CAPÍTULO 5  MODOS DE VIDA NA AMÉRICA: MESOAMÉRICA E ANDES

Grande parte dos historiadores acredita que as mais antigas cidades da América formaram-se em torno de grandes centros cerimoniaisglossário , nas regiões da Mesoamérica e dos Andes.

pêlo menos 5 mil anos, já existiam ali sociedades organizadas em cidades, nas quais o poder estava centralizado nas mãos de governantes. Nelas, havia especialização do trabalho e atividade comercial.

Na Mesoamérica e nos Andes, as condições climáticas e ecológicas, assim como um conjunto de circunstâncias particulares, permitiram a domesticação do milho e o desenvolvimento de uma agricultura intensiva por volta do terceiro milênio antes de Cristo Essas condições permitiram, nessas áreas, o desenvolvimento de civilizações caracterizadas por forte hierarquia socialglossário , por sistemas de governo teocráticoglossário e por construções arquitetônicas monumentais. A capacidade de alimentar grandes conjuntos populacionais era propiciada pelo desenvolvimento da agricultura intensiva, que fixava as populações nativas e impulsionava o crescimento da urbanização, outra característica marcante das áreas nucleares da América.

VIANA, Larissa.; SANTOS, Lincoln Marques dos. História da América um. Rio de Janeiro: Fundação ceciérgi, 2010. página 11-12.

Mesoamérica e Andes

Mapa. Mesoamérica e Andes. Mapa representando parte da América com foco na América Central e do Sul. Há duas áreas destacadas em cores distintas, identificadas pela legenda. Em rosa, 'Mesoamérica', ocupando a maior parte da América Central, desde, o Trópico de Câncer, no norte, até a região do canal do Panamá, ao sul. Em verde,  'Região andina' estendendo-se pelo oeste da América do Sul, desde a costa banhada pelo Oceano Pacífico até a região da Cordilheira dos Andes, no interior. Ocupando desde a região ao norte da Linha do Equador até a região ao sul do Trópico de Capricórnio. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.035 quilômetros.

Fonte: bétel, ). História da América Latina: América Latina Colonial. São Paulo: êduspi; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. volume 1, página 56, 77.

Sociedades da Mesoamérica

Os primeiros centros cerimoniais da Mesoamérica surgiram nas áreas próximas à costa do Golfo do México por volta do ano 1200 antes de Cristo Seus fundadores foram os olmecas. Os centros olmecas exerceram sua influência na região até por volta de 400 antes de Cristo Nesses centros, artesãos produziam estatuetas e cerâmicas de uso cerimonial que foram encontradas ou copiadas em muitas outras regiões da Mesoamérica.

Quando o domínio olmeca e de seu principal centro político, La Venta, entrou em colapso na Mesoamérica, os zapotecas, culturalmente próximos dos olmecas, começaram a construir seus centros político-cerimoniais. O principal deles foi Monte Albán. O sítio arqueológico em que estão os seus vestígios, situado no Vale de Oaxaca, no México, é considerado Patrimônio Mundial pêla unêsco.

Monte Albán, além das construções típicas dos centros cerimoniais, como praças, templos e pirâmides, contava também com áreas de residência permanente das elites dirigentes e com bairros onde eram realizados trabalhos especializados, como a fabricação de certos produtos.

Em Monte Albán foram encontrados alguns dos mais antigos vestígios de escrita das Américas. São grafismos inscritos em monumentos de pedra, relacionados possivelmente a rituais religiosos, que datam de aproximadamente 500 antes de Cristo

Contudo, os pesquisadores acreditam que a escrita zapoteca pode ser ainda mais antiga, pois provavelmente também foram usados outros suportes para ela, como madeira ou peles de animal, que não foram preservados pelo tempo. De acôrdo com arqueólogos, essa escrita seria usada para diferentes fins religiosos e administrativos, e apenas membros privilegiados daquela sociedade a dominariam.

Observe, no mapa a seguir, a localização dos principais povos da Mesoamérica e de alguns de seus centros políticos.

POVOS DA MESOAMÊRICA (SÉCULOS doze-oito Dona)

Mapa. Povos da Mesoamérica. Séculos 12 antes de Cristo a 8 depois de Cristo. Mapa representando a região da Mesoamérica destacada em amarelo, entre o Oceano Pacífico, a oeste e o Golfo do México e o Mar da Antilhas a leste.  Destaque, em texto, para os seguintes povos: No norte da Mesoamérica, os Chichimeca e os Huasteca. Próximo aos lagos Chapala e Texcoco, os Tolteca, e as cidades de Tula, El Tajín, Teotihuacán, Tehuacán e Cholula. Na região próxima ao Golfo do México,  os Olmeca e próximo ao litoral do Oceano Pacífico, os Zapoteca. Com destaque para as cidades de La Venta, San Lorenzo, Palenque, Monte Albán e Três Zapotes. No centro, próximo a cidade de Monte Albán, os Mixteca. Entre o sul e leste da Mesoamérica, próximo à Península de Yucatán, os Maias e as cidades de Kaminaljuyú, Copán, Bonampak, Tikal, Piedras Negras. E os Maia-Tolteca, no norte da Península de Yucatán, com destaque para as cidades de Uxmal e Chichén-Itzá. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 196 quilômetros. Na parte inferior, um pequeno mapa em destaque. A Mesoamérica em 2018. Representando a divisão política da Mesoamérica no ano de 2018, então, dividida em sete países: Do norte ao centro da Mesoamérica, incluindo a maior parte da Península de Yucatán, o México. Ocupando uma parte do sudeste da Península de Yucatán, Belize. Ao sul de Belize, com a costa voltada para o Pacífico, a Guatemala. Ao sul da Guatemala, banhada tanto pelo Mar das Antilhas no nordeste, e quanto Pacífico, no Golfo de Fonseca, Honduras. Ao sul de Honduras, com o litoral banhado pelo Pacífico, El Salvador. A leste de El Salvador, desde a região do lagos Nicarágua e Manágua, no sul, até o Mar das Antilhas, no norte, a Nicarágua. Ao sul da Nicarágua, a Costa Rica. No canto inferior, rosa dos ventos e escala de  0 a 420 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: ARQUEOLOGÍA MEXICANA. México Distrito Federal: Raíces,número11, 2002. página 23, 29, 51.

O mundo dos maias

A sociedade maia desenvolveu-se na área que corresponde hoje a Guatemala, Belize, Honduras, parte leste de El Salvador e sul do México. O auge dessa civilização estendeu-se de 250 até o ano 900 da era cristã.

Os maias viviam em cidades governadas por chefes com poder hereditário. O chefe de cada cidade exercia funções políticas e religiosas, e era auxiliado por um conselho composto de líderes tribais, nobres guerreiros e sacerdotes. Esse grupo formava a elite maia e detinha a posse das terras. Quem cultivava essas terras eram os camponeses, que viviam em moradias rústicas e tinham direito apenas a uma parte do que produziam.

Essa sociedade hierarquizada pode ter sido, segundo muitos estudiosos, resultado da influência do povo olmeca, que se relacionou com os maias principalmente por meio de trocas comerciais. As relações comerciais também ocorriam entre as várias cidades maias. O principal produto comercializado era o tecido.

Embora o comércio fosse uma atividade econômica bastante importante, a agricultura constituía a base da economia maia. O principal produto cultivado era o milho, tão relevante que, segundo os mitos maias, foi utilizado pelos deuses como matéria-prima para criar o homem. Os maias também produziam cacau, algodão, feijão, pimenta, abóbora, mamão e abacate. Além disso, criavam cães (para a caça e a alimentação), perus e abelhas, e praticavam a pesca.

O conjunto arquitetônico maia é bastante exuberante e revela a relação entre arte, astronomia e religião. Além disso, grandes templos e palácios eram construídos para inspirar respeito e admiração.

Fotografia. Vista de um local aberto. Em primeiro plano, grama de cor verde-clara. Em segundo plano, construção de pedra em cor bege-claro, com partes escurecidas pela ação do tempo. No centro, uma grande escadaria leva até a parte mais alta do templo, com duas colunas centrais e dois grandes blocos laterais em pedra. Ao fundo, área arborizada e, no alto, céu azul diurno com muitas nuvens.
Templo dos Guerreiros, no sítio arqueológico da cidade maia detchitchén itsá, na Península de iucatãn, no México. Fotografia de 2020.
Ciência e Tecnologia

Matemática e Astronomia

Desde o início da história maia, os sacerdotes procuravam entender os movimentos dos corpos celestes como uma fórma de explicar os desígnios dos deuses. Por isso, os sacerdotes maias também eram matemáticos e astrônomos.

Em relação ao desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos, os maias criaram um símbolo para representar o zero e o utilizavam em cálculos. Além disso, eles conheciam os movimentos do Sol, da Lua e de Vênus e os eclipses solares e lunares; e criaram dois calendários, que utilizavam simultaneamente: um sagrado, de 260 dias (astrológico), e outro não religioso, de 365 dias (solar). Graças a esses calendários, os sacerdotes conseguiam indicar as épocas propícias para o preparo do campo, a semeadura e a colheita. Leia sôbre isso no texto a seguir:

pêla observação do céu, os maias estabeleceram um calendário solar de 365 dias e, mais espantoso, definiram o mês lunar, com apenas 23 segundos de diferença em relação aos cálculos mais modernos.reticências

Mais importante para a vida cotidiana era o calendário astrológico, denominado Almanaque Sagrado, que se baseava em um ciclo de apenas 260 dias.reticênciasAssim como se usa atualmente um horóscopo, o Almanaque Sagrado servia para prever os dias mais propícios para cada atividade humana.

bráun deiu ême (). O esplendor dos maias. Rio de Janeiro: Abril Livros: Time Life, 1999. página 131. (Coleção Civilizações Perdidas).

Fotografia. Vista de local aberto. Em primeiro plano, vegetação rasteira verde, com três pessoas caminhando. Em segundo plano, construção de cor bege com partes escurecidas pela ação do tempo. À direita, levando ao primeiro pavimento da construção, uma pequena escadaria. À esquerda, levando ao  segundo pavimento da construção, uma escadaria maior, em ângulo mais agudo. Na parte mais elevada da construção, outra escadaria dá acesso a uma torre fechada, com uma janela retangular e o topo em forma de cúpula arredondada. Nos arredores, com árvores verdes. No alto, céu azul-claro, com nuvens.
Ruínas do observatório astronômico de tchitchén itsá, conhecido como Caracol, na Península de iucatãn, no México. A observação dos astros tinha grande importância para os maias. Fotografia de 2019.

jôgo sagrado

Uma narrativa mítica maia sôbre a criação do mundo conta a história de dois gêmeos que vão para o submundo, atraídos pelos deuses para um jôgo de bola. Após vencerem os deuses, os heróis gêmeos subiram aos céus e se transformaram no Sol e na Lua. Dessa fórma, o jôgo de bola era considerado sagrado pelos maias.

O declínio das cidades maias

Os maias construíram e mantiveram suas cidades até aproximadamente o ano 900, quando começaram a entrar em declínio. Não se sabe ao certo o motivo desse processo, mas há algumas hipóteses, como o surgimento de epidemias, guerras internas e invasões de outros povos.

Estudos recentes sugerem, ainda, que esse declínio pode estar relacionado a causas ambientais. O uso de técnicas agrícolas rudimentares teria levado ao esgotamento do solo, o que diminuiu a produtividade das lavouras e, consequentemente, a oferta de alimentos.

Outro estudo aponta uma prolongada estiagem como a causa do declínio dessas cidades. Muitas delas, como Tikal, foram planejadas para armazenar água da chuva para uma população de até 10 mil habitantes por um período de 18 meses. O longo período de sêca restringiu o acesso da população à água e, assim, teria contribuído para diminuir a autoridade dos governantes das cidades.

Fotografia. Uma estátua de pedra de  cor bege-claro, com partes em tons de marrom a azul, representando uma figura humana, com o nariz alongado similar a uma pequena trompa. Ele segura em cada mão, dois objetos arredondados. Sobre a cabeça, usa um adorno grande, que desce até os ombros da figura.
Incensário maia com a representação de tcháqui, o deus da chuva, produzido entre 1200 e 1500. Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México.
Os maias nos dias de hoje

O declínio das cidades, porém, não significou, como muitos acreditam, o fim dos maias. Atualmente, mais de 6 milhões de indígenas de grupos linguísticos maias estão distribuídos por regiões do México, de Belize, de Honduras e, principalmente, da Guatemala, onde vive a maior parte deles.

As etnias indígenas de origem maia mantiveram os mitos e as tradições do seu passado pré-colombiano, renovando-os com crenças e práticas religiosas incorporadas do cristianismo. Entre as principais atividades econômicas dos grupos remanescentes maias, estão o cultivo do milho e do feijão e a produção de artesanato.

Fotografia. Em uma tenda coberta por uma lona prateada, de frente para um fogão com uma chapa de ferro de cor preta, quatro mulheres trabalham. Cada uma, molda com as duas mãos, uma massa branca em formato de disco. Sobre a chapa de ferro, várias massas em formato de disco, de cor branca e outras de cor cinza. Sobre uma mesa de madeira, à direita, uma grande bacia azul com massa. As mulheres usam blusas e saias coloridas em vermelho, azul, amarelo e laranja. Ao fundo, Há outras duas mulheres, sendo que uma delas está sentada.
Jovens e mulheres de origem maia fazendo tortilhas em um mercado tradicional, na cidade de xixicastenãngo, na Guatemala. Feita de milho, a tortillha é um dos pratos mais representativos da cultura maia. Fotografia de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

Fontes para o estudo da cultura maia

Os conhecimentos e as técnicas maias se desenvolveram em diversos campos, como os da matemática, da astronomia, da arquitetura e da escultura. Além disso, os maias elaboraram um sistema de escrita formado por figuras que representavam sons e ideias. Esse tipo de escrita é o único da América pré-colombiana cujos símbolos são bastante próximos da linguagem falada.

Os escritos maias são fontes importantes de estudo das sociedades pré-colombianas. Os pesquisadores têm procurado decifrá-los para compreender a organização cultural e social desse povo.

Fotografia. Sobre uma base plana de pedra marrom, caracteres em alto relevo, de formato quadrado, dispostos em quatro fileiras, com quatro figuras em cada fileira. Os caracteres têm desenhos feitos com linhas finas, formando diferentes figuras, como rostos vistos de perfil (no alto, à esquerda, entre outros).
Registro escrito maia. cêrca de300 antes de Cristo Parede (detalhe). Museu do Sítio de Palenque “Alberto Ruz lhuiliêr”, Palenque, México.

Outro tipo de fonte histórica da cultura material maia que sobreviveu até os dias de hoje são os murais encontrados nas paredes do Templo das Pinturas, na cidade de Bonampak, no estado de Chiapas, no México. As cenas representadas nesses murais revelam diferentes aspectos da vida dos maias, como suas crenças e seus mitos, seus rituais, seus costumes e os acontecimentos relacionados às guerras e aos governantes.

Observe a seguir a reprodução de um fragmento de um mural encontrado na cidade de Bonampak, em Chiapas, no México.

Pintura. Vista parcial de pintura mural. Sobre um fundo vermelho, na parte inferior, um friso com desenhos de formas arrendondadas e quadradas, com linhas compondo figuras. Acima do friso, doze figuras em pé, (uma em cada ponta vista apenas parcialmente), umas ao lado da outras. Essas pessoas têm o corpo em tons de vermelho, usam mantos compridos de cor branca sobre suas costas e uma tira vertical de tecido estampado presa à cintura estendendo-se até seus pés. Usam joias e adornos diversos, alguns com figuras de animais (como aves e dragões), sobre a cabeça. Entre as cinco figuras à esquerda, quatro têm o corpo voltado para a direita, apenas uma tem o corpo voltado para a esquerda. As seis pessoas à direita, tem o corpo voltado para a esquerda. Há esquerda, há figuras que parecem conversar entre si. 
No canto direito, um homem visto dos ombros para baixo, sobre uma base alta. Essa pessoa segura no colo uma criança vista parcialmente.
Reprodução de mural maia, do séculonove, na parede de uma das salas do Templo das Pinturas, na cidade de Bonampak, em Chiapas, no México. Museu Nacional de Arqueologia e História, Cidade da Guatemala.
  1. Observe a caracterização das pessoas na pintura, como seus trajes e adornos, suas expressões e sua postura física. Os indícios sugerem que são membros da elite ou camponeses? Como você chegou a essa hipótese?
  2. Observe os elementos que estão representados na parte inferior do mural. Na sua opinião, qual seria a função deles na composição do mural?
  3. Na sua opinião, a análise desse documento da cultura material permite conhecer que aspectos da sociedade maia?

Povos andinos

Os mais antigos centros políticos e cerimoniais dos Andes, com edifícios monumentais em pedra, foram construídos na costa desértica do centro e do norte do atual Peru. Nesses centros, havia pirâmides, plataformas, praças e conjuntos residenciais habitados pêlas elites dirigentes.

A antiguidade desses locais tem surpreendido os estudiosos, especialmente Caral, centro político urbano datado de aproximadamente 2500 antes de Cristo O sítio arqueológico de Caral abriga seis pirâmides, um anfiteatro circular e um setor residencial, além de canais de irrigação. As escavações no local indicaram que havia plantações de goiaba, ají (um tipo de pimenta), abóbora, feijão e abacate. Foi possível concluir, também, que seus habitantes consumiam peixes e mariscos, vindos do litoral.

Um dado que intriga os arqueólogos é o fato de não terem sido encontrados, no sítio de Caral, objetos de cerâmica para armazenamento ou cozimento de alimentos. Para eles, isso indica que, naquela sociedade, a produção e o armazenamento de alimentos não eram feitos em grande escala, e que as trocas comerciais feitas com cidades próximas eram tão importantes para a economia como a atividade agrícola.

Povos dos Andes Centrais (SÉCULOS vinte e seis -treze Dona)

Mapa. Povos dos Andes Centrais. Séculos 26 antes de Cristo a 13 depois de Cristo. Mapa representando o oeste da América do Sul, com a costa banhada pelo Oceano Pacífico, com duas regiões destacadas em cores distintas. Em marrom, a 'Cordilheira dos Andes'. Estendendo-se desde o norte, na região do Rio Madalena, até o sul da América do Sul, ao sul do Rio Maule. Hachurada com listras de cor laranja na diagonal,  'Extensão do Império Inca. Estendendo-se pela região da Cordilheira dos Andes até o litoral do Pacífico, desde a região próxima à Linha do Equador até a margem norte do Rio Maule, no sul do continente. Destaque, em texto, para  os Mochicas na região do Rio Maranón, na altura do Rio Amazonas, e as cidades de Caral e Chavín de Huantar; e Nazca, a oeste do Lago Titicaca. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 365 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 144; . Atlas historique. Paris: Perrin, 1992.página218.

Ícone. Sugestão de livro.

FERNANDES, Alecsandra. Descobrindo a arqueologia: o que os mortos podem nos contar sôbre a vida? São Paulo: Cortez, 2015. A partir da conversa de um avô com seus netos, somos convidados a aprender um pouco mais sôbre arqueologia e o trabalho dos arqueólogos.

tchávin de ruântár

tchávin de ruântár foi um importante centro político-cerimonial surgido nas terras altas da Cordilheira dos Andes, por volta do ano 1000 antes de Cristo Situado a aproximadamente 3 mil metros de altitude, próximo à região amazônica, o centro da cultura tchavín apresenta muitas características comuns a outros centros políticos da costa desértica do Peru, como arquitetura monumental, pirâmides, praças e pátios afundados.

A monumentalidade de suas construções supera a de outros núcleos da região, o que demonstra sua relevância política. Além disso, a cerâmica desenvolvida pêla primeira vez em tchávin de ruântár foi copiada por outros povos dos Andes Centrais, o que revela sua influência cultural.

Por volta do ano 300 antes de Cristo, tchávin de ruântár entrou em colapso. Segundo alguns especialistas, é provável que um longo período de guerras entre diversos povos andinos tenha desarticulado as rótas de comércio que existiam na região e levado os tchavíns a contestar a autoridade de seus principais líderes, os sacerdotes, favorecendo o declínio desse centro político-cerimonial.

Fotografia. Vaso arredondado de cor marrom com a parte inferior  mais larga do que a parte superior onde há uma alça redonda e um canudo vertical como bocal. Na parte inferior, há a figura de uma serpente de boca aberta, em alto relevo, com listras verticais de cor bege.
Vaso tchavín. cêrca de 200 antes de CristoCerâmica. Museu do Banco Central de Reserva, Lima, Peru. De maneira geral, os chavíns representavam animais predadores em suas imagens. Os estudiosos acreditam que esses símbolos estão relacionados aos governantes e às elites dirigentes locais.

Nazcas e mochicas

As civilizações mochica e nazca se desenvolveram, respectivamente, na costa norte e na costa sul do atual Peru, entre 200 antes de Cristo e 800 Depois de Cristo, aproximadamente.

Os nazcas são famosos por terem traçado imensas figuras, os geoglifos, nas planícies do deserto da Bacia do Rio Grande de násca. Também são conhecidos e estudados por sua abundante produção de cerâmica e de tecidos, que contém figuras representando o modo de vida desse povo. Os mochicas, por sua vez, se destacam pêlas imagens feitas em peças de cerâmica, que apresentam, entre outros temas, guerreiros e pessoas da elite governante com trajes de uso exclusivo de seu grupo social.

Fotografia. Vista aérea. Sobre o solo, de cor marrom, há linhas finas muito extensas que formam desenhos. No centro,  uma estrada de cor cinza corta a imagem na horizontal. Pela estrada passam caminhões e ônibus.
Geoglifo násca, no Peru. Para ter ideia do tamanho desse geoglifo, identifique a estrada na parte superior da fotografia. Por suas enormes dimensões, os geoglifos nazcas só podem ser identificados a grande distância. Fotografia de 2019.

Astecas e incas

Até o século quinze, as diferentes sociedades americanas desenvolveram-se sem contato com sociedades de outros continentes. A partir de 1492, contudo, essa realidade mudou. Naquela data, navegantes europeus, em busca de terras e riquezas, aportaram em uma ilha do Caribe. Logo, novas expedições, patrocinadas pelo govêrno da Espanha, atingiram as regiões da Mesoamérica e dos Andes.

Para termos ideia, no final do século quinze, havia mais de quatrocentas cidades na Mesoamérica. A região era marcada pêla grande diversidade de culturas, por muitas fórmas de organização social e pêla pluralidade de idiomas. Além disso, havia uma sociedade que dominava muitos dos povos da região: o Império Asteca. Sua formação havia começado no início do século catorze, quando os mexicas (povo asteca) se instalaram em terras próximas ao lago salgado Texcoco, no atual Vale do México. Guerreiros e conquistadores, os astecas dominaram cidades e povos vizinhos, o que resultou na formação de um grande império que reunia ao todo mais de 25 milhões de pessoas. Em 1521, sua capital, Tenochtitlán, foi tomada pelos espanhóis, o que simbolizou o fim do Império Asteca. Posteriormente, não só os astecas, mas diversos povos da Mesoamérica seriam dizimados ou submetidos aos espanhóis.

Na região dos Andes, os espanhóis encontraram outro império. O Império Inca havia se consolidado no século treze, por meio das conquistas militares, e integrava uma imensa área que compreendia os atuais territórios do Equador, do Peru e da Bolívia, ao norte, e do Chile e da Argentina, ao sul. Estimativas indicam que os incas dominavam uma população de 7 milhões de pessoas, pertencentes a mais de 100 grupos étnicos distintos. Em 1532, os espanhóis chegaram à região e aproveitaram-se da insatisfação de vários desses povos em relação à dominação inca e das disputas políticas locais para conquistar o território e submeter toda a população que ali vivia.

Império Inca

Os incas se referiam ao império como tauantinsuiú. Esse termo, em quéchua, indica uma união de províncias. Já o termo inka, também em quéchua, significa "governante" ou "senhor", e era usado para se referir ao grupo politicamente dominante.

Ilustração.  Vista de um lago com pequenas ilhas quadradas com plantações em verde sobre elas (no alto, à direita) e algumas canoas de madeira  (à esquerda), ao fundo, uma cadeia de montanhas.   No centro da imagem, há uma ilha um pouco maior, com grama, árvores e duas pequenas construções com telhados de palha. Na parte inferior, nas margens, sobre um solo arenoso, há um homem indígena com cabelos pretos e longos, um tecido de cor bege ao redor do corpo amarrado em seu ombro. Ele está em pé, é visto de costas e aponta um dedo para a frente; diante dele, sobre as águas, duas pessoas estão sentadas, uma de frente para a outra, sobre uma estrutura quadrada de material trançado. Eles enchem essa estrutura com terra,  construindo uma nova ilhota. No canto inferior esquerdo, nas margens, sobre a terra, duas pessoas amassam a terra utilizando bastões de madeira.
Construção da cidade de Tenochtitlán. Séculodezesseis. Ilustração de manuscrito. Museu da Cidade do México, México.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Leia a seguir trechos de uma reportagem.

Mural de quatro mil anos no Peru

Nesta última segunda feira, arqueólogos encontraram em Vichama, ao norte de Lima, um mural com representações de anfíbios e humanos. O achado, confinado em um prédio cerimonial público, fazia parte de um dos centros populacionais mais importantes da civilização de Caral, reticências que data de cinco mil anos atrás.

Para rufi sheiri solís, diretora da Zona Arqueológica de Caral (sác), as cenas do mural representam a chegada de água através das chuvas. Segundo ela, civilizações andinas consideravam o sapo uma representação de água, e a face humana abaixo dele demonstraria como a cultura precisava da chuva para dar continuidade à vida.

Também foram retratadas quatro cabeças humanas com cobras envolvendo-as. Tatiana Abad, arqueóloga envolvida no achado, afirmou que as esculturas representam um momento de escassez e fome para as pessoas que lá viviam.

PEREIRA, Joseane. Arqueólogos encontram mural de quatro mil anos no Peru. Aventuras na História, 20 agosto 2019. Disponível em: https://oeds.link/D4b2yi. Acesso em: 6abril 2022.

  1. Do que trata essa reportagem?
  2. Qual é a possível explicação dada pelos arqueólogos para os elementos usados na representação do mural?
  3. Qual é a importância do mural encontrado pelos arqueólogos em 2019, em Lima?
Fotografia. Estrutura em pedra, cor de areia, em formato retangular com desenhos em alto relevo nas bordas. Alguns relevos formam rostos e, no centro da imagem, na parte frontal da estrutura, há a figura semelhante a um sapo, porém com feições humanas, sorrindo. Essa figura tem as patas esticadas para frente. Entre as patas dela, há um relevo representando um homem. Na parte posterior da estrutura, no centro, há uma figura em formato de u, com dois olhos e uma boca aberta formando um um orifício.  À esquerda e à direita dessa figura, há dois relevos com feições humanas cercados por serpentes.
Parte do mural encontrado em Vichama, ao norte de Lima, no Peru.
  1. Em seu caderno, descreva algumas características dos povos mesoamericanos e dos povos andinos que estudamos neste Capítulo. Procure identificar alguns dos conhecimentos desenvolvidos por eles e aspectos importantes dos seus modos de vida, assim como a localização das diferentes sociedades.
  2. Em grupo, observem a imagem, leiam a legenda e respondam às questões a seguir.
Fotografia. Vaso representado uma forma humana, na cor marrom com partes em marrom claro. A figura tem o corpo arredondado. Nas orelhas, tem dois brincos redondos em bege claro, usa com colar e pulseira e segura, à frente de seu corpo, no centro, um pequeno objeto em forma de espiral com as duas mãos. Sobre a cabeça, usa um chapéu e, no topo da figura, há uma haste na vertical com a abertura do vaso.
Vaso mochica. cêrca de 800. Cerâmica, 22 por 14,8 por 13,4 centímetros. Este vaso representa um músico tocando uma trombeta em fórma de caracol. Museu Larco, Lima, Peru.
  1. Que povo produziu o vaso da imagem? Quando ele foi confeccionado? De que material ele é composto?
  2. É possível que o uso do caracol como trombeta estivesse relacionado ao ciclo da água. Chegou-se a essa conclusão porque povos andinos acreditavam que a origem da água era o mar e que ela retornava à terra na fórma de chuva. Considerando essa hipótese, podemos dizer que o vaso teria alguma finalidade cerimonial? Qual seria?
  3. Por meio dessa imagem, que outras informações podem ser sugeridas sôbre o povo que confeccionou esse vaso?
Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Saúde.

Como podemos desenvolver uma relação harmoniosa com a natureza nos tempos de hoje?

Ao longo das Unidades um e dois, estudamos como as primeiras sociedades se relacionavam com a natureza, da qual também fazemos parte. O desafio enfrentado por essas sociedades estava ligado principalmente à sobrevivência dos seres humanos.

Hoje, após milênios de exploração, o desafio é outro: uma das grandes preocupações das pessoas, de governos e de várias entidades está relacionada à preservação da natureza e à diminuição dos impactos ambientais que afetam a vida de diferentes espécies e a vida humana.

Recentemente, a disseminação da côvid dezenóve em todo o mundo fez com que especialistas de diversas áreas analisassem as origens e as possíves relações dessa pandemia com os impactos ambientais de amplo alcance. Esses impactos têm sido causados pelos seres humanos em decorrência da fórma como organizaram a vida em sociedade ao longo do tempo. Leia a seguir um trecho de uma reportagem sôbre o assunto.

“Os cientistas estimam que cêrca de 70% das doenças infecciosas emergentes surgem da interação entre o homem e o meio ambiente, principalmente pêla manipulação inadequada de animais silvestres e pelo impacto nos habitats naturais. É por isso que doenças como agá í vê, ebola, dengue, zika e chikungunya, assim como a côvid dezenóve, são conhecidas como zoonoses, pois eram originalmente patógenos que circulavam apenas em animais, vertebrados ou invertebrados”, explica a pesquisadora da fiocruz Bahia, Nelzair Vianna.

PESQUISADORA da fiocruz Bahia explica relação entre pandemia e meio ambiente. Instituto Gonçalo Moniz – fiocruz Bahia, 3 jul. 2020. Disponível em: https://oeds.link/2MQkXs. Acesso em: 6 abril2022.

No Brasil, há um grupo importante que deve ser lembrado quando se fala na pandemia: os povos indígenas, que se tornaram umas das maiores vítimas da situação de crise sanitária, econômica e humanitária instalada no país com o avanço do coronavírus e do contágio.

Os indígenas que vivem em aldeias estão organizados em habitações coletivas e as suas diversas atividades também são realizadas em grupo, o que facilita o espalhamento do vírus caso haja algum caso de contaminação. Além disso, a falta de políticas públicas de 

Fotografia. Capa de cartilha. Na parte superior, texto escrito em língua Yanomami. Logo abaixo, a ilustração do busto de uma menina indígena, de cabelos pretos, franja e com brincos em formato de flor de pétalas amarelas, máscara cirúrgica branca sobre o rosto e blusa azul. Ao fundo, local com grama verde, vegetação da mesma cor e uma trilha de cor bege que leva à uma oca de palha, com o formato de cone.
Cartilha de combate à côvid dezenóve com dizeres em Yanomami: Quando você estiver na cidade, use sempre a máscara.

proteção às suas terras, de garantia dos direitos humanos e de assistência à saúde deixou os povos indígenas ainda mais vulneráveis.

Muitos anciões morreram em razão da infecção causada pelo coronavírus. Eles são muito importantes nas culturas indígenas, pois guardam as memórias e os conhecimentos tradicionais, sendo responsáveis por transmiti-los para as próximas gerações.

No enfrentamento da pandemia e da falta de assistência à saúde e aos seus direitos básicos, os diversos povos indígenas organizaram-se para frear a proliferação do vírus em suas aldeias. Uma das ações foi confeccionar e distribuir máscaras, produtos de higiene e material informativo sôbre a pandemia nas comunidades indígenas, além de difundir dados para mapeamento da contaminação, praticar o isolamento social e formar barreiras sanitárias para evitar que pessoas de fóra das aldeias levassem o vírus para dentro delas.

Durante a pandemia da côvid dezenóve pesquisadores observaram que os desmatamentos e a exploração de recursos naturais nas terras indígenas aumentaram, o que intensificou o cenário de crise enfrentada por esses povos. É importante ressaltar que as invasões de terras indígenas por agentes que buscam explorar seus recursos naturais trazem consigo o risco de novas contaminações. O texto a seguir faz algumas reflexões do ponto de vista dos indígenas sôbre como os seres humanos, especificamente os não indígenas, interferem na natureza e causam impactos profundos no ambiente.

O mito do desenvolvimento sustentável

Em Ideias para adiar o fim do mundo, do ilustre Ailton crenác (2019), é lançado um questionamento bastante reflexivo: “Desenvolvimento sustentável para quê?” provocando uma indagação acerca do pensamento colonizador que cria uma necessidade à humanidade de evoluir a todo custo. Este desenvolvimento tem um preço muito caro, tais como: disseminação de doenças infectocontagiosas, destruição de reservas florestais com extração exorbitante de madeiras, garimpos, grilagem de terras, monocultura, agrotóxicos, latifúndios, implantação de usinas hidrelétricas, resultando em ataques às florestas, rios, e consequentemente a destruição das vidas que preservam e possuem forte relação com a Terra. É importante salientar que a relação dos povos indígenas, que são os defensores da natureza, está para além do interesse material, abrange a espiritualidade, é transcendental!

NASCIMENTO, Natália Emanuele Rocha; mânrrart, Vinicius Augusto Lacerda. Não haverá o amanhã: o espectro do desenvolvimento. vukápanavô: Revista Terena, número 3, página 243-250, outubro a novembro 2020. Disponível em: https://oeds.link/PxYVCz. Acesso em: 6 abril2022.

  1. Discuta com os seus colegas: que relações entre a degradação ambiental e a pandemia de côvid dezenóve são apontadas pêla pesquisadora da Fiocruz?
  2. Quais são as fórmas encontradas pelos povos indígenas para enfrentar a pandemia?
  3. Na sua opinião, qual é o impacto das mortes de anciões durante a pandemia para a cultura e a vida cotidiana das diversas comunidades indígenas?
  4. Qual é a crítica dos indígenas apresentada no texto citado em relação à fórma como a sociedade não indígena está organizada e se relaciona com a natureza?
  5. Em dupla, pesquisem em jornais, revistas e/ou na internet sôbre outras possíveis relações entre a pandemia da côvid dezenóve e o meio ambiente.

Glossário

Centros cerimoniais
Locais onde se realizam cerimônias religiosas.
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Hierarquia social
Divisão da sociedade em grupos, sendo que alguns grupos são considerados mais importantes que outros.
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Governo teocrático
govêrno em que o poder é exercido por um soberano que é considerado um deus ou um representante divino.
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