Tema 2 Dança na rua ou dança de rua?

Dança de rua

No Tema 1, você conheceu grupos que apresentam seus espetáculos de dança nas ruas. Esses são grupos da chamada dança contemporânea e dedicam-se ao desenvolvimento de propostas que visam repensar a relação da arte com o espaço, aproximando-a do público.

As ruas e as praças, no entanto, são o cenário de diversas apresentações de dança que surgiram em espaços urbanos – as denominadas danças urbanas. O break é uma das mais conhecidas dessas danças urbanas. Observe a fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Três homens realizam passos de break em uma praça em frente a um prédio antigo. À esquerda, um jovem apoia-se apenas com um dos braços no chão e executa um movimento com as pernas no ar; à direita, outro jovem planta bananeira enquanto joga uma perna para trás e a outra para frente. No centro, um terceiro homem está em pé, com os braços abertos.
Dançarinos dançam break, nas ruas de Budapeste, na Hungria. Fotografia de 2016.

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Foco na linguagem

  1. Você já dançou ou já assistiu a alguma apresentação de break? Em caso afirmativo, comente com os colegas como foi essa experiência.
  2. Você conhece algum movimento característico do break?
Versão adaptada acessível

1. Você já dançou ou já presenciou alguma apresentação de break? Em caso afirmativo, comente com os colegas como foi essa experiência.

A cultura hip-hop

O break surgiu na década de 1970, nos Estados Unidos, como parte de um movimento cultural que reunia elementos das culturas latino- -americana e afro-americana. Esse movimento cultural recebeu o nome de hip-hop e disseminou-se por diversos países. Além do break, são expressões do movimento hip-hop o grafite, nas artes visuais, e o rap, na música. A partir dessas diversas linguagens artísticas, o movimento começou reivindicando os pontos de vista e as vozes de jovens que eram marginalizados e invisibilizados na sociedade. Essa reivindicação segue presente no trabalho de muitos artistas e coletivos.

Fotografia. Homem de cabelo preto veste máscara de proteção, blusa laranja e calça preta. Ele está grafitando uma parede e desenha uma figura imaginária com cores vibrantes: um monstro colorido com vários olhos e uma boca grande com dentes brancos; suas escamas são coloridas e há uma pessoa agarrada à boca do monstro.
O artista Ludu grafita um muro da cidade de São Paulo (São Paulo), em 2017.

Entre os pioneiros do hip-hop, destaca-se o DJ (abreviação de disc jockey) estadunidense áfrica bambáta (nome artístico de ). O DJ é o profissional que programa e reproduz as músicas que tocam em programas de rádio, em eventos ou em festas. Em 1986, áfrica bambáta lançou a canção Planet rock, considerada o marco inicial do movimento hip-hop. Bambaataa viaja o mundo todo divulgando a cultura hip-hop.

O hip-hop chegou ao Brasil na década de 1980 e, em pouco tempo, consolidou-se, principalmente, entre os jovens moradores das periferias das grandes cidades.

Por dentro da arte

O rap

Abreviação de rhythm and poetry (“ritmo e poesia”), o rap é um estilo de música popular que se caracteriza pela interpretação de rimas improvisadas sobre um acompanhamento rítmico.

O responsável por compor e cantar as letras de rap é o MC (abreviação de master of ceremonies, o “mestre de cerimônias”), também conhecido como rapper. Cabe ao DJ propor e trabalhar a sonoridade dos encontros de rap. Para produzir os sons eletrônicos que compõem essa base rítmica, os DJs utilizam diversos equipamentos. Um efeito sonoro típico do rap é o scratch – som provocado pelo atrito da agulha com o disco de vinil.

Fotografia. Detalhe das mãos de um DJ, que ajusta o volume em uma mesa de som ao mesmo tempo em que movimenta um LP ou vinil no toca-discos.
O DJ Panchez produz o efeito scratch, em Kiev, na Ucrânia. Fotografia de 2018.

As letras de rap, em geral, abordam questões sociais e políticas e, muitas vezes, relatam situações do cotidiano das pessoas que vivem nas periferias das grandes cidades. A seguir, leia a letra da canção “Lado bom”, de Ferréz.

Lado bom

“Periferia tem seu lado bom

Manos, vielas, e futebol no campão.

Meninas com bonecas e não com filhos

Planejando assim um futuro positivo


Sua paz é você que define

Longe do álcool, longe do crime.

A escola é o caminho do sucesso

Pro pobre honrar desde o começo.


E dizer bem alto que somos a herança

De um país que não promoveu as mudanças

Sem atrasar ninguém, rapaz

Fazendo sua vida se adiantar na paz


Jogando bolinha, jogando pião

Vi nos olhos da criança a revolução

Que solta a pipa pensando em voar

Para não ver o barraco que era o seu lar

Refrão (2×)

Periferia lado bom o que você me diz

Alguns motivos pra te deixar feliz

Longe do álcool, longe do crime

Sua paz é você que define


E nessa pipa no céu eu vi planar

A paz necessária para se avançar

Ânimo, positivismo em ação

Hip-hop, cultura de rua e educação


Foi assim que criaram e assim que tem que ser

O mestre de cerimônia rimando pra você

Enquanto o DJ troca as bases

O grafiteiro pinta todo o contraste


Da favela pro mundo

O caminho do rap pelo estudo

Por isso eu não me iludo

Roupa de marca não é meu escudo


Detentos, já te disse no começo

E estudar do sucesso é o preço

Porque a fama não cabe num coração pequeno

Então positivismo pra vencer, vai vendo


Refrão (2×)

Periferia lado bom o que você me diz

Alguns motivos pra te deixar feliz

Longe do álcool, longe do crime

Sua paz é você que define.”

LADO bom. Ferréz. Disponível em: https://oeds.link/BOmPWL. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia. Muro todo grafitado com cores vibrantes e expressões e palavras, como: 'lado bom', 'paz', 'vida', além de ilustrações de crianças praticando diversas atividades, como brincar com um urso de pelúcia e cuidar de pássaros, além de símbolos como a bandeira do Brasil e 'proibido armas'.
O grafite realizado em um muro de uma escola na cidade de São Paulo (São Paulo), pelos artistas Jana Joana e Vitché, ilustra alguns elementos da letra do rap “Lado bom”. Fotografia de 2005.

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Foco na linguagem

  1. Que elementos da letra da canção despertam seu interesse?
  2. Ouça o áudio “’Lado bom’, de Ferréz” e converse com os colegas sobre os elementos do rap que podem ser identificados em “Lado bom”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Entre textos e imagens

Manifestações culturais afro-brasileiras

reticências

A importância da palavra entre as sociedades africanas reaparece numa das mais fortes manifestações afro-brasileiras contemporâneas: o rap. Nele, a força da musicalidade africana está presente em circuitos que unem os negros dos Estados Unidos aos negros do Brasil, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tanto os ritmos marcados e repetitivos como a força da palavra, e especialmente da palavra cantada, remetem a características das sociedades africanas. Além de narrar fatos do cotidiano e fazer a crônica dos acontecimentos, como fazem as sociedades africanas, as letras das músicas de rap denunciam a opressão e a marginalização a que estão submetidos os habitantes das periferias dos grandes centros urbanos, em sua maioria negros e mestiços. Geralmente acompanhando a música há um tipo específico de dança, conhecido como break, no qual as marcas africanas também são evidentes. Não mais o requebro de quadris e o meneio de ombros presentes no samba, mas a quebra dos movimentos na qual a parte superior e a parte inferior do corpo se tornam quase independentes uma da outra, o que também é tipicamente africano.

O rap surge em um momento em que a adoção dos valores do mundo branco dominante não é mais vista como necessária no caminho da ascensão social e em que as raízes africanas são valorizadas em vez de negadas. A contestação da ordem social e a denúncia da violência presentes nas letras desse gênero musical fazem parte de um movimento de valorização da negritude que tomou corpo a partir da década de 1960. Nelas não há mais a visão de um país no qual as diferentes raças convivem em harmonia, sendo expostos os conflitos, os privilégios e as diferenças sociais entre brancos, negros e mestiços. Além de denunciar a opressão e a violência que pesam sobre as populações da periferia, os grupos de rap muitas vezes se engajam em atividades que visam enfrentar os problemas dessas comunidades, como promoção de oficinas e palestras voltadas para o aperfeiçoamento profissional e intelectual das pessoas. Dessa fórma, apesar de serem vistos com suspeita pela opinião pública, sendo acusados em alguns casos de incitar à violência em virtude da crueza das letras que cantam, muitas vezes, além de serem canais de denúncia da exclusão e da marginalização dos afro-brasileiros, empreendem ações que buscam solucionar os problemas que afligem esses grupos e, portanto, uma transformação na ordem social em vigor.

reticências

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 138-139.

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Questões

  1. De acordo com o texto, por que o rap e o break são considerados manifestações culturais afro-brasileiras?
  2. Quais são as diferenças entre os movimentos do samba e os movimentos do break apresentadas no texto?
  3. Você conhece outras danças que são influenciadas pelas culturas africanas ou são praticadas nos países do continente africano?

O break

Agora, pense em uma festa em que haja muita música e na qual ocorram pequenos intervalos para realizar a troca entre os DJs. O que você faria nesses intervalos?

Em Nova York, Estados Unidos, na década de 1970, os dançarinos usavam esses intervalos para dançar e mostrar suas danças nos block parties – as festas de quarteirão, que eram realizadas nas ruas da cidade. Por acontecerem nesses espaços de quebra que havia entre as músicas, essas danças foram chamadas breakdance (ou break, que significa “quebra”, em português). Os dançarinos são chamados bboys e bgirls, os breakboys e as breakgirls.

Reunidos em grupos (chamados crews – “tripulações”, em português), esses dançarinos faziam da dança uma possibilidade de demarcar seu território, mostrar suas habilidades e compartilhar os propósitos de resistência às injustiças sociais. Você sabia que a capoeira também teve e ainda tem esse mesmo caráter de resistência social?

De origem afro-brasileira, a capoeira era praticada por africanos escravizados como um modo de resistência cultural e de defesa e, por muito tempo, essa prática foi proibida. Atualmente, a capoeira é praticada por pessoas das mais variadas origens sociais, tanto no Brasil quanto no exterior.

Fotografia em preto e branco. Homem dança break em uma praça. Ele está vestido com camiseta branca e calça jeans, com a cabeça e as mãos apoiadas no chão, e as pernas abertas ao alto. Ao redor, pessoas observam a apresentação.
Dançarino de break, em Nova York, Estados Unidos. Fotografia da década de 1980.
Fotografia. Grupo de capoeira pratica o esporte a céu aberto. Eles vestem roupas brancas  alguns tem faixas coloridas amarradas na altura da cintura. Há um homem e uma mulher ao centro, fazendo movimentos. Ao redor, há quatro homens cantando e tocando instrumentos musicais, como pandeiro, berimbau e atabaque.
Apresentação de capoeira, em Salvador (Bahia), em 2017.

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Experimentações

Forme uma roda de dança com toda a turma para experimentar uma batalha de dança, na sala de aula.

Procedimentos

  1. Lista do DJ: junto a toda a turma, escolham algumas canções que vão tocar na roda.
  2. Aquecer a roda: com as orientações do professor e em roda, aqueçam o corpo para começar a batalha.
  3. Regras da batalha:
  • Um ou dois estudantes serão os DJs, enquanto os outros fazem a roda e começam a dançar. Essas funções podem se revezar para que todos possam dançar.
  • Os DJs colocam uma música para tocar por alguns segundos, um estudante entra na roda e começa a dançar. Quando os DJs mudarem a faixa musical, outra pessoa deve entrar na roda para dançar e desafiar quem veio antes, tentando dialogar com os movimentos que o colega estava fazendo.
  • Vocês podem também entrar em duplas ou trios para batalhar.

As batalhas

Com o surgimento do break, iniciaram-se as batalhas. Essas batalhas são competições nas quais dançarinos ou grupos de dançarinos se apresentam, frente a frente, e são julgados pelo público.

Fotografia. Homem executa um movimento de dança. Vestido com roupas pretas, ele está no ar, com a cabeça apontada para o chão, com as pernas cruzadas ao alto e os braços semiabertos em um salão com pessoas observando seus movimentos.
Dançarino se apresenta em encontro de bboys ebgirls realizado em Brasília (Distrito Federal), em 2018.

Embora originalmente o termo batalha tenha em seu significado algo que remete à violência (as guerras, por exemplo), as batalhas de hip-hop surgiram no contexto dos bairros pobres de Nova York, justamente para combater a violência que havia ali. Os fundadores do movimento hip-hop propunham que os conflitos entre grupos fossem substituídos por encontros de dança em que eles se enfrentassem de modo não violento, dançando. Esses grupos, como vimos anteriormente, são chamados crews.

Ao longo do tempo, as batalhas foram se modificando, deixando os territórios de conflito e ampliando o alcance para outras partes do mundo, preservando algumas características comuns: toda batalha formal deve ter um MC (o mestre de cerimônia), um DJ (aquele que escolhe as músicas), os jurados (que são os avaliadores) e os crews (individuais ou coletivos).

Hoje, as batalhas também ampliaram a gama de possibilidades da dança: vários estilos podem participar dessas batalhas, dançando em grupos ou individual­mente. Nas batalhas tradicionais, há sempre um jogo entre a música e a dança, pois os dançarinos, em geral, não sabem o que será tocado, possibilitando, assim, a criação de danças durante a batalha. Isso faz com que as danças urbanas não se cristalizem e estejam sempre vivas e dinâmicas.

Os movimentos do break

Existem algumas danças que são compostas de passos ou de movimentos básicos preexistentes. Você sabe dizer algumas danças que têm essa característica?

Essas danças são chamadas codificadas, pois trazem um código preestabelecido historicamente, que deve ser compreendido e seguido por todos aqueles que a praticam.

De certo modo, esse é o caso do break. No break, existem alguns movimentos essenciais, criados ao longo das décadas, e que todos os dançarinos aprendem quando se dedicam ao hip-hop, mas que, em uma batalha, podem e devem ser recriados pelos dançarinos.

E você? Alguma vez, já participou de uma batalha de break ou já assistiu a alguma? Percebeu que os movimentos são individuais, predominantemente fortes, rápidos e diretos?

No break, os dançarinos, em geral, exploram todos os níveis do espaço (os níveis alto, médio e baixo) e seu olhar permanece fixo no dançarino rival ou nos jurados. Observe a fotografia a seguir.

Fotografia. Dois homens dançam, um em frente ao outro, no centro de um salão. À esquerda, homem de boné cinza, vestido com camiseta marrom e calça preta, está em pé, com o corpo curvado para a frente enquanto observa o outro dançarino. À direita, homem de bandana preta, vestido com blusa azul e calça verde, está rente ao chão, com o apoio das duas pernas e um braço no palco. Ao fundo, plateia observa o espetáculo.
Dançarino se apresenta em encontro de bboys e bgirls realizado em Brasília (Distrito Federal), em 2018.

Toprock e floor rocks

Nas apresentações de break há, inicialmente, um conjunto de movimentos mais simples que são realizados em pé (nível alto) pelos dançarinos, denominados toprock.

Esses são considerados “movimentos de aquecimento”, pois são executados anteriormente às séries e às sequências principais que os dançarinos realizam.

Fotografia. Dois adolescentes treinam passos de dança. À esquerda, menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta branca e calça azul, está com os joelhos e os pés virados para dentro. À direita, menina de cabelo cacheado castanho, vestida com camiseta branca e calça azul, observa o colega ao lado e está com as penas um pouco dobradas, com os calcanhares juntos. Ao fundo, árvores e uma casa.
Os dançarinos acompanham a batida do rap em pé e fazem movimentos com o corpo, que imprime o ritmo. São Caetano do Sul (São Paulo), 2014.

Os chamados floor rocks também são característicos do Brêiqui e são movimentos realizados no nível baixo com o apoio dos pés e das mãos. Observe a fotografia a seguir.

Fotografia. Menina de cabelo cacheado castanho, vestida com camiseta branca e calça azul, executa um movimento rente ao solo, com os dois braços e uma perna apoiados e a outra perna esticada, paralela ao chão.
Dançarina executa os floor rocks utilizando o apoio das mãos e dos pés no chão (nível baixo) para girar e se equilibrar. São Caetano do Sul (São Paulo), 2014.

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Experimentações

   

Agora, vamos decodificar alguns movimentos do break? Experimente alguns códigos, compreenda-os à sua maneira e transforme-os.

Momento 1 – Dançar o código

  1. Dance, livremente, com os movimentos de break que você conheceu nesta página.
  2. Em seguida, reúna-se com dois colegas e mostrem um para o outro como estão fazendo, compartilhando soluções para os movimentos.
  3. Usem o ritmo e a letra da canção “Lado bom”, do artista Ferréz, e perceba que, aos poucos, a dança vai se aproximando da sua maneira de dançar.

Momento 2 – Decodificar

  1. Improvisem novos movimentos, criando variações.
  2. Combinem os movimentos que aprenderam, variações deles e outros que possam surgir nas trocas com os colegas e com os estímulos da música.
  3. O break é uma dança autoral, cada pessoa pode inventar a própria maneira de dançar. Valorize o modo como os colegas dançam.

Momento 3 – A rua é a escola

  1. Com a orientação do professor, experimentem essas maneiras de dançar, ocupando os espaços da escola.
  2. Aproveitem os espaços de que mais gostam. Nesse momento, toda a turma vai se reunir para dançar, como se fosse a rua.
  3. Dancem em trios. Não é necessário ter música. Quem estiver acompanhando pode bater palmas em um ritmo similar ao rap para orientar cada trio que for dançar.
  4. Ao final, sentem-se em roda em um desses lugares para conversar sobre essa experiência.

Arte e muito mais

Das ruas para os palcos

Atualmente, existem grupos de danças urbanas que estabelecem parcerias com grupos de dança contemporânea a fim de ampliar o universo dessas duas correntes de dança.

Esse é o caso do Grupo Solo de Dança, dirigido pela intérprete Luciana Caetano, e do grupo Mega Break, do bboy diérri X, ambos de Goiânia (Goiás). O encontro entre as técnicas desses dois grupos resultou no espetáculo Concreto, retratado nas imagens a seguir.

Fotografia. Duas pessoas dançam lado a lado. À esquerda, homem de cabelo curto preto, vestido com camisa branca e calça vermelha, está quase de ponta-cabeça, com um braço apoiado no chão. À direita, mulher de cabelo preso cacheado preto, vestida com camisa branca e calça preta, está no chão, erguendo o corpo lateralmente com o apoio das pernas e um braço. Ao fundo, porta de alumínio.
Fotografia. Duas pessoas dançam lado a lado. À esquerda, homem de cabelo curto preto, vestido com camisa branca e calça vermelha, está plantando bananeira apenas com os braços apoiados no chão, enquanto as pernas estão semidobradas ao alto. À direita, mulher de cabelo preso cacheado preto, vestida com camisa branca e calça preta, está em pé, com uma das pernas um pouco erguida e os braços em movimento. Ao fundo, porta de alumínio.
Os dançarinos diérri X e Luciana Caetano em cenas do espetáculo Concreto, em Goiânia (Goiás), em 2014.

No espetáculo Concreto, são abordadas as questões políticas, sociais e do cotidiano. As canções e os poemas concretos do músico e poeta Arnaldo Antunes – que conhecemos na Unidade 1 – são o fio condutor desse espetáculo.

A concepção e a direção de Concreto são de Luciana Caetano, que também atua como intérprete no espetáculo ao lado do bboy diérri X.

A rua como espaço de celebração

A dança também faz parte de festejos e de celebrações que acontecem em todo o Brasil. Um exemplo disso é o frevo, expressão musical, coreográfica e poé­tica que surgiu no Carnaval pernambucano no fim do século dezenove. Observe a fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Grupo de pessoas dançam frevo, vestidas com roupas coloridas (homens usam collant de corpo inteiro e as mulheres, minissaias esvoaçantes, todas as roupas com detalhes listrados em preto) com pequenas sombrinhas coloridas erguidas com uma das mãos. O grupo está no calçadão, à beira do mar, com prédios ao fundo.
Grupo de passistas dança o frevo, em Recife (Pernambuco). Fotografia de 2018.

Alguns estudiosos propõem que o termo frevo tenha se originado da palavra fervo (do verbo ferver), aludindo ao ritmo “quente” e vigoroso dessa dança. A coreografia do frevo se caracteriza por movimentos frenéticos e intensos em que os passistas (dançarinos) flexionam pernas e braços, subindo e descendo o corpo e dando saltos. Acredita-se que vários desses elementos são desdobramentos da ginga da capoeira.

Outro elemento marcante do frevo é a pequena sombrinha multicolorida que os passistas levam nas mãos. Observe a fotografia desta página.

Arte e muito mais

Um bem do patrimônio cultural brasileiro

“O Frevo reticências é uma fórma de expressão musical, coreográfica e poética densamente enraizada em Recife e Olinda, no Estado de Pernambuco. reticências Em 2012, o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife foi incluído na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

A história do frevo está registrada na memória coletiva do povo pernambucano, nos modos como essas pessoas povoam a vida sociocultural do Recife, sua fórma de organização; participação da população na festa, no cotidiano, nas intenções políticas e sentidos por elas atribuídos. Manifestação artística da cultura pernambucana, desempenha importante papel na formação da música brasileira, sendo uma das suas raízes.

reticências

Do repertório eclético das bandas de música, composto por variados estilos musicais, resultaram suas três modalidades, ainda vigentes: frevo de rua, frevo de bloco e frevo-canção. Simultaneamente à música, foi-se inventando o passo, isto é, a dança frenética característica do frevo. Improvisada na rua, liberta e vigorosa, criada e recriada por passistas, a dança de jogo de braços e de pernas é atribuída à ginga dos capoeiristas, que assumiam a defesa de bandas e blocos, ao mesmo tempo em que criavam a coreografia. Produto desse contexto sócio-histórico singular, desde suas origens, o Frevo expressa um protesto político e uma crítica social em fórma de música, de dança e de poesia, constituindo-se em símbolo de resistência da cultura pernambucana e em expressão significativa da diversidade cultural brasileira.”

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (ifãn). Frevo. Disponível em: https://oeds.link/ulNnu9. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia em preto e branco. Grupo de pessoas dança frevo com guarda-chuvas. Os homens usam camisa e calças sociais, com chapéus, em uma rua de paralelepípedo.
vergê, piérre. Frevo em Recife. 1947. Fotografia, digitalização a partir de negativo 6 por 6 centímetros. Fundação Salvador (Bahia).

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Ícone. Tema contemporâneo transversal Multiculturalism.

Assim como o frevo, há outras danças brasileiras consideradas patrimônio cultural. Reúna-se em grupo com os colegas e façam uma pesquisa sobre este tema. Vocês devem realizar um levantamento que leve em consideração o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn) e também os órgãos estaduais e municipais de preservação do patrimônio. Ao final, façam um seminário, usando vídeos como recurso para apresentar a dança que escolheram.

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Experimentações

Agora que você estudou um pouco sobre o frevo, vamos aprender um pouco dessa dança? O frevo é dançado nas ruas das cidades de Pernambuco e em outras cidades do país. É uma dança praticada tanto por pessoas que aprendem a dançar em festas, como o Carnaval, quanto por mestres de frevo e dançarinos profissionais. Nessa experimentação, vamos aprender um dos passos de base da dança, a tesoura.

Momento 1 – Um passo do frevo

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Fotografia - Movimento 1. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Ele ergue uma pequena sobrinha colorida enquanto faz um passo de frevo, com um dos pés apontados para cima e o corpo levemente dobrado para o lado. Fotografia - Movimento 2. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Ele faz um passo de frevo, no qual segura a sobrinha colorida  próxima ao peito e com as pernas cruzadas, com a perna esquerda à frente. Fotografia - Movimento 3. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Nesse passo, ele aponta a sobrinha colorida para baixo e o outro braço erguido na direção contrária. Um dos pés aponta para o alto. Fotografia - Movimento 4. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Ele faz um passo de frevo, no qual segura a sobrinha colorida  próxima ao peito e com as pernas cruzadas, com a perna direita à frente.
Menino dançarino ensinando o passo tesoura do Frevo. São Paulo (São Paulo), 2016.
  1. Vamos aprender o passo tesoura. Esse é um dos passos mais conhecidos do frevo. No passo tesoura, há um movimento cruzado das pernas e dos pés, e há pequenos deslocamentos feitos pelo dançarino à direita e à esquerda.
  2. Para aprender essa dança, reúna-se em dupla com um colega; enquanto você começa a praticar com o corpo, o colega lê o passo a passo. Depois, vocês trocam de posição.
  3. Apoie o peso do corpo sobre o pé direito e abra a perna esquerda para a diagonal/frente, como na imagem do movimento 1. Repare que o peso do corpo do dançarino se desloca todo para a perna de apoio. A perna que está aberta fica somente com o calcanhar apoiado no chão!
  1. Agora, com um pequeno salto, feche a perna esquerda (que estava aberta), passando-a pela frente da perna de apoio. Observe a imagem do movimento 2.
  2. Com mais um salto, apoie todo o peso do corpo na perna esquerda, e abra a direita para a diagonal/frente. Repare que o peso do corpo agora está todo sobre a perna de apoio novamente. A perna que está aberta fica com o calcanhar apoiado no chão, conforme a imagem do movimento 3.
  3. Agora, dê um pequeno salto e, depois, feche a perna direita (que anteriormente estava aberta), passando-a pela frente da perna de apoio. Observe a imagem do movimento 4.

Momento 2 – O frevo na escola

  1. Agora, ao som de músicas de frevo, repita esses movimentos com o colega de dupla até executá-los com rapidez e agilidade! Quanto aos movimentos dos braços, deixe-os moverem-se livremente, enquanto direciona a sua atenção aos movimentos das pernas.
  2. Em seguida, busque algum objeto que possa servir de adereço para a dança. O adereço tradicional do frevo é a sombrinha. Mas, em vez de usá-la, você pode usar qualquer outro objeto para dançar. Com o objeto escolhido, invente outras maneiras de brincar o frevo, a partir das suas próprias referências e do movimento (tesoura) que acabou de aprender.
  3. Depois, com a orientação do professor, saia em cortejo, em silêncio, pelos corredores ou outro espaço interno da escola, dançando a tesoura e outros passos que queira inventar. Leve com você o objeto que você escolheu como adereço.

Momento 3 – Partilha

a. Com os colegas e o professor, no diário de bordo, faça um registro visual do cortejo, usando apenas linhas contínuas, considerando o trajeto que vocês fizeram e que represente os ritmos com os quais vocês dançaram, pularam, andaram.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Em seguida, conversem sobre como foi experimentar essa proposta, dentro e fóra da sala de aula. Caso essa experiência tenha trazido alguma memória de festas ou outra experiência de dança de que você já participou, compartilhe essa memória com o grupo.
  2. Depois, reflita sobre as diferenças e as semelhanças entre os passos debreak, que você aprendeu no Tema 1, e o passo de frevo.
  3. Pense também sobre o modo como vocês ocuparam o espaço da escola com cada uma das práticas.