UNIDADEum A HISTÓRIA E OS SERES HUMANOS: TEMPO E ESPAÇO

Pintura. Sobre um fundo rochoso nas cores branca, areia e marrom, a representação parcial, em tinta preta, dos contornos de um bisão visto lateralmente. No alto, à direita, um de seus chifres, no alto da cabeça. Na parte inferior, parte das duas pernas dianteiras do animal. No canto inferior direito da imagem, nota-se parte de outro desenho de um animal, na cor vermelha, do qual se vê apenas as duas patas traseiras e o rabo.
Esta pintura foi feita há, aproximadamente, 17 mil anos na caverna de Lascaux, na França. Em 1940, pinturas nessa caverna foram descobertas por quatro adolescentes que passeavam por ali. Logo em seguida essas pinturas passaram a ser estudadas por cientistas.

Você estudará nesta Unidade:

O trabalho do historiador

O tempo e a história

As explicações para o surgimento da espécie humana

A evolução do ser humano

A dispersão dos seres humanos pelo planeta

A chegada do ser humano à América

Pintura.  Sobre um fundo rochoso nas cores branca, areia e cinza, o desenho de um cavalo, de pelagem na cor marrom, com a crina em preto. No entorno dele há outros desenhos que não podem ser identificados na imagem.
Esta outra pintura também foi encontrada na caverna de Lascaux, na França.
Pintura.  Sobre um fundo rochoso de cor amarelada marcado por linhas de rachaduras, o desenho de um animal quadrúpede de cor marrom-claro, com focinho fino e um par de orelhas pequenas pontudas para o alto. O desenho ocupa a parte central da imagem. No canto inferior direito, há  pinturas indistintas de cor vermelha.
Esta pintura foi feita entre 35 mil e 15 mil anos atrás, na caverna de Altamira, na Espanha. Há relatos de que as pinturas nessa caverna foram descobertas por um homem e sua filha enquanto passeavam pelo local, em 1879.

Desde pequenos utilizamos o desenho como fórma de expressão e comunicação. Você se lembra do que registrava em seus desenhos quando era menor? E hoje, como são seus desenhos? Você costuma guardá-los? Geralmente registramos nos desenhos cenas cotidianas, seres e paisagens que observamos, símbolos e até mesmo algo que imaginamos.

Observe, nesta página e na página anterior, as pinturas nas paredes de cavernas. Essas pinturas foram feitas há mais de 15 mil anos, aproximadamente! Qual teria sido a intenção das pessoas quando produziram esses registros? Será que imaginavam que gerações futuras os observariam muito tempo depois? Tanto essas pinturas quanto os desenhos feitos por você contam uma história e registram uma ação, realizada por alguém em certo momento.

Com o passar dos anos, podemos observar os desenhos que fizemos e nos lembrar de momentos vividos anteriormente.

Nesta Unidade, estudaremos que os historiadores utilizam vestígios como esses para levantar hipóteses sôbre o modo de vida dos seres humanos no passado e entender por que somos o que somos hoje.

Você imagina outros vestígios possíveis de serem analisados por historiadores? O que você conhece sôbre o trabalho dos historiadores?

CAPÍTULO 1  INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE HISTÓRIA

O que é História? Existem diferentes definições, mas uma das mais aceitas é que a História é uma ciência que busca fornecer explicações sôbre as origens das sociedades humanas do presente e do passado e sôbre as transformações pêlas quais essas sociedades passaram ao longo do tempo.

Estudar os acontecimentos do passado nos ajuda a compreender como era a vida das pessoas que vieram antes de nós, quais costumes e práticas do modo de vida delas mudaram e quais permanecem. Também nos leva a refletir sôbre como, em uma mesma sociedade, diversos sujeitos, com cotidianos, experiências e pontos de vista variados, se relacionam, construindo suas histórias.

O modo como lidamos com o passado revela aspectos importantes da nossa própria vida no presente. As marcas do passado vão sendo explicadas de maneiras diferentes ao longo do tempo, a depender dos nossos interesses e das nossas preocupações atuais. Quais aspectos do passado buscamos preservar e quais buscamos questionar e transformar?

Fotografia. Vista de cima para baixo. Sobre chão, coberto por ladrilhos retangulares em tons de cinza, uma estátua na cor preta representando um homem com cabelos  longos e ondulados, vestido com um longo casaco. Sobre o rosto da estátua,  derrubada no chão, há tinta nas cores vermelha e branca. Sobre o corpo da estátua, há um cartaz de cor bege com um texto escrito com caneta preta, originalmente em inglês. Ao redor da estátua, vista parcial de pernas e pés de pessoas, usando calças jeans de diferentes tons e tênis.
A estátua do comerciante de escravos Edward Colston foi derrubada por manifestantes antirracistas do movimento Vidas Negras Importam, em Bristol, na Inglaterra, em junho de 2020. Depois de derrubá-la, os manifestantes deixaram um cartaz em cima dela com os seguintes dizeres: “Se esse movimento não abriu seus olhos, o que vai abrir? É hora de falar. É hora de acabar com o privilégio dos brancos.” Ao final do protesto, a estátua foi lançada no rio Avon.

O trabalho do historiador

O historiador estuda o passado tendo como base perguntas e dúvidas que surgem no presente. Suponhamos, por exemplo, que um historiador deseje compreender por que existem mais afrodescendentes no Sudeste e no Nordeste do Brasil do que na Região Sul. Para obter uma resposta, ele terá de investigar o tráfico de africanos escravizados para o Brasil e as atividades econômicas em que eles trabalhavam.

A pergunta que o historiador procurará responder pode estar relacionada a um passado recente ou a um passado bem distante. Ele pode, por exemplo, procurar saber como o hip-hop ou o rap chegaram ao Brasil, uma história relativamente recente. Mas, se a intenção for saber sôbre o desenvolvimento do comércio, da democracia ou da ciência, o historiador terá de recuar sua investigação para um passado mais longínquo.

Como é possível para o historiador investigar um passado que não existe mais? Se você refletir sôbre isso, vai concluir que as pessoas, ao longo da vida, deixam vestígios do que fizeram e pensaram. Tiram fotografias, escrevem cartas, leem livros, ouvem músicas, fabricam ou compram vários tipos de objeto, pintam telas, constroem edifícios e fazem muitas outras coisas que podem perdurar por milhares de anos.

Quando são utilizadas pelo historiador em suas pesquisas, essas marcas deixadas pêlas pessoas recebem o nome de fontes históricas. Elas podem ser classificadas em fontes históricas materiais (documentos escritos de vários tipos, livros, fotografias, roupas, cartas, pinturas, monumentos etcétera) e fontes históricas imateriais (memórias, músicas, lendas, línguas, crenças etcétera). Para chegar a qualquer conclusão em seus estudos, os historiadores precisam examinar várias fontes diferentes.

Fotografia em sépia. Vista de uma rua, perto de casas vistas parcialmente. No centro da imagem, dezenas de pessoas  fantasiadas, carregando objetos nas mãos, dançando, umas perto das outras. À frente, mulheres com saias longas, muitos colares e adereços sobre o corpo. À direita e ao fundo, outras pessoas as acompanham, ocupando a extensão da rua.
Foliões de cordão carnavalesco nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro, no início do século vinte. Os cordões, os ranchos e os blocos surgiram antes das atuais escolas de samba.
Iluminura. Em um salão fechado, com paredes azuis, ladrilhos brancos e azuis e uma bancada de madeira escura no centro, há dezesseis homens operando diferentes instrumentos científicos e fazendo anotações. Todos os homens têm barbas compridas pretas, usam vestes longas de mangas compridas, cada um de uma cor diferente (entre tons de azul, verde, vermelho e laranja) e usam  turbantes brancos sobre a cabeça. No alto, há inscrições em caracteres árabes em tinta preta sobre um fundo dourado. Na parte superior da imagem, em torno da bancada de madeira, há onze homens, dispostos dos dois lados da bancada.  Na fileira de cima, um olha para o alto com um instrumento em forma de V, uma ponta diante de seu olho esquerdo, o vértice para o alto e a outra ponta segura entre as mãos dele; outro um faz um desenho com um compasso sobre uma folha em branco; um segura uma folha de papel e dois manejam um astrolábio. Ao lado deles, um homem em pé observa a cena. Na fileira de baixo, dois homens fazem medições usando um objeto grande em forma de seta, outro faz anotações em uma folha de papel; outro segura um quadrante feito de madeira e o último tem um livro de capa vermelha à frente de seu rosto. Sobre a bancada há objetos como um  relógio de areia, uma esfera armilar, uma, balestilha, esquadros, tinteiros coloridos e um livro de capa vermelha, entre outros. Na parte inferior da imagem, há cinco homens. Um, no centro, toca um grande globo terrestre apoiado em um pedestal quadrado. À esquerda, três homens escrevem. Dois estão sentados no chão sobre os calcanhares, escrevendo sobre folhas de papel branco. Um deles está diante de uma pequena mesa baixa de madeira, em que há um tinteiro azul, uma tesoura e um caderno de capa vermelha apoiado. O terceiro homem está em pé, com um livro de capa preta em suas mãos. À direita, há um homem agachado, segurando uma longa peça de madeira, que está inclinada.
Representação de astrônomos árabes no Observatório Galata. Século dezesseis. Iluminura (detalhe). Biblioteca da Universidade de Istambul, Turquia.

As fontes históricas e as interpretações

Nem sempre os historiadores trabalharam com a diversidade de fontes históricas com que trabalham hoje. Durante o século dezenove (de 1801 a 1900), as principais fontes ou documentos históricos utilizados pelos historiadores em suas pesquisas eram os textos escritos, sobretudo os de origem oficial, emitidos pêla administração do Estado: leis, decretos, certidões de nascimento, atestados de óbito, acôrdos diplomáticos, cartas entre governantes etcéteraAs fontes escritas e os documentos oficiais ainda são muito utilizados nas pesquisas, mas atualmente outros vestígios materiais e imateriais também são valorizados.

Além das ideias sôbre as fontes históricas, outra concepção do século dezenove não é mais aceita hoje: a de que a tarefa dos historiadores seria simplesmente revelar o que teria acontecido no passado, como se houvesse uma versão verdadeira, única e absoluta. Afinal, como chegar a uma versão única sôbre o passado, se cada fato foi vivenciado por pessoas diferentes, que, ao registrá-los ou relatá-los, o fizeram a partir de seus pontos de vista? O próprio historiador seleciona e analisa aspectos do passado a partir da sua visão de mundo.

Hoje está claro para os historiadores que a História não é a reconstituição exata do passado, mas uma interpretação sôbre parte desse passado. Podem existir, inclusive, várias interpretações ou relatos sôbre o mesmo acontecimento.

Isso não quer dizer, contudo, que qualquer versão pode ser aceita, porque a História não é um relato ficcional. Ao investigar o passado, os historiadores reúnem muitos documentos e versões diferentes sôbre o período em estudo; em seguida, cruzam todas as informações, verificam se elas são confiáveis e escrevem uma narrativa consistente sôbre os acontecimentos.

Fotografia. Em um local aberto, com grama e árvores ao fundo, oito pessoas performam uma roda de capoeira. No centro da roda, duas pessoas praticam capoeira, com o corpo de ponta-cabeça, mãos e braços ao chão e pernas para cima. Atrás deles, seis pessoas. Algumas batem palmas e outros seguram instrumentos musicais como: pandeiro e berimbau.
A capoeira é uma manifestação cultural cuja história tem mais de 200 anos. Sua prática é considerada fonte histórica imaterial, pois seu canto e seus movimentos preservam a memória do que muitas gerações, especialmente de afrodescendentes, viveram. Em 2014, a capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pêla Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco). Roda de capoeira na cidade de Salvador, na Bahia. Fotografia de 2019.
A História e as outras áreas do conhecimento

Imagine que você e seus colegas de classe tenham de realizar um trabalhosôbre o município onde moram. O professor, após organizar os grupos, atribui a cada um uma tarefa. Um grupo ficará responsável pêlas informaçõessôbre os habitantes. Outro, por pesquisar a situação da saúde e da educação no município. Um terceiro grupo deverá estudar as principais atividades econômicas do município.

Ao final da atividade, cada grupo terá dado sua contribuição para que todos conheçam melhor o município em que vivem. Essa dinâmica de estudo tem várias semelhanças com a construção do conhecimento histórico. Para pesquisar alguns temas, o historiador precisa recorrer ao saber elaborado por estudiosos da Arqueologia, da Antropologia, da Sociologia, da Geografia e da Economia, por exemplo.

Existe, assim, uma interdependência entre o trabalho do historiador e o de outros pesquisadores. A História, como todas as outras áreas do conhecimento, não está isolada; ela faz parte de um todo cujo objetivo é estudar o ser humano e sua vida ao longo do tempo.

Fotografia. Em um local aberto, com árvores ao fundo, à frente, vista parcial de um homem indígena, com pinturas pelo corpo e pelo rosto nas cores preta e vermelha. Ele olha para baixo e segura nas mãos uma máquina fotográfica, apontada na direção de quem observa a imagem. Pelas costas, ele é observado por outro homem indígena. Ele também tem pinturas pelo corpo em vermelho e preto e, no rosto, apenas em preto. Ao fundo, mulheres indígenas com vestidos vermelhos, vistas parcialmente. Uma delas se observa em um pequeno espelho de moldura laranja.
Indígena registra o araguáquisã, realizado na Reserva Jaqueira, ritual em comemoração ao reconhecimento da Terra Indígena Pataxó, em Porto Seguro, na Bahia. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de livro

OLIVEIRA, Rodrigo Elias. rentichin. São Paulo: Telos, 2021. O livro narra a história de um curumim que busca desvendar os saberes tradicionais do grupo indígena ao qual pertence e a construção do conhecimento científico, até se tornar um arqueólogo.

O tempo e a história

Relógios, calendários e agendas são alguns exemplos de invenções feitas pêlas sociedades humanas para medir e organizar o tempo. Atualmente, vários equipamentos nos auxiliam na medição do tempo. Relógios de pulso, de parede, de rua registram a hora exata; computadores, celulares e tablets informam, além da hora, o dia, o mês e o ano; sirenes de fábricas, sinos de igrejas e sinais de escolas lembram o comêço e o fim de uma atividade.

Mesmo sem relógios e calendários, desde os tempos mais antigos os seres humanos notavam, por exemplo, que depois do dia vinha a noite; que as plantas, os animais e as pessoas, com o tempo, envelheciam e um dia morriam; que a Lua mudava de fases. Ou seja, os grupos humanos percebiam a passagem do tempo observando a natureza, da qual eles também faziam parte.

Na natureza, a existência do dia e da noite é o fenômeno que praticamente toda pessoa, desde criança, aprende a observar. A sucessão de dias e noites está relacionada ao nascer e ao pôr do sol. Por essa razão, o Sol tornou-se a principal referência para medir a passagem do tempo.

Além do dia solar, as fases da Lua e o ciclo das estações serviram de referência para os povos antigos medirem o tempo. Com o conhecimento adquirido por meio da observação desses fenômenos, eles criaram os primeiros relógios, para medir a passagem das horas, e calendários, para calcular a sucessão dos dias, dos meses e dos anos.

Fotografia. Um relógio digital horizontal de cor cinza, com botões na parte inferior. Na tela, a indicação do horário em números arábicos de cor preta: 8 horas e 5 minutos.
O relógio digital foi inventado nos anos 1970.
Fotografia. Um relógio com formato retangular e vertical, em uma caixa de madeira e de vidro, com detalhes em dourado. Na parte superior, algarismos romanos e ponteiros dispostos pretos em um círculo branco. Na parte inferior, um pêndulo. A caixa está apoiada sobre uma base de madeira com quatro apoios dourados.
O relógio de pêndulo foi inventado pelo holandês cristiân rãrrens em 1656. Na fotografia, relógio produzido em 1787.
Fotografia. Engrenagens circulares ligadas umas às outras por peças em madeira e metal. Há hastes de metal de cor cinza, com bases finas na vertical e na horizontal, emoldurando o mecanismo, suspenso. As hastes de metal formam uma armação de que está apoiada sobre uma base também de metal.
Acredita-se que o primeiro relógio mecânico foi construído pelo monge francês gérrbérr por volta do ano 996. Na fotografia, relógio mecânico do século catorze.
Fotografia. Vista diagonal, de cima para baixo, de uma pedra redonda de cor cinza com musgo, sobre a qual há um relógio de sol. O relógio tem o formato de um disco plano, na cor cinza, e no centro há uma haste que forma um ângulo um pouco menor que noventa graus em relação à base. O disco tem algarismos romanos gravados sobre ele, além de algumas gradações nas bordas e uma rosa dos ventos no centro. O Sol incide sobre a haste no centro, de modo que ela cria uma sombra sobre o disco. No fundo, desfocado, grama verde.
O relógio de sol surgiu no Egito há mais de 4 mil anos. Fotografia de 2009.
O tempo medido pelos calendários

O calendário é um sistema de medição de dias inteiros, e não de horas, como fazem os relógios. Por isso, o tempo medido pelos calendários é bem mais longo.

As sociedades humanas criaram diferentes calendários ao longo do tempo. O dos egípcios, criado por volta de 6 mil anos atrás, está entre os mais antigos. Baseado no ciclo lunar, ele tinha 12 meses que somavam 354 dias. cêrca de mil anos depois, os sumérios adotaram um calendário solar de 360 dias, divididos em 12 meses. Ao final do 12º mês eram acrescentados cinco dias complementares.

Os antigos habitantes da América também inventaram diferentes calendários.

O povo asteca, por exemplo, que habitava grande parte do atual México por volta de 550 anos atrás, organizou um calendário formado por dois sistemas de contagem do tempo. Observe, nesta página, a imagem de um desses calendários.

Fotografia. Objeto de formato circular, vermelho, com desenhos em alto relevo nas cores vermelha, branca, amarela, azul e verde. No centro, formas similares às de um rosto humano, com olhos saltados, nariz vermelho, boca aberta com dentes brancos e língua à mostra. Ao redor dessa figura, dispostos em círculos, há desenhos simétricos.
Réplica de calendário asteca datado de 500 anos. O calendário asteca tem dois sistemas de contagem de tempo: um com ciclo de 365 dias, voltado para as atividades da sociedade, como as agrícolas; e outro com ciclo de 260 dias, para fins ritualísticos e sagrados.

O calendário chinês

O calendário tradicional chinês, assim como o inca, é lunissolar, ou seja, combina influências das atividades do Sol e da Lua. Ele também tem 12 meses, cada um deles relacionado a um animal, segundo esta ordem: rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, carneiro, macaco, galo, cão e porco.

O que poucas pessoas sabem é que na China se adotam dois calendários. O calendário ocidental, solar, é usado para atividades civis e administrativas: dia a dia do trabalho, escola, comércio, bancos, instituições públicas etcétera.

O calendário tradicional é usado principalmente para datar eventos relacionados à cultura do país, como o Ano-Novo Chinês e o Festival do Meio-Outono, dois feriados nacionais na China.

Calendário inca

O povo inca, que habitava grande parte da faixa oeste da América do Sul por volta de 550 anos atrás, tinha um calendário que combinava o ano solar de 365 dias com 12 meses lunares. Cada mês tinha seu próprio festival, marcado por celebrações de culto ao Sol, aos mortos e à agricultura.

Os calendários cristão, judaico e muçulmano

O calendário que está na sua agenda, na folhinha da parede da sua casa ou na secretaria da sua escola marca os meses e os dias do ano em que estamos atualmente. Vamos supor que o ano registrado seja 2024. Que fato considerado importante teria marcado o início da contagem desse calendário? Como talvez você já saiba, o acontecimento foi o nascimento de Jesus Cristo, ponto de partida do calendário cristão.

Nesse calendário, os anos anteriores ao nascimento de Cristo são contados de fórma decrescente e vêm acompanhados da sigla antes de Cristo (antes de Cristo). Os anos posteriores ao nascimento de Cristo são identificados com a sigla Depois de Cristo (depois de Cristo). No entanto, quando nos referimos somente a eventos ocorridos após o nascimento de Cristo, não é necessário utilizar a sigla Depois de Cristo

Além do calendário cristão, existem outros tipos de calendário que têm origem religiosa. No calendário judaico, por exemplo, o marco inicial é a data em que, para os judeus, Deus criou o Universo. Esse fato teria ocorrido no ano 3760 antes de Cristo do calendário cristão. Os muçulmanos, por sua vez, estabeleceram a Hégira como marco inicial do seu calendário. A data corresponde à saída do profeta Maomé da cidade de Meca em direção a Medina, ocorrida no ano 622 do calendário cristão.

A rotação completa da Terra ao redor do Sol ocorre depois de 365 dias, 5 horas e 49 minutos. Por isso, a cada quatro anos do calendário cristão de 365 dias é acrescentado um dia ao mês de fevereiro, compondo os chamados anos bissextos. Hoje, esse calendário não tem necessariamente caráter religioso. É adotado como calendário civil, e regula mundialmente as atividades comerciais e financeiras, os transportes etc.

Calendários judaico, cristão e muçulmano

Linha do tempo. Calendários judaico, cristão e muçulmano.
À esquerda, três círculos coloridos dispostos em três linhas. 
Na primeira linha, em azul, ‘Calendário judaico’, com uma estrela de seis pontas, a estrela de Davi, no centro, em branco. 
Na segunda linha em laranja, ‘Calendário cristão’, identificado com uma cruz branca no centro. 
Na terceira linha, em verde, ‘Calendário muçulmano’, com uma lua e uma estrela no centro.
À direita dos círculos, três setas horizontais e paralelas nas cores azul, laranja e verde. 
Sobre a linha azul, ‘Calendário judaico’, estão assinalados os anos: 1, 3761, 4382 e 5784. O ano 1 está relacionado à criação do mundo para os hebreus. Os demais anos referem-se ao que ocorreu após a criação do mundo.
Sobre a linha laranja, ‘Calendário cristão’, estão assinalados os seguintes anos: 3760, 1, 622, 2024. Há uma linha pontilhada ligando o ano 3760 da linha laranja ao ano 1 da linha azul. O ano 1 da linha laranja está relacionado ao nascimento de Cristo, e há uma linha pontilhada ligando o ano 1 ao ano 3761 da linha azul. O que ocorreu antes do ano 1 da linha laranja, está indicado como ‘Antes de Cristo’; o que ocorreu depois, está indicado como Depois de cristo’. O ano 622 da linha laranja está ligado, por uma linha pontilhada, ao ano 4382 da linha azul. O ano 2024 da linha laranja está ligado, por uma linha pontilhada, ao ano 5784 da linha azul.
Sobre a linha verde, ‘Calendário muçulmano’, estão indicados os anos 4516, 640, 1 e 1445. O ano 4516 da linha verde está ligado, por uma linha pontilhada, aos anos 1 da linha azul e 3760 da linha laranja. O ano 640 da linha verde está ligado, por uma linha pontilhada, aos anos 3761 da linha azul e 1 da linha laranja .O ano 1 da linha verde está relacionado à ‘Fuga de Maomé para Medina’. O que ocorreu antes do ano 1 está indicado como ‘Antes da Hégira’. O que ocorreu depois, como ‘Depois da Hégira’.  O ano 1 da linha verde está ligado, por uma linha pontilhada, aos anos 4382 da linha azul e 622 da linha laranja. O ano 1445 da linha verde está ligado, por uma linha pontilhada, aos anos 5784 da linha azul e 2024 da linha laranja.
Observe que os três calendários têm como base acontecimentos importantes da história dessas religiões, portanto cada um tem um marco inicial. Além disso, enquanto o calendário cristão é solar, ou seja, baseado na rotação da Terra em torno do Sol, os calendários judaico e muçulmano são lunares, baseados na rotação da Lua em torno da Terra. Como eles marcam a duração dos meses e dos anos de fórma diferente, a correspondência entre as datas não é exata.
Outras medidas de tempo

Você e seus colegas provavelmente nasceram todos no século vinte e um; muitas pessoas de mais idade com quem você convive nasceram no século vinte. Os portugueses chegaram ao Brasil na última década do século quinze, mas os indígenas habitavam o território vários milênios antes disso.

Década, século e milênio são outras unidades criadas pelo ser humano para medir o tempo, com duração mais longa que o ano, o dia e a hora. A década corresponde a um conjunto de dez anos; o século, a um conjunto de cem anos; e o milênio, a um conjunto de mil anos. Como medem períodos de tempo mais extensos, são usados com frequência nos estudos de História.

Das três medidas de tempo mais longo, o século é a mais utilizada pelos historiadores. Por isso, é muito comum organizar o calendário cristão em séculos, ou seja, em grupos de cem anos. O primeiro século da Era Cristã estende-se da data estimada para o nascimento de Cristo (ano 1) até o ano 100. Observe a seguir as duas operações mais simples para saber a que século pertence cada ano.

Fotografia. Vista de um local aberto com destaque para um grande monumento. Em primeiro plano, uma rua por onde passa uma pessoa vestida com roupa preta. Em segundo plano, um carro branco passa na rua. Em terceiro plano, o monumento, com  três partes brancas, em forma de portal, retangular, em três tamanhos diferentes: um, no centro, pequeno, acima dele, um de tamanho intermediário e, por fim, acima de todos os demais um grande. Sobre o portal intermediário há uma estátua dourada, representando uma mulher sentada, segurando um instrumento musical de sopro, com as duas mãos. O instrumento é curvo e está encostado na boca da estátua, apontado para o alto. Acima, o céu azul.
O início do milênio em que estamos foi celebrado de diversas fórmas. Nesta fotografia, de 2017, pode-se observar o Portal do Terceiro Milênio, monumento erguido em 2001, em Dakar, no Senegal.

Qual é o século?

Esquema. QUAL É O SÉCULO?
Três organogramas. Cada um deles possui quatro retângulos com textos ligados uns aos outros por setas indicativas.

Primeiro organograma. Ano terminado em dois zeros. Eliminar esses dois zeros finais:
Nos três retângulos inferiores os exemplos:
Primeiro exemplo. Ano 1800, refere-se ao século dezoito. 
Segundo exemplo. Ano 100, refere-se ao século um.
Terceiro exemplo. Ano 2100, refere-se ao século 21.

Segundo organograma. Ano não terminado em dois zeros. Eliminar os dois últimos algarismos. Somar  1 ao número que sobrar. 
Nos três retângulos inferiores os exemplos:
Primeiro exemplo. Ano 1939. Eliminamos os números 3 e 9 e sobra o 19. Somamos 19 com 1 e temos 20. Portanto, século 20 (que pode ser escrito em algarismos romanos ou arábicos). 
Segundo exemplo. Ano 101. Eliminamos 0 e 1, sobra 1. Somamos 1 com 1 e temos 2. Logo, o ano 101 corresponde ao século 2 (que pode ser escrito em algarismos romanos ou arábicos). . 
Terceiro exemplo. Ano 2134. Eliminamos os números 3 e 4, e temos 21. Somamos 21 com 1, e temos 22. Portanto, 2134 corresponde ao século 22 (que pode ser escrito em algarismos romanos ou arábicos). 

Terceiro organograma: Quando os anos se referem ao período anterior ao nascimento de Jesus Cristo (antes de Cristo), a contagem é decrescente, ou seja, ela é feita do ano, do século ou do milênio maior para o menor. 
Nos três retângulos inferiores os exemplos:
Primeiro exemplo. O século 1 antes de Cristo corresponde ao intervalo entre o ano 100 antes de Cristo e o ano 1 antes de Cristo.
Segundo exemplo. O século 2 antes de Cristo, corresponde ao intervalo entre os ano 200  antes de Cristo e 101 antes de Cristo. 
Terceiro exemplo. O século 3 antes de Cristo, corresponde ao intervalo entre os anos 300 antes de Cristo e 201 antes de Cristo.

A divisão do tempo em períodos

Outra unidade de medida criada pelos estudiosos é o período. Cada um deles corresponde a uma longa extensão de tempo em que as sociedades humanas apresentaram determinadas características marcantes, diferentes das de outros períodos.

A periodização mais utilizada em livros de História foi criada por estudiosos europeus no século dezenove. Eles dividiram a História em cinco períodos: Pré-História, Idade Antiga (ou Antiguidade), Idade Medieval, Idade Moderna e Idade Contemporânea (observe a linha do tempo no fim desta página). Muitos estudiosos criticam essa divisão porque ela leva em consideração apenas os acontecimentos da história europeia e anulam a história de outros povos. Também apontam que essa divisão pode dar a impressão de que o modo de vida dos europeus teria permanecido o mesmo em cada período – por exemplo, durante os mil anos do período medieval –, o que seria um grande erro.

Por fim, o termo Pré-História também é criticado, pois o marco que separaria a História da Pré-História seria o surgimento da escrita. Hoje, esse critério perdeu o sentido, pois é consenso entre os historiadores que desde que os seres humanos surgiram existe história, independentemente de essa história ter ou não registro escrito.

Pintura. Sobre um fundo escuro a representação de uma construção de três andares em tons de vermelho e laranja. É uma construção grande, cercada por uma muralha, com torres verticais altas e  janelas e portas em formato de arco. Nas torres, à esquerda e à direita, há dois canhões saindo de cada uma delas. Na janela da torre à esquerda, há um homem saindo da janela, ao lado dos canhões. À frente da muralha, ondas do mar e fumaça. Mais ao fundo, à esquerda, uma construção menor, em formato de torre com estilo similar ao da construção maior, à direita. Essa torre fica sobre o topo de um morro marrom. Ao redor desta torre, há fumaça e objetos pelos ares. Na parte superior, o céu em azul escuro.
Representação da tomada de Constantinopla, em 1453, pelos turcos otomanos. 1537. Afresco. Monastério Moldovita, Romênia.Segundo a divisão tradicional da História, esse acontecimento marcou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Linha do tempo. Uma seta horizontal  espessa apontada no sentido da esquerda para a direita. A seta está segmentada em cinco partes, cada segmento em uma cor diferente. Nos limites entre as cores há marcações com datas e suas respectivas legendas. 
No sentido da esquerda para a direta, em azul claro, Pré-História; no limite com a cor seguinte, a data: cerca de 4000 anos antes de Cristo. Surgimento da escrita; à direita, em laranja, Antiguidade, no limite com a cor seguinte, a data: 476. Queda do Império Romano do Ocidente; à direita, em lilás, Idade Média, no limite com a cor seguinte, a data: 1453. Tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos; à direita, em verde, Idade Moderna, no limite com a cor seguinte, a data: 1798. Revolução Francesa; à direita, em azul, Idade Contemporânea, e a ponta da seta.
Há diversos tempos na história

Calendários, relógios, datas, cronologias, períodos, linhas do tempo, tudo isso são criações humanas, que não sobrevivem sem os seres humanos. A ideia de um tempo comum para todos os povos, que avança em linha reta em direção a um futuro uniforme, também é uma invenção social. E, sendo uma criação, reflete determinada visão de tempo, que pode ser de uma religião, de um grupo social ou de um povo.

Na vida humana, na prática, existem diferentes temporalidades, diferentes relações com o tempo. Por exemplo, um morador da cidade de São Paulo que se desloca de condução de sua casa para o trabalho todos os dias vive preocupado com as horas, com o risco do atraso, com a lentidão do trânsito. Para ele, o tempo em que fica preso no trânsito parece não ter fim, enquanto o tempo que tem para descansar parece curto demais.

Agora vamos pensar em outro exemplo, uma família que tem uma pequena propriedade e vive do cultivo da terra. Para essa família, os horários de trabalho se moldam à duração do dia, e as mudanças do tempo atmosférico ao longo do ano definem suas atividades: época de colhêr, época de plantar.

O modo de vida dos pescadores tradicionais e caiçaras também está profundamente vinculado aos fenômenos naturais (como chuvas, ventos, tempestades, tempo firme), às estações do ano e aos ciclos lunares (como as fases de lua cheia, minguante, nova ou crescente), que determinam as épocas de maré cheia e de vazante e os períodos mais favoráveis à pesca e à saída em alto-mar.

Outro exemplo é o povo Surui Paiter, que vive em terras do Mato Grosso e de Rondônia e que tem seu tempo marcado por uma tradição. Nessa comunidade, metade das pessoas cuida da mata, os metare, e a outra metade cuida da roça ou da comida, os íwai. Na época da sêca (maio a outubro), os metare instalam-se na mata, a fim de caçar e pescar, enquanto os íwai vão cuidar da roça. A troca de lados é feita em ciclos anuais, ocasião marcada por uma grande celebração, o Mapimaí, que reúne os dois grupos.

Fotografia. Vista de local aberto, sobre o mar, com destaque para três pescadores, à direita, em pé, em uma embarcação, puxando uma grande rede de pesca lançada nas águas. Os pescadores vestem camisetas (dois com camiseta preta e um, mais ao fundo, com camisa polo branca), e macacões cor de laranja. Eles têm as costas curvadas e os braços esticados para frente, estão puxando a rede de pesca, sobre o mar à esquerda. Ao fundo, há duas pessoas em um jet ski e um morro com vegetação de cor verde, visto parcialmente.
Pescadores caiçaras durante a prática de pescaria em Paraty, no Rio de Janeiro. Fotografia de 2021.

Para conseguir contar o tempo, foi uma questão de tempo

reticências

A necessidade de contar o tempo surgiu ainda na Pré-História para o atendimento às questões mais básicas de sobrevivência e, pode-se dizer, tal necessidade continua atual. Nossos afazeres, lazer, trabalho e até mesmo o sono estão atrelados à contagem de tempo para cada atividade. No trabalho, por exemplo, o valor do serviço, ou seja, a remuneração, é medida pelo tempo de dedicação em horas. pêlas leis brasileiras, um trabalhador tem que ter uma dedicação de 44 horas semanais para receber o salário, cujo valor é mensurado por hora/dedicação.

BERGAMINI, Cristiane. Para conseguir contar o tempo, foi uma questão de tempo. ComCiência, 6 setembro 2008. Disponível em: https://oeds.link/x8ZmtC. Acesso em: 10 março2022.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Em seu caderno, copie e complete a ficha a seguir sôbre o trabalho do historiador.

Quadro com três linhas horizontais. Na primeira linha está escrito: alternativa a O objeto de estudo do historiador Na segunda linha, do meio, está escrito: alternativa b Material utilizado pelo historiador para fazer suas pesquisas Na terceira e última linha está escrito alternativa c Ponto de partida da pesquisa histórica

2. Classifique as fontes históricas listadas a seguir em materiais e imateriais. Use seu caderno.

a) Lendas.

b) Canções.

c) Brinquedos.

d) Fotografias e livros.

e) Depoimentos.

f) Conhecimentos medicinais.

3. Você já conhece as duas operações mais simples para saber a que século pertence cada ano. Responda, então, em seu caderno, em que séculos ocorreram os eventos a seguir (que você vai estudar neste livro).

a) Construção da pirâmide de Quéops, no Egito Antigo (2551 antes de Cristo).

b) Primeiros jogos olímpicos, na Grécia (776 antes de Cristo).

c) Separação entre o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente (395).

d) Organização da Primeira Cruzada (1092).

4. Você provavelmente já sabe o que é um patrimônio cultural. Leia o trecho a seguirsôbre o assunto e responda à questão.

reticências a ideia de patrimônio cultural que engloba aspectos históricos, artísticos, paisagísticos, tecnológicos, tradicionais entre outros e que, de tão representativos de uma determinada cultura, povo, nação tornam-se bens que merecem proteção, preservação e divulgação.

BOTTALLO, Marilúcia ; PIFFER, Marcos; von pôzer, Paulo. Patrimônio da humanidade no Brasil: suas riquezas culturais e naturais. Brasília, Distrito Federal: unêsco: Editora Brasileira, 2014. página 8.

• Observe novamente a imagem de capoeiristas neste Capítulo. Por que a capoeira foi reconhecida pêla unêsco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade?

5. A linha do tempo é uma forma de representar graficamente determinados acontecimentos históricos no tempo. Ela nos ajuda a visualizar a ordem em que os fatos ocorreram. Você já observou um exemplo de linha do tempo neste Capítulo; consulte-a para utilizá-la como modelo. Você vai construir a linha do tempo de sua vida. Para isso, siga estes passos:

  • Em seu caderno, trace uma reta e a divida de modo que todos os intervalos entre um ano e outro tenham o mesmo comprimento. O primeiro ano dessa reta será o ano em que você nasceu.

  • Em seguida, para facilitar a visualização, marque cada ano, até o ano atual, nas divisões que você fez.

  • Selecione quatro acontecimentos importantes na sua história e na história de sua família. Podem ser momentos alegres, tristes, curiosos etc.

  • Selecione dois acontecimentos que tenham importância para o seu grupo social, seu município, seu estado ou seu país.

  • Localize na reta o ano correspondente a esses acontecimentos e registre-os. Não há problema se dois acontecimentos estiverem no mesmo ano.

Versão adaptada acessível

5. A linha do tempo é uma forma de representar graficamente determinados acontecimentos históricos no tempo. Ela nos ajuda a compreender a ordem em que os fatos ocorreram. Você já analisou um exemplo de linha do tempo neste Capítulo; consulte-a para utilizá-la como modelo. Você vai construir a linha do tempo de sua vida. Para isso, siga estes passos:

• Em seu caderno ou em alguma outra superfície, trace uma reta e a divida de modo que todos os intervalos entre um ano e outro tenham o mesmo comprimento. Você pode usar materiais emborrachados, palitos, linhas, tipos de papéis com texturas variadas para realizar essas marcações. O primeiro ano dessa reta será o ano em que você nasceu.

• Em seguida, para facilitar a representação, marque cada ano, até o ano atual, nas divisões que você fez.

• Selecione quatro acontecimentos importantes na sua história e na história de sua família. Podem ser momentos alegres, tristes, curiosos etc.

• Selecione dois acontecimentos que tenham importância para o seu grupo social, seu município, seu estado ou seu país.

• Localize na reta o ano correspondente a esses acontecimentos e registre-os. Não há problema se dois acontecimentos estiverem no mesmo ano.

CAPÍTULO 2  ORIGENS E DISPERSÃO DOS SERES HUMANOS

Multiculturalismo.

Você já se perguntou de onde viemos?

Provavelmentre essa pergunta foi feita também pelos primeiros seres humanos, e ainda hoje permanece uma questão importante.

Existem muitos mitos, de diversos povos, que procuram explicar o surgimento da humanidade. Por exemplo, o mito dos Pataxó, povo indígena que tem aldeias na Bahia e em Minas Gerais, narra um tempo em que só havia bichos na Terra. Até que, de uma gota que caiu do céu, surgiu um índio, que viveu muito tempo sozinho. Leia a seguir um trecho do mito dos Pataxó.

Um dia, o índio estava fazendo ritual. Enxergou uma grande chuva. Cada pingo de chuva ia se transformar em índio. No dia marcado, a chuva caiu. Depois que a chuva parou de cair, os índios estavam por todos os lados. O índio reuniu os outros e falou:

— Olha, parentes, eu cheguei aqui muito antes de vocês, mas agora tenho que partir.

Os índios perguntaram: — Pra onde você vai?

O índio respondeu: — Eu tenho que ir morar lá em cima no Itohã, porque tenho que proteger vocês. Os índios ficaram um pouco tristes, mas depois concordaram.

— Tá bom, parente, pode seguir sua viagem, mas não se esqueça do nosso povo.

Depois que o índio ensinou todas as sabedorias e segredos, falou: — O meu nome é tchôpai.

De repente o índio se despediu dando um salto, e foi subindo... subindo... até que desapareceu no azul do céu, e foi morar lá em cima no Itohã. Daquele dia em diante, os índios começaram sua caminhada aqui na terra, trabalhando, caçando, pescando, fazendo festas e assim surgiu a nação pataxó.

Pataxó é água da chuva batendo na terra, nas pedras, indo embora para o rio e o mar.

VALLE, Cláudia Netto do. : mito fundador pataxó. áquita sáindíérum, Maringá, volume 23, página. 61-68, 2001.

Fotografia. Vista de local aberto, com árvores ao fundo, sob a luz do Sol. À frente, um grupo de cinco homens indígenas dançando um próximo do outro. Eles estão com o tronco desnudo, usam cocares feitos de penas coloridas sobre a cabeça, colares e braceletes feitos de miçangas e de sementes e saiotes de palha com cintos coloridos. Um  homem, no centro, segura um tambor sobre os ombros, outro, à esquerda, tem um maracá em uma de suas mãos. Ao fundo e à direita, vistos parcialmente, outros homens dançam e seguram instrumentos musicais.
Pataxós na Reserva da Jaqueira, na Terra Indígena Pataxó, em Porto Seguro, na Bahia. Fotografia de 2019.

O surgimento dos seres humanos

Assim como o povo Pataxó, a maioria das sociedades humanas, do passado ou do presente, tem seu mito fundador sôbre a origem do mundo e dos seres humanos. Essas narrativas passaram de geração em geração por meio de transmissão oral, e algumas delas foram registradas por escrito. Elas nos dão informações valiosas sôbre a fórma como diferentes culturas concebem o mundo.

Durante a maior parte da história humana, as explicações sôbre a origem da vida na Terra estiveram ligadas à religião. Em muitas há a presença de um deus superior e eterno, responsável único pêla criação de tudo o que existe. A linha de pensamento que se apoia nessa ideia é chamada de criacionismo.

A visão criacionista com o maior número de defensores na sociedade atual foi elaborada com base no livro do Gênesis, da Bíblia. Leia a seguir um trecho dessa narrativa.

No princípio criou Deus o céu e a terra.

E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sôbre os peixes do mar, esôbre as aves dos céus, e sôbre o gado, e sôbre toda a terra, e sôbre todo o réptil que se movesôbre a terra.

E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sôbre os peixes do mar e sôbre as aves dos céus, e sôbre todo o animal que se move sôbre a terra.

Gênesis 1. In: Bíblia Online. Disponível em: https://oeds.link/57XpYQ. Acesso em: 7abril 2022.

O criacionismo hoje tem várias correntes, desde aquelas que defendem a narrativa bíblica como está apresentada até as que procuram combinar o princípio da criação com explicações não religiosas.

Pintura. Sob um céu azul, com uma nuvens em cujo centro, há o rosto de um homem de cabelos brancos no lugar do Sol,  um local aberto com vegetação abundante. Há, ao fundo, rochas altas com vegetação no topo, um lago azul diante das rochas e árvores com frutas, à direita. Há também animais, aves  e quadrúpedes, (cervos à esquerda, cisnes, patos e faisões no centro, um cavalo branco à direita). Ao fundo, sobre a vegetação, há cinco cenas e, em primeiro plano, no centro, destaque para três pessoas, um homem à esquerda, e um homem de mãos dadas com uma mulher, à esquerda. O homem à direita tem cabelos compridos e barba longa, ambos brancos. Ele está vestido com um grande manto vermelho sobre uma túnica escura e está descalço. Com uma de suas mãos, ele aponta para o homem à frente dele. Esse homem, à esquerda, tem cabelos curtos, castanhos e cacheados e usa barba. Ele está nu, com uma das mãos sobre o peito, a outra mãos está entrelaçada com a mão da mulher ao lado dele. A mulher tem cabelos loiros, longos, penteados para trás. Ela está nua e tem um ramo de folhas verdes sobre sua pelve. Aos pés do casal, um cachorro branco deitado ao chão. Nas cenas ao fundo, da direita para a esquerda: o homem de cabelos brancos e manto vermelho estrá curvado sobre um monte de barro; à esquerda, o homem e a mulher nus estão sob uma árvore com frutas. Há uma criatura com a parte superior do corpo humana e a parte inferior de serpente, enrolada sobre o tronco da árvore. A criatura oferece uma fruta ao casal. A mulher está de costas com um fruta nas mãos. O homem está de lado, mordendo uma fruta. À esquerda, o homem de cabelos cacheados está deitado sobre a grama, da costela dele, o homem de manto vermelho retira a parte superior do corpo da mulher loira. À esquerda, o homem e a mulher estão agachados atrás de um arbusto, olhando para o céu, assustados. À esquerda, um anjo com asas brancas e  túnica vermelha corre atrás do homem e da mulher segurando uma espada no alto. De braços dados, o homem e a mulher correm do anjo.
cránar, Lucas. Paraíso (ou Jardim do Éden). 1530. Óleo sôbre tela, 81 por 144 centímetros. Museu de História da Arte, Viena, Áustria. A pintura representa a narrativa bíblica da criação do homem e da mulher e sua trajetória até a expulsão do paraíso. No século dezesseis, as pinturas tinham importante função de educar os fiéis nos preceitos e nas histórias do catolicismo, uma vez que a maioria deles não tinha acesso às escrituras.
A teoria evolucionista

A questão sôbre a origem dos seres humanos também motivou intensas pesquisas científicas, que levaram os estudiosos a elaborar teorias que explicassem a origem da vida na Terra. Atualmente, o evolucionismo é a teoria aceita pêla ciência para explicar como surgiu a enorme diversidade de seres vivos que habitam a Terra.

As bases dessa teoria foram criadas pelos naturalistas ingleses Chárles Dárvin e Álfred Vallace. Eles concluíram em suas pesquisas que as espécies de seres vivos passam por transformações ao longo do tempo, diversificando-se e dando origem a novas espécies. O mecanismo que determinaria a sobrevivência de algumas espécies e a eliminação de outras foi chamado por Dárvin de seleção natural: os seres vivos com características que lhes permitem sobreviver em determinado ambiente transmitem essas características às próximas gerações, enquanto os menos adaptados tendem a desaparecer.

Em 1859, Dárvin publicou o livro A origem das espécies. Nele, detalhou o processo de seleção natural e introduziu a ideia, revolucionária para a época, de que o ser humano também é resultado do processo de evolução por seleção natural. Suas ideias chocaram a sociedade europeia porque contradiziam a ideia bíblica de que os seres humanos, assim como os outros seres vivos, haviam sido criados por Deus e, portanto, seriam perfeitos e imutáveis.

Fotografia. Vista em diagonal do alto para baixo. No centro da imagem, sobre uma pilha de livros fechados, um livro aberto na folha de rosto, com páginas amarelecidas pelo tempo. Em caracteres na cor preta, na página da direita, o título originalmente em inglês "A origem das espécies" e texto ilegível. Na página da esquerda, texto ilegível. À esquerda do livro, uma fotografia em preto e branco: um retrato de um homem calvo na parte superior da cabeça, com cabelos brancos nas laterais da cabeça e barba comprida, grisalha, vestido com um terno escuro camisa branca e gravata escura.
Exemplar da primeira edição da obra A origem das espécies, de Charles Dárvin, de 1859. À esquerda do livro, vemos uma fotografia de Dárvin.

Como a religião convive com a Teoria da Evolução de Dárvin

Segundo o teólogo máicol méier blenqui, o texto bíblico e as teorias de Dárvin não devem ser entendidos como opostos. Ambos podem – e devem – ser encarados como perspectivas distintas do mesmo fenômeno.

“A Bíblia descreve a Criação como uma espécie de representação artístico-poética, interpretando a vida, enquanto Dárvin tentou descrever a vida e a Criação como um observador.” Enquanto as ciências naturais existem para explicar, a religião, a cultura e a arte servem à compreensão da vida. “Deste modo, ciência e religião não são concorrentes, mas sim fórmas distintas de descrever a vida, que não são mutuamente redutíveis.”

Dárvin ou a Bíblia? Deutsche Welle, 19 fevereiro 2009. Disponível em: https://oeds.link/MCrzL4. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Ícone. Sugestão de livro

BARBOSA, Rogério Andrade. O amigo de Dárvin: um jovem desenhista em Galápagos. São Paulo: Melhoramentos, 2014.

A obra traz uma história de ficção baseada em pesquisas científicas. Nela, somos apresentados à viagem que o jovem Chárles Dárvin realizou na década de 1830, com o objetivo de documentar a fauna, a flora e as formações geológicas.

A evolução do ser humano

A teoria evolucionista de Dárvin e uólace resolveu um grande mistério científico. Desde o século dezenove, arqueólogos e outros estudiosos encontravam em suas pesquisas ossos muito semelhantes aos de humanos modernos, mas nenhum ser humano conhecido tinha ossos exatamente como aqueles.

Utilizando a teoria evolucionista, os cientistas ligaram a origem do ser humano a um grupo de mamíferos chamado primatas, que surgiu na África hácêrca de 70 milhões de anos.

Um grupo de primatas deve ter originado os primeiros hominídeos, ou seja, seres que já apresentavam características semelhantes às do homem moderno. Os mais antigos hominídeos de que se tem evidência foram os australopitecos. Eles viviam no sul da África, já andavam eretos sobre os dois pés e tinham habilidade com as mãos, mas não fabricavam instrumentos.

Em 1974, descobriu-se na Etiópia o esqueleto de um australopiteco quase completo, de 3,2 milhões de anos. Depois de se comprovar que se tratava de uma mulher, o esqueleto foi batizado com o nome de Lúci, porque no momento da descoberta os arqueólogos estavam ouvindo a canção Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles.

Em 2010 foi descoberto, também na Etiópia, um esqueleto 400 mil anos mais velho que o de Lúci, mas da mesma espécie que ela, um Denominado pelos pesquisadores de cadánumu, o esqueleto teria 3,6 milhões de anos.

As contínuas descobertas de esqueletos de hominídeos muito antigos na África levaram os cientistas a concluir que o ser humano provavelmente surgiu na África e de lá se espalhou para os outros continentes.

Fotografia. Sobre um fundo azul escuro,  estátua representando um australopiteco, com o corpo coberto por muitos pelos, um rosto largo e achatado. Está sentado sobre o pé direito, com os joelhos dobrados, a mão esquerda estendida para frente, a boca semiaberta mostrando os dentes inferiores e olhar dirigido ao chão. Os pés e as mãos são similares aos de humanos. Segura um instrumento de pedra na mão direita.
Esta reconstituição de Lúci em tamanho real (1,10 métro de altura) está exposta no Museu da Evolução Humana de Burgos, na Espanha.
Ícone. Sugestão de site.

37 GRAUS: A lasca que falta. [Locução de: Sára ázoubél e Bia Guimarães]. Lab37, 18 novembro 2020. Podcast. Disponível em: https://oeds.link/ma2RhP. Acesso em: 14 abril 2022. O episódio trata das datações dos primeiros vestígios humanos encontrados.

O gênero Homo

O gênero Homo, do qual fazemos parte, originou-se há cêrca de 2 milhões de anos. Diferentemente dos australopitecos, ele apresenta maior volume cerebral e habilidade nas mãos. Há várias espécies conhecidas do gênero Homo; as principais são:

  • Homo : já tinha a habilidade de fabricar utensílios simples de pedra. Alimentava-se de vegetais e carne e, provavelmente, desenvolveu uma fórma de linguagem. Ossos dessa espécie, de 2 milhões de anos atrás, foram encontrados no leste da África.
  • Homo : além de utilizar utensílios de pedra lascada, como machados, era bom caçador. Foi provavelmente a primeira espécie a deixar a África. Em 2001, pesquisadores encontraram na Geórgia, na Europa Oriental, ossos humanos que foram classificados como pertencentes à espécie do Homo .
  • Homo : muito parecido com o ser humano moderno, era caçador e suas diferentes subespécies habitaram a Europa e a Ásia Ocidental entre 230 mil e 30 mil anos atrás.
  • Homo Sápiens: surgiu entre 190 mil e 150 mil anos atrás, nas savanas africanas, e se espalhou depois por todos os continentes. Construiu instrumentos variados e mais sofisticados, desenvolveu a linguagem e expressões artísticas. O Homo Sápiens, ou seja, o homem moderno, foi a única espécie do gênero Homo que conseguiu sobreviver.

A origem do gênero Homo é um dos grandes mistérios da evolução humana. Até recentemente, suspeitava-se de que ele tivesse surgido na África Oriental. Contudo, a descoberta em 2008, na África do Sul, do fóssil de uma espécie nomeada de australopitécus sedíba sugere, para alguns cientistas, que este poderia ser o ancestral do gênero Homo.

Ilustração. Sobre um fundo claro, ilustração de uma árvore marrom, com quatro galhos maiores com copas com muita folhagem nas pontas. E dois galhos menores. Em meio às folhagens dos quatro grandes galhos, há pequenas figuras em forma circular, com o desenho do rosto de diferentes gêneros da espécie humana. À esquerda, um eixo vertical com uma cronologia, indicando os períodos aos quais cada gênero está associado. A parte mais baixa, ligada ao tronco base da árvore por uma linha, indica o passado. A parte mais alta, ligada à copa da árvore, indica o presente. No primeiro galho, na parte inferior direita da árvore, quatro retratos de figuras do gênero Ardiphithecus.  Na linha à esquerda, correspondem ao período entre 6 milhões de anos atrás e 5 milhões de anos atrás. No segundo galho da árvore, à esquerda,  quatro retratos do gênero Australopithecus. Na linha à esquerda, correspondem ao período entre 5 milhões de anos atrás e 3 milhões de anos atrás. No terceiro galho da árvore, mais acima e à direita, três figuras do gênero Paranthropus. Na linha à esquerda, correspondem ao período entre 3 milhões de anos atrás e 2 milhão de anos atrás. No quarto galho, na parte mais alta da árvore, sete figuras do gênero Homo, sendo que a figura mais alta possui seis desenhos de pessoas vestidas de branco, com feições diferentes. Nessa figura há uma legenda, onde se lê: 'Você está aqui'. Na linha à esquerda, correspondem ao período entre 3 milhões de anos atrás e o presente.
Árvore interativa. Museu Nacional de História Natural da Instituição ismitsoniãna. Washington, Estados Unidos.

Da África para o mundo

Todas as evidências indicam que os seres humanos surgiram na África e, a partir dela, se espalharam para os outros continentes. Durante muito tempo, acreditou-se que essa dispersão havia se dado em uma única migração, ocorrida há 50 mil anos, com os grupos humanos seguindo até o norte da África e atravessando a península Arábica também pelo norte, em direção à Ásia central. Estudos recentes, contudo, concluíram que muito antes dessa migração houve outra, hácêrca de 130 mil anos, quando grupos humanos deixaram a região nordeste da África em direção ao sul da península Arábica. Observe o mapa a seguir.

Migrações dos seres humanos a partir da África

Mapa. Migrações dos seres humanos a partir da África.  Mapa representando, em amarelo, partes dos continentes: Europa, Ásia, África e Oceania. Em azul, os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Setas vermelhas indicam 'aproximadamente 50 mil anos atrás', representando a trajetória de migração de seres humanos partindo da região que hoje compreende a Etiópia, na África, atravessando para o norte da Península Arábica, percorrendo o interior do continente asiático em direção à Península da Coreia e a região que hoje compreende o Japão. A trajetória dessa seta termina, no Oceano Pacífico, na região que hoje compreende as Filipinas. Setas verdes indicam, 'Aproximadamente 130 mil anos atrás', representando  uma trajetória de migração de seres humanos partindo da mesma região na África, que hoje compreende a Etiópia, mas atravessando a Península Arábica pelo sul e seguindo pela costa do continente asiático, cruzando as regiões que hoje compreendem a Malásia e a Indonésia, e terminando na região nas regiões que hoje compreendem a Austrália e a Papua Nova Guiné. Na parte superior direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 1720 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: REYES-CENTENO, Hugo et al. djenoumiqui ênd crenial finotaipe dara supórt moutipou módern ríuman dispãrsãls from Áfrrica ênd a sauldern rrute intcho êigia. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, volume111, número 20, página .7248-.7253, maio 2014.

Dispersão dos grupos humanos

Estudos mais recentes indicam que a dispersão dos primeiros grupos humanos a partir do continente africano pode ter ocorrido muito antes do que se imaginava.

reticências Até recentemente, os estudos apontavam que uma pequena população do homem moderno teria deixado a África entre 80 mil e 60 mil anos atrás e ocupado o continente asiático, e que toda a humanidade que reside nos outros continentes seria descendente dessa população. Logo após a ocupação da Ásia, os homens teriam chegado à Austrália há cêrca de 50 mil anos e à Europa há aproximadamente 40 mil anos reticências.

No entanto, um estudo sôbre diversidade genética e craniana sugere uma migração anterior, iniciada por volta de 130 mil anos atrás, para o sul do continente asiático, demorando cêrca de 80 mil anos para chegar à Austrália. reticências

CAIRES, Luanne; BONATELLI, Maria Letícia; ALMEIDA, Graciele. Técnicas recentes no estudo da evolução ajudam a esclarecer a origem do homem e a ocupação no planeta. ComCiência, número 194, 5 dezembro 2017. Disponível em: https://oeds.link/VdHXAV. Acesso em: 7abril2022.

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A chegada dos seres humanos à América

Uma das principais teorias que explicam o povoamento do continente americano afirma que os primeiros grupos humanos teriam chegado há 12 mil anos, vindos da Ásia, atravessando o Estreito de Bering, entre a Sibéria (na atual Rússia) e o Alasca (nos Estados Unidos).

Essa travessia teria ocorrido na última glaciação, período em que o Estreito de Bering estava coberto de gelo, unindo o continente americano e o asiático. Os grupos humanos que chegaram à América por esse caminho fizeram o trajeto a pé, provavelmente perseguindo grandes animais.

Os cientistas acreditam ainda que esses migrantes pré-históricos teriam características físicas de populações mongoloides, como grande parte dos japoneses, chineses, mongóis, coreanos e outras populações que habitam principalmente o nordeste da Ásia atualmente.

A hipótese de que a maioria dos povos ameríndios se originou a partir dessa onda migratória fundamenta-se na existência de uma grande quantidade de sítios arqueológicosglossário , datados de 12 mil a 10 mil anos atrás e espalhados por toda a América. Entre eles está o sítio arqueológico de Clóvis, situado no estado do Novo México, nos Estados Unidos.

O sítio de Clóvis ganhou destaque a partir da década de 1930 com a descoberta de artefatos feitos de pedra, além de ossos de mamutes e bisões, datados de .11500 anos atrás. Entre os artefatos encontrados na região destacam-se as pontas de flecha, que seriam um indício da importância da caça para a sobrevivência dos moradores.

Os artefatos de Clóvis apresentavam técnicas e formatos muito semelhantes, o que sugere que os habitantes da região seriam originários de uma mesma cultura. Por essa razão, o modo de vida daqueles moradores foi chamado de cultura Clóvis.

Fotografia. Retrato de criança indígena, vista do busto para cima. Ela tem cabelos pretos lisos, soltos, até os ombros e pinturas nas bochechas: duas setas finas na cor preta com o vértice voltado para o centro do rosto, e no canto externo dos olhos, dois traços horizontais de cor preta. Usa sobre a cabeça um cocar de penas amarelas e marrons com  tiras longas trançadas com sementes pretas, caindo nas laterais do corpo. A menina olha para frente e sorri. Ao fundo, vegetação verde, desfocada.
Os indígenas brasileiros têm traços que podem ser associados aos nativos de países da Ásia, como o Japão e a China. Menina indígena guarani, no município de Bertioga, em São Paulo. Fotografia de 2020.

As glaciações

As glaciações são períodos de intenso resfriamento da Terra. Elas são fenômenos cíclicos, e os cientistas não sabem ao certo quais fatores as causam. Quando ocorrem, grandes superfícies da Terra ficam cobertas de gelo. A última glaciação durou cêrca de 100 mil anos e terminou por volta de 10 mil anos atrás. Foi durante esse longo período que o ser humano iniciou o povoamento da América.

Outros percursos

Em pesquisas realizadas nas últimas décadas, estudiosos encontraram indícios de que a presença humana na América pode ser muito anterior à cultura Clóvis. Por exemplo, nos sítios arqueológicos de Piedra Museo e Los Toldos, na Argentina, e de débra éle friékin, nos Estados Unidos, há indícios da presença humana de 13 mil a 15 mil anos atrás. No sul do Chile, em Monte Verde, os vestígios datam decêrca de 13 mil anos atrás e, por sua localização, sugerem que o povoamento do sul do continente pode ter sido anterior ao da parte norte. Para alguns estudiosos, essas descobertas indicariam que, além dos grupos que teriam chegado ao continente pelo Estreito de Bering, pode ter havido outras ondas migratórias em direção à América por via marítima pelos oceanos Pacífico e Atlântico.

POSSÍVEIS caminhos do ser humano para a América

Mapa. Possíveis caminhos do ser humano para a América. Planisfério representando os continentes nessa ordem, da esquerda para a direita: África, Europa, Ásia, Oceania e América. Destaque em texto para o Deserto do Saara, a Sibéria, o Estreito de Bering, o Alasca, as Filipinas, a terra de Sunda, a Nova Guiné, a América do Norte e a América do Sul. Setas verdes indicam, as 'Possíveis rotas' terrestres 'do ser humano para a América'. Setas vermelhas indicam as rotas de 'Navegação de cabotagem (Pacífico)' e setas em lilás indicam a 'Navegação direta (Atlântico)'. Na rota terrestre, em preto, há silhuetas de figuras humanas em pé, com lanças. Nas rotas de navegação por cabotagem, há silhuetas de figuras humanas em pequenas embarcações a remo. Em verde, a rota terrestre possivelmente percorrida pelo ser humano em direção à América, parte da porção nordeste da África, passa a leste do Deserto do Saara e se bifurca. Uma parte segue na direção da Ásia e a outra na direção da Europa. A que segue pela Europa, atravessa o continente europeu e segue em direção à Escandinávia. A que segue pelo  interior do continente asiático no sentido oeste-leste também se bifurca. Uma parte segue em direção ao sudeste da Ásia, enquanto a outra avança para nordeste, pela Sibéria. Da Sibéria, cruza do continente asiático para a América pelo estreito de Bering, próximo ao Oceano Glacial Ártico. Segue, então, pelo Alasca para o sul, desde a América do Norte até a América do Sul. Em vermelho, a rota por navegação de cabotagem parte do litoral do sudeste asiático, da região que hoje compreende a Malásia; pelo Oceano Índico, passa pelas Filipinas, pela Terra de Sunda, pela Nova Guiné e pela região que hoje compreende a Austrália. Outra seta vermelha, partindo do litoral da região que hoje compreende a China, segue na direção norte pelo Oceano Pacífico, atravessando o Mar do Japão atingindo a Península de Kamchatka e o Mar de Bering, chegando até a costa oeste da América do Norte,  atravessando a região das Ilhas Aleutas, no Alasca, e seguindo em direção ao Sul, navegando pela costa oeste da América do Norte até atingir a América do Sul. Em roxo, a rota por navegação direta parte da costa da África banhada pelo Oceano Atlântico, atravessando o oceano em direção à costa da América do Sul, banhada pelo mesmo Oceano. Na parte inferior do mapa, rosa dos ventos e escala de 0 a 2500 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 14-15.

Recentemente, a partir de novas investigações, a hipótese de que os primeiros seres humanos chegaram ao continente americano vindos do continente asiático pelo Estreito de Bering tem sido reafirmada por alguns estudiosos. Dessa fórma, as teorias vão sendo revisitadas continuamente.

Outra dúvida é se os primeiros povoadores da América teriam características asiáticas ou apresentavam traços faciais semelhantes aos dos africanos e dos aborígenes australianos. Essa discussão surgiu porque crânios e ossadas encontrados na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, apresentam traços faciais semelhantes aos dos africanos e dos aborígenes australianos. Análises de ossadas, crânios e material genético dos primeiros povoadores do continente têm auxiliado os cientistas na tentativa de desvendar esse e outros mistérios.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. O que são os mitos fundadores e qual é a sua importância?
  2. Com base na teoria elaborada por Chárles Dárvin e Alfred Wallace para explicar a evolução das espécies, responda em seu caderno:
    1. Por que o Homo sapiens conseguiu sobreviver na Terra, enquanto as demais espécies do gênero Homo desapareceram?
    2. É possível afirmar que, daqui a milhares de anos, a espécie humana terá as mesmas características biológicas de hoje? Por quê?
  3. Os australupitécus e as espécies do gênero Homo se diferenciavam, entre outras coisas, pêla altura, pelo volume do cérebro e pelo modo de vida que levavam. Anote em seu caderno a qual espécie está relacionada cada uma destas afirmativas.
    1. Povoou diferentes regiões do planeta e foi a única espécie sobrevivente do gênero Homo.
    2. Viveu por volta de 3,2 milhões de anos atrás e já apresentava algumas características humanas, como a postura ereta.
    3. Habitava a Europa e a Ásia Ocidental e chegou a conviver com o ser humano moderno.
    4. Alimentava-se de carne e de vegetais e representa a mais antiga espécie do gênero Homo da qual foram encontrados restos ósseos.
  4. Monte em seu caderno um quadro conforme o modelo, completando-o com as afirmativas relacionadas a cada sítio arqueológico.
Ícone Modelo.
Sítios arqueológicos

Clóvis

Monte Verde


  1. Os objetos encontrados no local foram considerados por muito tempo os mais antigos já descobertos no continente americano.
  2. As descobertas feitas no local fortaleceram a hipótese de que a ocupação da América do Sul pode ter sido anterior à da América do Norte.
  3. Os artefatos encontrados nesse sítio apresentavam técnicas e formatos semelhantes, o que permite acreditar que havia unidade cultural entre os habitantes dessa região.
  4. Os vestígios arqueológicos encontrados nesse sítio datam de 13 500 anos atrás.
  1. Analise o mapa “Possíveis caminhos do ser humano para a América”, reproduzido neste Capítulo, e faça o que se pede.
    1. Identifique as possíveis regiões de chegada dos seres humanos à América.
    2. Descreva os dois percursos feitos pelos seres humanos até a chegada a cada uma dessas regiões.
    3. Em sua opinião, uma possibilidade de percurso exclui a outra ou é possível ter havido as duas?
  2. O carbono-14 é um dos métodos usados para descobrir a idade dos vestígios encontrados nas escavações arqueológicas. Faça uma pesquisa na internet para descobrir como isso é feito.
Ícone. Ilustração do globo terrestre circundado por uma linha amarela, simulando a trajetória da Lua em torno do planeta, indicando a seção Ser no mundo.

Ser no mundo

Cidadania e Civismo

Intervenções urbanas e as disputas pêla memória

Os monumentos são marcas de memória deixadas nos espaços públicos das cidades, elementos que revelam aspectos da história, os quais a sociedade em algum momento buscou destacar e preservar. Por isso, também revelam detalhes sôbre a maneira como nos relacionamos com o passado. Os monumentos fixados nos espaços públicos nos fornecem informações sôbre as intenções dos grupos que influenciaram sua construção, privilegiando determinada visão do passado, destacando-a e tornando-a visível para aqueles que habitam e visitam o local.

Atualmente, as disputas em torno das marcas de memória nas cidades têm reacendido os debates públicos sôbre as nossas relações com a história. Desde o início dos anos 2000, os protestos contra monumentos que fazem referência ao comércio de africanos escravizados, à violência praticada contra povos indígenas e ao colonialismo tornaram-se comuns em diversas parte do mundo, questionando as fórmas de opressão praticadas no passado e no presente.

Fotografia. Vista de local aberto, com uma grande estátua de um homem sobre uma base quadrada branca. Ele tem barba castanha, usa um chapéu sobre a cabeça, está vestido com um colete longo marrom, calça e botas de cano alto em marrom. Sob o colete, veste uma camisa de cor branca com listras verticais, e na mão direita, segura pelo cano um  antigo tipo de espingarda, conhecido como pederneira, arcabuz ou mosquetão. A arma está apoiada na mesma base que serve de suporte para a estátua.  Ao fundo, à esquerda, um prédio com fachada espelhada de cor azul. No alto, céu diurno em azul-claro.
A estátua de Borba Gato começou a ser construída pelo escultor Júlio Guerra em 1957, mas só foi inaugurada em 1963, no bairro de Santo Amaro, na cidade de São Paulo. Fotografia de 2020.
  1. Descreva a estátua de Borba Gato. Que aspectos da representação da estátua mais chamaram sua atenção?
  2. O que você sôbre os bandeirantes? Por que, na sua opinião, foi construída a estátua de Gato na cidade de São Paulo? Discuta com os colegas e o professor a respeito.

Em 2020, iniciou-se uma onda de protestos organizados por grupos antirracistas que denunciavam a violência policial direcionada contra indivíduos negros nos Estados Unidos. Esses protestos eclodiram também em outros países. No mesmo ano, uma estátua de éduardi côlstôn, comerciante de africanos escravizados, foi derrubada por manifestantes na cidade de Bristol, na Inglaterra.

No Brasil, em julho de 2021, na cidade de São Paulo, a estátua do bandeirante Borba Gato, que já havia recebido inúmeras pichações, foi alvo de novo vandalismo. A estátua foi incendiada como fórma de trazer para o primeiro plano justamente a discussão sôbreas marcas de memória que foram destacadas nos espaços públicos. Os manifestantes buscaram colocar em evidência as práticas do bandeirante, que assassinou, capturou e vendeu como escravos diversos indígenas e africanos. Além disso, o ato buscou questionar as escolhas feitas no passado, quando certos grupos optaram por homenagear o bandeirante em um local público, impondo determinada interpretação da história.

Fotografia. Vista em local aberto, com a mesma estátua da imagem anterior: uma grande estátua representando um homem de chapéu segurando um mosquetão. Nessa imagem, a estátua é vista de baixo para cima. Há fogo em sua base e muita fumaça subindo em direção ao céu. Toda a estátua está escurecida pelas chamas, e contrasta com o céu azul claro ao fundo.
A estátua de Borba Gato foi incendiada, em julho de 2021, em protesto contra as ações dos bandeirantes, que atuaram em expedições em busca de ouro, de pessoas escravizadas em fuga e de indígenas para serem escravizados.
  1. Em dupla, pesquisem em livros, revistas, jornais ou na internet sôbre a atuação dos bandeirantes. Procurem descobrir quem foram, a origem deles, suas características, quais foram seus principais feitos no passado, entre outras informações.
    • Em seguida, discutam e formulem alguns questionamentos, apontando ao menos um aspecto negativo e um aspecto positivo relacionados às suas práticas.
    • Depois, cada um dos membros da dupla deve ficar responsável por redigir um texto utilizando uma das linhas de argumentação. Façam o registro dos argumentos de vocês no caderno.
    • Por fim, compartilhem com o restante da turma, em uma roda de conversa, a argumentação utilizada por vocês. Discutam os diferentes pontos de vista apresentados.

Glossário

Sítio arqueológico
  Local onde foram encontrados vestígios de seres humanos que ali estiveram no passado.
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