UNIDADE dois MODOS DE VIDA E MODIFICAÇÕES DA NATUREZA
Charles Dárvin e Álfred Vallace, cuja teoria da evolução das espécies estudamos na Unidade anterior, participaram de um debate que, ainda hoje, mobiliza os cientistas: o que diferencia os seres humanos dos outros animais?
O processo de diferenciação dos seres humanos em relação aos outros animais tem uma longa história. Dessa história fazem parte outras histórias, como a do desenvolvimento de técnicas para lidar com a natureza e a do surgimento das organizações sociais.
Você conhece as principais teorias que explicam o desenvolvimento dos seres humanos? O que você sabe sôbre os modos de vida dos primeiros seres humanos e como se relacionavam com a natureza? Como será que fomos nos tornando humanos? Quais foram as mudanças mais significativas ao longo da história do desenvolvimento humano? Perguntas como essas há muito tempo são feitas pêlas pessoas e por pesquisadores e até hoje estão entre as nossas indagações.
Você estudará nesta Unidade:
Como era a vida no Paleolítico
O Neolítico e a Revolução Agrícola
O surgimento do comércio e das cidades
Os modos de vida dos antigos ameríndios
Como viviam os mais antigos habitantes do Brasil
As sociedades da Mesoamérica e dos Andes
CAPÍTULO 3 OS MODOS DE VIDA DOS PRIMEIROS HUMANOS
Muitos estudiosos consideram como marco inicial da história humana o período em que os hominídeos começaram a fabricar, de maneira regular, utensílios de pedra com formato e intenção determinados, como facas, machados e lanças. Essa atividade teria começado com o gênero Homo, há cêrca de 2 milhões de anos.
Os primeiros utensílios, feitos de pedra lascada, são atribuídos aos Homo . Eles batiam uma pedra na outra até formar uma borda afiada que usavam para cortar a carne e retirar a pele dos animais. As lascas obtidas eram também usadas como facas e raspadores.
Foi só com o Homo , por volta de 700 mil anos atrás, que apareceram os instrumentos de pedra talhados em uma face (monofaciais) e, mais tarde, os talhados nas duas faces (bifaciais).
A vida no Paleolítico
Os pesquisadores deram o nome de Paleolítico (pedra antiga ou pedra lascada) ao longo período que vai do aparecimento do gênero Homo, há cêrca de 2 milhões de anos, quando os hominídeos começaram a fabricar diversos utensílios de pedra, até o início da prática da agricultura, ocorrido há aproximadamente 10 mil anos.
Os primeiros humanos viviam principalmente da caça e da coleta de frutos silvestres. Provavelmente, no decorrer de milhares de anos, foram aprimorando as técnicas de caça, passando de predadores de pequenos animais para caçadores de grandes mamíferos, como rinocerontes e elefantes.
Eles viviam em acampamentos provisórios, no interior de cavernas ou a céu aberto. Com o tempo, alguns grupos começaram a construir moradias simples, estruturadas com madeira ou ossos e cobertas com peles. Eram nômades, ou seja, não moravam em um lugar fixo. Deslocavam-se de uma região para outra, em busca de alimentos. Eles não domesticavam animais e também não praticavam a agricultura.
A importância do domínio do fogo
Uma descoberta fundamental para as sociedades humanas do Paleolítico foi o domínio do fogo. Por muito tempo acreditou-se que isso teria ocorrido por volta de 700 mil anos atrás, mas estudos arqueológicos de vestígios de fogueiras encontrados na África do Sul indicam que o homem já usava o fogo há 1 milhão de anos. Com o fogo foi possível afugentar os animais, iluminar os caminhos e as moradias à noite, aquecer-se no frio e cozinhar os alimentos.
RODRIGUES, Rosicler Martins. A Pré-História. quinta edição São Paulo: Moderna, 2016. (Coleção Desafios). O livro traz uma série de indagações sôbre a origem, o desenvolvimento e os modos de vida dos grupos humanos desde a Pré-História.
Integrar conhecimentos
História e Arte
A arte rupestre
Os seres humanos do Paleolítico não produziram apenas objetos relacionados à sua sobrevivência, como armas para abater animais e utensílios para retirar a pele e cortar a carne. Eles também produziram pinturas e gravuras que exprimiam o cotidiano dos grupos humanos e o significado que davam à sua existência.
Conhecidas como figuras rupestres, essas pinturas e gravuras foram feitas em paredes de cavernas ou em outros abrigos pré-históricos. As primeiras figuras rupestres eram desenhos de animais e foram feitas entre 35 mil e 30 mil anos atrás. Por volta de 17 mil anos atrás já eram produzidas figuras mais elaboradas, mas ainda sem proporção. Exemplo disso são os desenhos de animais encontrados na caverna de Lascaux, na França.
Aproximadamente 5 mil anos mais tarde, as imagens ganharam mais realismo e proporção. As pinturas da caverna de Altamira, na Espanha, são um exemplo dessa nova fase. Por volta de 10 mil anos atrás, as imagens passaram a representar também a figura humana em cenas de dança, luta e caça ou em rituais mágicos.
Qual seria o significado das figuras rupestres? Elas seriam um ritual para dar sorte às caçadas ou para tentar dominar as forças da natureza? Ou, ainda, um meio de compartilhar com a comunidade as situações do dia a dia? Os estudiosos ainda não chegaram a um consenso.
- Há muitas hipóteses sôbre o significado das pinturas rupestres. Na sua opinião, elas seriam parte de um ritual, uma forma de registro ou uma forma de expressão artística? Justifique sua resposta.
- Observe a imagem da pintura rupestre e descreva o que você vê nela.
- Imagine que você é um arqueólogo e encontra essa pintura rupestre. Que informações ela pode fornecer acerca do modo de vida das pessoas que a produziram?
O período Neolítico
No período que se estendeu entre 40 mil e 12 mil anos atrás, houve um grande avanço nas técnicas de fabricação de instrumentos. O trabalho cada vez mais cuidadoso de talhe da pedra possibilitou a criação de diferentes tipos de facas, machados, furadores, raspadores e outros instrumentos.
Os grupos humanos também aprimoraram o uso do osso, da madeira e do marfim para fabricar arpões, lanças, pontas, garfos e agulhas com furos. Com os novos objetos, puderam desenvolver a pesca, construir abrigos artificiais e organizar caçadas coletivas de grandes manadas.
Há aproximadamente 12 mil anos, os grupos humanos começaram a produzir também enxadas, foices, pilões e machados com pedras polidas, inaugurando o período que os estudiosos denominaram Neolítico (pedra nova ou polida). Os mais antigos utensílios neolíticos foram encontrados no Oriente Médio.
Esse período foi marcado por uma descoberta tão ou mais importante quanto a do fogo: a agricultura, que modificou radicalmente o modo de vida dos grupos humanos e estimulou a fabricação de instrumentos usados na produção, no preparo e no armazenamento de alimentos.
Fome e abundância
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura ( fáo), em 2020, o mundo produziu cêrca de 2,5 bilhões de toneladas de grãos. Essa quantidade de cereais seria suficiente para alimentar a população de todo o planeta. O problema é que a maior parte desses alimentos fica concentrada nos países ricos, onde é grande o desperdício. Calcula-se que 17%, ou cêrca de 931 milhões de toneladas, dos alimentos produzidos no ano foram parar na lata de lixo, enquanto 811 milhões de pessoas passaram fome. A situação da população mundial em relação ao enfrentamento da pobreza, principalmente nos países menos desenvolvidos, já era crítica; no entanto, com a pandemia da côvid dezenóve, houve um agravamento da miséria, da insegurança alimentar e da fome.
Novos modos de viver
Há aproximadamente 12 mil anos chegou ao fim o último período glacial do planeta, em que o clima era mais frio e grandes extensões de terra estavam cobertas por gelo. O aquecimento do clima – gradual, mas constante – fez com que geleiras derretessem, o nível do mar subisse e a vegetação se transformasse. As paisagens do planeta mudavam radicalmente.
Na região que conhecemos por Oriente Médio, por exemplo, as espécies vegetais que serviam à alimentação dos animais deram lugar a outras. Assim, os animais se viram obrigados a migrar para o norte em busca de alimento, e a caça tornou-se mais difícil e rara para os grupos humanos.
Essa situação, contudo, foi compensada pelo fato de que as novas espécies vegetais que passaram a dominar as paisagens da região, como cereais silvestres (cevada e trigo), lentilhas e ervilhas, eram abundantes e disponíveis na maior parte do ano. A nova realidade possibilitou aos grupos humanos obter alimentos sem ter de se deslocar de tempos em tempos, e muitos deles fixaram-se em determinado local, tornando-se, assim, sedentários.
Com o novo modo de vida sedentário foram construídas habitações, que formaram pequenos vilarejos, e seus habitantes passaram também a criar pequenos animais. Os instrumentos que foram produzidos nesse período, como foices, machados e enxós, possibilitaram a exploração e a utilização mais intensa dos recursos naturais.
Os machados e enxós, por exemplo, serviam para desmatar, cortar e modelar a madeira, que era utilizada na construção das moradias. As foices favoreceram uma coleta mais eficiente dos cereais silvestres.
A Revolução Agrícola
Em terrenos desmatados próximos às moradias de aldeias das sociedades sedentárias de caçadores e coletores, e também em terrenos regularmente inundados pêlas cheias dos rios, os grupos humanos começaram a explorar fórmas ainda selvagens de plantas e de animais.
Acredita-se que a domesticação de plantas para a agricultura tenha sido uma invenção das mulheres. Como elas geralmente eram responsáveis pêla coleta de raízes e frutos, puderam observar que as sementes das plantas, uma vez enterradas no solo, davam origem a novas plantas. Começaram, assim, a cultivar a terra para obter produtos para a sua subsistência.
O cultivo das primeiras espécies de plantas ocorreu no Extremo Oriente e no Crescente Fértil, por volta de 10 mil anos atrás (ou 8000 antes de Cristo). O Crescente Fértil se estendia do Vale do Rio Nilo, no Egito, até as margens dos rios Tigre e Eufrates, onde atualmente está localizado o Iraque. Observe no mapa a seguir.
O início da agricultura se desenvolveu em muitas outras regiões do planeta, mas isso não se deu ao mesmo tempo. Na América, por exemplo, acredita-se que o cultivo da terra tenha começado um pouco mais tarde, por volta de 8 mil anos atrás. As primeiras experiências ocorreram nas regiões dos atuais Equador e México.
A prática agrícola mudou a vida dos grupos humanos e exigiu esforço para planejar as épocas do plantio e da colheita, organizar a comunidade para realizar o trabalho e providenciar os instrumentos necessários para a derrubada da mata e o cultivo dos campos. Foram tantas mudanças que esse processo foi chamado de Revolução Agrícola do Neolítico.
crescente fértil
Fonte: . Atlas histórico: da Pré-História aos nossos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990. página 39.
Os objetos de cerâmica
A maior parte dos primeiros povos agrícolas também desenvolveu a fabricação de cerâmica, técnica que transforma a argila em um material duro e resistente, próprio para a produção de utensílios. Atualmente, essa técnica é utilizada na fabricação de louças para casa, peças decorativas, material de construção e até peças para máquinas.
Os estudiosos não sabem ao certo quando a cerâmica foi inventada. Um dos artefatos mais antigos é uma estatueta encontrada na Europa Oriental datada de 26 mil anos atrás, ainda no Paleolítico. A fabricação de potes e de outros utensílios é menos antiga. Fragmentos de cerâmica de cêrca de 20 mil anos, descobertos em uma caverna na China, podem ser uma evidência de que a fabricação de utensílios de cerâmica para o cozimento foi anterior à agricultura.
Com a produção de panelas de cerâmica, o ser humano pôde cozinhar a carne que obtinha por meio da caça, tornando-a mais macia e nutritiva. Os potes de cerâmica com tampa também possibilitaram armazenar grãos e líquidos, conservando-os.
Ler a imagem
Esta peça de cerâmica de 10 centímetros de diâmetro, datada de cêrca de 5 mil anos atrás, foi encontrada nos anos 1970 em um sítio arqueológico no atual Irã. Muitos anos depois, após a observação acurada de um estudioso, foi anunciada como “a primeira animação do mundo”. Está exposta no Museu Nacional do Irã, em Teerã.
• Observe a ilustração a seguir, que reproduz as imagens dessa peça de cerâmica em sequência. Tente descobrir por que ela foi considerada “a primeira animação do mundo”. Discuta suas conclusões com os colegas.
MUSEU Nacional de Arqueologia de Lisboa.Disponível em: https://oeds.link/W94733. Acesso em: 7 2022. O abril site deste museu, localizado em Lisboa, Portugal, oferece uma visita virtual por suas salas e por seus laboratórios. Há, também, muitas fotografias de peças do acervo, com informações sôbre a datação e o local em que foram encontradas.
Os cultivadores modificam as paisagens
Durante milênios o Homo sapiens sapiens explorou a natureza por meio da caça, da pesca e da coleta. Essas atividades não exigiam grandes alterações do meio ambiente para garantir o sustento dos grupos humanos. Mas a Revolução Agrícola transformou as relações das comunidades humanas com a natureza.
Inicialmente, as hortas próximas às moradias e o cultivo em áreas alagadas pelos rios complementavam os alimentos obtidos por meio da caça e da coleta. Esses solos eram férteis, propícios para a agricultura, mas eram áreas restritas e, para ampliar a produção de alimentos, era necessário expandi-las.
Os seres humanos começaram, então, a derrubar e queimar florestas, para usar essas áreas enriquecidas com minerais nutritivos contidos nas cinzas para o cultivo das plantas já domesticadas.
O aumento na produção de alimentos resultou no crescimento populacional, que exigiu a subdivisão das aldeias e a expansão da agricultura para novas áreas arborizadas. Entre 10 mil e 5 mil anos atrás, o sistema neolítico de cultivo de córte e queimada se estendeu progressivamente para a maior parte das florestas do planeta, levando ao desmatamento de várias regiões.
Ao [mudar] da condição de “homem-coletor” para “homem-produtor”, este passa não apenas a produzir sua própria existência, mas também um espaço adequado e ajustado às suas novas necessidades. A relação passiva mantida até então, entre homem e natureza, muda e, ao longo da história, o meio ambiente sofrerá, de fórma permanente, profundas alterações em face [da transformação] social e econômica da sociedade, que exigirá novas configurações espaciais.
FERREIRA, Daniela Figueiredo; SAMPAIO, Francisco Edison; SILVA, Reinaldo Vieira da Costa. Impactos socioambientais provocados pêlas ocupações irregulares em áreas de interesse ambiental – Goiânia/ Goiás. 2004. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão Ambiental) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2004. página 4.
O surgimento do comércio e das cidades
Com o aumento da quantidade de alimentos possibilitado pelo cultivo da terra, a população humana cresceu rapidamente. Assim, aumentava também a demanda por alimentos. Para atendê-la, tornou-se necessário ampliar as áreas cultivadas e desenvolver técnicas para melhorar a produtividadeglossário do solo, como o uso de fertilizantes naturais para produzir grãos maiores, métodos para controlar as pragas agrícolas e fórmas de garantir o fornecimento de água para as plantas, com a construção de sistemas de irrigaçãoglossário .
Essas e outras técnicas agrícolas ajudaram a produzir excedentes, ou seja, a obter mais alimentos do que era necessário para o consumo. O aumento da produção agrícola possibilitou às comunidades neolíticas começarem a trocar os excedentes entre grupos que produziam diferentes produtos. Por exemplo, uma aldeia que tinha excesso de cevada negociava a troca desse produto pelo excedente de trigo da aldeia vizinha. Dessa fórma, surgiu o comércio.
À medida que as trocas comerciais se expandiam e a população das aldeias crescia, muitas pessoas que trabalhavam nos campos passaram a executar outros ofícios. Como se produzia mais que o necessário para a sobrevivência, com o excedente de alimentos era possível sustentar pessoas que exerciam outras funções, como sacerdotes, soldados, comerciantes, barqueiros e tecelões. Isso impulsionou a especialização das atividades profissionais em um processo que chamamos de divisão social do trabalho, o qual teve grande importância no surgimento das cidades.
SOALHEIRO, Bárbara. Como fazíamos sem... São Paulo: Panda Books, 2014. A obra conta como as pessoas viviam sem determinados objetos, hoje tão comuns e presentes no dia a dia. É o caso do dinheiro, uma vez que, no surgimento do comércio, as negociações eram baseadas em trocas.
As primeiras cidades
As pesquisas arqueológicas indicam que as duas comunidades urbanas mais antigas de que se tem conhecimento foram Jericó, na Palestina, e tchátarruiuk, na atual Turquia. Provavelmente, Jericó era um assentamento fortificado, cercado de uma espessa muralha de pedra. No caso de tchátarruiuk, tudo indica que constituísse um aglomerado de habitações sem ruas, em que os moradores acessavam o interior das casas pêla cobertura.
Nas áreas férteis à margem de grandes rios, como Nilo, Tigre e Eufrates, as pequenas comunidades e aldeias começaram a se unir para construir sistemas de irrigação e aproveitar melhor a água das enchentes, que era essencial para a atividade agrícola.
Assim, nos vales dos rios Nilo (Egito), Tigre e Eufrates (Mesopotâmia), Amarelo e Azul (China) e Indo (Índia), a união das aldeias deu origem às primeiras cidades (observe o mapa a seguir). Com as cidades, nasciam as primeiras civilizações. Por se localizarem às margens de rios, ficaram conhecidas como civilizações fluviais.
Há dificuldades de se precisar o momento da origem das primeiras cidades. reticências
reticências Ao observarmos, concretamente, sua proximidade com os rios, podemos nos perguntar que razões explicariam esta coincidência histórica.
Levantamos, aqui, uma explicação de ordem “geográfica”, natural. Essas cidades surgiram em regiões com predomínio de climas semiáridos, daí a necessidade de se fixarem perto dos rios, repartir a água, repartir os escassos pastos, e proceder ao aproveitamento das planícies inundáveis, ricas de húmus e propícias ao desenvolvimento da agricultura.
Assim, embora fossem resultado do social e do político enquanto processo, as primeiras cidades tiveram suas localizações determinadas pêlas condições naturais reticências.
ispózito, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e urbanização. São Paulo: Contexto, 2000. página 16.
Os primeiros assentamentos, cidades e civilizações
Fonte: A AURORA da humanidade. Rio de Janeiro: Abril Livros; Londres: táime láife, 1993. (Coleção História em Revista).
A descoberta do uso dos metais
Os metais são inicialmente extraídos dos minerais, que são os principais compóstos das rochas e do solo. O ouro e o cobre, ao contrário, já são encontrados na natureza na fórma metálica. É possível que a descoberta do uso dos metais tenha sido semelhante à da agricultura, como nos mostra o texto a seguir.
Com efeito, reticências talvez acidentalmente, as populações badarienses [que viveram no Egito no período Neolítico] descobriram o esmalte azul, ao aquecer pedras ou paletas nas quais havia sido triturado material para a pintura dos olhos à base de malaquita, que é um minério de cobre. Assim, os habitantes do vale teriam descoberto simultaneamente o cobre, que trabalhavam a frio, e a chamada “faiança egípcia”, isto é, o esmalte azul, que logo passou a ser utilizado na fabricação de contas de adorno.
verrcuterr jian. Descoberta e difusão dos metais e desenvolvimento dos sistemas sociais até o século verdadeiro antes da Era Cristã. In: KI-ZERBO, Joséf ( editora). História Geral da África, um: metodologia e Pré-História da África. 2. editora Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 811.
O primeiro metal utilizado pelo homem do qual existem evidências foi o cobre, há cêrca de 8 mil anos, para fazer estatuetas e enfeites. Por ser um metal mole, era pouco usado na fabricação de armas e ferramentas. Por meio de golpes, os humanos conseguiam modelar o metal na fórma desejada. Mais tarde, passaram a usar o fogo para fundir o cobre.
Mais duro e resistente que o cobre, o bronze é uma liga metálica obtida da fusão de cobre com estanho. O bronze começou a ser usado cêrca de 6 mil anos atrás na produção de armas, escudos etcétera.
O uso do ferro era raro e só se difundiu em torno de 1500 antes de CristoNesse momento descobriu-se que o minério de ferro retirado das jazidas, quando misturado a outros elementos químicos (como o carbono e o manganês) e aquecido em fornos primitivos, transforma-se em ligas bastante resistentes.
Com o ferro foi possível fabricar armas mais duradouras, aperfeiçoar instrumentos agrícolas e criar novos tipos de utensílios e ferramentas. Foi o início de um processo de desenvolvimento tecnológico que prossegue até hoje nos laboratórios, nas metalúrgicas e nas siderúrgicas.
O nascimento do Estado e da escrita
O desenvolvimento da agricultura e o crescimento populacional mudaram a organização de algumas sociedades. Acredita-se que o chefe ou o sacerdote de uma família poderosa, em data incerta, assumiu o contrôle de uma região e transformou-se em rei. Originou-se, assim, uma instituição que tinha plena autoridade sôbre a população. É o que chamamos de processo de formação do Estado.
Para garantir o contrôle sôbre o conjunto da população, o rei tinha vários servidores. Eles desempenhavam tarefas em seu nome, como registrar as colheitas, cobrar impostos e organizar a defesa do território. O rei ainda podia fazer leis, julgar os crimes e dirigir rituais religiosos.
Um dos principais resultados do surgimento das cidades e do Estado foi o desenvolvimento da escrita, por volta de 4000 antes de Cristo, em decorrência de vários fatores, entre eles:
• a necessidade de contabilizar os produtos comercializados e os impostos arrecadados pelos servidores do rei;
• o levantamento da estrutura das obras, que exigiu a criação de um sistema de sinais numéricos para realizar os cálculos geométricos.
A escrita possibilitou também aos seres humanos registrar suas ideias e seus sentimentos, além de representar uma nova fórma de comunicação. Os registros escritos têm grande importância para o conhecimento das diferentes experiências humanas no passado, e permitem que a vida de hoje seja conhecida pêlas gerações futuras.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
1. O objeto registrado na fotografia a seguir foi feito há milhares de anos e nos revela algumas informações sôbre o grupo humano que o produziu. Observe a imagem, leia a legenda e, com base nos conteúdos estudados neste Capítulo, identifique o período em que o objeto foi produzido e a sua provável utilidade.
2. Elabore um pequeno roteiro que explique o processo de surgimento da agricultura e, a partir dele, crie uma história em quadrinhos. Depois, compartilhe com o restante da turma a sua produção.
Versão adaptada acessível
2. Elabore um pequeno roteiro que explique o processo de surgimento da agricultura e, a partir dele, construa uma história em quadrinho tátil, usando materiais como papéis com diferentes texturas, linhas, botões, palitos, materiais emborrachados, entre outros. Depois, compartilhe com o restante da turma a sua produção.
3. O texto a seguir trata de uma descoberta que transformou a vida do ser humano. Leia-o para realizar a atividade proposta.
Há centenas de milhares de anos, nas noites frias de inverno, a escuridão era um grande inimigo. Sem a Lua cheia, a negritude da noite, além de assustadora, era perigosa. Havia muitos predadores com sentidos aguçados, e que poderiam atacar facilmente enquanto dormíamos. O frio intenso era outro inimigo. Não eram fáceis os primeiros passos da humanidade, dados por antepassados muito diferentes de nós.
Até que, um dia, talvez ao observar uma árvore atingida por um raio, os hominídeos primitivos descobriram algo que modificaria completamente o rumo da nossa evolução Ao dominar essa entidade, foi possível se aquecer, proteger-se dos predadores e ainda cozinhar os alimentos. Como nenhuma outra criatura do nosso planeta, conseguimos usar a nosso favor um fenômeno natural para ajudar a vencer as dificuldades diárias.
OLIVEIRA, Adilson de. A descoberta que mudou a humanidade. Ciência Hoje, 16 julho 2010. Disponível em: https://oeds.link/kcBUqP. Acesso em: 6 abril 2022.
- A qual descoberta o texto se refere? Quando ela teria ocorrido?
- Como, segundo o texto, essa descoberta pode ter acontecido? Que outras hipóteses poderiam explicar essa descoberta?
- Que benefícios, segundo o texto, essa descoberta trouxe para a vida humana? Cite exemplos de como essa descoberta está presente no nosso cotidiano.
4. Em grupo, leiam o texto a seguir.
Populações tradicionais – indígenas e não indígenas – de regiões tropicais do planeta ainda adotam o chamado cultivo de coivara, também conhecido como “cultivo de córte e queima”. Essa fórma itinerante de agricultura, usada há milênios, baseia-se na abertura de clareiras na floresta para serem cultivadas por períodos mais curtos do que aqueles destinados ao descanso e à regeneração da terra. O sistema de coivara é encontrado hoje em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil, na Amazônia e em áreas de mata atlântica.
Para muitos especialistas, trata-se de uma estratégia de manejo de recursos na qual os campos cultivados são usados em rodízio, com o objetivo de explorar o capital energético e nutritivo acumulado no conjunto solo-vegetação das florestas.
NEVES, Walter et al. Coivara: cultivo itinerante na floresta tropical. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, volume 50, número 297, página 26-30, 2012.
• Apontem semelhanças e diferenças entre a prática da coivara e o sistema neolítico de cultivo de córte e queimada.
CAPÍTULO 4 MODOS DE VIDA NA AMÉRICA: POVOS DO ATUAL TERRITÓRIO BRASILEIRO
Como você já sabe, ainda não existe um consenso sôbre as rótas percorridas pelos seres humanos para chegarem à América e a data exata em que isso ocorreu. Contudo, é certo que quase todas as regiões do continente estavam habitadas pelo menos por volta de 10 mil anos atrás.
Ao longo de milhares de anos, as inúmeras sociedades que povoaram o continente americano desenvolveram modos de vida bastante diversificados, organizando sua vida econômica, política e social, ocupando espaços geográficos e estabelecendo relações com o ambiente natural de maneiras muito específicas.
Mas, apesar das diferenças, também podemos dizer que havia semelhanças entre os modos de vida desses povos. Em geral, eles se organizavam em grupos bastante reduzidos, praticavam a caça, a pesca e a coleta de vegetais, como frutos e raízes, e levavam uma vida nômade, deslocando-se constantemente em busca de alimentos.
Além da pedra, outros materiais, como ossos, madeira, fibras vegetais e peles, eram utilizados na confecção de abrigos, casas, vestimentas e instrumentos de trabalho.
Os mais antigos habitantes do atual Brasil
As discussões entre os arqueólogos para determinar qual rota ou quais rotas os grupos humanos percorreram para chegar à América e quando isso teria acontecido também se repetem, evidentemente, quando o assunto é o povoamento do território brasileiro. Até o momento, o que é aceito pelos cientistas é que, há pelo menos 12 mil anos, o território que hoje corresponde ao Brasil já era ocupado por pequenos grupos de caçadores e coletores.
Os primeiros habitantes do Brasil viviam principalmente em habitações a céu aberto ou em abrigos sob rochas e, às vezes, em cavernas. No interior das cavernas, os moradores costumavam fazer pinturas que mostravam cenas da vida cotidiana, figuras de animais e de pessoas.
A descoberta de vestígios como artefatos de pedra, anzóis feitos de ossos e conchas perfuradas indica que tais povos praticavam a caça, a pesca e a coleta.
Os mais antigos vestígios de agricultura no território brasileiro datam de aproximadamente 7 mil anos atrás e foram encontrados na região amazônica. Os primeiros agricultores plantavam milho, algodão e feijão, mas a mandioca era o principal cultivo. Raiz rica em calorias, ainda hoje é uma fonte de energia fundamental para milhares de pessoas no Brasil.
Como aconteceu em outras regiões do mundo, mesmo após a descoberta da agricultura, diversos povos continuaram sendo, basicamente, caçadores e coletores. Assim, os povos agricultores mantiveram a caça e a pesca como parte das suas atividades cotidianas.
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Transcrição do áudio
[LOCUTOR]: Povos indígenas na constituição da Floresta Amazônica
[LOCUTORA]: [TOM DE APRESENTAÇÃO] Há milênios, diversas sociedades vêm modificando a natureza e a paisagem do continente americano. No território atual do Brasil, as fontes históricas dessas mudanças remontam a pelo menos 12 mil anos.
Pinturas rupestres, utensílios de cerâmica e sambaquis são registros que, para olhares mais atentos, ajudam a entender um pouco mais sobre as culturas dos povos que habitaram nossas terras, suas visões de mundo, suas formas de organização e suas relações com a natureza e com outras sociedades.
A ação humana também deixou sua marca naquele que é um dos maiores patrimônios naturais do país e do mundo: a Floresta Amazônica.
Estudos recentes descobriram evidências de que a natureza e a paisagem que os europeus encontraram na Amazônia a partir do século XVI já eram resultados de transformações produzidas por sociedades de um passado ainda mais remoto.
[LOCUTORA]: [TOM DE CONVITE] Vamos conversar agora com Carlos Machado Dias Júnior, professor adjunto na Universidade Federal do Amazonas, para entender melhor como isso aconteceu.
[LOCUTORA]: [PERGUNTA A CARLOS MACHADO] Como era a organização e o modo de vida desses povos? Como eles se relacionavam com a floresta e de que formas a teriam afetado?
[CARLOS MACHADO]: [TOM CALMO E PAUSADO] Certezas absolutas não podem ser ditas àqueles tempos da América Pré-Colombiana. No entanto, algumas hipóteses já foram bem construídas, pelos cientistas, com os relatos e as informações reunidas desde o século XVI e associadas às formas de organização da vida desses povos hoje.
Os estudos da antropologia já mostraram que esses povos são muito diferentes de nós. E uma das diferenças que mais nos chama a atenção é o fato de que eles não separam, como nós, os seres humanos dos outros seres que habitam o planeta. Essa diferença, como bem mostrou o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, bem entendida, nos ajuda a compreender muito como esses povos aliam seus modos de ser e de viver.
Por exemplo, quando dizemos que eles não separam os seres humanos dos demais do planeta, todos os seres, aqueles que nós chamamos de vivos e inanimados – animais, plantas, pedras, rios etc. – significa que, para eles, todos são iguais sem nenhum privilégio para os humanos.
Significa que todos os seres e coisas devem ter os mesmos direitos de existir e, quando um está em risco de extinção, todos os demais estarão também. Talvez isso possa nos ajudar a compreender um pouco a importância que eles dão para a floresta.
[LOCUTORA]: [PERGUNTA A CARLOS MACHADO] A devastação da floresta também provoca perda de patrimônio humano?
[CARLOS MACHADO]: Certamente. Devastar o que chamamos de floresta significa também perda de patrimônio humano. Hoje e cada vez mais, os remanescentes dos povos indígenas passam a reivindicar seus direitos pela terra e, muitas vezes, essa terra é delimitada de acordo com os locais que eles reconhecem como patrimônio cultural.
Então... Se olharmos para esses territórios hoje demarcados de terras indígenas, os marcos de limites dessas terras costumam ser lugares e locais que esses povos têm como referência das suas origens culturais.
O que assistimos, infelizmente, muitas vezes, são grandes projetos de ocupação da Amazônia, de exploração desses recursos amazônicos, como hidrelétricas, por exemplo, ou exploração de minérios, que muitas vezes passam por cima desses locais que os povos indígenas têm como a origem das suas expressões culturais.
[LOCUTORA]: [PERGUNTA A CARLOS MACHADO] Tendo em vista a experiência dos povos que habitaram as terras amazônicas há milhares de anos, que aprendizados poderemos aplicar na sociedade brasileira contemporânea?
[CARLOS MACHADO]: Temos muitas diferenças, se compararmos com os povos ameríndios, os nossos modos de ser, de pensar e de estar no mundo. Pude constatar, de muitos modos, com imensa satisfação e admiração, que aqueles povos vivem em busca de felicidade, e que a felicidade está muito longe da ideia de acumular riquezas pessoais.
Como os antropólogos mostraram, em vários casos, faz parte da essência da vida desses povos o desenvolvimento da pessoa no seu coletivo. É preciso sorrir todos os dias, dar muitas gargalhadas. Quanto mais engraçada a vida cotidiana, mais justa é a forma de vida que levam.
Se nós, modernos ocidentais, acreditamos na ideia do desenvolvimento econômico, de mercado, como razão de ser e de viver, os índios nos informam que sua aposta maior de vida está no desenvolvimento social da pessoa e do grupo.
Os povos dos sambaquis
A elevação do nível do mar, provocada pelo derretimento das geleiras, motivou muitos povos a se instalarem nas proximidades de rios, lagos e mares à procura de alimentos e recursos hídricos. Nesses locais, em diversas partes do nosso continente, foram encontrados grandes montes de conchas e de restos de animais, principalmente aquáticos. Essas elevações, que misturam material orgânico e material mineral como calcário, foram chamadas de sambaquis.
Muitos sambaquis foram encontrados no Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, embora haja sambaquis também na região amazônica. Alguns deles são tão grandes que chegam a atingir 30 metros de altura e 400 metros de comprimento. Os sambaquis litorâneos, que são os mais antigos, podem ter 7 mil anos de idade ou mais.
Mais do que montes formados de material orgânico e calcário, os sambaquis impressionam por seu tamanho e intrigam por sua finalidade. Atualmente, acredita-se que o sambaqui era um local preparado para enterrar os mortos e depositar oferendas. Isso explicaria os esqueletos humanos descobertos nesses locais, cada um deles protegido por uma cêrca, como se fosse um ritual funerário.
Os sambaquis fazem parte do patrimônio arqueológico do Brasil, mas sua preservação está ameaçada pêla atividade de exploração do calcário, largamente utilizado para a produção de cimento e cal.
Os povos ceramistas
É provável que a produção de cerâmica tenha sido iniciada no território brasileiro na mesma época em que começou o cultivo de alimentos. A atividade ceramista era exercida provavelmente por mulheres.
Uma das mais antigas cerâmicas do Brasil foi encontrada em um sambaqui da região de Santarém, na junção do rio Tapajós com o Amazonas. O fato de ela estar associada a um sambaqui, e não à agricultura, nos leva a questionar a ideia de que a cerâmica foi desenvolvida exclusivamente para armazenar grãos e cozinhar alimentos. É possível que algumas sociedades ameríndias tenham produzido peças de cerâmica para fins cerimoniais. Exemplo disso são as urnas funerárias, recipientes com tampa nos quais o corpo ou os ossos do morto eram depositados.
Principais sítios arqueológicos e sambaquis brasileiros
Fonte: rétzél, Bia; NEGREIROS, Silvia ( organizador). Pré-História do Brasil. Rio de Janeiro: Manati, 2007. página 22.
MUSEU de Arqueologia – Universidade Católica de Pernambuco. Disponível em: https://oeds.link/XROJP3. Acesso em: 7 abril 2022. O Museu de Arqueologia, localizado em Recife, Pernambuco, disponibiliza em seu site uma visita virtual que possibilita conhecer suas dependências. O site também publica notícias sôbre o museu e fotografias de peças de seu acervo.
Os sítios de Lagoa Santa e São Raimundo Nonato
O estudo de esqueletos humanos do Brasil pré-histórico teve início no século dezenove, com escavações nas grutas de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Lá foram encontrados ossos de animais já extintos, pontas de flechas e machados, além da ossada de trinta humanos. Mais tarde, no século vinte, novas escavações levaram à descoberta de um crânio feminino de aproximadamente .11500 anos. Ao ser examinado, na década de 1990, o crânio foi batizado de Luzia e ganhou o apelido carinhoso de “a primeira brasileira”.
As pesquisas científicas com restos humanos encontrados em Lagoa Santa têm levado os estudiosos a discutir sôbre as possíveis origens dos primeiros povoadores do continente americano. Alguns pesquisadores consideram que podem ter ocorrido duas levas migratórias, uma mais antiga, de origem africana e aborígene australiana, e outra de origem asiática. Outros consideram que houve uma única Róta migratória, de origem asiática.
Na década de 1970, escavações dirigidas pêla arqueóloga niêde Guidon no sítio arqueológico Boqueirão da Pedra Furada, em São Raimundo Nonato, no Piauí, levaram à descoberta de centenas de artefatos de pedra lascada e pedaços de carvão vegetal. O sítio é um abrigo de paredes rochosas cobertas por mais de mil pinturas e grafismos rupestres. Os objetos ali encontrados, segundo a pesquisadora, teriam sido produzidos por grupos humanos há mais de 50 mil anos. Alguns estudiosos, porém, não aceitam essa hipótese e afirmam que os objetos de pedra e os pedaços de carvão podem ser resultado de processos naturais, como o esfacelamento das rochas ou incêndios florestais.
Integrar conhecimentos
História e Ciências
A megafauna do Quaternário
Os grandes animais que viviam na América e em outros continentes até o fim da última glaciação eram mamíferos e são conhecidos hoje por “megafauna do Quaternárioglossário ”. “Fauna” refere-se a “reino animal” e “mega” significa “muito grande”. Nos últimos 50 mil anos, esses animais entraram em processo de extinção em todos os continentes. Na América do Sul, contudo, 83% da megafauna desapareceu, índice muito maior que o da África, de apenas 10%.
Ainda hoje os cientistas que estudam o desaparecimento da megafauna não têm certeza absoluta do que causou a sua extinção. Mas eles suspeitam que as variações climáticas ocorridas ao final da última glaciação e a ação humana podem ter sido as responsáveis.
No caso das variações climáticas, acredita-se que a elevação da temperatura e da umidade ao longo dos anos, com a consequente redução das áreas de savanas, principal hábitat da maior parte desses animais, inviabilizou sua sobrevivência.
No caso da ação humana, a hipótese é que os primeiros habitantes do continente americano podem ter caçado animais em excesso, ou destruído paisagens naturais de onde muitas espécies obtinham o alimento, causando a sua extinção. Acompanhe, no texto a seguir, a opinião de alguns estudiosos sôbre o tema.
Qual teria sido o papel do ser humano na extinção da megafauna?
“Há aproximadamente 10 mil anos, ocorreu nas Américas uma tragédia faunística”, diz o paleontólogo Bruno Kraimer, da púqui-Minas. Segundo ele, a única “unanimidade” sôbre a razão disso é que a causa teve relação com alterações no clima. Para ele, a dúvida maior é sôbre “quando” exatamente a mudança climática aniquilou os bichos gigantes. reticências
A opinião de Guimarães [ecólogo], entretanto, é uma “unanimidade” diferente: tribos caçadoras mataram a megafauna. “Esses animais se extinguiram no fim da última glaciação. Mas ocorreram muitas glaciações nesse período geológico. Em nenhuma delas o grau de extinção foi tão alto quanto no fim do período. A única diferença entre a última glaciação e as anteriores é a presença humana nas Américas.”
Debate sôbre extinção opõe teorias sôbre caça predatória e mudanças climáticas. Folha de , 20 São Paulo julho 2008. Disponível em: https://oeds.link/DiNh1Y. Acesso em: 15 fevereiro 2022.
- Para o paleontólogo Bruno Kraimer, qual é a causa da extinção da megafauna do Quaternário?
- Qual é a posição do ecólogo Guimarães? E qual é seu argumento para defendê-la?
- Atualmente, algumas espécies de animais correm risco de extinção. Faça uma pesquisa na internet e responda: esse risco é motivado por variações climáticas ou pêla ação humana?
Atividades
Faça as atividades no caderno.
1. Monte no caderno um quadro conforme o modelo a seguir, completando-o com as afirmativas que se relacionam a cada sítio arqueológico.
Lagoa Santa |
Boqueirão da Pedra Furada |
- Os objetos ali encontrados, segundo alguns pesquisadores, teriam sido produzidos por grupos humanos há mais de 50 mil anos. Mas nem todos os estudiosos aceitam essa hipótese.
- Sítio arqueológico onde foi encontrado o crânio de “Luzia, a primeira brasileira”.
- As escavações foram conduzidas pêla pesquisadora niêde Guidon.
- Pinturas rupestres em paredes rochosas de cavernas são estudadas por pesquisadores que procuram identificar quando elas podem ter sido produzidas.
- Identifique as afirmações incorretas e reescreva-as corretamente em seu caderno.
- A fauna do Brasil pré-histórico tinha animais muito maiores que os de hoje e a vegetação apresentava menos áreas florestais.
- Ao contrário de outros povos americanos, os habitantes do Brasil pré-histórico não conheciam a cerâmica e eram nômades.
- Os sambaquis são formações naturais que não tinham nenhuma função para os homens pré-históricos que habitavam o litoral.
- A agricultura no território brasileiro começou a ser praticada por volta de 7 mil anos atrás, e seu principal produto era a mandioca.
- Após desenvolverem a prática da agricultura, os habitantes do Brasil pré-histórico deixaram de praticar a caça e a coleta.
- Qual é a importância dos sambaquis para a compreensão do povoamento da América?
- Em grupo, leiam o texto e respondam às questões no caderno.
Em abrigos rochosos nos estados do Piauí e Minas Gerais, por exemplo, os arqueólogos encontraram fragmentos de parede com pinturas e blocos de pedra com gravuras, vestígios soterrados por camadas de sedimentos que datam de 7 mil a 9 mil anos. reticências Entretanto, a crescente exploração econômica das jazidas minerais brasileiras, a rápida expansão da urbanização e o desenvolvimento do turismo em áreas não urbanas têm ameaçado esse milenar patrimônio cultural devido à carência de informação e proteção.
JORGE, Marcos ( organizador). Brasil rupestre: arte pré-histórica brasileira. Curitiba: Zencrane Livros, 2007. página114.
- Quais descobertas arqueológicas foram citadas no texto? Onde elas ocorreram?
- Segundo o texto, que ações humanas têm causado a degradação desses e de outros vestígios de povos pré-históricos no Brasil?
- Imaginem a seguinte situação: no processo de construção de uma estação de metrô em seu estado, pesquisadores encontram um conjunto de vestígios arqueológicos importantes. Eles solicitam a interrupção das obras e a alteração do traçado original da linha para que o local seja tombado e transformado em um sítio arqueológico. As autoridades do estado, no entanto, insistem em manter as obras alegando que grandes investimentos já foram feitos e que milhares de pessoas seriam prejudicadas pêla interrupção do trabalho e pêla alteração do traçado original do projeto. Reflitam sôbre essa situação, avaliando os prós e os contras. Que decisão vocês acham que os governantes devem tomar? Interromper ou continuar os trabalhos? Antes de responder à questão, considerem as necessidades imediatas da população, os gastos já feitos e o valor daquele patrimônio arqueológico para o nosso país.
Glossário
- Produtividade
- No caso da agricultura, é a capacidade de obter o maior volume de alimentos utilizando o mesmo espaço agrícola e no menor tempo possível.
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- Irrigação
- Técnica utilizada na agricultura para fornecer água às plantas, com o uso de equipamentos ou a construção de canais e diques, por exemplo.
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- Quaternário
- Na classificação estabelecida por estudiosos, é o período da escala de tempo geológico que corresponde à última fase da Era Cenozoica. O Quaternário se iniciou por volta de 2,6 milhões de anos atrás e continua nos dias de hoje.
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