UNIDADE sete África: regionalização e fronteiras
Você verá nesta Unidade:
Aspectos físicos do continente africano e o meio ambiente
Regionalizações da África
Colonialismo europeu na África
Apartheid
Conflitos na África
África na nova divisão internacional do trabalho
Na segunda metade do século dezenove, a expansão do capitalismo industrial europeu levou à divisão dos territórios africanos pelas potências imperialistas europeias, sem respeitar as diferenças étnico-culturais dos povos do continente. Até hoje, a África apresenta as marcas deixadas pela política imperialista.
Apesar de suas variadas riquezas, muitos países africanos apresentam instabilidade político-econômica e estão expostos a diversos problemas sociais, econômicos e políticos, entre eles a subordinação a países com maior desenvolvimento (sobretudo seus ex-colonizadores) e dependência de ajuda internacional. No entanto, a expansão da economia na atualidade aponta para novas relações econômicas.
Quais foram os impactos do imperialismo europeu na África? Há outros fatores econômicos e políticos importantes para o continente africano? Que aspectos das culturas africanas você conhece?
CAPÍTULO 15 Localização, quadro natural e regionalização
Localizada ao sul da Europa e a sudoeste da península Arábica, a África é o terceiro maior continente em extensão territorial. Grande parte de suas terras está situada entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio.
O território africano é banhado pelo oceano Atlântico a oeste, pelo oceano Índico a leste, pelo mar Mediterrâneo ao norte e pelo mar Vermelho a nordeste.
De maneira geral, o continente africano vive um momento de transformação. O processo de urbanização acontece rapidamente, os investimentos estrangeiros produzem modificações profundas nas paisagens e há expansão da infraestrutura em diferentes países do continente. As relações econômicas, que no passado estiveram muito ligadas à Europa, atualmente têm se voltado especialmente ao mercado chinês, o que vem contribuindo para dinamizar a economia de diversos países da África. Contudo, o forte contraste social acentua as diferenças entre os grupos mais ricos e os mais pobres.
A complexidade e a diversidade de características do continente torna possível regionalizar a África de diferentes maneiras, enfatizando diversos aspectos, sejam físicos, econômicos, culturais ou sociais.
ÁFRICA: DIVISÃO POLÍTICA
Relevo
Predominam na África terrenos pouco íngremes e altitudes inferiores a .1000 metros. As planícies são encontradas nas faixas litorâneas ou ao longo das margens de rios, como o Congo, o Gâmbia e o Senegal.
Os planaltos antigos, bastante desgastados por agentes erosivos (vento, chuva etcétera.), dominam as paisagens naturais do continente. No entanto, algumas porções do território sofreram influência de processos tectônicos recentes – ligados principalmente a atividades vulcânicas –, que contribuíram para a formação de altas montanhas no extremo norte e na porção leste. O monte Quilimanjaro, cujo pico é o mais alto da África, com .5895 metros de altitude, está localizado na porção leste do continente.
Planaltos africanos
O relevo do continente africano está dividido em três porções principais: planalto Oriental, planalto Setentrional e planalto Centro-Meridional.
ÁFRICA: FÍSICO
Planalto Oriental
Trata-se de uma região com montanhas de origem vulcânica de altitudes elevadas e depressões ou fossas tectônicas que deram origem a extensos lagos, como o Tanganica, o Vitória (formador do rio Nilo) e o Niassa. Um aspecto marcante nesse planalto é o grande vale do rífiti africano (Rift Valley), um sistema de falhas geológicas que atravessa a África Oriental no sentido norte-sul, com milhares de quilômetros de extensão, gerado na mesma época em que ocorreu a separação das placas tectônicas Africana e Arábica.
Planalto Setentrional
Nessa porção do relevo africano, localiza-se o deserto do Saara, que ocupa um quarto do território continental. A noroeste dele, está a cadeia do Atlas, que se estende desde o litoral do Marrocos até a Tunísia.
Planalto Centro-Meridional
Esse planalto compreende o centro-oeste e o sul do continente e apresenta altitudes médias mais altas que as do planalto Setentrional, com exceção da Bacia do Rio Congo e do deserto do Kalahari, que constituem grandes depressões.
Hidrografia
Nas regiões mais altas do continente nascem os principais rios africanos: Orange (ao sul), Níger (a oeste), Nilo (que deságua no mar Mediterrâneo) e Congo (na porção central). Pode-se destacar o uso dos rios para navegação, como ocorre com os rios Congo e Nilo, e para geração de energia elétrica por meio de usinas hidrelétricas, ao longo dos rios Níger, Nilo e Orange, entre outros.
Os rios africanos garantiram a muitos povos que se instalaram às suas margens, no decorrer dos séculos, o desenvolvimento de técnicas de irrigação que favoreceram a prática da agricultura e da pecuária. O caso mais relevante é o dos egípcios, que há milhares de anos mantêm uma importante área de cultivo de trigo e de outros alimentos ao longo do rio Nilo, cujo leito não seca mesmo nos períodos de estiagem prolongada. Entretanto, a vazão natural desse rio é inconstante: as margens alagam durante as cheias e há pouca água nos períodos de seca. Para controlar o fluxo de suas águas, foi construída a barragem de Assuã, que também é utilizada para gerar energia.
Clima e vegetação
A grande extensão latitudinal do continente africano reflete-se na diversidade de climas e de formações vegetais. Além disso, possibilita a coexistência de paisagens desérticas, como a do Saara e a do Kalahari, com paisagens florestais, como a Floresta do Congo, uma das mais úmidas do planeta.
Clima
No extenso território africano, predominam os climas Equatorial, Tropical, Semiárido, Desértico, Mediterrâneo e, em algumas regiões mais altas, o clima Frio de Montanha.
ÁFRICA: CLIMAS
Vegetação
A vegetação africana possui forte relação com os climas e com a distribuição das chuvas no continente. Além disso, é bastante diversificada: apresenta desde florestas tropicais até vegetação desértica.
Florestas Tropicais e Equatoriais
Essas florestas ocupam a área de menor latitude do continente africano, situada ao redor da linha do Equador. A principal delas é a Floresta do Congo, extensa floresta equatorial drenada pela Bacia do Rio Congo.
Savanas
Esse tipo de formação vegetal é comum em regiões com predomínio de clima tropical que apresentam duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa. Nas Savanas, verifica-se a presença de gramíneas, arbustos e árvores baixas mais espaçadas que as de regiões florestadas, além de grande diversidade de mamíferos de médio e grande portes.
Estepes e Pradarias
Essas vegetações rasteiras estão presentes nas áreas de clima semiárido que margeiam os desertos do Saara – cuja porção sul se denomina Sahel – e do Kalahari.
Vegetação Mediterrânea
Esse tipo de vegetação apresenta duas áreas de ocorrência no continente africano: no extremo sul (sul da África do Sul) e no extremo noroeste, onde é arbustiva nas áreas mais próximas do mar Mediterrâneo e composta de pinhos e cedros nas áreas mais chuvosas da cadeia do Atlas.
Vegetação de Deserto
Nos desertos da África, a flora é composta de uma vegetação esparsa, que inclui plantas de raízes profundas e cactos que armazenam água em seu interior. Porém, a maior parte do deserto não apresenta nenhum tipo de cobertura vegetal. As plantas que resistem ao clima extremamente seco dos desertos ou ao clima semiárido são conhecidas como vegetação xerófita, e apresentam uma estrutura que minimiza a perda de água por evaporação.
Floresta de Coníferas (Taiga)
Caracterizada por bosques com predominância de arbustos e pinheiros em áreas mais elevadas do relevo, onde o clima costuma ser mais frio.
Vegetação de Altitude
Composta de diferentes formações vegetais, associadas às baixas temperaturas, decorrentes das elevadas altitudes, porém com características semelhantes às formações do entorno.
ÁFRICA: VEGETAÇÃO
Ler os mapas
• Compare os mapas “África: climas” e “África: vegetação” e indique o tipo de vegetação predominante na porção de clima equatorial.
Lugar e cultura
Povos nômades dos desertos africanos
Os desertos da África abrigam alguns povos nômades, que apresentam modos de vida tradicionais, baseados nas atividades agrícolas e no pastoreio. No Saara, por exemplo, estima-se que vivem cêrca de dois milhões de tuaregues, isto é, o povo nômade que ocupa o território situado no norte do Mali, em grande parte do Níger, no sul da Argélia e no sudoeste da Líbia.
ÁFRICA: TERRITÓRIO OCUPADO PELOS POVOS NÔMADES TUAREGUES NO DESERTO DO SAARA
Os tuaregues se organizam socialmente por meio de um sistema hierárquico, que consiste em uma divisão de classes caracterizada por um pequeno número de famílias nobres e uma maioria de vassalos e antigos escravos. O artesanato, os cultivos agrícolas e o pastoreio são as principais atividades exercidas por esse povo.
Os tuaregues possuem identidade e elementos culturais peculiares, como a língua falada por eles, o berbere. Além disso, é muito comum, em dias festivos, as famílias se juntarem para tocar violino, cantar poemas e realizar rituais animistas, cujas divindades são os elementos do deserto, como pedras, fogo e montanhas.
Outro aspecto único entre os tuaregues são as vestimentas. Apesar de serem muçulmanos, nesse grupo são os homens que escondem o rosto, e não as mulheres.
• Como as condições no deserto do Saara influenciam o modo de vida dos tuaregues?
Regionalização da África
Considerando aspectos históricos e culturais, a África pode ser dividida em duas grandes regiões: Norte da África (de alta concentração populacional, localizada na área do litoral do mar Mediterrâneo) e África Subsaariana (compreendida ao sul do deserto do Saara). Devido às diferenças internas do continente africano – principalmente na África Subsaariana, que reúne mais de 40 países –, somadas à sua grande extensão territorial, a ônu propôs a divisão do continente em cinco regiões, seguindo critérios de localização, cultura e economia.
ÁFRICA: REGIONALIZAÇÃO SEGUNDO A ônu
África Setentrional
A África Setentrional é uma região intensamente urbanizada, com cidades concentradas próximo ao mar Mediterrâneo, onde o relevo e o clima mais ameno favorecem a ocupação e a agricultura.
África Ocidental
Região que apresenta diferentes formações vegetais: do litoral, no golfo da Guiné, em direção ao norte, é possível cruzar Florestas Tropicais, Savanas e Estepes até chegar ao deserto, no norte do Níger, do Mali e da Mauritânia. Os países dessa região são exportadores de produtos agrícolas, minerais e energéticos, principalmente petróleo. Devido à fraca industrialização, esses países precisam importar produtos manufaturados, o que resulta em economias bastante dependentes.
África Central
Localizada nas proximidades da linha do Equador, essa região apresenta Florestas Equatoriais e Tropicais de elevada biodiversidade, além de Savanas, Estepes e desertos. Os países dessa região são exportadores de cobre, diamantes, petróleo e madeira e vêm recebendo grandes investimentos estrangeiros.
África Oriental
A África Oriental abriga diferentes formações vegetais, como Florestas Tropicais, Savanas e Estepes. Voltada para o oceano Índico, essa região tem a economia dirigida para a agricultura. Nas últimas décadas, guerras civis, surtos de fome e conflitos étnicos e religiosos vitimaram milhões de pessoas em Uganda, Ruanda, Burundi, Somália e Etiópia.
África Meridional
Os territórios localizados ao sul do continente formam a África Meridional. Observa-se nessa região a presença de savanas nas porções central e norte, desertos na porção sudoeste e vegetação mediterrânea no extremo sul. A África Meridional apresenta muitas reservas minerais (sobretudo de ouro), o que a levou a ser intensamente disputada pelas potências europeias desde o final do século dezenove. Atualmente, são as empresas mineradoras transnacionais que exploram esses recursos. Com exceção da África do Sul, que é a economia mais diversificada do continente, os demais países exportam produtos primários (principalmente recursos minerais).
ATIVIDADES
Faça as atividades no caderno.
- Elabore o mapa de uso do solo do continente africano com base na imagem de satélite. Para isso, observe as orientações:
- Utilize um papel vegetal e coloque-o sobre a imagem.
- Desenhe os polígonos referentes a cada tipo de uso, considerando as diferentes tonalidades e texturas apresentadas.
- De acordo com a escala utilizada na imagem, os tipos de uso poderão ser: deserto; floresta; corpo-d’água; áreas de transição (entre desertos e florestas).
- Não se esqueça de criar a legenda indicando os tipos de uso, bem como de inserir o título e a rosa dos ventos.
- Apresente o material elaborado e compare seu mapa com os dos seus colegas.
Versão adaptada acessível
1. Elabore o mapa de uso do solo do continente africano com base na imagem de satélite.
Para isso, observe as orientações:
- Utilize linhas ou barbantes para fazer os contornos da África.
- Represente cada tipo de uso com um material de textura diferente, considerando a imagem de satélite.
- De acordo com a escala utilizada na imagem, os tipos de uso poderão ser: deserto; floresta; corpo-d’água; áreas de transição (entre desertos e florestas).
- Não se esqueça de criar a legenda indicando os tipos de uso, bem como de inserir o título e a rosa dos ventos.
- Apresente o material elaborado e compare seu mapa com os dos seus colegas.
- Imagine que você seja o responsável pelo ordenamento territorial da cidade de Maputo, capital de Moçambique, localizada no continente africano. Uma das tarefas é dividir a cidade em zonas onde são permitidos determinados tipos de uso do solo. Interprete a imagem de satélite a seguir, que ilustra o centro dessa cidade. Utilize um papel vegetal e crie polígonos indicando diferentes tipos de uso. Seguem algumas possibilidades:
- Áreas para uso residencial
- Áreas destinadas ao uso portuário
- Áreas associadas à presença de cobertura vegetal
- Áreas onde são permitidas edificações mais altas
- Áreas destinadas à expansão urbana
- Áreas voltadas ao lazer e a práticas esportivas
Em seguida, pinte os polígonos com cores diferentes e crie a legenda no canto inferior do papel vegetal. Insira também um título e a direção do norte no mapa. Apresente o material elaborado e compare o resultado com o de seus colegas.
Versão adaptada acessível
- Imagine que você seja o responsável pelo ordenamento territorial da cidade de Maputo, capital de Moçambique, localizada no continente africano. Uma das tarefas é dividir a cidade em zonas onde são permitidos determinados tipos de uso do solo. Interprete a imagem de satélite, que ilustra o centro dessa cidade. Para criar um mapa tátil, utilize materiais como botões, tecidos, papéis, barbante, entre outros, indicando diferentes tipos de uso. Seguem algumas possibilidades:
- Áreas para uso residencial
- Áreas destinadas ao uso portuário
- Áreas associadas à presença de cobertura vegetal
- Áreas onde são permitidas edificações mais altas
- Áreas destinadas à expansão urbana
- Áreas voltadas ao lazer e a práticas esportivas
Em seguida, preencha as áreas com diferentes texturas e crie a legenda no canto inferior mapa. Insira também um título e a direção do norte no mapa. Apresente o material elaborado e compare o resultado com o de seus colegas.
CAPÍTULO 16 As fronteiras africanas
A África chegou ao século vinte e um com o desafio de superar séculos de exploração colonial e divergências políticas, étnicas e culturais.
Os choques sociais, políticos e culturais causados pela exploração comercial e pela divisão do território pelos países europeus desde o século dezesseis explicam, em grande parte, a fragilidade dos Estados nacionais africanos. A demarcação das fronteiras durante o Imperialismo não respeitou as populações nativas: grupos rivais ficaram confinados nas mesmas áreas, enquanto grupos etnicamente relacionados foram separados por limites estabelecidos arbitrariamente.
A ação dos colonizadores portugueses, ingleses, belgas, alemães, italianos, espanhóis, franceses e holandeses – sendo a partilha do território formalizada pela Conferência de Berlimglossário –, combinada a outros fatores, resultou em diversos problemas econômicos, sociais e territoriais, tais como:
- impedimento de um desenvolvimento autossustentado pelos povoados e pelas comunidades africanas;
- grande exploração de minérios para exportação, visando ao abastecimento das indústrias europeias.
ÁFRICA: COLONIZAÇÃO (1900)
Ler o mapa
• Como pode ser caracterizado o continente africano no período apresentado?
O redesenho do continente
A retirada das potências europeias do território africano foi em grande parte ocasionada pela situação econômica desastrosa em que elas se encontravam após a Segunda Guerra Mundial. Manter a administração e a segurança militar das colônias tornou-se muito oneroso. Essa situação desencadeou um redesenho do continente africano. Estados corruptos, liderados por elites tribais e alinhados aos interesses dos ex-colonizadores e de outros grupos estrangeiros, implantavam projetos de industrialização e modernização por meio de governos opressores e com forte contrôle estatal.
Paralelamente a essa política, alguns intelectuais africanos, como cuâni crumá, de Gana, um dos idealizadores do pan-africanismoglossário , e Edem Kodjo, ex-primeiro-ministro do Togo e ex-secretário-geral da então Organização da Unidade Africana (OUA), defendiam o reordenamento das fronteiras, mas sem interferir nas fronteiras dos Estados vizinhos.
A política de não interferência no traçado das fronteiras gerou grandes instabilidades e deixou desafios a serem enfrentados pelos novos países: lidar com os conflitos causados pela concentração de populações pertencentes a etnias distintas – muitas vezes inimigas – em um mesmo território e superar o quadro de pobreza e exploração resultante da colonização.
ÁFRICA: INDEPENDÊNCIAS (SÉCULO vinte)
Apartheid: segregação étnica
Uma das marcas do colonialismo europeu no continente africano foi a segregação. Na África do Sul, essa prática ficou conhecida pelo nome de apartheid, palavra da língua africânder, originada do holandês do século dezesseis, que significa “separação”. Tratou-se de um regime de segregação racial em que se negava à população negra o acesso a espaços ocupados e frequentados pelas comunidades brancas. A ideia de superioridade racial do branco europeu sobre os povos africanos foi imposta para justificar as estratégias de dominação, a expropriação de terras e riquezas e a escravização.
Na África do Sul, o apartheid, existente na prática desde 1910, foi oficializado por uma lei em 1948 e vigorou até 1994. Nesse país, o racismo era ostensivo a ponto de impedir que os negros, embora constituindo a maioria da população, tivessem propriedades territoriais e participassem da política. Além disso, eles eram obrigados a viver em zonas residenciais separadas (os bantustões) das reservadas aos brancos.
Após muitos anos de luta da população negra pela igualdade de direitos, com massacres e prisões de líderes, a situação do país tornou-se insustentável, em vista do apoio internacional à causa anti-apartheid. Fortes pressões da ônu e de vários países levaram à realização de eleições multirraciais em 1994. Nelson Mandela, um dos mais importantes líderes do movimento contra o apartheid, que ficou preso por 27 anos, foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul.
Conflitos no continente africano
Faça a leitura do infográfico, analisando as principais áreas de conflitos e tensões no continente africano nos séculos vinte e vinte e um.
ÁFRICA: CONFLITOS (SÉCULOS vinte E vinte e um)
Independente em 1961, Serra Leoa esteve em guerra civil entre 1991 e 2002. A revolta, promovida pela Frente Revolucionária Unida (FRU), tinha o objetivo de controlar o comércio de diamantes.
Na fotografia, soldado em posto de votação em Freetown, Serra Leoa (1996).
Em dezembro de 2010, o vendedor de rua tunisiano Mohamed Bouazizi pôs fogo no próprio corpo como fórma de protesto contra as duras condições sociais em seu país. Esse episódio abriu espaço para uma resposta popular em massa contra a repressão na Tunísia, que estava sob o comando de Zine Él Abidine Ben Ali havia 23 anos. Como consequência, outros países árabes do norte da África e do Oriente Médio também viveram protestos populares, que derrubaram governos autoritários e ficaram conhecidos como Primavera Árabe. No Oriente Médio, Síria, Líbano, Jordânia, Iêmen, Omã, cuáit, Iraque e Arábia Saudita tiveram protestos populares. Na África, Argélia, Marrocos e Mauritânia também foram palco de revoltas; na Tunísia, no Egito e na Líbia, os protestos culminaram na derrubada dos governos de Ben Ali, Hosni Mubarak e Muamar Kadafi, respectivamente. No caso de Kadafi, que permaneceu no poder por 42 anos, a Otan interveio e os rebeldes oposicionistas anunciaram sua morte em 20 de outubro de 2011, na cidade de Sirte.
Na fotografia, egípcios comemoram, após um ano, a queda de Hosni Mubarak, que governou o país por quase 30 anos (praça Tahrir, no Cairo, 2012). Após quase 6 anos preso, o ex-ditador foi absolvido da acusação de assassinar centenas de manifestantes e foi solto em 2017.
Independente desde 1956, no Sudão 1,5 milhão de pessoas morrerem até o nascimento de um novo país, em julho de 2011: o Sudão do Sul. A população do sul, majoritariamente cristã e animista, esteve em guerra civil durante décadas com o norte, de maioria muçulmana e de origem árabe. Grandes reservas de petróleo se encontram no território do Sudão do Sul, fazendo com que as relações entre os dois países ainda sejam bastante delicadas. Em 2003 teve início o conflito de Darfur, na porção oeste do território sudanês. Grupos rebeldes se levantaram contra o governo, reivindicando melhores condições de vida para a província. Segundo dados da ONU, entre 180 mil e trezentas mil pessoas morreram no conflito. Vários campos se formaram para abrigar os refugiados.
Na fotografia, mulheres construindo abrigos no campo de Abu chúqui, no norte de Darfur, Sudão (2010).
Ruanda e Burundi tornaram-se países independentes em 1962. A principal causa dos conflitos é a disputa pelo poder, que teve início nessa época com a rivalidade étnica entre hutus e tutsis. A minoria tutsi foi massacrada em 1994. cêrca de 800 mil ruandeses foram assassinados em um mês e meio. Foi um dos piores atos de genocídio que o mundo já vivenciou.
Ao longo do século vinte e um, persistiram diversos ciclos de violência envolvendo fôrças governamentais e rebeldes e atritos entre países, como Ruanda e a República Democrática do Congo.
Na fotografia, local próximo à fronteira com Ruanda onde ocorreu um dos massacres aos tutsis. Miriki, República Democrática do Congo (2016).
País com muitas riquezas minerais, como petróleo, minérios, metais preciosos e diamantes, a República Democrática do Congo está, desde sua independência, em 1960, mergulhada em conflitos internos. A partir de meados dos anos 1990, a situação se agravou com a participação de Ruanda e Uganda em conflitos que surgiram com a guerra civil em Ruanda.
Na fotografia, campo de deslocados internos em Bunia, República Democrática do Congo (2019).
A África na nova divisão internacional do trabalho
Na nova Divisão Internacional do Trabalho ( dê í tê), a participação dos países com menor desenvolvimento e baixa industrialização se dá pela produção de manufaturas que empregam pouca tecnologia, mão de obra barata e em geral pouco regulamentada pelo Estado, muita matéria-prima e energia, em atividades frequentemente insalubres e poluidoras, rejeitadas em países desenvolvidos. Estes, por sua vez, produzem bens industriais de alto valor agregado, em geral das áreas de informação e comunicação, e serviços de apoio à produção.
A posição da África na nova divisão internacional do trabalho é ainda mais desfavorável que a dos países de baixa industrialização, porque apresenta maior exploração não apenas dos recursos naturais, mas também da mão de obra. As exportações de produtos industrializados no continente são pouco expressivas e estão concentradas no Saara Ocidental e em oito países: África do Sul, Marrocos, Tunísia, Togo, Namíbia, Botsuana, Zimbábue e Madagascar.
O continente carece, em geral, de modernização da infraestrutura, com a qual poderia dinamizar as atividades econômicas. Além disso, a infraestrutura existente está ligada aos setores de exportação de bens primários e é mais utilizada para o escoamento de produtos do que para a circulação de pessoas e bens dentro do próprio continente. O processo africano de modernização e industrialização esbarrou, portanto, na falta de uma infraestrutura competitiva, de recursos humanos qualificados e de maiores investimentos de capital.
Estatais ligadas a governos corruptos dificultaram a distribuição da renda para a população. Essa situação tem se traduzido em péssimos indicadores sociais em muitas partes do continente, principalmente na África Subsaariana.
Quanto ao comércio mundial, as relações estabelecidas entre países da África e seus parceiros comerciais refletem a dificuldade de gerar riquezas no continente com base em potencialidades locais e regionais. Apesar disso, nos últimos anos há aumento significativo de exportações para a China e também ampliação dos investimentos desse país no continente, expandindo não apenas o comércio, mas também as redes de produção e distribuição: a China ampliou seus investimentos de 10 bilhões de dólares no ano 2000 para cêrca de 30 bilhões de dólares no ano de 2016. Entre 2000 e 2019, também houve um volume expressivo de empréstimos chineses para países africanos na ordem de 150 bilhões de dólares. Estima-se ainda um crescimento contínuo das diferentes modalidades de investimentos chineses na África nas próximas décadas, o que pode transformar a China no principal investidor no continente africano.
ATIVIDADES
Faça as atividades no caderno.
1. Leia a notícia a seguir e responda à questão.
Diamante de mais de 700 quilates é encontrado em Serra Leoa
Um enorme diamante de 706 quilates foi encontrado em Serra Leoa, anunciou nesta quinta-feira a presidência, prometendo um “processo de comercialização transparente” em um país marcado pelo tráfico dos chamados “diamantes de sangue” durante a guerra civil (1991-2002).
O diamante foi encontrado na província de Kono, leste do país, por um pastor, Emmanuel Momoh, que procura ocasionalmente diamantes. A pedra foi apresentada na quarta-feira ao chefe de Estado, Ernest Bai Koroma, por um chefe tribal da região, segundo um comunicado da presidência.
Segundo o comunicado, o presidente Koroma agradeceu pelo diamante não ter sido vendido em contrabando fóra do país e garantiu que “o processo de comercialização será transparente”.
A polêmica sobre os “diamantes de sangue”, essas pedras preciosas que serviram para financiar conflitos na África, como em Angola e em Serra Leoa, resultou em 2000 em um regime de certificação das pedras, chamado químberli, apoiado pela ônu e que reúne 75 países.
O regime de químberli enumera as condições a serem cumpridas por um país para que seus diamantes possam ser exportados legalmente.
reticências
DIAMANTE de mais de 700 quilates é encontrado em Serra Leoa. Estado de Minas, 16 março. 2017. Disponível em: https://oeds.link/EgUphn. Acesso em: 28 março. 2022.
• O que são os chamados “diamantes de sangue”?
2. Observe o mapa e responda.
ÁFRICA: COMÉRCIO EXTERIOR COM A CHINA (2018)
- Que país africano mais se destacou no comércio exterior (atividades de importação e exportação) com a China em 2018?
- Para a África, qual é a importância do comércio exterior com a China?
Ser no mundo
Indústria da mineração e trabalho
Os países do continente africano estão situados em territórios constituídos por formações rochosas antigas, nas quais se desenvolveu uma rica variedade de recursos minerais presentes no subsolo.
Parte das atividades econômicas dos países africanos está atrelada, assim, à indústria da mineração, cujos recursos são explorados pelas grandes corporações e por empresas multinacionais de tecnologia que se ocupam em promover o desenvolvimento científico e tecnológico e produzir equipamentos eletrônicos de última geração, como smartphones, tablets e notebooks.
Se, por um lado, a indústria da mineração é importante para gerar divisas para esses países, por outro, pode provocar uma série de impactos socioambientais. Em alguns locais, por exemplo, a exploração dos recursos minerais é feita sem fiscalização das leis trabalhistas, o que pode possibilitar a presença do trabalho análogo à escravidão e o trabalho infantil. Leia o texto a seguir.
Seu celular foi produzido com trabalho escravo infantil? ôngui revela violações nas minas de cobalto da República Democrática do Congo
Uma investigação da Anistia Internacional e da Afrewatch seguiu o rastro do cobalto obtido das minas artesanais da República Democrática do Congo, onde centenas de menores são explorados. A equipe de ambas as organizações perseguiu os veículos que transportam
o material até os mercados onde acabam sendo comprados por empresas maiores que, por sua vez, afirmam fornecer a conhecidas multinacionais.
reticências
“Os abusos cometidos nas minas são como o dito ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’, porque no mercado global de nossos dias os consumidores nem têm ideia das condições existentes na mina, na fábrica, na linha de montagem. Comprovamos que o cobalto é comprado sem que se façam perguntas sobre como e onde foi extraído”, sustenta Emmanuel Umpula, diretor-executivo da Afrewatch.
reticências a Anistia Internacional Catalunha está fazendo uma campanha para cobrar das empresas de tecnologia um posicionamento sobre o uso de cobalto proveniente das minas artesanais da érre dê cê.
SÁNCHEZ, Gabriela. Seu celular foi produzido com trabalho escravo infantil? reticências. Opera Mundi, 21 janeiro. 2016. Disponível em: https://oeds.link/tpjmIX. Acesso em: 28 março. 2022.
PLANISFÉRIO: ESTIMATIVA DE TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO (2018)
- Você saberia dizer o que caracteriza o trabalho em situação análoga à escravidão?
- De acordo com o mapa, quais continentes registraram índices elevados de condições de trabalho análogas à escravidão? Por que alguns países são mais propensos a registrar condições de trabalho análogas à escravidão?
- Quais meios podem ser utilizados para conscientizar empresas e consumidores a respeito do combate ao trabalho análogo à escravidão e ao trabalho infantil?
Glossário
- Conferência de Berlim
- Conferência realizada em Berlim, entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, que contou com doze países, entre os quais: Alemanha, Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica e Portugal. Os participantes, nesse encontro, estabeleceram regras para manter e ampliar suas áreas de domínio na África.
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- Pan-africanismo
- Movimento político, filosófico e social que promove a união entre os povos africanos e a defesa de seus direitos.
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