Unidade 3 Música e sociedade
Nesta Unidade:
TEMA 1 A música e os temas nacionais
TEMA 2 A brasilidade de Heitor Villa-Lobos
TEMA 3 Uma exaltação ao Brasil
TEMA 4 Uma “ópera” popular
Respostas e comentários
Competências da Bê êne cê cê
As competências favorecidas nesta Unidade são:
Competências gerais: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.
Competências específicas de Arte para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.
Objetos de conhecimento e habilidades da Bê êne cê cê
As habilidades favorecidas nesta Unidade são:
Artes visuais
Contextos e práticas
( ê éfe seis nove á érre zero três)
Música
Contextos e práticas
( ê éfe seis nove á érre um seis)
( ê éfe seis nove á érre um sete)
( ê éfe seis nove á érre um oito)
( ê éfe seis nove á érre um nove)
Elementos da linguagem
( ê éfe seis nove á érre dois zero)
Materialidades
( ê éfe seis nove á érre dois um)
Notação e registro musical
( ê éfe seis nove á érre dois dois)
Processos de criação
( ê éfe seis nove á érre dois três)
Teatro
Contextos e práticas
( ê éfe seis nove á érre dois quatro)
( ê éfe seis nove á érre dois cinco)
Artes integradas
Contextos e práticas
( ê éfe seis nove á érre três um)
Processos de criação
( ê éfe seis nove á érre três dois)
Matrizes estéticas e culturais
( ê éfe seis nove á érre três três)
Patrimônio cultural
( ê éfe seis nove á érre três quatro)
Arte e tecnologia
( ê éfe seis nove á érre três cinco)
Sobre esta Unidade
Esta Unidade apresenta uma transição do século dezenove para o vinte, com ênfase em um dado fundamental da produção cultural do período: a centralidade de uma ideia de identidade cultural brasileira. Para isso, muitos autores buscaram em lendas tradicionais indígenas a referência para pensar o dado colonial e o conflituoso encontro entre as diferentes matrizes constitutivas da estrutura social brasileira: indígena, africana e europeia. Por meio dos elementos da linguagem musical, da audição, das propostas de experimentação, da leitura de imagens e da análise musical, os estudantes reconhecerão diferentes modos de pensar a identidade cultural brasileira, problematizando as relações entre a arte e a vida social e indagando a construção de uma história nacional por meio da arte e da música.
De olho na imagem
Faça no diário de bordo.
- Observe esta fotografia e a da abertura da Unidade. As imagens mostram cenas da apresentação de uma ópera. O que você sabe sobre óperas?
- Você já assistiu a alguma apresentação de ópera?
- Ao observar novamente as fotografias, você consegue identificar o período (a época) em que o enredo dessa ópera acontece?
- Sabendo o momento histórico em que a ópera é contextualizada e vendo os figurinos dos cantores, o que você poderia dizer sobre os tipos de personagem interpretados nessas cenas?
- O que você sabe a respeito do período representado nessa apresentação de ópera?
- Por que o autor dessa ópera teria escrito, em 1889, uma obra que retrata aspectos do processo de colonização do Brasil?
- Ouça o áudio “Trecho da abertura da ópera O escravo, de Carlos Gomes”. Quais instrumentos você identifica nesse áudio?
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
8. Que título daria ao trecho da ópera que você ouviu?
Versão adaptada acessível
3. Com base na descrição das fotografias, você consegue identificar o período (a época) em que o enredo dessa ópera acontece?
Respostas e comentários
De olho na imagem
Aproveite esta seção para realizar uma avaliação diagnóstica com os estudantes, mapeando os conhecimentos prévios que têm sobre o tema da obra de referência, a identificação de elementos da linguagem musical e também as habilidades leitoras que demonstram por meio da leitura de imagem.
- Incentive os estudantes a falar livremente a respeito do que sabem sobre esse tema, a ópera. Valorize os conhecimentos que eles possam ter. Após ouvir as considerações deles, comente que a ópera é um tipo de criação artística que reúne elementos da música e do teatro, e que na maior parte das cenas de uma ópera, as falas são cantadas. Comente que a ópera é um gênero musical típico da música erudita, mas que existe também um tipo de música equivalente às óperas na música popular chamado musical. A principal diferença entre as óperas e os musicais é que, nos musicais, geralmente há diálogos falados além das músicas, enquanto nas óperas trechos falados não são comuns.
- Peça aos estudantes que falem sobre óperas a que eventualmente tenham assistido, ao vivo, pela televisão, no cinema ou na internet.
- Incentive-os a elaborar hipóteses. É possível que, influenciados pelo título dessa ópera, eles mencionem que ela retrate o período escravagista. Caso eles deem tal resposta, comente que a história dessa obra do compositor Carlos Gomes acontece no ano de 1547, século dezesseis, e aborda o tema da escravidão indígena no Brasil. Esse período pode também ser identificado como Renascimento.
- Espera-se que os estudantes considerem as informações obtidas na questão anterior para elaborar hipóteses. Após ouvi-los, comente que os artistas retratados interpretam personagens relacionadas com as primeiras décadas após a chegada dos europeus ao “Novo Mundo”, como os indígenas e os colonizadores.
- Incentive os estudantes a falar a respeito do que sabem sobre a chegada dos colonizadores europeus às terras que hoje correspondem ao Brasil e sobre o processo de colonização. Após ouvi-los, aprofunde a análise perguntando: “Quem eram os habitantes do território antes da chegada dos portugueses?”; “Como viviam esses habitantes?”; “Como era o Brasil naquela época?”. Relacione as diferenças entre o modo de vida dos portugueses no século dezesseis e o dos nativos.
- Após ouvi-los, chame a atenção deles para o fato de Carlos Gomes ter escrito essa ópera um ano após a abolição da escravatura no Brasil (1888). Explique que, inicialmente, ele pensou em abordar a situação dos africanos escravizados na ópera O escravo. Acredita-se que o músico, no entanto, tenha sido aconselhado a transportar sua obra para o século dezesseis e ter os indígenas como protagonistas da peça, com o intuito de obter mais sucesso na Europa, onde a ópera O guarani havia alcançado sucesso anteriormente.
- Antes de propor a audição, comente com os estudantes que esse é um trecho instrumental da ópera − não há trechos cantados. Espera-se que eles identifiquem alguns instrumentos que compõem o trecho: o predomínio das cordas (contrabaixos, violoncelos, violas e violinos), principalmente nas regiões grave e média, com pequenos solos de instrumentos de sopro (flauta, trompa, fagote, trompete, oboé). A percussão aparece em alguns trechos e é mais destacada no final (tímpanos e pratos).
- Incentive-os a propor um título para esse trecho da ópera, orientando-os a usar as informações obtidas nas questões anteriores. Esse exercício possibilitará que os estudantes imprimam os próprios significados à produção de Carlos Gomes.
Artista e obra
Carlos Gomes
A ópera O escravo foi composta por Antônio Carlos Gomes (1836-1896), um dos mais importantes músicos eruditos do Brasil. Ele nasceu em Campinas ( São Paulo) e desde cedo demonstrou interesse por música. Sua primeira influência veio do pai, o músico Manuel José Gomes (1792-1868), que realizava as cerimônias cívicas desse município.
Após estudar no Imperial Conservatório de Música, no Rio de Janeiro ( Rio de Janeiro), Carlos Gomes dedicou-se à produção de óperas. Ele também estudou em Milão, Itália, onde produziu sua mais famosa ópera, O guarani, em 1870.
Carlos Gomes foi um dos primeiros músicos eruditos brasileiros a ter sua obra amplamente reconhecida na Europa.
A música operística de Carlos Gomes foi muito influenciada pelo estilo romântico das óperas italianas, ainda que tratasse de muitos temas nacionais, como é o caso da ópera O escravo, mais conhecida, inclusive no Brasil, pelo título em italiano (Lo schiavo).
Além de O guarani e O escravo, Carlos Gomes compôs diversas outras óperas, entre elas A noite do castelo (1861) – sua primeira ópera –, Fosca (1873) e Colombo (1892).
Respostas e comentários
Contextualização
Comente com os estudantes que o canto lírico é uma fórma de cantar que exige um tipo específico de técnica vocal, adequada ao repertório da música erudita. Os cantores líricos precisam ter uma tessitura vocal bem extensa, ou seja, ser capazes de cantar um conjunto grande de notas com boa qualidade vocal e possibilidades de nuances diversas (cantar mais forte ou mais fraco, de maneira mais aveludada ou estridente, realizar diversos efeitos vocais etcétera). Além disso, eles são treinados para desenvolver uma projeção vocal grande, visto que muitas vezes cantam acompanhados por grandes orquestras e sem amplificação da voz.
Indicação
COELHO, Lauro Machado. A ópera italiana após 1870. São Paulo: Perspectiva, 2002.
Nesse livro, há muitas informações para ampliar seu conhecimento sobre ópera e literatura. Além disso, ele contém um capítulo dedicado a Carlos Gomes e a suas óperas.
Tema 1 A música e os temas nacionais
A identidade nacional na obra de Carlos Gomes
Ao longo do século dezenove, os ideais do Romantismo influenciaram a produção de artistas brasileiros de diferentes linguagens. Na Unidade 1, você aprendeu que nas artes visuais, por exemplo, os artistas desse período tiveram como referência a identidade nacional ao criar suas obras artísticas.
Carlos Gomes foi um dos principais músicos brasileiros influenciados pelo Romantismo. Além de O escravo, ópera que aborda a escravidão indígena, outra obra de caráter nacionalista de Carlos Gomes é O guarani. Ele compôs as músicas dessa ópera e o libretoglossário foi produzido por Antônio Scalvini (1835--1881) e Carlo D’Ormeville (1840-1924).
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
1. Ouça o áudio “Trecho da abertura da ópera O guarani, de Carlos Gomes”. Depois, responda: você já tinha ouvido essa música? Em caso afirmativo, se lembra do local em que a ouviu? Comente com os colegas.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
2. Imagine que você é o compositor de uma ópera e vai criar o cartaz da estreia, assim como no exemplo da obra do compositor Carlos Gomes. Inicialmente, escolha o tema e o nome da sua ópera e, em seguida, desenvolva o seu cartaz. Cole sua produção em seu diário de bordo.
Versão adaptada acessível
2. Imagine que você é o compositor de uma ópera e vai criar o cartaz da estreia, assim como no exemplo da obra do compositor Carlos Gomes. Inicialmente, escolha o tema e o nome da sua ópera e, em seguida, crie o seu cartaz. Anote os detalhes da sua produção em seu diário de bordo.
Respostas e comentários
Objetivos
- Conhecer um dos mais importantes músicos eruditos do Brasil, Carlos Gomes.
- Identificar na obra de Carlos Gomes temáticas nacionais e a influência da ópera italiana e do Romantismo europeu.
- Conhecer romancistas e poetas brasileiros do século dezenove cujas obras tinham características românticas e nacionalistas, sobretudo ao abordar questões indígenas e regionalistas.
- Reconhecer a importância da ópera para a história da música.
- Entender o que é uma orquestra, como ela se organiza e quais são os instrumentos que compõem as orquestras sinfônicas.
- Estudar a música barroca, identificando suas principais características e seus compositores.
- Realizar atividades de audição e identificação de elementos de peças musicais de períodos diversos e diferenciar instrumentos musicais de diferentes timbres.
- Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.
Habilidades favorecidas neste Tema
(EF69AR03), (EF69AR16), (EF69AR18), (EF69AR21), (EF69AR23), (EF69AR25), (EF69AR31), (EF69AR32), (EF69AR33) e (EF69AR34).
Contextualização
Comente com os estudantes os aspectos principais da música no período do Romantismo, movimento artístico predominante no século dezenove na Europa. Explique que essa corrente influenciou não somente a música, mas também a literatura e a pintura. Os artistas românticos valorizavam o sentimentalismo. Suas obras expressavam emoções pessoais, subjetivas, quase sempre de fórma exagerada, dramática.
Foco na linguagem
- É possível que alguns estudantes comentem que já ouviram o trecho de O guarani no programa de rádio A voz do Brasil. Explique que o tema de abertura desse programa é o trecho inicial da ópera. Converse com eles sobre O guarani, que foi uma das primeiras tentativas do movimento operístico nacionalista e que, mesmo tendo uma temática brasileira, ainda apresentava estruturas composicionais tipicamente europeias.
- Auxilie os estudantes a identificar o tema da ópera, buscando elementos de interesses individuais. Na confecção do cartaz, é possível utilizarem materiais e referências diversas. Caso seja possível, essa produção também pode ser executada digitalmente, em casa, pelo celular ou na sala de informática com programas de edição. Ressalte que o título da ópera e os elementos visuais do cartaz precisam ter relação com o tema da ópera.
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi inaugurado pelo presidente Nilo Peçanha (1867-1924) e pelo prefeito Sousa Aguiar (1855-1935) em 14 de julho de 1909 e é considerado uma das principais casas de espetáculos da América do Sul.
O dramaturgo Arthur Azevedo (1855-1908) foi o principal apoiador da ideia da criação de um teatro nacional, mas morreu meses antes de sua inauguração. Seu projeto arquitetônico foi inspirado na Ópera de Paris. A partir da década de 1930, passou a contar com seus próprios corpos artísticos – Orquestra Sinfônica, Coro e Balé. Atualmente, o teatro possui 2.252 lugares.
A montagem da ópera O escravo, retratada na abertura da Unidade, foi realizada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 2016, para celebrar os 180 anos de Carlos Gomes.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
- Identifique na imagem do interior do teatro o espaço da orquestra. Você sabe o nome desse espaço?
- Seguindo as orientações do professor, em data agendada, você apresentará uma maquete de um teatro de ópera, com palco, fosso e plateia. Aproveite para incorporar no palco elementos de um eventual cenário. Você pode usar materiais diversos, como caixas de sapato, retalhos de tecido, potes de plástico, latas de alumínio e isopor.
Versão adaptada acessível
1. Identifique na descrição da imagem do interior do teatro o espaço da orquestra. Você sabe o nome desse espaço?
Respostas e comentários
Foco na linguagem
- O nome desse espaço é fosso.
- Inicialmente, sugira aos estudantes que pesquisem na internet, em livros e revistas imagens de diferentes teatros e suas utilizações artísticas para obter mais referências. Lembre-os de que é necessário que a maquete tenha espaço para o palco, o fosso e a plateia. Em seguida, organize uma data para a entrega das maquetes. Caso julgue oportuno, essa proposta pode ser realizada em grupo. Ressalte que antes da confecção do teatro é importante elaborar um projeto do teatro por meio de um desenho para facilitar a coleta de materiais e a construção da maquete.
O Guarani
A ópera O guarani teve como referência o romance de mesmo título do escritor José de Alencar (1829-1877). Dividida em quatro atos, O guarani narra a história de amor entre a jovem Cecília, filha de um colonizador português, e o indígena guarani Peri e se passa no Brasil, em 1560. Essa ópera retrata o início do processo de colonização do Brasil e aborda questões como a dizimação dos povos indígenas pelos colonizadores e as disputas econômicas entre Portugal e Espanha.
Observe, a seguir, imagens de uma montagem da ópera O guarani.
Arte e muito mais
O Romantismo na literatura
O Romantismo manifestou-se em diferentes áreas. Na literatura, destacou-se pela valorização dos elementos nacionais e de um sentimento de brasilidade. Considerado o precursor do Romantismo literário no Brasil, o escritor Gonçalves de Magalhães (1811-1882) é o autor de Suspiros poéticos e saudades. Escrito no século dezenove, esse livro foi considerado a primeira obra da literatura romântica no Brasil, na qual Gonçalves de Magalhães propunha o resgate da história e da cultura brasileiras.
O escritor Castro Alves foi um dos mais populares poetas brasileiros. Ligado ao movimento abolicionista, ele compartilhava com os intelectuais de sua época um sentimento humanitário em relação aos sofrimentos dos africanos escravizados e escreveu poemas de forte apelo social.
O Romantismo não influenciou apenas um grupo de poetas brasileiros do século dezenove. É possível observar elementos românticos na produção de grandes romancistas, como o escritor José de Alencar.
Os romancistas brasileiros dessa época dedicaram-se ao projeto de construção da identidade nacional. Esses autores escreveram obras que tinham características românticas, por exemplo o profundo sentimento nacionalista.
Seguindo a tendência de valorização da identidade nacional, José de Alencar se dedicou a escrever romances em que os indígenas são retratados de modo idealizado. É o que ocorre em O guarani (1857), que, como você leu, foi a referência para o músico Carlos Gomes criar a ópera homônima (ou seja, de mesmo título).
Faça no diário de bordo.
• Com orientação do professor, faça uma pesquisa sobre as críticas à representação dos indígenas no Romantismo, que é considerada idealizada e pouco atenta aos conflitos da colonização por muitos especialistas e artistas indígenas. Depois de pesquisar conteúdos sobre esse tema, escreva um texto em seu diário de bordo, analisando a crítica ao Romantismo e destacando os principais pontos dessa crítica. Você deverá identificar as diferenças entre as ideias da época e as reflexões atuais sobre a representação dos indígenas nas artes.
Respostas e comentários
José de Alencar
Comente com os estudantes que José de Alencar foi considerado um dos principais autores do Romantismo nacional. Em suas obras é possível identificar a busca por uma literatura que se afastasse das temáticas dos autores portugueses. Ressalte que, nessa época, o Brasil era uma colônia portuguesa. A corrente literária indianista tem no cearense José de Alencar um de seus maiores representantes. Os indianistas costumavam retratar o indígena de modo idealizado, como símbolo de bravura e de honra, e os brancos como vilões.
Sobre a literatura indigenista
A literatura indigenista não apenas representou os indígenas de modo idealizado, mas também aplacou muitos conflitos entre os povos originários e os colonizadores europeus, utilizando frequentemente uma estratégia conciliatória em que um homem branco se relacionava com uma mulher indígena, de tal maneira que o amor representasse uma redenção para as violências presumidas nesse encontro. Essa é uma revisão crítica atual que tem à frente pesquisadores indígenas, que têm rediscutido as representações dos povos indígenas na arte. Essa é uma abordagem multiculturalista e crítica, alinhada ao Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo (Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras).
Os estudantes devem atentar-se para os problemas da literatura indigenista e da representação dos indígenas nas pinturas do mesmo período. Eles devem perceber como, atualmente, faz-se uma crítica sobre a idealização dos corpos e da identidade indígena na arte produzida pelos colonizadores e por seus descendentes ao longo dos séculos, e como os indígenas querem ser representados.
Para avaliá-los, considere a diversidade de materiais que encontraram, a relação que fazem entre as ideias da época e as ideias de hoje, e também a articulação entre elementos abstratos e conceituais que fizeram na escrita dos textos.
A ópera
Acredita-se que a ópera, da maneira como a conhecemos hoje, tenha sido produzida pela primeira vez no final do século dezesseis, por compositores renascentistas italianos que buscavam resgatar o teatro grego da Antiguidade, no qual a música fazia parte das apresentações.
Esses compositores passaram a produzir obras que, além de cantadas, eram representadas. Um dos compositores mais importantes desse período foi Claudio Monteverdi (1567-1643). Monteverdi é autor de Orfeu (1607), considerada uma das primeiras e mais importantes óperas da história. Essa peça foi criada com base em um mito grego e narra a história de Orfeu, um homem que foi ao reino dos mortos para resgatar sua amada, Eurídice. O libreto dessa ópera foi escrito por Alessandro Striggio, o Jovem ( cêrca de 1573-1630).
As personagens de uma ópera podem ser interpretadas por mulheres e por homens. A atribuição dos papéis deve respeitar a classificação das vozes dos intérpretes, de acordo com a altura da voz. É importante lembrar que, em música, a altura não se refere ao volume do som, mas ao fato de um som ser mais grave ou mais agudo, definindo a tessitura vocal de cada pessoa. A tessitura vocal diz respeito ao conjunto de notas que um cantor ou instrumento vocal é capaz de emitir com certa qualidade sonora, ou seja, com um timbre limpo, com o contrôle de volume e com as possibilidades de nuances expressivas.
Na fotografia reproduzida a seguir, o barítono húngaro-romeno Iúla Orênd interpreta Orfeu, e a soprano britânica Méri Bevan interpreta Eurídice, em uma montagem da ópera Orfeu realizada em 2015, em Londres, no Reino Unido.
Respostas e comentários
Contextualização
Apresente mais informações sobre o gênero ópera para os estudantes. O texto “A origem da ópera”, indicado nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual, pode ajudar nessa ampliação.
Quanto à ópera Orfeu, de Claudio Monteverdi, comente com os estudantes que ela possui um prólogo (no teatro, é a cena inicial, similar a uma introdução explicativa) e cinco atos.
É interessante observar que, nessa obra do italiano Monteverdi, foi dado o primeiro grande papel para uma personagem castrati. Esse termo refere-se à prática de castração masculina para manter a voz na mesma sonoridade da das mulheres sopranos e contraltos, muito comum até o final do século dezessete, utilizada também nos meninos que compunham os coros das igrejas.
A ópera Orfeu baseia-se no mito grego do resgate de Eurídice do mundo dos mortos por seu amado, o músico Orfeu.
Carmen
Uma das óperas mais conhecidas em todo o mundo é Carmen (1873-1874), composta pelo francês Jórgi Bizê (1838-1875). Essa ópera se baseou em um romance de mesmo título, do escritor francês Prrospér Marrimê (1803-1870). Bizet compôs as músicas, e o libreto foi produzido por Anrrí Meláqui (1830-1897) e Ludivíqui Aleví (1834-1908).
Ambientada em Sevilha, na Espanha, no século dezenove, a ópera Carmen representa a história de amor entre Carmen e o soldado do exército espanhol Dom José. A descrição dos ambientes e das personagens por meio da composição musical é uma das características mais marcantes dessa obra. Os protagonistas são interpretados por uma meio-soprano (mezzo-soprano), que dá vida a Carmen, e por um tenor, que interpreta Dom José.
Embora Carmen seja uma das óperas mais conhecidas e executadas, ela não fez sucesso em 1875, ano de sua estreia, e foi considerada um insulto à moral da época. As personagens foram julgadas inadequadas para o palco, além de sua estrutura musical ter sido vista como inovadora em excesso. Três meses após a estreia da peça, o compositor Jórgi Bizê faleceu, sem ter conhecido o sucesso que sua obra alcançaria.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
1. Ouça o áudio “Trecho da ópera Carmen , de Jórgi Bizê”. Depois, responda às questões.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
a) Você consegue imaginar que personagem está sendo representada pela intérprete dessa música? Explique. b) Consegue perceber que os instrumentos que acompanham a cantora marcam um certo ritmo? A que tipo de música você acha que esse ritmo remete?
Respostas e comentários
Foco na linguagem
Ao propor aos estudantes a audição de “Trecho da ópera Carmen, de Jórgi Bizê”, se possível, apresente-lhes a tradução a seguir do texto cantado em francês nessa música.
Carmen (com ardor)
O amor é um pássaro rebelde
que ninguém pode aprisionar
e que não adianta chamar
se a ele convém recusar.
De nada valem ameaças e pedidos,
dizer coisas bonitas ou se calar,
se eu preferir um outro
ele nada me diz, e é dele que gosto.
O amor reticências o amor reticências
O amor é um menino cigano
que nunca conheceu qualquer lei;
se você não me ama, eu te amo; e se eu te
amo, toma cuidado! reticências
O pássaro que você acreditava surpreender
bateu as asas e voou reticências
O amor está longe, você pode esperar;
você já não espera, ele está aí reticências
Tudo à tua volta, rápido, rápido,
ele vem, ele vai, e logo volta reticências
Se você pensa ter agarrado o amor, ele te
evita, e se pensa evitar, ele te prende.
O amor, o amor reticências
BIZET, Georges. Carmen. tradução Mariana Portas. segunda edição São Paulo: Moderna, 2011. página 22. (Coleção Folha grandes óperas, volume 1).
1.
- A personagem representada nesse trecho é Carmen, a protagonista da história. Incentive os estudantes a elaborar hipóteses sobre a letra da música. Explore a interpretação da cantora, destacando as diferentes entonações da voz.
- Espera-se que os estudantes relacionem o ritmo habanera à música da Espanha. Embora tenha sido criado em Cuba, foi disseminado na Europa e ficou associado à música espanhola. Como a ópera é ambientada em Sevilha (Espanha), o ritmo contribui para reforçar essa ambientação.
Sugestão de atividade
Peça aos estudantes que ouçam mais uma vez o áudio e caminhem pela sala de aula conforme o ritmo da música. Explique a eles que podem realizar movimentos que considerarem adequados para a música, como bater os pés no chão, bater palmas, girar, abaixar, levantar e saltar. Ao final, organize uma roda de conversa para que eles falem sobre suas percepções ao realizar o exercício.
A orquestra
As apresentações de ópera, em geral, são acompanhadas de uma orquestra. Você já assistiu à apresentação de alguma orquestra?
A orquestra é composta de um grupo misto de instrumentistas (músicos) que tocam diferentes instrumentos musicais. Existem orquestras de vários tipos. As mais completas, em que se toca um número maior de instrumentos, são chamadas orquestras sinfônicas ou filarmônicas. As orquestras que têm um número menor de instrumentos são chamadas orquestras de câmara. As orquestras sinfônicas e filarmônicas são agrupamentos instrumentais com um número grande de instrumentistas, que pode passar de uma centena em alguns casos. Diferenciam-se unicamente pelo modo de financiamento: enquanto as sinfônicas são mantidas pelo poder público, as filarmônicas dependem de financiamento privado. As orquestras de câmara são agrupamentos bem menores, com poucos instrumentistas (não há um número fixo, pois varia conforme a orquestra). Elas receberam esse nome, porque inicialmente foram formadas para tocar em ambientes pequenos (chamados de “câmaras”), mas hoje se apresentam também em grandes teatros.
As orquestras são regidas por um maestro ou regente. Nas apresentações de uma orquestra, o regente indica aos músicos o momento em que cada um deve tocar seu instrumento e o modo como devem tocá-lo. Por meio de gestos e expressões corporais, o regente se comunica com os músicos da orquestra. Para que a apresentação ocorra da maneira combinada, cada músico deve seguir a partitura musical, que é o registro gráfico da música.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
- Em sua cidade ou região há uma orquestra? Em caso afirmativo, pesquise e fale brevemente sobre ela e o espaço onde geralmente ocorrem as apresentações.
- Algumas orquestras não tocam somente o repertório erudito; elas podem também executar músicas populares e trilhas de filmes. Se a orquestra que você pesquisou executar repertórios variados, faça uma lista das músicas que fazem parte deles.
- Busque gravações e organize uma playlist das músicas que mais apreciou para compartilhar com os colegas.
Respostas e comentários
Contextualização
Possibilite que os estudantes falem livremente, caso tenham tido a experiência de assistir à apresentação de uma orquestra. Pergunte se era uma orquestra grande ou pequena, com muitos ou poucos instrumentos.
No teatro grego antigo, orquestra era uma palavra utilizada para indicar o espaço que se localizava diante do palco, onde ficava o coro; no teatro romano, era o local onde se sentavam os senadores. No século dezessete, o termo foi resgatado na França e passou a designar o local em frente do palco onde ficavam os instrumentos e o maestro. Mais tarde, no século dezenove, a palavra passou a ser utilizada para se referir aos instrumentistas.
Ao longo dos séculos, a composição da orquestra passou por modificações, e a formação das orquestras sinfônicas ou filarmônicas na atualidade segue um modelo estabelecido no sécu- lo dezenove. Comente com os estudantes que um dos aspectos mais importantes em uma apresentação de orquestra é a afinação. Isso é fundamental para que as notas, ao serem tocadas pelos diferentes instrumentistas da orquestra, soem em harmonia.
Caso a turma fique curiosa sobre as transformações sofridas pelas orquestras, comente que, no período barroco (1600-1750), elas eram bem pequenas, com poucos instrumentos, e predominavam as cordas, o cravo e alguns sopros. No período clássico (1750-1820), as orquestras começaram a se ampliar, introduzindo mais instrumentos de sopro (madeiras e metais): uma ou duas flautas, dois oboés, duas clarinetas, dois fagotes, duas trompas, dois trompetes, dois tímpanos, além das cordas. Só no século dezenove (período romântico na história da música ocidental erudita) a orquestra se expande para o modelo atual, com a introdução de novos instrumentos e a ampliação do número de integrantes da orquestra clássica em todos os naipes.
Comente com os estudantes que os termos músico e musicista são sinônimos. No entanto, a palavra musicista é amplamente utilizada para os músicos profissionais da música erudita.
Foco na linguagem
Auxilie os estudantes a encontrar fontes para realizar a pesquisa, como sites, livros, revistas especializadas em atividades culturais etcétera Existem poucas orquestras municipais; no entanto, elas são comumente encontradas nas capitais dos estados ou nas universidades. Dessa fórma, indique meios para que os estudantes possam entrar em contato com esse tipo de produção artística.
Para a última proposta, faz-se necessário estruturar o equipamento para apreciação musical e, caso seja possível, é interessante que esse momento seja realizado por gravações audiovisuais.
Os instrumentos de uma orquestra
Os instrumentos que compõem as orquestras sinfônicas são organizados em quatro grupos: o grupo das cordas (que tem instrumentos como violino, viola, violoncelo e contrabaixo); o das madeiras (composto de instrumentos como flauta, oboé, clarinete e fagote); o dos metais (trompa, trompete, trombone e tuba); e o da percussão (composto de tímpano, pratos e gongo).
Ouça o áudio “Som do violino, do oboé, da trompa e do gongo”.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
PARA LER E OUVIR
• HENTSCHKE, Liane êti ól A orquestra tintim por tintim. São Paulo: Moderna, 2017. (Com CD.)
Esse livro é um guia da orquestra: apresenta os instrumentos musicais, os conceitos como timbre, partitura, ritmo, batuta, composição e os papéis do regente e dos instrumentistas. Além disso, mostra como a música faz parte de nosso cotidiano.
Respostas e comentários
Contextualização
Comente que o violinista principal é chamado spalla. Além de auxiliar o maestro, ele também atua como regente substituto e realiza solos, quando necessário. Em relação à família dos instrumentos, se possível, apresente aos estudantes as informações contidas no texto “Os instrumentos da orquestra”, indicado nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual. Essas informações podem auxiliá-lo na proposta de audição dos instrumentos.
Caso surja alguma dúvida em relação aos grupos das madeiras e dos metais, esclareça que ambos contêm instrumentos de sopro, mas a divisão em grupos na orquestra (chamados naipes) não segue apenas esse critério. Comente ainda que é comum cada naipe na orquestra ter um instrumentista principal, responsável pelo ensaio desse grupo e pelas partes solísticas, quando elas existem na peça.
Glossário
- Libreto
- : texto para ser cantado ou recitado em uma ópera.
- Voltar para o texto