Tema 3  Novas experiências

A possibilidade de gravar e reproduzir sons

O desenvolvimento tecnológico sempre acompanhou a história da música. Imagine, por exemplo, que antes da invenção do gravador sonoro só era possível registrar uma composição musical por meio do registro manuscrito das partituras, e a audição só poderia acontecer com a apresentação ao vivo de um instrumento musical ou de um cantor. Por essa razão, afirma-se que a possibilidade de gravar um som mudou a história da música. Mas você sabe quando foi inventado o primeiro gravador de som e quem foi o responsável por essa invenção?

Em 1877, tômas édiçon (1847-1931) criou o fonógrafo, o primeiro aparelho que possibilitou a gravação e a reprodução de sons.

Poucos anos depois da invenção do fonógrafo, em 1888, surgiu o gramofone, aparelho que possibilitava a gravação e a reprodução de sons em discos metálicos. O gramofone foi desenvolvido por Emil Berliner (1851-1929) e representou uma grande inovação, pois possibilitava a gravação de várias cópias de um disco com base em uma matriz. A invenção do gramofone abriu caminho para a música gravada da maneira como a conhecemos atualmente.

Fotografia em preto e branco. Homem calvo, vestindo camisa, gravata borboleta e paletó. Ele posa para foto com um fonógrafo sobre a mesa. Esse aparelho tem uma  saída de som parecida com uma tuba.
tômas édiçon fotografado ao lado de um fonógrafo, uma de suas principais invenções. Fotografia de 1908.
Fotografia em preto e branco. Homem grisalho e de óculos, vestido de terno, ao lado de um gramofone que se encontra em cima de um móvel de madeira. A saída de som do gramofone tem o formato de uma tuba, embora menor do que o fonógrafo.
Emil Berliner manuseia um gramofone. Fotografia de 1927.

Música e indústria

O desenvolvimento do disco de vinil no final de 1940 marcou outro momento da história da música. Mais leves que os discos utilizados no gramofone, os discos de vinil possibilitaram a gravação de vários áudios organizados em faixas. Sua popularização contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da indústria da música, pois possibilitou a comercialização de discos em grande escala. Mesmo com o desenvolvimento de novas tecnologias, muitos artistas ainda lançam álbuns gravados em discos de vinil.

Fotografia. Capa e disco de vinil. A capa apresenta uma ilustração colorida de uma pessoa formada por elementos geométricos e o título 'Espiral de ilusão' Criolo. O disco de vinil é preto e tem a imagem da capa do disco impressa no papel que fica no centro dele.
O cantor e compositor Criolo, lançou, em 2017, o álbum Espiral de ilusão em vinil.

Outra invenção muito importante para a indústria e para a difusão da música em larga escala foi a gravação de áudio em fita magnética, tecnologia que se popularizou com a criação da fita cassete, em 1963. A fita cassete consiste em um rolo de fita magnética alojado em uma caixa de plástico. Os sons são gravados nessa fita.

Fotografia. Fita cassete antiga com rótulo branco e vermelho, feita de plástico transparente, de modo que é possível ver duas bobinas no centro.
Fita cassete.

No início da década de 1980, com o surgimento do compact disc , a música entrou na chamada era digital. A criação da tecnologia do cedê representou um grande avanço, pois com ele foi possível ampliar o tempo de gravação. Atualmente, em um cedê podem-se gravar até 80 minutos.

Fotografia. Caixa pequena de plástico transparente com um CD branco.
O cedê é produzido com acrílico.

Com o passar do tempo, os Cê dês foram sendo substituídos por diversos aparelhos que armazenam músicas. Embora pequenos, muitos desses aparelhos armazenam até milhares de músicas. E os avanços não pararam por aí. Na atualidade, a relação com o armazenamento e com o consumo de música mudou. Hoje, é possível ouvir qualquer música no momento que você desejar, desde que esteja conectado à internet.

Fotografia. Menino de cabelo cacheado longo castanho, vestindo camiseta branca, camisa xadrez azul e calça cinza, ouve música com fones de ouvido conectados a um notebook, que se encontra em seu colo.
O notebook é um dos aparelhos em que é possível armazenar e reproduzir músicas.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Em grupo, realizem quatro a cinco entrevistas com pessoas da comunidade escolar ou de onde vocês vivem e registrem as respostas no diário de bordo para os seguintes questionamentos:

Ícone. Diário de bordo.

a) Que tecnologias os entrevistados mais utilizam para escutar música?

b) Por qual meio ou canal os entrevistados ouvem uma música pela primeira vez, quando elas são lançadas?

PARA VISITAR

Exposição virtual Sound and movement [Som e movimento], de Nakamura quíf rérin Collection.

Disponível em: https://oeds.link/11gbzQ. Acesso em: 15 maio 2022. Visite a exposição que mostra as parcerias do artista quíf rérin para a produção de capas de discos.

Arte e muito mais

Quando as obras artísticas se tornam bens de consumo

Em meados do século vinte, os filósofos alemães mács rôcáime (1895-1973) e Theodor Adorno  (1903-1969), ao observar e estudar os efeitos da industrialização e da produção em larga escala na arte e na cultura, criaram o conceito de indústria cultural.

Segundo os estudos desses filósofos, ao seguir a lógica capitalistaglossário , as produções artísticas transformaram-se em bens que podem ser adquiridos por um valor monetário, promovendo o lucro dos empresários que as fornecem. Esses bens são produzidos em série e em larga escala, visando atender um amplo público consumidor.

O desenvolvimento da indústria cultural ampliou o mercado de trabalho para os artistas e facilitou o acesso da população a suas obras. Para atingir o maior número de pessoas (consumidores), entretanto, as produções da indústria cultural são padronizadas, como qualquer outro produto industrializado.

Fotografia. Mulher de guarda-chuva na rua. Ela está de costas e veste camiseta branca com listras horizontais pretas e calça jeans. Está com uma blusa amarrada na cintura e segura um guarda-chuva. Ao fundo, há uma fila de pessoas.
Fila de pessoas aguardando para entrar em evento musical realizado em São Paulo São Paulo, em 2017.

Faça no diário de bordo.

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Multiculturalismo.

Com a ajuda do professor, você e os colegas vão identificar filmes do repertório de vocês que pertençam aos gêneros cinematográficos: ação, romance, comédia e terror. Depois disso, o professor disponibilizará uma cartolina para cada gênero, de modo que vocês possam registrar semelhanças e diferenças entre os filmes listados para cada gênero a fim de que analisem padrões de recepção das produções cinematográficas da indústria cultural.

A cultura de massa

A consolidação do ideal capitalista de produção artística ocorreu em meados do século vinte, com a popularização dos jornais, do cinema, do rádio e da televisão, meios fundamentais para a difusão dos produtos da indústria cultural. Esses meios de comunicação são considerados veículos de comunicação de massa, pois atingem um grande público e, assim, difundem produtos e ideias.

Ao servir de meio de divulgação dos produtos da indústria cultural, os veículos de comunicação colaboram para a difusão da cultura de massa, termo utilizado para designar a produção destinada ao grande público.

Muitas vezes, são divulgados produtos sem considerar a heterogeneidade do público. Em razão disso, os veículos de comunicação de massa colaboram com a homogeneização do gosto popular, contribuindo para a alienação da população. Na segunda metade do século vinte, diversos artistas visuais passaram a produzir obras nas quais criticavam o consumismo excessivo.

Charge. Ilustração de uma cena com dois homens observando três galinhas d'angola ciscando o chão. As galinhas são pretas com bolinhas brancas e duas delas piam 'tô fraca, tô fraca, tô fraca', mas uma delas pia 'tô em crise, tô em crise, tô em crise'. À direita, um homem de chapéu de palha, vestido com camiseta azul-claro e calça azul e outro homem calvo, de bigode, vestido com camiseta amarela e calça verde, que explica 'O problema dessa aí é que ela fica assistindo muito TV, lendo jornais e vendo notícias na internet!'
Charge de Dúqui sobre os meios de comunicação, publicada no jornal O Tempo, em 2010.
Tirinha em três cenas. Cena 1. Homem de cabelo curto castanho, vestido com uma blusa azul se apoia no encosto de uma poltrona, na qual há um gato laranja sentado, assistindo televisão. Ele pergunta: 'A que você está assistindo?', e o gato responde com um balão de pensamento: 'Sei lá!'. Cena 2. O homem pergunta 'Quem é o apresentador?', e o gato responde com um balão de pensamento: 'Sei lá!'. Cena 3. O homem pergunta: 'Qual é o enredo?', e o gato, com cara brava, responde em pensamento: 'Estou vendo televisão! Pare de me fazer pensar!'
Tirinha do personagem Garfield, de 2006.

Faça no diário de bordo.

FOCO NA LINGUAGEM

1. Reúna-se com um colega. Discutam o significado das palavras heterogeneidade, homogeneização e alienação presentes no texto desta página. Depois da discussão, registrem suas conclusões no diário de bordo e as apresentem aos demais colegas.

Ícone. Diário de bordo.

2. Como podemos relacionar a charge reproduzida nesta página com a atividade anterior?

3. Qual é sua opinião a respeito do tema abordado na charge?

4. Sobre a tirinha da personagem Garfield reproduzida nesta página, responda no diário de bordo.

a) Qual é a ideia central apresentada?

b) Qual é a sua opinião a respeito do tema abordado?

A música concreta

A possibilidade de registrar sons promoveu uma série de inovações na música. Uma dessas inovações foi a música concreta, conceito que surgiu no final da década de 1940 e que se caracteriza pela criação de peças musicais com base na gravação e na manipulação de sons existentes, como o de rolhas saindo de garrafas e os produzidos por trens em movimento. Para isso, os músicos concretistas utilizavam a gravação em fitas magnéticas.

Os sons gravados eram utilizados de diversas fórmas. Os concretistas, por exemplo, conseguiam remover ou realocar trechos nas fitas, tocar trechos com velocidade mais rápida ou mais devagar, tornando os sons mais graves ou mais agudos e até mesmo tocar fitas ao contrário. Essas manipulações eram feitas em estúdios, como o retratado na fotografia a seguir.

Fotografia em preto e branco. Homem de cabelo curto e óculos de armação preta, vestido com uma camisa xadrez, está sentado em uma cadeira e opera aparelhos de som antigos em um estúdio. Em primeiro plano, é possível observar fitas de rolo, que eram usadas para gravar música antigamente.
O compositor francês piérr anrrí em estúdio musical. Fotografia da década de 1950.

Os pioneiros da música concreta foram piér chéfer (1910-1995) e piérr anrrí (1927-2017). Na década de 1950, e Enri lançaram “Sinfonia para um homem só”, uma das composições mais importantes da música concreta. Essa música consiste na gravação de sons emitidos por diversas pessoas.

Fotografia em preto e branco. Homem de cabelo curto, vestido de terno, sentado em uma cadeira, segura fitas longas emaranhadas, que vão da sua mão até o chão. Em cima da mesa, há duas pilhas de fitas de rolo.
O músico piér chéfer. Fotografia de 1961.
Fotografia. Homem de cabelo grisalho e barba longa, com óculos de armação arredondada, vestido com camisa marrom, sentado em frente a um painel com diversos botões.
piérr anrrí, em Paris, França, em 2008.

Hermeto Pascoal

No Brasil, um músico influenciado pela música concreta é Hermeto Pascoal. Observe, a seguir, uma fotografia desse músico e responda: Você reconhece o instrumento musical que ele está tocando? Comente com os colegas.

Fotografia. Homem de cabelo e barba longos e grisalhos, com chapéu de palha, vestido com uma camisa laranja, toca um instrumento de metal em formato de chaleira diante de um microfone.
Hermeto Pascoal durante apresentação em Nova York, Estados Unidos, em 2010.

Nascido em Lagoa da Canoa Hermeto é um dos mais reconhecidos músicos brasileiros. É multi-instrumentista (toca diversos instrumentos musicais) e arranjador, profissional que define como uma música será “distribuída” entre os diferentes instrumentos − como cada um deles participará na execução de uma música.

Além de tocar instrumentos convencionais, como acordeão, flauta e violão, Hermeto cria instrumentos utilizando materiais inusitados, como chaleiras e canos.

Para criar suas composições, Hermeto também capta sons do cotidiano e os transforma em música.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Ouça o áudio “’Quando as aves se encontram nasce o som’, de Hermeto Pascoal”. Você identifica os sons que foram utilizados pelo artista nessa música? Qual é a relação desses sons com o título da música?

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

“Aproveitem bastante”

Em 2008, Hermeto Pascoal escreveu um bilhete autorizando qualquer músico no Brasil ou no mundo a gravar suas músicas. Esse bilhete ainda hoje está disponível no site oficial do músico. Observe, a seguir, uma reprodução dele.

Transcrição do bilhete de Hermeto Pascoal

“Eu Hermeto Pascoal declaro que a partir desta data libero, para os músicos do Brasil, e do mundo, as gravações em cedê de todas as minhas músicas que constam na discografia deste site. Aproveitem bastante.

Hermeto Pascoal

Curitiba, 17 do 11 de 2008

Testemunha: Aline Morena”

Ilustração. Bilhete colorido escrito com letra infantil, que diz 'Eu Hermeto Pascoal declaro que a partir desta data libero, para os músicos do Brasil e do mundo, as gravações em CD de todas as minhas músicas que constam na discografia deste site. Aproveitem bastante. 17 de 11 de 2008. Testemunha: Aline Morena'. Na base do recado, há um desenho abstrato junto à assinatura do artista que se assemelha a uma face de pessoa sorrindo.
Reprodução do bilhete do músico.

Ao tomar essa atitude, Hermeto abre mão de parte dos direitos autorais sobre suas criações. Os direitos autorais são o conjunto de leis que garantem aos autores a posse de suas criações.

No Brasil, há leis de proteção ao autor desde o início do século dezenove. Os direitos autorais, regulamentados em 1998, são classificados atualmente como morais e patrimoniais. São exemplos de direitos morais: exigir a autoria da obra, ter o nome anunciado em sua utilização, modificar a obra a qualquer momento e mantê-la inédita. São exemplos de direitos patrimoniais: comercializar a obra, autorizar seu uso, tradução ou reprodução, de fórma integral ou parcial, e realizar ou autorizar qualquer modificação na obra.

Na área musical, no caso de uma canção, a legislação reconhece os direitos morais e patrimoniais dos autores da letra (autor) e da música (compositor). Cabe ao autor ou ao compositor autorizar a reprodução e até mesmo a criação de uma versão, isto é, uma nova criação derivada de sua obra original. Quem faz a versão de uma música é chamado autor-versionista. No Brasil, alguns músicos fazem versões de canções estrangeiras; por exemplo, o cantor e compositor Lulu Santos fez uma versão de Here comes the sun”, de jórdgi rérisson (1943-2001), gravada pela banda Os Beatles, que conhecemos no Tema 1. O título dessa versão é “Lá vem o sol”.

Fotografia. Homem de cabelo curto grisalho e barba curta, vestido com camiseta roxa, canta e toca guitarra em um show.
O cantor e compositor Lulu Santos em show na cidade de São Paulo São Paulo, em 2018.

No Brasil, Chiquinha Gonzaga destacou-se como pioneira na luta pelos direitos autorais. Em 1917, ela fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (ésse bê á tê), a primeira entidade criada para proteger os direitos autorais no Brasil. Nessa época, suas canções faziam sucesso, sobretudo no teatro musicado, e Chiquinha percebeu que seria justo receber, como autora, parte da arrecadação da bilheteria de um espetáculo em que suas músicas fossem executadas.

Fotografia em preto e branco. Mulher de cabelo longo preso com tecido, com o rosto apoiado sobre a mão esquerda. Ela olha para baixo, pensativa.
Chiquinha Gonzaga. Fotografia de 1877.

Entre textos e imagens

A poesia concreta

A poesia concreta foi criada por alguns poetas que se opunham às fórmas utilizadas nos poemas tradicionais por considerá-las rígidas e ultrapassadas. Esses poetas romperam com os modelos tradicionais e passaram a utilizar em suas obras recursos como a organização não linear das palavras na página, espaços em branco e elementos visuais e sonoros.

No Brasil, os principais poetas a se dedicar à poesia concreta foram Décio pinhatari (1927-2012) e os irmãos Haroldo de Campos (1929-2003) e Augusto de Campos.

Na poesia concreta, para criar efeitos de sentidoglossário e comunicar ideias, combinam-se o uso das palavras e sua disposição na página. Observe essas características no poema “Ver navios”, de Haroldo de Campos, reproduzido a seguir. Nesse poema, as palavras formam uma seta, dando a impressão de movimento. Os verbos utilizados (“vem”, “vai”, “vir”) também sugerem a ideia de movimento.

Fotografia. Poema concreto com palavras dispostas geometricamente, formando um desenho que propicia movimento e significação ao texto poético: “vem navio. vai navio. vir navio. ver navio. ver não ver. vir não vir. vir não ver. ver não vir. ver navios”.

CAMPOS, Haroldo de. Ver navios. In: CAMPOS, Haroldo de. Xadrez de estrelas. São Paulo: Perspectiva, 1976.

Faça no diário de bordo.

Questão

1. Com a orientação do professor, reúna-se com um colega. Após lerem o poema “Ver navios”, de Haroldo de Campos, respondam: Qual seria o sentido da expressão “ver navios” no final do poema? Registrem suas conclusões no diário de bordo.

Ícone. Diário de bordo.
Ícone. Diário de bordo.

Arnaldo Antunes e a poesia concreta

Um dos artistas brasileiros influenciados pelo Concretismo foi Arnaldo Antunes. Poeta, músico e artista visual, ele produz músicas, poemas e obras de arte que abordam a visualidade das palavras. Em suas obras, usa diferentes tipos e cores de letra e os dispõe de maneira inusitada para transmitir um conteúdo poético.

Leia, a seguir, o poema “Luz”, de Arnaldo Antunes.

Fotografia. Homem de cabelo curto, vestindo casaco preto, olha para o lado e sorri.
Arnaldo Antunes em São Paulo São Paulo. Fotografia de 2017.
Fotografia. Poema concreto, disposto graficamente para dar a sensação de movimento e proporcionar significado ao texto: 'luz / na luz / não é nada / só sombra / é nada / luz na luz / na luz / não é nada / só sombra /  é nada / luz na luz / na luz / não é nada / só sombra / é nada / luz na luz / na luz / não é nada / só sombra / é nada / na luz'. Algumas palavras no centro estão destacadas em negrito, de modo que se forma um jogo visual de luz e sombra.

ANTUNES, Arnaldo. Luz. In: ANTUNES, Arnaldo. Psia. quarta edição São Paulo: Iluminuras, 1998.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Além de “brincar” com a disposição das palavras, que recurso visual Arnaldo Antunes utilizou na composição do poema “Luz”?
  2. Crie seu próprio poema concreto. Realize a sua criação em um cartaz ou digitalmente para favorecer o recurso visual. Escolha o tema antes da criação e experimente diferentes fórmas para desenvolvê-lo. Apresente o resultado a seus colegas.

A música eletroacústica

Com o tempo, os procedimentos de geração e manipulação de sons gravados oriundos da música concreta levaram à criação da música eletroacústica.

As músicas eletroacústicas são compostas de sons gravados, sintetizados e, posteriormente, combinados e transformados por meio de equipamentos de áudio e programas de computador. Ouça o áudio “Trecho de música eletroacústica produzida pelo professor e compositor José Augusto Mannis”. Depois, tente identificar os diferentes sons que compõem essa música.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Fotografia. Homem de óculos com cabelo curto castanho, vestido com uma camisa com tons de cinza. Ele está sentado entre um teclado e telas de computadores, entre outros aparelhos eletrônicos.
José Augusto Mannis, em Campinas São Paulo. Fotografia de 2018.

A música eletroacústica é composta em estúdio e não utiliza partitura convencional. Em uma apresentação de música eletroacústica, não há músicos no palco. Nesses concertos, o teatro é cercado de caixas acústicas e, em cada uma delas, é possível ouvir um som diferente. O objetivo é levar os ouvintes a perceber os sons espalhados pelo teatro, estando imersos em um novo espaço sonoro e musical.

Fotografia. Vista do alto de um palco com alto-falantes em pedestais posicionados como se fosse uma orquestra. A plateia está vazia e, ao fundo, há cortinas vermelhas.
Orquestra de alto-falantes do Studio PANaroma de Música Eletroacústica da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” , 2014.

A música eletrônica

Anteriormente, nesta Unidade você conheceu a música concreta. Mas você sabe o que é música eletrônica?

Em meados do século vinte, o compositor que se destacou na época foi o alemão cárl ráins chitóc ráuzen (1928-2007); sua preocupação era criar música eletrônica “pura”, que partisse diretamente de recursos eletrônicos, com sons gerados eletronicamente.

Fotografia. Homem de cabelo grisalho, vestido com camisa branca com um casaco amarelo.
cárl ráins chitóc ráuzen em fotografia de 2002.

Por volta da década de 1960, a música eletrônica passou a receber críticas, pois seus sons eram considerados artificiais e incapazes de reproduzir as sutilezas expressivas dos instrumentos acústicos. Começaram a surgir, então, nesse momento, composições musicais mistas, que combinavam sons eletrônicos e sons acústicos. Até mesmo o músico cárl ráins chitóc ráuzen compôs várias peças desse tipo, entre elas a famosa (Canto dos adolescentes), criada entre 1955 e 1956, na qual o compositor usou a gravação da voz de um menino e materiais gerados eletronicamente.

Passado o entusiasmo inicial pela música gravada, alguns compositores começaram a se interessar por um novo tipo de música eletrônica, na qual os equipamentos musicais eletrônicos eram apresentados em performances ao vivo, muitas vezes acompanhados por instrumentos acústicos convencionais. O compositor estadunidense Djón Kêidge (1912-1992) foi um dos principais nomes desse tipo de composição.

Genericamente, todas essas vertentes podem ser consideradas “música eletrônica”, pois envolvem o uso de recursos eletrônicos em sua produção e em sua audição. Entretanto, a expressão música eletrônica é empregada mais frequentemente para as músicas cujos sons são produzidos (e não apenas manipulados) eletronicamente.

Fotografia em preto e branco. Homem de perfil, vestido com uma camisa branca, mexe em uma mesa de controle de som.
Djón Kêidge em Saint-Paul-de-Vence, França, em 1966.

A música pop eletrônica

A música eletrônica possibilitou, também, trocas de experiências e diversas parcerias entre artistas da música erudita e da música popular. Recursos eletrônicos foram incorporados, por exemplo, ao rock e ao jazz nos anos 1960 e 1970 e, nas décadas seguintes, surgiram gêneros específicos de música pop eletrônica. Visando principalmente ao público das danceterias, essa música se caracterizava pela presença de uma batida bem marcante e repetitiva e, ainda hoje, é bastante difundida em alguns locais.

Outras vertentes da música pop eletrônica podem ser encontradas, por exemplo, nas músicas feitas para jogos eletrônicos e nas músicas compostas por DJs cujas criações baseiam-se em músicas já gravadas por outros músicos como matéria-prima para suas montagens e mixagens.

Fotografia. Homem de barba e cabelo castanhos, mexe em um notebook em uma mesa de som em um show a céu aberto. Ele está usando fones de ouvido grandes. À direita, algumas pessoas em pé apreciam o espetáculo.
O DJ Caio Moura durante apresentação em São José dos Campos São Paulo, em 2017.

É importante lembrar ainda que, tanto na música erudita quanto na música popular, na atualidade os recursos eletrônicos se converteram em recursos digitais.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Com a orientação do professor, pesquise na internet alguma música pop eletrônica (música techno, música de jogos, de DJs Traga para a sala de aula o resultado da sua pesquisa na data agendada pelo professor e compartilhe-o com os colegas. Ouça também o que os colegas têm a dizer sobre a pesquisa deles.

Artista e obra

DJ Caio Moura

A seguir, você vai ler uma entrevista com o DJ Caio Moura.

Entrevistador: Caio, como surgiu seu interesse em ser DJ?

Caio Moura: Eu toco violão desde os 12 anos de idade, tive uma banda nessa época também. Meu pai já deu aulas de música no passado e me ajudou muito nessa fase inicial de musicalização. Sempre me atraiu a ideia de expressar ideias através de sons e, a partir dos 18 anos, comecei a me envolver com a música eletrônica e com o mundo do Psytrance. Desde então, venho pesquisando a fundo técnicas de mixagem digital

Entrevistador: Como o DJ prepara as músicas que vai tocar?

Caio Moura: Cada DJtem sua própria metodologia. Existem DJs que tocam qualquer tipo de música, assim como existem aqueles que levam uma tracklistpronta com o gênero que ele escolheu, num conceito bem fechado e definido. Isso vai de acordo com o objetivo do DJ em sua apresentação. Na configuração tradicional, sempre existem três elementos essenciais que o DJ vai utilizar: 2 CDJs ou 2 picapes de vinil (interfaces onde as músicas tocam), 1 mixer ou 1 mesa de som com no mínimo 2 canais (interface onde o DJ vai mesclar as duas músicas que estão tocando em 2 ou mais canais de áudio) e 1 fone de ouvido (para ouvir isoladamente cada canal, sem que o público ouça o trabalho de sincronização das faixas).

Entrevistador: O que é um set de música eletrônica?

Caio Moura: Um set é a compilação da seleção de músicas que o DJ vai apresentar, na sequência que ele determinou. O DJ set tradicional de música eletrônica é o resultado da capacidade do DJ de fazer as transições de uma música para outra sem perder a narrativa sonora à qual ele se propôs. Obviamente isso é muito subjetivo, e a maioria das pessoas não percebe a transição, mas quando oDJ erra o compasso ou entrada (ou ‘samba’, como é o jargão) fica perceptível para todos.

Entrevistador: Que sugestões você daria para alguém que quer se tornar DJ?

Caio Moura: Estudar teoria musical, mais especificamente ‘harmonia e rítmica’. Leitura de partitura não é necessária, mas é um diferencial para produzir e para mesclar faixas com a mesma tonalidade. Brincar com os programas de computador específicos para testar as habilidades, buscar tutoriais na internet. E mais importante de tudo: ouvir. Ouvir uma música e identificar padrões, maneiras de expressão, início de uma frase nova, emoções diferentes numa mesma canção. Treinar o ouvido desde cedo é essencial, porque o público é bem exigente e identifica quando o DJ não está fazendo seu trabalho direito. E acredite se quiser, ouvir duas músicas ao mesmo tempo e sincronizá-las não é uma tarefa tão fácil quanto parece.”

Entrevista concedida especialmente para esta Coleção, em agosto de 2018.

Música e pesquisa

Na atualidade, muitos artistas têm pesquisado o potencial sonoro de diferentes materiais e, com eles, criam instrumentos musicais, esculturas e instalações sonoras. É o caso de Fernando Sardo, músico, artista visual e professor, retratado na fotografia.

Observe que os instrumentos retratados nessa fotografia foram construídos com materiais descartados, como cabaças e pedaços de madeira, plástico e metal. O artista Fernando Sardo também desenvolve instrumentos nos quais reúne elementos de diferentes culturas, como a indígena, a africana e a indiana. Na fotografia, Fernando toca uma citarola, instrumento criado por ele por meio da fusão entre um sitar (instrumento de cordas de origem indiana) e uma viola caipira.

Outro instrumento criado por Fernando Sardo é a flautasorante, na qual utilizou tubos de pê vê cê e embalagens de desodorante em spray.

Fotografia. Homem calvo, vestindo camiseta amarela e calça branca, sentado em um banco. Ao seu redor, há diversos instrumentos musicais diferentes, como instrumentos de sopro feitos com tubos de PVC.
O artista Fernando Sardo e alguns dos instrumentos que ele criou com base em suas pesquisas. Santo André 2015.
Fotografia. Quatro flautas feitas com tubos brancos de PVC. Na ponta de cada uma delas, embalagens plásticas, também na cor branca, foram coladas com fita verde.
Flautasorantes produzidas pelo artista Fernando Sardo.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Em sua opinião, é possível relacionar os trabalhos dos artistas Fernando Sardo e Hermeto Pascoal? Comente com os colegas.

Entre textos e imagens

Trilhas: o som e a música no cinema

“O conceito de trilha sonora é amplo e, quase sempre, usado equivocadamente em nosso cotidiano. Normalmente as pessoas usam o termo trilha sonora para se referir à música de um filme, ou de uma novela, por exemplo. Tecnicamente falando, trilha sonora é todo o conjunto de sons de uma peça audiovisual, seja ela um filme, um programa de televisão ou um jogo eletrônico. Ou seja, a trilha sonora não se limita à música, mas compreende também todos os outros sons presentes nessa peça audiovisual. Em termos de organização interna, uma trilha sonora se divide em três conjuntos sonoros: os diálogos, ou seja, a fala; os efeitos sonoros, que no passado eram chamados de ruídos no jargão técnico e compreendem os sons de ambiente, de objetos, de pessoas e, por fim, a música. Assim, aquilo que em nosso dia a dia chamamos de trilha sonora é o que chamamos, na terminologia da área, trilha musical.

reticências A totalidade de um filme compreende a sua trilha musical e o resultado desse filme enquanto obra artística é único. Com outra música, seria outro filme, pois sua trilha musical é parte de sua articulação poética. A música deixa de ser vista, portanto, como um adereço e passa a ser entendida como parte de sua composição, articulando-se com todos os outros elementos que o compõe, sonoros e visuais, em uma peça unitária.

Hoje, portanto, a peça audiovisual é entendida como uma composição complexa, percebida pelo espectador como uma unidade em que sons e imagens não se apresentam como dois conjuntos dissociados, mas como uma mensagem única.

CARRASCO, Ney. Trilhas: o som e a música no cinema. ComCiência, Campinas São Paulo, número116, 2010. Disponível em: https://oeds.link/an1ou7. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia. Sala de cinema vazia. Em primeiro plano, poltronas da plateia. Ao fundo, no centro, a tela de projeção. Nas laterais da sala, há caixas de som.
Sala de cinema.

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Questões

  1. Segundo o texto, qual é a diferença entre trilha sonora e trilha musical?
  2. Em sua opinião, qual é a importância da trilha sonora em uma produção musical?
  3. Junte-se a quatro colegas da turma e escolham um trailer de um filme para substituir a trilha sonora na sua totalidade, isto é, trocar as falas, os sons do ambiente e as músicas com o objetivo de mudar a narrativa do filme. Organizem as gravações, os objetos sonoros e o texto narrativo que forem utilizar. Ensaiem juntos a sincronia e, seguindo as orientações do professor, apresentem a sua produção na data pré-agendada.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


Com a orientação do professor, reúna-se com cinco colegas. Façam um passeio pela escola ouvindo os diferentes sons que compõem a paisagem sonora local. Depois, utilizando um gravador, captem os sons de que mais gostaram e discutam como eles podem se transformar em uma música, criando, por exemplo, uma narrativa para a sequência sonora gravada. A seguir, editem os sons escolhidos e os transformem em música. Deem um título à composição de vocês e, na data agendada pelo professor, apresentem o resultado aos demais colegas da classe.

Pensar e fazer arte

Com a orientação do professor, reúna-se com sete colegas para a realização de uma atividade dividida em duas etapas.

Momento 1 – Entrevista e organização dos dados

a) Realizem uma pesquisa com os membros da comunidade escolar para conhecer a opinião deles sobre:

  • Que situações do bairro onde a escola está localizada os incomoda, como falta de espaço de lazer, opções culturais etcétera
  • Sugestões para melhoria das situações apontadas.
  • Qual é a música predileta dos entrevistados.
  1. Organizem-se para entrevistar o maior número possível de pessoas.
  2. Após a realização das entrevistas, verifiquem quais são as principais situações apontadas pelos entrevistados e comparem com os dados coletados pelos outros grupos.
  3. Seguindo as orientações do professor, discutam e selecionem qual situação será o tema tratado nas próximas etapas desta atividade.
  4. Organizem uma lista com as músicas mais citadas.

Momento 2 – Realização de evento

a) Com base na escolha do tema, organizem um evento para a realização de uma mesa de debate com a comunidade escolar sobre a principal situação apontada nas entrevistas. Para a realização do evento estejam atentos a alguns detalhes, como:

  • Quais convidados participarão efetivamente da mesa de debate nos seguintes papéis: mediar o debate; discutir a situação-problema levantada; discutir soluções.
  • Quais serão as músicas selecionadas para abertura e encerramento do evento e se haverá alguma apresentação ao vivo de algum membro da comunidade escolar.
  • Distribuição de funções entre os grupos: organização de data e infraestrutura (som, gravação, cadeiras, mesa de debate escolha de convidados e convites; divulgação; preparação da playlist.
  • Organização de programação do evento, identificando cada etapa e duração de cada momento.

Faça no diário de bordo.

Autoavaliação

Ao longo do estudo desta Unidade, você conheceu o trabalho de diferentes artistas da música, como Pitty, Rita Li, Cazuza e Hermeto Pascoal.

Além disso, você estudou o rock, suas origens e sua influência na música brasileira. Conheceu, ainda, os instrumentos característicos desse estilo musical. Também teve contato com alguns grupos musicais brasileiros e internacionais, como Barão Vermelho, Titãs, Os Beatles, Os Paralamas do Sucesso e Legião Urbana.

Você estudou, ainda, o movimento da Jovem Guarda, o Tropicalismo e suas principais características. Aprendeu também sobre os festivais da canção e o caráter de resistência da música brasileira nos anos da ditadura militar e de censura.

Conheceu, também, os impactos da possibilidade de reproduzir e gravar sons na história da música e sua relação com a indústria musical. Também teve contato com a música concreta e seus pioneiros e a música eletroacústica, além de outros modos de exploração do som.

Agora que chegamos ao final desta Unidade, é importante que você reflita sobre o que aprendeu e sobre o caminho percorrido até este momento.

Para realizar essa reflexão, responda no diário de bordo às questões a seguir.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Mencione um ou mais dos conteúdos apresentados nesta Unidade que o ajudaram a compreender a linguagem da música. Justifique a sua escolha.
  2. Cite a atividade da seção Experimentações que mais o ajudou a compreender a linguagem da música. Justifique a sua escolha.
  3. Como foi para você a experiência de fazer leituras, análises de textos e compartilhamento de informações com seus colegas?
  4. Como foi a vivência de realizar as atividades da seção Pensar e fazer arte desta Unidade?
  5. Este estudo mudou o modo como você aprecia a música? Dê exemplos.
  6. O que poderia ajudá-lo a aprofundar seus conhecimentos de música? Comente com os colegas.
  7. Reflita sobre as experiências de pesquisa da Unidade. O que você aprendeu com elas?
  8. Agora reflita sobre os modos de pesquisar que experimentou na seção Arte e muito mais – estudo de recepção. O que achou deles?
  9. Os conteúdos trabalhados têm relação com o seu gosto musical? São muito diferentes?
  10. Reflita e converse com os colegas sobre outros estilos musicais que você gostaria de estudar na escola.

Glossário

Capitalismo
: sistema econômico no qual os meios de produção são de propriedade privada e tem como objetivo fundamental a obtenção de lucro.
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Efeito de sentido
: consequência ou resultado do uso proposital de recursos linguísticos e visuais com o objetivo de construir um ou mais significados.
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