Tema 2 Dança na rua ou dança de rua?

Dança de rua

No Tema 1, você conheceu grupos que apresentam seus espetáculos de dança nas ruas. Esses são grupos da chamada dança contemporânea e dedicam-se ao desenvolvimento de propostas que visam repensar a relação da arte com o espaço, aproximando-a do público.

As ruas e as praças, no entanto, são o cenário de diversas apresentações de dança que surgiram em espaços urbanos – as denominadas danças urbanas. O break é uma das mais conhecidas dessas danças urbanas. Observe a fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Três homens realizam passos de break em uma praça em frente a um prédio antigo. À esquerda, um jovem apoia-se apenas com um dos braços no chão e executa um movimento com as pernas no ar; à direita, outro jovem planta bananeira enquanto joga uma perna para trás e a outra para frente. No centro, um terceiro homem está em pé, com os braços abertos.
Dançarinos dançam break, nas ruas de Budapeste, na Hungria. Fotografia de 2016.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Você já dançou ou já assistiu a alguma apresentação de break? Em caso afirmativo, comente com os colegas como foi essa experiência.
  2. Você conhece algum movimento característico do break?
Versão adaptada acessível

1. Você já dançou ou já presenciou alguma apresentação de break? Em caso afirmativo, comente com os colegas como foi essa experiência.

Respostas e comentários

Objetivos

  • Conhecer e valorizar as chamadas danças urbanas.
  • Identificar as várias expressões artísticas da cultura hip-hop, como o break (na dança), o grafite (nas artes visuais) e o rap (na música).
  • Entender o papel desempenhado pelo DJ
  • Reconhecer a rua como espaço de celebrações e perceber o frevo como um bem do patrimônio cultural brasileiro.
  • Participar de atividade de dança, tendo como base os passos do break e do frevo.
  • Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

e

Contextualização

Comece este Tema perguntando aos estudantes sobre seus conhecimentos prévios quanto ao universo das danças urbanas e abra espaço para que compartilhem saberes entre eles. Caso julgue conveniente, comente com a turma que essas danças são um agrupamento de vários estilos que existem nos ambientes urbanos e têm relação direta com os espaços das cidades. As danças urbanas surgiram com os negros nos Estados Unidos e os imigrantes, influenciadas pelo sapateado irlandês e pelas danças africanas.

Foco na linguagem

  1. Incentive os estudantes a lembrar de situações em que dançaram, mesmo que por “brincadeira”, como festas ou encontro com amigos. Se eles não se lembrarem de ter visto alguém dançando break ao vivo, talvez tenham visto esse estilo de dança em filmes ou videoclipes.
  2. Estimule os estudantes a falar sobre quais movimentos do break eles conhecem. Se não souberem os nomes dos movimentos, peça-lhes que os descrevam, como “girar com a cabeça no chão”, “movimentos rápidos com os pés” etcétera Caso os estudantes digam que não sabem ou não conhecem, sugira um exercício de imaginação. Pergunte o que, para eles, seriam movimentos de break.

A cultura hip-hop

O break surgiu na década de 1970, nos Estados Unidos, como parte de um movimento cultural que reunia elementos das culturas latino- -americana e afro-americana. Esse movimento cultural recebeu o nome de hip-hop e disseminou-se por diversos países. Além do break, são expressões do movimento hip-hop o grafite, nas artes visuais, e o rap, na música. A partir dessas diversas linguagens artísticas, o movimento começou reivindicando os pontos de vista e as vozes de jovens que eram marginalizados e invisibilizados na sociedade. Essa reivindicação segue presente no trabalho de muitos artistas e coletivos.

Fotografia. Homem de cabelo preto veste máscara de proteção, blusa laranja e calça preta. Ele está grafitando uma parede e desenha uma figura imaginária com cores vibrantes: um monstro colorido com vários olhos e uma boca grande com dentes brancos; suas escamas são coloridas e há uma pessoa agarrada à boca do monstro.
O artista Ludu grafita um muro da cidade de São Paulo (São Paulo), em 2017.

Entre os pioneiros do hip-hop, destaca-se o DJ (abreviação de disc jockey) estadunidense áfrica bambáta (nome artístico de ). O DJ é o profissional que programa e reproduz as músicas que tocam em programas de rádio, em eventos ou em festas. Em 1986, áfrica bambáta lançou a canção Planet rock, considerada o marco inicial do movimento hip-hop. Bambaataa viaja o mundo todo divulgando a cultura hip-hop.

O hip-hop chegou ao Brasil na década de 1980 e, em pouco tempo, consolidou-se, principalmente, entre os jovens moradores das periferias das grandes cidades.

Respostas e comentários

Contextualização

Pergunte aos estudantes se eles conhecem o movimento hip-hop e, em caso afirmativo, de quais artistas e coletivos se lembram.

Apresente a eles informações a respeito do contexto em que o hip-hop surgiu e de como se tornou um movimento social e cultural presente em todo o mundo. Comente que a cultura hip-hop, essencialmente urbana, reflete os conflitos oriundos de discriminações e desigualdades acentuadas nas cidades. Em sua origem, o movimento estava relacionado à busca de jovens negros que viviam na periferia de Nova York nos Estados Unidos, por melhores condições de vida. Explique que muitos jovens que pertenciam a gangues e praticavam crimes encontraram na cultura hip-hop um meio para transformar sua realidade e buscar maneiras para construir um futuro melhor.

Em seguida, retome as referências que eles trouxeram, perguntando se percebem ou não essas características nelas também. Atualmente, o movimento hip-hop nos Estados Unidos da América tem diversas vertentes, que não necessariamente têm as características do movimento no início. Já no Brasil, o aspecto de denúncia, por exemplo, segue com força em algumas linguagens, como no rap.

Caso os estudantes não tragam nenhuma referência ou citem apenas exemplos internacionais, considere orientar uma pesquisa, em um momento oportuno, sobre algumas referências brasileiras no movimento hip-hop.

Por dentro da arte

O rap

Abreviação de rhythm and poetry (“ritmo e poesia”), o rap é um estilo de música popular que se caracteriza pela interpretação de rimas improvisadas sobre um acompanhamento rítmico.

O responsável por compor e cantar as letras de rap é o MC (abreviação de master of ceremonies, o “mestre de cerimônias”), também conhecido como rapper. Cabe ao DJ propor e trabalhar a sonoridade dos encontros de rap. Para produzir os sons eletrônicos que compõem essa base rítmica, os DJs utilizam diversos equipamentos. Um efeito sonoro típico do rap é o scratch – som provocado pelo atrito da agulha com o disco de vinil.

Fotografia. Detalhe das mãos de um DJ, que ajusta o volume em uma mesa de som ao mesmo tempo em que movimenta um LP ou vinil no toca-discos.
O DJ Panchez produz o efeito scratch, em Kiev, na Ucrânia. Fotografia de 2018.

As letras de rap, em geral, abordam questões sociais e políticas e, muitas vezes, relatam situações do cotidiano das pessoas que vivem nas periferias das grandes cidades. A seguir, leia a letra da canção “Lado bom”, de Ferréz.

Lado bom

“Periferia tem seu lado bom

Manos, vielas, e futebol no campão.

Meninas com bonecas e não com filhos

Planejando assim um futuro positivo


Sua paz é você que define

Longe do álcool, longe do crime.

A escola é o caminho do sucesso

Pro pobre honrar desde o começo.


E dizer bem alto que somos a herança

De um país que não promoveu as mudanças

Sem atrasar ninguém, rapaz

Fazendo sua vida se adiantar na paz


Jogando bolinha, jogando pião

Vi nos olhos da criança a revolução

Que solta a pipa pensando em voar

Para não ver o barraco que era o seu lar

Respostas e comentários

Por dentro da arte

Pergunte aos estudantes se eles já ouviram alguma música em um disco de vinil.

Pergunte a eles como escutam música atualmente e se usam alguma tecnologia para registrar os sons ou mesmo para criação musical. Nesse momento, você poderá mencionar também suas experiências com as tecnologias, comentando as mudanças no modo de escutar e gravar músicas que você possa ter vivenciado.

Além disso, esses diálogos e conteúdos podem ser uma oportunidade para abordar criticamente a relação que temos com as tecnologias de registro e difusão sonora na criação de obras artísticas. Desde a época dos discos de vinil, por exemplo, artistas usam trechos de outros músicos para criar novas canções.

A apropriação de trechos de outras músicas é um recurso que os DJs usam tanto no rap quanto nas música pop eletrônica. Essa apropriação envolve questões éticas relacionadas ao modo como as referências estão sendo ressignificadas na nova obra, à menção ao autor original etcétera

Se considerar oportuno, mencione alguns exemplos, como o grupo de rap brasieliro Racionais MC’s que usou trechos de canções de Jorge Ben Jor não apenas para criar as canções, mas também como uma homenagem ao cantor e para explicitar a influência que ele representa para o grupo.

Ao abordar a letra de “Lado bom”, comente com os estudantes que Ferréz é o nome artístico de Reginaldo Ferreira da Silva. Romancista, poeta e cronista, com vários livros publicados, entre eles Capão pecado, Ferréz é considerado representante da literatura marginal. Ligado ao movimento hip-hop, em suas obras fala das vivências da população mais pobre da periferia das cidades grandes.

Refrão (2×)

Periferia lado bom o que você me diz

Alguns motivos pra te deixar feliz

Longe do álcool, longe do crime

Sua paz é você que define


E nessa pipa no céu eu vi planar

A paz necessária para se avançar

Ânimo, positivismo em ação

Hip-hop, cultura de rua e educação


Foi assim que criaram e assim que tem que ser

O mestre de cerimônia rimando pra você

Enquanto o DJ troca as bases

O grafiteiro pinta todo o contraste


Da favela pro mundo

O caminho do rap pelo estudo

Por isso eu não me iludo

Roupa de marca não é meu escudo


Detentos, já te disse no começo

E estudar do sucesso é o preço

Porque a fama não cabe num coração pequeno

Então positivismo pra vencer, vai vendo


Refrão (2×)

Periferia lado bom o que você me diz

Alguns motivos pra te deixar feliz

Longe do álcool, longe do crime

Sua paz é você que define.”

LADO bom. Ferréz. Disponível em: https://oeds.link/BOmPWL. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia. Muro todo grafitado com cores vibrantes e expressões e palavras, como: 'lado bom', 'paz', 'vida', além de ilustrações de crianças praticando diversas atividades, como brincar com um urso de pelúcia e cuidar de pássaros, além de símbolos como a bandeira do Brasil e 'proibido armas'.
O grafite realizado em um muro de uma escola na cidade de São Paulo (São Paulo), pelos artistas Jana Joana e Vitché, ilustra alguns elementos da letra do rap “Lado bom”. Fotografia de 2005.

Faça no diário de bordo.

Foco na linguagem

  1. Que elementos da letra da canção despertam seu interesse?
  2. Ouça o áudio “’Lado bom’, de Ferréz” e converse com os colegas sobre os elementos do rap que podem ser identificados em “Lado bom”.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Respostas e comentários

Foco na linguagem

  1. Incentive os estudantes a refletir e comentar elementos ou trechos que despertam o interesse deles.
  2. Os estudantes devem mencionar o fato de a letra tratar de questões do cotidiano da periferia e de o acompanhamento ser feito pelos sons produzidos por um DJ Espera-se que eles também citem a utilização do efeito scratch.

Sugestão de atividade

Peça aos estudantes que se reú­nam com dois colegas e criem uma letra de rap Incentive-os a transformar em rima suas experiências e percepções sobre o local onde moram, a cidade e como as pessoas se relacionam. Ao final, peça que leiam em voz alta e compartilhem com a turma toda.

Entre textos e imagens

Manifestações culturais afro-brasileiras

reticências

A importância da palavra entre as sociedades africanas reaparece numa das mais fortes manifestações afro-brasileiras contemporâneas: o rap. Nele, a força da musicalidade africana está presente em circuitos que unem os negros dos Estados Unidos aos negros do Brasil, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tanto os ritmos marcados e repetitivos como a força da palavra, e especialmente da palavra cantada, remetem a características das sociedades africanas. Além de narrar fatos do cotidiano e fazer a crônica dos acontecimentos, como fazem as sociedades africanas, as letras das músicas de rap denunciam a opressão e a marginalização a que estão submetidos os habitantes das periferias dos grandes centros urbanos, em sua maioria negros e mestiços. Geralmente acompanhando a música há um tipo específico de dança, conhecido como break, no qual as marcas africanas também são evidentes. Não mais o requebro de quadris e o meneio de ombros presentes no samba, mas a quebra dos movimentos na qual a parte superior e a parte inferior do corpo se tornam quase independentes uma da outra, o que também é tipicamente africano.

O rap surge em um momento em que a adoção dos valores do mundo branco dominante não é mais vista como necessária no caminho da ascensão social e em que as raízes africanas são valorizadas em vez de negadas. A contestação da ordem social e a denúncia da violência presentes nas letras desse gênero musical fazem parte de um movimento de valorização da negritude que tomou corpo a partir da década de 1960. Nelas não há mais a visão de um país no qual as diferentes raças convivem em harmonia, sendo expostos os conflitos, os privilégios e as diferenças sociais entre brancos, negros e mestiços. Além de denunciar a opressão e a violência que pesam sobre as populações da periferia, os grupos de rap muitas vezes se engajam em atividades que visam enfrentar os problemas dessas comunidades, como promoção de oficinas e palestras voltadas para o aperfeiçoamento profissional e intelectual das pessoas. Dessa fórma, apesar de serem vistos com suspeita pela opinião pública, sendo acusados em alguns casos de incitar à violência em virtude da crueza das letras que cantam, muitas vezes, além de serem canais de denúncia da exclusão e da marginalização dos afro-brasileiros, empreendem ações que buscam solucionar os problemas que afligem esses grupos e, portanto, uma transformação na ordem social em vigor.

reticências

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 138-139.

Faça no diário de bordo.

Questões

  1. De acordo com o texto, por que o rap e o break são considerados manifestações culturais afro-brasileiras?
  2. Quais são as diferenças entre os movimentos do samba e os movimentos do break apresentadas no texto?
  3. Você conhece outras danças que são influenciadas pelas culturas africanas ou são praticadas nos países do continente africano?
Respostas e comentários

Entre textos e imagens

Oriente a leitura do texto. Comece pedindo que façam a leitura individualmente e anotem os trechos e as palavras que chamaram a atenção deles. Em seguida, incentive-os a comentar os destaques que fizeram. Assim, vocês começam a dialogar com o texto antes da leitura.

Por fim, peça a quatro estudantes que se sentirem à vontade que leiam o texto em voz alta, cada um uma parte. Para dividir essa leitura, sugira que um comece e leia até o momento que quiser parar, em seguida o outro começa a ler até decidir parar e assim por diante.

A escuta do texto lido em voz alta e por mais de uma voz, possivelmente, fará com que os estudantes compreendam outros sentidos do texto que não perceberam na leitura silenciosa. A partir desses contatos com o conteúdo, comece a trabalhar as perguntas com a turma.

Questões

  1. Espera-se que os estudantes comentem que o rap e o break trazem elementos das culturas africanas, como o ritmo e as narrativas das letras do rap e os movimentos característicos do break.
  2. A diferença, segundo o texto, está na quebra dos movimentos, que faz com que as partes superior e inferior do corpo tornem-se “independentes”.
  3. Incentive os estudantes a mencionar referências de danças que considerem ser influenciadas pelas culturas africanas ou praticadas nos países do continente africano, mesmo que eles não tenham todas as informações sobre essas danças. Caso não conheçam nenhuma referência ou não tenham muitas informações, oriente uma pesquisa sobre essas referências culturais. Ressalte também a importância de buscarem as especificidades dessas referências (país/local e etnia de origem) para não cometerem generalizações.

O break

Agora, pense em uma festa em que haja muita música e na qual ocorram pequenos intervalos para realizar a troca entre os DJs. O que você faria nesses intervalos?

Em Nova York, Estados Unidos, na década de 1970, os dançarinos usavam esses intervalos para dançar e mostrar suas danças nos block parties – as festas de quarteirão, que eram realizadas nas ruas da cidade. Por acontecerem nesses espaços de quebra que havia entre as músicas, essas danças foram chamadas breakdance (ou break, que significa “quebra”, em português). Os dançarinos são chamados bboys e bgirls, os breakboys e as breakgirls.

Reunidos em grupos (chamados crews – “tripulações”, em português), esses dançarinos faziam da dança uma possibilidade de demarcar seu território, mostrar suas habilidades e compartilhar os propósitos de resistência às injustiças sociais. Você sabia que a capoeira também teve e ainda tem esse mesmo caráter de resistência social?

De origem afro-brasileira, a capoeira era praticada por africanos escravizados como um modo de resistência cultural e de defesa e, por muito tempo, essa prática foi proibida. Atualmente, a capoeira é praticada por pessoas das mais variadas origens sociais, tanto no Brasil quanto no exterior.

Fotografia em preto e branco. Homem dança break em uma praça. Ele está vestido com camiseta branca e calça jeans, com a cabeça e as mãos apoiadas no chão, e as pernas abertas ao alto. Ao redor, pessoas observam a apresentação.
Dançarino de break, em Nova York, Estados Unidos. Fotografia da década de 1980.
Fotografia. Grupo de capoeira pratica o esporte a céu aberto. Eles vestem roupas brancas  alguns tem faixas coloridas amarradas na altura da cintura. Há um homem e uma mulher ao centro, fazendo movimentos. Ao redor, há quatro homens cantando e tocando instrumentos musicais, como pandeiro, berimbau e atabaque.
Apresentação de capoeira, em Salvador (Bahia), em 2017.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

Forme uma roda de dança com toda a turma para experimentar uma batalha de dança, na sala de aula.

Procedimentos

  1. Lista do DJ: junto a toda a turma, escolham algumas canções que vão tocar na roda.
  2. Aquecer a roda: com as orientações do professor e em roda, aqueçam o corpo para começar a batalha.
  3. Regras da batalha:
  • Um ou dois estudantes serão os DJs, enquanto os outros fazem a roda e começam a dançar. Essas funções podem se revezar para que todos possam dançar.
  • Os DJs colocam uma música para tocar por alguns segundos, um estudante entra na roda e começa a dançar. Quando os DJs mudarem a faixa musical, outra pessoa deve entrar na roda para dançar e desafiar quem veio antes, tentando dialogar com os movimentos que o colega estava fazendo.
  • Vocês podem também entrar em duplas ou trios para batalhar.
Respostas e comentários

Contextualização

Comente com os estudantes que não é só no caráter de resistência social que o break e a capoeira têm pontos em comum. Além de ambos serem uma maneira de os jovens reinventarem seu cotidiano, refletindo sobre questões socioculturais, essas duas manifestações apresentam semelhanças em seus movimentos e sua estrutura corporal, também chamada de base. Por exemplo, o freeze, nome que se dá aos movimentos estáticos dos bboys. Nesses movimentos, os dançarinos fazem pausas em diversas posições complexas, como se estivessem congelados, por isso o nome freeze. Esse elemento também está presente na capoeira quando os capoeiristas ficam sus­pensos na mesma po­sição, provocando o oponente durante a luta. Podem ser destacados outros movimentos comuns às duas manifestações, como giros de cabeça, giros e paradas de mão, estrelinha, saltos mortais, giros no chão com as costas etcétera Outro elemento comum é a musicalidade e o ritmo: tanto o break quanto a capoeira contam com a música para acontecer. Nas duas situações, dança e luta estão presentes: na capoeira, uma luta “dançada”, acompanhada pelos instrumentos musicais. No break, uma dança com elementos de luta, no enfrentamento das batalhas, por exemplo.

Experimentações

Abra um espaço dentro da sala de aula para experimentar a batalha de dança. Quando os estudantes formarem a roda, pergunte se já tinham ouvido o termo “batalha” em referência a uma prática de dança, se conhecem essa prática ou já participaram dela. Nessa conversa, caso alguns estudantes conheçam ou já tenham participado de uma batalha, pergunte que estilo musical era tocado. Durante a prática, se necessário, ressalte a importância de os estudantes acolherem a fórma como cada pessoa dança. Diga-lhes que todos os movimentos que praticamos, dos mais simples aos mais complexos, são pessoais e devem ser respeitados em sua singularidade.

  1. As canções escolhidas podem ser de estilos diferentes e podem ser apenas trechos.
  2. Antes de começar a dança, faça um breve aquecimento: peça aos estudantes que deem pequenos saltos no lugar onde estão tirando apenas os calcanhares do chão e depois os pés inteiros. Faça isso por pouco segundos, cerca de dez repetições para cada tipo de pulo. Depois, peça a eles que chacoalhem as pernas, os pés, os braços, as mãos e que façam círculos com a cabeça, para um lado e para o outro. Em seguida, comece a roda da batalha.
  3. Repasse as regras da batalha com os estudantes e comece o jogo com eles. Lembre-os de que o mais importante é se divertir e experimentar esse modo de dançar, ou seja, nesse momento o foco não está na competição.

A partir dessa prática com a turma, aprofunde no conteúdo sobre batalhas na página 147.

As batalhas

Com o surgimento do break, iniciaram-se as batalhas. Essas batalhas são competições nas quais dançarinos ou grupos de dançarinos se apresentam, frente a frente, e são julgados pelo público.

Fotografia. Homem executa um movimento de dança. Vestido com roupas pretas, ele está no ar, com a cabeça apontada para o chão, com as pernas cruzadas ao alto e os braços semiabertos em um salão com pessoas observando seus movimentos.
Dançarino se apresenta em encontro de bboys ebgirls realizado em Brasília (Distrito Federal), em 2018.

Embora originalmente o termo batalha tenha em seu significado algo que remete à violência (as guerras, por exemplo), as batalhas de hip-hop surgiram no contexto dos bairros pobres de Nova York, justamente para combater a violência que havia ali. Os fundadores do movimento hip-hop propunham que os conflitos entre grupos fossem substituídos por encontros de dança em que eles se enfrentassem de modo não violento, dançando. Esses grupos, como vimos anteriormente, são chamados crews.

Ao longo do tempo, as batalhas foram se modificando, deixando os territórios de conflito e ampliando o alcance para outras partes do mundo, preservando algumas características comuns: toda batalha formal deve ter um MC (o mestre de cerimônia), um DJ (aquele que escolhe as músicas), os jurados (que são os avaliadores) e os crews (individuais ou coletivos).

Hoje, as batalhas também ampliaram a gama de possibilidades da dança: vários estilos podem participar dessas batalhas, dançando em grupos ou individual­mente. Nas batalhas tradicionais, há sempre um jogo entre a música e a dança, pois os dançarinos, em geral, não sabem o que será tocado, possibilitando, assim, a criação de danças durante a batalha. Isso faz com que as danças urbanas não se cristalizem e estejam sempre vivas e dinâmicas.

Respostas e comentários

Contextualização

Se julgar oportuno, comente com os estudantes que existem regras e critérios de votação para uma batalha de break. Há critérios relacionados ao grupo, como a sincronicidade (se todos dançam juntos em uníssono), a presença de palco (se o grupo consegue prender a atenção de todos ao dançar) e a coreografia (se a coreografia é bem construí­da e inovadora). Também há critérios relacionados a apresentações individuais de bboys e bgirls, entre os quais se destaca a qualidade da execução de alguns passos, como o toprock, o footwork, o freeze e o powermove.

Outros critérios considerados nos julgamentos das batalhas são a postura do grupo durante a batalha, a dificuldade das sequências e se o grupo consegue “provocar” o adversário e reagir com criatividade às “provocações”.

Os movimentos do break

Existem algumas danças que são compostas de passos ou de movimentos básicos preexistentes. Você sabe dizer algumas danças que têm essa característica?

Essas danças são chamadas codificadas, pois trazem um código preestabelecido historicamente, que deve ser compreendido e seguido por todos aqueles que a praticam.

De certo modo, esse é o caso do break. No break, existem alguns movimentos essenciais, criados ao longo das décadas, e que todos os dançarinos aprendem quando se dedicam ao hip-hop, mas que, em uma batalha, podem e devem ser recriados pelos dançarinos.

E você? Alguma vez, já participou de uma batalha de break ou já assistiu a alguma? Percebeu que os movimentos são individuais, predominantemente fortes, rápidos e diretos?

No break, os dançarinos, em geral, exploram todos os níveis do espaço (os níveis alto, médio e baixo) e seu olhar permanece fixo no dançarino rival ou nos jurados. Observe a fotografia a seguir.

Fotografia. Dois homens dançam, um em frente ao outro, no centro de um salão. À esquerda, homem de boné cinza, vestido com camiseta marrom e calça preta, está em pé, com o corpo curvado para a frente enquanto observa o outro dançarino. À direita, homem de bandana preta, vestido com blusa azul e calça verde, está rente ao chão, com o apoio das duas pernas e um braço no palco. Ao fundo, plateia observa o espetáculo.
Dançarino se apresenta em encontro de bboys e bgirls realizado em Brasília (Distrito Federal), em 2018.
Respostas e comentários

Contextualização

Pergunte se alguém já assistiu a algum espetáculo ou se pratica alguma dança, como jazz, balé etcétera Depois de eles terem respondido, converse sobre como é seguir e aprender passos que eles não inventaram e proponha uma discussão sobre os códigos da dança (movimentos preexistentes) que engessam o corpo e não possibilitam criar ou interpretar as danças de modo subjetivo. Proponha também uma discussão sobre o processo contrário: os códigos que estabelecem uma base para a criação, que pode ser o caso das danças urbanas. Comente com eles ainda que existem danças criadas inteiramente por seus intérpretes (os chamados “intérpretes-criadores”), que não seguem passos ou movimentos básicos predeterminados.

No entanto, tanto no caso de danças criadas com base em códigos quanto aquelas que não necessariamente partem de códigos predefinidos, as práticas de improvisação de movimentos estão presentes como ferramentas para criar.

Auxilie os estudantes na leitura completa da imagem. Comente que um dos bailarinos (de blusa marrom) está entre os níveis médio e alto, enquanto o outro (de blusa azul) está entre os níveis médio e baixo.

Comente que os dançarinos mantêm o contato visual o tempo todo durante a batalha.

Comente também que o público participa como uma torcida de futebol, incentivando o dançarino para o qual torcem.

Toprock e floor rocks

Nas apresentações de break há, inicialmente, um conjunto de movimentos mais simples que são realizados em pé (nível alto) pelos dançarinos, denominados toprock.

Esses são considerados “movimentos de aquecimento”, pois são executados anteriormente às séries e às sequências principais que os dançarinos realizam.

Fotografia. Dois adolescentes treinam passos de dança. À esquerda, menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta branca e calça azul, está com os joelhos e os pés virados para dentro. À direita, menina de cabelo cacheado castanho, vestida com camiseta branca e calça azul, observa o colega ao lado e está com as penas um pouco dobradas, com os calcanhares juntos. Ao fundo, árvores e uma casa.
Os dançarinos acompanham a batida do rap em pé e fazem movimentos com o corpo, que imprime o ritmo. São Caetano do Sul (São Paulo), 2014.

Os chamados floor rocks também são característicos do Brêiqui e são movimentos realizados no nível baixo com o apoio dos pés e das mãos. Observe a fotografia a seguir.

Fotografia. Menina de cabelo cacheado castanho, vestida com camiseta branca e calça azul, executa um movimento rente ao solo, com os dois braços e uma perna apoiados e a outra perna esticada, paralela ao chão.
Dançarina executa os floor rocks utilizando o apoio das mãos e dos pés no chão (nível baixo) para girar e se equilibrar. São Caetano do Sul (São Paulo), 2014.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

   

Agora, vamos decodificar alguns movimentos do break? Experimente alguns códigos, compreenda-os à sua maneira e transforme-os.

Momento 1 – Dançar o código

  1. Dance, livremente, com os movimentos de break que você conheceu nesta página.
  2. Em seguida, reúna-se com dois colegas e mostrem um para o outro como estão fazendo, compartilhando soluções para os movimentos.
  3. Usem o ritmo e a letra da canção “Lado bom”, do artista Ferréz, e perceba que, aos poucos, a dança vai se aproximando da sua maneira de dançar.

Momento 2 – Decodificar

  1. Improvisem novos movimentos, criando variações.
  2. Combinem os movimentos que aprenderam, variações deles e outros que possam surgir nas trocas com os colegas e com os estímulos da música.
  3. O break é uma dança autoral, cada pessoa pode inventar a própria maneira de dançar. Valorize o modo como os colegas dançam.

Momento 3 – A rua é a escola

  1. Com a orientação do professor, experimentem essas maneiras de dançar, ocupando os espaços da escola.
  2. Aproveitem os espaços de que mais gostam. Nesse momento, toda a turma vai se reunir para dançar, como se fosse a rua.
  3. Dancem em trios. Não é necessário ter música. Quem estiver acompanhando pode bater palmas em um ritmo similar ao rap para orientar cada trio que for dançar.
  4. Ao final, sentem-se em roda em um desses lugares para conversar sobre essa experiência.
Respostas e comentários

Experimentações

Arraste as carteiras para obter um espaço vazio no centro da sala ou realize essa atividade em espaço amplo. Se considerar necessário, retome com os estudantes a noção de código na dança.

Momento 1: nesse primeiro momento, os estudantes devem explorar individualmente, ao som da música, os movimentos de break. Enfatize que o mais importante é que eles experimentem os movimentos a partir dos corpos de cada um, respeitando suas especificidades e seus limites. Insista para que eles se divirtam, sintam prazer com a dança. Peça-lhes que ensinem os movimentos uns aos outros, e sempre ressalte que o movimento que é fácil para um estudante pode não ser tão fácil para outro. Assim, oriente-os sempre a adaptar os movimentos aprendidos às possibilidades do próprio corpo.

Momento 2: permita que os estudantes improvisem a dança em algumas músicas e se divirtam. Fique atento para o caso de haver alguma situação de constrangimento na turma relacionada ao modo como cada ­estudante dança. Todas as maneiras de dançar, com trejeitos pessoais e características corporais de cada um, devem ser acolhidas e valorizadas na sua especificidade. O modo de cada dançarino se expressar, inclusive, é uma característica do break e de outras danças praticadas na atualidade.

Momento 3: se optar por trabalhar esta prática em articulação à prática do Tema 1, peça aos estudantes que retomem as cartografias e escolham alguns espaços para experimentar a partir da referência do break. No entanto, se não estiver trabalhando as práticas de modo articulado, peça a eles que indiquem alguns espaços onde queiram dançar. Nesses espaços, faça rodas com todos em pé, bem descontraídas. Incentive os estudantes a bater palmas e a motivar os colegas que estiverem dançando no centro da roda. Chame a atenção deles para o fato de que este não é um momento de batalha de break, e sim um momento de dança coletiva.

O momento da roda de conversa e troca de experiências é também um espaço de avaliação. Por isso, faça perguntas que possibilitem investigar como foi o processo para eles e também que viabilizem reflexões dos estudantes sobre a atividade. Nesta avaliação, opte por focar no processo, e não no resultado final. Por isso, considere também as suas observações e as deles durante o processo. O break é uma dança que exige muito treino e dedicação. O importante para essa atividade é observar o envolvimento dos estudantes, a experimentação e a disponibilidade para tentar e criar passos, cada um dentro de suas possibilidades individuais.

Arte e muito mais

Das ruas para os palcos

Atualmente, existem grupos de danças urbanas que estabelecem parcerias com grupos de dança contemporânea a fim de ampliar o universo dessas duas correntes de dança.

Esse é o caso do Grupo Solo de Dança, dirigido pela intérprete Luciana Caetano, e do grupo Mega Break, do bboy diérri X, ambos de Goiânia (Goiás). O encontro entre as técnicas desses dois grupos resultou no espetáculo Concreto, retratado nas imagens a seguir.

Fotografia. Duas pessoas dançam lado a lado. À esquerda, homem de cabelo curto preto, vestido com camisa branca e calça vermelha, está quase de ponta-cabeça, com um braço apoiado no chão. À direita, mulher de cabelo preso cacheado preto, vestida com camisa branca e calça preta, está no chão, erguendo o corpo lateralmente com o apoio das pernas e um braço. Ao fundo, porta de alumínio.
Fotografia. Duas pessoas dançam lado a lado. À esquerda, homem de cabelo curto preto, vestido com camisa branca e calça vermelha, está plantando bananeira apenas com os braços apoiados no chão, enquanto as pernas estão semidobradas ao alto. À direita, mulher de cabelo preso cacheado preto, vestida com camisa branca e calça preta, está em pé, com uma das pernas um pouco erguida e os braços em movimento. Ao fundo, porta de alumínio.
Os dançarinos diérri X e Luciana Caetano em cenas do espetáculo Concreto, em Goiânia (Goiás), em 2014.

No espetáculo Concreto, são abordadas as questões políticas, sociais e do cotidiano. As canções e os poemas concretos do músico e poeta Arnaldo Antunes – que conhecemos na Unidade 1 – são o fio condutor desse espetáculo.

A concepção e a direção de Concreto são de Luciana Caetano, que também atua como intérprete no espetáculo ao lado do bboy diérri X.

Respostas e comentários

Arte e muito mais

No espetáculo Concreto, o break, com a dança contemporânea, passa a ter o objetivo de compor um novo sentido com base nas ideias, nas vontades e nos objetivos dos criadores da obra.

Esta é uma oportunidade para abordar o Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo no contexto da dança. Os dois estilos são fórmas de arte e podem ocupar tanto as ruas quanto os palcos. Ou seja, assim como a dança contemporânea que historicamente ocupou palcos de teatros passa a ser apresentada nas ruas, as danças de rua praticadas por bgirls e bboys (nomenclatura usada pelos dançarinos de break) também ocuparam os teatros, reafirmando sua importância como arte e expressão cultural afro-brasileira.

A rua como espaço de celebração

A dança também faz parte de festejos e de celebrações que acontecem em todo o Brasil. Um exemplo disso é o frevo, expressão musical, coreográfica e poé­tica que surgiu no Carnaval pernambucano no fim do século dezenove. Observe a fotografia reproduzida a seguir.

Fotografia. Grupo de pessoas dançam frevo, vestidas com roupas coloridas (homens usam collant de corpo inteiro e as mulheres, minissaias esvoaçantes, todas as roupas com detalhes listrados em preto) com pequenas sombrinhas coloridas erguidas com uma das mãos. O grupo está no calçadão, à beira do mar, com prédios ao fundo.
Grupo de passistas dança o frevo, em Recife (Pernambuco). Fotografia de 2018.

Alguns estudiosos propõem que o termo frevo tenha se originado da palavra fervo (do verbo ferver), aludindo ao ritmo “quente” e vigoroso dessa dança. A coreografia do frevo se caracteriza por movimentos frenéticos e intensos em que os passistas (dançarinos) flexionam pernas e braços, subindo e descendo o corpo e dando saltos. Acredita-se que vários desses elementos são desdobramentos da ginga da capoeira.

Outro elemento marcante do frevo é a pequena sombrinha multicolorida que os passistas levam nas mãos. Observe a fotografia desta página.

Respostas e comentários

Contextualização

Ao abordar a questão da rua como espaço de celebração, pergunte aos estudantes se, nos espaços públicos dos lugares onde moram, há festejos que incluem a dança. Caso obtenha resposta afirmativa, incentive-os a compartilhar uns com os outros quais são as características dessas manifestações e pergunte a eles se já participaram de algumas delas. Se sim, estimule-os a conversar sobre suas experiências uns com os outros.

A fim de obter mais informações sobre o frevo, leia o texto “O passo: dança”, nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual. Caso julgue proveitoso, comente com os estudantes algumas das informações desse texto.

Reserve um tempo para ler com os estudantes a imagem desta página.

Se considerar oportuno, use algumas perguntas como disparadoras da leitura imagética:

  • Quais elementos chamam a atenção à primeira vista?
  • A imagem traz alguma lembrança?
  • Como é o espaço onde os dançarinos praticam a dança?
  • Como são os figurinos e adereços que usam?

Aproveite essa pergunta para investigar quais referências e repertórios os estudantes têm e se os associam ou não com o frevo.

Se não comentarem o espaço, fale brevemente sobre a cidade do Recife (Pernambuco), cujo centro histórico está localizado na parte da ilha da cidade, junto a um porto. Comente também o figurino que usam (saias curtas, calças justas e collants que permitem amplos movimentos) e a sombrinha, adereço que integra os movimentos da dança.

Arte e muito mais

Um bem do patrimônio cultural brasileiro

“O Frevo reticências é uma fórma de expressão musical, coreográfica e poética densamente enraizada em Recife e Olinda, no Estado de Pernambuco. reticências Em 2012, o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife foi incluído na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.

A história do frevo está registrada na memória coletiva do povo pernambucano, nos modos como essas pessoas povoam a vida sociocultural do Recife, sua fórma de organização; participação da população na festa, no cotidiano, nas intenções políticas e sentidos por elas atribuídos. Manifestação artística da cultura pernambucana, desempenha importante papel na formação da música brasileira, sendo uma das suas raízes.

reticências

Do repertório eclético das bandas de música, composto por variados estilos musicais, resultaram suas três modalidades, ainda vigentes: frevo de rua, frevo de bloco e frevo-canção. Simultaneamente à música, foi-se inventando o passo, isto é, a dança frenética característica do frevo. Improvisada na rua, liberta e vigorosa, criada e recriada por passistas, a dança de jogo de braços e de pernas é atribuída à ginga dos capoeiristas, que assumiam a defesa de bandas e blocos, ao mesmo tempo em que criavam a coreografia. Produto desse contexto sócio-histórico singular, desde suas origens, o Frevo expressa um protesto político e uma crítica social em fórma de música, de dança e de poesia, constituindo-se em símbolo de resistência da cultura pernambucana e em expressão significativa da diversidade cultural brasileira.”

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (ifãn). Frevo. Disponível em: https://oeds.link/ulNnu9. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia em preto e branco. Grupo de pessoas dança frevo com guarda-chuvas. Os homens usam camisa e calças sociais, com chapéus, em uma rua de paralelepípedo.
vergê, piérre. Frevo em Recife. 1947. Fotografia, digitalização a partir de negativo 6 por 6 centímetros. Fundação Salvador (Bahia).

Faça no diário de bordo.

Ícone. Tema contemporâneo transversal Multiculturalism.

Assim como o frevo, há outras danças brasileiras consideradas patrimônio cultural. Reúna-se em grupo com os colegas e façam uma pesquisa sobre este tema. Vocês devem realizar um levantamento que leve em consideração o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn) e também os órgãos estaduais e municipais de preservação do patrimônio. Ao final, façam um seminário, usando vídeos como recurso para apresentar a dança que escolheram.

Respostas e comentários

Arte e muito mais

Ao trabalhar essa seção, incentive os estudantes a conversar uns com os outros sobre os saberes deles quanto às práticas corporais e musicais do frevo. Depois de uma primeira troca de ideias, se possível, coloque uma música orquestrada (como a “Marcha norteº 1”, do Clube Vassourinhas, criada no final do século dezenove por Mathias da Rocha e Joana Baptista e que se tornou a música símbolo do Carnaval pernambucano) ou uma canção com esse ritmo para que os estudantes comecem a imaginar esses movimentos, que fazem parte de nossas referências culturais.

A história do frevo abre diversas possibilidades de estudo e aprofundamento sobre as matrizes culturais brasileiras, e a importância das diversas regiões do país para a conformação dessas matrizes multiculturais.

Este pode ser um momento para trabalhar uma proposta interdisciplinar com o componente História e investigar a importância das culturas populares, também chamadas de “não letradas”, para a produção das artes e das identidades no Brasil do século Alguns elementos dessa história podem ser conhecidos e pesquisados nas exposições virtuais do Paço do Frevo, um centro de referência em salvaguarda do frevo focado na difusão, na pesquisa, no lazer e na formação nas áreas da dança e música do frevo, localizado em Recife (Pernambuco).

Proposta de pesquisa

Essa proposta de pesquisa se relaciona com o Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo, com ênfase no subtema Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras. Os estudantes deverão fazer um levantamento catalográfico na base de dados do site do ifãn e/ou dos órgãos de preservação da sua região, estado ou cidade. Eles devem listar e, depois, escolher um único exemplo, que será compartilhado com a turma por meio de um seminário com vídeos, para torná-lo mais dinâmico e fomentar estratégias multimodais de compartilhamento de experiências e conhecimento.

Os estudantes poderão ser avaliados pela cooperação com os colegas, pelo engajamento na proposta, pelo cuidado no levantamento catalográfico e pela qualidade dos seminários.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

Agora que você estudou um pouco sobre o frevo, vamos aprender um pouco dessa dança? O frevo é dançado nas ruas das cidades de Pernambuco e em outras cidades do país. É uma dança praticada tanto por pessoas que aprendem a dançar em festas, como o Carnaval, quanto por mestres de frevo e dançarinos profissionais. Nessa experimentação, vamos aprender um dos passos de base da dança, a tesoura.

Momento 1 – Um passo do frevo

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Fotografia - Movimento 1. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Ele ergue uma pequena sobrinha colorida enquanto faz um passo de frevo, com um dos pés apontados para cima e o corpo levemente dobrado para o lado. Fotografia - Movimento 2. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Ele faz um passo de frevo, no qual segura a sobrinha colorida  próxima ao peito e com as pernas cruzadas, com a perna esquerda à frente. Fotografia - Movimento 3. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Nesse passo, ele aponta a sobrinha colorida para baixo e o outro braço erguido na direção contrária. Um dos pés aponta para o alto. Fotografia - Movimento 4. Menino de cabelo curto preto, vestido com camiseta azul e bermuda jeans, com sapatilhas pretas. Ele faz um passo de frevo, no qual segura a sobrinha colorida  próxima ao peito e com as pernas cruzadas, com a perna direita à frente.
Menino dançarino ensinando o passo tesoura do Frevo. São Paulo (São Paulo), 2016.
  1. Vamos aprender o passo tesoura. Esse é um dos passos mais conhecidos do frevo. No passo tesoura, há um movimento cruzado das pernas e dos pés, e há pequenos deslocamentos feitos pelo dançarino à direita e à esquerda.
  2. Para aprender essa dança, reúna-se em dupla com um colega; enquanto você começa a praticar com o corpo, o colega lê o passo a passo. Depois, vocês trocam de posição.
  3. Apoie o peso do corpo sobre o pé direito e abra a perna esquerda para a diagonal/frente, como na imagem do movimento 1. Repare que o peso do corpo do dançarino se desloca todo para a perna de apoio. A perna que está aberta fica somente com o calcanhar apoiado no chão!
Respostas e comentários

Experimentações

Mesmo que os estudantes não executem de fórma exata os movimentos que compõem o frevo, a proposta pode facilitar o estreitamento das relações entre eles e suas capacidades de compartilhar maneiras de ensinar e aprender os passos dessa dança. Escolha um lugar apropriado para desenvolver a atividade. Pode ser a própria sala com carteiras afastadas ou outro espaço da escola. Estimule a participação lúdica, descompromissada com a execução perfeita dos passos.

Momentos 1: o passo da tesoura inclui alguns movimentos, que combinados compõem a tesoura. Para facilitar para os estudantes, oriente-os a se organizar em duplas para que um leia e outro aprenda com o corpo, a partir das instruções, e depois troquem as funções. Outra possibilidade é usar algum vídeo da internet como referência.

Deixe que as duplas trabalhem os movimentos juntas, se ajudando, praticando e se divertindo. Auxilie os estudantes caso tenham dúvidas, mas se estiverem executando os movimentos de maneira diferente, deixe essas experimentações ou adaptações acontecerem, sem interferir.

  1. Agora, com um pequeno salto, feche a perna esquerda (que estava aberta), passando-a pela frente da perna de apoio. Observe a imagem do movimento 2.
  2. Com mais um salto, apoie todo o peso do corpo na perna esquerda, e abra a direita para a diagonal/frente. Repare que o peso do corpo agora está todo sobre a perna de apoio novamente. A perna que está aberta fica com o calcanhar apoiado no chão, conforme a imagem do movimento 3.
  3. Agora, dê um pequeno salto e, depois, feche a perna direita (que anteriormente estava aberta), passando-a pela frente da perna de apoio. Observe a imagem do movimento 4.

Momento 2 – O frevo na escola

  1. Agora, ao som de músicas de frevo, repita esses movimentos com o colega de dupla até executá-los com rapidez e agilidade! Quanto aos movimentos dos braços, deixe-os moverem-se livremente, enquanto direciona a sua atenção aos movimentos das pernas.
  2. Em seguida, busque algum objeto que possa servir de adereço para a dança. O adereço tradicional do frevo é a sombrinha. Mas, em vez de usá-la, você pode usar qualquer outro objeto para dançar. Com o objeto escolhido, invente outras maneiras de brincar o frevo, a partir das suas próprias referências e do movimento (tesoura) que acabou de aprender.
  3. Depois, com a orientação do professor, saia em cortejo, em silêncio, pelos corredores ou outro espaço interno da escola, dançando a tesoura e outros passos que queira inventar. Leve com você o objeto que você escolheu como adereço.

Momento 3 – Partilha

a. Com os colegas e o professor, no diário de bordo, faça um registro visual do cortejo, usando apenas linhas contínuas, considerando o trajeto que vocês fizeram e que represente os ritmos com os quais vocês dançaram, pularam, andaram.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Em seguida, conversem sobre como foi experimentar essa proposta, dentro e fóra da sala de aula. Caso essa experiência tenha trazido alguma memória de festas ou outra experiência de dança de que você já participou, compartilhe essa memória com o grupo.
  2. Depois, reflita sobre as diferenças e as semelhanças entre os passos debreak, que você aprendeu no Tema 1, e o passo de frevo.
  3. Pense também sobre o modo como vocês ocuparam o espaço da escola com cada uma das práticas.
Respostas e comentários

Momento 2: se possível, coloque músicas orquestradas de frevo para que os estudantes experimentem outros movimentos que povoam seu imaginário.

Incentive-os a buscar qualquer objeto disponível na sala de aula para compor a dança, como a sombrinha do frevo. A ideia é propor o uso de objetos incomuns para dançar com eles, e perceber como isso interfere ou não nos movimentos e brincar com essas possibilidades.

Depois de dançar por algum tempo com a música, o ritmo do frevo possivelmente já estará no corpo dos estudantes. Assim, será possível fazer este cortejo que remete ao Carnaval, mas não tem a música, como se algo estivesse “faltando” e quem passar e observar pode “completar” com suas memórias. Nesse momento, estimule os estudantes a fazer a tesoura e outros movimentos que quiserem. Se considerar oportuno, faça algumas paradas no cortejo, para eles fazerem a tesoura, que é um movimento complexo para ser feito caminhando.

Momentos 3: use um quadro ou uma lousa para fazer um breve registro coletivo do cortejo com os estudantes. A sugestão é que esse registro seja produzido usando linhas contínuas e tenha como focos o trajeto e os ritmos do cortejo, criando uma partitura visual. Pode ser algo parecido com um eletrocardiograma ou outra solução visual que encontrarem coletivamente. Esse registro ajudará a ampliar ou ativar as reflexões sobre o que acabaram de experimentar e, possivelmente, sugerir associações com as outras experimentações realizadas na Unidade.

Além disso, esse momento tem como foco avaliar e partilhar as experiências vividas com esta prática. Desse modo, avalie o processo com foco na participação e no desenvolvimento dos estudantes ao aprender e fazer os passos do frevo, e também escutando como eles percebem, registram e narram esta e outras experiências. Para isso, estimule a autoavaliação dos próprios processos de criação, experimentação e aprendizagem, e escute atentamente o que relatam. Em seguida, a partir dessa escuta e de suas observações sobre o processo, converse com eles e ressalte os pontos positivos e o que pode ser aprimorado (não necessariamente em termos de técnica, mas de concentração, aprofundamento no processo de criação etcétera). Ao falar de cada estudante, evite fazer comparações com outros colegas ou com a estética original do frevo.

Incentive os estudantes a fazerem comparações reflexivas entre o aprendizado e a experimentação do break e do frevo, e como cada dança ocupou de maneira diferente os espaços da escola.