Unidade 2  A arte hoje

Fotografia. Instalação feita com diversos objetos na cor vermelha em uma sala ampla retangular com paredes cinza claro e teto branco iluminado. Há quadro vermelhos nas paredes e o chão também é vermelho. Há móveis na mesma cor, como sofás, cadeiras, armários, mesas etc.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação realizada com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

Nesta Unidade:

TEMA 1 Arte, espaço e participação do público

TEMA 2 A arte ao alcance de todos

TEMA 3 Novos rumos

De olho na imagem

Fotografia. Detalhe da instalação feita com diversos objetos na cor vermelha em uma sala de paredes claras com teto branco iluminado. Há quadros na parede e o chão também é vermelho. Móveis e objetos de decoração nessa cor compõem o ambiente, como cadeira e escrivaninha, prateleiras, almofadas, armário, vasos etc.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2017.

Faça no diário de bordo.

1. Observe a imagem da abertura da Unidade e a imagem desta página. O que mais chamou sua atenção na criação do artista Cildo Meireles, retratada nessas fotografias?

Versão adaptada acessível

1. Ouça a descrição da imagem da abertura da Unidade e a da  imagem desta página. O que mais chamou sua atenção na criação do artista Cildo Meireles, retratada nessas fotografias?

2. Após observar as imagens, você imagina como o artista criou essa obra?

Versão adaptada acessível

2. Com base na descrição das imagens, você imagina como o artista  criou essa obra?

3. No diário de bordo, faça uma lista dos objetos que você reconhece na obra de Cildo Meireles. Apresente sua lista aos colegas e observe a lista que eles fizeram.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Em sua opinião, por que o artista teria escolhido a cor vermelha para produzir essa obra?
  2. Por que, em sua opinião, Cildo Meireles usou a palavra impregnação no título que deu à obra?
  3. Agora, pense que título você daria a essa obra de Cildo Meireles. Comente com os colegas.
  4. Se você fosse realizar uma criação artística parecida com a obra retratada nas fotografias, que cor ou que cores utilizaria para compor o trabalho? Por quê?
Versão adaptada acessível

7. Se você fosse realizar uma criação artística parecida com a obra retratada nas fotografias, que cores ou objetos utilizaria para compor o trabalho? Por quê?

Artista e obra

Cildo Meireles

Fotografia. Homem de boné preto, vestido com camisa marrom.
O artista plástico Cildo Meireles durante abertura da mostra do 34º Panorama da Arte Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna (mân) de São Paulo, em 2015.

Considerado um dos mais versáteis artistas brasileiros da atualidade, Cildo Meireles nasceu no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), em 1948. Aos 10 anos, mudou-se para Brasília (Distrito Federal), onde, em 1963, iniciou seus estudos artísticos sob a orientação do pintor e ceramista peruano alerrandro (1921-2013).

Em 1967, Cildo Meireles retornou para o Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) e estudou por dois meses na Escola Nacional de Belas Artes (êmba) – atualmente conhecida como Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – e frequentou o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (mân-Rio). É a partir dessa época que ele passa a se dedicar à criação de obras que propõem uma experiência sensorial em espaços arquitetônicos. É o caso de Desvio para o vermelho, retratada na abertura desta Unidade.

Meireles utiliza diferentes materiais para produzir suas obras. Para construir a instalação Babel, por exemplo, ele empilhou centenas de aparelhos de rádio.

Fotografia. Duas mulheres observam uma instalação composta de uma grande torre construída com diferentes tipos de rádio, antigos e novos, no interior de um salão com paredes altas.
MEIRELES, Cildo. Babel. 2001. Instalação com aparelhos de rádio, 5 métros (altura). Tate Modern, Londres, Reino Unido. Fotografia de 2014.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Na instalação Babel, os aparelhos de rádio estão todos ligados e sintonizados em estações diferentes. Você consegue imaginar o resultado sonoro dessa instalação? Como essa proposta se relaciona com o título escolhido por Cildo Meireles?

TEMA 1 Arte, espaço e participação do público

Um espaço monocromático

A obra reproduzida nas páginas da abertura não é uma pintura nem uma escultura. Para fazê-la, o artista Cildo Meireles selecionou diferentes objetos e os organizou em um espaço arquitetônico interno. A esse tipo de obra dá-se o nome instalação.

Em Desvio para o vermelho um: Impregnação, o espectador é convidado a explorar o espaço criado pelo artista: um ambiente em que todos os objetos são vermelhos, com variações claras ou escuras dessa cor. Por essa razão, podemos afirmar que essa é uma obra monocromática. Note essa variação cromática nos objetos retratados na fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Instalação feita com diversos objetos na cor vermelha em uma sala de paredes cinza claro com teto branco iluminado. Ao fundo, há duas pessoas observando objetos da instalação.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

Concebida em 1967, montada em diferentes versões desde 1984 e exibida no Instituto Inhotim em caráter permanente desde 2006, a obra Desvio para o vermelho é formada por três ambientes articulados entre si. Impregnação é o primeiro deles.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Você sabia que um espaço organizado ou construído por um artista pode ser considerado uma obra de arte? Comente com o professor e os colegas.

Impregnação

O primeiro ambiente de Desvio para o vermelho um: Impregnação – retratado nas páginas anteriores – coloca o espectador em contato com uma coleção de objetos e obras de arte em diferentes tons de vermelho. Os móveis, os objetos e os quadros preenchem quase todas as paredes, provocando um grande contraste.

Note que Impregnação é uma sala que tem um clima doméstico, mas todos os objetos são vermelhos ou de cores próximas ao vermelho. A sala é composta de ventiladores,notebook, estante, livros, cadeiras, máquina de escrever, mesas, quadros, plantas, aquário, entre outros.

Fotografia. Detalhe da instalação com móveis vermelhos: uma gaiola vermelha arredondada com um pássaro vermelho sobre o poleiro.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

Os móveis e os objetos estão organizados no espaço interno no sentido do comprimento, de maneira que o espaço se abra e convide o público a adentrá-lo. Os objetos foram encostados nas paredes claras para que pudessem, por meio do contraste, ser mais bem observados pelos espectadores.

A disposição de alguns deles sugere a presença humana – roupas distribuí­das aleatoriamente, uma máquina de escrever, animais domésticos (peixe e passarinho), plantas etcétera Os quadros e objetos pendurados são utilizados para também preencher com excesso de vermelho as paredes do espaço.

Entorno e Desvio

No ambiente Impregnação há apenas uma saída, no canto, que conduz a uma sala pouco iluminada, muito estreita e onde há uma garrafa “deitada” no chão. Esse ambiente chama-se Entorno. Nele, o líquido vermelho que escorre pelo gargalo da garrafa repousada no chão torna-se uma superfície que recobre o piso. A impressão que se tem é de que a quantidade de líquido derramada é muito maior do que a quantidade que o interior da garrafa poderia conter. Além disso, a fórma como o líquido e a garrafa estão dispostos parece contrariar as leis naturais da física, causando no espectador a sensação de perturbação. Observe a fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Instalação que apresenta uma garrafa caída que deixa escorrer tinta vermelha em um grande rastro sobre o chão preto.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho dois: Entorno. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

O terceiro ambiente, Desvio, tem proporções semelhantes às do ambiente Impregnação e é uma sala escura que tem uma pia clara instalada em um ângulo inclinado.

Ao caminhar por essa sala, o espectador é surpreendido com o som de água que escorre por uma torneira. Uma nova sensação de perturbação ocorre quando o espectador descobre que a água também tem um tom vivo de vermelho. A inclinação da pia faz o líquido arrastar-se pelo interior da pia antes de descer pelo ralo.

Fotografia. Instalação que apresenta uma pia suja com a torneira aberta de onde escorre um líquido vermelho.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho três: Desvio. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

Por dentro da arte

As sensações despertadas pelas cores

A escolha das cores utilizadas ao realizar uma obra é um dos aspectos mais importantes quando um artista visual elabora sua criação. Em Desvio para o vermelho, por exemplo, Cildo Meireles possivelmente escolheu o vermelho por ser uma cor que provoca no espectador a sensação de impacto e energia.

Observe a pintura do artista Enrri Matís (1869-1954), O ateliê vermelho, reproduzida a seguir e note que, assim como na obra de Cildo Meireles que conhecemos nas páginas anteriores, ele também escolheu o vermelho como cor predominante da composição.

Pintura. Representação de uma sala pintada de vermelho com diversos quadros na parede e no chão, além de objetos variados, como um vaso de flores, um copo, duas esculturas, entre outros.
Matís, Enrri. O ateliê vermelho. 1911. Óleo sobre tela, 181 por 219,1 centímetros. Museu de Arte Moderna de Nova York (Môma), Nova York, Estados Unidos.

Enrri Matís integrava um grupo importante de pintores que ficou conhecido como fauvista. A palavra fauve tem origem no francês e significa “fera”. Esses artistas foram chamados fauvistas por utilizarem as cores puras de fórma livre, com pinceladas largas, para obter efeitos mais expressivos com as fórmas simplificadas.

As cores ganham um caráter simbólico próprio em cada cultura. Você sabe quais significados são dados à cada cor na sua cultura? Qual é a sua percepção sobre as sensações que cada cor provoca em você?

Um convite à experimentação

Nas páginas anteriores, você conheceu Desvio para o vermelho e descobriu que essa obra é uma instalação. A técnica da instalação é uma das mais utilizadas pelos artistas contemporâneos. No Brasil, um dos primeiros artistas a se dedicar à criação de instalações foi Hélio Oiticica (1937-1980).

A obra mostrada na fotografia desta página chama-se Tropicália e foi exposta pela primeira vez em 1967. Essa instalação é uma espécie de labirinto que deve ser percorrido pelo público. Ao entrar no labirinto, o espectador se defronta com araras e bananeiras, entre outros elementos.

Fotografia. Instalação que apresenta um espaço com areia e pequenos amontoados de pedras no chão, além de tapumes de madeira, que separam o espaço em pequenos ambientes. Há plantas diversas e, em um poleiro, uma arara-canindé.
OITICICA, Hélio. Tropicália. 1967. Instalação com diversos materiais, dimensões variadas. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (mân-Rio de Janeiro), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).

O caráter experimental e inovador das obras produzidas por Hélio Oiticica as aproximou das composições dos músicos que estiveram à frente do movimento tropicalista.

Mais tarde, a palavra tropicália daria nome ao próprio movimento.

O Neoconcretismo

Hélio Oiticica revolucionou a arte brasileira ao produzir obras que, assim como Tropicália, convidam à interação, ou seja, à participação do espectador. Oiticica fez parte do Neoconcretismo, considerado um dos mais importantes e significativos movimentos artísticos brasileiros. Outros artistas que integraram esse movimento foram Amilcar de Castro (1920-2002), Franz váismam (1911-2005), Lygia Pape (1927-2004) e Lygia Clark (1920-1988).

Os artistas integrantes do Neoconcretismo brasileiro propuseram o resgate da produção de obras mais subjetivas e expressivas e a aproximação com o público. Em seus trabalhos, é possível observar a busca pela renovação da linguagem geométrica.

Na obra retratada nas fotografias desta página, por exemplo, o artista Hélio Oiticica trabalhou com as cores e as fórmas geométricas no espaço a fim de aproximar a obra do espectador.

Fotografia. Instalação a céu aberto. Há grandes paredes nas cores rosa, laranja, amarelo e branco no meio do parque. Entre as paredes, há pessoas que observam a obra e tiram fotos. Ao fundo, uma parede diferente na cor amarela com parede que apresenta orifícios quadrados.
Fotografia. Instalação a céu aberto com grandes paredes nas cores rosa, laranja, amarelo e branco no meio do parque. Há pessoas caminhando e observando a obra por fora das paredes.
OITICICA, Hélio. Invenção da cor, Penetrável Magic Square 5, De Luxe. 1977. Instalação ao ar livre, com dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografias de 2010 e 2015.

Artista e obra

Lygia Clark e a série Bichos

Fotografia. Duas pessoas interagem com obras de arte em um museu. O salão apresenta quadros na parede e há esculturas dispostas em bancadas de madeira para as pessoas interagirem. Um homem de óculos e uma mulher de vestido com estampa florida manipulam esculturas de metal. Há um retângulo preto na imagem destacando um  detalhe.
Fotografia. Detalhe ampliado de mãos manipulando uma escultura de metal, com formato triangular, com hastes que formam dobras.
Detalhe de réplica de obra da série Bichos. Observe as articulações da peça. Visitantes da exposição O abandono da arte manuseiam réplicas de obras da série Bichos, de Lygia Clark, no Museu de Arte Moderna de Nova York (Môma), Estados Unidos, em 2014.

Criada em 1960, a série Bichos é composta de um conjunto de escul­­turas metálicas de fórmas geométricas que se articulam por meio de dobradiças. Observe o detalhe da imagem.

Na série Bichos, o espectador é “convidado” a experimentar as diferentes fórmas que as peças podem adquirir por meio do manuseio. A fórma final da obra, dessa maneira, é “decidida” por quem a manuseia. Portanto, cada espectador determina uma fórma distinta para ela. Muitas produções de Lygia Clark apresentam esta característica: só se completam com a intervenção direta do público.

Observe, na fotografia, Lygia Clark manuseando uma das obras originais criadas para a série Bichos.

Lygia Clark é uma das mais reconhecidas artistas brasileiras. Pioneira nas propostas que envolvem a participação do público e a exploração sensorial, a artista é uma referência não apenas para a arte contemporânea, mas também para o campo da arteterapia.

Fotografia em preto e branco. Mulher de cabelo curto segura uma escultura de metal com dobraduras que conferem características geométricas à obra.
Lygia Clark manuseia uma das obras da série Bichos. Fotografia de 1969.

As influências de Lygia Clark na obra de Marepe

A produção artística de Lygia Clark representa um marco na arte brasileira e influencia muitos artistas, como Marcos Reis Peixoto, conhecido como Marepe.

Marepe é um artista brasileiro reconhecido no Brasil e no exterior. Já expôs em alguns dos mais importantes museus de arte do mundo, como o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (maspi), em São Paulo (São Paulo), o Centro , em Paris, na França, e a Tate Modern, em Londres, no Reino Unido. Em 2003, Marepe expôs uma de suas criações na Bienal de Veneza, na Itália.

Observe, a seguir, a representação de uma casa multifuncional em uma reprodução da obra de Marepe chamada Embutidinho recôncavo. Assim como nas obras da série Bichos, de Lygia Clark, o espectador é convidado a modificar a casa, atribuindo-lhe novos formatos, por meio do manuseio das dobradiças de metal que unem as placas de madeira.

O título dessa obra faz referência a Santo Antônio de Jesus, cidade de origem de Marepe, localizada em uma região do estado da Bahia conhecida como Recôncavo Baiano.

Fotografia. Homem calvo vestido com camisa clara. Ele está com as mãos nos bolsos da calça.
O artista Marepe, em São Paulo (São Paulo). Fotografia de 2017.
Fotografia. Estrutura de madeira em formato de cubo. Há um buraco quadrado no topo da estrutura, além de rodinhas embaixo e dobradiças nas laterais, que indicam que o móvel pode ser aberto.
Fotografia. Detalhe de dobradiça da estrutura de madeira com formato de cubo. 
Fotografia. Estrutura de madeira com rodinhas. Trata-se da estrutura com formato de cubo, dessa vez aberta. É possível observar que o cubo se divide em quatro partes, nas quais há pequenos móveis como mesa, cama, ralo de metal, janela e porta. Na parte superior, há um retângulo destacando detalhe de uma dobradiça.
MAREPE. Embutidinho recôncavo. 2003. Escultura de madeira, com rodas, dobradiças e ralo metálicos, 65 por 65 por 65 centímetros (quando fechada). Coleção particular.

O uso da tecnologia na arte

Com o desenvolvimento tecnológico, muitos artistas contemporâneos passaram a incorporar novos materiais e técnicas a suas criações artísticas. Um exemplo disso é a instalação mostrada na fotografia desta página.

Para produzir a instalação Ainda estão vivos, o artista Paulo Waisberg empilhou, no canto de uma sala, uma série de monitores de computador que seriam descartados. Alguns dos equipamentos utilizados estão desligados – provavelmente avariados.

Os monitores que estão ligados são utilizados para agregar uma característica essencial à obra: a reprodução da imagem de um olho humano aberto enviada por computador. A utilização de recursos tecnológicos é cada vez mais comum em obras de artistas contemporâneos. Observe atentamente a imagem.

Fotografia. Instalação feita com diversos monitores de computador amontoados no chão. Alguns monitores estão ligados e  apresentam a imagem de um olho. A instalação encontra-se em uma sala cujas paredes são de pedra ao fundo, iluminada por uma luz vermelha.
váisberg, Paulo. Ainda estão vivos. 2012. Instalação com monitores de computador e lâmpadas léd, dimensões variadas. Continuum – terceiro Festival de Arte e Tecnologia do Recife (Pernambuco).

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Por que a obra Ainda estão vivos é classificada como uma instalação?
  2. Qual é o principal material utilizado nessa obra?
  3. Em sua opinião, qual teria sido a intenção do artista ao produzir essa obra?
  4. Como a obra se relaciona com o título?

Entre textos e imagens

Geração anual de lixo eletrônico passa de 40 milhões de toneladas

reticências

Em 2016, o mundo gerou 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, 3,3 milhões de toneladas (8%) a mais do que em 2014. O montante equivale ao peso de quase torres Eiffel.

A parte indigesta é que apenas 20% − ou 8,9 milhões de toneladas − do montante descartado foi reciclado. Se continuarmos nesse ritmo, a produção de ‘sucata pós-moderna’ pode chegar a 52,2 milhões de toneladas em 2021.

reticências

Computadores, celulares e outros [aparelhos] descartados como lixo são ricos depósitos de ouro, prata, cobre, platina, entre outros materiais de valor. O estudo da ônu [Organização das Nações Unidas] estima que todo o lixo eletrônico gerado em 2016 poderia gerar US$ 55 bilhões em valor de materiais reaproveitáveis.

Ao invés de serem reciclados, esses materiais acabam em lixões e aterros. Resíduos eletrônicos representam um risco alto e crescente para o meio ambiente e a saúde humana. reticências

Devido à composição heterogênea desses materiais, reciclá-los com segurança é complexo, caro e exige pessoal capacitado. Na maior parte do tempo, como mostra o estudo da ônu, não é isso o que ocorre. Através de processos de reciclagem informais, metais pesados, como o chumbo, são frequentemente liberados no meio ambiente.

Avanços ocorrem, mas a passos lentos. O estudo chama atenção para o avanço nas legislações sobre resíduos eletrônicos. Atualmente, 67 países têm regulação nesse sentido, 44% a mais que em 2014. Mas leis sozinhas não dão conta do desafio, é preciso fiscalizar a cadeia de produção e descarte, além de estimular a reciclagem adequada desses materiais. E, claro, também cabe a nós, consumidores, realizarmos compras mais conscientes e descarte adequado.”

BARBOSA, Vanessa. Geração anual de lixo eletrônico passa de 40 milhões de toneladas. Exame. 13 fevereiro 2018. Mundo, publicação digital. Disponível em: https://oeds.link/KynTQ0. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia. Monitor de computador quebrado, jogado em um gramado.
Lixo eletrônico descartado na natureza, um local impróprio para esse descarte.

Faça no diário de bordo.

Questões
  1. Que problema ambiental é abordado no texto?
  2. Em sua opinião, de que maneira obras como Ainda estão vivos, de Paulo váisberg, podem contribuir para o enfrentamento do problema apresentado pelo texto?

Arte e muito mais

Arte e meio ambiente

A preservação da natureza é essencial à manutenção da vida. Por essa razão, vários artistas utilizam diferentes suportes e técnicas para produzir obras nas quais denunciam problemas ambientais a fim de contribuir para a mudança de atitude das pessoas em relação ao meio ambiente. Esse é o caso da obra Ainda estão vivos, de Paulo váisberg, que conhecemos nas páginas anteriores.

Assim como Paulo váisberg, outros artistas utilizam objetos descartados para produzir obras artísticas. Observe, por exemplo, as obras reproduzidas a seguir. Elas foram feitas pelo artista alemão shult.

Fotografia. Escultura feita com lixo cujo formato lembra uma pessoa. Há diversos tipos de objetos, entre eles, restos de placas de computador e transistores.
shult, . Homem lixo. 1996. Lixo eletrônico, latas prensadas e outros materiais descartados, dimensões variadas. Coleção particular.
Fotografia. Escultura feita com embalagens plásticas, cuja forma lembra uma pessoa. Além de diversos tipos de embalagens que sustentam o corpo, há também tiras metálicas enroladas que simulam um cabelo comprido.
shult, . Homem cabelo. 2012. Embalagens de cosméticos, escovas de cabelo, bobes e resíduos metálicos, dimensões variadas. Coleção particular.

Na obra Homem lixo, shult utilizou componentes eletrônicos, como placas e circuitos de computador, para representar os pulmões de seu “homem lixo”. Em Homem cabelo, o artista utilizou materiais descartados relacionados aos cuidados com os cabelos, como embalagens de cosméticos, secadores, pentes e escovas. Com essas obras, shult deseja promover reflexões sobre questões como o consumismo inconsequente e a exploração irracional dos recursos naturais.

Faça no diário de bordo.

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Meio Ambiente.

O que a sua comunidade escolar sabe sobre reciclagem? Você e seus colegas desenvolverão um questionário de pesquisa com este tema. Elaborem as perguntas, apliquem o questionário em outras turmas da escola, tabulem as informações e compartilhem os resultados em cartazes.

Frans krachbérg

Uma referência na criação de obras com cunho ambiental é o escultor, pintor e fotógrafo Frans krachbérg (1921-2017).

Ao longo de sua trajetória, krachbérg sempre utilizou sua arte para promover a defesa da natureza, denunciar a degradação ambiental e despertar a consciência da sociedade para essa realidade.

Fotografia. Homem de barba grisalha, vestido com camisa azul-claro e calça cinza, além de um chapéu também na cor azul-claro, posa ao lado de esculturas abstratas de madeira escura.
O artista krachbérg em Nova Viçosa (Bahia), em 2007.

Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, o artista expressava com suas obras a indignação diante das queimadas e dos desmatamentos ocorridos no país. krachbérg viajou pelo Brasil fotografando áreas desmatadas, principalmente na Amazônia. Delas recolheu resíduos (como troncos, raízes, cipós) que utilizou na produção de esculturas de grandes dimensões. krachbérg também produzia pinturas com pigmentos naturais extraídos da terra, de minerais e de outros elementos orgânicos.

Em 2003, foi inaugurado o Instituto Frans krachbérg de Arte e Meio Ambiente. Situado no Jardim Botânico de Curitiba, no Paraná, o instituto é um centro de referência para a chamada arte ambiental.

No próximo Tema, você vai conhecer outros artistas que criam obras que chamam a atenção do público para questões ambientais.

PARA LER

VENTRELLA, Roseli; BERTOLOZZO, Silvia. Frans krachbérg: arte e meio ambiente. São Paulo: Moderna, 2006.

Esse livro apresenta a concepção artística de Frans krachbérg em suas esculturas, que denunciam as questões do meio ambiente.

Fotografia. Grande escultura de madeira exposta em uma praia. A escultura lembra as raízes de árvores do mangue, que ficam para fora da água. Há um tronco grosso ao centro e ramificações mais finas saindo desse tronco. Ao fundo, mar verde-claro e céu azul.
krachbérg, Frans. Flor do mangue. 1973. Escultura feita com resíduos de árvores de manguezais, 12 por 8 por 5 métros. Nova Viçosa (Bahia).

A videoarte

A partir da década de 1960, utilizando recursos de vídeo, vários artistas passaram a criar imagens, muitas vezes em movimento, que extrapolavam o espaço das telas e ocupavam paredes e monitores. Assim se desenvolveu a videoarte.

Um dos pioneiros da videoarte foi o artista sul-coreano (1932­-2006). Os aparelhos de televisão foram a principal matéria-prima utilizada por em suas produções. O artista se destacou por abordar em suas obras não apenas as imagens, mas também os aparelhos.

Na obra reproduzida nesta página, por exemplo, utilizou 1.003 aparelhos de televisão para criar uma videoinstalação que tem mais de 20 metros de altura.

Fotografia. Videoinstalação feita com aparelhos de TV ligados. Trata-se de uma torre alta, com mais de 10 níveis, que quase alcança o teto. Na base da obra, há monitores de TV deitados, formando uma espécie de pedestal para a torre. As cores das imagens mostradas nos monitores de TV são  vermelho e azul-claro. As imagens são abstratas. Ao fundo, salão com mezaninos para que as pessoas possam apreciar as camadas superiores da obra de arte.
, . Detalhe de Quanto mais, melhor. 1988. Videoinstalação com 1.003 monitores de televisão, 22,8 métros (altura). Museu Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, Seul, Coreia do Sul.

Artista e obra

Considerado o fundador da videoarte, o sul-coreano foi um dos primeiros artistas visuais a explorar as possibilidades da associação das novas tecnologias à expressão artística.

Suas criações com a imagem em movimento provocaram mudanças na concepção da programação de televisão e da produção de vídeos. também utilizou outros meios expressivos, como as performances e as instalações artísticas.

integrou o Fluxus, importante movimento de pesquisa artística das décadas de 1960 e 1970, que influenciou os artistas das gerações seguintes e inseriu as realizações em vídeo no circuito mundial da arte.

No Brasil, em 1996, foi homenageado no 11o Festival Internacional de Arte Eletrônica Vídeo-Brasil, realizado em São Paulo (São Paulo).

Fotografia. Homem de cabelo curto preto, vestido com camisa branca e suspensórios na cor marrom. Ao fundo, objetos abstratos formados por lâmpadas coloridas de neon.
em Veneza, Itália, em 1993.
Fotografia. Escultura feita com monitores de vídeo, telefone antigo e cabos de fios coloridos. O formato lembra um robô de braços abertos. O telefone antigo encontra-se no peito na escultura. Os monitores apresentam a mesma imagem abstrata, com exceção da imagem abstrata que está no topo, representando a cabeça.
, . Lady Secretary, Bilingual, Will Travel... (Secretária, bilíngue, vai viajarreticências). 1991. Videoescultura com dispositivos de transmissão de imagens, telefone de parede, teclas de máquina de escrever e discos de armazenamento de áudio e vídeo, 157,48 por 132,08 por 68,58 centímetros. Museu de Arte de Denver, Estados Unidos.

A casa

Vários artistas usam diferentes linguagens para produzir suas obras. Na videoinstalação apresentada a seguir, por exemplo, os artistas Mauricio Dias e Uálter utilizaram elementos das linguagens visual e audiovisual. Observe um registro dessa criação na fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Videoinstalação com cinco monitores de TV de tamanhos diferentes em uma parede com desenhos em preto e branco, que representam diferentes  cômodos de uma casa (na parte superior, é possível ver uma piscina no quintal com plantas). São dois monitores grande e três menores.
DIAS, Mauricio; , Uálter. A casa. 2007. Videoinstalação, 2 por 4 métros. Acervo dos artistas.

Observe que, nessa obra, os artistas utilizaram o desenho para representar, sobre papel de parede, diferentes espaços de uma casa, como os quartos e a piscina. Sobre o papel de parede desenhado, foram instalados cinco monitores, nos quais foram reproduzidos vídeos curtos dos artistas nos espaços representados. Observe a seguir os detalhes dessa obra.

Fotografia. Detalhe da videoinstalação com monitores na parede que tem um desenho de cômodos de uma casa pintados. Detalhe de um dos monitores, que mostra três imagens de diferentes ângulos de uma sala com paredes azuis, piso de madeira e duas portas. Há um piano próximo às portas.
Fotografia. Detalhe da videoinstalação com monitores na parede que tem um desenho de cômodos de uma casa pintados. Detalhe de um desenho na parede do cômodo com o piano. A imagem é como se o ambiente fosse visto de cima, como um croqui de uma casa. Além do piano, observa-se uma TV, um sofá e uma estante.
DIAS, Mauricio; , Uálter. Detalhes de A casa. 2007. Videoinstalação, 2 por 4 métros. Acervo dos artistas.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Em sua opinião, o que teria motivado os artistas a criar a obra A casa? Comente com os colegas e o professor.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


Agora é hora de experimentar, na sala de aula, uma das obras participativas que Lygia Clark chamava “proposições”. O nome dessa proposição específica é Caminhando. Ela propôs uma experiência com a Fita de Moebius, que é também uma formulação geométrica feita por matemáticos.

Material

Folha de papel sulfite

Tesoura com pontas arredondadas

Cola

Procedimentos

a. Corte uma tira vertical de, aproximadamente, 5 centímetros de largura do papel sulfite.

Fotografia. Detalhe de mãos recortando tiras de papel verde com tesoura. O papel contém uma dobradura bem ao centro, que guia o recorte com a tesoura.

b. Pegue a tira e una as duas pontas. Você deverá virar uma das pontas, de maneira que o “anel” de papel passe a ser algo parecido com o número “8”. Cole.

Fotografia. Detalhe de mãos unindo as pontas de uma tira de papel verde.
Fotografia. Detalhe de mão colando as pontas de uma tira de papel verde. Ao lado das mãos, há um tubo de cola escolar.

c. A Fita de Moebius está pronta. Agora, faça um pequeno picote no meio dela para cortar de uma ponta a outra, sem romper a borda do papel.

Fotografia. Detalhe de mão segurando uma tira de papel verde com as pontas coladas. A tira foi colada com uma das pontas virada, por isso  ela parece estar retorcida.
Fotografia. Detalhe de duas mãos cortando parte da fita de papel verde retorcida.
Fotografia. Detalhe de mãos cortando a tira de papel verde em tiras mais finas.
Passo a passo da proposição Caminhando. Fotografias de 2022.

d. Depois de experimentar a proposta ao longo da aula, converse com os colegas sobre essa experiência e registre suas impressões no diário de bordo.

Ícone. Diário de bordo.