Tema 2  Paisagens e histórias do Brasil na arte

Frans pôst

Assim como o fotógrafo francês jota érre, que conhecemos no Tema 1, ao longo da história, artistas de diferentes nacionalidades representaram aspectos sociais e culturais do Brasil em suas obras. Observe, por exemplo, a pintura reproduzida a seguir, de autoria de Frans pôst (1612-1680), artista holandês que chegou ao Brasil em 1637.

Pintura. Vista de um campo aberto. Em primeiro plano, à esquerda, duas árvores próximas, uma, com flores vermelhas. Ao lado, três homens orientam a direção de uma carroça puxada por dois bois na estrada de terra. À direita, vegetação. Ao fundo, morros de vegetação e um rio cortando a paisagem. Há algumas casas próximas ao rio.
pôst, Frans. O carro de bois. 1638. Óleo sobre tela, 61 por 88 centímetros. Museu do Louvre, Paris, França.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Descreva todos os elementos que você vê na imagem.
  2. Em sua opinião, o que teria motivado a vinda de um artista holandês para o Brasil no século dezessete?
Versão adaptada acessível

1. Descreva com suas palavras todos os elementos da imagem.

Respostas e comentários

Objetivos

  • Refletir sobre a ideia de “olhar estrangeiro” sobre o Brasil, por meio do exemplo dos artistas viajantes.
  • Reconhecer a paisagem como gênero artístico.
  • Interpretar e valorizar o patrimônio cultural de diferentes épocas e origens.
  • Desenvolver a autoconfiança e a crítica por meio da experimentação artística e do diálogo.
  • Desenvolver o olhar para as imagens da arte.
  • Reconhecer a diversidade cultural e social que integra a arte indígena contemporânea.
  • Reconhecer a cultura e o trabalho locais como temas formadores do pensamento artístico brasileiro.
  • Refletir sobre a retomada de tradições culturais de matriz africana e indígena pela arte.
  • Refletir criticamente sobre as diferenciações entre as categorias de arte e artesão, artista e artista popular.
  • Identificar diferentes tipologias e finalidades entre os museus de arte.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre zero um), (ê éfe seis nove á érre zero dois), (ê éfe seis nove á érre zero três), (ê éfe seis nove á érre zero quatro), (ê éfe seis nove á érre zero cinco), (ê éfe seis nove á érre zero seis), (ê éfe seis nove á érre zero sete), (ê éfe seis nove á érre zero oito), (ê éfe seis nove á érre três um), (ê éfe seis nove á érre três três), (ê éfe seis nove á érre três quatro) e (ê éfe seis nove á érre três cinco).

Foco na linguagem

  1. Trata-se de uma paisagem rural. Há elementos naturais – vegetação e rio –, e também pessoas negras escravizadas realizando trabalho braçal forçado. Chame a atenção para o uso das técnicas de pintura e desenho e a precisão dos detalhes. A pintura sintetiza a imensidão do espaço: as personagens e o carro de bois ocupam o primeiro plano; três homens negros orientam a direção do carro puxado por dois bois na rua de terra; ao redor, a vegetação. O céu ocupa a maior parte da tela; esse recurso estava a serviço da representação da profundidade; a monotonia é rompida pela linha sinuosa do rio e pelo conjunto das construções à sua margem.
  2. Possibilite aos estudantes que elaborem hipóteses. Depois, informe que pôst chegou ao país em uma comitiva que acompanhava o conde Maurício de Nassau (1604-1679). Explique a eles que, nessa época, parte do Nordeste brasileiro era dominada pelos holandeses. Os artistas, os cientistas e os intelectuais da comitiva de Nassau tinham por objetivo registrar os aspectos naturais e humanos da colônia a fim de torná-los conhecidos na Europa.

A pintura de paisagem

Pinturas como a de Frans pôst, que você conheceu anteriormente, são chamadas paisagem e se caracterizam pela representação de um espaço observado como tema central, por vezes único, de uma obra, podendo ser rural ou urbano. Esse lugar, no entanto, pode integrar alguns elementos mais discretos, narrativos, simbólicos ou alegóricos que ampliam o sentido da pintura.

Em Paisagem com jiboia, pintura aqui reproduzida, Frans pôst representou uma área rural com a típica flora brasileira. No primeiro plano, à direita, em meio à vegetação, é possível identificar uma jiboia. Podem-se ver a cabeça e parte do corpo da serpente entre os arbustos. Ao fundo, o céu e outros elementos da paisagem foram pintados com cores mais claras e frias. A escolha dessas cores possibilitou ao artista obter o efeito de profundidade.

Pintura. Vista geral de campo aberto com vegetação de arbustos e árvores com um rio cortando a paisagem. À esquerda, casarões construídos à beira do rio; ao centro, um grupo de pessoas próximas à beira do rio; à direita, em primeiro plano, uma cobra camuflada no meio da vegetação. Céu azul com nuvens que se estende até o horizonte.
pôst, Frans. Paisagem com jiboia. cêrca de 1660. Óleo sobre tela, 119 por 173,5 centímetros. Museu de Arte de São Paulo Assis chatôbrian (maspi), São Paulo (São Paulo).

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Quais semelhanças e diferenças você percebe entre a imagem da página anterior e a desta página?
  2. Essa imagem se assemelha a alguma paisagem do Brasil que você conhece?
  3. Quais paisagens do Brasil você gostaria de ver representadas pela arte? Por quê?
Respostas e comentários

O gênero paisagístico na arte acadêmica

Embora sua origem remonte à Roma antiga, o gênero paisagem afirmou-se artisticamente no século dezessete pelas mãos de artistas europeus, como Salomon van Ruysdael (cêrca de 1600-1670) e Jan van Goyen (1596-1656).

Se possível, apresente aos estudantes algumas obras desses artistas e explique que a máxima expressão desse gênero foi obtida no movimento impressionista.

A partir do século dezesseis, muitos artistas se deslocaram da Europa para a colônia portuguesa, atual território brasileiro. Suas obras são valiosos documentos, pois revelam aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos de diferentes períodos da história do Brasil. Comente que esses artistas, em geral, imprimiram em suas obras o olhar do colonizador na realidade observada.

Além disso, nos registros gráficos e pictóricos, o impacto da cor e da luminosidade, características de um país tropical, era amenizado. Chamados artistas viajantes, esses europeus, por meio de desenhos, gravuras e pinturas, foram os “cronistas” da vida brasileira do século dezesseis ao dezenove.

As invasões holandesas

Comente que os holandeses invadiram a América portuguesa no século dezessete. As Coroas portuguesa e espanhola haviam se unificado sob domínio da Espanha, de 1580 a 1640, período em que a América portuguesa passou a pertencer aos espanhóis. A Holanda, também dominada pela Espanha, lutava pela independência. Assim, as invasões dos holandeses à colônia de Portugal na América constituíram um modo de combater os espanhóis. Em 1630, os holandeses atacaram o litoral pernambucano e apoderaram-se da região em 1635. O domínio holandês do litoral nordestino estendeu-se até 1654. Se desejar, proponha uma pesquisa com o componente História.

Foco na linguagem

  1. Deixe que os estudantes exercitem a leitura de imagem e que promovam comparações, destacando os elementos da paisagem, as cores e a composição que reserva um campo grande do quadro para o céu.
  2. Você pode ampliar a discussão e perguntar a eles se já trabalharam o conceito de paisagem no componente Geografia. Informe-os sobre o amplo alcance do termo, que pode compreender paisagens naturais, como essas representadas na obra de Frans pôst, mas também paisagens urbanas.
  3. Provoque os estudantes a promover comparações entre essa paisagem e os exemplos da região onde vivem.

Artista e obra

Frans Post

Desenho a grafite. Um bicho-preguiça deitado, de barriga no chão.
pôst, Frans. Preguiça. 1637-1644. Desenho a grafite, 16,6 por 21,5 centímetros. Arquivos da Holanda do Norte.
Desenho a grafite. Um tatu com rabo longo. Ele está de perfil e voltado para a esquerda.
pôst, Frans. Tatu de banda preta. 1637-1644. Desenho a grafite, 16,5 por 21,4 centímetros. Arquivos da Holanda do Norte.
Pintura sobre grafite. Um macaco comendo. Ele está de lado e olha na direção de quem está observando a imagem.
pôst, Frans. Macaco. 1637-1644. Aquarela e guache com caneta preta sobre grafite, 15,6 por 20,1 centímetros. Arquivos da Holanda do Norte.
Pintura sobre grafite. Um tamanduá com a língua para fora. Ele está de perfil e voltado para a direita.
pôst, Frans. Tamanduá. 1637-1644. Aquarela e guache com caneta em preto e marrom sobre grafite, 11,6 por 20,4 centímetros. Arquivos da Holanda do Norte.
Pintura sobre grafite. Uma anta com listras horizontais brancas. Ela está voltada para a direita.
pôst, Frans. Anta da planície. 1637-1644. Aquarela e guache com caneta preta sobre grafite, 15,8 por 20,9 centímetros. Arquivos da Holanda do Norte.
Pintura sobre grafite. Um porco-espinho com rabo longo. Ele está encolhido, com a cabeça quase entre as patas traseiras, voltado para a direita.
pôst, Frans. Porco-espinho-de-rabo-agarrado. 1637-1644. Aquarela e guache em tons de marrom, cinza e preto, caneta em preto sobre grafite, 15,8 por 20,5 centímetros. Arquivos da Holanda do Norte.

Frans pôst é um dos mais reconhecidos artistas viajantes que passaram pelo Brasil. Ele fez seus primeiros registros do país em sua primeira viagem para cá, aos 25 anos.

Artistas viajantes como ele tinham a missão de documentar a fauna, a flora, as paisagens e a vida nas colônias americanas do século dezessete. Frans pôst fez parte da comitiva de Maurício de Nassau, durante o período da ocupação holandesa em Pernambuco.

Além de representar as paisagens do Brasil, pôst foi um estudioso da vida nessas terras. Quando viajava, Frans pôst registrava o que via com materiais secos e molhados para poder transportar os desenhos que produzia. As pinturas a óleo, como as reproduzidas anteriormente, eram feitas apenas após seu retorno ao país de origem.

Em grande parte, os artistas viajantes foram responsáveis por criar e difundir um imaginário sobre as colônias nas Américas.

Respostas e comentários

Artista e obra

Essa seção situa Frans pôst em relação ao legado dos artistas viajantes. Além dele, muitos outros poderiam ser destacados, como alecsânder von rrambolti e âubert équirráut. Para discutir as obras de Frans pôst, se possível, utilize o áudio do historiador da arte Pedro Corrêa do Lago no audioguia do maspi, disponível em: https://oeds.link/phnQuO. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Comente com os estudantes que a arte cumpria uma missão fundamentalmente científica nesse contexto. Esses artistas registravam em detalhes a botânica e a fauna, como documentos daquilo que encontravam. Por isso, é muito comum que as suas obras sejam encontradas também em livros didáticos de história, além das artes.

Pergunte aos estudantes se eles compreendem por que desenhos em grafite, aquarela e guache, e também as pinturas feitas posteriormente, eram utilizados com essa finalidade.

Comente que a fotografia foi inventada dois séculos depois, no século dezenove, e que por isso essas técnicas mais artesanais cumpriam essa função.

Proponha uma conversa com a turma sobre as relações entre arte e ciência. Pergunte aos estudantes:

  • Quais outras relações vocês fazem entre arte e ciência?
  • Vocês acham que a arte é um documento da história?
  • Vocês sabiam que a arte prestou esse serviço à colonização na história do Brasil? O que vocês pensam sobre isso?

Deixe que os estudantes discutam abertamente, já que muitas dessas questões serão retomadas nas seções seguintes e na continuidade do Tema 2.

Sugira aos estudantes que façam anotações sobre essas reflexões no diário de bordo.

Por dentro da arte

Audioguias: outras vozes na arte

O Museu de Arte de São Paulo Assis chatôbrian (maspi) tem cinco pinturas de Frans pôst em seu acervo. Leia a transcrição das considerações do curador Hélio Menezes sobre essas obras, disponível para escuta no audioguia on-line do Museu:

“As paisagens do Frans pôst são um bom ponto de partida para pensarmos, discutirmos e revisarmos o que é a construção de um certo Brasil a partir de olhar estrangeiro. Especialmente nos primeiros séculos de colonização, a gente não tem registros de telas, enfim, obras outras feitas por brasileiros, mas, no geral, pelo olhar estrangeiro.

No caso de Frans pôst, ele integrou a comitiva de artistas e intelectuais que veio com Maurice de Nassau. reticências E nessa comissão o que se vê é uma pretensão de obras documentais. Eles pretendiam mostrar um certo Brasil, especialmente para a Europa. Essas obras não ficaram aqui, essas obras eram feitas para ir para lá. E, especialmente as [obras] de Frans pôst que integram o maspi, nenhuma delas foi feita no seu período no Brasil, mas feitas no seu período de volta à Holanda, a partir dos desenhos originais que ele tinha feito aqui.

Nesse processo, ele foi incorporando uma série de exotizações, de animais agigantados, de plantas enormes, uma fauna e flora absolutamente paradisíacas e também de personagens vivendo em um certo idílio brasileiro.

reticências Frans pôst é uma boa entrada para discutir como foi se construindo uma espécie de representação discursiva e visual sobre os negros no Brasil, e também sobre os índios, em menor escala, que muitas vezes aparecem em nossos livros escolares como se fossem documentos de época, como se fossem uma espécie de retratos da época.

reticências Apaga-se, entretanto, ou é muito menos discutida, a dimensão criativa que esses pintores, em especial Frans pôst imprimiu em suas obras. reticências. O que temos ali é a criação de uma certa paisagem pernambucana muito mais ligada às concepções que estavam informando o fazer artístico de Frans pôst na Europa do que à própria paisagem pernambucana. Então, de um lado, a gente pode tratar essas obras com um olhar de alguma maneira documental reticências, mas a maior parte do que está ali é fantasia. É criação.”

MENEZES, Hélio. Frans pôst, Paisagem em Pernambuco com casa-grande, 1665. Audioguia. São Paulo: maspi, 2018. 1 áudio (cêrca de 3 minutos). Disponível em: https://oeds.link/4tEKCK. Acesso em: 5 julho 2022.

Fotografia. Homem e mulher de costas dividem um fone de ouvido. Eles estão voltados para uma parede branca com quadros de desenhos abstratos em preto, vermelho e branco.
Dois jovens compartilhando audioguia enquanto exploram uma exposição em uma galeria de arte, na Rússia. Fotografia de 2020.
Respostas e comentários

Por dentro da arte

Se possível, escute a faixa completa do audioguia do maspi, com as considerações do curador Hélio Menezes sobre o aspecto, a um só tempo, documental e criativo das obras de Frans pôst, disponível em: https://oeds.link/4tEKCK. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Ao fazer a leitura da página e, se possível, executar a faixa de áudio em sala de aula para os estudantes ouvirem, você pode contextualizar o que é um audioguia: um recorte de conteúdos em áudio, que pode ser acessado para conhecer a coleção de um museu remotamente ou durante uma visita presencial.

Retome a discussão iniciada nas páginas anteriores sobre o papel da arte como documento da história.

Lembre-se de problematizar a representação das pessoas negras e indígenas nas obras de Frans pôst e dos demais artistas viajantes. Muitas vezes, a violência contra indígenas e negros escravizados não é representada. Não à toa, até hoje é comum encontrarmos imagens e menções comerciais à época colonial (exemplo: café colonial) como se a memória desse período fosse pacífica, ou como se essa memória não representasse uma grande violação da memória e dos direitos das pessoas negras e indígenas. Muitas vezes, elas são representadas nas pinturas da época como “um elemento a mais na paisagem”, sem destacar as marcas da violência física e psicológica a que a escravização e a colonização lhes submetia. Isso, tal como toda a criação de um imaginário sobre o Brasil colonial na obra de Frans pôst, é um modo de aplacar uma violência histórica que reverbera no imaginário brasileiro até hoje.

Em suma, imagens como essas atendem ao propósito de representar o Brasil como um país idílico, um paraíso tropical. Em nome de um ideal de que no país os povos convivem em harmonia e sem racismo – o que é historicamente denominado democracia racial, por Gilberto Freire –, apaga-se com imagens a violência constitutiva da formação social e cultural brasileira.

Se possível, problematize esses temas. Se desejar, proponha um projeto integrado ao componente História, com atenção às imagens do período colonial encontradas também nos livros de história e à presença ou à ausência de problematizações sobre a violência colonial, em particular contra pessoas negras e indígenas.

Ao trabalhar esses temas, tenha em mente a necessidade de mediar a recepção, cuidando para que os estudantes tenham respeito por essa memória e pelos afetos dos colegas que se identificam racial e culturalmente com matrizes africanas e indígenas.

Brasil no plural

Já que fizemos a crítica da paisagem do Brasil representada por artistas estrangeiros, como seria refletir sobre as paisagens daqui repensadas e representadas por artistas brasileiros? Como seria a arte brasileira feita a partir das matrizes ancestrais dos povos originários desta terra?

O artista-indígena Gustavo Caboco faz da arte um caminho para reconstruir a sua identidade indígena. Em sua pesquisa de retorno à origem indígena wapixana, ele não apenas percorre diferentes paisagens, mas também usa o som, o bordado e o desenho como recursos para se conectar com a ancestralidade indígena.

Pintura. Quadro em branco e vermelho que apresenta diversas cenas conectadas por uma raiz da terra. De cima para baixo: pés descalços sobre a terra; um homem de cujos pés descalços sai uma raiz, que se conecta com a cena seguinte, em que aparecem mais pés descalços no solo; um homem de chapéu com uma espingarda em mãos; uma pessoa segura um objeto redondo com uma face e, ao lado, a raiz percorre a cena e entra em um buraco, que se conecta com a próxima cena, na qual a raiz sai do outro lado do rio, na forma de um lagarto.
CABOCO, Gustavo. Teju vira terra. 2018. Nanquim sobre papel, 21,6 por 8,8 centímetros. Acervo do artista.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Descreva os diferentes elementos que você vê na obra do artista.
  2. Quais elementos você associa com uma paisagem?
  3. A quais tipos de paisagem a obra remete? Essa é uma paisagem tal como a arte tradicionalmente representou?
  4. Você consegue imaginar uma história a partir dessa imagem?
Versão adaptada acessível

1. Descreva com suas palavras os diferentes elementos que você identifica na obra do artista.

Respostas e comentários

Contextualização

A sequência do Tema 2 oferece um contraponto crítico às narrativas tradicionais sobre o Brasil como uma terra idílica, tal como foi representado pela arte do período colonial.

Observe que a obra de Gustavo Caboco é apresentada no formato retrato, e não paisagem. Ou seja, ela é uma obra apresentada na vertical, como um retrato ou uma figura humana. Ela lembra uma história em quadrinhos, por reunir diferentes elementos ou cenas em um único quadro, como se criasse uma sequência.

Ao apresentar a imagem, comente que o artista nasceu e cresceu em Curitiba, Paraná, mas que sua mãe nasceu na terra indígena Canauanin, em Roraima. Depois de formar-se em Arte, Gustavo Caboco decidiu reconectar-se com a ancestralidade uápixãna da mãe, aos poucos redescobrindo as histórias de seu povo, no que ele chama de caminhos de retorno à terra.

Conte essa história para os estudantes e pergunte: quais relações podemos fazer entre as reflexões das páginas anteriores e essa história? Em que sentido as nossas histórias e a retomada de nossas tradições ancestrais poderiam mudar a nossa relação com a paisagem e a terra?

Para saber mais sobre o tema da arte indígena contemporânea, acesse a página dos trabalhos de Gustavo Caboco no site da 34ª Bienal de Arte de São Paulo, disponível em: https://oeds.link/gH61ii. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Foco na linguagem

  1. De cima para baixo, a imagem representa pés descalços sobre a terra; um homem que tem raízes que saem dos pés e se ligam à terra; um homem com uma espingarda preparada para atirar; uma pessoa abraçada à Lua; uma raíz saindo do pé, atravessando um buraco e saindo na outra borda de um rio, na fórma de um rabo de jacaré.
  2. Embora não se pareça com as paisagens apresentadas anteriormente, a imagem retrata o rio e a montanha, as raízes adentrando a terra e as sementes, que podemos associar à ideia de natureza.
  3. Embora apresente elementos da natureza e da vida conectada à terra, essa não é uma paisagem tradicional. Até mesmo o formato da imagem, na vertical, não corresponde ao formato usado para retratar paisagens (horizontal). Mas ela propõe outra narrativa acerca da relação entre as pessoas e a terra: uma crítica da colonização e da desconexão com as raízes da cultura indígena brasileira.
  4. Deixe que os estudantes respondam livremente. O objetivo é criar uma conexão sensível, criativa, subjetiva com a noção de paisagem, e não uma relação formal, tal como faz a arte acadêmica.

A pluralidade da arte indígena no Brasil

Observe a intervenção urbana do artista Denilson bãníua.

Fotografia. Projeção da frase Brasil Terra Indígena em um monumento ao entardecer. As letras apresentam grafismo que remete à arte indígena. Céu com nuvens.
Intervenção urbana do artista Denilson bãníua com projeção de texto sobre o Monumento às Bandeiras (1953), em São Paulo (São Paulo), com a frase Brasil Terra Indígena. Fotografia de 2020.

Denilson é um artista do povo bãníua que produz diferentes linguagens artísticas: grafite, sticker, gravura, performance, desenho etcétera A intervenção urbana feita com projeção de luz, com a frase Brasil Terra Indígena, foi projetada sobre o Monumento às bandeiras, de Victor brêchêrê. Esse monumento é bastante criticado por enaltecer bandeirantes, que massacraram os povos indígenas durante o avanço dos colonizadores para o interior do país.

Com sua obra, o artista reivindica a visibilidade da cultura, das tradições e das lutas sociais indígenas, questionando o apagamento da memória indígena pelas narrativas oficiais da história do Brasil. Por meio da intervenção, ele provoca uma revisão crítica do monumento, que é um cartão-postal da cidade de São Paulo.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Como essa intervenção urbana transforma a paisagem?
  2. Quais associações você faz entre essa imagem e o Tema 1, trabalhado anteriormente?
  3. Você associaria essa imagem à ideia de arte indígena? Por quê?
  4. O que você sabe sobre as expressões culturais e artísticas dos povos indígenas?
Respostas e comentários

Foco na linguagem

  1. O texto é projetado com um projetor especial de luz. A intervenção foi feita sobre um monumento, transformando a vista noturna da paisagem onde o monumento está inserido. Ela inscreve na paisagem uma reflexão sobre um tema que faz parte da história da formação daquela mesma paisagem, mesmo que seja uma história apagada.
  2. Oriente os estudantes a retomar os conteúdos e as reflexões já realizados ao longo do Tema 1.
  3. Permita que os estudantes reflitam abertamente. Se necessário, problematize as relações que circunscreverem os povos indígenas e apenas as fórmas tradicionais, a floresta ou o passado histórico do Brasil. Os povos indígenas, apesar do apagamento no imaginário cultural, resistem social e culturalmente e desenvolvem muitos modos de articulação entre seus povos, inclusive por meio da arte. Por um lado, artistas e povos transmitem tradições muito antigas da arte. Por outro, os artistas indígenas são criadores singulares, muitos dos quais têm ocupado espaços importantes da cena artística, como no caso do artista Denilson bãníua.
  4. Incentive os estudantes a pesquisar sobre outros artistas, que produzem música, artes visuais, cinema etcéteraVocê pode apresentar alguns nomes, como Katú Mirim, Sueli Maxacalí e Jaider Esbell.

Arte e muito mais

Vídeo nas aldeias

O projeto Vídeo nas aldeias é uma iniciativa de formação em Cinema e de difusão da cultura dos povos indígenas do Brasil. Há mais de 30 anos, o projeto percorre os territórios de diferentes povos, ensinando a elaborar roteiros, gravar e editar filmes documentais. Cada povo decide quais serão os conteúdos do filme e como ele será feito.

Por meio do projeto, é possível vislumbrar o que esses povos têm em comum ou de diferente entre si. Ademais, ele permite observar as diferentes paisagens que compõem o Brasil, a diversidade de ecossistemas e os modos de interação entre os seres humanos e a natureza.

O uso das tecnologias do cinema é um modo de levar as ideias e as histórias desses povos para qualquer lugar, possibilitando que eles escolham como querem ser representados.

Há outras fontes que também podem ser acessadas para ampliar o conhecimento sobre as culturas indígenas do Brasil. A cineasta Sueli Maxacali, que também é presidente da Associação Maxacali de Aldeia Verde, produziu vários filmes, que difundem os saberes e a arte do seu povo.

Fotografia. Três homens indígenas fazem uma filmagem em campo aberto. O homem à esquerda, vestido com calça jeans, moletom e touca preta, segura uma câmera com microfone e aponta na direção de outros dois homens. À direita, um homem vestido com calça jeans e casaco de frio. Ele está com as duas mãos no bolso e olha para frente. O outro homem, ao centro, está vestido com calça jeans, casaco preto e touca com protetor de orelhas. Ele olha para o homem que está filmando. Está com os braços semi-flexionados para cima e as mãos espalmadas, como se estivesse gesticulando. Ao redor, vegetação.
Filmagem da etnia Êmibiá Guarani, na aldeia Tekoá Koenju, em São Miguel das Missões (Rio Grande do Sul). Projeto Vídeo nas aldeias, 2009.
Respostas e comentários

Arte e muito mais

O projeto Vídeo nas aldeias começou na década de 1980. De lá para cá, se transformou. Atualmente, conta com o incentivo das políticas públicas de cultura, fornece o equipamento completo e a formação para que as pessoas que integram os povos indígenas produzam os seus filmes, desde a elaboração do roteiro até a edição final.

Os filmes mostram os modos de vida e a organização das aldeias. Ademais, revelam os modos de interação com a terra que constituem as suas cosmologias e modos de organização social, revelando uma concepção muito mais integrada entre humanos e paisagens, ou melhor, entre natureza e cultura.

Essa abordagem e uso da linguagem do cinema tem relação com vários Temas contemporâneos transversais, como Multiculturalismo, Cidadania e civismo e Ciência e tecnologia. Ao mesmo tempo que promove a difusão dos saberes e das culturas indígenas, permite que esses povos decidam como querem se apresentar à sociedade.

Nessa seção, você poderá propor a realização de uma pesquisa e de um debate entre os estudantes.

Organize os estudantes em grupos de modo a equilibrar as competências e as habilidades dos integrantes, a equiparar as disparidades e a melhor desenvolver a proposta, caso a turma seja muito numerosa.

Cada grupo deverá assistir a um vídeo do projeto, nos celulares ou na sala de informática da escola. Depois, deverão anotar os principais pontos discutidos, elaborando também uma reflexão sobre o tema com ênfase no que foi apresentado pelos autores do filme. Ao final, cada grupo deverá apresentar suas percepções em sala de aula.

Você pode conduzir alguns questionamentos, como:

a) Quais são as diferenças e as semelhanças entre os aspectos culturais indígenas abordados nos vídeos e as culturas nas quais vocês estão inseridos? E entre uma etnia indígena e outra, há diferenças?

b) Nos vídeos, quais usos das tecnologias atuais ou tradicionais é possível identificar? E como você imagina que elas participam da vida cotidiana desses povos?

Depois que as pesquisas forem apresentadas, retome as perguntas 3 e 4, da seção Foco na linguagem, da página anterior, para revisar a concepção que os estudantes têm sobre a arte e a cultura indígena.

Os estudantes podem ser avaliados por seu empenho na pesquisa, articulação e disposição para o trabalho em grupo e pelas contribuições nas reflexões iniciais e no debate. Observe também o respeito e a abertura para as concepções de mundo que a produção dos povos indígenas apresenta.

Os vídeos podem ser acessados em: https://oeds.link/Q9u6Gj. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

A expressão dos saberes regionais na arte popular

A arte pode ser usada como uma ferramenta para interpretar e representar as ideias e as histórias de uma pessoa ou de uma coletividade. As obras da artista Maria Auxiliadora apresentam diferentes práticas culturais e do trabalho no Brasil, representando assim as histórias e os modos de vida do nosso povo.

Pintura. Quadro com cores vivas. Pessoas  trabalham em uma plantação. Elas usam roupas floridas e coloridas, todas  contornadas de branco, contrastando com o fundo verde da paisagem. No centro do quadro, há uma estrada de terra na qual um homem guia uma carroça puxada por cavalos. À esquerda, três pessoas fazendo a colheita de uma plantação. À direita, uma mulher está fazendo a colheita da plantação enquanto a outra coloca os frutos colhidos em um cesto grande. Ao fundo, à direita, duas casinhas. Ao redor, plantação.
SILVA, Maria Auxiliadora da. [Sem título]. 1970. Técnica mista, 39 por 59 centímetros. Coleção particular.

A artista Maria Auxiliadora já foi chamada de “naífi ”, “popular” e “autodidata”. Cada um desses títulos tem um significado diferente. O que nenhum deles reconhece é que Maria Auxiliadora é, em primeiro lugar, uma artista. A diferença entre ela e os artistas com formação acadêmica e universitária é que ela aprendeu a produzir arte em contato com mestres da tradição popular. Ela estudava e vivenciava plenamente os seus processos criativos, dialogando com as obras que outros artistas procedentes do lugar onde ela morava produziam.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. O que você vê na obra da artista Maria Auxiliadora?
  2. Que efeito as cores usadas pela artista provocam?
  3. Você já viu alguma cena parecida com essa? Que relações você faz entre o trabalho no campo e a sua vida cotidiana?
  4. A obra não tem título. Qual título você daria para ela e por quê?
Versão adaptada acessível

1. O que você vê na obra da artista Maria Auxiliadora?

3. Você já presenciou alguma cena parecida com essa? Que relações você faz entre o trabalho no campo e a sua vida cotidiana?

Respostas e comentários

Contextualização

Nestas páginas, são apresentadas as obras da artista Maria Auxiliadora (1935-1974) para evidenciar que as tradições da cultura e do trabalho são fundamentais para compreendermos a nossa identidade cultural e para representarmos o Brasil.

Maria Auxiliadora nasceu em Campo Belo, Minas Gerais, mas viveu grande parte da vida na zona norte da cidade de São Paulo. Ela comercializava as suas pinturas na praça da República, que é um espaço popular de venda e difusão do trabalho de artistas independentes (nesse caso, podem também ser chamados de artistas populares, dada a tradição de arte dita popular que ocupa aquele espaço).

Maria Auxiliadora morreu muito jovem. Em suas pinturas, representou festas populares, a educação popular, práticas religiosas e cenas de trabalho. Antes de morrer, a artista fez muitas pinturas nas quais se representava como uma noiva.

O que se convencionou chamar de arte está muito mais ligado aos espaços de produção e circulação e à formação dos artistas do que, propriamente, a uma diferença técnica ou temática. Aqueles que são comumente chamados de artistas populares, mas também de naïéf(que é uma tradução da palavra “primitivo”, como se sua arte fosse menos desenvolvida), na verdade são artistas que representam temas de apelo à massa, por evocarem histórias, tradições e imagens que rementem à vida da classe trabalhadora. Importante destacar também que, ainda que eles sejam chamados de “autodidatas”, na cultura popular existe uma transmissão dos saberes entre as gerações, muitas vezes tutelada pela figura dos mestres do saber popular, sendo que cada artista ligado a essa tradição a traduz e a reinventa. Maria Auxiliadora, por exemplo, desenvolveu uma técnica própria de pintura, mas isso não significa que ela não estava em contato com a produção de outros artistas e com saberes anteriores a ela, muito pelo contrário.

Foco na linguagem

  1. Os estudantes devem identificar que trabalhadores fazem a colheita das uvas.
  2. As cores são muito vibrantes. Ela usa branco para contornar as personagens e destacá-las do fundo.
  3. Teça relações entre a cena e o contexto social em que os estudantes vivem, seja ele urbano ou rural.
  4. A elaboração do título pode derivar da reflexão da questão anterior.

As pinturas de Maria Auxiliadora transparecem muitas informações sobre sua história de vida. Na fotografia, é possível ver um recorte de uma pintura que mostrava os bailes dos anos 1970, muito frequentes e importantes para as culturas negra e periférica de São Paulo já naquela época.

Fotografia em preto e branco. À esquerda, uma mulher de turbante e brincos grandes, de perfil, observa um quadro. À direita, um quadro que representa homens e mulheres dançando.
Fotografia da artista Maria Auxiliadora em frente a uma obra de sua autoria. Fotografia sem data.

Na imagem a seguir, foi representado um cortejo de Carnaval, com a rua ocupada por foliões fantasiados, que tocam música, dançam e festejam.

Pintura. Quadro com cores vivas que retrata homens e mulheres em uma festa de rua. Todos usam fantasias típicas do Carnaval. À esquerda, alguns homens tocam instrumentos enquanto  as mulheres, usando vestidos estampados longos e rodados, dançam. À direita, um homem vestido como rei (ele usa uma coroa e veste um manto) se ajoelha diante da rainha (ela também usa uma coroa e um manto, com um vestido longo azul com detalhes em vermelho). Ao fundo, pequenos sobrados coloridos, em cujas janelas há pessoas jogando confetes e serpentinas.
SILVA, Maria Auxiliadora da. Carnaval. 1969. Óleo sobre tela, 50 por 70 centímetros. Coleção particular.
Pintura. Quadro de cores vivas. Pessoas fazem a colheita em uma plantação. À esquerda, algumas mulheres usando vestidos floridos e carregando sacolas nos ombro colhem os frutos de uma plantação. À direita, uma estrada de terra vermelha. Ao fundo, um galpão construído com tijolos vermelhos e telhado de palha amarelo. Ao redor, plantação sob céu azul.
SILVA, Maria Auxiliadora. Colheita. 1973. Técnica mista, 53 por 73 centímetros. Coleção particular.
Respostas e comentários

Contextualização

Faça a leitura das imagens desta página com os estudantes.

Para a pintura Carnaval, por exemplo, você pode fazer as seguintes perguntas:

  • Quais personagens vocês identificam nesse cortejo de carnaval?
  • Como a artista pinta os tecidos das roupas?
  • Onde o cortejo acontece? Como podemos perceber que ele acontece na rua? Por que as pessoas das casas estão nas janelas?
  • As pessoas no cortejo são todas iguais? Há diversidade? Se sim, como podemos percebê-la?

Destaque que o desfile tem crianças e adultos, homens e mulheres, todos com diferentes tonalidades de pele.

Caso você pesquise mais informações sobre a artista, possivelmente encontrará matérias de jornal contando a sua história de vida. Ainda que decida mobilizar essas informações, lembre-se de que as próprias pinturas da artista transparecem a sua história, e, por isso, você pode usar a imagem das obras para instigar as interpretações dos estudantes. Muitas vezes – e sobretudo na produção de mulheres artistas, mas também de pessoas racializadas negras e indígenas –, essas características são apresentadas antes do seu trabalho artístico. Tenha o cuidado de, sempre que necessário, destacar esses marcadores sociais e de colocar o trabalho artístico em primeiro lugar, já que esses artistas escolhem, por meio de sua obra, se querem e como querem destacar a própria vida e história por meio da arte. Isso deixará evidente que eles são, antes de tudo, artistas, e que a sua pesquisa poética e processo criativo são o fundamento da sua obra e do seu reconhecimento.

Institucionalização da arte no Brasil

A rigor, sempre se produziu arte no Brasil. Cada povo indígena tem técnicas e usos próprios para a arte. Após a colonização, as técnicas do colonizador foram transmitidas, sobretudo pelos jesuítas, dando base para expressões culturais e festejos que hoje são denominados “populares”. Mas as instituições artísticas que, na tradição ocidental, são reconhecidas como espaços de arte – como os museus – chegaram ao Brasil apenas no século dezenove.

Com a vinda da côrte ao Brasil, em 1808 e a posterior contribuição da assim chamada “Missão Francesa” no país, fundou-se a primeira academia de artes, onde se formaram diversos artistas, muitos dos quais foram premiados com bolsas de estudos na Europa.

Da academia ao museu

O interesse pelas artes e pelos valores do passado greco-romano e a confiança na capacidade de transformar o mundo por meio da busca de respostas científicas levaram os renascentistas a colecionar, ou seja, a juntar materiais, em um lugar específico. Assim surgiu a ideia de museu da fórma que conhecemos hoje. O primeiro museu público foi o Louvre, fundado em Paris, na França, em 1793. Nos primeiros grandes museus se conservavam, e ainda se conservam, não apenas as produções artísticas nacionais, mas também o espólio cultural de obras das quais eles se apropriaram durante a colonização da América, da África, da Ásia e da Oceania.

No século dezenove, os museus se multiplicaram e se diversificaram. Hoje, existem diferentes tipos de museu (de arte, de história, de ciências etcétera), mas todos eles têm o mesmo objetivo: garantir acesso ao conhecimento sobre as atividades humanas ao longo da história.

Fotografia. Fachada de um casarão de arquitetura clássica, com colunas retangulares, janelas e portas grandes. À frente da construção, árvores frondosas chegam a cobrir parcialmente a vista do casarão.
Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Fotografia de 2019.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Você sabe qual é a origem da palavra museu? Reúna-se com quatro colegas para fazer uma pesquisa rápida sobre o tema. Conversem sobre a relação da palavra museu com a ideia de “inspiração”.
  2. Você já foi a um museu ou já visitou alguma exposição? Em caso afirmativo, conte sua experiência aos colegas.
Respostas e comentários

Artista ou artesão?

Comente com os estudantes que, durante a Baixa Idade Média (período compreendido entre os séculos onze e quinze), as criações artísticas eram produzidas coletivamente, por artesãos que faziam parte de associações denominadas guildas, criadas para proteger os interesses de seus membros. As guildas cumpriam o papel de escolas, pois ali os artesãos aprendiam um ofício.

Ao longo do século quinze, no entanto, com o crescimento das cidades e o consequente aumento das encomendas, os artistas começaram a se libertar das guildas. As obras passaram a incorporar a marca de quem as criou de maneira mais evidente.

Usando a criatividade, os artistas passaram a se diferenciar cada vez mais dos artesãos, que, em geral, desenvolviam atividades com base em modelos previamente estabelecidos.

Com a valorização dos artistas, tornou-se necessário institucionalizar o ensino de Arte. Começaram assim a ser fundadas na Europa as primeiras academias de Arte. A partir desse período, os artistas passaram a se diferenciar cada vez mais dos artesãos.

Mas e o Brasil?

No Brasil, ainda hoje existe uma diferença simbólica entre as nomenclaturas “arte” e “artesanato”. Isso tem origem na diferença entre os espaços de formação e de circulação dessa produção cultural. O que se convencionou chamar de “artesanato” ou também de “arte popular” nada mais é do que a arte ensinada por mestres tradicionais, com técnicas transmitidas de geração em geração e com forte enraizamento nas tradições culturais regionais. Outro aspecto, como visto, é que a subjetividade pessoal de cada artista não necessariamente é o argumento central de sua obra. Apesar dessa diferenciação, a produção dita popular é muito rica esteticamente, além de ter grande apelo entre o povo brasileiro, já que é nele que as histórias do povo se veem imediatamente traduzidas e representadas.

Foco na linguagem

  1. Oriente os estudantes na pesquisa. Espera-se que eles concluam que a palavra museu é uma referência a Musíon, o Templo das Musas na Grécia antiga. As musas estão ligadas à ideia de inspiração nas diferentes linguagens artísticas.
  2. Dê oportunidade para que os estudantes relatem suas impressões e experiências. Incentive-os a contar como foi a visita, se alguém os orientou, como era o espaço de exposição e o que havia no museu além dos objetos expostos.

Por dentro da arte

Os museus de arte

Nos museus de arte são guardadas obras de diferentes linguagens e suportes, como pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, artes aplicadas (como cerâmicas e joias), fotografias, vídeos e sons. Essas instituições podem ser particulares ou públicas.

Fotografia. Fachada de uma construção de arquitetura moderna, com formato retangular, cuja porta é de vidro. À frente, um ipê amarelo florido e uma placa verde com uma foto.
Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande (Mato Grosso do Sul). Fotografia de 2015.

O acesso ao acervoglossário dos museus se dá por meio das exposições – permanentes ou temporárias –, organizadas com obras do museu, emprestadas de outras instituições ou de colecionadores particulares.

A organização das exposições envolve uma série de profissionais e passa por fases importantes: a documentação, em que é realizado o registro dos bens do acervo; o gerenciamento da reserva técnica, espaço físico no interior do museu destinado ao armazenamento e à manipulação do acervo; o trabalho de restauração, que consiste na recuperação de uma obra quando necessário; o trabalho de curadoria, que faz a escolha das obras e dos artistas que farão parte da exposição e que prepara o espaço expositivo.

Fotografia. À esquerda, um quado retratando um homem, uma mulher e uma criança entre os dois, todos de mãos dadas. Eles possuem uma aura sobre a cabeça. O homem tem barba e usa um manto vermelho e vestes amarelas. A criança é loira e suas vestes são branca e bege com uma faixa verde amarrada na cintura. A mulher usa um manto azul, que cobre sua cabeça e o vestido branco. Eles caminham em um deserto. À direita, uma mulher de cabelo castanho preso, usando com avental branco e luva em uma das mãos, restaura a obra de arte com um instrumento que utiliza uma pequena mangueira.
PORTINARI, Candido. A Sagrada Família. 1952. Óleo sobre tela, 137 por 158 centímetros. Batatais (São Paulo). Fotografia de 2014.

Com o desenvolvimento tecnológico e dos meios de comunicação, a relação dos museus com o público tem passado por muitas transformações. Além da preocupação com a manutenção de espaços físicos para guardar os bens, os responsáveis pelos museus têm procurado se abrir às novas fórmas de interação. Muitos museus já disponibilizam o conteúdo de seu acervo para visitas virtuais. Várias instituições dispõem também de setores dedicados a ações educativas destinadas a crianças e adultos. São desenvolvidos, por exemplo, programas especiais para o atendimento de pessoas com deficiência visual e cursos de formação para professores e agentes culturais. Em diversos museus, idosos, crianças e pessoas com deficiência não pagam ingresso e há dias em que a entrada é gratuita para qualquer pessoa.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Respostas e comentários

Por dentro da arte

Comente com os estudantes que os mais importantes conceitos e princípios dos museus no Brasil estão previstos na Lei norteº 11904/09, que instituiu o Estatuto de Museus e pode ser acessada em: https://oeds.link/uO79Pw. Acesso em: 31 maio 2022.

Se for oportuno, comente com os estudantes que, na segunda imagem, uma restauradora trabalha na limpeza da obra de Portinari.

Sugestão de atividade

Se possível, proponha aos estudantes a visita a algum museu da cidade ou da região onde a escola está localizada. Mas lembre-se de que, antes de agendar a visita, é fundamental apresentar a eles algumas informações essenciais sobre o museu que eles vão conhecer: onde está localizado, qual a sua tipologia (se o museu é temático, histórico, artísticoetcétera), quando foi fundado e qual é o conteúdo de seu acervo. Esses dados serão úteis para elaborar um roteiro de observação. Durante a visitação, destaque os elementos da museologia, que ajudam a organizar, preservar e apresentar uma coleção. Exemplo: textos, parede, legendas, luz apropriada, contrôle de temperatura e umidade, materiais educativos etcétera

Depois de fazerem a visita, promova uma conversa em sala de aula sobre essa experiência. Pergunte aos estudantes se eles se surpreenderam de algum modo com o que esperavam e o que gostariam de ver em um museu. Pergunte a eles o que aprenderam e verifique se há ideias para dar continuidade aos aprendizados em sala de aula.

Arte e muito mais

Museus criados por artistas e grupos sociais

Fotografia. Fachada de uma construção de arquitetura moderna formada por duas estruturas em formato de oca, na cor branca, com uma pequena janela triangular na construção à direita. Há um pergolado de madeira que liga as duas estruturas. Há cactos e trepadeiras em torno das construções e algumas plantas chegam ao topo delas. Céu azul com algumas nuvens.
Projeto da fachada do Museu-Vivo das Marrecas Kariri, localizado em Quitaiús, Lavras da Mangabeira (Ceará). Fotografia de 2021.

Há vários tipos de museu, muitos dos quais se originam de uma iniciativa popular, reverberando a história e as necessidades do povo de um determinado território. Esse é o caso do Museu-Vivo das Marrecas Kariri, idealizado para ser construído em Quitaiús, Lavras da Mangabeira, no Ceará.

Esse é um perfil de museu que pode ser associado à museologia social.

Idealizado por artistas e pesquisadoras jovens, o museu busca resgatar a memória e reavivar a expressão cultural da nação indígena Kariri. O objetivo da criação do museu é reunir arte, artesanato, práticas de rezo e raizeiros, além de tentar compensar a ausência de políticas públicas que ofereçam práticas educativas e artísticas na região.

O museu é uma retomada das tradições culturais kariri, dispersas pelos contínuos processos históricos de aculturação e separação dos povos tradicionais, que culminaram na construção do Açude do Rosário, em 1990, que dispersou famílias que sempre habitaram a região.

Para construir o museu, esse grupo está captando recursos pela internet, buscando o apoio de pessoas que se identificam com a causa da retomada da identidade indígena kariri. Esse é um modo de captar recursos para a cultura que se convencionou chamar de crowndfunding, ou seja, uma campanha de arrecadação on-line.

Faça no diário de bordo.

Ícone. Tema Contemporâneo Transversal. Multiculturalismo.

Faça uma pesquisa sobre outros exemplos de projetos de retomada das identidades indígenas no país.

Respostas e comentários

Arte e muito mais

O Museu-Vivo das Marrecas Kariri é um projeto que visa desenvolver um espaço físico com uma programação que ajude a construir uma memória para os povos indígenas Kariri, que estão em um processo de retomada da sua conexão com a sua ancestralidade indígena.

O processo de retomada da identidade indígena significa uma reinterpretação crítica e criativa das relações entre os povos do Brasil, a sua história e as tradições que os vinculam à terra e ao legado de seus familiares.

Observe que o projeto, ainda em fase de captação, se relaciona com o Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo (Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais bra­sileiras). Comente com os estudantes que esse projeto está sendo elaborado com captação de recursos por crowndfunding, ou seja, com apoio de recursos da internet.

Conduza a pesquisa, sugerindo que os estudantes, organizados em grupos de até quatro integrantes, busquem outros exemplos de projetos de retomada das tradições culturais de matriz indígena ou quilombola e africana. Essas pesquisas podem ser sistematizadas por escrito ou apresentadas em seminários curtos.

A avaliação pode considerar a disposição e a integração durante o trabalho em grupo, o empenho na pesquisa (individual ou em grupo), a sistematização e a apresentação dos resultados obtidos e a qualidade das reflexões realizadas pelos estudantes.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


Agora, você e os colegas farão o desenho de uma paisagem.

Material

  • Lápis de cor, canetinhas ou giz de cera (você vai escolher)
  • Uma folha de papel de sua preferência
  • Uma prancheta ou um caderno de capa dura que possa servir de suporte para a folha

Procedimentos

  1. Em primeiro lugar, será preciso escolher a paisagem que será representada. Posicione-se em frente a ela – seja um lugar da escola, seja uma imagem no computador – para desenhá-la.
  2. Verifique qual será o enquadramento da imagem, ou seja, quais são as partes da paisagem que você vai incluir no seu desenho. Para entender a ideia de enquadramento, você pode fazer uma moldura (retângulo) com as mãos, tentando capturar um recorte da paisagem. Isso o ajudará a delimitar a área que será desenhada.
Ilustração. Destaque de duas mãos que formam uma moldura com os dedos polegares e indicadores, enquadrando uma parte da paisagem. Ao fundo, um pequeno morro no campo aberto.
  1. Comece o desenho com o material de sua preferência. Para apoiar o papel, utilize uma prancheta ou um caderno. Você pode se sentar e usar a perna como apoio para ter mais estabilidade.
  2. Enquanto desenha, você pode experimentar diferentes texturas para representar os elementos da paisagem. Por exemplo: qual textura você utilizaria para representar a suavidade ou o peso das nuvens? Como é a textura dos tijolos ou da madeira da parte externa de uma casa da paisagem? Qual textura pode representar o desenho vertical da grama? Quais texturas podem simbolizar o movimento da água do rio ou da lagoa?
  3. Ao final, faça uma roda com os colegas. Coloquem os desenhos no meio. Conversem sobre o que tentaram representar e quais dificuldades encontraram. Façam relações entre os desenhos, destacando semelhanças e diferenças. Vocês também podem conversar sobre o que pensam sobre as paisagens. Não se esqueçam de registrar essa experiência em seu diário de bordo.
    Ilustração: ícone do diário de bordo.
Respostas e comentários

Experimentações

Nessa proposta, os estudantes vão desenhar uma paisagem. Você pode adaptar a proposta, caso não seja possível sair da escola para realizá-la, de modo que eles usem imagens de revistas ou da internet como referência. Nesse caso, eles poderão ir além e criar, com base na referência de paisagem que trabalharem, uma releitura à qual agreguem elementos de seu interesse.

Os materiais podem ser adaptados e a proposta também pode ser convertida de desenho para pintura, caso você considere importante que os estudantes experimentem também a criação de imagens com materiais molhados, como a aquarela, a tinta guache ou equivalente.

Possibilite aos estudantes participar da escolha do local onde farão a atividade.

Enquanto eles desenham, caminhe entre os estudantes e os grupos e certifique-se de que compreenderam a ideia de enquadramento e de textura.

Ao final da atividade, conduza a conversa de modo que eles se sintam à vontade para comentar suas tentativas e suas escolhas, e que acolham e respeitem o compartilhamento dos colegas.

Para encerrar a proposta, você pode promover uma conversa sobre o que poderia ser diferente nessa paisagem e sobre como tecnologias da arte, como o desenho e a intervenção urbana – já trabalhada nesta Unidade – poderiam contribuir para isso.

Os estudantes podem ser avaliados pelo empenho em realizar a proposta, pelas reflexões finais a partir dos desenhos e também pelas ideias compartilhadas para repensar as condições da paisagem trabalhada.

Glossário

Acervo
: conjunto de bens que fazem parte do patrimônio de um museu.
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