Tema 2  As influências da juventude na música brasileira 

A jovem guarda

No Brasil, o rock ganhou força na década de 1960 com o surgimento da Jovem Guarda, movimento musical que recebeu influência das tendências musicais estrangeiras, como a sonoridade do rock e o uso da guitarra elétrica, e que se tornou um símbolo da modernização da música brasileira.

A Jovem Guarda teve início com um programa de auditório apresentado pelo cantor e compositor Roberto Carlos. Dividiam o palco com ele a cantora vanderléa e o cantor e compositor Erasmo Carlos, que também participaram ativamente desse movimento.

As canções da Jovem Guarda tratavam de amores e do cotidiano e embalavam a juventude brasileira. Muitas dessas canções eram versões de músicas originárias dos Estados Unidos. Com letras traduzidas ou adaptadas para o português, elas eram acompanhadas pela guitarra elétrica. Esses fatos revelam a influência da cultura estadunidense nesse movimento.

A Jovem Guarda pode ser considerada um dos primeiros movimentos de música popular no Brasil. A renovação estética promovida pela introdução de elementos que faziam sucesso no exterior influenciou a Tropicália e o pop-rock da década de 1980, movimentos que vamos conhecer nas próximas páginas.

Fotografia em preto e branco. Músicos em um palco, cantando e batendo palmas. À esquerda, uma mulher de cabelo preso, vestida com casaco e calça brilhantes, está batendo palma. No centro, um homem vestido com uma camisa e calça, canta ao microfone. À direita, um homem de cabelo curto, vestido com camisa brilhante e calça com listras verticais, também bate palmas. Ao fundo, há dois músicos vestidos com terno.
vanderléa, Roberto Carlos e Erasmo Carlos no programa Jovem Guarda, em São Paulo São Paulo, em 1967.
Respostas e comentários

Objetivos

  • Conhecer grupos e artistas do rock nacional desde a década de 1960 até os dias atuais.
  • Reconhecer a importância da Jovem Guarda e a influên­cia que ela teve sobre outros movimentos de música popular no Brasil, identificando as mensagens contidas em suas músicas.
  • Identificar as características do Tropicalismo e estudar os principais representantes desse movimento cultural.
  • Identificar Rita Li como uma das pioneiras do rock no país e conhecer o seu trabalho.
  • Valorizar as bandas e os artistas do rock nacional da década de 1980.
  • Analisar letras de canções.
  • Participar de atividade de audição e de canto.
  • Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre um seis), (ê éfe seis nove á érre um oito), (ê éfe seis nove á érre um nove), (ê éfe seis nove á érre dois zero), (ê éfe seis nove á érre dois três), (ê éfe seis nove á érre três um), (ê éfe seis nove á érre três três) e (ê éfe seis nove á érre três quatro).

Contextualização

Para dar início a este Tema, se julgar oportuno, leia o texto.

Anos [19]60 e [19]70: Brasil, juventude e rock

Em 1965, estreou na tê vê Record um programa chamado Jovem Guarda, onde se apresentavam artistas que estavam proliferando o novo ritmo. Apresentado por vanderléa, reticências Roberto e Erasmo Carlos, o programa virou uma febre entre jovens brasileiros dos grandes centros urbanos da época e o movimento que fora chamado de ‘Jovem Guarda’, reticências uma moda.

A Jovem Guarda inaugurou o que se pode chamar de uma ‘cultura roqueira’ no país no sentido estilístico do termo. As gírias, as roupas, os cabelos eram moldados pelos fãs conforme os modelos usados pelos ídolos produzidos pelo ‘iê-iê-iê’, como ficara conhecido o rock’n roll em seu início no Brasil devido ao sucesso da canção She loves you dos Beatles, que completava o seu refrão com yeah, yeah, yeah

reticências pode-se inferir que, apesar da aparente rebeldia impingida pelo ritmo, o comportamento de seus propagadores na verdade não representava uma quebra significativa nos padrões sociais estabelecidos. Em contrapartida, negar de todo o caráter contestador do movimento seria aderir a uma visão ortodoxa do fato. Apesar de ter sido de uma maneira sutil e inocente, alguns comportamentos foram modificados pelo movimento.

RAMOS, Eliana Batista. Anos [19]60 e [19]70: Brasil, juventude e rock. Revista Ágora, Vitória, número 10, página 1-20, 2009. página 10-11.

Por dentro da arte

Adoração (Altar para Roberto Carlos)

A Jovem Guarda ocorreu durante os anos em que o Brasil viveu sob o Regime Militar. Os integrantes do movimento da Jovem Guarda, muitas vezes, eram criticados em razão da ingenuidade de suas canções, que não estavam relacionadas às questões políticas e sociais do país. Nas próximas páginas, você vai conhecer artistas que se engajaram na resistência ao regime e criaram as chamadas canções de protesto.

Em 1966, o artista visual Nelson lêirner, motivado pela represen­tatividade de Roberto Carlos, criou a instalação Adoração (Altar para Roberto Carlos), reproduzida na imagem a seguir.

Fotografia. Obra de arte feita com uma catraca amarela. Acima da catraca, uma tela com o desenho de rosto masculino com contornos luminosos feito com lâmpadas neon. Ao redor da tela, cortinas vermelhas.
lêirner, Nelson. Adoração (Altar para Roberto Carlos). 1966. Instalação com catraca de ferro, veludo, montagem de imagens religiosas, tela pintada e néon, dimensões variadas. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand , São Paulo São Paulo.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Observe a reprodução da instalação de Nelson lêirner nesta página. Depois, descreva-a.
  2. Em sua opinião, qual seria a crítica apresentada por Nelson lêirner nessa obra?
Versão adaptada acessível

1. Ouça a descrição da instalação de Nelson Leirner nesta página. Que detalhes chamaram mais sua atenção na descrição da instalação?

Respostas e comentários

Por dentro da arte

Pergunte aos estudantes se eles conhecem o cantor Roberto Carlos e suas canções, e se apreciam seu gênero musical.

Peça-lhes que perguntem, em casa, se algum membro da família aprecia as canções de Roberto Carlos, também chamado “o Rei”.

A obra do artista Nelson lêirner é muito associada à estética pop, pois faz uso de elementos da indústria cultural – como a figura de Roberto Carlos e a luz neon – para fazer uma crítica à sociedade de consumo. Na obra Adoração (Altar para Roberto Carlos), o artista parece refletir sobre a adoração de figuras que a televisão e o rádio consagraram na posição de ídolos, como se fossem ícones religiosos. Ela cria uma associação, portanto, entre altares religiosos e os ícones de mídias como a tê vê e o rádio.

Se desejar ir além nessa crítica em sala de aula, você pode mostrar os musicais e especiais televisivos do artista, que, ainda hoje, apresentam o mesmo repertório e mobilizam a mesma estética de, talvez, adoração e reificação.

Faça uma leitura da obra Adoração (Altar para Roberto Carlos), com foco também na linguagem das artes visuais. Peça aos estudantes que observem os elementos e materiais da obra e o que eles podem representar.

Note-se que a figura do cantor representada por uma luz neon, envolta em uma cortina vermelha e com uma catraca, cria a sensação de um espaço em que podemos entrar, como nas cabines com programações que acompanham os antigos circos e parques itinerantes. É como se pudéssemos passar pela catraca e adentrar um espaço onde encontraríamos esse ídolo.

Considerando a época de sua produção, 1966, ela pode ter sido uma das primeiras instalações da arte contemporânea brasileira. Ou seja, uma das primeiras obras que criam uma espacialidade, uma proposta de imersão em um ambiente, e não apenas uma obra bidimensional ou tridimensional.

Foco na linguagem

  1. Faça com os estudantes a leitura da imagem. Depois, espera-se que eles mencionem que, nessa instalação, há imagens religiosas e um painel de neon com o rosto do artista Roberto Carlos. Além desses elementos, ela é composta de uma catraca e de uma cortina vermelha.
  2. Após ouvir as considerações dos estudantes, comente que estudiosos acreditam que, em Adoração (Altar para Roberto Carlos), Nelson lêirner propõe uma reflexão acerca da adoração de um ícone da música.

A bossa nova

Antes da década de 1950, o gênero musical muito apreciado e gravado no Brasil era o samba. No entanto, foi com a bossa nova que os jovens passaram a se expressar com maior autonomia criativa. A bossa nova é um estilo musical brasileiro que se consolidou no fim da década de 1950. O samba e o jazz foram as principais influências da bossa nova. As canções desse estilo se caracterizam pelo andamento lento e pela presença do violão. Outra característica marcante da bossa nova é a maneira delicada de cantar de seus representantes, com uma voz geralmente bem suave. Alguns cantores interpretam as canções com voz muito “baixa”, quase sussurrando.

Fotografia. Homem de cabelo médio liso castanho e óculos de armação arredondada, vestindo camisa azul. Ele está de perfil, tocando piano enquanto observa uma partitura disposta na parte de cima do piano.
Um dos principais representantes da bossa nova foi o cantor e compositor Tom Jobim (1927-1994). Fotografia de 1987.

O Tropicalismo

Em meados da década de 1960, tornaram-se comuns os festivais de música popular. Em um desses festivais, em 1967, os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil lançaram as bases do Tropicalismo, movimento cultural que influenciou, principalmente, a produção musical no Brasil.

No festival de 1967, Caetano Veloso apresentou a canção “Alegria, alegria”, e Gilberto Gil cantou “Domingo no parque”. As canções conquistaram respectivamente o quarto e o segundo lugar nesse festival. Elas foram cantadas com o acompanhamento de guitarras elétricas.

Na época, esses instrumentos eram símbolo da música e da cultura estadunidense; por isso, causaram estranhamento no público. A Música Popular Brasileira , sobretudo a bossa nova, naquela época, estava diretamente relacionada ao som do violão.

Fotografia em preto e branco. Show musical com três homens cantando no palco. À esquerda, dois cantores dividem um microfone enquanto tocam guitarra e pandeiro. Destaque para o cantor no centro da imagem, de cabelo cacheado, vestido com uma camisa de gola rolê e casaco quadriculado claro. Ao fundo, à direita, a plateia assiste ao show sentada.
O artista Caetano Veloso, no centro da fotografia, no terceiro Festival da Música Popular Brasileira, em 1967.
Respostas e comentários

Contextualização

Entre os principais expoentes da bossa nova, podemos mencionar João Gilberto (1931-2019), Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980). No entanto, diversos artistas foram influenciados por esse estilo musical brasileiro, a exemplo de Dorival Caymmi (1914-2008), Edu Lobo, Francis rráime, Marcus Valle, Paulo Valle, Carlos Lyra, Nara Leão (1942-1989), báden páuel (1937-2000), Nelson Motta, Uílson Simonal (1938-2000), entre outros.

Em 1958, o lançamento do disco de João Gilberto com a canção “Chega de saudade” marcou o início oficial da bossa nova no Brasil. As letras da bossa nova tratam de temas cotidianos, utilizando uma estrutura harmônica musical muito rebuscada, influenciada pelo jazz e por compositores eruditos, como os franceses clôde debissí (1862-1918) e Murríci Ravél (1875-1937).

Esse estilo musical surgiu por meio de encontros de jovens da classe média carioca, universitários que se reuniam para compor. A sonoridade da voz também foi uma inovação no estilo de cantar na época: os cantores utilizavam uma entonação mais suave e próxima da voz falada.

Uma das canções mundialmente famosas da bossa nova é “Garota de Ipanema”, música de Tom Jobim e poema de Vinicius de Moraes, gravada em diversos idiomas e por artistas renomados internacionalmente.

Ao abordar o Tropicalismo, comente com os estudantes que os cantores e compositores Gilberto Gil e Caetano Veloso tiveram participação direta no surgimento e na consolidação do Tropicalismo.

Além deles, os integrantes do movimento incorporaram as influências da bossa nova, do samba, do rock e de outros estilos musicais e propuse­ram o experimentalismo, ao mesmo tempo que se voltaram para as manifestações populares, buscando um som universal que se aproximasse da estética pop internacional.

Ao falar do festival de 1967, citado nesse tópico, comente com os estudantes que, na década de 1960, houve no Brasil grande efervescência cultural e artística. Entre 1966 e 1969, os festivais de Música Popular Brasileira, nos quais os artistas apresentavam canções que concorriam em uma disputa acirrada, foram transmitidos pela tê vê recór. Foi nesses eventos musicais com grande participação da plateia que o movimento tropicalista eclodiu. Os festivais representavam um espaço de discussão e expressão em meio à ditadura militar vigente no país.

Nesses festivais, artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil apresentaram canções acom­panhadas por guitarra elétrica.

O documentário Uma noite em 67 (direção de Renato Terra e Ricardo Calil, 2010) trata de diversos temas da cultura e da sociedade daquela época.

As principais características do Tropicalismo

A fusão de diferentes estilos musicais é uma das características marcantes do movimento tropicalista. Na segunda fotografia reproduzida na página anterior, por exemplo, Caetano Veloso é acompanhado por um músico que toca guitarra elétrica e por outro que toca uma pandeirola.

Instrumentos e ritmos característicos de estilos musicais muito diferentes, como o rock, o baião, o samba e o bolero, assim como elementos da música popular e da música erudita, misturaram-se na criação do Tropicalismo.

Ao introduzir o som da guitarra elétrica, os artistas tropicalistas desejavam incorporar e reinterpretar elementos culturais estrangeiros para, dessa maneira, universalizar a música brasileira e torná-la mais próxima dos jovens. Ao “devorar” a cultura estrangeira para recriar a cultura nacional, os tropicalistas revelaram a influência do Manifesto Antropófago, publicado em 1928, redigido pelo escritor osváld de Andrade (1890-1954). Nesse manifesto, o escritor propôs a antropofagia cultural, que consistia em devorar a cultura europeia e recriá-la de um modo brasileiro.

As letras das canções do movimento tropicalista revelam, ainda, a influência da poesia concreta, composição literária que você conhecerá no próximo Tema.

Além de Caetano Veloso e Gilberto Gil, destacaram-se no movimento tropicalista a cantora Gal Costa, os cantores e compositores Rita Li e Tom Zé, o maestro Rogério duprá (1932-2006) e os poetas Torquato Neto (1944-1972) e Capinan.

Fotografia em preto e branco. Show musical com músicos cantando e tocando no palco. Destaque para o homem de cabelo curto e cavanhaque, vestido com paletó, com o pé esquerdo apoiado em um banco, enquanto canta e toca violão ao microfone. Ao seu lado, um homem vestido com roupas escuras e uma mulher de cabelo médio, com vestido preto, também cantam.
Gilberto Gil e Os Mutantes interpretando “Domingo no Parque”, música que ficou em 2º lugar no terceiro Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela tê vê Record, no Teatro Paramount, em São Paulo São Paulo, em 1967.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Como você pôde observar pelas leituras anteriores, no Brasil, tanto no rock quanto no tropicalismo, a juventude teve importante participação nesses gêneros musicais.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Escreva um pequeno texto em seu diário de bordo sobre o que você considera hoje como um movimento musical da juventude.
  2. Na sua opinião, qual é a importância da juventude no cenário musical hoje?
Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que a guitarra elétrica era alvo de divergências entre os músicos brasileiros. Muitos acreditavam que esse instrumento representava a “invasão” da cultura estrangeira. Em 1967, em São Paulo São Paulo, houve uma passeata liderada por artistas que se posicionavam contrários ao uso da guitarra elétrica. Entre eles, estavam Elis Regina (1945-1982), Edu Lobo, Geraldo Vandré, Jair Rodrigues (1939-2014) e até mesmo Gilberto Gil, que, meses depois, no terceiro Festival, apresentou a canção “Domingo no parque” ao som de acordes elétricos.

É importante ressaltar que esse movimento influenciou também outras áreas da arte. As experiências teatrais do Grupo Oficina, as propostas do movimento Cinema Novo e as proposições elaboradas, sobretudo, pelo artista Hélio Oiticica (1937-1980) no campo das artes visuais são alguns exemplos dessas manifestações.

Foco na linguagem

Possibilite que os estudantes exponham o repertório que eles escutam e se artistas mencionados podem ser considerados expoentes da juventude, isto é, se fazem parte do cenário contemporâneo musical.

Em seguida, saliente que os estudantes devem verificar os contextos e o cenário em que o repertório é executado. Incentive-os a levantar hipóteses para explicar por que eles se identificam com esses artistas. Eventualmente, as escolhas estarão atreladas aos elementos culturais do lugar onde vivem e ao cenário da música midiática.

Artista e obra

Rita Li

Nascida em São Paulo São Paulo, em 1947, a cantora, compositora, instrumentista e escritora Rita Li é uma das pioneiras do rock no Brasil. Como vimos, ela integrou o Tropicalismo e, com os demais integrantes desse movimento, contribuiu para a renovação estética da Música Popular Brasileira.

Durante o movimento tropicalista, Rita Li fez parte da banda Os Mutantes, considerada até hoje uma das principais bandas de rock do Brasil. Além de Rita Li, faziam parte dessa banda os músicos Arnaldo Batista, Sérgio Dias Batista, Liminha e Dinho Leme.

Fotografia em preto e branco. Músicos se apresentam em um palco: dois homens de cabelo médio, vestidos com camisas estampadas e adereços na cabeça, tocam violão e guitarra. Entre os dois, uma mulher de cabelo longo liso, vestida de noiva, com véu e vestido branco, canta segurando um objeto em suas mãos.
Arnaldo Batista, Rita Li e Sérgio Dias Batista, integrantes da banda Os Mutantes, no terceiro Festival Internacional da Canção. Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 1968.

A partir de 1979, Rita Li estabeleceu uma parceria musical com o multi-instrumentista e compositor Roberto de Carvalho e lançou músicas que alcançaram grande sucesso, como “Doce vampiro”, “Lança perfume” e “Baila comigo”.

Ainda hoje Rita Li é conhecida como a “rainha do rock”.

Fotografia. Cantora se apresenta em um show. Ela tem cabelo ruivo e usa um óculos de armação e lentes em tons de vermelho; veste um chapéu escuro, um sobretudo preto e, por baixo, uma roupa colorida em tons de verde e marrom.
Rita Li durante apresentação em São Paulo São Paulo, em 2010.
Respostas e comentários

Artista e obra

Comente a importância de Rita Li no cenário artístico nacional. O texto a seguir pode ajudá-lo.

[Rita Li]

Essa formação, que vai de Dolores a Elvis, não pode ser menosprezada. Ela torna possível uma análise a partir de dois elementos constituintes da formação e da consolidação do que chamamos hoje de ême pê bê: a da voz feminina, não entendida apenas como intérprete, mas também compositora, e a da influência da música estrangeira. De certa fórma, Rita Li é a representação personificada da junção dessas duas tradições do sistema musical brasileiro.

A primeira está vinculada à forte presença de vozes e composições femininas na história da ême pê bê, tradição essa inaugurada por Chiquinha Gonzaga, e que passa por Gilda de Abreu, pelas cantoras da era do rádio, pelas tradicionais pastoras, e que persiste até hoje a segunda seria aquela que, de acordo com Luís Tatit, é uma das características mais inventivas da nossa música: a vocação amalgâmica da ême pê bê em absorver ritmos estrangeiros, isto é, de mesclá-los com os elementos musicais tradicionais do Brasil, inventando assim uma música de origem popular e nacional.

Todavia, deve-se levar em consideração que enquanto a presença feminina, tanto no âmbito da interpretação como no da composição, já estava consolidada no início da década de 1960 no sistema musical brasileiro, a do rock and roll provocava ainda resistências principalmente no âmbito ideológico. Tanto setores conservadores, simpatizantes do militarismo, como os seus oponentes, os setores ditos de vanguarda, entendiam o ritmo norte-americano como uma ameaça.

Num país dividido entre nacionalistas e entreguistas, popular e erudito, um gênero musical que propunha uma política fóra dos moldes convencionais, relacionada ao corpo, na qual este tornava-se não instrumento de trabalho, mas sim de prazer, radicalizou em termos culturais o embate entre correntes antagônicas tanto no aspecto estético como no ideológico.

Se para os conservadores o vestuário e os hábitos dos consumidores de rock eram considerados imorais e atentavam contra os bons costumes, para a esquerda nacionalista, tratava-se de uma colonização cultural promovida pelos Estados Unidos, que visava alienar uma parcela da juventude brasileira da realidade nacional. É pois nesse ambiente dicotômico que o rock é introduzido no sistema musical brasileiro. E, por mais paradoxal que pareça, tendo mulheres como agentes fundamentais desse processo.”

ESTEVEZ, Carlos. Mutante cor-de-rosa choque. In: sússequind, Flora; DIAS, Tânia; AZEVEDO, Carlito (organizador) Vozes femininas: gênero, mediações e práticas de escrita. Rio de Janeiro: 7letras: Fundação Casa Rui Barbosa, 2003. página 419-420.

Por dentro da arte

Rita Li mora ao lado

Em 2014, foi lançado o musical Rita Lee mora ao lado. Escrito por Paulo Rogério Lopes e dirigido por Débora deboá e Márcio Macena, esse espetáculo levou para os palcos aspectos da vida e da obra de Rita Li. O texto do musical é uma adaptação do livro Rita Li mora ao lado: uma biografia alucinada da rainha do rock, de Henrique bártch.

O musical abordou as trajetórias pessoal e profissional de Rita Li, da infância à atua­lidade. A montagem apresentou ao público, por exemplo, as dificuldades vividas pela artista em sua adolescência e as parcerias que estabeleceu com artistas como Roberto Carlos, Tim Maia (1942-1998), Elis Regina (1945-1982), Gilberto Gil e Caetano Veloso.

A atriz Mel Lisboa protagonizou o musical, interpretando canções clássicas do repertório de Rita Li, como “Agora só falta você” e “Esse tal de Roque Enrow”.

Ilustração. Capa de um livro que traz um desenho de uma mulher de cabelo longo liso ruivo, de perfil, com flores rosas e amarelas. No centro, o título da obra: “Rita Lee mora ao lado”. A imagem é colorida em tons de laranja, amarelo, rosa e lilás.
Capa do livro Rita Li mora ao lado: uma biografia alucinada da rainha do rock, de Henrique bártch, lançado em 2006.
Fotografia. Três pessoas cantam e tocam instrumentos em um palco. Dois homens de cabelo médio castanho, vestindo camisa branca e coletes com franjas cantam e tocam instrumentos de cordas. Entre eles, uma mulher de cabelo longo liso ruivo, vestida com uma camisa cheia de franjas e calça marrom, canta ao microfone. Nele, há um pandeiro pendurado.
A atriz Mel Lisboa em cena do musical Rita Li mora ao lado, em São Paulo em 2015.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Em grupo, pesquisem nomes de mulheres da música brasileira, escolham uma delas e organizem um cartaz (físico ou digital) com as principais informações da musicista, como: gênero musical, biografia e repertório.

Respostas e comentários

Por dentro da arte

Artistas como Rita Li, parte do trio musical Os Mutantes durante a época da Tropicália, protagonizaram sobremaneira uma discussão profunda sobre a cultura brasileira naquela época: a manutenção de ritmos e instrumentos tradicionais do Brasil e a adesão a uma estética musical importada, como aquela da guitarra elétrica. Ao ouvir as canções de Os Mutantes, é possível perceber a conjunção entre elementos sonoros de naturezas muito diversas, de triângulos do baião aos arranjos eletrônicos sincopados e às distorções nas cordas do rock.

Para alguns pensadores, essa adesão a novas estéticas musicais era um modo de acompanhar os anseios das juventudes, que nos anos 1960 acompanhavam verdadeiras revoluções dos costumes e da participação política estudantil na esfera pública, com atenção não apenas à conjuntura social brasileira, à contracultura estadunidense e aos levantes estudantis na França. Outros, contudo, interpretavam que essa era uma adesão acrítica a uma estética imperialista, que sobrepujava a realidade social e o repertório cultural brasileiro, impondo uma ideologia às juventudes que as desconectaria de seu contexto.

Você pode compartilhar essas reflexões com os estudantes e propor uma reflexão sobre isso, aproveitando para observar também como é a percepção dos estudantes de hoje em dia sobre a ampla circulação de referências estéticas e culturais. Tenha em vista que, na época, a televisão, os discos e o rádio eram os principais modos de divulgação da produção musical, mas que atualmente as redes ampliam sobremaneira o alcance das juventudes a novas bandas e cantores.

Converse com eles sobre quais recursos utilizam para acessar canções novas e antigas e sobre como veem esse cruzamento entre diferentes estéticas musicais. Se desejar, busque vídeos da cantora Rita Li e da sua participação entre Os Mutantes e proponha uma fruição desses elementos da fusão rítmica e instrumental, tão raros à época.

Foco na Linguagem

1. Auxilie os estudantes a se organizarem em grupos, cuidando para compor grupos que integrem diferentes habilidades. Os estudantes podem realizar a pesquisa na internet ou com os familiares e as pessoas que conhecem para identificar também as mulheres musicistas da sua região. Organize com os estudantes uma exposição dos cartazes na comunidade escolar com a finalidade de divulgar e valorizar as mulheres brasileiras na arte.

“São coisas nossas”

Uma das canções mais marcantes do movimento tropicalista é “Tropicália”, lançada em 1967 no álbum Caetano Veloso. Em seu livro Verdade tropical, Caetano Veloso revelou que uma das referências para compor “Tropicália” foi a canção “São coisas nossas”, do cantor e compositor Noel Rosa (1910-1937). Escrita em 1932, a canção “São coisas nossas”, do cantor e compositor Noel Rosa, apresenta um retrato do Brasil nas primeiras décadas do século vinte, destacando características culturais e sociais do país.

Leia a seguir a letra dessa canção.

São coisas nossas

“Queria ser pandeiro

Pra sentir o dia inteiro

A tua mão na minha pele a batucar

Saudade do violão e da palhoça

Coisa nossa, coisa nossa


Refrão

O samba, a prontidãoglossário

E outras bossas

São nossas coisas

São coisas nossas


Malandro que não bebe

Que não come

Que não abandona o samba

Pois o samba mata a fome

Morena bem bonita lá na roça

Coisa nossa, coisa nossa


Refrão

Baleiro, jornaleiro

Motorneiro, condutor e passageiro

Prestamista e vigarista

E o bonde que parece uma carroça

Coisa nossa, muito nossa!


Refrão

[...]”

ROSA, Noel. São coisas nossas. In: VILA, Martinho da. Poeta da cidade: Martinho canta Noel. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2010.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Leia um trecho da canção “São coisas nossas” e ouça o áudio “’São coisas nossas’, de Noel Rosa”. Depois, responda às questões propostas.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

a) Em sua opinião, o que Noel Rosa quis dizer no refrão “O samba, a prontidão / E outras bossas / São nossas coisas / São coisas nossas”?

b) Reúna-se com quatro colegas e, tendo como referência a canção de Noel Rosa, elaborem um cartaz com o título “São coisas nossas”. Representem nesse cartaz aspectos culturais, políticos e sociais do Brasil atual, desenhando ou colando imagens de jornais e revistas. Apresentem sua produção aos demais colegas no dia agendado pelo professor.

Respostas e comentários

Foco na linguagem

1. a) Espera-se que os estudantes comentem que o autor se refere não apenas a aspectos culturais, mas também a uma questão social do Brasil na década de 1930: a falta de dinheiro de uma parcela da população.

b) Essa atividade pode ser orientada em sala de aula e realizada pelos estudantes em casa. Auxilie-os na pesquisa, no recorte e na colagem de imagens de produtos, alimentos, pessoas, paisagens, manifestações sociais, políticas e culturais ou modos de vida que expressem a identidade brasileira. Como suporte, os estudantes podem trabalhar com cartolina ou papel-cartão. Aqueles que optarem por desenhos ou pintura podem utilizar cartolina branca. Os que optarem por colagem pesquisarão as imagens em jornais ou revistas. Agende uma data para a entrega do cartaz e organize uma exposição dos trabalhos. Peça aos grupos que apresentem e comentem sua produção.

Os festivais da canção

Você viu nas páginas anteriores que o movimento tropicalista surgiu em um festival de música popular realizado em 1967. Os festivais eram eventos onde ocorria a divulgação de produções de compositores e músicos que marcaram a história da Música Popular Brasileira.

Transmitidos por emissoras de televisão, os festivais eram divididos em fases nacionais e internacionais, nas quais um júri técnico analisava as canções inscritas e escolhia a vencedora. Observe a fotografia reproduzida a seguir. Ela mostra um registro do terceiro Festival Internacional da Canção, realizado em 1968.

Fotografia em preto e branco. Homens e mulheres cantam e tocam juntos em um palco. Há homens e mulheres, que dividem três microfones. Destaque para um dos músicos que segura um violão e tem a cabeça baixa.
O cantor e compositor Geraldo Vandré (à esquerda, com o violão), as irmãs e cantoras Cynara e Cybele (ao centro) e o produtor musical, jornalista e compositor Nelson Motta (à direita, de frente), entre outros artistas, durante o terceiro Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 1968.

No festival de 1968, Cynara e Cybele (1940-2014) interpretaram a canção “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim. Essa canção conquistou o primeiro lugar no festival. A canção “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, que você conhecerá na próxima página, ficou em segundo lugar. O resultado, no entanto, não agradou o público, que preferia a canção de Vandré.

Os festivais também foram um espaço de resistência ao Regime Militar. Artistas como Geraldo Vandré e Chico Buarque usavam esse espaço para apresentar canções em que questionavam, por meio de metáforasglossário e palavras de duplo sentido, as decisões tomadas pelo governo militar. Muitas canções de protesto foram censuradas.

Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que muitos artistas utilizavam a linguagem musical para denunciar abusos e manifestar sua oposição ao Regime Militar.

A linguagem utilizada nas composições, em geral, era simples e direta. Na época em que elas foram produzidas, a letra era muito valorizada, por ser instrumento de transmissão de denúncias sociais. Uma característica marcante das letras dessas canções é a repetição de frases como fórma de auxiliar a memorização pelos ouvintes. Comente com a turma que essas canções são compostas, em geral, de poucos acordes e apresentam um ritmo contínuo e simplificado.

O texto a seguir traz informações sobre o gênero canção de protesto. Se julgar oportuno, apresente essas informações aos estudantes.

[Canção de protesto]

Gênero de canção de origem universitária, com que, a partir de 1965, os jovens compositores da classe média do Rio de Janeiro [Rio de Janeiro] e São Paulo [São Paulo] aspiravam dar consciência, às grandes camadas da população, dos problemas político-econômicos do Brasil. Lançada com o show Opinião e com as músicas de crítica social do compositor Alberto Ribeiro, no espetáculo Joana em flor, de Reinaldo Jardim, do Teatro de Arena, no Rio de Janeiro, a canção de protesto teve popularidade nos festivais de música popular da segunda metade da década de 1960, desaparecendo praticamente a partir da proibição da canção ‘[Pra não] dizer que não falei das flores’, também conhecida por ‘Caminhando’, de Geraldo Vandré, em 1968.”

MARCONDES, Marcos Antônio Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. segunda edição São Paulo: Art Editora, 1998. página 144.

“Pra não dizer que não falei das flores”

A canção “Pra não dizer que não falei das flores”, apresentada por Geraldo Vandré no festival de 1968, se tornou um hino da juventude da época. Pouco tempo após a apresentação, a canção foi censurada, e Geraldo Vandré, obrigado a exilar-se no Chile e, depois, na França.

Fotografia em preto e branco. Homem de cabelo curto, vestido com paletó, segura um violão e canta ao microfone.
Geraldo Vandré durante apresentação no terceiro Festival Internacional da Canção, em 1968.

Leia, a seguir, a letra dessa canção e ouça o áudio “Trecho de ‘Pra não dizer que não falei das flores’, de Geraldo Vandré”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Pra não dizer que não falei das flores

“Caminhando e cantando

e seguindo a canção

Somos todos iguais

braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas,

campos, construções

Caminhando e cantando

e seguindo a canção


Refrão (2×)

Vem, vamos embora

que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora

não espera acontecer


Pelos campos há fome

em grandes plantações

Pelas ruas marchando

indecisos cordões

Ainda fazem da flor

seu mais forte refrão

E acreditam nas flores

vencendo o canhão


Refrão


Há soldados armados,

amados ou não

Quase todos perdidos

de armas na mão

Nos quartéis lhes ensinam

Uma antiga lição

De morrer pela pátria

E viver sem razão


Refrão


Nas escolas, nas ruas,

campos, construções

Somos todos soldados,

armados ou não

Caminhando e cantando

e seguindo a canção

Somos todos iguais

braços dados ou não

Os amores na mente,

as flores no chão

A certeza na frente,

a história na mão

Caminhando e cantando

e seguindo a canção

Aprendendo e ensinando

uma nova lição


Refrão

VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores. In: SIMONE. Ao vivo no Canecão. Rio de Janeiro: 1980. Lado B. Faixa 9.cópiráiti 100% EDITORA MÚSICA BRASILEIRA MODERNA LTDA. (Fermata do Brasil).

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Escolha um tema social e crie um poema de protesto sobre algo que lhe cause incômodo. A sua criação também pode, futuramente, se tornar a letra de uma canção.

Respostas e comentários

Contextualização

Essa é uma canção muito conhecida e possivelmente os estudantes já a tenham ouvido anteriormente. Caso ache interessante, explore mais a música perguntando a eles se conhecem gravações mais recentes dessa canção.

É provável que eles conheçam, por exemplo, a versão deTchárli Bráun Júnior Se houver interesse, proponha uma pesquisa a esse respeito.

Sugestão de atividade

Essa é uma música de fácil assimilação e com um refrão marcante. Você pode propor aos estudantes uma atividade de canto coletivo.

Organize a turma em grupos, de modo que cada grupo ficará responsável por cantar uma estrofe e a turma toda cantará o refrão.

O áudio poderá ser usado como apoio para os primeiros ensaios, mas quando os estudantes sentirem segurança poderão cantar a capella, ou seja, sem acompanhamento instrumental.

Foco na linguagem

1. Essa atividade pode ser realizada individualmente ou em grupo. Auxilie os estudantes na escolha do tema, orientando-os a criar tópicos para justificar o protesto e a indicar eventuais soluções.Agende uma data para a apresentação dos trabalhos e, caso alguém ou algum grupo tenha realizado uma composição musical, organize a apreciação, incentivando e valorizando a obra criada. Avalie se as justificativas e as sugestões de solução para protestos são coerentes e respeitam os direitos humanos.

Chico Buarque e a censura

O cantor e compositor Chico Buarque também teve canções censuradas. A primeira obra do artista a ser censurada foi “Tamandaré”, canção que integrava, em 1966, o show Meu refrão. Chico teve de retirar a canção do repertório, considerada ofensiva à memória de Joaquim Marques Lisboa (1807-1897), o almirante Tamandaré, patrono da Marinha brasileira.

Diante das pressões dos militares, em 1969, Chico Buarque mudou-se para a Itália. Em 1973, já de volta ao Brasil, Chico produziu, em parceria com o cantor e compositor Gilberto Gil, a canção “Cálice” (que sugere a imposição “cale-se”), que teve a letra vetada pela censura.

Em 1978, ao retornar para o Brasil, Chico Buarque foi detido pelo Departamento de Ordem Política e Social órgão criado para reprimir as manifestações contra a ditadura militar. Chico Buarque também participou ativamente do movimento Diretas Já, na década de 1980, pelas eleições diretas para presidente da República.

Fotografia. Cantor se apresenta em um show, tocando violão e cantando ao microfone. Ele é grisalho e veste uma camisa e casaco escuros.
Chico Buarque em apresentação no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 2012.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Você conhece alguma canção de Chico Buarque? Em caso afirmativo, cante um trecho dessa canção para os colegas.

Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que Roda viva foi a primeira peça teatral escrita por Chico Buarque e estreou no Rio de Janeiro em 1968.

Explique que o enredo da peça criticava duramente o artista que “vendia a alma em troca da fama”. Comente com eles, também, que Roda viva conta a história de um compositor que é usado pela máquina da televisão e, depois, simplesmente descartado.

Dirigida por José Celso Martinez Corrêa, a peça obteve sucesso e se tornou símbolo da crítica ao Regime Militar.

Foco na linguagem

1. Caso os estudantes não se recordem de nenhuma canção, oriente-os a realizar uma pesquisa, ouvir algumas canções e selecionar uma para a apresentação. No dia agendado, peça a eles que formem uma roda. Convide-os a interpretar um trecho da canção de Chico Buarque previamente selecionado ou a formar grupos para se apresentar em conjunto. Incentive a participação de todos e estimule o respeito pelas apresentações dos colegas.

Indicações

Além de músico e compositor, Chico Buarque é escritor de literatura. Conheça alguns de seus livros:

BUARQUE, Chico. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

BUARQUE, Chico. O irmão alemão. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

“Apesar de você”

Em 1970, Chico Buarque voltou da Itália, após ser informado de que a situa­ção política no Brasil tinha melhorado. No entanto, ao ver que o cenário político do país continuava o mesmo, ele compôs a canção “Apesar de você”. Leia, a seguir, a letra dessa canção.

Apesar de você

“(Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda

Falou, tá falado

Não tem discussão, não

A minha gente hoje anda

Falando de lado

E olhando pro chão, viu

Você que inventou esse estado

E inventou de inventar

Toda a escuridão

Você que inventou o pecado

Esqueceu-se de inventar

O perdão


Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Eu pergunto a você

Onde vai se esconder

Da enorme euforia

Como vai proibir

Quando o galo insistir

Em cantar

Água nova brotando

E a gente se amando

Sem parar

Quando chegar o momento

Esse meu sofrimento

Vou cobrar com juros, juro

Todo esse amor reprimido

Esse grito contido

Este samba no escuro

Você que inventou a tristeza

Ora, tenha a fineza

De desinventar

Você vai pagar e é dobrado

Cada lágrima rolada

Nesse meu penar


Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Inda pago pra ver

O jardim florescer

Qual você não queria

Você vai se amargar

Vendo o dia raiar

Sem lhe pedir licença

E eu vou morrer de rir

Que esse dia há de vir

Antes do que você pensa


(Apesar de você)


Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Você vai ter que ver

A manhã renascer

E esbanjar poesia

Como vai se explicar

Vendo o céu clarear

De repente, impunemente

Como vai abafar

Nosso coro a cantar

Na sua frente


(Apesar de você)


Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Você vai se dar mal

etcétera e tal, la, laiá, la, laiá

BUARQUE, Chico. Apesar de você. In: BUARQUE, Chico.Chico Buarque. Rio de Janeiro: Philips: Polygram, 1978. Faixa 11.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Em sua opinião, quem seria “você” a que Chico Buarque se refere na canção “Apesar de você”?
  2. Ouça o áudio “’Apesar de você’, de Chico Buarque de Hollanda” e responda: em sua opinião, essa canção pertence a que estilo musical? Comente sua resposta com os colegas.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

  1. Que diferenças você percebe entre o ritmo dessa canção e o de “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré?
  2. Atualmente, há artistas brasileiros que usam a música para protestar contra situações de violação dos direitos humanos? Faça uma breve pesquisa sobre o assunto, registre os resultados no diário de bordo e compartilhe-os com os colegas.
    Ícone. Diário de bordo.
Respostas e comentários

Contextualização

Para conhecer mais sobre Chico Buarque, leia um trecho da entrevista do jornal El País com o artista:

reticências

P. [Pergunta] Por que a música popular brasileira é tão conhecida e a literatura não?

R. [Resposta] reticências É verdade, por exemplo, que a Argentina é um povo mais literário do que o brasileiro. E os escritores brasileiros também jogam com uma desvantagem, porque o português é mais desconhecido. E a riqueza musical brasileira é facilmente exportável, não precisa de tradução.

P. Por outro lado, por que a música brasileira é tão aceita, tão apreciada?

R. Porque, principalmente depois da bossa nova, tem a influência negra, é filha do samba, mas com um toque de jazz, um toque harmônico. E também tem influência dos grandes compositores da música clássica.

Veja: Tom Jobim, nosso grande mestre, era um conhecedor profundo de e Dêbicí, dos impressionistas, entre muitos outros. E tudo isso está em nossa música, misturado, junto com os boleros cubanos e os ritmos mexicanos. O Brasil não exclui, assimila. O resultado foi complexo, rico e único.

BARCA, Antonio Jiménes. Chico Buarque: “A música brasileira não exclui, assimila”. El País, 25 maio 2015. Disponível em: https://oeds.link/a5dwdA. Acesso em: 13 maio 2022.

Foco na linguagem

  1. Apesar de disfarçar sua crítica em uma suposta briga de namorados, Chico Buarque a endereça ao governo militar.
  2. A canção de Chico Buarque é um samba. Ajude os estudantes a perceber o ritmo e a presença dos instrumentos de percussão.
  3. Ajude os estudantes a perceber as diferenças no ritmo e no andamento das duas músicas. Informe-os de que a música “Pra não dizer que não falei das flores” é acompanhada apenas de violões (base e solo). Na música “Apesar de você”, é possível notar, além do violão, a presença de vários instrumentos de percussão.
  4. Oriente a pesquisa dos estudantes. Ela pode ser realizada na internet. Instrua-os a registrar no diário de bordo, se possível, a letra da canção, o nome do compositor e o do intérprete, a data da composição, o tema da canção e a quem está endereçada a crítica.

O rock na década de 1980

Nos anos 1980, o rock nacional adquiriu a característica de representar os ideais de protesto e descontentamento político e social. Nessa época, as letras desse estilo musical passaram a refletir sobre a situação política e econômica do país. Foi nesse contexto que surgiram bandas como Barão Vermelho, Titãs, Os Paralamas do Sucesso e Legião Urbana.

Barão Vermelho

A banda Barão Vermelho foi formada no Rio de Janeiro em 1981 e lançou os músicos Cazuza (1958-1990) e Roberto roberto frejá, principais compositores e intérpretes das canções desse grupo. As canções “Bete Balanço” e “Maior abandonado”, por exemplo, dois dos maiores sucessos do Barão Vermelho, são de autoria da dupla.

Com a saída de Roberto roberto frejá do Barão Vermelho, em 2017, o grupo passou a contar com Guto Goffi (baterista), Maurício Barros (tecladista), ambos da formação original, Rodrigo Suricato (vocalista), Rodrigo Santos (contrabaixista) e Fernando Magalhães (guitarrista).

Fotografia. Cinco homens em uma sala de paredes verdes. Eles fazem pose para a foto. Quatro deles usam bonés ou chapéu. À esquerda, há uma escada de madeira apoiada na parede.
Os músicos Guto Goffi, Maurício Barros, Rodrigo Suricato, Rodrigo Santos e Fernando Magalhães, do Barão Vermelho, em fotografia no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 2017.

Titãs

A banda Titãs foi criada em 1982 e gravou seu primeiro álbum em 1984. Ao longo dos anos, diversos cantores e compositores foram lançados pelos Titãs, como Arnaldo Antunes e Nando Reis, que seguiram carreira solo após saírem da banda. A formação original dos Titãs contava ainda com os músicos Charles Gavin e Marcelo Fromer (1961­-2001). Atualmente, os Titãs contam com os seguintes artistas: Tony Bellotto toca guitarra; Branco Mello faz o vocal e toca baixo elétrico; Sérgio Britto faz o vocal, toca teclados e baixo elétrico; Mario Fabre toca bateria; e Beto Li toca guitarra.

Fotografia. Cinco homens vestidos com roupas pretas estão posicionados em uma escada, e todos se apoiam no corrimão, fazendo pose para a foto.
Mario Fabre, Tony Bellotto, Beto Li, Branco Mello e Sérgio Britto, dos Titãs, em São Paulo em 2016.
Respostas e comentários

Contextualização

Ao iniciar este tópico, comente com os estudantes que, na década de 1980, várias bandas de rock tornaram-se populares no Brasil, conquistando grandes plateias. Era o chamado rock nacional, que atingia as diferentes camadas sociais brasileiras.

Comente que as canções produzidas por esses grupos, ainda sob o reflexo dos anos do Regime Militar, em geral, tinham caráter de denúncia ou protesto em relação à situação política do país.

Comente ainda que, nessa época, formaram-se bandas como Barão Vermelho, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Ira!, Capital Inicial, Plebe Rude, Ultraje a Rigor e érre pê ême. Pergunte aos estudantes se conhecem esses grupos e se sabem quais deles ainda estão em atividade.

Sugestão de atividade

Observe com os estudantes que estas bandas são originárias das grandes capitais brasileiras. Nessas cidades, comumente, estão concentrados os grandes estúdios de gravação e produtoras que contratam essas bandas, facilitando o seu sucesso e o reconhecimento pelo grande público em âmbito nacional.

Inicialmente, promova um debate, em aula, abordando as seguintes questões:

  • Como os musicistas mais famosos do Brasil se tornam conhecidos?
  • Atualmente, é possível ser reconhecido nacionalmente sem a utilização das mídias sociais e plataformas digitais?

Essa pode ser uma oportunidade de abordar o tema Trabalho, que integra o Tema contemporâneo transversal Economia.

Proponha aos estudantes uma pesquisa na internet ou em entrevistas com musicistas da sua região sobre artistas e bandas que não estão vinculados a grandes estúdios ou produtoras, isto é, são conhecidos como musicistas independentes. Agende uma data para a exposição das informações coletadas.

Ressalte que os grupos independentes utilizam a internet para se autodivulgarem, possibilitando o acesso à sua produção musical pelo público, mesmo desvinculados de grandes gravadoras ou produtoras musicais.

Caso seja possível, escute a produção musical desses grupos e compare com os artistas que atualmente se encontram no cenário pop.

Vale destacar que esse assunto será aprofundado no próximo Tema.

Os Paralamas do Sucesso

Formada em 1982, a banda Os Paralamas do Sucesso conta com o guitarrista e cantor rérbert Vianna, o baixista Bi Ribeiro e o baterista João Barone como seus integrantes. Ao longo dos anos, essa banda lançou canções de muito sucesso, como “Óculos”, “Meu erro” e “Uma brasileira”.

Fotografia. Três homens sentados. Da esquerda para a direita: homem de cabelo curto grisalho e barba, vestido com camiseta cinza; homem calvo, de óculos, vestido com uma camisa vinho, está em uma cadeira de rodas; e homem de cabelo loiro e barba longa, vestindo camiseta lilás.
João Barone, rérbert Vianna e Bi Ribeiro, integrantes dos Paralamas do Sucesso, no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 2014.

Legião Urbana

Em Brasília Distrito Federal , em 1982, Renato Russo (1960-1996) se reuniu com três amigos e criou uma das bandas de maior expressividade da história do rock brasileiro, a Legião Urbana. Nessa década, o Distrito Federal foi o berço de diversas bandas de rock, como Capital Inicial e Raimundos. Em 1985, além do cantor e compositor Renato Russo, a banda contava com Marcelo Bonfá na bateria, Dado Villa-Lobos na guitarra e Renato Rocha no baixo elétrico, e foi com essa formação que eles lançaram o primeiro álbum intitulado Legião Urbana. A banda permaneceu em atividade até 1996, ano de falecimento de Renato Russo.

Fotografia. Três homens na varanda de um apartamento com vista para outros prédios. Da esquerda para a direita: homem de cabelo curto preto e óculos escuros, vestido com camiseta branca; homem de óculos e barba curta, vestido com camiseta branca e camisa estampada vermelha por cima; homem de cabelo curto loiro, vestido com camiseta vermelha.
Os músicos Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 1993.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Você conhece canções das bandas apresentadas nesta página e na página anterior? Em caso afirmativo, fale sobre elas com os colegas.
  2. Forme um grupo com cinco colegas. Pesquisem e registrem, no diário de bordo, as bandas de rock nacionais que fazem sucesso hoje. Na data agendada pelo professor, apresentem os resultados aos colegas.
    Ícone. Diário de bordo.
Respostas e comentários

Foco na linguagem

  1. É possível que os estudantes conheçam canções das bandas mencionadas, pois todas ainda fazem muito sucesso entre o público jovem. Muitas canções desses grupos são regravadas e utilizadas como trilhas de filmes, novelas e outros programas de televisão. Comente com eles que, nos últimos anos, a vida e a obra da banda Legião Urbana influenciaram a produção de filmes. É o caso de Somos tão jovens (2013), do diretor Antonio Carlos da Fontoura, que retrata a vida de Renato Russo e a formação da Legião Urbana, e de Faroeste caboclo (2013), de René Sampaio, que é uma adaptação da canção homônima.
  2. Auxilie os estudantes na formação dos grupos e na seleção das fontes de pesquisa. Se julgar pertinente, peça a eles que organizem uma playlist com canções das bandas pesquisadas e compartilhem a seleção com os colegas.

A obra de Cazuza

O cantor e compositor Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, foi vocalista da banda Barão Vermelho até 1985, quando deu início à sua carreira solo.

Mesmo após deixar o Barão Vermelho, Cazuza manteve sua parceria musical com Roberto roberto frejá, coautor de muitas canções gravadas por Cazuza em seus discos solo. Entre as canções de sucesso gravadas por Cazuza estão “Codinome Beija-flor”, “Ideologia”, “O tempo não para”, “Faz parte do meu show” e “Brasil”.

Fotografia. Cantor se apresenta em um show. Ele tem cabelo curto castanho e uma faixa amarela amarrada na cabeça, vestido com uma camiseta regata lilás e gravata vermelha.
Cazuza em show no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 1985.

A música “Brasil” foi lançada por Cazuza em 1988, no álbum Ideologia. Nessa época, após anos de ditadura, o país passava por um processo de redemocratização, período em que foram restituídos os direitos de cidadania. Nesse mesmo ano, foi promulgada a Constituição de 1988, que ficou conhecida como “Constituição cidadã”. Esse panorama político e social vivido pelos brasileiros após mais de vinte anos de Regime Militar está presente na letra da canção “Brasil”. Na próxima página, você realizará atividades com base nessa letra.

Fotografia. Capa de CD. Ilustração colorida com muitos símbolos nas letras que formam o título da obra: "Cazuza – Ideologia". Há símbolos de paz, anarquismo, socialismo etc.
Ideologia foi o terceiro álbum lançado por Cazuza em carreira solo. “Brasil” está entre as canções que fazem parte desse álbum.
Respostas e comentários

Contextualização

O texto a seguir aborda a importância de Cazuza (1958--1990) para a história da música brasileira e compara-o ao poeta romântico Álvares de Azevedo (1831­-1852). Se possível, explore essa relação em parceria com o professor de Língua Portuguesa.

[Álvares de Azevedo e Cazuza: semelhanças e diferenças]

“Assim como Álvares de Azevedo é considerado o poeta maldito do romantismo brasileiro, Cazuza é considerado o poeta maldito do rock brasileiro dos anos 1980.

Suas letras marcantes e personalíssimas lhe deram o título de letrista mais agressivo do rock.

Assim como Álvares de Azevedo surpreendeu toda uma geração com sua poesia e personalidade dualista baseada na contradição, talvez a contradição que ele sentisse como adolescente: ora se mostra casto, sentimental, ingênuo, ora se mostra descrente no amor, pessimista, melancólico, Cazuza também surpreendeu sua geração, sua família e a geração de músicos da década de 1980 com textos poéticos de intenso lirismo, crítica social, sátira, caracterizando-se como um Neorromântico em plena época pós-moderna.

reticências

Com criatividade, poeticidade e lirismo, Cazuza fez do rock, ritmo musical que nasceu nos Estados Unidos, um ritmo brasileiro com características próprias. reticências

Cazuza conseguiu quebrar tabus dos grandes meios de comunicação em relação ao rock. Com o Brasil saindo do período da ditadura, ironicamente ele teve acesso ao maior veículo de comunicação, a Rede Globo, que incluiu suas músicas nas trilhas sonoras de suas telenovelas. Paradoxalmente, essas músicas criticavam a burguesia e instigavam os formadores e detentores do poder.”

LIMA, Givaldo Kleber Albuquerque. Cazuza: o último dos românticos? In: SILVA, Enaura Quixabeira Rosa Miradas literárias: leituras de textos brasileiros. Maceió: Edufal, 2004. página 140-141.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

Leia, a seguir, a letra da canção “Brasil”, ouça o áudio “’Brasil’, de Cazuza, George Israel e Nilo Romero” e responda às questões.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Brasil

“Não me convidaram

Pra esta festa pobre

Que os homens armaram

Pra me convencer

A pagar sem ver

Toda essa droga

Que já vem malhada

Antes de eu nascer…


Não me ofereceram

Nem um cigarro

Fiquei na porta

Estacionando os carros

Não me elegeram

Chefe de nada

O meu cartão de crédito

É uma navalha…


Refrão

Brasil!

Mostra tua cara

Quero ver quem paga

Pra gente ficar assim

Brasil!

Qual é o teu negócio?

O nome do teu sócio?

Confia em mim…


Não me convidaram

Pra essa festa pobre

Que os homens armaram

Pra me convencer

A pagar sem ver

Toda essa droga

Que já vem malhada

Antes de eu nascer…


Não me sortearam

A garota do Fantástico

Não me subornaram

Será que é o meu fim?

Ver TV a cores

Na taba de um índio

Programada

Pra só dizer ‘sim, sim’


Refrão


Grande pátria

Desimportante

Em nenhum instante

Eu vou te trair

Não, não vou te trair…


Refrão


Confia em mim

Brasil!!”

CAZUZA; ISRAEL, George; ROMERO, Nilo. Brasil. In: CAZUZA. Ideologia. Rio de Janeiro: PolyGram, 1988. Faixa 6.

  1. Qual seria a intenção dos autores ao usar a expressão “Brasil! Mostra tua cara” no refrão da canção? Dê a sua opinião e ouça a dos colegas.
  2. Pesquise outras canções da música brasileira desse período que também buscavam colocar em discussão alguma questão política ou social. Depois, apresente-as aos colegas na data previamente agendada pelo professor.
  3. Que elementos do rock podem ser identificados nessa canção?
  4. Com a orientação do professor, forme um grupo com quatro colegas. Escrevam uma paródia da música “Brasil” para retratar algum tema escolhido pelo grupo. Para isso, vocês devem substituir a letra original pela letra escrita pelo grupo. Para os ensaios e para a apresentação, utilizem o áudio “Versão instrumental de ‘Brasil’, de Cazuza, George Israel e Nilo Romero”. Ensaiem e, na data agendada pelo professor, apresentem-na aos colegas de turma.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Avaliação

Nessas atividades, você teve oportunidade de conhecer alguns músicos brasileiros que procuravam, em suas canções, discutir questões políticas e sociais do país. Reflita sobre as questões propostas a seguir e registre essas reflexões em seu diário de bordo.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Na sua opinião, a atitude desses músicos foi uma característica exclusiva daquele período no qual o Brasil estava sob o Regime Militar?
  2. Conhece algum artista atual que tenha esse tipo de proposta? Em caso afirmativo, quais são as questões políticas ou sociais abordadas por esse músico em sua obra?
Respostas e comentários

Experimentações

  1. Espera-se que os estudantes comentem que esse trecho se refere ao momento histórico vivido no Brasil, em que se pretendia dar ao país uma “nova cara”, após muitos anos de Regime Militar. Apresente-lhes mais informações sobre o período de redemocratização. Observe que os compositores sugerem a necessidade de transparência e clareza nos processos decisórios pedindo que o Brasil se exponha, o que pode ser associado aos processos eleitorais anteriores à democracia, que aconteciam por via indireta.
  2. Organize inicialmente um período para que a pesquisa seja realizada. Ela pode ser feita na internet ou por meio de entrevistas com pessoas que viveram naquele período. Estipule também com os estudantes qual será a fórma de registro dessa pesquisa, para facilitar a apresentação dos dados coletados. Caso julgue necessário, mostre algumas gravações e discuta na sala.
  3. Espera-se que os estudantes comentem o ritmo e a presença da guitarra elétrica e da bateria.
  4. Explique aos estudantes que a paródia é uma imitação cômica, irônica ou bem-humorada de uma obra musical. Para fazer uma paródia, é importante estudar o assunto a ser abordado. Assim, é fundamental que eles realizem uma pesquisa sobre o tema escolhido. Para compor a paródia, os estudantes deverão estar atentos ao ritmo da música. Depois, deverão cantar verificando se a criação se encaixa no ritmo. Reserve tempo para a composição e para o ensaio. Sendo assim, faz-se necessária mais de uma aula para organização e execução desta atividade. Agende uma data para a apresentação e, depois, promova um debate para que todos possam comentar e avaliar a atividade.

Avaliação

O objetivo dessa avaliação é fazer com que os estudantes tragam a discussão para o momento atual. Incentive-os a buscar em suas referências musicais os artistas contemporâneos que usam suas músicas como uma fórma de denúncia ou crítica aos problemas atuais.

Glossário

Prontidão
: falta de dinheiro.
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Metáfora
: designação de um objeto ou característica mediante uma palavra que designa outro objeto ou característica que tem com o primeiro uma relação de semelhança.
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