Tema 3  Dança e tecnologia

A dança e os recursos digitais

Nas Unidades anteriores, você conheceu artistas que empregam diferentes tecnologias para criar suas obras. Os avanços que possibilitaram a gravação e a reprodução de sons, as projeções e as videoinstalações são exemplos de obras artísticas criadas com o auxílio de recursos digitais.

Com seus avanços e a popularização de equipamentos – como câmeras digitais e telefones celulares, computadores e internet –, a tecnologia passou a fazer parte do universo da dança e a influenciá-lo. Muitos coreógrafos e bailarinos/dan­çarinos descobriram nessa interface um meio de ampliar as possibilidades criativas e poéticas. Podemos observar essa utilização tanto utilitária quanto estética.

Observe a fotografia reproduzida nesta página. Você pode imaginar que recursos tecnológicos foram utilizados na concepção do espetáculo retratado a seguir?

Fotografia. Duas mulheres dançam em frente a um telão no qual é projetado um desenho abstrato em tons de laranja. Elas vestem vestidos escuros e estão em movimento. Com a luz, suas sombras são projetadas no telão.
As dançarinas Julia Viana e Luiza Folegatti apresentam o espetáculo Corpo Projeção, em São Paulo (São Paulo), em 2014.
Respostas e comentários

Objetivos

  • Reconhecer a influência da tecnologia no universo da dança como um meio de ampliar as possibilidades criativas e poéticas.
  • Conhecer artistas e grupos de dança brasileiros e estrangeiros que misturam várias linguagens artísticas e dialogam com projeções de vídeo em seus espetáculos.
  • Entender o conceito da videodança e conhecer artistas que trabalham com essa linguagem no Brasil.
  • Criar, em grupo, uma videodança que dialogue com algum local da escola; gravar o trabalho e depois apresentá-lo aos demais colegas da turma.
  • Desenvolver a autoconfiança e a autocrítica por meio da experimentação artística.

Habilidades favorecidas neste Tema

, , e .

Contextualização

Crie um espaço para que os estudantes compartilhem suas impressões sobre a imagem apresentada nesta página e conversem sobre os recursos tecnológicos usados na elaboração e realização do trabalho. Depois de um tempo de conversa e da exposição das hipóteses dos estudantes, você pode dizer que foi utilizada uma câmera para a captação das imagens, um computador para a edição delas e um aparelho projetor.

Auxilie os estudantes na leitura dessa imagem. Destaque o fato de os movimentos serem realizados pelas dançarinas pensando na relação com a luz. Comente que as imagens na parede formam figuras corporais ampliadas, distorcidas, impossíveis de serem feitas somente com o corpo humano. Esse recurso possibilita transformações e deformações do corpo que causam sensações, emoções e leituras únicas.

Corpo Projeção

A fotografia da página anterior mostra uma cena do espetáculo Corpo Projeção, apresentação de dança concebida e realizada pelas artistas Julia Viana e Luiza Folegatti. Nesse espetáculo, as artistas dançam em constante diálogo com projeções.

O espetáculo Corpo Projeção é apresentado em uma sala em que são instalados projetores que lançam imagens sobre as paredes. Essas projeções dialogam com o corpo das artistas, ora se mesclando, ora criando relações de oposição entre si, promovendo uma espécie de jogo entre o real e o virtual.

Observe, a seguir, outros registros do espetáculo Corpo Projeção.

Fotografia. Duas mulheres dançam em frente a um telão no qual é projetado uma luz em tons de verde-claro e amarelo. Elas vestem vestidos escuros e estão em movimento, com os braços abertos. Com a luz, suas sombras são projetadas no telão.
Julia Viana (à esquerda, na fotografia) e Luiza Folegatti em apresentação de Corpo Projeção, em Campinas (São Paulo), em 2015.
Fotografia. Mulher de cabelo comprido, usando um vestido longo, está em frente a um telão no qual é projetada uma imagem com desenhos florais nas cores azul e lilás.
Apresentação do espetáculo Corpo Projeção, em São Paulo (São Paulo), em 2015.
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Sugestão de atividade

Se a escola tiver um aparelho projetor de imagens e se você achar oportuno, selecione algumas imagens e as projete sobre uma parede branca. Depois, oriente os estudantes a interagir com uma das imagens, organizando a experiência de modo que, de dois em dois, eles façam uma “estátua” em composição com a imagem. Você pode contar a eles que quanto mais perto o corpo estiver do projetor, maior será a imagem, e quanto mais longe, menor ela será. Também é interessante deixá-los experimentar algumas possibilidades antes de realizar a “estátua” que comporá com a imagem projetada. Se julgar oportuno e tiver recursos para fazê-lo, fotografe e imprima as imagens criadas pelos estudantes para que, posteriormente, eles percebam as inúmeras possibilidades de composição utilizadas e conversem sobre elas.

Uma proposta multilinguagem

O espetáculo Corpo Projeção faz parte de um projeto de mesmo nome criado, em 2013, por Julia Viana e Luiza Folegatti. A principal proposta desse projeto é o desenvolvimento de experimentações artísticas que proporcionam o diálogo entre diferentes linguagens, como a dança, o vídeo e a projeção.

Com formações distintas – Julia é formada em Dança, e Luiza, em Midialogia –, no projeto Corpo Projeção, essas artistas propõem pesquisar as possibilidades de criação de trabalhos artísticos que extrapolem os limites entre as linguagens, por meio de exercícios de sobreposição, fusão, justaposição de imagens do corpo e da projeção.

Fotografia. Mulher de cabelo preso em um coque no topo da cabeça, veste camiseta regata preta e olha para o lado.
Julia Viana, em São Paulo (São Paulo). Fotografia de 2014.
Fotografia. Mulher de cabelo castanho cacheado em frente a uma projeção nas cores azul e amarelo.
Luiza Folegatti, em São Paulo (São Paulo). Fotografia de 2014.

Para a realização do projeto Corpo Projeção, colaboraram também a produtora Isabela Maia, o artista gráfico Marcus Braga, o músico Victor Negri e a webdesigner Ana Rute Mendes, entre outros.

Respostas e comentários

Contextualização

Ao tratar do assunto desse tópico, comente com os estudantes que as propostas artísticas de multilinguagem são aquelas que utilizam mais de uma linguagem expressiva em sua composição. Um bom exemplo é o trabalho do coletivo Corpo Projeção (também é o nome da primeira obra deles), iniciado em São Paulo em 2013, em que estão presentes a dança e as artes visuais.

Comente com os estudantes que os trabalhos que promovem a integração entre linguagens artísticas não são simplesmente a colagem ou aproximação de duas linguagens no mesmo trabalho.

Explique que os processos artísticos com essa característica têm como objetivo descobrir novas relações e possibilidades. No encontro do corpo com as projeções, por exemplo, surge um novo material artístico: a dança não é mais apenas só dança nem o vídeo só vídeo. Ambas as linguagens são “contaminadas” pela outra e se transformam, gerando algo novo.

Artista e obra

Julia Viana

No relato a seguir, a dançarina Julia Viana apresenta mais informações sobre o projeto Corpo Projeção.

“A pesquisa que move o projeto Corpo Projeção investiga experimentos criativos entre dança, vídeo, projeção e música, dialogando com os questionamentos contemporâneos sobre as fronteiras entre as linguagens artísticas e entre arte e vida.

Propomos estudar como a dança cria imagens e como as imagens criam dança, construindo um processo criativo com base nessa relação. Esses dois fluxos de experimento se cruzam e constituem o impulso criativo do projeto Corpo Projeção.

Por meio de vídeos criados com imagens sugeridas com base no movimento corporal, em investigações sobre fluxo, impulso e duração, ampliamos essas imagens com o projetor sob o corpo em movimento e a arquitetura do espaço. Essa experiência resulta na criação de um ambiente em que o movimento e a imagem, do corpo e do vídeo, sobrepostos, configuram uma instalação audiovisual e coreográfica.

A partir da dança e das imagens internas provocadas pelas projeções, são criadas novas propostas de captação de imagens externas, gerando novos vídeos a serem projetados. Com esses experimentos, construiu-se, aos poucos, um retrato íntimo e em constante transformação das dos espaços e das experiências que o processo percorreu.

A pesquisa sobre a construção do corpo, dos vídeos, das projeções e da instalação baseia-se nos estudos sobre dança e imagem realizados por mim e pela Luiza Folegatti. Essa pesquisa teve início em 2012 com o nosso encontro no processo de criação de Bando, do Grupo Vão, coletivo de dança contemporânea.

Em 2013, essa proposta tomou fórma como projeto artístico, no espaço do Condomínio Cultural em São Paulo, com o nome Corpo Projeção. Utilizando a pesquisa corporal e as tecnologias de vídeo e de projeção, esse projeto tem-se configurado uma experiência em que os elementos das diferentes linguagens artísticas se influenciam, sem hierarquia, e a nossa formação (Midialogia e Dança) vem passando por um processo de se arriscar em fusão, de modo que ambas manipulam imagens e realizam performance.

Corpo Projeção é um projeto de interlinguagem artística. Nesse encontro de linguagens, procuramos trazer para o público outra experiência de tempo. reticências.”

Depoimento concedido especialmente para esta Coleção, em setembro de 2018.

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Artista e obra

Após realizar a leitura do relato de Julia Viana com os estudantes, ressalte que uma característica da arte contemporânea é a dissolução das fronteiras de cada linguagem. Comente que a arte contemporânea busca ampliar as possibilidades e sempre descobrir novos modos de criar e de relacionar as linguagens artísticas.

Se considerar oportuno, retorne às imagens das páginas 155 e 156 e identifique alguns do elementos de multilinguagem mencionados pela artista. Além disso, para desdobrar esta abordagem, é possível retomar as práticas que os estudantes experimentaram ao longo da Unidade e questionar se identificam ou não outras linguagens artísticas naquilo que praticaram. A proposta da cartografia (página 140), por exemplo, relaciona-se com as artes visuais ao propor uma fórma poética de representar o movimento espacialmente.

Outro caminho para trabalhar este relato da artista é tratar da relação entre arte e vida. Ela também está presente em outros momentos da Unidade, além da proposta de Corpo Projeção, nos conteúdos e nas práticas relacionados aos cortejos populares ou mesmo no trabalho Na reta de 4 corpos, do Grupo Contemporâneo de Dança Livre, que acontece no espaço público e usa o modo como as pessoas se movimentam nos centros urbanos para criar o espetáculo.

Pixel

Pixel, da companhia francesa de dança Käfig, é um dos mais conhecidos espetáculos de dança com projeções. No desenvolvimento desse trabalho, o coreógrafo e diretor murrádi marzúqui convidou os artistas digitais clér bardãna e para criar uma série de projeções com as quais os dançarinos contracenam durante a apresentação do espetáculo.

Observe as fotografias reproduzidas a seguir.

Fotografia. Quatro dançarinos vestidos com camisetas de manga comprida e calças coloridas, se apresentam em um palco escuro. No chão, há uma projeção de luzes em preto e branco, que simulam abrir um buraco bem no local onde eles se encontram.
Fotografia. Quatro dançarinos vestidos com camisetas de manga comprida e calças coloridas, se apresentam em um palco escuro. No chão, há uma projeção de luzes em preto e branco, que simulam abrir um vão entre eles. Os dançarinos estão em movimento: à esquerda, um está deitado e o outro em pé, com os braços abertos; à direita, separados por vão no chão, um homem pula e joga o corpo para trás e outro andando com as pernas dobradas.
Dois momentos do espetáculo Pixel em que os integrantes da companhia francesa de dança Käfig contracenam com projeções, em Créteil, França, em 2014.
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Contextualização

Ao apresentar as fotografias do espetáculo Pixel, da companhia francesa de dança Käfig, motive os estudantes a tentar descobrir o que é real e o que é virtual na composição do espaço. Se achar oportuno e sem desvalorizar os avanços tecnológicos e as oportunidades e possibilidades geradas por eles, proponha um diálogo sobre o modo como as experiências virtuais ocupam considerável tempo de nossas vidas atual­mente. Na discussão com os estudantes, comente a relevância de cultivar experiências reais e relações não mediadas por aparelhos e recursos tecnológicos.

Auxilie os estudantes na leitura das imagens da página. Na primeira, os dançarinos estão em pé (no nível alto), realizando inclinações que geram possíveis desequilíbrios. A projeção está se aproximando deles como algo perigoso e eles se esforçam para ocupar o único local do palco que não está preenchido de imagem. Já a segunda fotografia mostra os dançarinos em diferentes níveis e realizando movimentos distintos. Destaque que as projeções, nesse caso, criam um ambiente com relevo, abismo e igualmente desafiador.

O real e o virtual

Assim como em Corpo Projeção, no espetáculo Pixel os dançarinos da companhia de dança Käfig propõem um diálogo entre o real e o virtual, e o espectador tem dificuldade para diferenciar o que é real do que é virtual. No espetáculo, além de se adaptarem ao espaço virtual, eles têm de se adequar ao ritmo das projeções. Toda a apresentação é embalada por músicas que remetem à cultura hip-hop − movimento que conhecemos no Tema 2.

Observe, a seguir, outras imagens de apresentações do espetáculo Pixel.

Fotografia. Homem vestido com camiseta e calça amarelas dança entre luzes de pontinhos brancos que parecem sair de velas.
Fotografia. Dançarina de cabelo preso, vestida com um body laranja, executa um movimento que exige bastante flexibilidade do corpo: ela segura as pernas com as mãos, acima da cabeça, enquanto seu ventre está no chão. Ela se encontra em um palco com jogo de luzes projetado no chão, que se assemelha a uma teia de aranha.
Integrantes da companhia Käfig de dança em duas cenas do espetáculo Pixel, em Créteil, França, em 2014.
Respostas e comentários

Contextualização

Peça aos estudantes que falem de suas impressões a respeito das fotografias desta página. Após a leitura orientada da página anterior, eles terão condições de identificar as projeções e como os dançarinos se relacionam com elas.

Explique aos estudantes que um pixel é a menor unidade de uma imagem digital. Aliás, o termo vem da contração da expressão picture element (“elemento da imagem”, em inglês). Se for aplicado um zoom máximo em uma fotografia digital, é possível ver que ela é formada por vários quadradinhos – os pixels. A cor de cada pixel é fruto da combinação de três cores básicas: vermelho, verde e azul.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

A seguir, você fará dois experimentos para investigar a diferença e as possibilidades de criação a partir de imagens digitais, que têm como suas matérias-primas os pixels. Para fazer esses experimentos, forme grupos com quatro colegas. Juntos, delimitem um espaço quadrado de mais ou menos 1 por 1 métros. Para essa delimitação, vocês podem usar qualquer material que tiverem à mão.

Experimento 1

  1. Enquanto uma pessoa faz movimentos de dança, três pessoas observam, fazendo uma fórma de foco com as mãos. O foco das mãos funcionará como três câmeras fixas, cada pessoa deve observar a cena de um plano diferente.
    • A primeira pessoa se posiciona bem próximo ao chão para focar o movimento de baixo para cima.
    • A segunda fica em pé e foca o movimento na altura de seus olhos.
    • A terceira procura um lugar mais alto, como uma cadeira, e foca o movimento de cima para baixo.
    • A quarta dança dentro do quadrado, usando os três níveis espaciais – baixo, médio e alto.
  2. Façam algumas vezes esse experimento até que todos os colegas do grupo passem pelos três focos e pelo lugar do dançarino que será observado.
Ilustração. Duas mãos em sentidos opostos formam um gesto de enquadramento de cena. A imagem enquadrada no centro é uma espécie de olho ou lente de uma câmera fotográfica.

Experimento 2

  1. Usando a função de fotografar e filmar de um telefone celular, experimentem outras fórmas de foco, dessa vez produzindo registro de dança.
    • Três pessoas dançam dentro do quadrado, e uma faz duas fotografias diferentes usando os níveis espaciais e um lado diferente do quadrado.
    • Três pessoas dançam fóra do quadrado, próximo de suas bordas, e uma pessoa faz três fotografias de dentro do quadrado.
    • Três pessoas dançam dentro do quadrado ou próximo a suas bordas e uma pessoa faz um vídeo de até 30 segundos usando diferentes ângulos, níveis espaciais e distâncias.
  2. Façam algumas vezes esse experimento até que todos os colegas do grupo passem pelos três movimentos de foco e pela dança.
  3. Quando terminarem os dois experimentos, visualizem as fotografias e os vídeos produzidos com atenção e retomem a pergunta: qual é a diferença em ver movimentos de dança ao vivo e a partir de um vídeo ou de uma fotografia? Para responder a essa pergunta, considerem as diferenças entre a maneira como vocês perceberam ou registraram os movimentos da dança e o modo como se relacionaram com o espaço ao usar o foco das mãos, a fotografia nas diferentes propostas e o vídeo.
Respostas e comentários

Experimentações

Auxilie os estudantes a demarcar o espaço do quadrado, considerando as possibilidades que você tem com eles na escola. Eles podem usar, por exemplo, giz de lousa para desenhar um quadrado no chão ou fita adesiva.

Os dois experimentos devem ser breves; deixe, no máximo, 5 minutos para cada proposta. A ideia é que eles trabalhem com a percepção de modo mais intuitivo, e o tempo curto pode estimular essa qualidade. Se considerar oportuno, coloque músicas de fundo para facilitar a fluência dos movimentos e a dinâmica dos experimentos. Nessa proposta não há nenhum passo ou estilo de dança como referência, eles podem trabalhar com os movimentos que quiserem.

No Experimento 2, a sugestão é que utilizem câmeras de celulares para realizar a proposta. Se houver um grande número de estudantes que não têm o aparelho, é possível organizar grupos maiores, fazer o experimento com toda a turma (adaptando o tamanho do quadrado) ou realizar apenas o primeiro experimento, fazendo uma segunda variação na qual o foco com as mãos deixe de ser fixo e passe a ser móvel.

Deixe que os estudantes façam os experimentos livremente. Se considerar oportuno, faça intervenções pontuais lembrando da proposta de manterem as câmeras fixas no primeiro experimento, de trabalharem com os níveis espaciais etcétera, mas deixe também um espaço para que os grupos façam pequenas modificações nas orientações da proposta.

Ao final da prática os grupos vão dialogar e procurar caminhos próprios para responder à pergunta disparadora da proposição. Nesse momento, você pode também perguntar aos grupos o que eles acharam dessa proposta, se tiveram alguma dificuldade, se descobriram ou aprenderam algo novo etcétera

Esta prática pode ser uma oportunidade para conversar com os estudantes sobre o uso responsável e ético das tecnologias associadas às redes sociais. A partir desta proposta, primeiro, ressalte que as imagens dos colegas que eles produziram com celulares não devem ser compartilhadas em redes sociais, exceto se houver autorização das pessoas que foram fotografadas ou filmadas e também de quem produziu as imagens, quando for o caso. Se a divulgação for autorizada, é importante informar na postagem, sempre que possível, quem é o autor da imagem e quem está presente nela. Nessa conversa, incentive-os a fazer perguntas e a expressar também suas opiniões pessoais sobre o assunto, para que a discussão sobre ética e respeito no compartilhamento das imagens e outros conteúdos em redes sociais faça sentido nos contextos e nas experiências deles.

A videodança

A primeira relação entre dança e vídeo nasceu da necessidade de registrar a dança. Diferentemente da música, que pode ser gravada ou registrada em uma partitura, ou de um quadro ou um livro, a dança é uma arte fugaz, que só acontece no momento em que é dançada. Por isso, havia a preocupação em registrar os trabalhos coreográficos e criar, assim, um acervo para que a história da dança não se perdesse. No registro, a câmera geralmente é colocada de frente para o local da apresentação, o que é chamado tomada geral, pois filma a coreografia em um único e contínuo enquadramento.

No entanto, assim como o cinema utilizava essa linguagem audiovisual como fórma artística e poética, coreógrafos começaram a enxergar nessa plataforma uma nova possibilidade para a dança. Assim, o vídeo passou a fazer parte da criação, dando origem à videodança.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

O bailarino e coreógrafo estadunidense Mêrci Câninguem (1919-2009) foi o primeiro a fazer experimentos trabalhando a relação entre vídeo e dança. Sua primeira videodança foi Westbeth, uma colagem de seis partes que tinha a intenção de provocar mudanças na percepção da passagem do tempo utilizando os recursos do vídeo.

Fotografia. Bailarino de cabelos grisalhos, com roupas roxas, faz um movimento com o braço esquerdo erguido. Está descalço sobre um palco, cujo cenário é uma parede de tijolos brancos.
Mêrci Câninguem em Avignon, na França, em 1988.
Respostas e comentários

Contextualização

Ao tratar do tema desse item, comente com os estudantes que a videodança é uma modalidade artística que está em desenvolvimento em todo o mundo. Ela é formada, de maneira geral, pela junção da dança, das novas tecnologias e do cinema. Na videodança, as coreografias são concebidas para serem filmadas e vistas em uma tela. Fazem parte de sua elaboração: o modo como a câmera se movimenta, a escolha dos planos e dos enquadramentos e a edição das cenas. A combinação de planos e enquadramentos cria a movimentação que faz com que a imagem ganhe vida na tela, deixe de ser apenas o registro de uma situação e adquira características criativas e artísticas. Ainda em relação à videodança, se possível, apresente aos estudantes as informações sobre essa linguagem artística contidas no texto “O corpo na videodança”, indicado nas Leituras complementares, nas páginas iniciais deste Manual.

A videodança no Brasil

A videodança é uma criação em que as danças são concebidas especialmente para ser vistas em uma tela. Assim, os movimentos da câmera, bem como a escolha dos planos, o zoom, os enquadramentos, a montagem dos quadros e a edição das cenas, são tão importantes para o resultado final quanto os movimentos dos dançarinos gravados pela câmera.

Na videodança, a imagem em vídeo é resultado do trabalho do coreógrafo – responsável pelas coreografias – e do videomaker – respon­sável pela concepção e pela edição das imagens.

Observe alguns fotogramas da videodança Retina, desenvolvida pelo grupo Margaridas Dança, de Brasíla (Distrito Federal), em 2009.

Fotografia. Duas adolescentes (à esquerda, a menina veste camiseta azul e shorts; à direita, a menina usa vestido em tons de rosa) estão de mãos dadas, uma de frente para a outra, no centro de uma calçada, andando de patins. Ao fundo, o mar.
Fotografia. Homem de cabelo curto preto, vestido com camiseta rosa, toma uma bebida de uma xícara oferecida por uma mulher de cabelo preso, vestida com uma blusa tomara-que-caia branca.
Cenas da videodança Retina, do grupo Margaridas Dança, 2009. Roteiro e coreografia de Laura Virginia.

Faça no diário de bordo.

Experimentações

Ícone. TCT. Ciência e tecnologia.

   

Você conhece práticas contemporâneas que aliem dança e tecnologia? Nos últimos anos, os vídeos de dança se transformaram em um fenômeno nas redes sociais, mas eles são diferentes da videodança, porque são feitos mais para entretenimento do que fruição artística. Como pensar sobre isso do ponto de vista da linguagem da dança? Faça uma pesquisa em grupo sobre esse tema.

Procedimentos

  1. O primeiro ponto a considerar são as métricas das redes sociais. Reúna-se em grupo com seus colegas e escolham três artistas televisivos ou influencers que vocês acompanhem nas redes sociais. Vocês deverão identificar nas redes sociais desses artistas se existem vídeos de dança e como é o engajamento do público para este tipo de conteúdo, considerando itens de avaliação como “curtidas”, “comentários” e “compartilhamentos”. São postagens de maior ou menor engajamento? A que vocês atribuem o impacto das postagens desses vídeos de dança, com maior ou menor engajamento? Coletem dados para discutir sobre isso.
  2. Agora que vocês já fizeram um levantamento de métricas e engajamento para essas postagens de dança na internet, vocês devem considerar como elas são estilisticamente, do ponto de vista da linguagem da dança. As câmeras são estáticas ou se movimentam? Os artistas aproveitam a profundidade do espaço ou dançam de um mesmo ponto? São danças que exploram elementos da linguagem da dança, como peso, velocidade, equilíbrio, os níveis e outros que você já tenha estudado? Assistam a alguns dos vídeos e tomem nota sobre esses pontos.
  3. Para encerrar a atividade, façam uma roda de conversa, compartilhando as referências de artistas e influencers escolhidos, as métricas observadas e as características estilísticas dos vídeos assistidos.
Respostas e comentários

Experimentações

Essa proposta visa promover uma sensibilização para as métricas das redes sociais e provocar uma reflexão sobre os sentidos que a dança adquire quando veiculada por pessoas, artistas e influencers nas redes sociais. Ela se alia, assim, ao Tema contemporâneo transversal Ciência e tecnologia, uma vez que discute o impacto das tecnologias de informação e comunicação na linguagem da dança.

As métricas a serem avaliadas são as “curtidas”, os comentários e os compartilhamentos. Primeiro, os estudantes deverão observar, nos perfis de artistas ou influencers escolhidos, se nas postagens de vídeos de dança há maior ou menor engajamento que os outros posts.

Depois, eles deverão avaliar esse conteúdo com base no seu repertório sobre dança. No livro, alguns fatores de movimento são citados, como sugestão de critério de análise, mas vocês podem readequar os critérios, convocando, por exemplo, a relação entre dança e a música, ou avaliando a relação de consumo desses vídeos com a escolha por músicas da indústria cultural, de grande circulação, portanto.

Os estudantes devem refletir livremente, mas utilizando tanto o vocabulário da dança como as métricas com uma abordagem científica, ou seja, tomando-as como dados para produzir reflexões responsáveis e embasadas. Eles poderão ser avaliados pelas contribuições à reflexão, pela cooperação no trabalho em grupo, pelo engajamento no desenvolvimento da proposta e pelas relações que produzirem com conteúdos previamente trabalhados em dança ou em outras linguagens.

Faça no diário de bordo.

Pensar e fazer arte

Como você observou neste Tema, são muitas as possibilidades de relação entre a dança e a tecnologia. Diversos grupos do Brasil e do exterior se interessam por essa linguagem e têm desenvolvido diferentes trabalhos nos mais diversos espaços. Além disso, nos Temas anteriores desta Unidade, você conheceu companhias e estilos de dança que usam a rua ou outros espaços não convencionais para dançar. Agora é a sua vez de criar uma videodança com os colegas em um espaço da escola. Vocês podem usar a câmera do telefone celular para produzir o vídeo.

Momento 1 – Espaço-dança

  1. Forme um grupo com cinco colegas.
  2. Relembrem a experimentação da cartografia no início da Unidade (página 140) e os espaços da escola que vocês mapearam na proposta. Escolham um desses espaços para criar a videodança.
  3. No espaço escolhido, experimentem alguns movimentos. Vocês podem criar algo totalmente novo, mas tenham como referência para essa criação aquilo que fizeram na experimentação do Tema 1 e o que esse espaço significa pessoalmente para um integrante do grupo ou mais.
  4. Percebam as possibilidades de ocupar esse local com o corpo. Vocês também podem incluir alguns objetos cênicos (adereços) para compor o espaço, ou dançar com eles.
  5. Escolham alguns movimentos que vão fazer parte do vídeo a ser produzido na próxima aula. Comecem a imaginar como seria criar uma videodança com esses movimentos e nesse espaço escolhido. Não é necessário que sejam muitos movimentos, porque o vídeo terá, no máximo, 1 minuto, e nele alguns movimentos podem ser repetidos ou improvisados.
  6. Façam anotações usando palavras-chave ou desenhos no diário de bordo para lembrar os movimentos criados e o modo como pensaram em ocupar com eles o espaço escolhido.
    Ícone. Diário de bordo.

Momento 2 – Videodança

  1. Relembrem os movimentos criados e o modo como imaginaram ocupar o espaço com eles e repitam algumas vezes.
  2. Escolham um integrante do grupo para ser o “diretor” desse trabalho, e outro para fazer a filmagem da videodança.
  3. Façam algumas filmagens como testes. Para a produção do vídeo, não é necessário que todos dancem ao mesmo tempo. Combinem momentos em que um entra e faz alguns movimentos, depois outros dois entram e repetem ou fazem outros movimentos etcétera
Respostas e comentários

Pensar e fazer arte

Para preparar a proposta de criação em grupo, retome com os estudantes brevemente os conteúdos abordados nesta Unidade:

  • Incentive-os a comentar quais interfaces chamaram mais a atenção deles. Destaque que hoje em dia, com a difusão da tecnologia, dispositivos necessários para a criação de videodanças e pro­je­ções, por exemplo, são mais acessíveis.
  • Retome os conceitos da videodança e os experimentos realizados na seção Experimentações deste Tema. Peça aos estudantes que indiquem algumas características dessa linguagem artís­tica e registre as suas respostas no quadro.
  • Mencione que, desde 1991, existe um festival de cinema muito conhecido, chamado Festival do Minuto, que reúne profissionais, estudantes e interessados na linguagem do audiovisual em geral. A regra de participação nesse festival é que os vídeos tenham um minuto de duração.

Momento 1: auxilie os estudantes na formação dos grupos. Caso a turma tenha poucos aparelhos celulares à disposição, podem ser formados grupos maiores. Não é necessário que sejam os mesmos grupos da experimentação do Tema 1, mas, como ela será uma das referências para o trabalho, reserve um tempo para conversar com os estudantes e ajude-os a relembrar o que os grupos criaram na cartografia. Caso tenham feito anotações no diário de bordo, elas também poderão ser retomadas.

Oriente os estudantes na escolha de espaços propícios para a criação da videodança, considerando a cartografia e as possibilidades de criação que o espaço apresenta. Explique que a escolha do local é tão importante quanto todas as etapas do processo de criação, pois será o cenário e o ambiente onde acontecerá toda a ação que será gravada.

Estimule-os a experimentar o espaço escolhido com movimentos de dança e, se quiserem, usar adereços para dançar também. Se considerar oportuno, relembre o papel que o adereço da sombrinha tem no frevo ou o uso da carcaça de carro, no espetáculo Carcaça, do grupo Strondum.

Ressalte que, ao definir quais movimentos serão usados para a videodança, eles considerem momentos nos quais os movimentos serão repetidos ou que façam improvisações, porque o registro de vídeo tende a modificar bastante o modo como os movimentos são percebidos.

Momento 2: incentive-os a fazer alguns testes experimentando maneiras diferenças de criar com os elementos principais da proposta – vídeo, dança e espaço. Auxilie os grupos na exploração das possibilidades da câmera: zoom, foco, enquadramentos diversos. Por ser um material artístico, eles podem ousar e experimentar possibilidades que não são usadas em gravações convencionais.

  1. O “diretor” deve atentar ao fato de que esse não é apenas um videorregistro, mas um exercício de criação. Utilizem recursos como zoom, foco e enquadramento. Lembrem-se de que o modo de gravar também faz parte da criação artística. Ousem e experimentem várias maneiras de realizar esse trabalho.
  2. Depois de fazer alguns testes, vejam juntos o que produziram e escolham qual registro ficou melhor. Em seguida, produzam a videodança final.
  3. Lembrem-se de salvar esse vídeo para apresentar na próxima aula.

Momento 3 – Mostra

  1. Com a orientação do professor, assistam aos vídeos dos colegas com atenção e anotem algumas perguntas para fazer aos grupos sobre o que criaram.
  2. Após assistir a todos os vídeos, cada grupo vai comentar como foi o processo de criação de sua videodança e responder a perguntas dos colegas e do professor.

Avaliação

Ao final, conversem entre todos da turma sobre como foi essa experiência e respondam a algumas perguntas:

  1. Como foi o processo de criação e de gravação da videodança?
  2. Vocês perceberam diferenças entre esta proposta para criar uma videodança e as experimentações anteriores?
  3. Que dificuldades foram enfrentadas nesse processo?
  4. Como foi a experiência de assistir à videodança dos outros grupos? Mencionem elementos de que vocês gostaram no trabalho dos outros grupos.
Fotografia. Quatro dançarinas usando macacões preto e branco, com desenhos geométricos, e máscaras faciais pretas, estão em um boulevard, em frente a casas coloridas. Elas formam um losango, com duas delas uma de frente para a outra e as outras duas olhando para frente.
Cena da videodança Transiterrifluxório réc, do grupo Cláudio Lacerda/Dança Amorfa, Recife (Pernambuco), 2021.
Respostas e comentários

Comente também que esta é uma experimentação, e não um vídeo profissional. Por isso, mais importante do que fazer algo “perfeito” é eles criarem juntos e conhecerem as múltiplas possibilidades da videodança. A proposta é que seja um vídeo sem edições, mas, se os estudantes já tiverem contato com aplicativos de edição de vídeo e quiserem usar recursos de edição, é possível também.

Momento 3: se for possível, considerando os recursos a que vocês têm acesso na escola, assista aos vídeos usando um equipamento de projeção, que possibilite ver os vídeos em uma tela maior. Mas os vídeos podem ser vistos também nos próprios celulares, organizando a turma em pequenos grupos para assistir a todos os vídeos.

Incentive os estudantes a elaborar perguntas sobre as criações dos grupos; é uma oportunidade para compreenderem as diversas possibilidades de criação da proposta. As perguntas também podem ajudar os grupos a descrever e refletir sobre seus processos de criação.

Conduza uma conversa final de modo que os estudantes reflitam e falem sobre as dificuldades relacionadas à execução de uma ideia, como lidaram com essas dificuldades e como fizeram para tomar decisões e fazer as escolhas definitivas do trabalho. Estimule-os a relatar as experiências pessoais e coletivas durante o processo de criação. Incentive-os a falar da relação da arte com a tecnologia, aspecto principal desse trabalho artístico, e a fazer comparações com o que experimentaram nos temas anteriores.

Faça no diário de bordo.

Autoavaliação

Nesta Unidade, você aprendeu sobre o trabalho de diferentes grupos contemporâneos de dança, como o Grupo Contemporâneo de Dança Livre, o AVOA! Núcleo Artístico, o Grupo Strondum, que criam espetáculos tendo a rua como espaço para suas apresentações. Os espetáculos criados por esses grupos procuram aproximar o público da linguagem da dança.

Essas propostas de espetáculos também possibilitaram relacionar as danças realizadas na rua com outras manifestações de dança de rua, como o break e o frevo, que, como você já estudou, têm origens diversas e até hoje estão presentes em nossa cultura.

Você também conheceu alguns coreógrafos que apresentam propostas inovadoras em relação aos movimentos, aos figurinos, aos adereços e aos recursos tecnológicos, ampliando as referências sobre os rumos da dança contemporânea.

Os três Temas desta Unidade também possibilitaram a você refletir sobre a linguagem da dança e as relações que se podem estabelecer com os movimentos cotidianos e que podem ser fonte de pesquisa e de repertório para a apreciação e a criação de coreografias e de videodança.

Agora que chegamos ao final da Unidade, é importante que você reflita sobre o que aprendeu e sobre o caminho percorrido até este momento.

Para isso, responda no diário de bordo às questões a seguir.

Ícone. Diário de bordo.
  1. Cite um ou mais dos aprendizados vivenciados nesta Unidade que o ajudaram a compreender a linguagem da dança. Justifique suas escolhas.
  2. Mencione uma das atividades práticas que mais o ajudaram a compreender a linguagem da dança e a diversidade de movimentos que podem ser criados, aprendidos e experimentados. Justifique.
  3. Como foi sua experiência de realizar leituras de textos e imagens, análises de textos e compartilhamento de informações com os colegas? Justifique sua resposta.
  4. Como foi para você experienciar a realização das atividades das seções Experimentações e Pensar e fazer arte desta Unidade? Justifique.
  5. O estudo desta Unidade mudou o modo como você vivencia a linguagem da dança? Dê exemplos.
  6. O que poderia ajudá-lo a aprofundar seus conhecimentos sobre a dança?
  7. Do ponto de vista da cooperação e da colaboração, como você avalia a sua relação com os colegas?
  8. Sobre as práticas de pesquisa realizadas na Unidade, o que você considera que aprendeu?
  9. Ainda sobre as práticas de pesquisa e seus modos de compartilhamento, você já tinha feito algo similar? Como acha que esses recursos contribuem para a sua aprendizagem?
  10. Você reconheceu práticas ou referências culturais presentes no seu dia a dia sendo trabalhadas na Unidade? Se sim, como você se sente quando isso acontece?
Respostas e comentários

Autoavaliação

Antes de propor a autoavaliação aos estudantes, revise as habilidades e também os objetivos apresentados, respectivamente, na abertura da Unidade e no início de cada Tema.

Leia o texto e as questões com os estudantes, parando em cada uma delas para conversar. Ao final, peça que produzam uma reflexão escrita no diário de bordo.

Aproveite o ensejo da conversa para verificar se a sua percepção sobre o processo de aprendizagem e criação das aulas de dança está alinhada à dos estudantes. Possivelmente, este momento trará informações valiosas para imaginar outros modos de abordar os mesmos temas ou para reconhecer necessidades específicas dos estudantes e do contexto que contribuam para pensar outros modos de aplicar esses conteúdos.