Unidade 2  A arte hoje

Fotografia. Instalação feita com diversos objetos na cor vermelha em uma sala ampla retangular com paredes cinza claro e teto branco iluminado. Há quadro vermelhos nas paredes e o chão também é vermelho. Há móveis na mesma cor, como sofás, cadeiras, armários, mesas etc.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação realizada com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

Nesta Unidade:

TEMA 1 Arte, espaço e participação do público

TEMA 2 A arte ao alcance de todos

TEMA 3 Novos rumos

Respostas e comentários

Competências da Bê êne cê cê

As competências favorecidas nesta Unidade são:

Competências gerais: 1, 2, 4, 5, 7 e 10.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4 e 6.

Competências específicas de Arte para o Ensino Fundamental: 2, 4, 5, 7 e 8.

Objetos de conhecimento e habilidades da Bê êne cê cê

As habilidades favorecidas nesta Unidade são:

Artes visuais

Contextos e práticas

(ê éfe seis nove á érre zero um)

(ê éfe seis nove á érre zero dois)

(ê éfe seis nove á érre zero três)

Elementos da linguagem

(ê éfe seis nove á érre zero quatro)

Materialidades

(ê éfe seis nove á érre zero cinco)

Processos de criação

(ê éfe seis nove á érre zero seis)

(ê éfe seis nove á érre zero sete)

Sistemas da linguagem

(ê éfe seis nove á érre zero oito)

Artes integradas

Contextos e práticas

(ê éfe seis nove á érre três um)

Processos de criação

(ê éfe seis nove á érre três dois)

Matrizes estéticas e culturais

(ê éfe seis nove á érre três três)

Patrimônio cultural

(ê éfe seis nove á érre três quatro)

Arte e tecnologia

(ê éfe seis nove á érre três cinco)

Sobre esta Unidade

A Unidade de artes visuais foca-se na arte contemporânea, ou seja, na produção artística da segunda metade do século vinte em diante. Como será observado, há grandes mudanças na percepção artística, graças às transformações sociais, tecnológicas e políticas em curso. Os estudantes serão apresentados a um tipo de arte muito direcionado ao questionamento da vida social, com uma tendência à experimentação de novas materialidades – do corpo ao espaço; das tecnologias ao lixo; da história da arte à cidade. Por meio de experimentações e de pesquisas metodologicamente dirigidas – como a criação de um questionário e a produção de um relatório circunstanciado –, os estudantes compreenderão que a arte não é apenas um recurso autoexpressivo, mas também uma ferramenta para transformar a realidade e produzir saber e diálogo.

De olho na imagem

Fotografia. Detalhe da instalação feita com diversos objetos na cor vermelha em uma sala de paredes claras com teto branco iluminado. Há quadros na parede e o chão também é vermelho. Móveis e objetos de decoração nessa cor compõem o ambiente, como cadeira e escrivaninha, prateleiras, almofadas, armário, vasos etc.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2017.

Faça no diário de bordo.

1. Observe a imagem da abertura da Unidade e a imagem desta página. O que mais chamou sua atenção na criação do artista Cildo Meireles, retratada nessas fotografias?

Versão adaptada acessível

1. Ouça a descrição da imagem da abertura da Unidade e a da  imagem desta página. O que mais chamou sua atenção na criação do artista Cildo Meireles, retratada nessas fotografias?

2. Após observar as imagens, você imagina como o artista criou essa obra?

Versão adaptada acessível

2. Com base na descrição das imagens, você imagina como o artista  criou essa obra?

3. No diário de bordo, faça uma lista dos objetos que você reconhece na obra de Cildo Meireles. Apresente sua lista aos colegas e observe a lista que eles fizeram.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Em sua opinião, por que o artista teria escolhido a cor vermelha para produzir essa obra?
  2. Por que, em sua opinião, Cildo Meireles usou a palavra impregnação no título que deu à obra?
  3. Agora, pense que título você daria a essa obra de Cildo Meireles. Comente com os colegas.
  4. Se você fosse realizar uma criação artística parecida com a obra retratada nas fotografias, que cor ou que cores utilizaria para compor o trabalho? Por quê?
Versão adaptada acessível

7. Se você fosse realizar uma criação artística parecida com a obra retratada nas fotografias, que cores ou objetos utilizaria para compor o trabalho? Por quê?

Respostas e comentários

De olho na imagem

Durante a leitura de imagem que esta seção possibilita, observe como os estudantes interpretam a transição do foco da obra para o objeto ou da “tela” para o espaço. Você deve verificar como eles interpretam a obra e se percebem que os critérios de relação com essa obra não são apenas visuais. Atenção também para o uso de vocabulários específicos das artes visuais. Este é o momento para identificar possíveis lacunas na aprendizagem, com fins a uma rearticulação dos conteúdos dos Temas, se necessário. A conversa sobre esta imagem deve funcionar como uma avaliação diagnóstica, para facilitar a sua condução pedagógica nas próximas páginas.

  1. É possível que os estudantes manifestem estranhamento em relação ao fato de alguns objetos pintados de vermelho pelo artista não terem normalmente essa cor (por exemplo, a gaiola vermelha, que em geral tem a cor do metal ou da madeira de que é feita).
  2. Espera-se que eles percebam se tratar de um espaço organizado pelo artista.
  3. Esse é um exercício de percepção e leitura formal da obra. Desvio para o vermelho um: impregnação é composta de vários objetos que, reunidos, formam um conjunto, mas, analisados separadamente, podem apresentar outras informações sobre a obra. Ajude os estudantes a perceber esses objetos − relacionando-os por escrito no diário de bordo − e a notar que alguns deles geralmente não são encontrados na cor vermelha. Comente que Cildo Meireles fez um trabalho extenso de pesquisa, coleta e organização para chegar a esse resultado.
  4. Depois de ouvir os estudantes, comente que é possível que essa cor tenha sido utilizada para simbolizar a situação política do Brasil na época (em 1967, o país era governado pelo Regime Militar). Se julgar oportuno, comente com eles que essa obra faz referência a uma teoria da Física aplicada à Astronomia. “Desvio para o vermelho” é o nome de um padrão usado pelos físicos para determinar a distância das galáxias e dos corpos celestes e é também usado como prova da teoria da expansão do Universo.
  5. Uma das hipóteses elaboradas poderá ser a de que o artista escolheu essa palavra porque, no ambiente criado por ele, o vermelho parece completar o espaço.
  6. Incentive os estudantes a pensar em títulos para a criação de Cildo Meireles. Esta e a próxima questão possibilitam que eles ressignifiquem a obra, atribuindo-lhe novos sentidos.
  7. Mais uma vez é importante que os estudantes se sintam à vontade para realizar um exercício de imaginação com base na obra de Cildo Meireles.

Artista e obra

Cildo Meireles

Fotografia. Homem de boné preto, vestido com camisa marrom.
O artista plástico Cildo Meireles durante abertura da mostra do 34º Panorama da Arte Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna (mân) de São Paulo, em 2015.

Considerado um dos mais versáteis artistas brasileiros da atualidade, Cildo Meireles nasceu no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), em 1948. Aos 10 anos, mudou-se para Brasília (Distrito Federal), onde, em 1963, iniciou seus estudos artísticos sob a orientação do pintor e ceramista peruano alerrandro (1921-2013).

Em 1967, Cildo Meireles retornou para o Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) e estudou por dois meses na Escola Nacional de Belas Artes (êmba) – atualmente conhecida como Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – e frequentou o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (mân-Rio). É a partir dessa época que ele passa a se dedicar à criação de obras que propõem uma experiência sensorial em espaços arquitetônicos. É o caso de Desvio para o vermelho, retratada na abertura desta Unidade.

Meireles utiliza diferentes materiais para produzir suas obras. Para construir a instalação Babel, por exemplo, ele empilhou centenas de aparelhos de rádio.

Fotografia. Duas mulheres observam uma instalação composta de uma grande torre construída com diferentes tipos de rádio, antigos e novos, no interior de um salão com paredes altas.
MEIRELES, Cildo. Babel. 2001. Instalação com aparelhos de rádio, 5 métros (altura). Tate Modern, Londres, Reino Unido. Fotografia de 2014.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Na instalação Babel, os aparelhos de rádio estão todos ligados e sintonizados em estações diferentes. Você consegue imaginar o resultado sonoro dessa instalação? Como essa proposta se relaciona com o título escolhido por Cildo Meireles?

Respostas e comentários

Artista e obra

A abertura com o artista Cildo Meireles anuncia que a arte contemporânea será o grande tema de trabalho, com sua variedade de suportes, modos de produção e espaços de circulação.

Realize uma leitura de imagem da fotografia da instalação Babel.

Pergunte aos estudantes se já viram um trabalho de arte como este, isto é, um trabalho que ocupa todo o espaço de uma exposição. Você poderá anunciar que esse tipo de trabalho, tal como eles estudarão adiante, é uma instalação.

Pergunte aos estudantes quais relações eles podem fazer entre a ideia de Babel e os dias de hoje. Existe algum meio em que uma profusão de vozes e falas se encontre, sem que ninguém se entenda? Que relações podem ser feitas, por exemplo, com a internet?

Pergunte a eles o que acham de um trabalho de arte que não exige uma habilidade manual do artista, como nas técnicas de desenho, pintura ou modelagem. O que significa pensar a arte a partir da apropriação de objetos industriais, como no exemplo dos rádios da escultura? O que isso muda na nossa concepção sobre a arte e os artistas?

As respostas para todas essas perguntas são pessoais e não é necessário chegar a uma conclusão, já que os estudantes verão conteúdos que lhes possibilitarão conhecer mais sobre a arte contemporânea.

Aproveite essa conversa para saber mais sobre o repertório cultural dos estudantes, mapear os seus interesses e, ocasionalmente, reorientar as abordagens propostas pelo livro a depender do grupo e do contexto cultural em que os estudantes estão inseridos.

Foco na linguagem

1. Espera-se que os estudantes mencionem que, ao serem ligados ao mesmo tempo e em estações diferentes, os rádios acabam “competindo” entre si, o que resulta na dificuldade de entender o som que cada um está emitindo. A respeito do título da obra, espera-se que os estudantes comentem que se trata de uma referência à “Torre de Babel”, história bíblica de uma torre alta o suficiente para alcançar os céus, o que, ofendendo a Deus, levou-o a fazer com que os construtores passassem a falar em línguas diferentes e se tornassem incapazes de se comunicar.

TEMA 1 Arte, espaço e participação do público

Um espaço monocromático

A obra reproduzida nas páginas da abertura não é uma pintura nem uma escultura. Para fazê-la, o artista Cildo Meireles selecionou diferentes objetos e os organizou em um espaço arquitetônico interno. A esse tipo de obra dá-se o nome instalação.

Em Desvio para o vermelho um: Impregnação, o espectador é convidado a explorar o espaço criado pelo artista: um ambiente em que todos os objetos são vermelhos, com variações claras ou escuras dessa cor. Por essa razão, podemos afirmar que essa é uma obra monocromática. Note essa variação cromática nos objetos retratados na fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Instalação feita com diversos objetos na cor vermelha em uma sala de paredes cinza claro com teto branco iluminado. Ao fundo, há duas pessoas observando objetos da instalação.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

Concebida em 1967, montada em diferentes versões desde 1984 e exibida no Instituto Inhotim em caráter permanente desde 2006, a obra Desvio para o vermelho é formada por três ambientes articulados entre si. Impregnação é o primeiro deles.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Você sabia que um espaço organizado ou construído por um artista pode ser considerado uma obra de arte? Comente com o professor e os colegas.

Respostas e comentários

Objetivos

  • Conhecer aspectos da obra do artista Cildo Meireles.
  • Entender o conceito de instalação.
  • Reconhecer a proposta de participação do espectador na produção artística visual contemporânea.
  • Identificar e reconhecer características do movimento neoconcreto.
  • Reconhecer a importância da obra de Hélio Oiticica e de Lygia Clark e suas influências na produção de artistas contemporâneos.
  • Entender como artistas contemporâneos utilizam novas tecnologias na criação de suas obras.
  • Conhecer artistas que promovem a preservação do meio ambiente com suas obras.
  • Conscientizar-se a respeito da importância da preservação ambiental.
  • Identificar a arte, de maneira geral, como intervenção crítica na cultura e na sociedade.
  • Participar do trabalho de criação de uma instalação.
  • Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.
  • Apreciar e valorizar obras de arte de diferentes períodos históricos.

Habilidades favorecidas neste Tema

(ê éfe seis nove á érre zero um), (ê éfe seis nove á érre zero dois), (ê éfe seis nove á érre zero três), (ê éfe seis nove á érre zero quatro), (ê éfe seis nove á érre zero cinco), (ê éfe seis nove á érre zero seis), (ê éfe seis nove á érre zero sete), (ê éfe seis nove á érre três um) e (ê éfe seis nove á érre três cinco).

Contextualização

Comente com os estudantes que a experiência sensorial se dá no cromatismo do vermelho (luz e contraste) e na ausência de luz e de som.

Reforce a ideia de que Desvio para o vermelho é uma instalação, uma das técnicas mais utilizadas pelos artistas contemporâneos. Explique aos estudantes que uma das principais características da instalação é sua relação com o espaço e o tempo. Sobre esse tema, leia o texto a seguir.

[Instalação: espaço e tempo]

“A Instalação, como obra espacial, depende do espaço para sua própria existência. O espaço faz parte da obra. Ele não é simplesmente um lugar onde ela se instala, mas, em boa parte dos casos, é da apropriação do espaço que ela emerge, é nele que a obra se concretiza. reticências Por essa razão, quando falamos que uma Instalação é efêmera, não estamos nos referindo a uma fruição pessoal da obra, como no caso de várias outras obras de arte, mas do fato de ela ser ‘de fato’ efêmera.

Na prática da Instalação temos vários exemplos de obras que foram idealizadas para serem montadas em local e tempo predeterminados, ou seja, obras cuja existência se dá de fórma efêmera. A efemeridade da Instalação pode advir de vários pressupostos, como, por exemplo, obras feitas a partir de material perecível. Obras desse tipo são feitas para serem finitas. Quando e se são recriadas são, de certa fórma, uma nova obra, uma releitura de sua primeira experiência sensível como uma experiência artística que teve começo, meio e fim; a qual está sendo repetida, mas não é mais a mesma obra.

reticências

reticências Praticamente toda Instalação ‘acontece’ em espaço e tempo determinados. Toda vez que uma Instalação é montada é como se ela se renovasse e na verdade fosse uma nova obra. Ela sempre tem que se adaptar ao novo espaço e, através dele, a mesma se modifica. É no espaço que ela acontece, e, por isso, se o espaço muda, a obra muda.

reticências

Portanto, espaço e tempo são para a Instalação, muito mais do que para qualquer outro fazer artístico, um espaço-tempo específico, onde tanto o espaço quanto o tempo, ou o ‘onde’ e o ‘quando’, determinam de fato a obra. Assim, a obra, o espaço e o tempo, em contínuo movimento, trazem à tona todos seus antagonismos, os quais são essenciais para a experiência sensível da própria, quando a mesma se materializa em espaço-tempo determinado. As Instalações são então mais do que objetos, processos que, em sua metamorfose contínua, a cada nova montagem operam mutações formais, simbólicas e espaço-temporais.

A experiência plástica, na Instalação, cria então possibilidades espaço-temporais para a efetiva ação construtiva da obra, colocando, assim, não só a obra, mas todo seu espaço circundante como um universo em movimento, tanto físico quanto simbólico. O fazer artístico é assim entendido como um estado de trocas contínuas entre a obra, o espaço e o observador/experimentador da obra, através do tempo e pelo tempo. Assim, os trabalhos através do espaço-tempo se reordenam em outros espaços, transformando-se em outro, através de seus reposicionamentos formais e temporais, ganhando assim um novo significado simbólico. reticências

SILVA, Luciana Bosco e. Instalação: espaço e tempo. Tese (Doutorado) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012. página 47; 52-53.

Foco na linguagem

1. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, comente o estranhamento que muitas obras artísticas podem provocar no espectador. Explique que esse estranhamento ocorre porque obras como Desvio para o vermelho não seguem os padrões adotados pela maioria das pessoas para definir arte, além de retirar o público da “zona de conforto”, por estar diante de manifestações não tradicionais, como a pintura e a escultura, e estimular uma nova reflexão. Se julgar oportuno, amplie as discussões e peça aos estudantes que falem a respeito do que consideram arte. Peça-lhes que mencionem obras e artistas de que gostam e expliquem a razão dessas escolhas.

Impregnação

O primeiro ambiente de Desvio para o vermelho um: Impregnação – retratado nas páginas anteriores – coloca o espectador em contato com uma coleção de objetos e obras de arte em diferentes tons de vermelho. Os móveis, os objetos e os quadros preenchem quase todas as paredes, provocando um grande contraste.

Note que Impregnação é uma sala que tem um clima doméstico, mas todos os objetos são vermelhos ou de cores próximas ao vermelho. A sala é composta de ventiladores,notebook, estante, livros, cadeiras, máquina de escrever, mesas, quadros, plantas, aquário, entre outros.

Fotografia. Detalhe da instalação com móveis vermelhos: uma gaiola vermelha arredondada com um pássaro vermelho sobre o poleiro.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho um: Impregnação. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

Os móveis e os objetos estão organizados no espaço interno no sentido do comprimento, de maneira que o espaço se abra e convide o público a adentrá-lo. Os objetos foram encostados nas paredes claras para que pudessem, por meio do contraste, ser mais bem observados pelos espectadores.

A disposição de alguns deles sugere a presença humana – roupas distribuí­das aleatoriamente, uma máquina de escrever, animais domésticos (peixe e passarinho), plantas etcétera Os quadros e objetos pendurados são utilizados para também preencher com excesso de vermelho as paredes do espaço.

Entorno e Desvio

No ambiente Impregnação há apenas uma saída, no canto, que conduz a uma sala pouco iluminada, muito estreita e onde há uma garrafa “deitada” no chão. Esse ambiente chama-se Entorno. Nele, o líquido vermelho que escorre pelo gargalo da garrafa repousada no chão torna-se uma superfície que recobre o piso. A impressão que se tem é de que a quantidade de líquido derramada é muito maior do que a quantidade que o interior da garrafa poderia conter. Além disso, a fórma como o líquido e a garrafa estão dispostos parece contrariar as leis naturais da física, causando no espectador a sensação de perturbação. Observe a fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Instalação que apresenta uma garrafa caída que deixa escorrer tinta vermelha em um grande rastro sobre o chão preto.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho dois: Entorno. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.

O terceiro ambiente, Desvio, tem proporções semelhantes às do ambiente Impregnação e é uma sala escura que tem uma pia clara instalada em um ângulo inclinado.

Ao caminhar por essa sala, o espectador é surpreendido com o som de água que escorre por uma torneira. Uma nova sensação de perturbação ocorre quando o espectador descobre que a água também tem um tom vivo de vermelho. A inclinação da pia faz o líquido arrastar-se pelo interior da pia antes de descer pelo ralo.

Fotografia. Instalação que apresenta uma pia suja com a torneira aberta de onde escorre um líquido vermelho.
MEIRELES, Cildo. Detalhe de Desvio para o vermelho três: Desvio. 1967-1984. Instalação com diferentes materiais, dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografia de 2007.
Respostas e comentários

Contextualização

Tente realizar uma leitura de imagem com os estudantes nesta página: por que a garrafa está “caída”? O que é o líquido vermelho escorrendo da torneira da pia? O que isso pode significar? Que relações podemos fazer entre isso e o período em que a obra foi feita?

Você deverá explicar aos estudantes que o vermelho pode remeter à violência política do período, marcado pelo desaparecimento de centenas de pessoas consideradas inimigas políticas do governo, por serem contra a ruptura democrática que a ditadura representou.

Para dar subsídio a essa abordagem do trabalho, visite a página do Memorial da Resistência do Governo do Estado de São Paulo, em que conteúdos sobre esse período podem ser acessados com adequação à abordagem para a Educação Básica, disponíveis em: https://oeds.link/rMU5Kf. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Você também pode comentar com os estudantes que o trabalho foi feito em uma época em que muitos artistas decidiram fazer da arte um caminho de contestação política direta, ao que se convencionou chamar de arte política.

Leia o texto a seguir, em que Cildo Meireles trata de seu processo de criação em Desvio para o vermelho.

O espaço sensorial em “Desvio para o vermelho”

“Eu imaginei que, de repente, você estava numa sala e, não interessava saber por que razão, todos os objetos eram vermelhos. Queria o máximo possível de tonalidades de vermelhos ‘naturais’. Eu tinha feito dois projetinhos: um era uma garrafa pequena tombada no chão e tinha uma grande poçareticências E o outro era uma pia com uma torneira aberta, mas com inclinaçãoreticências O jato d’água saindo, transparente, e a inclinação da pia de maneira que não fizesse uma curva, quer dizer, que ignorasse a lei da gravidade. reticências Eu vi que essas duas coisas criavam um encadeamento interessante de falsas lógicas. reticências De uma certa maneira, a garrafa explica a sala, mas na verdade o que ela introduz é a ideia de horizonte perfeito que é a superfície de um líquido em repouso. E, caminhando mais, você chega nessa pia que desmente justamente essa ideia de horizonte perfeito, e introduz esse desvio. Na verdade, o que acontece são desvios de desvios, assim como a primeira sala, que é uma coleção de coleções. Coleções de coisas dentro da geladeira, coisas na escrivaninha, coleção de roupas no guarda-roupa, copos, talheres, livros.”

BORGES, Carolina da Rocha Lima. O espaço sensorial em “Desvio para o vermelho”. Revista Estética e Semiótica, Brasília, volume 4, número 1, página 73-74, janeiro até junho 2014.

Por dentro da arte

As sensações despertadas pelas cores

A escolha das cores utilizadas ao realizar uma obra é um dos aspectos mais importantes quando um artista visual elabora sua criação. Em Desvio para o vermelho, por exemplo, Cildo Meireles possivelmente escolheu o vermelho por ser uma cor que provoca no espectador a sensação de impacto e energia.

Observe a pintura do artista Enrri Matís (1869-1954), O ateliê vermelho, reproduzida a seguir e note que, assim como na obra de Cildo Meireles que conhecemos nas páginas anteriores, ele também escolheu o vermelho como cor predominante da composição.

Pintura. Representação de uma sala pintada de vermelho com diversos quadros na parede e no chão, além de objetos variados, como um vaso de flores, um copo, duas esculturas, entre outros.
Matís, Enrri. O ateliê vermelho. 1911. Óleo sobre tela, 181 por 219,1 centímetros. Museu de Arte Moderna de Nova York (Môma), Nova York, Estados Unidos.

Enrri Matís integrava um grupo importante de pintores que ficou conhecido como fauvista. A palavra fauve tem origem no francês e significa “fera”. Esses artistas foram chamados fauvistas por utilizarem as cores puras de fórma livre, com pinceladas largas, para obter efeitos mais expressivos com as fórmas simplificadas.

As cores ganham um caráter simbólico próprio em cada cultura. Você sabe quais significados são dados à cada cor na sua cultura? Qual é a sua percepção sobre as sensações que cada cor provoca em você?

Respostas e comentários

Por dentro da arte

Nesta seção, você pode discutir com os estudantes sobre o sentido social que é dado para cada cor. Para isso, considere discutir a temática das cores por ao menos um dos diferentes caminhos:

um Os símbolos atribuídos para cada cor na sua cultura.

dois As sensações que cada cor provoca na nossa percepção, quando utilizadas em uma imagem bidimensional, mas também na pintura de espaços que frequentamos.

três A produção das tintas e cores, que variam em cada época.

Para discutir o item três, você pode comentar que, antigamente, não havia produção industrial de cores e que, por isso, os artistas fabricavam as suas próprias tintas. Além disso, muitos pigmentos, como o azul, eram bastante raros, e isso modificava o preço, de tal maneira que a aplicação das cores na arte também era condicionada a essa limitação.

Sobre a leitura da imagem, comente que a pintura de Matisse está inundada de um tom de vermelho vibrante. Um relógio de pêndulo fica aproximadamente no centro da composição, servindo de eixo vertical que traz equilíbrio e harmonia para as descontinuidades espaciais presentes na tela. Os quadros e objetos no interior desse espaço, aparentemente suspensos na imensidão do vermelho, criam ângulos e insinuam uma perspectiva na planicidade da imagem.

Um convite à experimentação

Nas páginas anteriores, você conheceu Desvio para o vermelho e descobriu que essa obra é uma instalação. A técnica da instalação é uma das mais utilizadas pelos artistas contemporâneos. No Brasil, um dos primeiros artistas a se dedicar à criação de instalações foi Hélio Oiticica (1937-1980).

A obra mostrada na fotografia desta página chama-se Tropicália e foi exposta pela primeira vez em 1967. Essa instalação é uma espécie de labirinto que deve ser percorrido pelo público. Ao entrar no labirinto, o espectador se defronta com araras e bananeiras, entre outros elementos.

Fotografia. Instalação que apresenta um espaço com areia e pequenos amontoados de pedras no chão, além de tapumes de madeira, que separam o espaço em pequenos ambientes. Há plantas diversas e, em um poleiro, uma arara-canindé.
OITICICA, Hélio. Tropicália. 1967. Instalação com diversos materiais, dimensões variadas. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (mân-Rio de Janeiro), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).

O caráter experimental e inovador das obras produzidas por Hélio Oiticica as aproximou das composições dos músicos que estiveram à frente do movimento tropicalista.

Mais tarde, a palavra tropicália daria nome ao próprio movimento.

Respostas e comentários

Contextualização

Dando continuidade à discussão sobre a percepção das cores, o Neoconcretismo será apresentado como um caminho de experimentação do apelo sensorial da arte e da construção de uma participação corporal e sensível dos públicos, envolvendo o tato e os demais sentidos como um modo de se relacionar com uma linguagem que, até então, era majoritariamente visual.

Explique aos estudantes que as obras propostas pelos artistas a partir dos anos 1960 romperam com a contemplação estática do espectador e propuseram uma interação que envolvesse todos os sentidos. Foi com base nessas ideias que o artista Hélio Oiticica criou as obras conhecidas como penetráveis, instalações em que o público devia adentrar seu espaço, tocando suas texturas, sentindo seus cheiros etcétera Explique que as obras reproduzidas nas páginas 61 e 62 são exemplos de penetráveis.

Comente com os estudantes que, em abril de 1967, foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (mân-Rio de Janeiro) a mostra Nova Objetividade Brasileira. Nessa exposição, Oiticica apresentou o penetrável Tropicália. Se possível, proponha aos estudantes a interpretação coletiva da fotografia dessa obra, destacando os elementos que fazem parte da instalação e suas relações com ícones brasileiros. Sobre esse assunto, leia o texto reproduzido a seguir.

Tropicália

reticências As imagens tropicais – donde o título – são evidentes: areia, araras, plantas. A obviedade, intencionalmente inscrita no trabalho, se associa à ideia de participação pelo processo de penetrá-lo. Um ambiente que ‘ruidosamente apresenta imagens’, segundo o seu criador, que invade os sentidos (visão, tato, audição, olfato), convidando ao jogo e à brincadeira. O uso de signos e imagens convencionalmente associados ao Brasil não tem como objetivo figurar uma dada realidade nacional – tarefa que mobilizou parte de nossa tradição artística –, mas, nos termos do artista, objetivar uma imagem brasileira pela ‘devoração’ dos símbolos da cultura brasileira. A ideia da ‘devoração’, nada casual, remete diretamente à retomada da antropofagia e ao modernismo em sua vertente oswaldiana, da qual se beneficia a obra de Hélio Oiticica.”

TROPICÁLIA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: https://oeds.link/U2zmhn. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

O Neoconcretismo

Hélio Oiticica revolucionou a arte brasileira ao produzir obras que, assim como Tropicália, convidam à interação, ou seja, à participação do espectador. Oiticica fez parte do Neoconcretismo, considerado um dos mais importantes e significativos movimentos artísticos brasileiros. Outros artistas que integraram esse movimento foram Amilcar de Castro (1920-2002), Franz váismam (1911-2005), Lygia Pape (1927-2004) e Lygia Clark (1920-1988).

Os artistas integrantes do Neoconcretismo brasileiro propuseram o resgate da produção de obras mais subjetivas e expressivas e a aproximação com o público. Em seus trabalhos, é possível observar a busca pela renovação da linguagem geométrica.

Na obra retratada nas fotografias desta página, por exemplo, o artista Hélio Oiticica trabalhou com as cores e as fórmas geométricas no espaço a fim de aproximar a obra do espectador.

Fotografia. Instalação a céu aberto. Há grandes paredes nas cores rosa, laranja, amarelo e branco no meio do parque. Entre as paredes, há pessoas que observam a obra e tiram fotos. Ao fundo, uma parede diferente na cor amarela com parede que apresenta orifícios quadrados.
Fotografia. Instalação a céu aberto com grandes paredes nas cores rosa, laranja, amarelo e branco no meio do parque. Há pessoas caminhando e observando a obra por fora das paredes.
OITICICA, Hélio. Invenção da cor, Penetrável Magic Square 5, De Luxe. 1977. Instalação ao ar livre, com dimensões variadas. Instituto Inhotim, Brumadinho (Minas Gerais). Fotografias de 2010 e 2015.
Respostas e comentários

Contextualização

Antes de abordar o Neoconcretismo, comente com os estudantes que o termo concretismo está associado às ideias do artista holandês Theo van Doesburg (1883-1931). Você pode encontrar mais informações a esse respeito no texto “Arte concreta”, nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual.

Para saber mais sobre o Neoconcretismo, leia o texto a seguir.

Arte neoconcreta

“O movimento Neoconcreto foi lançado em 1959, quando Ferreira Gullar reticências estabeleceu suas diretrizes em um manifesto divulgado durante a primeira Exposição de Arte Neoconcreta, no MAM-RJ. reticências

Gullar compreendia as experiências neoconcretas como uma retomada do processo de passagem da pintura bidimensional para o espaço tridimensional desenvolvido por Kasimir Malevich reticências. Ainda em 1959, Gullar publica a inspiradora teoria do não objeto, em que refletia sobre a revelação da fórma, independente de qualquer suporte, para que se esgotasse em si mesma.

reticências Sem abandonar o vocabulário geométrico, multiplicaram-se experimentações com diferentes linguagens, quebra de categorias, inserção de novos meios, busca da participação do espectador e integração arte/vida, atitudes que se enraizavam no movimento Dadá e – voluntariamente ou não – na Pop, mas que também estavam no ar devido às discussões levantadas pelas ideias de Hebert Marcuse, Marshall McLuhan e Umberto Eco.

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COSTA, Cacilda Teixeira da. Arte no Brasil 1950-2000: movimentos e meios. São Paulo: Alameda, 2004. página 18-19.

Você pode também procurar poemas de Ferreira Gullar para mostrar como a proposta do Neonconcretismo não se limitou às artes visuais.

Artista e obra

Lygia Clark e a série Bichos

Fotografia. Duas pessoas interagem com obras de arte em um museu. O salão apresenta quadros na parede e há esculturas dispostas em bancadas de madeira para as pessoas interagirem. Um homem de óculos e uma mulher de vestido com estampa florida manipulam esculturas de metal. Há um retângulo preto na imagem destacando um  detalhe.
Fotografia. Detalhe ampliado de mãos manipulando uma escultura de metal, com formato triangular, com hastes que formam dobras.
Detalhe de réplica de obra da série Bichos. Observe as articulações da peça. Visitantes da exposição O abandono da arte manuseiam réplicas de obras da série Bichos, de Lygia Clark, no Museu de Arte Moderna de Nova York (Môma), Estados Unidos, em 2014.

Criada em 1960, a série Bichos é composta de um conjunto de escul­­turas metálicas de fórmas geométricas que se articulam por meio de dobradiças. Observe o detalhe da imagem.

Na série Bichos, o espectador é “convidado” a experimentar as diferentes fórmas que as peças podem adquirir por meio do manuseio. A fórma final da obra, dessa maneira, é “decidida” por quem a manuseia. Portanto, cada espectador determina uma fórma distinta para ela. Muitas produções de Lygia Clark apresentam esta característica: só se completam com a intervenção direta do público.

Observe, na fotografia, Lygia Clark manuseando uma das obras originais criadas para a série Bichos.

Lygia Clark é uma das mais reconhecidas artistas brasileiras. Pioneira nas propostas que envolvem a participação do público e a exploração sensorial, a artista é uma referência não apenas para a arte contemporânea, mas também para o campo da arteterapia.

Fotografia em preto e branco. Mulher de cabelo curto segura uma escultura de metal com dobraduras que conferem características geométricas à obra.
Lygia Clark manuseia uma das obras da série Bichos. Fotografia de 1969.
Respostas e comentários

Artista e obra

Comente com os estudantes que Lygia Clark nasceu em Belo Horizonte (MG) e iniciou seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, com o paisagista, arquiteto e artista Roberto burle márcs (1909-1994). Entre 1950 e 1952, Lygia Clark viveu em Paris, na França, onde estudou Arte e entrou em contato com os movimentos artísticos de vanguarda na Europa. Ao voltar ao Brasil, ao lado de outros artistas, ela participou da fundação do Neoconcretismo.

Visite o portal para conhecer mais sobre a vida da artista Lygia Clark, disponível em: https://oeds.link/f3Dzer. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Se possível, faça algumas das proposições da artista Lygia Clark em sua sala de aula (a seção Experimentações da página é baseada em uma delas). Para conhecer outras, você pode buscar por vídeos produzidos durante a exposiçãoretrospectiva da artista “Lygia Clark: uma retrospectiva”.

Enfatize a proposta de participação do público presente na série Bichos. Pergunte aos estudantes se já visitaram algum museu. Se a resposta for positiva, pergunte se repararam nas várias placas com o aviso “Não toque” ou nas linhas amarelas ou brancas que determinam a distância apropriada entre o espectador e a obra de arte. Depois, peça-lhes que imaginem o estranhamento causado por uma exposição na qual o toque e a manipulação das obras por parte do espectador não são apenas permitidos, mas também incentivados. Conclua dizendo que é essa barreira entre a arte e o público que muitos artistas, influenciados por Lygia Clark, querem romper. O texto “Lygia Clark e o corpo”, indicado nas Leituras complementares nas páginas iniciais deste Manual, traz mais informações sobre a importância escultórica das obras da série Bichos.

As influências de Lygia Clark na obra de Marepe

A produção artística de Lygia Clark representa um marco na arte brasileira e influencia muitos artistas, como Marcos Reis Peixoto, conhecido como Marepe.

Marepe é um artista brasileiro reconhecido no Brasil e no exterior. Já expôs em alguns dos mais importantes museus de arte do mundo, como o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (maspi), em São Paulo (São Paulo), o Centro , em Paris, na França, e a Tate Modern, em Londres, no Reino Unido. Em 2003, Marepe expôs uma de suas criações na Bienal de Veneza, na Itália.

Observe, a seguir, a representação de uma casa multifuncional em uma reprodução da obra de Marepe chamada Embutidinho recôncavo. Assim como nas obras da série Bichos, de Lygia Clark, o espectador é convidado a modificar a casa, atribuindo-lhe novos formatos, por meio do manuseio das dobradiças de metal que unem as placas de madeira.

O título dessa obra faz referência a Santo Antônio de Jesus, cidade de origem de Marepe, localizada em uma região do estado da Bahia conhecida como Recôncavo Baiano.

Fotografia. Homem calvo vestido com camisa clara. Ele está com as mãos nos bolsos da calça.
O artista Marepe, em São Paulo (São Paulo). Fotografia de 2017.
Fotografia. Estrutura de madeira em formato de cubo. Há um buraco quadrado no topo da estrutura, além de rodinhas embaixo e dobradiças nas laterais, que indicam que o móvel pode ser aberto.
Fotografia. Detalhe de dobradiça da estrutura de madeira com formato de cubo. 
Fotografia. Estrutura de madeira com rodinhas. Trata-se da estrutura com formato de cubo, dessa vez aberta. É possível observar que o cubo se divide em quatro partes, nas quais há pequenos móveis como mesa, cama, ralo de metal, janela e porta. Na parte superior, há um retângulo destacando detalhe de uma dobradiça.
MAREPE. Embutidinho recôncavo. 2003. Escultura de madeira, com rodas, dobradiças e ralo metálicos, 65 por 65 por 65 centímetros (quando fechada). Coleção particular.
Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que, em seus trabalhos, Marepe, além de abordar a identidade cultural nordestina, enfatiza os problemas sociais da sua região e propõe uma reflexão sobre os estigmas criados em relação ao Nordeste. Explique-lhes que Embutidinho recôncavo faz parte de uma série de cinco obras baseadas em outra, maior, exposta pelo artista em 1999, chamada Embutido. Trabalhe, então, a relação entre a obra de Marepe e as esculturas da série Bichos, de Lygia Clark.

Destaque a combinação entre: a provocação para a participação e o estímulo sensorial.

O uso da tecnologia na arte

Com o desenvolvimento tecnológico, muitos artistas contemporâneos passaram a incorporar novos materiais e técnicas a suas criações artísticas. Um exemplo disso é a instalação mostrada na fotografia desta página.

Para produzir a instalação Ainda estão vivos, o artista Paulo Waisberg empilhou, no canto de uma sala, uma série de monitores de computador que seriam descartados. Alguns dos equipamentos utilizados estão desligados – provavelmente avariados.

Os monitores que estão ligados são utilizados para agregar uma característica essencial à obra: a reprodução da imagem de um olho humano aberto enviada por computador. A utilização de recursos tecnológicos é cada vez mais comum em obras de artistas contemporâneos. Observe atentamente a imagem.

Fotografia. Instalação feita com diversos monitores de computador amontoados no chão. Alguns monitores estão ligados e  apresentam a imagem de um olho. A instalação encontra-se em uma sala cujas paredes são de pedra ao fundo, iluminada por uma luz vermelha.
váisberg, Paulo. Ainda estão vivos. 2012. Instalação com monitores de computador e lâmpadas léd, dimensões variadas. Continuum – terceiro Festival de Arte e Tecnologia do Recife (Pernambuco).

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Por que a obra Ainda estão vivos é classificada como uma instalação?
  2. Qual é o principal material utilizado nessa obra?
  3. Em sua opinião, qual teria sido a intenção do artista ao produzir essa obra?
  4. Como a obra se relaciona com o título?
Respostas e comentários

Foco na linguagem

  1. Retome com os estudantes o conceito de instalação anteriormente apresentado e peça a eles que relacionem, por exemplo, a obra de Paulo Waisberg com Desvio para o vermelho. Espera-se que eles mencionem que ambas foram obtidas por meio da organização de materiais em determinado ambiente.
  2. O principal material utilizado na composição são monitores de computador. Comente que, para produzir essa obra, Waisberg empilhou os monitores no canto de uma sala.
  3. Aproveite essa questão para conversar com os estudantes sobre o fato de que, com o desenvolvimento cada vez mais rápido de tecnologias eletrônicas, a vida útil dos aparelhos tem se tornado cada vez menor, pois seus usuários querem trocar a tecnologia obsoleta pela mais recente. Muitos dos chamados monitores de tubo foram substituídos pelos monitores com a tecnologia LCD e, depois, LED, embora ainda estivessem funcionando adequadamente. É provável que a intenção do artista tenha sido chamar a atenção para esse descarte de aparelhos muitas vezes desnecessário.
  4. O título Ainda estão vivos relaciona-se ao fato de os monitores estarem em funcionamento e, mesmo assim, terem sido descartados. O olho humano projetado em algumas telas parece ter, ao mesmo tempo, a função de humanizar o aparelho e a de criar uma sensação de vigilância no espectador.

Entre textos e imagens

Geração anual de lixo eletrônico passa de 40 milhões de toneladas

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Em 2016, o mundo gerou 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, 3,3 milhões de toneladas (8%) a mais do que em 2014. O montante equivale ao peso de quase torres Eiffel.

A parte indigesta é que apenas 20% − ou 8,9 milhões de toneladas − do montante descartado foi reciclado. Se continuarmos nesse ritmo, a produção de ‘sucata pós-moderna’ pode chegar a 52,2 milhões de toneladas em 2021.

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Computadores, celulares e outros [aparelhos] descartados como lixo são ricos depósitos de ouro, prata, cobre, platina, entre outros materiais de valor. O estudo da ônu [Organização das Nações Unidas] estima que todo o lixo eletrônico gerado em 2016 poderia gerar US$ 55 bilhões em valor de materiais reaproveitáveis.

Ao invés de serem reciclados, esses materiais acabam em lixões e aterros. Resíduos eletrônicos representam um risco alto e crescente para o meio ambiente e a saúde humana. reticências

Devido à composição heterogênea desses materiais, reciclá-los com segurança é complexo, caro e exige pessoal capacitado. Na maior parte do tempo, como mostra o estudo da ônu, não é isso o que ocorre. Através de processos de reciclagem informais, metais pesados, como o chumbo, são frequentemente liberados no meio ambiente.

Avanços ocorrem, mas a passos lentos. O estudo chama atenção para o avanço nas legislações sobre resíduos eletrônicos. Atualmente, 67 países têm regulação nesse sentido, 44% a mais que em 2014. Mas leis sozinhas não dão conta do desafio, é preciso fiscalizar a cadeia de produção e descarte, além de estimular a reciclagem adequada desses materiais. E, claro, também cabe a nós, consumidores, realizarmos compras mais conscientes e descarte adequado.”

BARBOSA, Vanessa. Geração anual de lixo eletrônico passa de 40 milhões de toneladas. Exame. 13 fevereiro 2018. Mundo, publicação digital. Disponível em: https://oeds.link/KynTQ0. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia. Monitor de computador quebrado, jogado em um gramado.
Lixo eletrônico descartado na natureza, um local impróprio para esse descarte.

Faça no diário de bordo.

Questões
  1. Que problema ambiental é abordado no texto?
  2. Em sua opinião, de que maneira obras como Ainda estão vivos, de Paulo váisberg, podem contribuir para o enfrentamento do problema apresentado pelo texto?
Respostas e comentários

Entre textos e imagens

Leia o texto com os estudantes. Incentive-os a compartilhar as suas interpretações e a fazer questionamentos e problematizações com base no que leram.

Provoque os estudantes a pensar sobre como a tecnologia torna-se, rapidamente, obsoleta.

Pergunte se eles identificam essas máquinas. Comente que há poucos anos, em 1990 e nos anos 2000, esses monitores eram a mais avançada tecnologia.

Questione se eles sabem para onde vai o lixo eletrônico: celulares, computadores, eletrodomésticos quebrados. Eles são reaproveitados?

Você pode promover um debate sobre o descarte do nosso lixo e, mais especificamente, sobre o descarte de aparelhos eletrônicos. Pode também converter a atividade em uma pesquisa em grupo, a ser sistematizada e compartilhada com a turma, na fórma de roda de conversa ou de seminário.

Ao ler o texto, chame a atenção dos estudantes para mais um aspecto importante da arte contemporânea: os artistas se interessaram por discutir mais enfaticamente as questões sociais e por se relacionar com a tecnologia, porque as mudanças que a chegada da televisão, do carro, das propagandas causou nos hábitos sociais foram imensas.

Questões

  1. O texto apresenta dados sobre o aumento da produção de lixo eletrônico e o descarte inadequado desse material na natureza.
  2. Incentive os estudantes a apresentar suas impressões livremente. Espera-se que eles mencionem que, ao entrar em contato com obras como essa, produzida por Paulo Waisberg, os espectadores podem refletir a respeito de questões como o consumo excessivo e a importância da reciclagem e do reaproveitamento de aparelhos eletrônicos.

Arte e muito mais

Arte e meio ambiente

A preservação da natureza é essencial à manutenção da vida. Por essa razão, vários artistas utilizam diferentes suportes e técnicas para produzir obras nas quais denunciam problemas ambientais a fim de contribuir para a mudança de atitude das pessoas em relação ao meio ambiente. Esse é o caso da obra Ainda estão vivos, de Paulo váisberg, que conhecemos nas páginas anteriores.

Assim como Paulo váisberg, outros artistas utilizam objetos descartados para produzir obras artísticas. Observe, por exemplo, as obras reproduzidas a seguir. Elas foram feitas pelo artista alemão shult.

Fotografia. Escultura feita com lixo cujo formato lembra uma pessoa. Há diversos tipos de objetos, entre eles, restos de placas de computador e transistores.
shult, . Homem lixo. 1996. Lixo eletrônico, latas prensadas e outros materiais descartados, dimensões variadas. Coleção particular.
Fotografia. Escultura feita com embalagens plásticas, cuja forma lembra uma pessoa. Além de diversos tipos de embalagens que sustentam o corpo, há também tiras metálicas enroladas que simulam um cabelo comprido.
shult, . Homem cabelo. 2012. Embalagens de cosméticos, escovas de cabelo, bobes e resíduos metálicos, dimensões variadas. Coleção particular.

Na obra Homem lixo, shult utilizou componentes eletrônicos, como placas e circuitos de computador, para representar os pulmões de seu “homem lixo”. Em Homem cabelo, o artista utilizou materiais descartados relacionados aos cuidados com os cabelos, como embalagens de cosméticos, secadores, pentes e escovas. Com essas obras, shult deseja promover reflexões sobre questões como o consumismo inconsequente e a exploração irracional dos recursos naturais.

Faça no diário de bordo.

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Meio Ambiente.

O que a sua comunidade escolar sabe sobre reciclagem? Você e seus colegas desenvolverão um questionário de pesquisa com este tema. Elaborem as perguntas, apliquem o questionário em outras turmas da escola, tabulem as informações e compartilhem os resultados em cartazes.

Respostas e comentários

Arte e muito mais

As relações entre arte e meio ambiente são muito profícuas na arte contemporânea, de modo que o Tema contemporâneo transversal Meio ambiente, com ênfase no subtema Educação ambiental, pode ser desenvolvido com diferentes vieses. Nesta seção, você pode propor uma prática interdisciplinar com Geografia ou com os professores da área de Ciências da Natureza, seja pela natureza da ferramenta de pesquisa “questionário”, seja pelo enfoque ambiental do tema.

Utilize os seguintes passos para orientar a pesquisa:

a) Em primeiro lugar, você pode optar por organizar os estudantes em grupos ou por criar um questionário único a ser aplicado por toda a turma.

As questões do questionário podem ser dissertativas ou alternativas. Considere que as alternativas facilitam a tabulação das respostas coletadas. Exemplos:

• O que você sabe sobre reciclagem? Comente. (Questão dissertativa).

Indique, entre as alternativas, aquelas que indicam materiais que você sabe que são recicláveis. (Os estudantes farão uma lista de materiais para identificar os que tiveram mais e os que tiveram menos respostas).

Avalie o empenho da escola na coleta de materiais recicláveis com uma nota de 1 a 5, em que 1 significa “pouco satisfatório” e 5 significa “muito satisfatório”. (Os estudantes farão um cálculo da percepção média sobre o tema).

b) Para aplicar o questionário, os estudantes poderão aproveitar o horário do intervalo, de modo a não atrapalhar a aula de outras turmas. Uma alternativa é combinar com um professor de outra turma, tal como sugerido em proposta de atividade interdisciplinar, para que eles a visitem e apliquem o questionário com os colegas.

c) Depois da coleta, os estudantes deverão usar uma aula para tabular os dados.

d) Compartilhar esses conteúdos em cartazes é um modo de devolver, generosamente, o conhecimento produzido às pessoas que responderam ao questionário e contribuíram para o aprendizado.

Os estudantes poderão ser avaliados pela sua cooperação, pela compreensão das etapas, pelo respeito e cuidado na aplicação do questionário, pela compreensão das estratégias de elaboração das questões e de tabulação e, por fim, pelo empenho na qualidade visual e da informação divulgada nos cartazes.

Indicação

Para ampliar a percepção dos estudantes sobre as relações que podem ser tecidas entre a arte e a questão ambiental, você pode exibir um documentário sobre essa temática em sala de aula.

A plataforma Ecofalante reúne documentários e conteúdos focados na temática ambiental especialmente para escolas e universidades, disponível em: https://oeds.link/t6prz8. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Frans krachbérg

Uma referência na criação de obras com cunho ambiental é o escultor, pintor e fotógrafo Frans krachbérg (1921-2017).

Ao longo de sua trajetória, krachbérg sempre utilizou sua arte para promover a defesa da natureza, denunciar a degradação ambiental e despertar a consciência da sociedade para essa realidade.

Fotografia. Homem de barba grisalha, vestido com camisa azul-claro e calça cinza, além de um chapéu também na cor azul-claro, posa ao lado de esculturas abstratas de madeira escura.
O artista krachbérg em Nova Viçosa (Bahia), em 2007.

Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, o artista expressava com suas obras a indignação diante das queimadas e dos desmatamentos ocorridos no país. krachbérg viajou pelo Brasil fotografando áreas desmatadas, principalmente na Amazônia. Delas recolheu resíduos (como troncos, raízes, cipós) que utilizou na produção de esculturas de grandes dimensões. krachbérg também produzia pinturas com pigmentos naturais extraídos da terra, de minerais e de outros elementos orgânicos.

Em 2003, foi inaugurado o Instituto Frans krachbérg de Arte e Meio Ambiente. Situado no Jardim Botânico de Curitiba, no Paraná, o instituto é um centro de referência para a chamada arte ambiental.

No próximo Tema, você vai conhecer outros artistas que criam obras que chamam a atenção do público para questões ambientais.

PARA LER

VENTRELLA, Roseli; BERTOLOZZO, Silvia. Frans krachbérg: arte e meio ambiente. São Paulo: Moderna, 2006.

Esse livro apresenta a concepção artística de Frans krachbérg em suas esculturas, que denunciam as questões do meio ambiente.

Fotografia. Grande escultura de madeira exposta em uma praia. A escultura lembra as raízes de árvores do mangue, que ficam para fora da água. Há um tronco grosso ao centro e ramificações mais finas saindo desse tronco. Ao fundo, mar verde-claro e céu azul.
krachbérg, Frans. Flor do mangue. 1973. Escultura feita com resíduos de árvores de manguezais, 12 por 8 por 5 métros. Nova Viçosa (Bahia).
Respostas e comentários

Contextualização

Ao abordar o trabalho de Frans Krajcberg, comente que esse artista nasceu em 1921, na Polônia, e que a invasão desse país pela Alemanha nazista, em 1939, e a consequente eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) alteraram profundamente sua vida. Seus pais e seus irmãos foram presos e mortos pelos nazistas. Entre 1945 e 1947, Krajcberg viveu na Alemanha, dedicando-se ao estudo das artes. Ali, manteve contato com a escola expressionista, com a qual se identificou. O apelo emotivo intenso e a abordagem de temas sociais e dramáticos contidos nas obras expressionistas coincidiam com os sentimentos do artista no pós-guerra. Essa influência marcou a trajetória artística de Krajcberg. Ao chegar ao Brasil, em 1948, ele desempenhou diversas atividades, como a de auxiliar de Alfredo Volpi (1896-1988), importante artista do Modernismo brasileiro. No início da década de 1950, Krajcberg passou a ter contato direto com a natureza e a produzir obras de arte com base em elementos naturais, dedicando-se à defesa do meio ambiente. Seu trabalho é reconhecido internacionalmente como símbolo da luta contra a devastação das florestas. Leia o texto a seguir.

“Por meio da linguagem artística, Krajcberg assume a responsabilidade pela denúncia da destruição impiedosa do planeta pelo ser humano:

‘A maneira que encontrei de exprimir minha indignação foi transformar em arte os restos mortais da natureza que o homem violentou, levando cinzas, árvores tornadas carvão, cipós retorcidos e raízes extirpadas de seus chãos às galerias e museus de arte do mundo’ .

VENTRELLA, Roseli; BORTOLOZZO, Silvia. Frans Krajcberg: arte e meio ambiente. São Paulo: Moderna, 2006. página 48. (Coleção Arte & Contexto).

Aproveite a oportunidade para destacar as obras do escultor e designer gaúcho Hugo França. Ele utiliza uma técnica herdada do povo indígena Pataxó, em que materiais como troncos queimados e raízes de árvores são transformados em móveis e esculturas. Obtenha informações a respeito da obra desse artista no endereço eletrônico disponível em: https://oeds.link/oDobzY. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

A videoarte

A partir da década de 1960, utilizando recursos de vídeo, vários artistas passaram a criar imagens, muitas vezes em movimento, que extrapolavam o espaço das telas e ocupavam paredes e monitores. Assim se desenvolveu a videoarte.

Um dos pioneiros da videoarte foi o artista sul-coreano (1932­-2006). Os aparelhos de televisão foram a principal matéria-prima utilizada por em suas produções. O artista se destacou por abordar em suas obras não apenas as imagens, mas também os aparelhos.

Na obra reproduzida nesta página, por exemplo, utilizou 1.003 aparelhos de televisão para criar uma videoinstalação que tem mais de 20 metros de altura.

Fotografia. Videoinstalação feita com aparelhos de TV ligados. Trata-se de uma torre alta, com mais de 10 níveis, que quase alcança o teto. Na base da obra, há monitores de TV deitados, formando uma espécie de pedestal para a torre. As cores das imagens mostradas nos monitores de TV são  vermelho e azul-claro. As imagens são abstratas. Ao fundo, salão com mezaninos para que as pessoas possam apreciar as camadas superiores da obra de arte.
, . Detalhe de Quanto mais, melhor. 1988. Videoinstalação com 1.003 monitores de televisão, 22,8 métros (altura). Museu Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, Seul, Coreia do Sul.
Respostas e comentários

Contextualização

Se considerar oportuno, comente com os estudantes que o número de monitores de TV usados por Paik (1.003) nessa instalação simboliza a data de 03/10, Dia Nacional da Fundação da Coreia.

Leve os estudantes à reflexão sobre os formatos dos programas de TV, a fim de que percebam que há neles uma estética própria. Problematize, então, o papel da arte quando a TV chegou aos lares do Brasil, com a estética da televisão moldando o imaginário social e cultural, para dialogar sobre o conteúdo televisivo e o seu efeito sobre a nossa percepção cultural.

Cinema, vídeo e videoclipe: relações e narrativas híbridas

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O cinema, a partir de seu surgimento e no decorrer do século vinte, veio se estabelecendo como a arte audiovisual por excelência. Com linguagem e características bem definidas, por muito tempo dominou o audiovisual a partir de sua narrativa clássica e linear. O cinema dominante se apresenta como uma organização sequencial de planos que, em seu encadeamento, encarrega-se de contar uma história com começo, meio e fim. Além desse cinema dominante, vinculado principalmente ao modo de produção industrial, sempre houve um tipo de cinema diferente.

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Com o seu surgimento, o vídeo passou a exercer um papel fundamental nas transformações da narrativa cinematográfica. Na medida em que foi se disseminando, tanto técnica quanto esteticamente, o vídeo foi se incorporando e sendo incorporado por outros meios. A partir dos anos [19]60, com a videoarte, culminando nos anos [19]80, o vídeo foi sendo explorado tanto em seu aspecto técnico quanto em seu aspecto estético. Nos anos [19]80 o vídeo e o cinema iniciaram um diálogo intenso. A incorporação de características da linguagem do vídeo na linguagem cinematográfica influenciou a narrativa e a lógica do discurso clássico do cinema, transformando-o.

Quando o vídeo nasceu, já havia incorporado fórmas de expressão do cinema. reticências A videoarte incorporou características do cinema vinculadas a outras fórmas de cinema, como o cinema experimental e as vanguardas estéticas do início do século vinte, assim como as que surgiram ao final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta, com a nouvelle vague e as novas cinematografias que estavam nascendo pelo mundo. Era nessas fórmas narrativas diversas que a videoarte foi buscar elementos que se incorporaram a ela e transformaram-se em uma nova fórma de se fazer audiovisual. reticências

FARO, Paula. Cinema, vídeo e videoclipe: relações e narrativas híbridas. Rumores, ed. 8, julho a dezembro 2010.

Artista e obra

Considerado o fundador da videoarte, o sul-coreano foi um dos primeiros artistas visuais a explorar as possibilidades da associação das novas tecnologias à expressão artística.

Suas criações com a imagem em movimento provocaram mudanças na concepção da programação de televisão e da produção de vídeos. também utilizou outros meios expressivos, como as performances e as instalações artísticas.

integrou o Fluxus, importante movimento de pesquisa artística das décadas de 1960 e 1970, que influenciou os artistas das gerações seguintes e inseriu as realizações em vídeo no circuito mundial da arte.

No Brasil, em 1996, foi homenageado no 11o Festival Internacional de Arte Eletrônica Vídeo-Brasil, realizado em São Paulo (São Paulo).

Fotografia. Homem de cabelo curto preto, vestido com camisa branca e suspensórios na cor marrom. Ao fundo, objetos abstratos formados por lâmpadas coloridas de neon.
em Veneza, Itália, em 1993.
Fotografia. Escultura feita com monitores de vídeo, telefone antigo e cabos de fios coloridos. O formato lembra um robô de braços abertos. O telefone antigo encontra-se no peito na escultura. Os monitores apresentam a mesma imagem abstrata, com exceção da imagem abstrata que está no topo, representando a cabeça.
, . Lady Secretary, Bilingual, Will Travel... (Secretária, bilíngue, vai viajarreticências). 1991. Videoescultura com dispositivos de transmissão de imagens, telefone de parede, teclas de máquina de escrever e discos de armazenamento de áudio e vídeo, 157,48 por 132,08 por 68,58 centímetros. Museu de Arte de Denver, Estados Unidos.
Respostas e comentários

Sugestão de atividade

Você pode buscar vídeos e conteúdos sobre o artista de referência na internet.

Ao exibir alguns trechos de suas obras de videoarte para os estudantes, provoque uma reflexão sobre a estética televisiva.

• Os vídeos se parecem com os conteúdos dos programas de TV?

• O que eles têm de similar? E de diferente?

Você também pode provocar uma reflexão sobre a internet. Como são os conteúdos da internet que os estudantes acessam? Quais são: jogos, séries, filmes, redes sociais? Que relações de semelhança e de diferença entre o repertório que o livro traz e o imaginário cultural dos estudantes podem ser feitas?

A casa

Vários artistas usam diferentes linguagens para produzir suas obras. Na videoinstalação apresentada a seguir, por exemplo, os artistas Mauricio Dias e Uálter utilizaram elementos das linguagens visual e audiovisual. Observe um registro dessa criação na fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Videoinstalação com cinco monitores de TV de tamanhos diferentes em uma parede com desenhos em preto e branco, que representam diferentes  cômodos de uma casa (na parte superior, é possível ver uma piscina no quintal com plantas). São dois monitores grande e três menores.
DIAS, Mauricio; , Uálter. A casa. 2007. Videoinstalação, 2 por 4 métros. Acervo dos artistas.

Observe que, nessa obra, os artistas utilizaram o desenho para representar, sobre papel de parede, diferentes espaços de uma casa, como os quartos e a piscina. Sobre o papel de parede desenhado, foram instalados cinco monitores, nos quais foram reproduzidos vídeos curtos dos artistas nos espaços representados. Observe a seguir os detalhes dessa obra.

Fotografia. Detalhe da videoinstalação com monitores na parede que tem um desenho de cômodos de uma casa pintados. Detalhe de um dos monitores, que mostra três imagens de diferentes ângulos de uma sala com paredes azuis, piso de madeira e duas portas. Há um piano próximo às portas.
Fotografia. Detalhe da videoinstalação com monitores na parede que tem um desenho de cômodos de uma casa pintados. Detalhe de um desenho na parede do cômodo com o piano. A imagem é como se o ambiente fosse visto de cima, como um croqui de uma casa. Além do piano, observa-se uma TV, um sofá e uma estante.
DIAS, Mauricio; , Uálter. Detalhes de A casa. 2007. Videoinstalação, 2 por 4 métros. Acervo dos artistas.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

1. Em sua opinião, o que teria motivado os artistas a criar a obra A casa? Comente com os colegas e o professor.

Respostas e comentários

Contextualização

Apresente aos estudantes mais informações a respeito da obra A casa, de Dias & Riedweg. Comente com eles que essa obra é um exemplo da multiplicidade de linguagens, comum na atualidade. Se julgar adequado, diga-lhes que os vídeos apresentados na instalação são executados em loop. Esse recurso, usado por diversos artistas, possibilita que o vídeo seja repetido inúmeras vezes.

Aponte para os estudantes que essa obra faz uso do recurso da tecnologia como se ela fosse uma tela. Em loop, o vídeo possibilita que o desenho da planta ao fundo seja percebido ou reimaginado de outras fórmas.

Pergunte aos estudantes se eles já conheciam a linguagem arquitetônica utilizada pelos artistas. Pergunte também se eles conseguem imaginar outros recursos tecnológicos que deem subsídio para pensar e projetar espaços, como no caso da arquitetura. Provavelmente, eles responderão que a modelagem em 3D é um recurso que pode ser utilizado para pensar/construir espaços arquitetônicos.

Foco na linguagem

1. Incentive os estudantes a elaborar hipóteses a respeito das motivações dos artistas que criaram essa obra. Após ouvir as respostas, comente que essa obra é uma videoinstalação, composta de um painel de 2 por 4 m, sobre o qual os artistas desenharam a planta baixa do espaço usado por eles como residência e ateliê. Sobre essa base, eles instalaram cinco monitores que exibiam vídeos curtos gravados em espaços reais da casa, como o ateliê, a biblioteca e a piscina. Por fim, comente que, segundo os artistas, essa obra é um tipo de autorretrato com registro de aspectos do seu dia a dia na casa onde vivem.

Faça no diário de bordo.

Experimentações


Agora é hora de experimentar, na sala de aula, uma das obras participativas que Lygia Clark chamava “proposições”. O nome dessa proposição específica é Caminhando. Ela propôs uma experiência com a Fita de Moebius, que é também uma formulação geométrica feita por matemáticos.

Material

Folha de papel sulfite

Tesoura com pontas arredondadas

Cola

Procedimentos

a. Corte uma tira vertical de, aproximadamente, 5 centímetros de largura do papel sulfite.

Fotografia. Detalhe de mãos recortando tiras de papel verde com tesoura. O papel contém uma dobradura bem ao centro, que guia o recorte com a tesoura.

b. Pegue a tira e una as duas pontas. Você deverá virar uma das pontas, de maneira que o “anel” de papel passe a ser algo parecido com o número “8”. Cole.

Fotografia. Detalhe de mãos unindo as pontas de uma tira de papel verde.
Fotografia. Detalhe de mão colando as pontas de uma tira de papel verde. Ao lado das mãos, há um tubo de cola escolar.

c. A Fita de Moebius está pronta. Agora, faça um pequeno picote no meio dela para cortar de uma ponta a outra, sem romper a borda do papel.

Fotografia. Detalhe de mão segurando uma tira de papel verde com as pontas coladas. A tira foi colada com uma das pontas virada, por isso  ela parece estar retorcida.
Fotografia. Detalhe de duas mãos cortando parte da fita de papel verde retorcida.
Fotografia. Detalhe de mãos cortando a tira de papel verde em tiras mais finas.
Passo a passo da proposição Caminhando. Fotografias de 2022.

d. Depois de experimentar a proposta ao longo da aula, converse com os colegas sobre essa experiência e registre suas impressões no diário de bordo.

Ícone. Diário de bordo.
Respostas e comentários

Experimentações

Ao propor essa experimentação, explique que, como visto, a artista Lygia Clark foca o trabalho na experiência e na participação. Fundamentalmente, a obra só acontece se o público participa. Seu sentido está estritamente na experiência. É interessante preparar um protótipo da Fita de Moebius com papel sulfite antes da aula. A preparação é rápida e ajudará a apresentar a proposta.

Introduza a experimentação apresentando o protótipo e produzindo um novo do começo ao fim. Faça o córte e experimente a proposição Caminhando por alguns minutos, enquanto os estudantes observam.

Organize-os em grupos de quatro integrantes e peça a eles que se sentem juntos, reposicionando as cadeiras em torno de uma única mesa.

Entregue uma folha de papel, tesouras de pontas arredondadas e colas para cada grupo. Cada folha de papel sulfite pode gerar até quatro fitas, uma para cada estudante.

Caminhe entre as mesas e certifique-se de que os estudantes compreenderam a proposta e de que estão experimentando plenamente.

Encerre a proposta retomando a ideia de participação discutida na página sobre a artista e converse sobre o fato de o trabalho acontecer porque eles se permitiram experimentar a proposição.

Os estudantes podem ser avaliados pelo empenho na realização da proposta, pelas conexões que fizerem com os temas trabalhados e até pela colaboração com o grupo.