Tema 3  Uma exaltação ao Brasil

“Aquarela do Brasil”

Ao longo dos anos, muitos artistas compuseram e interpretaram canções que têm o Brasil como tema. Uma delas é “Aquarela do Brasil”, composta em 1939 por Ary Barroso (1903-1964), artista brasileiro que se destacou como compositor, pianista, locutor e apresentador.

Fotografia em preto e branco. Homem de cabelo curto e óculos de armação arredondada, vestindo camisa, gravata e paletó. Está em frente a um microfone.
O cantor e compositor Ary Barroso. Fotografia de 1951.

Leia a seguir a letra dessa canção e ouça o áudio “’Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Aquarela do Brasil

“Brasil!

Meu Brasil brasileiro

Meu mulato inzoneiroglossário

Vou cantar-te nos meus versos

O Brasil, samba que dá

Bamboleio, que faz gingar

Ô Brasil, do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil! Brasil!

Pra mimreticências Pra mimreticências


Ah, abre a cortina do passado

Tira a mãe preta do cerrado

Bota o rei congo no congado

Brasil! Brasil!

Pra mimreticências Pra mimreticências

Deixareticências cantar de novo o trovador

A merencóriaglossário luz da lua

Toda a canção do meu amor

Quero ver ‘essa dona’ caminhando

Pelos salões arrastando

O seu vestido rendado

Brasil! Brasil!

Pra mimreticências Pra mimreticências

Respostas e comentários

Objetivos

Identificar músicas brasileiras cujo tema seja a exaltação das riquezas e das belezas do país.

Perceber e valorizar a importância nacional e internacional da obra de Ary Barroso, compositor de “Aquarela do Brasil”.

Conhecer as características principais do estilo musical denominado samba-exaltação.

Entender a relação da política nacional e as transmissões radiofônicas no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950 e conhecer as cantoras que mais fizeram sucesso na era do rádio.

Compreender as origens africanas do samba, percebendo a sua importância para a formação da identidade brasileira.

Definir o que é samba de roda e entender o papel desempenhado pelo Rio de Janeiro na consolidação da tradição do samba no país.

Realizar atividades de audição e identificação de elementos de peças musicais de períodos diversos e diferenciar instrumentos musicais de diferentes timbres.

Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre um seis), (ê éfe seis nove á érre um sete), (ê éfe seis nove á érre um oito), (ê éfe seis nove á érre dois zero), (ê éfe seis nove á érre dois um), (ê éfe seis nove á érre dois dois), (ê éfe seis nove á érre dois três), (ê éfe seis nove á érre três dois), (ê éfe seis nove á érre três três), (ê éfe seis nove á érre três quatro) e (ê éfe seis nove á érre três cinco).

Contextualização

Inicie o trabalho fazendo uma leitura compartilhada da letra da canção “Aquarela do Brasil” e propondo a audição da canção. Chame a atenção dos estudantes para as palavras que constam no glossário.

Brasil!

Terra boa e gostosa

Da morena sestrosaglossário

De olhar indiscreto

O Brasil, samba que dá

Bamboleio, que faz gingar

O Brasil do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil! Brasil!

Pra mimreticências Pra mimreticências


Oh, esse coqueiro que dá coco

Onde eu amarro a minha rede

Nas noites claras de luar

Brasil! Brasil!

Pra mimreticências Pra mimreticências

Ah, ouve essas fontes murmurantes

Aonde eu mato a minha sêde

E onde a lua vem brincar

Ah, este Brasil lindo e trigueiroglossário

É o meu Brasil brasileiro

Terra de samba e pandeiro

Brasil! Brasil!

Pra mimreticências pra mimreticências

BARROSO, Ary. Aquarela do Brasil. In: ALVES, Francisco. Nossa homenagem – Ary Barroso 100 anos. Curitiba: Revivendo, 2003. Volume 1. Faixa 23. Copyright cópiráiti 1950 by IRMÃOS VITALE ésse á IND. E COMÉRCIO. Todos os direitos reservados para todos os países. All rights reserved. International Copyright secured.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Em sua opinião, por que o autor Ary Barroso teria escolhido o título “Aquarela do Brasil” para essa canção?
  2. Muitos críticos consideram essa canção de Ary Barroso ufanista. Você concorda com essa afirmação?
  3. Ouça, novamente, o áudio “’Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso” e tente identificar alguns instrumentos musicais utilizados nessa gravação. Comente suas impressões com os colegas.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Por dentro da arte

A trilha sonora de Alô, amigos

O Brasil já foi referência para vários desenhos animados. O primeiro deles foi Alô, amigos, produzido pelos Estúdios Disney, em 1942. Esse filme é composto de quatro animações, ambientadas em diferentes países da América do Sul: “Lago Titicaca” (Peru), “Pedro” (Chile), “O gaúcho pateta” (Argentina) e “Aquarela do Brasil” (Brasil). Uma das personagens desse desenho animado é o papagaio Zé Carioca. A canção “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, foi incluída na trilha sonora do filme Alô, amigos, tornando-se conhecida no mundo todo. Você conhece outros desenhos animados que fazem referência ao Brasil?

O desenho animado é a mais elaborada das técnicas de ilustração. A produção de um desenho animado envolve um grupo de profissionais que realizam diferentes atividades, como a criação da história a ser contada, a produção dos desenhos e a dublagem das personagens.

Ilustração. Os personagens Pato Donald e Zé Carioca estão dançando e cantando em um local com chão branco com listras pretas onduladas e vegetação ao fundo. À esquerda, Pato Donald está vestido com blusa de marinheiro (não veste roupa na parte inferior, na qual somente há penas brancas); seu bico e suas patas são laranja e o chapéu e a blusa, azuis. À direita, Zé Carioca é um papagaio verde com bico amarelo, paletó e chapéu na cor bege com uma faixa preta. Na mão esquerda, ele segura um guarda-chuva preto. Sua cauda é azul e laranja.
Pato dônald e Zé Carioca, personagens do filme Alô, amigos, produzido pelos Estúdios Disney, em 1942.
Respostas e comentários

Foco na linguagem 

  1. É possível que os estudantes identifiquem que a aquarela possui diversas cores, assim como a letra da canção apresenta diversas características do Brasil.
  2. Destaca-se que a letra não discute as questões nacionais relevantes ao período em que foi composta, retratando somente os aspectos positivos do país, característica do ufanismo.
  3. É possível identificar a voz do cantor e coral, instrumentos de sopros (flauta, trompete, clarinete, saxofone) e pandeiro.

Por dentro da arte

Comente com os estudantes sobre o sucesso obtido pela canção “Aquarela do Brasil” no exterior ao ser incluída na trilha sonora do filme Alô, amigos, de Ual Disnei (1901-1966). Caso os estudantes não mencionem, comente com eles sobre outros desenhos que fazem referência ao Brasil, como a animação Rio, de autoria do animador brasileiro Carlos Saldanha. Lançado em 2011, o filme conta a história de Blu, uma ararinha-azul levada do Rio de Janeiro para os Estados Unidos. O sucesso da animação foi tão grande que, em 2014, foi lançado Rio 2, dando continuidade à história de Blu e seus amigos.

[“Aquarela do Brasil”]

reticências Mas a grande sensação foi, sem dúvida, a apresentação de ‘Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso, o samba que, pouco depois, se tornaria conhecido no mundo inteiro através de gravações de alguns dos mais famosos cantores e orquestras da época.

Interpretado por Cândido Botelho, ‘Aquarela do Brasil’ chamou a atenção do público pela talentosa contribuição de Ary Barroso e pela orquestração de Radamés Nhátali. Foi a primeira vez no Brasil que os instrumentos de sopro foram executados em ritmo de samba. Até então, cabia apenas à bateria acentuar o ritmo. A música foi gravada pouco depois por Francisco Alves, com o mesmo arranjo de Radamés Gnattali, e, menos de dois anos depois, foi incluída por Walt disnêi no desenho animado Alô, amigos. Xavier Cúgar, um dos maestros mais populares do mundo, gravou-a com a sua orquestra. Batizado nos Estados Unidos com o nome de ‘Brazil’, o samba de Ary Barroso foi em seguida gravado por Bing Crosby, o maior nome da música norte-americana de então. Para se ter uma ideia do sucesso, ‘Brazil’ já contava com mais de um milhão de execuções nos Estados Unidos, um ano depois de lançado, e, dois anos depois, chegou a dois milhões de execuções. Foi um êxito tão grande que, apesar do nome e da autoria, houve quem pensasse que se tratava de uma obra norte-americana. Ao realizar o seu filme Sotto il sole di Roma, em 1948, o diretor italiano Renato Cartelhâni sublinhou a cena reproduzindo a entrada das tropas dos Estados Unidos em Roma, na Segunda Guerra Mundial, com duas músicas que considerava típicas norte-americanas:

Moonlight Serenade, de Glenn Miller, e ‘Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso.”

CABRAL, Sérgio. MPB na era do rádio. São Paulo: Lazuli Editora/Companhia Editora Nacional, 2011. página 77, 80.

O samba-exaltação

A canção “Aquarela do Brasil” é classificada como um estilo musical chamado samba-exaltação, que se caracteriza pelo caráter patriótico e por sempre abordar temas nacionalistas. Os sambas-exaltação se tornaram muito comuns durante o Estado Novo (período ditatorial em que o país foi governado por Getúlio Vargas (1882-1954), que se estendeu de 1937 a 1945), quando produções artísticas de diferentes linguagens, como o teatro, o cinema e a música, passaram a ser controladas e a sofrer censura.

O cantor e compositor Ataulfo Alves (1909-1969) foi um dos músicos que, nesse período, tiveram suas obras censuradas pelo Estado Novo.

Nesse período, o órgão responsável pelo contrôle e pela censura das obras artísticas era o Departamento de Imprensa e Propaganda (Díp). Na década de 1930, as letras dos sambas faziam referência à boemia, exaltando o “malandro” (na época, essa palavra era usada para designar alguém que não trabalhava e que vivia em busca de diversão). Após a fundação do Díp, as letras dos sambas passaram a ser censuradas, pois o desejo oficial era de que os sambas – que, nessa época, já eram o estilo musical mais popular no país – exaltassem o trabalho e o governo e criticassem a vida boêmia.

Fotografia em preto e branco. Um grupo de pessoas cantando. Há um homem, à esquerda, vestido com camisa e paletó brancos, gravata borboleta e calça pretas. À direita, seis mulheres de cabelo preso, com  vestido branco de  listras horizontais brilhantes. No centro, na parte superior, um microfone posicionado próximo às suas cabeças.
Apresentação do grupo Ataulfo Alves e suas Pastoras em 1956.

Arte e muito mais

O rádio e a política

Entre as décadas de 1930 e 1950, o rádio foi um importante instrumento de propaganda política utilizado por Getúlio Vargas. O então presidente do Brasil usou esse veículo de comunicação para divulgar a política adotada por seu governo.

Um dos meios de difundir a propaganda do Estado Novo foi a criação, em 1938, do programa A hora do Brasil. A transmissão desse programa era obrigatória, e sua principal finalidade era enaltecer e divulgar os atos presidenciais. Em 1962, o programa passou a intitular-se A voz do Brasil e ainda hoje é transmitido para todo o país. Como vimos no Tema 1, alguns acordes da ópera O guarani, de Carlos Gomes, são reproduzidos na abertura desse programa.

Fotografia em preto e branco. Perfil de um homem idoso, com óculos, cabelo curto, camisa branca, paletó cinza e gravata. Ele fala em um microfone antigo.
Presidente Getúlio Vargas. Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), 1952.

Faça no diário de bordo.

Ícone. Tema Contemporâneo Transversal. Cidadania e Civismo.

Faça uma pesquisa nas plataformas digitais, programas de rádios, livros ou revistas e escolha uma música do seu interesse, que, diferente do samba-exaltação, tenha uma letra crítica e reflexiva em relação às características do Brasil ou que retrate as dificuldades que brasileiros enfrentam cotidianamente. Escreva a letra em seu diário de bordo e elabore um texto justificando a sua escolha.

Ilustração. Ícone do diário de bordo.
Respostas e comentários

O rádio e a política

Comente com os estudantes que, na década de 1940, Ataulfo Alves (1909-1969) e Felisberto Martins (1904- 1980), que tiveram composições censuradas pelo Díp, escreveram uma canção que atendia às determinações do órgão. Trata-se de “É negócio casar”. Se possível, pesquise a gravação e a letra dessa canção e apresente-as aos estudantes. A análise dessa letra os ajudará a compreender o poder exercido pelo governo Vargas na produção artística das décadas de 1930 e 1940.

As tecnologias de comunicação se transformaram muito da década de 1940 para cá. Conduza uma reflexão com os estudantes sobre quais mídias, atualmente, oferecem um espaço para informação, debate político e participação social e de que fórma isso ocorre.

Para isso, siga o passo a passo:

Leia o texto da seção no livro e introduza a proposta aos estudantes, perguntando a eles quais são essas mídias atualmente – televisão; internet; jornal; redes sociais e de comunicação; podcasts etcétera

Separe os estudantes em grupos de até cinco participantes. Cada grupo ficará responsável por discutir sobre uma das mídias levantadas, destacando os prós e os contras que vislumbram no alcance e na transparência dessa mídia.

Cada grupo poderá orientar-se pelo seguinte roteiro de perguntas: Qual é a mídia selecionada? De que fórma a política institucional (municipal, estadual ou federal) utiliza essa mídia? Quais são os prós e os contras dessa mídia? De que fórma a população e os movimentos sociais participam dessas mídias?

Depois de discutirem em grupo, os estudantes poderão apresentar uma síntese da conversa para todos os colegas.

Arte e muito mais

Antes de apresentar a proposta de pesquisa, promova um debate sobre as dificuldades e percepções que os estudantes têm sobre o país e levante sugestões de musicistas que possuam obras que abarquem as questões apresentadas. Marque uma data para a verificação das pesquisas e retome novamente o debate com base nos dados coletados. Essa proposta tem relação direta com o Tema contemporâneo transversal Cidadania e civismo (Educação em direitos humanos).

Os estudantes poderão ser avaliados pelas suas contribui­ções e pelo respeito às ideias divergentes e às opiniões dos colegas.

O rádio

Você tem o hábito de ouvir programas de rádio? Em caso afirmativo, quais são seus programas preferidos? Comente com os colegas.

Por muitos anos o rádio foi o veículo de comunicação mais popular e ajudou a difundir sons e valores no país. A radiodifusão surgiu no Brasil na década de 1920, mas, no início, havia poucos aparelhos de transmissão. Assim, era comum que alguns vizinhos se reunissem para ouvir seus programas preferidos. Na década seguinte, com a diminuição dos preços dos aparelhos, o rádio popularizou-se e foram criados programas dos mais diversos estilos, como os humorísticos, os esportivos e os de auditório. As cantoras eram uma das principais atrações do rádio e conquistavam o público.

As radionovelas também faziam muito sucesso e foram precursoras dos folhetins que atualmente são líderes de audiên­cia na televisão.

Para que as radionovelas despertassem as emoções dos ouvintes, além da interpretação dos atores, principalmente da entonação da voz, era fundamental o trabalho do sonoplasta, responsável por criar todos os sons e ruídos da história, como o de portas se abrindo, campainhas e telefones tocando e chuva caindo. Para obter esses sons e ruídos, os sonoplastas utilizavam objetos ou sons já gravados.

Embora não façam tanto sucesso quanto faziam antes da chegada da televisão ao Brasil, ainda hoje são produzidas radionovelas.

Fotografia em preto e branco. Mulher de cabelo médio escuro, com camisa e blusa brancas com listras horizontais pretas. Ela gesticula com as duas mãos para cima e canta com um microfone antigo.
A cantora Emilinha Borba (1923-2005) em apresentação na Rádio Nacional, em São Paulo (São Paulo), em 1952.
Fotografia em tons de sépia. Quatro pessoas leem papéis que estão em suas mãos. Há um microfone de teto pendurado entre eles. À esquerda, três homens de cabelo curto escuro, com camisa branca e calça. À direita, mulher de cabelo curto escuro, com uma blusa e saia claras.
Grupo de atores em uma transmissão de radionovela nos estúdios da Rádio Nacional. Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), década de 1950.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


Agora, você e os colegas vão produzir uma cena de radionovela.

Procedimentos

  1. Reúna-se com cinco colegas.
  2. Desenvolvam a história que será contada e definam a função de cada integrante do grupo: os atores, que interpretarão as personagens, e o sonoplasta.
  3. A apresentação deverá ser feita em uma sala fechada ou atrás de uma cortina ou biombo, para que os colegas não vejam a encenação nem o sonoplasta.
  4. Depois da apresentação, expliquem aos colegas como os efeitos sonoros foram obtidos.

Avaliação

  1. Como foi a experiência de exercer a função atribuída a você na produção dessa cena?
  2. Como foi a vivência de produzir uma cena de radionovela?
Respostas e comentários

Experimentações

Organize a formação dos grupos e oriente a criação de uma pequena cena de radionovela. Lembre-os de que os demais colegas não poderão vê-los; portanto, a expressividade da dramatização deverá ser transmitida pela entonação das falas. Proponha aos estudantes a elaboração de um roteiro considerando as seguintes questões:

Que história será contada?

Onde essa história se passa?

Quem são suas personagens?

Qual é a relação entre as personagens (amigos, parentes, vizinhos, colegas de escola etcétera)?

Haverá um narrador ou a história se desenrolará no decorrer das falas das personagens?

Oriente os estudantes a planejar os efeitos sonoros necessários para contar a história e a obtê-los. Oriente-os também a definir as personagens e o sonoplasta. Disponibilize um espaço adequado para as apresentações. Ao final, organize uma roda de conversa para que os estudantes comentem o processo criativo da cena de radionovela e expliquem aos colegas como produziram os efeitos sonoros.

Avaliação

Incentive-os a comentar as dificuldades que encontraram ao realizar a experimentação. Questione como foi o desenvolvimento da atividade em grupo: a divisão de funções entre os integrantes e, ainda, como foi a experiência de criar os efeitos sonoros. Ao final, estabeleça com eles uma comparação com as atuais telenovelas, indicando as principais diferenças e semelhanças.

O samba e suas origens

O samba é um dos principais estilos musicais brasileiros, e algumas de suas variações são o samba-exaltação (que conhecemos nas páginas anteriores), o samba de roda, o samba-enredo e o pagode. Você conhece algum desses tipos de samba? Costuma ouvir samba? Comente com os colegas.

A influência africana foi fundamental para a formação da identidade cultural brasileira. Grupos de africanos escravizados conduzidos para o Brasil entre os séculos dezesseis e dezenove trouxeram muitas manifestações e expressões que ainda hoje fazem parte do dia a dia dos brasileiros. Entre esses elementos de origem africana introduzidos no Brasil, destaca-se o samba.

Acredita-se que o samba tenha surgido da fusão de diferentes cantos e danças realizados pelos africanos escravizados. A umbigada, por exemplo, presente em muitas danças de origem africana, é considerada uma das principais matrizes do samba. Outro elemento fundamental é o ritmo obtido por meio de instrumentos de percussão, como tambores e atabaques.

Fotografia em preto e branco. Mulheres cantam e dançam em um palco durante uma apresentação. Ao centro, mulher de cabelo preto preso, com vestido longo claro, canta ao microfone com as mãos para o alto. À esquerda e à direita, mulheres vestidas com saias longas rodadas, batas brancas e panos brancos cobrindo a cabeça.
A compositora e intérprete Clementina de Jesus (1901-1987) durante apresentação em São Paulo (São Paulo), em 1975.
Fotografia. Destaque de mãos tocando atabaques. Os músicos usam roupas brancas e as camisetas tem um símbolo azul no meio.
Pessoas tocando atabaques. Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), 2007.
Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que o samba é uma das mais importantes manifestações culturais do Brasil. Destaque o fato de ele ter origem nas culturas africanas introduzidas no Brasil a partir do século dezesseis. Lembre-os da importância dos tambores na marcação do ritmo das danças e das músicas africanas. O texto a seguir trata desse assunto.

Da tradição africana

“Muito antes de o gênero ganhar o alto estatuto de música popular brasileira por excelência e componente fundamental da identidade nacional, o termo ‘samba’, na acepção de música e dança praticada em roda e ao ritmo de tambores, palmas, etcétera, já circulava em várias regiões do país.

reticências

No Brasil, a tradição de danças em roda e caracterizadas pela umbigada provém certamente do extrato banto formador de boa parte da cultura afro-brasileira, sendo observada por viajantes no interior de Angola no século dezenove. reticências

Na Angola contemporânea, ‘semba’ ou ‘varina’, em todas as suas infinitas variações, é a dança mais popular da capital, Luanda, notadamente na faixa marítima (Ilha de Luanda, Samba Grande e Pequena, Ilha do Musulu, Barra do Cuanza, Cacuaco, etcétera). A dança se executa por um sapateado de cadência rítmica ligeiramente acentuada, ao som de tambores (bumbos) e caixas de madeira ou latinhas metálicas. A coreografia fundamental caracteriza-se por uma roda no centro da qual os dançarinos gravitam, remexendo o corpo e balançando as ancas e, ocasionalmente, movimentando-se para frente, dobrando o corpo e executando o sapateado.

A tradição dos povos bantos deu, no Brasil, origem a toda uma família de danças aparentadas, que vai do carimbó paraense e do tambor de crioula do Maranhão, ‘passando pelo coco do litoral nordestino e pelos sambas do Recôncavo e do médio São Francisco, na Bahia’, até o jongo ou caxambu no Sudeste brasileiro, notadamente no Vale do Paraíba. Onde houve negro banto, lá estão as danças de roda, com ou sem umbigada.

reticências

Inegável, então, a bem-documentada origem africana do samba, a qual, em algum momento, alguém se dispôs a negar, atribuindo ao gênero origem indígena. Indiscutível, também, sua origem entre os povos bantos do antigo Congo, que compreendia regiões da atual Angola.”

ifãn. Dossiê das matrizes do samba no Rio de Janeiro. Brasília: Iphan, 2006. página14. Disponível em: https://oeds.link/wOuI56. Acesso em: 28 fevereiro 2022. Reprodução parcial.

O samba de roda

O samba de roda é uma das mais antigas e tradicionais variações de samba observadas no Brasil e constitui uma importante expressão musical, coreográfica e poética da cultura brasileira. Ele está presente principalmente na Bahia, na região do Recôncavo Baiano, que é uma faixa de terra que se estende em torno da Baía de Todos os Santos.

No samba de roda, os dançarinos e os instrumentistas se organizam em círculo. O ritmo é ditado pelo som dos instrumentos musicais, como o pandeiro, o prato, a faca e a viola, e pelo bater de palmas dos participantes da roda, os quais entoam cantos curtos que se repetem. No interior da roda, os dançarinos se revezam realizando coreografias. O movimento mais comum dessas coreografias é o miudinho. Nele, os dançarinos realizam um leve sapatear para a frente e para trás, com os pés quase colados no chão.

Em 2005, o samba de roda do Recôncavo Baiano foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn) como patrimônio imaterial da humanidade. O samba de roda influenciou a produção de músicos como Dorival Caymmi (1914-2008), João Gilberto (1931-2019) e Caetano Veloso.

Fotografia. Grupo de pessoas dançam em uma calçada. As mulheres usam turbantes coloridos, batas brancas e saias rodadas coloridas, que combinam com a cor do turbante. Estão em formato de semicírculo em frente a um grupo de músicos, homens que tocam diversos instrumentos musicais (como violão, atabaque, pandeiro etc.), alguns sentados em cadeiras e outros em pé. Eles usam camisa branca, chapéu de palha com uma faixa preta e calça jeans. Todas as mulheres batem palmas, com exceção da mulher que está dentro da roda, que dança. Ao fundo, pessoas observam a cena, sentadas nos degraus da calçada.
Apresentação de samba de roda em Santo Amaro (Bahia). Fotografia de 2017.
Fotografia. Homem de cabelo curto e bigode grisalhos, com camisa branca, toca violão e canta em frente a um microfone.
O músico Dorival Caymmi em Salvador (Bahia), em 1985.
Fotografia. Homem de cabelo curto castanho, calvo, usando óculos, camisa clara e paletó preto, toca violão e canta em um microfone.
O intérprete e compositor João Gilberto, em apresentação realizada em São Paulo (São Paulo), em 1996.
Fotografia. Homem de cabelo curto grisalho, óculos, com camisa branca com detalhes em azul-claro, toca violão e canta em um microfone.
Caetano Veloso em apresentação no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), em 2012.
Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que os primeiros registros do samba de roda datam de cêrca de 1860. Diga-lhes que não existe uma data fixa para a realização do samba de roda do Recôncavo Baiano: as apresentações podem acontecer em datas festivas do calendário católico, assim como nas festas da Boa Morte e de Cosme e Damião, e também em rituais de candomblé. Enfatize que, desse modo, o samba de roda revela o sincretismo religioso observado no Brasil. É importante destacar ainda que o samba de roda, além de envolver música e dança, é uma expressão poética, pois, em suas apresentações, os versos cantados pelos participantes são fundamentais. Se possível, apresente aos estudantes as informações sobre as principais características do samba de roda contidas no texto “Samba de roda do Recôncavo Baiano”, nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual.

Ainda em relação ao samba de roda, destaque a importância dessa manifestação para o surgimento do samba no Rio de Janeiro. O texto a seguir aborda essa relação.

[O samba de roda e o samba no Rio de Janeiro]

reticências

Edison Carneiro, em Folguedos tradicionais, aponta uma ligação matricial do samba dançado no Rio com o samba de roda baiano, no qual ressalta, como traço característico, a umbigada reticências.

O samba de roda conhecido na Bahia contribuiu com o passo distintivo do samba. Espécie de baile ao ar livre, de que todo mundo pode participar, se convidado por uma umbigada o dançarino requebra e saracoteia sozinho, enquanto os demais se incumbem do canto (uma frase de coro, uma frase de solo) e da música (prato e faca, chocalho, pandeiro). Os passos do samba perderam o nome na Guanabara, em vez de uma única pessoa dançar, habitualmente dançam, em separado, um homem e uma mulher, que passam a vez a pessoas do mesmo sexo; o convite à dança já não é exatamente a umbigada, mas o dançarino continua a executar uma verdadeira reverência, sambando, ‘dizendo no pé’, diante da pessoa escolhida, até tocar perna com pernareticências

A umbigada não é um traço exclusivo do samba de roda baiano, aparecendo em manifestações como o jongo, o coco e o lundu. reticências

ifãn. Dossiê das matrizes do samba no Rio de Janeiro. Brasília: ifãn, 2006. página 58­-59. Disponível em: https://oeds.link/wOuI56. Acesso em: 28 fevereiro 2022. Reprodução parcial.

Artista e obra

Edith do Prato

Fotografia. Mulher idosa de cabelo grisalho, com vestido branco rendado nas mangas, sentada em uma cadeira de madeira. Ao fundo, detalhe de um quadro na parede à esquerda e, à direita, uma mesa com vaso de flores amarelas, um copo de vela e uma imagem de santa.
Edith do Prato em sua casa em Santo Amaro (Bahia), em 2002.

A cantora, compositora e percussionista Edith ­Oliveira Nogueira (1916-2009), conhecida como Edith do Prato, nasceu em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano.

Desde muito cedo, Edith cantava nas apresentações de samba de roda que aconteciam em sua cidade. Ela se destacou por ser exímia cantora e por ditar o ritmo de suas apresentações com um prato e uma faca. Dessa característica surgiu seu nome artístico, Edith do Prato.

Ouça o áudio “’Marinheiro só’, com Edith do Prato”, e perceba a percussão com prato e faca.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Edith do Prato tinha uma relação muito próxima com a família dos irmãos Caetano Veloso e Maria ­Bethânia, que também nasceram em Santo Amaro. Foi Caetano Veloso, a quem ela amamentou quando bebê, o responsável pelo início da carreira profissional da artista. Em 1972, Edith do Prato participou de duas faixas do disco Araçá azul, lançado por Caetano. O primeiro disco solo de Edith do Prato foi lançado em 2003 e contém canções tradicionais do samba de roda do Recôncavo Baiano.

Considerada uma das mais importantes representantes do samba de roda, a obra de Edith do Prato continua a ser uma influência para a produção de muitos músicos, como a cantora e compositora Mariene de Castro.

Fotografia. Mulher de cabelo longo e crespo em tons avermelhados, usa um vestido branco e segura um microfone com a mão esquerda, enquanto dança.
Mariene de Castro durante apresentação em Salvador (Bahia), em 2017.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Em sua opinião, qual é a importância da valorização e da manutenção de saberes de pessoas como a artista Edith do Prato? Registre sua opinião no diário de bordo. Depois, compartilhe-a com os colegas.

Ilustração. Ícone do diário de bordo.

PARA OUVIR

Dona Edith do Prato: vozes da purificação. Edith do Prato. Rio de janeiro: Biscoito Fino, 2003. 1 cedê (41 minutos).

Nesse álbum, Edith do Prato gravou canções tradicionais do samba de roda do Recôncavo Baiano, como “Marinheiro só”, “Minha senhora” e “Dona de casa”.

Ser de luz: uma homenagem a Clara Nunes. Mariene de Castro. Rio de Janeiro: Universal, 2012. 1 cedê (69 minutos).

Nesse álbum, Mariene de Castro faz uma homenagem a Clara Nunes, uma das mais importantes sambistas brasileiras. Entre as canções gravadas pela cantora, estão sucessos como “Morena de Angola” e “Conto de areia”.

Respostas e comentários

Artista e obra

Se julgar oportuno e for de interesse da turma, aproveite para aprofundar a relação musical entre Edith do Prato e Caetano Veloso. Proponha, por exemplo, uma pesquisa na internet dessa questão e também a audição das faixas do disco Araçá Azul (1972), de Caetano Veloso, que tiveram a participação dessa sambista.

Também pode ser abordada a influência de Edith do Prato nos trabalhos da intérprete Mariene de Castro, por exemplo, pela audição de algumas gravações disponíveis na internet. Ao ouvi-las, peça aos estudantes que compartilhem livremente suas percepções sobre as possíveis relações entre essas duas sambistas.

Foco na linguagem

1. Espera-se que os estudantes respondam que é importante preservar as tradições populares do país para que esses saberes não se percam com o passar do tempo. Incentive-os a refletir sobre a contribuição dessas práticas para a formação da identidade cultural brasileira.

Sugestão de atividade

O samba é um dos elementos da cultura brasileira com raízes na cultura negra. No entanto, outros ritmos também têm a mesma origem.

Organize os estudantes em grupo de cinco a sete integrantes e proponha-lhes a organização de uma apresentação oral sobre ritmos musicais que surgiram influenciados pela cultura negra.

Sugira alguns estilos musicais de origem negra como hip-hop, soul, jazz e spirituals. No entanto, eles podem escolher o estilo musical com que mais se identificam.

Espera-se que eles levem para a sala de aula elementos históricos, referências de musicistas e uma lista de repertório no dia da apresentação.

Oriente-os a organizar uma plêilist para ser reproduzida.

O samba no Rio de Janeiro

O samba foi introduzido no Rio de Janeiro no século dezenove, quando muitas pessoas foram para a então capital do Brasil em busca de melhores condições de vida. Essas pessoas, muitas de origem africana, levaram para o Rio de Janeiro o samba e outras tradições culturais afro-brasileiras.

As principais responsáveis pela formação e pela consolidação do samba carioca foram as “tias baianas”, como eram conhecidas as mulheres (muitas delas baianas) que organizavam rodas de samba e grandes festas em suas residências. Foi em homenagem a essas mulheres que as escolas de samba criaram a “ala das baianas”.

Fotografia. Vista de desfile de escola de samba. Em primeiro plano, mulheres vestidas de baianas, com fantasias luxuosas na cor laranja com detalhes dourados e plumagens. Ao fundo, o público nas arquibancadas. À esquerda, um fotógrafo está na ala documentando o evento.
Ala das baianas em desfile da escola de samba União da Ilha do Governador. Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), 2016.

Uma dessas tias baianas se tornou muito conhecida: Hilária Batista de Almeida (1854-1924), a Tia Ciata. Nascida em Salvador, Tia Ciata morou na região da Praça Onze, no Rio de Janeiro, onde ocorreram os primeiros desfiles de Carnaval. Tia Ciata comandava uma pequena equipe de baianas que vendiam doces e quitutes e se tornou uma das principais líderes dos afrodescendentes no Rio de Janeiro.

Em sua casa, Tia Ciata promovia festas às quais compareciam pessoas de diferentes culturas e classes sociais. Dessas festas, participavam músicos e compositores, como Alfredo da Rocha Vianna, o Pixinguinha (1897-1973), Ernesto Joaquim Maria dos Santos, conhecido como Donga (1890-1974), João Machado Guedes, o João da Baiana (1887-1974), Mauro de Almeida (1882-1956) e Heitor dos Prazeres (1898-1966), que também era artista plástico.

Fotografia em preto e branco. Homem de chapéu redondo branco com faixa preta, camisa e paletó brancos e gravata borboleta preta toca saxofone.
O compositor e instrumentista Pixinguinha tocando saxofone. Fotografia de 1961.
Respostas e comentários

Contextualização

Destaque a importância das “tias baianas” para a formação do samba cario­ca. Comente que, graças a sua influência, ainda hoje os quitutes (entre eles, a feijoada) fazem parte das rodas de samba realizadas em qua­dras de escolas de samba. Peça que observem a fotografia de um grupo de mulheres que desfila na ala das baia­nas. Explique que, durante o desfile, as integrantes dessa ala giram para um lado e para o outro, em uma referência aos movi­mentos dos rituais do candomblé. Apresente as informações sobre Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, contidas no texto a seguir.

A pequena África e o reduto de Tia Ciata

reticências A mais famosa de todas as baianas, a mais influente, foi Hilária Batista de Almeida, [a] Tia Ciata, relembrada em todos os relatos do surgimento do samba carioca e dos ranchos, onde seu nome aparece gravado Siata, Ciata ou Assiata. Nascida em Salvador em 1854 reticências [ela se tornaria] conhecida por Ciata, apelido com que se celebrizaria mais tarde na colônia baiana do Rio de Janeiro. Em 1876, com 22 anos, chega ao Rio de Janeiro reticências.

A seu espírito forte, Ciata aliaria reticências sólidos conhecimentos religiosos e culinários. Doceira, começa a trabalhar em casa e a vender nas ruas, reticências, sempre paramentada com suas roupas de baiana preceituosa, que nunca mais abandonaria depois de uma certa idade. reticências

A casa [de Ciata] era bastante grande reticências. Na sala, o baile onde se tocavam os sambas de partido entre os mais velhos, e mesmo música instrumental quando reticências apareciam os músicos profissionais, muitos da primeira geração dos filhos dos baianos, que frequentavam a casa. No terreiro, o samba raiado e, às vezes, as rodas de batuque entre os mais moços. No samba se batia pandeiro, tamborim, agogô, surdo, instrumentos tradicionais que vão se renovando a partir da nova música, confeccionados pelos músicos, ou com o que estivesse disponível, pratos de louça, panelas, raladores, latas, caixas, valorizados pelas mãos rítmicas do negro. As grandes figuras do mundo musical carioca, Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, surgem ainda crianças naquelas rodas onde aprendem as tradições musicais baianas a que depois dariam uma fórma nova, carioca. reticências

MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. segunda edição Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1995. página 95-102. (Coleção Biblioteca Carioca).

O primeiro samba gravado

A primeira música classificada como samba e lançada em disco foi composta na casa de Tia Ciata por Donga e Mauro de Almeida, em 1916. Com o nome “Pelo telefone”, a canção foi gravada em 1917.

Acredita-se que, além de Donga e Mauro de Almeida, outros sambistas tenham participado da composição da música. Alguns sambistas da época chegaram a acusar Donga de se apropriar de uma composição coletiva (de vários autores). De qualquer maneira, graças à popularidade da canção, o termo samba se difundiu rapidamente, tornando-se, em algumas décadas, o símbolo da música popular brasileira.

Com a popularidade do samba, vários artistas do Rio de Janeiro tornaram-se conhecidos em todo o Brasil. Um deles foi José Barbosa da Silva (1888-1930), conhecido como Sinhô. Na década de 1920, ­Sinhô compôs sambas de muito sucesso, como “Jura” e “Gosto que me en­rosco”. Por essas e várias outras composições, Sinhô recebeu o título de “rei do samba”.

Fotografia. Selo redondo preto com dizeres em cor clara: Fábrica Odeon [...] Rio de Janeiro Odeon Banda — Rio de Janeiro Pelo telephone Bamba B. Santos Banda Odeon Nº 121313 Fabricado especialmente para Casa Edison Fred. Figner
Selo da gravação do samba “Pelo Telefone”, realizada entre 1917 e 1920. Museu da Imagem e do Som (mís) do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).
Fotografia em preto e branco. Homem idoso, com camisa clara e casaco, sentado em uma cadeira com um violão. Atrás, parte de uma janela com grades.
Donga no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), em 1971.
Fotografia em preto e branco. Homem de chapéu claro com faixa preta, camisa clara, gravata borboleta preta e casaco.
Retrato de Sinhô, local e data desconhecidos.

PARA ACESSAR

ifãn – Dossiê das matrizes do samba no Rio de Janeiro. Disponível em: https://oeds.link/wOuI56. Acesso em: 11 maio 2022.

No portal do ifãn, é possível obter informações sobre a história do samba no Rio de Janeiro, com destaque para o partido-alto, o samba de terreiro e o samba-enredo, variações características do samba carioca.

Respostas e comentários

Contextualização

Destaque a importância da canção “Pelo telefone” (considerada o primeiro samba gravado em disco) para a transformação do samba em um símbolo da cultura nacional. O texto a seguir aborda essa questão.

“Pelo telefone”

“Em novembro de 1916, o cantor Baiano, o mesmo que gravara o primeiro disco nacional em 1902, gravou para o Carnaval de 1917 o samba ‘Pelo telefone’, de Donga e Mauro de Almeida, considerado o primeiro samba gravado. É verdade que, antes do ‘Pelo telefone’, encontraremos em alguns discos músicas identificadas como sambas, mas que não eram sambas. Também encontraremos autênticos sambas registrados com o nome de outros gêneros musicais (até 1960, as etiquetas dos discos informavam a que gênero musical pertencia a música gravada). reticências a palavra era sempre usada para designar música e dança dos negros. ‘Pelo telefone’ é considerado o primeiro samba levado ao disco, porque, somente a partir dele, teve início uma série de gravações de músicas identificadas como samba. E foi tão bem recebido que o samba não demoraria muito para assumir a condição de principal gênero musical do país. Tal processo projetou nacionalmente vários nomes que se incorporaram definitivamente à história da música popular brasileira. O maior deles, durante a década de mil novecentos e vinte, foi o de Sinhô – José Barbosa da Silva (1888-1930) –, autor de muito talento, que ganhou o título de Rei do Samba. Muitas das suas músicas, como ‘Jura’, ‘Gosto que me enrosco’, ‘Cansei’ e outras, atravessaram várias décadas, sempre com muito sucesso.”

CABRAL, Sergio. A MPB na era do rádio. São Paulo: Moderna, 1996. página 13-14. (Coleção Polêmica).

Se considerar oportuno comente que, em 1996, influenciado por essa canção, o cantor e compositor Gilberto Gil compôs a canção “Pela internet”, em que abordou as inovações tecnológicas da época. Se o telefone estava na vanguarda tecnológica no início do século vinte, no final desse mesmo século era a internet o meio que revolucionava a maneira como as pessoas se comunicavam.

Se possível, apresente a letra das duas canções aos estudantes e peça-lhes que as comparem, identificando semelhanças e diferenças.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


1. Ouça o áudio “’Jura’, de Sinhô” e acompanhe a letra reproduzida a seguir.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Jura

“Jura, jura

Jura pelo Senhor

Jura pela imagem

Da Santa Cruz do Redentor

Pra ter valor a tua jura

Jura, jura

De coração

Para que um dia

Eu possa dar-te o meu amor

Sem mais pensar na ilusão

Daí então

Dar-te eu irei

O beijo puro na catedral do amor

Dos sonhos meus

Bem junto aos teus

Para fugir das aflições da dor.”

SINHÔ. Jura. In: PAGODINHO, Zeca. Juras de amor. Rio de Janeiro: Universal, 2000. Faixa 1.

  1. Ouça novamente a canção, prestando atenção à marcação do ritmo pelos instrumentos. Perceba quantas vezes a letra é cantada na música e o que acontece entre uma vez e outra.
  2. Ao ouvir a música, tente ir cantando junto com a gravação para memorizar a melodia.
  3. Em seguida, em grupo, crie com os colegas um ritmo para acompanhar a música. Esse ritmo pode ser executado batendo palmas ou por meio de qualquer outra fórma de percussão corporal. Quando estiverem seguros, mostrem aos colegas dos outros grupos o ritmo criado.

2. Ouçam, mais uma vez, o áudio “’Marinheiro só’, com Edith do Prato”. Depois, com a sala organizada em dois grupos, procurem cantar a música de modo que um dos grupos faça o solo e outro, o coro (a parte que responde sempre “Marinheiro só”). Ensaiem com a gravação até serem capazes de cantar sem essa base. Para tornar mais interessante essa atividade, procurem na internet apresentações de samba de roda, como uma referência inicial, e criem sua própria coreografia para essa música. Combinem com o professor uma data para apresentar a música e a dança aos colegas de outras turmas. Esta proposta também pode ser em formato audiovisual, isto é, vocês podem gravar ou fazer um videoclipe baseado na produção coreográfica.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Avaliação

Ilustração. Ícone do diário de bordo.

Para finalizar o estudo deste Tema, reflita sobre essas atividades. Para isso, responda em seu diário de bordo às questões a seguir.

  1. Como foi a experiência de criar um ritmo com percussão corporal?
  2. O que você achou da experiência de canto e criação de coreografia proposta na atividade 2? Você teve alguma dificuldade?
Respostas e comentários

Experimentações

1. a. Espera-se que os estudantes percebam que a letra é cantada duas vezes, com repetição da parte final na segunda vez, e que entre os cantos há partes instrumentais.

c. Organize os estudantes em grupos de seis a oito integrantes e oriente-os na elaboração rítmica. O ritmo a ser criado é livre, mas deve ter coerência em relação à música. A execução do ritmo deve ser realizada com a gravação; assim, os estudantes terão um apoio temporal e não precisarão cantar enquanto o executam, o que seria muito difícil em um primeiro momento. Caso perceba que eles memorizaram a música, organize a turma em dois grupos: um ficará responsável pelo canto e o outro, pelo acompanhamento, usando os ritmos criados por eles. Combine com eles uma sequência para os ritmos do acompanhamento, de modo que as criações de todos os grupos sejam contempladas.

2. A atividade será realizada com toda a turma, mas, se julgar mais conveniente, organize-a em grupos menores. Oriente a organização da turma de modo que o grupo solista fique com menos integrantes do que o grupo que realizará o coro, a fim de manter a diferença de densidade sonora das gravações, nas quais a parte solística é executada por apenas um cantor ou cantora. Ajude-os também na questão da elaboração da coreografia, que deve ser bem simples para não prejudicar o canto realizado concomitantemente. Se julgar oportuno, aproveite para falar sobre o canto responsorial, que é uma fórma de canto coletivo muito comum na cultura africana, na qual um solista “pergunta” e um coro “responde”. No caso dessa música, especificamente, a letra da resposta do coro é sempre a mesma, mas há outras em que as letras também vão mudando. Comente ainda que a música gospel, típica das igrejas protestantes estadunidenses e sob forte influência da música africana, geralmente usa essa mesma estrutura responsorial.

Avaliação

Para enriquecer a pesquisa, reúna os grupos ou artistas selecionados e organize com eles um catálogo de tipos de samba, destacando seus pontos em comum e suas especificidades. Ajude-os, por exemplo, a observar os diferentes andamentos, instrumentos usados, temas tratados nas letras, entre outros aspectos que julgue relevantes.

Glossário

Inzoneiro
: manhoso.
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Merencório
: triste.
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Sestroso
: esperto, vivo.
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Trigueiro
: moreno.
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