.link/QD6krw. Acesso em: 16 fevereiro 2022).

O projeto Vídeo nas aldeias, que será estudado nesta Unidade, é um potente trabalho de formação em cinema documental para populações indígenas, além de difundir um pouco sobre a cultura e organização social dos diferentes povos indígenas do Brasil (disponível em: https://oeds.link/Q9u6Gj. Acesso em: 16 fevereiro 2022).

Arte urbana: intervenção artística

O nome que se dá a trabalhos artísticos como o criado por jota érre no Morro da Providência é intervenção. Nas intervenções, os artistas realizam interferências em elementos preexistentes no espaço, em geral com o objetivo de despertar a atenção do público para determinada situação ou para refletir sobre ela. É o caso de Mulheres são heroínas e Rugas da cidade, obras apresentadas anteriormente.

Observe, agora, as imagens reproduzidas. São fotografias do monumento José Bonifácio de Andrada e Silva. Note que, em uma das imagens, a escultura está “vestida” com um colete salva-vidas. Quem realizou essa intervenção foi o artista visual Eduardo isrur. Nessa ação, cujo título é Sobrevivência, o artista “vestiu” esse e mais quinze monumentos da cidade de São Paulo (São Paulo).

Fotografia. Centralizada, estátua de homem vestindo terno, posicionada ao centro de uma praça. Abaixo, pedestal com texto explicativo sobre a figura da estátua. À esquerda e ao fundo, construções e pessoas caminhando.
Cesquiáti, Alfredo. José Bonifácio de Andrada e Silva. 1972. Escultura de bronze (sobre pedestal de granito), 330 por 98 por 88 centímetros. São Paulo, Brasil. Pedestal de granito: 180 por 120 por 98 centímetros. Fotografia de 2014.
Fotografia. Estátua de homem vestido com um colete salva-vidas laranja real, posicionada ao centro de uma praça e sobre um pedestal com texto. Algumas pessoas estão bem próximas à estátua, observando o texto do pedestal. À esquerda e ao fundo, construções e pessoas caminhando.
isrur, Eduardo. Sobrevivência. 2008. Intervenção realizada com um colete salva-vidas sobre o monumento de Alfredo Cesquiáti. São Paulo, Brasil. Fotografia de 2008.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Em sua opinião, por que o artista Eduardo isrur teria “vestido” o monumento nessa intervenção? Qual seria a relação dessa ação com o título da obra?

Respostas e comentários

Contextualização

Com base na obra de isrur, trabalhe o conceito de intervenção e promova uma reflexão sobre as intervenções urbanas, que possibilitam à população interagir com uma experiência artística, caracterizando-se como uma fórma de democratização do acesso à arte e à cultura.

Comente com os estudantes que as intervenções podem ser interpretadas de diversas maneiras e podem promover reflexões a respeito de vários temas, como a preservação ambiental e as desigualdades sociais.

Será preciso formar o olhar dos estudantes para identificar como esses temas estão representados ou são discutidos pelas intervenções.

Para isso, faça uma leitura das imagens, aprofundando a proposição da seção Foco na linguagem por meio das seguintes perguntas:

  • Quais são as diferenças entre as duas imagens?
  • Por que apenas na segunda imagem há tantas pessoas lendo as informações da obra no pedestal? O que chama a sua atenção?
  • Que significados o colete pode ter quando é colocado na escultura? Se o colete serve para salvar do afogamento, o que ele sugere quando veste essa escultura?
  • Vocês conhecem algum monumento ou escultura exposta em lugar público? Qual é o papel desses monumentos?
  • Se vocês fossem escolher alguma história ou personalidade para homenagear com um monumento, qual seria?
  • Se vocês pudessem intervir em um espaço do território onde vivem, ou sobre um monumento da sua cidade, qual intervenção fariam e por quê?

Deixe que os estudantes respondam livremente e instigue-os a imaginar fórmas e sentidos para a prática da intervenção urbana. Você também pode ter algumas ideias para compartilhar com eles, exemplificando o exercício de reflexão que as perguntas propõem.

Foco na linguagem

1. Estimule os estudantes a elaborar hipóteses de interpretação e a apresentá-las. A seguir, comente que, segundo o artista, ao “vestir” os monumentos, ele desejou promover uma reflexão sobre a história da cidade e sobre o vínculo dos cidadãos com o espaço. Explique que, ao despertar a curiosidade do público, Srur propôs a aproximação das pessoas com os monumentos da cidade – os quais, muitas vezes, permanecem esquecidos em meio à rotina urbana.

Arte de rua: Lambe-lambe

A técnica utilizada por jota érre para criar a intervenção Mulheres são heroínas, que conhecemos no início deste Tema, foi o lambe-lambe. Essa técnica é muito usada por artistas do grafite e consiste na colagem de cartazes em lugares públicos, a fim de divulgar uma ideia. O lambe-lambe é composto de mensagens verbais ou não verbais que despertam reflexões naqueles que as observam.

Observe fotografias de alguns lambe-lambes da artista Laura Guimarães.

Fotografia. Lambe-lambe rosa colado em um poste com o seguinte texto: Acorda desanimado, todo dia a mesma coisa. Engano seu, hoje vai ser diferente.
Fotografia. Lambe-lambes coloridos colados em um muro compondo o seguinte texto: Era uma vez agora.  Ao fundo, uma construção e carros estacionados.
Fotografia. Á esquerda, lambe-lambe amarelo colado em um poste com o seguinte texto: A chuva apertou. Molhou. O guarda-chuva fechado na mão. A chuva lavou. Encharcou. Era tudo que precisava. À direita, uma construção de tijolo aparente e carros estacionados.
Fotografia. Lambe-lambe amarelo colado em um poste com o seguinte texto: Fala, fala, o outro escuta. Fala, fala, sua vida, seus talentos fala e no final acha a conversa muito agradável.
GUIMARÃES, Laura. Microrroteiros da cidade. Lambe-lambe, dimensões variadas. São Paulo (São Paulo). Fotografias de: 1. 2013; 2. 2016; 3. 2015; 4. 2012.
Respostas e comentários

Contextualização

Chame a atenção dos estudantes para os vários títulos usados para descrever práticas como a intervenção urbana ou o lambe-lambe: arte pública; arte urbana; arte de rua. Proponha uma reflexão sobre os usos desses termos e observe com os estudantes que os monumentos escultóricos parecem se encaixar melhor no termo arte pública, porque apresentam, muitas vezes, umanarrativa oficial e são promovidos pelo Estado. Já as linguagens da intervenção e do lambe-lambe parecem ter uma relação mais dinâmica como os usos da cidade pela população, aproximando-se de maneira mais adequada, talvez, dos termos arte urbana ou arte de rua. Não há contradição entre os termos, mas há uma diferença sutil que precisa ser pensada.

Lambe-lambe

reticências

A arte urbana se tornou um elemento de composição das grandes cidades; grafites, stickers1nota de rodapé e lambe-lambes são intervenções de diversas abordagens que, ao percorrerem estes locais, buscam evidenciar as relações causais das transformações do espaço social. O gênero vai além de uma concepção de arte − são ferramentas de comunica-ção − utilizado por grupos geralmente de minorias. É acessível a qualquer nível social; por possuir um caráter ideológico e um baixo custo de produção, se espalhou pelas periferias.

Apesar da singularidade entre cartaz, pôster e lambe-lambe, hoje existe diferenciação entre os termos, pois para cada um deles é atribuído um sentido diferente. O cartaz possui valor funcional e comercial e está relacionado à propagação de uma ideia, [de] um produto ou [de] um serviço, disputa os espaços urbanos com os lambes. O pôster tem valor estético, decorativo e em geral é colocado em espaços privados. O lambe-lambe, cujo nome surgiu no século vinte e um, tem no cartaz o seu precursor, mas sua função o diferencia deste, pois está relacionado a um movimento com viés crítico e propõe uma ideia ou reflexão contrária a alguma conduta social ou desigualdade, ou simplesmente é resultado do trabalho de artistas e grupos de artistas que ocupam o espaço público com o objetivo de espalhar suas criações. reticências

O nome [lambe-lambe] vem dos fotógrafos ambulantes que eram conhecidos por fotógrafos “lambe-lambe”, reticências porque, ao exercerem suas funções nas ruas sempre com montagens fotográficas em cartazes e nas próprias câmeras para [divulgação] reticências, [isso] remete à ação de colagem das artes, processo realizado com cola látex. Se pensarmos no lambe-lambe como só um novo nome para algo antigo, podemos retornar a um grande período na história da arte[:] Saint-Flour, de 1454, considerado o primeiro cartaz criado na época do Renascimento. reticências

NASCIMENTO, Lorrâine Barbara Ferreira do êti ól Lambe-lambe: a arte da intervenção urbana. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. dezenove Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, Fortaleza (Ceará). Faculdade dos Guararapes, Jaboatão dos Guararapes (Pernambuco). 2017. página 1-4. (Grifos nossos.) Disponível em: https://oeds.link/imJ2lY. Acesso em: 28 março 2022.

Entre textos e imagens

Lambe-lambe

reticências

A prática de colar cartazes é antiga. Os mais diversos estilos e formatos, produzidos e reproduzidos com múltiplos objetivos, disseminaram intenções e ideias no espaço geográfico que constituem parte da história mundial. A transformação dos cartazes associa-se à tecnologia, à estética e ao pensamento de cada época. Existe hoje diferenciação entre os termos cartaz, pôster e lambe-lambe (ressignificação do cartaz), pois a cada um deles é atribuído um sentido diferente. O cartaz possui valor funcional e comercial e está relacionado à propagação de uma ideia, um produto ou serviço. O pôster tem valor estético, decorativo e em geral é colocado em espaços privados. O lambe-lambe reticências tem no cartaz o seu precursor, mas sua função o diferencia deste, pois está relacionado a um movimento com viés crítico e propõe uma ideia ou reflexão contrária a alguma conduta social ou desigualdade, ou simplesmente é resultado do trabalho de artistas e grupos de artistas que ocupam o espaço público com o objetivo de espalhar suas criações.

reticências

A diversidade dos lambe-lambes, expressão que utiliza desde poemas até frases ou fotos, reafirma a vertente artística e potencializa as possibilidades dessa intervenção, que também pode ser exercida de fórma anônima e espontânea.

reticências

OLIVEIRA, Diogo. Lambe-Lambe: resistência à verticalização do Baixo Augusta. Trabalho de conclusão de curso (pós-graduação). Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo, 2015. Disponível em: https://oeds.link/KsxDc2. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Fotografia. Muro com lambe-lambes coloridos e variados com as frases Mais amor por favor e Te desejo infinito.
MAROTTA, Ygor. Mais amor por favor. Lambe-lambe, sem dimensões. Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Fotografia de 2013.

Faça no diário de bordo.

Questões

  1. De acordo com o texto, qual é a diferença entre cartaz e lambe-lambe?
  2. Como são chamados trabalhos artísticos como o lambe-lambe?
Respostas e comentários

Entre textos e imagens

Observe que os exemplos de lambe-lambes utilizados nesta e em outras páginas trazem o texto, a palavra, como repertório visual e estímulo poético.

Promova uma reflexão sobre isso. Pergunte aos estudantes: qual é o efeito sobre nós dessas frases dispersas na cidade?

Deixe que reflitam abertamente sobre isso. Tal como informa o texto da seção, há diferentes tipos de usos dessa estética. Do ponto de vista da arte, o que se faz é promover uma interrupção no nosso trânsito cotidiano pela cidade, chamando a nossa atenção para temas ou ideias que, às vezes, nos passam despercebidos.

A criação de lambe-lambes e cartazes publicitários com palavras e imagens é uma oportunidade de trabalho interdisciplinar com Língua Portuguesa. Considere os projetos lambe-lambes apresentados neste Tema e exemplos de cartazes publicitários para estimular um debate crítico e analítico com os estudantes sobre o modo como essas fórmas textuais são construídas e sobre os recursos que empregam. Além disso, esse trabalho também pode se desdobrar para analisar o modo como esses recursos estão presentes não apenas nos espaços públicos, mas também nos espaços virtuais (em redes sociais, plataformas de transmissão de vídeos e sites de maneira geral).

O lambe-lambe, como estratégia da arte urbana ou de rua, é um modo de criar interrupções na rotina e de fazer da cidade um espaço de arte e de poesia.

Promova essa reflexão com os estudantes: quais palavras vocês gostariam de lançar ao mundo por meio do lambe-lambe?

Questões

  1. O cartaz, em geral, tem uma intenção prática e comercial de divulgar uma ideia, um produto ou um serviço. O lambe-lambe surgiu do cartaz, mas propõe uma ideia ou reflexão contrária à desigualdade ou ao comportamento social. Também pode ser uma maneira de os artistas disseminarem suas criações em locais públicos.
  2. Esses trabalhos são denominados intervenção artística.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


Neste Tema, você aprendeu um pouco sobre a técnica do lambe-lambe. Agora, você vai criar um cartaz utilizando essa técnica.

Material

  • Lápis
  • Borracha
  • Régua
  • Papel sulfite A4
  • Folhas de jornal
  • Tinta acrílica
  • Pincel para aplicação da tinta acrílica (cerdas resistentes)
  • Recipiente para água
  • Tecido de algodão ou papel-toalha
  • Cola branca
  • Recipiente para preparar a cola
  • Pincel grande ou rolinho de espuma para aplicar a cola
  • Água
Fotografia. Materiais escolares dispostos: lápis, borracha, potes de tinta acrílica, pincel, régua, folhas de jornal, papel sulfite, cola, recipiente plástico, tecido, copo plástico e rolo de espuma.

Momento 1 Escolhendo o tema

Escolha um tema para ser trabalhado em seu cartaz. Que mensagem você gostaria de transmitir? Pode ser por meio de palavras ou de uma frase poética. Pense em algo atual, um assunto relevante que você considera que merece ser discutido na sua comunidade ou na sua cidade.

Momento 2 Produzindo o cartaz

Utilize a folha de jornal para montar seu lambe-lambe. Nas folhas de papel sulfite, esboce as letras necessárias. Utilizando o lápis, a régua e a borracha, crie as letras, que podem ter tamanhos e tipos diferentes. Pense na disposição de sua frase na folha de jornal antes de reproduzi-la e pintá-la com a tinta acrílica; se preferir, pode escrever as palavras da frase primeiro sobre o papel sulfite, pintá-las com a tinta acrílica, esperar que sequem, recortá-las e, depois, colá-las sobre a folha de jornal.

Fotografia 1: Detalhe das mãos de uma pessoa sobre uma mesa escura. Com a mão direita, desenha uma letra com lápis sobre uma folha de papel sulfite. Com a direita, segura uma régua. Fotografia 2: Fotografia. Detalhe das mãos de uma pessoa sobre uma mesa forrada com folha de jornal. Com a mão esquerda, pinta a letra A com tinta vermelha e pincel sobre um pedaço de papel sulfite. Com a direita, segura dobrado um pedaço da folha de jornal. Fotografia 3:. Detalhe das  mãos de uma pessoa recortando a letra A pintada de vermelho. Fotografia 4: Detalhe das  mãos de uma pessoa passando cola em pedaços de papel sobre um jornal.
Passo a passo para a produção de lambe-lambe. Fotografias de 2018.
Respostas e comentários

Experimentações

As frases em lambe-lambe que os estudantes produzirão sobre jornal poderão ser aplicadas sobre um muro, parede ou, caso não obtenha autorização da direção e coordenação para isso, sobre um mural ou equivalente. O importante é que os estudantes tenham a oportunidade de ver seu trabalho em exposição em uma área de livre circulação da escola, que pode ser desde um corredor até um muro externo.

Considere utilizar de duas a três aulas para desenvolver essa atividade prática.

Apresente a proposta aos estudantes e oriente-os em relação ao material.

Você pode incentivá-los fazendo uma revisão do Tema e passando por cada uma das imagens apresentadas. Eles deverão ser criativos e críticos na proposição. Será preciso instigá-los a se perguntar sobre quais palavras, frases ou ideias gostariam de lançar para o mundo por meio do lambe-lambe.

Você pode separar os estudantes em grupos para que eles conversem e definam qual será o conteúdo do seu lambe-lambe. Contudo o lambe-lambe será feito individualmente.

Distribua folhas de sulfite, pincel e tinta para que os estudantes comecem a escrever no papel as letras que serão recortadas.

Eles poderão utilizar os celulares, em grupo, caso tenham esse recurso à disposição, para pesquisar estilos de fonte/letra nos quais poderão se basear. Essa pesquisa também pode ser feita em jornais e revistas.

Depois de pintarem com a tinta acrílica, é hora de recortar as letras.

Por último, eles deverão montar o cartaz, colando as letras recortadas sobre o papel-jornal.

Forre a base do lugar onde os cartazes serão aplicados, para evitar sujeira.

Siga estas orientações para a diluição da cola na água: 2 partes de água para 1 parte de cola. Aplique a cola na primeira folha como exemplo, umedecendo a base, aplicando o cartaz e, novamente, passando a cola diluída sobre o papel com auxílio do rolinho de tinta.

Os estudantes poderão se ajudar, mas cada um deverá aplicar a cola no seu próprio trabalho.

Depois de concluir essa atividade promova uma reflexão. Sente-se com os estudantes para olhar os trabalhos feitos, dialogar sobre o processo e sobre os resultados. Você poderá destacar alguns pontos por meio de perguntas:

  • Quais foram as dificuldades enfrentadas e como fizeram para solucioná-las?
  • Foi mais fácil ou mais difícil trabalhar sozinho? A etapa de conversa com os colegas contribuiu? E o apoio para a aplicação dos lambe-lambes, foi útil?
  • O que acharam das palavras ou frases? Que relações fazem entre elas? Quais diferenças destacariam?

Momento 3 Preparando a colagem

Para realizar a colagem, será utilizada cola branca diluída em água na proporção de uma parte de cola branca líquida para duas partes de água. Por exemplo: se você for utilizar um tubo de cola branca, dissolva esse conteúdo em duas quantidades de água desse mesmo tubo. Mexa bem até que a mistura fique homogênea. Depois, aplique a mistura usando um pincel. Não se esqueça de forrar o local onde estiver trabalhando para evitar que respingos de cola caiam no chão ou grudem nas carteiras, cadeiras, mochilas etcétera

Na hora de colar o cartaz, considere que a cola será utilizada em todo o verso da folha de jornal para fixá-la na parede ou no suporte. Depois de colado, você pode passar uma camada da mesma cola sobre o cartaz.

Fotografia. Adolescente de cabelo castanho curto e cacheado, vestindo uma camiseta azul com listras horizontais em azul-claro. Ele está colando um cartaz na parede feito com colagens de revista.
Fotografia. Detalhe de uma mão passando um pincel sobre um cartaz feito com colagens na parede.
Fotografia. Cartaz feito com colagens coloridas em jornal e pintura.
Passo a passo para a colagem de lambe-lambe. Fotografias de 2018.

Avaliação

Nessa atividade, você experimentou a técnica do lambe-lambe para a criação de um cartaz. Agora, reúna-se com os colegas e conversem sobre as questões a seguir.

  1. Qual foi o maior desafio ao realizar essa atividade?
  2. Após analisar as criações dos colegas, responda: qual delas chamou mais a sua atenção? Justifique.
Respostas e comentários

Avaliação

Os estudantes poderão ser avaliados pela qualidade e pelo esforço reflexivo na realização do trabalho individual, pela contribuição e articulação nas etapas em grupo e pela participação tanto na conversa introdutória da proposta como na reflexão final. Observe também se, nas conversas, eles foram capazes de produzir relações e comparações com as referências e os conteúdos trabalhados ao longo da Unidade.

Promova uma roda de conversa para a troca de experiências e observe o interesse dos estudantes em relação às produções dos colegas, atentando para as qualidades que ressaltam para justificar seus interesses: elas destacam todos os elementos que compõem os lambe-lambes, ou seja, abordam tanto os aspectos visuais e de diagramação quanto os do texto/conteúdo expressado? Ou privilegiam apenas um desses aspectos?

Por fim, aproveite esse momento final para observar como os estudantes trabalharam a experimentação a partir de suas produções. O que está expresso nos lambe-lambes? Como eles foram construídos? O que essas produções revelam sobre o trabalho com os estudantes?

Peça a eles que registrem a atividade no diário de bordo, com uma reflexão por escrito, fotografia ou outro recurso de sua preferência.

Nota de rodapé
1 
Tipo de arte urbana que utiliza etiquetas adesivas, uma manifestação da arte pós-moderna popularizada nos anos 1990 por grupos urbanos ligados à cultura alternativa.
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