Tema 2 A arte ao alcance de todos
A arte pública
Ao andar pelas ruas das cidades, é comum vermos muitas obras de arte que interagem com o ambiente e integram a paisagem. Como essas obras estão em espaços de livre acesso a todos, e não em galerias e museus – espaços tradicionalmente reservados para exposições –, são chamadas arte pública.
Essas obras caracterizam-se por modificar, em caráter temporário ou permanente, o local onde são inseridas. A criação do artista indiano mostrada na fotografia desta página é um exemplo de arte pública.
Faça no diário de bordo.
Foco na linguagem
- Você considera Cloud gate uma obra de caráter temporário ou permanente?
- A tradução de Cloud gate é “Portal da nuvem”. Por que, em sua opinião, o artista deu esse título à obra?
- Nas ruas e nas praças da cidade ou da localidade em que você reside, há arte pública? Em caso afirmativo, comente com os colegas como são essas obras.
Respostas e comentários
Objetivos
- Entender o conceito de arte pública e conhecer obras dessa natureza.
- Caracterizar os monumentos como obras por meio das quais se homenageiam personalidades e se comemoram eventos históricos.
- Reconhecer a proposta de interação entre o espaço e o público em algumas obras realizadas a partir do século vinte.
- Entender o conceito de intervenção e conhecer obras dessa natureza.
- Conhecer artistas que promovem a preservação do meio ambiente por meio de suas obras.
- Conscientizar-se a respeito da importância da preservação ambiental.
- Identificar a arte, de maneira geral, como intervenção crítica na cultura e na sociedade.
- Analisar a utilização das projeções como elemento da criação visual.
- Pesquisar, refletir e inferir criticamente sobre as homenagens prestadas em nomes de ruas, praças, instituições e nos monumentos da cidade.
- Participar de um projeto de desenvolvimento de uma videoarte.
- Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.
Habilidades favorecidas neste Tema
( ê éfe seis nove á érre zero um), ( ê éfe seis nove á érre zero dois),( ê éfe seis nove á érre zero três), ( ê éfe seis nove á érre zero cinco), ( ê éfe seis nove á érre zero seis), ( ê éfe seis nove á érre zero sete), ( ê éfe seis nove á érre zero oito), ( ê éfe seis nove á érre três um), ( ê éfe seis nove á érre três dois), ( ê éfe seis nove á érre três três), ( ê éfe seis nove á érre três quatro) e ( ê éfe seis nove á érre três cinco).
Contextualização
Comente com os estudantes que a escultura Cloud gatefoi exposta ao público pela primeira vez em 2004, no dia da inauguração do Millennium Park, em Chicago, Estados Unidos, onde está instalada. Ela é popularmente conhecida como The bean (O feijão).
Para uma visão de perspectivas diferentes dessa obra caso a escola tenha acesso à internet, você pode apresentar aos estudantes alguns trechos dos vídeos disponíveis em: https://oeds.link/NRQuB4. Acesso em: 16 maio 2022.
Foco na linguagem
- Espera-se que os estudantes considerem o tipo de material, a estrutura e o peso da obra para concluir que ela foi construída em caráter permanente. O fato de ter se tornado um símbolo da cidade também contribui para essa avaliação.
- O título pode estar relacionado ao fato de sua superfície espelhada mostrar a paisagem urbana, representando, dessa maneira, uma entrada para a cidade refletida. Quanto ao termo nuvem, pode-se considerar que é porque uma parte da superfície da escultura espelha a imagem do céu e de nuvens.
- Peça aos estudantes que se lembrem de esculturas, pinturas, prédios e apresentações musicais e de teatro. Após ouvi-los, pergunte se as obras mencionadas são de caráter temporário ou permanente.
Obras no espaço público
Até o início do século vinte, as esculturas que eram produzidas e inseridas em ruas e em praças dos municípios brasileiros tinham caráter estritamente oficial. Sua principal expressão eram os monumentos, geralmente obras grandiosas, com as quais se homenageavam personalidades e se comemoravam eventos históricos. Ao público cabia contemplar e admirar os monumentos e, assim, reconhecer a identidade do lugar em que vivia.
Os monumentos, em geral, são produzidos com materiais de alta durabilidade, como pedra ou bronze, o que lhes confere caráter permanente. O monumento que você observa nesta página, por exemplo, foi produzido com mármore, granito e bronze.
Respostas e comentários
Contextualização
Discuta com os estudantes a função dos monumentos como registros da história e como instrumentos eficazes para a construção da memória e da identidade. Explique-lhes que essas obras, em geral, são produzidas para registrar e perpetuar fatos e personagens de maneira gloriosa. Ao registrar certos fatos ou personagens em detrimento de outros, os monumentos expõem uma opção, muitas vezes, política ou social.
[Monumento e história]
“Os materiais de memória coletiva e da história
A memória coletiva e a sua fórma científica, a história, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos.
De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores.
Esses materiais da memória podem apresentar-se sob duas fórmas principais: os monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador.
A palavra latina monumentum remete à raiz indo-europeia men, que exprime uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini). O verbo monere significa ‘fazer recordar’, de onde ‘avisar’, ‘iluminar’, ‘instruir’. O monumentum é um sinal do passado. Atendendo às suas origens filológicas, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos. reticências Desde a Antiguidade romana, o monumentum tende a especializar-se em dois sentidos:
1) uma obra comemorativa de arquitetura ou de escultura: arco de triunfo, coluna, troféu, pórtico etcétera;
2) um monumento funerário destinado a perpetuar a recordação de uma pessoa no domínio em que a memória é particularmente valorizada: a morte.
O monumento tem como características o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva) e o reenviar a testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos escritos.”
LE GOFF, Jác. História e memória. Tradução de Irene Ferreira, Bernardo Leitão e Suzana Ferreira Borges. quinta edição Campinas: Editora da unicâmpi, 2003. página 525-526.
Baldosas
Historicamente, a arte foi usada como ferramenta para produzir memória, prestar homenagem e oferecer um alento coletivo a povos que vivenciaram eventos traumáticos. As baldosas, placas criadas pelo Movimento de mortos e desaparecidos políticos da Argentina, foram instaladas nos locais onde pessoas desapareceram durante a Ditadura Civil Militar na Argentina (1976-1983).
Na fotografia, observamos o irmão de Yves Domergue limpando a baldosa que será colocada no Cemitério Melincue, em homenagem ao francês Yves e à mexicana Cristina Cialceta, sequestrados em 1976, durante a ditadura na Argentina, cujos corpos foram identificados 34 anos depois.
Monumentos para produzir memória foram criados em muitos contextos, como no caso do Holocausto ou chôa – no qual milhões de judeus, além de ciganos, comunistas, homossexuais e pessoas com deficiências, foram assassinados.
No caso argentino, artistas e ativistas se juntaram para criar estratégias a fim de que a memória não se restringisse a monumentos estáticos, mas se mantivesse atuante nas ações coletivas.
Os monumentos, portanto, não são apenas um modo de produzir memória do passado, mas sim de disputar no presente o sentido da memória e da história.
Respostas e comentários
Contextualização
Essa página apresenta uma discussão sobre o sentido dos monumentos. Na imagem, vemos uma ação dos movimentos sociais e artísticos argentinos para denunciar o desaparecimento político de familiares e amigos durante a ditadura.
Pergunte aos estudantes:
- Vocês já ouviram falar sobre as ditaduras no Brasil e na América Latina?
- Vocês sabiam que muitos monumentos, mas também espaços como os Memoriais, contam essas histórias?
- Diante disso, qual é a percepção de vocês sobre o papel dos monumentos artísticos?
Para contextualizar bem esse acontecimento, você pode criar associações entre Brasil e Argentina, ambos países que sofreram ditaduras.
Há diversos exemplos de trabalhos das artes contemporâneas brasileira e argentina que denunciam os crimes de Estado desse período, a exemplo da obra Inserções em circuitos ideológicos, de Cildo Meireles, e das intervenções urbanas de Arthur Barrio.
Arte e muito mais
Monumentos na cidade de São Paulo
O Instituto Pólis, organização focada em pesquisa e formação para o direito à cidade, realizou uma pesquisa sobre os monumentos da cidade de São Paulo intitulada “Quais histórias as cidades nos contam? A presença negra nos espaços públicos de São Paulo” . Para produzir essa pesquisa, o instituto elaborou alguns questionamentos:
- O que esses monumentos retratam?
- São pessoas, objetos, símbolos?
- Quem eles homenageiam?
- Quem produz esses monumentos e por quê?
- Que espaços da cidade eles ocupam?
- Onde estão localizados?
- Quantas pessoas os veem cotidianamente?
A análise da catalogação dos monumentos identificou que, em sua maioria, eles não representam mulheres e pessoas racializadas negras e indígenas. Identificou também que os monumentos estão concentrados nas áreas centrais da cidade, e não nas periferias. Em geral, os monumentos representam homens brancos que exerceram alguma fórma de poder na história da cidade.
Com base nisso, o que podemos indagar? De que fórma a distribuição dos monumentos e sua representatividade poderiam atender a histórias e territórios mais amplos nas cidades? Que monumentos poderiam ser criados para isso?
Faça no diário de bordo.
• Desenvolva uma pesquisa, em grupo, sobre os nomes das ruas, praças, instituições (como escolas e bibliotecas) e monumentos da sua cidade. Quem são os homenageados? Há diversidade nessas representações? Quem vocês consideram que poderia ser homenageado? Para fazer esse mapeamento, observem, pesquisem, tomem nota sobre o conjunto e, finalmente, produzam um relatório crítico, com atenção à diversidade nas representações.
Respostas e comentários
Arte e muito mais
Essa seção problematiza o sentido histórico e social dos monumentos artísticos. Por um lado, a pesquisa do Instituto Pólis tematiza a quase absoluta ausência de figuras negras nos monumentos da cidade de São Paulo, oferecendo um tema muito importante para a discussão no espaço escolar, que pode ser conduzido com ênfase em uma proposta interdisciplinar entre os componentes Arte e História.
Ao mesmo tempo, a pesquisa é um exemplo de mapeamento, podendo servir de base para outros projetos de pesquisa na escola. Fundamentalmente, ela apresenta um horizonte integrador para a pesquisa escolar, isto é, mobiliza não apenas a percepção e o repertório cultural dos estudantes, mas também o olhar para o território.
A proposta se relaciona, assim, como Tema contemporâneo transversal Cidadania e civismo, com ênfase no subtema Educação em direitos humanos.
Organize os estudantes em grupos de até cinco participantes.
Primeiro, os estudantes poderão conhecer o projeto do Instituto Pólis, acessando a página https://oeds.link/jCIAIx. Acesso em: 28 fevereiro 2022.
Depois, poderão fazer o mesmo mapeamento na sua cidade, vila ou região. Eles vão 1) observar e mapear; 2) tomar nota, registrar; 3) produzir um relatório. Para isso, eles deverão se concentrar em:
a) Nomes de ruas e praças.
b) Nome de instituições, como as escolas.
c) Nome e temas representados por monumentos públicos.
Eles vão escolher alguns (podem, inclusive, se organizar em grupos para dar conta de um panorama maior de referências) e deverão pesquisar a história por trás desses nomes para apresentar à turma.
Depois que cada grupo realizar a sua pesquisa, a ser feita com o uso de livros da biblioteca, da internet ou por meio de entrevistas no território, os estudantes deverão escrever um relatório sobre o tema, que pode ser feito individualmente ou em grupo. Esses relatórios poderão subsidiar uma roda de conversa e, posteriormente, ser convertidos em material para pensar em intervenções artísticas, como uma proposta de reformulação desses nomes, homenagens e temas.
Os estudantes poderão ser avaliados pela colaboração com o grupo, pela reflexão expressa no relatório e pela qualidade da pesquisa apresentada.
Indicação
Conheça os exemplos dos novos monumentos da cidade de São Paulo, que enfatizam o protagonismo de homens e mulheres negros importantes para a história política, social e cultural da cidade e do país, disponíveis em: https://oeds.link/Zb7J9W. Acesso em: 28 fevereiro 2022.
As obras, o espaço e o público
Ao longo do século vinte, ocorreram muitas transformações no modo de pensar e de fazer arte. As obras instaladas em espaços públicos, cada vez mais, convidavam as pessoas a pensar e a observar o ambiente por meio da interação. O rompimento com a visão do público como mero espectador permeou a maioria das propostas de arte a partir do início do século vinte.
Essas experiências tiveram início na década de 1950, com movimentos que propunham a renovação da arte brasileira, entre eles o movimento do Neoconcretismo, que você conheceu no Tema anterior. Franz váismam, autor da escultura Diálogo, que podemos observar na fotografia a seguir, foi um dos integrantes do movimento neoconcreto.
A busca de interação com o espaço e com o público também pode ser observada na escultura mostrada na fotografia a seguir. De autoria de Leo Santana, essa obra foi produzida em 2002, em homenagem ao centenário do escritor Carlos Drumôn de Andrade (1902-1987). No banco, que faz parte da escultura, lê-se a frase “No mar estava escrita uma cidade”, de autoria de Drumôn.
Respostas e comentários
Contextualização
Comente com os estudantes que Franz váismam foi integrante do Grupo Frente e, posteriormente, do movimento neoconcreto. Oriente a leitura da obra Diálogo e chame a atenção da turma para a geometrização das fórmas presente nela.
Para compreender o uso de fórmas geométricas e a estética industrial em obras como a do artista Franz váismam, leia o texto a seguir com os estudantes.
Franz váismam: fórma aberta
“A insistência constante na geometria, nunca é demais repetir, é a base inalterada de toda a obra de Franz váismam. A obra se funda em tudo aquilo que poderia levar a um máximo de previsibilidade. Tal insistência nunca foi mera etapa ou fase, mas sempre uma crença radical: o váismam figurativo é um artista como outros, sem uma definição própria ou um significado particular. Construtivo, é um dos últimos artistas geométricos estritos, e sempre surpreendente. Pouco se afastou de seus assuntos, o cubo, o quadrado, o plano, seus temas mais constantes que testou à exaustão, numa pesquisa contrária a qualquer evasão, tenazmente circunscrita e específica, como a delimitação de um problema pelo conhecimento moderno. Tal aplicação ao âmbito artístico sempre manifestou absoluto respeito pela integridade da fórma geométrica. Em desafio permanente à obsolescência, ao desgaste, é uma pesquisa sempre atual e intemporal. Esta é a equação artística e existencial do artista tal qual uma intransigente lei moral a seguir.
VENANCIO FILHO, Paulo. A presença da arte. São Paulo: Cosac Naify, 2013. página 180.
Entre textos e imagens
Carlos Drumôn e a crítica social brasileira
Leia o poema Cidade prevista, publicado em 1945, pelo poeta Carlos Drumôn de Andrade:
“Guardei-me para a epopeia
que jamais escreverei.
Poetas de Minas Gerais
e bardos do Alto do Araguaia,
vagos cantores tupis,
recolhei meu pobre acervo,
alongai meu sentimento.
O que eu escrevi não conta.
O que desejei é tudo.
Retomai minhas palavras,
meus bens, minha inquietação,
fazei o canto ardoroso,
cheio de antigo mistério
mas límpido e resplendente.
Cantai esse verso puro,
que se ouvirá no Amazonas,
na choça do sertanejo
e no subúrbio carioca,
no mato, na vila xis,
no colégio, na vila oficina,
território de homens livres
que será nosso país
e será pátria de todos.
Irmãos, cantai esse mundo
que não verei, mas virá
um dia, dentro em mil anos,
talvez mais reticências não tenho pressa.
Um mundo enfim ordenado,
uma pátria sem fronteiras,
sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
sem igrejas nem quartéis,
sem dor, sem febre, sem ouro,
um jeito só de viver,
mas nesse jeito a variedade,
a multiplicidade toda
que há dentro de cada um.
Uma cidade sem portas,
de casa sem armadilha,
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Este país não é meu
nem vosso ainda, poetas.
mas ele será um dia
o país de todo homem.”
ANDRADE, Carlos Drumôn de. A rosa do povo. vigésima primeira edição Rio de Janeiro: Record, 2000. página 161-162.
Faça no diário de bordo.
Questão
1. Que relações você pode fazer entre o poema e a sua percepção sobre o Brasil?
Respostas e comentários
Entre textos e imagens
Leia o poema com os estudantes e peça a eles que compartilhem suas impressões.
Depois, solicite que elaborem uma interpretação conjunta sobre o poema. Considere os seguintes tópicos:
- Locais citados no poema.
- Épocas históricas citadas no poema.
- Modos de vida representados no poema.
- Personagens e instituições citadas no poema.
Talvez os estudantes precisem ser orientados sobre o sentido da palavra epopeia, um gênero literário que envolve a produção de mitos baseados nas batalhas de grandes heróis.
O poema insinua que o poeta, brasileiro, não escreverá uma epopeia, porque não assistirá em vida às batalhas pela liberdade em seu país serem vencidas.
Depois de promover uma reflexão sobre esse tema com os estudantes, retome a discussão sobre a arte e as suas relações com a vida social e política, em pleno desenvolvimento ao longo desta Unidade. Pergunte a eles:
- Que papel a arte pode cumprir na denúncia das injustiças e desigualdades?
- De que fórma a arte pode produzir consciência e memória histórica?
- Quais outras interpretações vocês fazem para este poema?
Questão
1. Mobilize as questões destacadas anteriormente para conduzir essa reflexão. Se necessário, retome alguns trechos do poema. Se desejar aprofundar a proposta, você pode propor uma parceria com o professor de Língua Portuguesa.
Intervenções artísticas
A arte, muitas vezes, pode promover a interação entre os habitantes e o espaço que ocupam.
Em pétis, Eduardo Srur criou grandes esculturas que representam garrafas péti e as dispôs às margens do Rio Tietê, em São Paulo ( São Paulo). Realizada em 2008, essa intervenção de caráter temporário permaneceu cerca de dois meses e estima-se que tenha sido vista por cerca de 60 milhões de pessoas. Além do Rio Tietê, a Represa Guarapiranga − em São Paulo ( São Paulo) − e o Lago Taboão − em Bragança Paulista ( São Paulo) − receberam a intervenção pétis.
Propostas como pétis podem desencadear reflexões a respeito do modo como os seres humanos se relacionam com o espaço e com a natureza. Com o material utilizado na produção das esculturas da obra pétis, confeccionaram-se centenas de mochilas, que foram doadas a estudantes das escolas públicas que visitaram a intervenção.
Respostas e comentários
Contextualização
Retome o debate sobre as relações entre arte e meio ambiente para fazer a leitura e a interpretação da intervenção urbana pétis.
- Quais pontos destacados no debate anterior podem ser retomados para conversar sobre esse trabalho?
- Que relações os estudantes fazem entre essa intervenção e o contexto em que eles vivem? Há semelhanças? Há diferenças?
- Quais outros objetos danosos ao meio ambiente poderiam ser utilizados como referência para uma intervenção como essa?
Comente com os estudantes que a escala das garrafas criadas por isrur em relação aos objetos originais é fundamental para a concepção da intervenção pétis. Comente, também, que as cores usadas nas garrafas podem estar relacionadas às principais marcas de refrigerante consumidas no Brasil.
Explique-lhes que, além do desgaste desses recursos, o problema da destinação do lixo agravou-se com a utilização das embalagens descartáveis. A garrafa de refrigerante, por exemplo, era feita de vidro e tinha uma vida útil maior, por ser retornável. Com o descobrimento de certos tipos de polímero, muitas indústrias optaram por substituir o vidro das embalagens por plástico, que tem como matéria-prima o petróleo, um bem natural não renovável.
Arte e muito mais
Projeto Rios e Ruas
Observe o manifesto visual Rios e Ruas.
Rios e Ruas é um projeto criado em 2010 por José Bueno, arquiteto social, e Luiz de Campos Júnior, geógrafo e educador.
Por meio de iniciativas artísticas, formativas e de participação em mostras e exposições de arte, o projeto busca conscientizar e sensibilizar as pessoas sobre a presença dos rios, córregos e nascentes que estão nas cidades, soterrados ou não.
Muitas cidades foram construídas sobre rios, do que derivam muitos problemas ambientais e catástrofes, visto que a construção dessas cidades ignorou características fundamentais da vida de um rio, como as cheias com as chuvas.
Reflita sobre esse tema e, com base no exemplo do projeto Rios e Ruas, pense em outras maneiras de provocar reflexões, por meio da arte, sobre como convivemos com os rios.
Respostas e comentários
Arte e muito mais
Faça uma leitura de imagem do manifesto. De início, deixe que os estudantes façam leituras e interpretações livremente. Considere os textos das bordas da imagem: “Assim como as veias estão para os homens; assim como os rios e as ruas estão para uma cidade; assim como os canos e tubulações estão para as casas; assim como os vasos capilares estão para as árvores”. Observe os desenhos e os mapas com os estudantes, destacando o percurso de um rio que atravessa as quadras paralelas de uma cidade, à direita.
Essa atividade pode ser o ponto de partida para uma pesquisa, seguida de uma roda de conversa.
Organize os estudantes em grupos de até quatro integrantes, de modo que estudantes com diferentes habilidades possam se dar apoio. Se necessário, readéque o número de participantes por grupo para atender às necessidades específicas da turma.
Cada grupo deverá percorrer o site da mostra Rios e Ruas de modo independente, usando computadores da escola ou por meio de celulares, se dispuserem desse recurso. Eles também poderão buscar vídeos, podcasts ou outros conteúdos sobre o tema.
Para fazer a pesquisa, eles devem considerar as perguntas a seguir.
• Qual é a importância dos rios para as cidades, vilas ou quaisquer outros agrupamentos humanos?
• Qual é o impacto das transformações ambientais provocadas pelos humanos sobre os rios?
• De que maneira poderíamos mudar a nossa relação com os rios?
• O que os rios contam sobre a história coletiva de um lugar?
• De que maneira a arte pode contribuir para uma maior conscientização ambiental?
Cada grupo deverá responder a essas perguntas com base nessa pesquisa. Depois, em uma roda de conversa, você pode pedir aos grupos que compartilhem as respostas que mais lhes interessaram. Produza com eles relações e comparações entre as respostas, de modo a ampliar a percepção dos estudantes sobre o tema.
Eles poderão ser avaliados pela contribuição na conversa final, pela qualidade das reflexões e pela cooperação no trabalho em grupo. Lembre-se de pedir aos estudantes que tomem nota da proposta no diário de bordo.
Projeções
Na atualidade, os artistas cada vez mais têm utilizado recursos advindos dos avanços tecnológicos para a produção de suas obras. Observe a fotografia reproduzida a seguir.
A fotografia desta página mostra o registro de uma obra da artista visual Roberta Carvalho, que faz parte do projeto Symbiosis e consiste na projeção de imagens fotográficas e/ou de vídeo sobre copas de árvores e áreas de vegetação de diferentes espaços de cidades, florestas, comunidades, entre outros.
As projeções do projeto Symbiosis podem ser consideradas obras de caráter multimídia, pois integram elementos da fotografia, do vídeo, da instalação e da intervenção.
Simbiose é um termo científico que, em Biologia, pode ser definido como a associação entre dois organismos de espécies diferentes. Na proposta de Roberta Carvalho, a arte se associa à natureza e surge algo inusitado, promovendo uma nova reflexão sobre a relação dos seres humanos com a natureza, por meio da prática artística.
Respostas e comentários
Contextualização
Ao abordar o uso de novas tecnologias (como o vídeo e a projeção) para a criação artística, diga aos estudantes que a inserção desses elementos nos processos de criação artística remonta à década de 1960. De acordo com o historiador e crítico de arte Walter Zanini (1925-2013), a difusão de novos materiais e técnicas industriais e a ruptura estética feita por artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica (que mudaram o foco do objeto para as experiências sensoriais) abriram caminho para outras possibilidades de criação artística. Conforme Zanini, o uso de novos materiais e técnicas industriais já era visível entre o final da década de 1960 e o começo da década de 1970, mas em pequenas proporções. Em 1969, a nona edição da Bienal Internacional de Arte de São Paulo apresentou uma pequena seção chamada “Arte/Tecnologia”.
Um pioneiro no uso de novas tecnologias na história da arte brasileira foi o pernambucano Paulo Bruscky, que começou a atuar como artista na década de 1960. Ele utilizou aparelhos como fotocopiadoras, câmeras de vídeo e mimeógrafos, e processos gráficos, como o offset e a serigrafia, em sua produção. No uso de computadores como meios expressivos, podemos destacar a atuação do artista Waldemar Cordeiro (1925-1973), que, a partir de 1968, iniciou, com o físico e engenheiro Giorgio Moscati, os primeiros trabalhos em computer art.
Provoque os estudantes a imaginar espaços sobre os quais poderiam projetar imagens e vídeos em seus contextos de vida.
- Sobre quais superfícies fariam projeções?
- Quais seriam os temas dessas projeções?
- Que relações fariam entre o tema e o lugar?
Para imaginar essas relações, eles podem interpretar o projeto da artista, indagando quem é a pessoa da projeção e por que a projeção é feita em uma margem arborizada de um rio.
Artista e obra
Roberta Carvalho
A artista visual Roberta Carvalho é natural de Belém ( Pará) e estudou Artes Visuais na Universidade Federal do Pará ( ú éfe pê á). Roberta desenvolve projetos artísticos em todo o Brasil e já participou de exposições na França, na Espanha e na Ilha de Martinica.
Roberta Carvalho se dedica ao desenvolvimento de trabalhos que visam abordar a relação entre a arte e o espaço público. A artista também pesquisa a integração entre a arte e a tecnologia. Ela utiliza, por exemplo, diferentes recursos digitais para criar, armazenar e reproduzir imagens com as quais cria suas obras. Essa relação com o espaço e a tecnologia pode ser observada no projeto Symbiosis, que você conheceu na página anterior.
Em 2016, Roberta Carvalho desenvolveu o projeto Mauá Remixes, no qual a artista projetou sobre um edifício da praça Mauá, no Rio de Janeiro ( Rio de Janeiro), vídeos sobre o cotidiano de pessoas que moram nessa região. Observe um registro dessa obra na fotografia reproduzida a seguir.
Respostas e comentários
Artista e obra
Comente a formação da artista e pergunte aos estudantes se sabem como se formam os artistas. Explique que a artista se formou em um curso de Artes Visuais na Universidade Federal do Pará, uma universidade pública, ou seja, mantida com recursos públicos, de tal maneira que a artista estudou gratuitamente, exercendo o seu direito constitucional de ter acesso gratuito à educação.
Converse sobre isso com os estudantes. Eles já tem horizontes profissionais imaginados ou idealizados? Como pensam em alcançar os seus objetivos profissionais?
Converse também sobre a arte como um campo de atuação profissional, criando conexões com as discussões desta Unidade. Para fazê-lo, lembre-se dos seguintes pontos:
- A arte tem uma intrínseca relação com as tecnologias. Como essa relação poderia se converter em material de trabalho? Muitos artistas trabalham produzindo o design de sites, jogos ou aplicativos de celular.
- A arte também tem uma possível relação com as questões ambientais. Muitos artistas são ativistas e trabalham com educação em comunidades e na elaboração de projetos integrados entre comunidade e ambiente, em parceria com agentes comunitários e educadores ambientais.
- Como vimos no exemplo de Lygia Clark, a arte pode ter uma relação com a saúde e a terapia. Muitos artistas trabalham com ateliês de terapia ocupacional ou prestando suporte a contextos de saúde, como os hospitais e os Centros de Atendimento Psicossocial ( cápis).
Provoque os estudantes a pensar: quais outros caminhos profissionais essa abertura das relações da arte contemporânea, já discutida ao longo da Unidade, poderia possibilitar? Deixe que debatam e imaginem abertamente.
As projeções de Regina Silveira
A artista Regina Silveira há anos utiliza recursos tecnológicos em suas produções. Ao longo de sua carreira, ela realizou diversas intervenções urbanas nas quais projetou imagens em grande escala sobre paredes e outros espaços públicos e privados, utilizando recursos como laser, projetores e pontos de luz.
Em 2009, Regina Silveira realizou a intervenção Passeio selvagem. Buscando promover um diálogo com a arquitetura urbana, ela criou animações digitais que reproduziam pegadas de animais e as projetou em prédios e em ruas de diferentes pontos de São Paulo ( São Paulo). Para executar essa obra, a artista instalou um equipamento de projeção em um automóvel em movimento, que serviu de base para projetar as imagens com laser.
Antes de Passeio selvagem, Regina Silveira já havia utilizado projeções em obras urbanas. Em 2001, por exemplo, ela projetou moscas gigantes em paredes de prédios de São Paulo ( São Paulo). Observe a fotografia.
Respostas e comentários
Contextualização
Ao abordar o trabalho de Regina Silveira, comente com os estudantes que as investigações da artista se desenvolvem em diversos meios, como a gravura, a fotocópia, a videoarte, as instalações com painéis de léd e o uso de laser. Sua postura multimídia baseia-se nas possibilidades de construção de uma imagem ou de uma ideia com base em diferentes procedimentos técnicos, como os registros das obras apresentados nesta página. Nesse caso, a artista fez projeções que interferiram na paisagem urbana. Além de projeções com luz, Regina Silveira trabalhou com projeções de sombras em diversas obras. Se considerar oportuno, apresente aos estudantes o vídeo Transit (direção de André Costa, 2011), sobre a obra homônima de Regina Silveira. Disponível em: https://oeds.link/IwOlrw. Acesso em: 16 maio 2022.
Sugestão de atividade
Peça aos estudantes que se organizem em grupos de seis pessoas, escolham alguns objetos que apresentem formato interessante e os levem à sala de aula no dia agendado. Utilizando uma lanterna, eles vão projetar a sombra desses objetos sobre uma folha de papel branco. Com uma caneta hidrográfica preta, deverão fazer o contorno da imagem das sombras, uma a uma, e apresentar os resultados aos demais colegas. Peça aos estudantes que pensem também em sombras metafóricas, alegóricas, extrapolando as óbvias (gato com sombra em fórma de gato, por exemplo). Ao final dessa experiência, comente com eles que a artista Regina Silveira, além de trabalhar com projeções de luz, com o auxílio da tecnologia a laser, se debruçou sobre a criação e a projeção de sombras imaginárias, distorcidas, ampliadas ou deformadas, utilizando diferentes materiais e técnicas. Diga-lhes que eles desenvolverão uma atividade semelhante. No dia designado para o trabalho, reduza a iluminação da sala de aula para que os estudantes possam projetar as sombras dos objetos com a lanterna. Depois que todos os grupos tiverem finalizado a atividade, organize uma exposição dos trabalhos posicionando os objetos sobre as folhas de papel com o registro das sombras. Convide outros estudantes da escola para conhecer os trabalhos da turma.
Faça no diário de bordo.
Experimentações
• Nesta seção, você e os colegas vão partir da discussão sobre os monumentos para reinventar o mapa da cidade em que vivem. Vocês se organizarão em grupos de até quatro participantes para criar uma nova cartografia em cartaz, inserindo lugares, inventando novos desenhos de ruas e rios e escolhendo nomes de figuras que vocês gostariam de homenagear, dando os seus nomes aos espaços públicos.
Material
- Cartolina
- Lápis grafite
- Canetas
- Canetinhas
- Revistas para fazer recortes
- Tesoura com pontas arredondadas
- Cola
Procedimentos
- Comecem esboçando o mapa da cidade sobre a cartolina. Destaquem os principais pontos de interesse, ocupando todo o espaço do papel.
- Discutam quais figuras vocês gostariam de homenagear no mapa e por quê. Vocês podem rebatizar praças, parques, ruas, avenidas ou até mesmo a escola!
- Agora, é hora de criar sobre esse mapa. Com as canetas e canetinhas, vocês podem destacar lugares ou percursos que já existem ou inserir novos elementos. Experimentem livremente, afinal, esta é uma proposta artística.
- Se desejarem, vocês podem desenhar alguns elementos na cartografia ou buscar imagens de referência nas revistas para colar no cartaz.
- Ao final da proposta, apresentem os resultados aos colegas e conversem sobre as escolhas de cada grupo. Lembrem-se de fazer um registro da proposta no diário de bordo.
Respostas e comentários
Experimentações
Essa proposta mobiliza reflexões sobretudo em relação à temática dos monumentos. Inicie conversando sobre os nomes dos principais elementos urbanos da sua cidade: praças, parques, ruas, avenidas, monumentos, escolas etcétera Os estudantes devem perceber que esses procedimentos de prestar homenagens públicas existem em diversas escalas também em suas cidades, vilas ou comunidades.
A atividade pode ser adaptada para abarcar a região onde os estudantes vivem mais amplamente, podendo ser reinventada com mapas de diversas escalas.
Organize os estudantes em grupos, reposicione as mesas e distribua os materiais.
Caminhe entre as mesas, verificando se os estudantes estão compartilhando as ideias e se dividindo para realizar as etapas da proposta. Você pode sugerir, por exemplo, que eles comecem definindo o que vão inserir no cartaz e que se dividam: enquanto um desenha o mapa, outro escreve e outros dois procuram as imagens nas revistas para recortar e colar no cartaz.
Separe alguns minutos ao final da atividade para que eles apresentem os cartazes.
Os estudantes podem ser avaliados pelo empenho na realização da proposta, pela cooperação com o grupo e pela articulação crítica e criativa de conceitos e ideias trabalhados ao longo da Unidade.