Unidade 3   Teatro além das fronteiras

Fotografia. Espetáculo ao ar livre, em um rio, à noite. Há dois atores em um pequeno barco navegando no rio: uma mulher de vestido branco e que está em pé e um homem sentado e que maneja o motor do barco. Outros atores encontram-se em uma estrutura de concreto que sustenta duas paredes grossas com andaimes. Os atores na plataforma de concreto são iluminados e suas sombras são projetadas nas duas paredes.
No barco, os atores Marília De Santis e Sérgio Pardal em cena do espetáculo bê érre três, do Teatro da Vertigem, no Rio Tietê, em São Paulo (São Paulo), em 2007.

Nesta Unidade:

TEMA1 Novos espaços

TEMA 2 A participação do espectador

TEMA 3 Processos de criação compartilhada

De olho na imagem

Fotografia. Um barco navegando em um rio com uma mulher de cabelos longos com um vestido branco, em pé, e um homem sentado de costas, responsável por guiar o barco.
Fotografia. Barco navegando em um rio com um homem de chapéu marrom, vestido com uma camisa e calça vermelhas com um avental marrom por cima, em pé. Manejando o motor do barco, um homem calvo, vestido com casaco e calça marrons, também em pé, gesticula com um dos braços levantados. Suas imagens estão refletidas na água do rio.
Cenas do espetáculo bê érre três, do Teatro da Vertigem, no Rio Tietê, em São Paulo (São Paulo). Fotografias de 2006 e 2005.
  1. Observe atentamente as fotografias da abertura da Unidade e as desta página. O que essas imagens têm em comum? Elas retratam a mesma situação?
  2. Onde você imagina que essa situação acontece?
  3. Se você visse essas imagens sem ter nenhuma referência delas, você diria que elas são imagens de uma peça teatral?
  4. Que elementos presentes nessas imagens dão pistas para percebermos que essas são situações encenadas?
  5. Qual é o “palco” em que esses atores representam?
  6. O que compõe a cenografia dessas cenas? E o que elas sugerem?
  7. Você já assistiu a alguma peça teatral que acontecia em espaços diferentes das salas de apresentação? Comente como foi a experiência.
Versão adaptada acessível

1. Com base nas fotografias da abertura da Unidade e as desta página, responda: 

O que as imagens têm em comum? Elas retratam a mesma situação?

2. Onde você imagina que essa situação acontece?

3. Se você presenciasse essas cenas sem ter nenhuma referência delas, você diria que elas são cenas de uma peça teatral?

4. Que elementos presentes nessas imagens dão pistas para percebermos que essas são situações encenadas?

5. Qual é o “palco” em que esses atores representam?

6. O que compõe a cenografia dessas cenas? E o que elas sugerem?

7. Você já acompanhou, ou conhece, alguma peça teatral que acontecia em espaços diferentes das salas de apresentação? Comente com seus colegas e o professor sobre isso.

Artista e obra

Teatro da Vertigem

Formado em 1991 como um grupo de pesquisa e experimentação cênica, o Teatro da Vertigem consolidou-se como uma companhia teatral a partir da estreia de seu primeiro espetáculo, O paraíso perdido, em 1992.

Ao longo de sua trajetória, o Teatro da Vertigem já realizou mais de 15 trabalhos teatrais. O grupo promove importantes renovações no teatro brasileiro e é uma das principais companhias teatrais da atualidade a investigar espaços alternativos para realizar seus trabalhos.

Além do Rio Tietê, que, como vimos nas páginas anteriores, foi o “palco” da peça bê érre três, há outros exemplos de espaços alternativos pesquisados e escolhidos pelos integrantes do Teatro da Vertigem para suas apresentações, como o interior de uma igreja, um hospital abandonado, um presídio desativado e a fachada de vidro de um prédio comercial. Observe a fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Duas pessoas atrás de uma janela: à esquerda, um homem de cabelo curto, vestido com roupas brancas, limpa os vidros; à direita, uma mulher de cabelo cacheado, vestida com tailleur azul-marinho e camisa branca. Estão do lado de fora de um prédio, em um andaime.
Os atores Sérgio Pardal e Denise Janoski, do Teatro da Vertigem, em ensaio do espetáculo Kastelo, em São Paulo (São Paulo), em 2009.

As propostas inovadoras fizeram do Teatro da Vertigem uma referência nacional e internacional de teatro contemporâneo e levaram esse grupo a receber diversos prêmios por suas produções.

PARA ACESSAR

Teatro da Vertigem. Disponível em: https://oeds.link/0jeTLb. Acesso em: 17 maio 2022.

No site do Teatro da Vertigem é possível conhecer um pouco mais sobre o histórico dessa companhia teatral e acessar fotografias dos espetáculos do grupo.

Tema 1  Novos espaços

O espaço teatral

Desde os tempos mais antigos, a realização de espetáculos teatrais está diretamente ligada aos espaços onde eles acontecem. Na Grécia antiga, por exemplo, o espaço teatral era uma área ampla na qual se realizavam apresentações que envolviam teatro, dança e música e que eram acompanhadas por um grande número de pessoas.

O Teatro de Epidauro

Os espaços teatrais dos gregos antigos eram construídos nas encostas de colinas e tinham formato semicircular – de semiarena. Observe, a seguir, uma fotografia do Teatro de Epidauro, construído no fim do século quatro antes de Cristo

Fotografia. Vista superior de um teatro a céu aberto, feito de pedra. O palco fica no centro de um semicírculo, e está no nível mais baixo, já que a arquibancada, com muitas pessoas, forma uma arena. Ao fundo, paisagem natural com vegetação e morros.
Teatro de Epidauro, na Grécia. Fotografia de 2016.

O Teatro de Epidauro acomoda cerca de 12 mil pessoas em 55 fileiras de assentos esculpidos em pedra, que são dispostas em degraus. Na Antiguidade, 21 fileiras eram destinadas aos cidadãos e 34 aos sacerdotes e governantes.

Orquestra

A arena circular no centro da construção é chamada orquestra. Era nesse espaço que os coros ficavam e que as danças eram apresentadas. O piso dessa área era de terra batida ou revestido de pedra. Vale lembrar que, na Grécia antiga, os espetáculos teatrais também envolviam dança e música.

Local da encenação

Nos espaços teatrais da Grécia antiga, as encenações ocorriam no proscênio, espaço elevado localizado atrás da orquestra. Nesse local, os atores podiam ser vistos e ouvidos por todos os espectadores. Atrás do proscênio ficava a ísquíni, local onde os atores trocavam de roupa. Observe o detalhe reproduzido na imagem.

Fotografia. Vista superior de um teatro a céu aberto, feito de pedra, com destaque para o palco. Nele, há um palco menor, feito de madeira.
Fotografia. Vista superior de um teatro a céu aberto, feito de pedra, com destaque para a parte detrás do palco, com dois andaimes para iluminação.
Detalhes do Teatro de Epidauro. Grécia, 2016.

Acústica

Embora o Teatro de Epidauro não seja coberto, a propagação do som no local é muito boa. Por essa razão, afirma-se que a acústicaglossário do local é perfeita. O modelo de construção do teatro torna possível ouvir perfeitamente os sons mesmo estando em uma fileira da arquibancada mais ao fundo. As máscaras também tinham um papel fundamental na acústica dos espetáculos gregos, uma vez que amplificavam e direcionavam o som da voz dos atores.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

Você realizará uma atividade a fim de entender o conceito de acústica.

Procedimentos

  1. Reúna-se com os colegas na sala de aula formando uma “plateia”. O professor vai escolher um dos estudantes para se posicionar à frente do grupo e ler um pequeno texto sem alterar a voz ou fazer qualquer esforço para falar. Depois, comentem: os estudantes da plateia conseguiram escutar bem a leitura do texto? O leitor acredita que todos o ouviram bem?
  2. Com as orientações do professor, dirijam-se para a quadra de esportes ou outra área da escola que seja ampla e descoberta. Repitam essa atividade. Depois, comentem: o resultado foi o mesmo? Em caso afirmativo, o que mudou?
  3. Caso haja um teatro na escola, façam essa mesma atividade no teatro.

Avaliação

Ícone. Diário de bordo.

Organizem-se em uma roda e comentem como foi a experiência de fazer essa atividade. Depois, escrevam suas impressões no diário de bordo.

  1. Em que espaços houve menor e maior dificuldade para a audição do texto? Justifique.
  2. Com base nessa experiência, como você definiria acústica?

As praças como palco

Na Idade Média, a Igreja católica influenciava profundamente o modo de pensar e de agir das pessoas. De acordo com as crenças da Igreja, atividades como a dança, o teatro e a música – que antes integravam os rituais sagrados dos gregos e dos romanos – estavam vinculadas ao pecado, e muitas vezes eram proibidas nas igrejas e nas cerimônias religiosas.

Apesar dessas restrições, o teatro não deixou de existir, e os espetáculos passaram a ser realizados em praças e em outros espaços públicos. Nesses lugares, sempre havia uma espécie de palco em torno do qual se reunia a plateia. Essa situação é retratada na pintura repro­duzida a seguir.

Pintura. Cena de uma praça pública rodeada por construções com muitas pessoas, que vestem roupas antigas, como vestidos e túnicas. No centro, há atores representando uma peça em um palco de madeira, atraindo a atenção de um grupo de espectadores. Ao redor, há algumas carroças de madeira e animais de pequeno e médio porte.
VAN DER , Frans. O antigo mercado de cavalos em Bruxelas (com teatro de rua). cêrca de 1666. Óleo sobre tela, 104 por 71 centímetros. Coleções Principescas, Palácio Liechtenstein, Viena, Áustria.

Com o tempo, a Igreja católica passou a utilizar o teatro para difundir os valores cristãos. Assim, surgiram, por exemplo, os autos teatrais, peças que traziam a representação de episódios da Bíblia e da vida dos santos. Os autos eram encenados como em uma procissão e eram criadas plataformas que funcionavam como estações pelas quais o público passava para acompanhar a história.

O palco italiano

Durante o Renascimento, instituiu-se a ideia de um edifício teatral propriamente dito. Nessa época, houve o desenvolvimento de técnicas de pintura que possibilitavam a representação dos espaços, conferindo-lhes a ilusão de profundidade. Foi essa nova concepção de pintura que motivou uma mudança nafórma de orga­nização das plateias e do espaço determinado para as apresentações. Assim, criou-se um espaço capaz de levar ao espectador as noções de profundidade e de perspectiva. Esse novo modelo de espaço teatral chama-se palco italiano.

Esse modelo de espaço teatral se caracteriza pela disposição frontal de palco e plateia, entre os quais se cria uma “quarta parede” imaginária que, com a parede do fundo e as duas laterais, fórma uma espécie de caixa cênica, dentro da qual o espetáculo é encenado.

Titulo do Infografico

Texto do Infografico

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    Imagem meramente ilustrativa

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    Fotografia. Vista geral da parte interna de um teatro luxuoso, decorado em vermelho e dourado. Há poltronas na plateia e quatro andares de camarotes nas laterais. O palco é grande e tem uma cortina em tons de vermelho e amarelo.
    Vista interna do Teatro Amazonas, Manaus (Amazonas). Fotografia de 2020.

    O palco italiano é ainda o mais adotado no teatro ocidental e, possivelmente, o primeiro que vem à nossa mente ao pensarmos em espaço teatral. Na atualidade, no entanto, os grupos de teatro contemporâneo têm buscado estabelecer novas relações com o espaço, construindo possibilidades que vão além das convenções do palco italiano.

    Esses grupos rompem, por exemplo, com essa disposição frontal tradicional e promovem a aproximação entre os atores e o público. Essa é a proposta, por exemplo, do Teatro da Vertigem no espetáculo retratado na abertura desta Unidade.

    Espaços não convencionais

    Ao analisar a fotografia de abertura desta Unidade, você pôde observar que o Teatro da Vertigem realizou uma de suas peças em um rio de grande extensão, e essa não foi uma escolha fácil. Para contar a história nesse lugar, o grupo enfrentou uma série de dificuldades, como o deslocamento dos atores e, principalmente, o deslocamento do público para esse lugar. Para poder assistir ao espetáculo bê érre três, os espectadores tiveram de entrar em uma embarcação para assistir às cenas que aconteciam nas margens do rio e em barcos menores que acompanhavam o público.

    Essas dificuldades levaram o grupo a criar novas fórmas de representar as personagens, de escrever os textos, criar os cenários, indo além das fronteiras conhecidas do teatro. Essa é uma das características mais marcantes do Teatro da Vertigem, que, desde sua criação, optou por encenar seus espetáculos em espaços não convencionais.

    A fotografia desta página mostra cenas do espetáculo O paraíso perdido, encenado no interior de uma igreja.

    Fotografia. Atores representando uma peça no interior de uma igreja. A foto foi tirada contra a luz, por isso somente se observam o contorno dos atores que pulam com os braços erguidos.
    Cena do espetáculo O paraíso perdido, do Teatro da Vertigem, realizado no interior de uma igreja em Belo Horizonte (Minas Gerais), em 2004.

    Faça no diário de bordo.

    Foco na linguagem

    1. Nesta página e nas anteriores, você estudou quatro diferentes espaços teatrais: teatro de Epidauro, praças como palco, palco italiano e espaços não convencionais. Com a orientação do professor, responda em seu diário de bordo às seguintes questões:

    Ícone. Diário de bordo.
    1. Escolha um dos espaços estudados. Nele, como você dimensionaria a distância entre o lugar de representação e o lugar da plateia? São próximos, distantes ou muito distantes? Em sua opinião, como essa distância influencia o tipo de peça e a percepção dos espectadores?
    2. Você conhece algum espaço na sua cidade ou região que se assemelhe com algum desses espaços? Em caso afirmativo, descreva-o.
    3. Você já assistiu a uma peça de teatro em algum espaço semelhante a esses apresentados? Em caso afirmativo, descreva sua experiência.
    4. O teatro de Epidauro tem capacidade para 12 mil pessoas. Você conhece algum espaço, na atualidade, que pode receber essa quantidade de público? Exemplifique e compartilhe suas respostas com os colegas.

    Por dentro da arte

    Gaia Mother Tree

    Em 2018, o artista brasileiro Ernesto Neto ocupou uma grande área de uma estação de metrô de Zurique, na Suíça, com a instalação Gaia Mother Tree. Essa obra, que tem quase 20 metros de altura, remete a uma grande árvore e se estende do chão ao teto da estação. O trabalho artístico de Ernesto recebeu grande influência do povo Runí Cuím, desde que, em 2013, Ernesto esteve no Acre e conheceu essa comunidade indígena que vive na fronteira entre o Brasil e o Peru. Gaia Mother Tree foi inteiramente feita a mão, por crocheteiras, com tiras de algodão coloridas.

    Observe a fotografia reproduzida a seguir.

    Fotografia. Instalação localizada em um grande salão com muitas janelas e portas de vidro. A obra é uma grande estrutura feita de panos coloridos que lembra o tronco de uma grande árvore, e vai do chão até o teto. Há muitas 
pessoas no local.
    ALBUQUERQUE NETO, Ernesto de. Gaia Mother Tree. 2018. Instalação feita com tiras de algodão orgânico, 20 métros (altura). Estação Central de Zurique, Suíça.

    Na base da obra há um espaço onde as mais de 500 mil pessoas que passam pela estação diariamente podem circular e descansar. Há, também, elementos em formato de gota recheados com especiarias aromáticas e folhas secas.

    Faça no diário de bordo.

    Foco na linguagem

    1. Como a obra Gaia Mother Tree se relaciona com as obras visuais que conhecemos na Unidade 2?

    Além dos cravos

    Outro espetáculo que revela a potência dos espaços não convencionais ao contar sua história é a peça Além dos cravos, do EmFoco Grupo de Teatro. Observe a seguir, algumas imagens desse espetáculo e descubra em que lugar o grupo decidiu encená-lo.

    Fotografia. Atriz representando uma peça em frente a um túmulo, vestida com um chapéu de tecido branco que cobre seu rosto e parte do corpo. Ela segura em uma das mãos um incensário, que solta uma fumaça branca. Ao fundo, algumas pessoas observam a cena.
    Fotografia. Atores encenam em um cemitério uma peça com uma coroa de flores na cabeça e de costas. Eles seguram um pequeno espelho o que torna possível ver uma parte de seus rostos, embora as imagens estejam borradas.
    Os atores Mário Filho (primeira fotografia), Lyvia Marianne e diêgo Martins (segunda fotografia), do EmFoco Grupo de Teatro, em cenas do espetáculo Além dos cravos, realizado em um cemitério de São Paulo (São Paulo), em 2015.

    Em Além dos cravos, a companhia baseou-se nas referências históricas e culturais de um cemitério em Fortaleza, no Ceará, para criar sua própria história. A vida e a morte presentes naquele espaço constituem a narrativa da peça, que acontece além das fronteiras do teatro, transformando o espaço real de um cemitério em palco para uma peça teatral delicada e poética. O espetáculo Além dos cravos foi encenado em cemitérios de diversas cidades do Brasil.

    Artista e obra

    EmFoco Grupo de Teatro

    O EmFoco Grupo de Teatro foi criado em 2009, em Fortaleza (Ceará), por iniciativa de estudantes do curso de Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (í éfe cê ê). O grupo enfatiza em seus trabalhos a utilização do espaço não convencional, a interação com o público e as interseções com a performance, manifestação artística que você conheceu na Unidade 2.

    O primeiro espetáculo realizado pelo EmFoco Grupo de Teatro foi a peça Preciso dizer que te amo, que propõe o diálogo entre a linguagem teatral e os elementos da dança, da música e da poesia.

    Em 2014, o grupo estreou o espetáculo Price World ou Sociedade a preço de banana. Essa peça tem como principal objetivo promover a reflexão a respeito do consumo desenfreado característico do mundo atual. A encenação desse espetáculo é realizada no interior de um ônibus e nas ruas. Observe as fotografias desse espetáculo repro­duzidas a seguir.

    Fotografia. Atrizes interpretam uma cena dentro de um ônibus. Destaque para uma mulher de cabelo loiro e óculos que caminha no corredor do coletivo com objetos nas mãos.
    Fotografia. Atrizes encenam na calçada de uma via pública: à esquerda, uma mulher de óculos, usa um vestido branco e faz pose; ao centro, uma outra mulher está arcada para a frente, como se observasse algo no chão; à direita, homem de cabelo castanho, usa um vestido branco e lê um jornal encostado no poste.
    Nas fotografias, dois momentos de apresentação da peça Price World ou Sociedade a preço de banana, do EmFoco Grupo de Teatro. Na primeira fotografia, a atriz Marcelle Louzada em cena no interior de um ônibus que circula pelas ruas de Fortaleza (Ceará); na segunda, os atores Marcelle Louzada, Gabriel Matos e diêgo Martins se apresentam em uma rua de Fortaleza (Ceará). Fotografias de 2014.

    A cidade como palco

    O palco dos espetáculos do Teatro da Vertigem e do EmFoco Grupo de Teatro não são apenas espaços alternativos, mas também as ruas das cidades. No entanto, na perspectiva desses e de outros grupos de artistas contemporâneos, a rua não é apenas um espaço em que o público sereúne espontaneamente em torno de um tablado ou da arena ali instalada para que a peça seja apresentada. A rua é, também, palco e cenário do espetáculo, ajudando a contar a história da peça.

    Esse também é o caso do espetáculo Todas as ruas têm nome de homem, da companhia capixaba Confraria de Teatro. Nessa peça, o elenco de quatro mulheres se apresenta em espaços públicos e privados da cidade, convidando os espectadores a caminhar pelas ruas, a olhar o entorno e a conhecer a vida e a história de outras mulheres que viveram em diferentes épocas entre 1930 e 2016.

    Fotografia em tons de sépia. Quatro atrizes interpretam uma peça no meio de uma rua. Elas estão posicionadas lado a lado, sobre uma faixa de pedestres. Da esquerda para a direita: uma mulher de véu e vestido longo branco; uma mulher de cabelo liso, vestida de saia branca e blusa listrada; uma mulher de cabelo curto, vestida com sobretudo claro e saia longa escura; mulher de cabelo cacheado, vestida com blusa e saia brancas.
    As atrizes Luciene Camargo, Ludmila Porto, Luana Eva e Thiara Pagani, da Confraria de Teatro, apresentam o espetáculo Todas as ruas têm nome de homem, em Vitória (Espírito Santo), em 2016.

    São três histórias conduzidas por uma narradora. A narradora esqueceu o próprio nome, mas luta para que os nomes de outras mulheres não sejam esquecidos. O público deve decidir qual caminho percorrer e, com isso, qual história vai conhecer. Juntas, as narrativas de cada personagem problematizam a presença da mulher na cidade, tendo as ruas não apenas como cenário, mas também como o espaço real, no qual diariamente a violência contra ela persiste.

    Arte e muito mais

    Artistas de rua: estátua viva

    É cada vez mais comum encontrarmos artistas representando estátuas nas ruas das cidades. Essa atividade é um tipo de ação cênica em que o artista, chamado estátua viva, utiliza expressões corporais e faciais e elementos cenográficos, como figurinos e maquiagem. Você já assistiu a alguma apresentação de estátua viva? Em caso afirmativo, comente essa experiência com seus colegas.

    Nessas apresentações, os artistas permanecem parados por um longo perío­do com posturas expressivas. Em geral, eles criam posições “congeladas”. Em alguns momentos, no entanto, realizam movimentos sutis com a intenção de causar surpresa nos espectadores.

    Observe, nas fotografias desta página, o ator Azerutan se caracterizando para atuar como estátua viva e interpretando a personagem ­Fernando ­Pessoa.

    Fotografia. Artista faz pose de estátua viva em uma rua movimentada como um homem de chapéu, vestido com sobretudo e calça. Ele está em uma posição curvada para frente, como se beijasse a mão de alguém. Há uma pessoa com a mão entre o rosto e a mão do artista e completa a cena.
    O artista de rua Antônio Carlos Silva, Azerutan, caracterizado como Fernando Pessoa, em São Paulo (São Paulo), em 2010.
    Fotografia. Homem de cabelo curto pinta o rosto com tinta azul, e está vestido com roupas da mesma cor da tinta, se preparando para fazer estátua viva.
    Azerutan caracteriza-se como Fernando Pessoa. São Paulo (São Paulo), 2010.

    Faça no diário de bordo.

    Ícone. Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo.

    Quais são os tipos de artistas de rua da sua região? Como é a relação deles com o público? Como é a recepção das pessoas a esse tipo de arte quando caminham pelas ruas da cidade? Com a orientação do professor, elabore um estudo de recepção das pessoas a essa linguagem.

    Faça no diário de bordo.

    Experimentações

    Com a orientação do professor, você vai experienciar ser estátua viva por um dia.

    Procedimentos

    1. Crie uma personagem, definindo suas características físicas e psicológicas. Caracterize-a com figurino e maquiagem.
    2. Improvise diferentes posições com o corpo e escolha três posturas que melhor expressem a sua personagem.
    3. Conforme agendado pelo professor, de acordo com as orientações dele, apresente sua estátua viva.
    4. Se possível, organize com a turma, fórmas de registro fotográfico e/ou videográfico das apresentações.
    5. Escreva um relato sobre essa experiência em seu diário de bordo.
      Ícone. Diário de bordo.

    Entre textos e imagens

    Ícone. Tema contemporâneo transversal Economia.

    “Artista de rua não é camelô”, dizem profissionais de estátua viva

    reticências

    Sem constrangimento, o calçadão lotado vira camarim e palco. Azerutan troca de roupa e empasta seu rosto com uma mistura de tintas que aproximam sua pele da textura do concreto. Ele começa a dar vida ao poeta Fernando Pessoa. Ou melhor: a uma estátua representando o escritor.

    Todos os dias, eles vão para a rua, seu local de trabalho, e se preparam para um expediente que pode até parecer curto – cerca de três horas – para quem trabalha sentado e com intervalos para o café. Nem tanto para quem trabalha imóvel. reticências Idas ao banheiro ou parada para o lanche só acontecem antes ou depois das sessões.

    reticências

    No ramo há 17 anos, Azerutan se diz realizado com a evolução das obras. Antes de se encontrar na profissão, fez faculdade de artes plásticas e deu aula de desenho em escolas. Mas queria usar o próprio corpo para expressar o que entende como arte.

    Passou a observar, via internet, o trabalho feito por estatuístas internacionais. Segundo ele, na Europa, o movimento é reconhecido e regulamentado. A qualidade dos figurinos gringos também impressiona.

    Por aqui, de tanto analisar o pouco que era feito pelos artistas nas ruas, resolveu dar a cara a tapa – literalmente. Já apanhou, foi derrubado, xingado e maltratado. Por vezes, ainda tem que mudar de lugar quando a polícia acha que seu trabalho atrapalha a circulação, mas acredita que, com seus personagens, consegue promover cultura.

    ‘Nossa cultura é Carnaval e futebol. Às vezes temos que explicar que artista de rua não é camelô. Mas não discutimos com a polícia. Pegamos nosso material e mudamos de lugar. Digo que estou mostrando, para quem quiser parar um minuto pra me ver, a figura de Fernando Pessoa. Já fui muito marginalizado, mas agora, na maioria das vezes, sou aplaudido.’

    reticências.”

    MACHADO, Lívia. “Artista de rua não é camelô”, dizem profissionais de estátua viva. gê um, São Paulo, 6 dezembro 2011. Disponível em: https://oeds.link/EKovtA Acesso em: 28 fevereiro 2022.

    Faça no diário de bordo.

    Questões

    1. De acordo com o texto, por que o artista Azerutan passou a se dedicar à atividade de estátua viva?
    2. Em sua opinião, por que o trabalho de muitos artistas de rua não é reconhecido como arte?
    3. Escreva um texto curto sobre a sua opinião a respeito da valorização do trabalho de artistas de rua.

    Faça no diário de bordo.

    Experimentações

    Neste Tema, você conheceu a trajetória de alguns grupos teatrais e sua concepção de trabalho em espaços não convencionais. Agora, é sua vez de viver essa experiência.

    Procedimentos

    1. Você vai formar dupla com um colega de turma. Vocês vão seguir as orientações do professor para realizar uma caminhada pela escola. Nessa caminhada, você estará de olhos fechados e será guiado pelo colega enquanto caminha. Quando o colega apertar sua mão, abra e feche os olhos, como se você fosse uma máquina fotográfica fazendo uma fotografia. Você deve memorizar esse lugar para descrevê-lo depois.
    2. Em seguida, você e o colega vão trocar os papéis. É importante que você o conduza por lugares que ainda não foram visitados por vocês.
    3. Vocês vão selecionar um dos espaços visitados pela dupla e fazer uma lista de suas características, por exemplo: são escadas, paredes, colunas? Qual é a intensidade de luz que há nesses locais?
    4. Agora, improvisem uma cena utilizando o espaço escolhido como se ele fosse “outro espaço”. A proposta é evitar a criação de uma história em que o refeitório seja utilizado para fazer uma refeição, por exemplo. Assim, o foco dessa história deve estar na atribuição de novos significados para o espaço e na abordagem das possibilidades que ele oferece como arquitetura e como topografia. Uma sugestão para facilitar a construção da cena de vocês é definir as personagens que cada um de vocês vai representar nesse local.
    5. Na data agendada pelo professor, vocês vão apresentar a cena que improvisaram. Vocês podem utilizar outros elementos para compor o espaço, como pequenos objetos, tecidos, figurinos e músicas. Mas é importante que vocês não se esqueçam de definir de onde os espectadores devem assistir à cena – não é necessário que se estabeleça uma relação frontal entre palco e plateia. Vocês podem, por exemplo, solicitar ao público que assista à cena a distância, de cima, de lado, por exemplo.
    6. Ao longo de toda a atividade, façam registros do processo de investigação e criação. O registro do processo pode ser feito por meio de relatos, descrição das etapas e desenhos. Usem o diário de bordo como suporte para guardar os registros. Também, no dia de apresentação, combine com o professor e os colegas um modo de registrar as apresentações, por meio de vídeos ou fotografias.
      Ícone. Diário de bordo.

    Avaliação

    Depois de realizadas as apresentações de toda a turma, sigam as orientações do professor e formem uma roda para conversar sobre os desafios e as descobertas dessa atividade. Para isso respondam às questões a seguir.

    1. Como foi a experiência de “fotografar” e memorizar os lugares que vocês visitaram? Vocês tiverem alguma dificuldade? Comente com os colegas.
    2. Como foi a experiência de improvisar uma cena dando novo significado ao lugar que escolheram?
    3. Comente com o professor e os colegas a experiência de apresentar a cena improvisada e de assistir às cenas improvisadas pelos colegas de turma.

    Glossário

    Acústica
    : qualidade de um local do ponto de vista da propagação do som.
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