CAPÍTULO 7  HEBREUS, FENÍCIOS E PERSAS

A língua falada por um povo faz parte de sua identidade, história e cultura. Quando você compara o português, falado e escrito, com o espanhol, percebe que são línguas semelhantes. Isso ocorre porque elas têm uma origem comum, o latim. Por essa razão, são chamadas de línguas neolatinas. No Oriente Médio também existem línguas aparentadas, que, mesmo apresentando diferenças entre si, têm a mesma raiz. É o caso do hebraico, do aramaico e do árabe, três línguas classificadas como semitas. O nome semita deriva de Sem, figura bíblica que seria o ancestral dos hebreus, dos árabes e de outros povos antigos que falavam línguas aparentadas, como os assírios, da Mesopotâmia, e os fenícios.

Outro povo que se estabeleceu no Oriente Médio e cuja língua perdurou foi o persa. Hoje o persa é mais conhecido como farsi, e é a língua oficial de países como o Irã e o Afeganistão.

Neste Capítulo, estudaremos os hebreus, os fenícios e os persas, que, como os povos que viviam na Mesopotâmia, se desenvolveram no Oriente Médio, na Antiguidade. Suas fórmas de organização social, política e religiosa eram diferentes entre si, mas muitas de suas características culturais deixaram marcas visíveis até hoje.

Oriente Médio e Egito (século í xisa)

Mapa. Oriente Médio e Egito. Século nove antes de Cristo. Mapa representando, no centro, a região da Mesopotâmia (com destaque para os rios Tigre e Eufrates); além de parte do Egito, no leste da África (com destaque para o rio Nilo); parte da Ásia Menor ao sul do Mar Negro; parte da Pérsia e parte da Península Arábica. Há territórios destacados em cores distintas. Em verde claro, 'Antigo Egito', no leste da África, na região do vale do Rio Nilo, com destaque para a cidade de Tebas. Em amarelo, 'Império Assírio', na Ásia, estendendo-se desde oeste da Ásia Menor no litoral do Mar Mediterrâneo, até a região dos rios Tigre e Eufrates, atingindo o norte do Golfo Pérsico. Destaque para a cidade da Babilônia. Em pink, 'Fenícia', na Ásia, na costa do Mar Mediterrâneo, onde hoje se situa o litoral da Síria, do Líbano e de parte de Israel, estendendo-se até o leste da ilha de Chipre. Destaque para a cidade de Sidon. Em verde escuro, 'Reino de Israel', na Ásia, desde a costa mediterrânea, ao sul da Fenícia, até o entorno do Mar Morto. Em rosa claro, 'Reino de Judá', na Ásia, ao sul do Reino de Israel e ao sul do Mar Morto, ocupando parte da Península do Sinai. Destaque para a cidade de Jerusalém. Em roxo, 'Persas', na Ásia, a leste do Golfo Pérsico. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 185 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: The new atlas of World HistoryThames & Hudson, 2011. página 38-39; Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. p. 40.

Os hebreus

A língua, a religião e os costumes dos judeus da atualidade têm sua origem nos antigos hebreus.

Quase não há esculturas, sarcófagos, pinturas, templos ou outras fontes para pesquisar a história dos hebreus; por isso, a Bíblia é a principal fonte de estudo sôbre esse povo. Como a Bíblia é uma narrativa religiosa escrita por muitas mãos, é um desafio permanente para os pesquisadores separar o que é narrativa religiosa do que é evidência histórica.

Segundo a tradição bíblica, a história do povo hebreu começou quando Abraão, obedecendo a uma ordem divina, guiou seu povo da Mesopotâmia para cánaã, a Terra Prometida, território que, atualmente, corresponde à Palestina. Para alguns especialistas, os hebreus teriam saído da Mesopotâmia por volta de 1900 antes de Cristo Outros acreditam que essa migração teria acontecido cinco séculos mais tarde.

Por muitas gerações, o povo hebreu manteve­‑se organizado em clãs, grupos de famílias que acreditavam ter um ancestral comum. Nos clãs, os patriarcas tinham funções religiosas, políticas e militares.

Acredita-se que, por volta de 1600 antes de Cristo, os hebreus se viram forçados, diante de uma grande sêca, a migrar para o Egito. Em 1250 antes de Cristo, empreenderam uma longa viagem de volta a Canaã, durante a qual, segundo a Bíblia, seu líder, Moisés, recebeu de Deus os Dez Mandamentos, o código de leis do povo hebreu.

Pintura. Em formato retangular e vertical, pintura sobre um fundo de cor bege, emoldurado por um friso ondulado branco sobre fundo escuro. No centro, um homem em pé, de  barbas brancas, com os cabelos cobertos por uma faixa de tecido branco,  vestido com uma túnica de cor bege com detalhes verticais em cinza, mangas longas e sandálias nos pés. Ele está de braços cruzados. Uma forma retangular, em preto, está pintada atrás da cabeça dele.
Abraão recebe a promessa. Século dois. Afresco. Museu Nacional de Damasco, Damasco, Síria. Esta pintura mural foi encontrada na Sinagoga de Dura­‑Europos, na Síria. A sinagoga, fundada por volta de 300 antes de Cristo, é uma das mais antigas e um importante exemplo da arte judaica na Antiguidade.

O reino hebreu

Muitos anos após estabelecerem-se novamente em cánaã, no séculoonzeantes de Cristo, os hebreus consolidaram um Estado com o poder centralizado em torno de um rei. Sob o govêrno do rei Davi, que durou de 1000 antes de Cristo a 965 antes de Cristo, a cidade de Jerusalém foi transformada na capital do reino. Na nova capital, Davi centralizou o culto ao Deus único javé (Javé ou Jeová), convertendo o monoteísmo hebraico em religião do Estado.

Em 926 antes de Cristo, o norte do reino se rebelou e criou o Reino de Israel, com capital em Samaria. No sul, formou-se o Reino de Judá, que manteve sua capital em Jerusalém. Após a divisão dos dois reinos, os habitantes do Reino de Judá passaram a ser conhecidos como judeus.

Em 722 antes de Cristo., os assírios conquistaram o Reino de Israel, deportaram sua população para os territórios assírios e levaram estrangeiros para ocupar as terras conquistadas.

O Reino de Judá resistiu por mais tempo aos ataques de outros povos. Contudo, no século umantes de Cristo, a região passou a ser domínio do Império Romano, e os conflitos entre os governantes romanos e os judeus passaram a ser constantes.

Em 70 Depois de Cristo, os romanos impulsionaram uma grande revolta judaica, saquearam e destruíram o Templo de Jerusalém e expulsaram os judeus da região. A maior parte deles espalhou-se então por vários domínios romanos. Esse movimento de dispersão geográfica ficou conhecido como Diáspora (ou a Grande Diáspora).

A divisão do Reino dos Hebreus (926 )

Mapa.  A divisão do Reino dos Hebreus. 926 antes de Cristo. Mapa representando o oeste do continente asiático, voltado para o Mar Mediterrâneo, com destaque para o Mar da Galileia, no norte, e o Mar Morto, no Sul. Parte do território está destacada em verde, que, na legenda, corresponde a 'Tribos hebraicas'. O território das tribos está dividido por uma linha branca. Uma linha vermelha corta o território horizontalmente. No norte, no litoral, Asser; a leste de Asser, Neftali. Ao sul de ambas, Zebulon. A Sudeste de Zebulon, Isacar. Ao sul, no centro do território, entre a costa do Mediterrâneo e o interior, Manassés. Ao sul, Dan, na costa do Mediterrâneo; Efraim, a leste de Dan, e Gade, a leste de Efraim (com destaque para a cidade de Samaria). Ao sul de Efraim, Benjamin (com destaque para a cidade de Jerusalém). Ao sul de Gade, Ruben. A oeste do Mar Morto, Judá, no sul de Judá, Simeão. Destacada por uma linha em vermelho 'Divisão aproximada dos reinos de Judá e de Israel'. Ao norte da linha vermelha, estão: Ruben, Gade, Efraim (com destaque para a cidade de Samaria), Dan, Manassés, Isacar, Zebulom, Neftali e Asser. Ao sul da linha vermelha, estão: Benjamin (com destaque para a cidade de Jerusalém), Judá e Simeão. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 30 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: TRIBES of Israel Map. IsraelHebrew.com: Hebrew-English Dictionary with Pronunciation Guide. Disponível em: https://oeds.link/iYRifz. Acesso em: 6 abril. 2022; DUBY, . Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 29.

O monoteísmo hebraico

Diferentemente dos demais povos do Oriente na Antiguidade, os hebreus eram monoteístas, ou seja, acreditavam na existência de um Deus único, javé. A base de sua crença estava na Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia, que contêm os 613 mandamentos para a vida judaica. Entre eles estão os Dez Mandamentos, que são considerados uma síntese das leis de Deus. Os mandamentos da Torá abrangiam praticamente todos os aspectos da vida dos hebreus, como a família, o trabalho, a alimentação e as obrigações religiosas.

Os fenícios

A cultura fenícia começou a se desenvolver por volta do século catorze antes de Cristo Os fenícios eram um povo de origem semita que se estabeleceu em uma faixa estreita de terra entre o mar Mediterrâneo e as montanhas do atual Líbano. A região era estratégica: servia de passagem para importantes rótas comerciais ligando a Ásia Menor (Anatólia) ao Egito, e a Mesopotâmia ao Mediterrâneo.

As altas montanhas dificultavam o acesso dos fenícios ao interior do continente e restringiam a agricultura a uma parte pequena e fértil do território. Com escassas possibilidades de sobrevivência e enriquecimento em terra, os fenícios se lançaram ao mar. Esse empreendimento foi favorecido pêla abundância de cedro nas florestas fenícias, o que possibilitou a construção de navios leves e resistentes.

Com excelentes embarcações e conhecimentos astronômicos, os fenícios tornaram-se os grandes navegadores da Antiguidade. Eles navegavam inclusive à noite, guiando-se pêlaEstrela Polar. Por isso, essa estrela era conhecida no mundo antigo como Estrela Fenícia.

Além de hábeis navegadores e construtores de navios, os fenícios eram excelentes artesãos e comerciantes. Eles produziam peças que eram vendidas como artigos de luxo e nas quais usavam matérias-primas que adquiriam por baixos valôres. Os fenícios fabricavam vidros, tecidos tingidos, joias, móveis de madeira, peças de marfim, perfumes e objetos de metal. Esses produtos eram comercializados com diversos povos, atividade que possibilitou um grande intercâmbio cultural.

Fotografia. Vaso comprido com formato tubular de cor azul com manchas de cor branca e base arredondada.
Alabastro produzido pelos fenícios. 400 antes de Cristo-320 antes de CristoVaso de vidro feito à mão, 14 × 3,4 centímetros. Museu do Louvre, Paris, França.
Fotografia. Máscara feita de metal dourado com um relevo formando um rosto de feições masculinas, com sobrancelhas grossas, nariz reto e boca fechada.
Máscara funerária produzida pelos fenícios. Séculos seisquatroantes de Cristo relêvo em ouro, 16,6 por 13,8 por 0,3 centímetros. Museu do Louvre, Paris, França.
As cidades-Estado e as colônias fenícias

As condições geográficas do território fenício, marcadas pêla presença de montanhas, contribuíram para a formação de núcleos urbanos isolados uns dos outros. Apesar de compartilharem a mesma origem, língua e cultura, as cidades fenícias eram política e economicamente autônomas; por isso, são chamadas de cidades-Estado.

Cada cidade-Estado fenícia tinha o próprio rei, que acumulava funções políticas e religiosas. Existem evidências históricas de que, em algumas cidades, o rei era auxiliado por um conselho de anciãos. Como os comerciantes eram muito ricos, acredita-se que eles também exerciam alguma influência no govêrno das cidades.

As principais cidades-Estado fenícias eram Arado, Biblos, Beritus (Beirute), Sídon e Tiro. O território administrado por cada cidade incluía o núcleo urbano principal, algumas vilas menores, as áreas de cultivo e de criação de animais, além das florestas, de onde os fenícios extraíam madeira para a construção de embarcações e a confecção de móveis. As oficinas fenícias ficavam próximas aos portos de embarque de mercadorias, que eram transportadas para as mais diversas regiões.

No final do segundo milênio antes de Cristo, com o aumento do comércio de artefatos de metais, a atividade comercial marítima dos fenícios aumentou consideravelmente. Por volta de 1000 antes de Cristo, os fenícios ampliaram suas rótas por todo o mar Mediterrâneo, chegando ao oceano Atlântico. Ao longo dessas rótas, eles fundaram várias colônias no norte da África, na Sicília, na Sardenha e na costa da Espanha. Nesses locais, eles adquiriam matérias-primas como metais, além de cereais e escravos.

Fenícia, suas colônias e rótas comerciais (1200 -800 )

Mapa. Fenícia, suas colônias e rotas comerciais (1.200 antes de Cristo a 800 antes de Cristo) Mapa representando a região do Mar Mediterrâneo, englobando parte do Norte da África, da Europa e da Ásia (com foco na Ásia Menor e na Mesopotâmia). Alguns territórios estão destacados em cores diferentes. Também há destaque para colônias fenícias e rotas comerciais. Em laranja, 'Fenícia', território localizado na costa leste do Mar Mediterrâneo. Destaque para: Ugarit, Arado, Biblos, Beritus (Beirute), Sídon e Tiro. Em lilás, 'Colonização fenícia', territórios englobando: a costa norte da África, do Estreito de Gibraltar até o Golfo de Sidra, compreendendo parte do norte da região onde viviam os Númidas, com colônias na região do Estreito de Gibraltar, do Cabo Bon e do Golfo de Gabés, e destaque para a colônia fenícia de Cartago, na região do Cabo Bon; o sul da Península Ibérica, com destaque para as colônias de Cádiz e Málaca; as Ilhas Baleares; a Ilha da Córsega; a Ilha da Sardenha, com colônias no Sul da Sardenha; o oeste e o sudeste da Ilha da Sicília, com destaque para a colônia de Siracusa;  e o arquipélago de Malta. Setas vermelha indicam, 'Rotas comerciais'. Partindo da região da Fenícia para a Ilha de Chipre; para o Golfo de Alexandreta, no sul da Ásia Menor; para a Ilha de Rodes; para a Ilha de Creta; para o norte do Egito e para o Golfo de Gabés, no Norte da África. Essa última rota se divide no Mar Mediterrâneo, com um trecho até Siracusa, na Sicília e outro trecho até a região de Cartago. De Cartago, partem seis rotas: uma para  a porção oeste da Sicília; outra para a Ilha da Córsega; e outra para a Sardenha. E no sentido oeste, uma para a região dos Lígures, no entorno do Golfo de Marselha; outra para as ilhas Baleares; e outra para Cádiz, na Península Ibérica.  A partir de Cádiz, uma rota leva ao sul da Ilha da Grã-Bretanha. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 285 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: . Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 34.

O alfabeto fenício

A necessidade dos fenícios de desenvolver um código de comunicação escrita que facilitasse suas atividades, principalmente o comércio, levou-os a adaptar conhecimentos de outros povos e criar o alfabeto, um conjunto de sinais que representam os sons de uma língua.

O alfabeto fenício tinha 22 sinais que representavam as consoantes. Ao serem usados para escrever, os sinais eram alinhados da direita para a esquerda. Por volta do ano 1000 antes de Cristo, o alfabeto fenício se difundiu pêlas regiões ocidental e oriental do mar Mediterrâneo. Ao chegar à Grécia, foi ampliado com a adição das vogais. Mais tarde, a combinação do alfabeto fenício com o grego e o etrusco foi adaptada pelos romanos para desenvolver o alfabeto latino. Embora tenha se modificado ao longo de vários séculos, é esse o alfabeto utilizado hoje para escrever a língua portuguesa e a maior parte das línguas ocidentais.

Inscrição. Sobre um fundo marrom escuro, há caracteres do alfabeto fenício em cor bege claro, dispostos na horizontal. As letras desse alfabeto são formadas por linhas finas.
Inscrição em alfabeto fenício (detalhe) no sarcófago de éshimunazár, rei de Sídon. Século cinco antes de Cristo Museu do Louvre, Paris, França. Poucos escritos fenícios foram encontrados, provavelmente porque muitos eram feitos em papiro, material de origem orgânica que se deteriora rapidamente. Essa inscrição foi encontrada na antiga cidade de Sídon, no atual Líbano.
A religião fenícia

Os fenícios eram politeístas, ou seja, cultuavam vários deuses. Na língua fenícia, deus era Él e deusa era ilá. Mas Éltambém era usado para indicar um deus específico, o pai dos deuses.

Os fenícios ofereciam sacrifícios de animais aos deuses. Há registros de sacrifícios de crianças também. Geralmente, os rituais religiosos eram realizados ao ar livre em regiões elevadas das cidades.

Cada cidade fenícia tinha um deus principal ou um casal de deuses que protegia seus moradores. Por exemplo, em Tiro, a divindade principal era Melkart e, em Sídon, cultuava-se o deus éshimun.

Entre as principais fontes para o estudo da religião fenícia estão as inscrições encontradas na cidade de rás shâmra, no norte da Síria, território da antiga cidade fenícia de ugariti.

Ícone. Sugestão de livro.

CANTON, Kátia. Fabriqueta abecedário. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2017. O livro apresenta, de maneira poética e lúdica, o alfabeto e as possibilidades de combinação e de recombinação das letras para criar palavras e seus significados.

Os persas

Por volta de 2000 antes de Cristo, grupos humanos de origem indo-europeiaglossário se instalaram em uma região de terras férteis entre a Mesopotâmia, a Índia e o Golfo Pérsico. Com o tempo, esses grupos formaram dois povos: os médos e os persas.

Os médos se fixaram próximo aos montes Zagros, no norte do Planalto do Irã. Eles viviam da agricultura e do pastoreio e dominavam a metalurgia do cobre, do bronze e do ouro. Os persas, por sua vez, ocuparam territórios menos férteis ao sul e desenvolveram principalmente atividades comerciais. No início do século seteantes de Cristo, os médos já haviam estabelecido um reino e dominavam vários povos, inclusive os persas.

Por volta de 550 antes de Cristo, o rei persa Ciro segundo derrotou os médos e unificou os dois reinos. Com um exército de 300 mil homens, ele conquistou os reinos da Lídia e da Babilônia, além de cidades gregas na Ásia Menor.

Ciro segundo, conhecido por ser bom administrador e guerreiro, era respeitado pelos persas e por outros povos. Os gregos o chamavam de “grande legislador”, e os judeus, de “o ungido de Deus”. As regiões dominadas pelo exército persa podiam manter sua religião e seus costumes. Com a morte de Ciro segundo, em 530 antes de Cristo, seu filho Cambises o sucedeu no trono e prosseguiu com a expansão do império, conquistando o Egito.

Fotografia. Vista geral de local aberto com ruínas de pedra. No centro da imagem, colunas altas  feitas de pedra nas cores cinza e bege, com ornamentos no topo, e duas grossas vigas retangulares, cada uma decorada, na base, com uma escultura representando o corpo de um animal quadrúpede, arruinado ela ação do tempo. De frente para as ruínas, cerca de onze pessoas em pé, homens, mulheres e uma criança. Em segundo plano, morros com aspecto arenoso. No alto, céu diurno de cor azul claro com nuvens brancas esparsas.
Turistas visitam as ruínas da antiga cidade de Persépolis, capital do Império Persa, localizadas na atual cidade de chirraz, no Irã. Fotografia de 2020.
O govêrno de Dario

Após a morte de Cambises, em 522 antes de Cristo, Dario primeiro assumiu o comando do império. Em seu reinado, os domínios persas atingiram a máxima extensão: da Trácia, no Ocidente, até as margens do rio Indo, no Oriente.

Em seu govêrno, Dario primeiro implantou importantes medidas para estimular a economia e tornar a administração do império mais eficiente:

  • Dividiu o império em satrapias (regiões administrativas), controladas por um sátrapa, uma espécie de governador escolhido pelo rei.
  • Criou uma moeda única, o dárico, impedindo que as satrapias tivessem as próprias moedas.
  • Ordenou a construção de uma grande rede de estradas (a via principal, que ligava as cidades de Sardes e Susa, tinha cêrca de 2.500 quilômetros de extensão).

As medidas tomadas por Dario primeiro facilitaram a administração do império e propiciaram maior circulação de produtos e informações entre as diversas províncias.

O sistema de correio persa

Durante o govêrno de Darioprimeiro, alguns serviços essenciais foram providenciados para garantir as boas condições do transporte e a eficiência do sistema de correio persa.

Ao longo das principais rótas, por exemplo, existiam, a cada 25 quilômetros, postos de parada para descanso dos mensageiros e dos cavalos. Além disso, havia uma rede de hospedarias construídas ao longo da Estrada Real, com distância de um dia de viagem entre uma e outra, e sete postos com balsas para a travessia de rios.

A expansão do Império Persa (550 pontocêrca de-330 )

Mapa. A Expansão do Império Persa (550 antes de Cristo a 330 antes de Cristo). Mapa representando, no centro, as regiões da Mesopotâmia (com destaque para os rios Tigre e Eufrates) e da Média (com destaque para o Planalto do Irã e o Monte Zagros); além de parte do Egito, no leste da África (com destaque para o Rio Nilo); da Ásia Menor, ao sul do Mar Negro;  da Trácia, na região do Mar Egeu, incluindo o estreito de Dardanelos;  parte da Península Arábica; da Bactriana, a leste do Mar de Aral; e da Índia, com destaque para o Rio Indo. Há territórios destacados em cores distintas e uma linha indicando uma estrada. Em laranja, 'Núcleo original' persa, compreendendo um pequeno território ao norte do Golfo Pérsico. Com destaque para a cidade de Persépolis. Em lilás, o 'Império de Ciro', compreendendo um grande território que se estende, no leste, da região em torno do Rio Oxo, na Ásia Central, até o Mar Mediterrâneo, no leste, englobando as regiões de Bactriana, Média, Mesopotâmia, Chipre, Ásia Menor, Lídia e parte do Oriente Médio. Com destaque para as cidades de: Samarcanda, na região da Bactriana; Persépolis, Pasárgada e Ecbátana, na região da Média; Assur e Babilônia, na Mesopotâmia; Damasco, Tiro e Jerusalém, no Oriente Médio; e Sardes, Éfeso e Mileto, na Ásia Menor. Em amarelo, 'Conquistas de Cambises', abarcando o norte e o leste do Egito, com destaque para a cidade de Mênfis, no Delta do Nilo; e um território desde a Península do Sinai até o Rio Tigre, no norte da Arábia. Em verde, 'Conquistas de Dario Primeiro', compreendendo a região da Trácia, com destaque para a cidade de Bizâncio; um território a leste do Mar Negro; um território a leste de Samarcanda, na Ásia Central; e parte do vale do Rio Indo, até o Mar Arábico. Uma linha de cor azul indica, 'Estrada Real', ligando Susa, na Média, a oeste do Monte Zagros; a Sardes, na Ásia Menor, na região da Península da Anatólia. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 310 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: . Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página40.

A sociedade persa

A sociedade persa dividia-se em três grupos: os sacerdotes ou magos, respeitados por sua riqueza e sabedoria; os nobres, que controlavam a terra e a administração palacial; e os camponeses, que sobreviviam da agricultura e do pastoreio nas terras dos nobres e do rei.

O comércio era a principal atividade econômica dos persas e alcançava terras tão distantes como Egito, Fenícia, Chipre, Índia e a costa do mar Negro. O artesanato persa era muito valorizado, especialmente os tecidos, as armas, objetos esmaltados e as joias.

A principal religião era o zoroastrismo, fundado no século seis antes de Cristo por Zaratustra, também conhecido como Zoroastro. Para os zoroastristas, existiam duas forças opostas que lutavam entre si: , o criador benéfico, e Arimã, o destruidor. Cabia aos homens praticar boas ações para que prevalecesse. O zoroastrismo é considerado uma das primeiras religiões a exigir dos fiéis uma conduta moral.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Multiculturalismo

Costumes persas

As conquistas e o comércio persas possibilitaram um grande intercâmbio cultural. Ao entrar em contato com diferentes povos, os persas se apropriaram de muitos costumes estrangeiros, sem, com isso, abandonar antigas tradições. É o que nos mostra o texto a seguir.

Os persas dominaram a civilização babilônica no século seisantes de Cristo Como eram originários de uma região montanhosa de clima frio no atual Turquestão, usavam trajes mais quentes, mas logo os substituíram pêlas túnicas franjadas e os mantos do povo conquistado. Além da lã e do linho, tinham também acesso à sêda trazida da China pêla longaRóta das caravanas. No entanto, conservaram seu adôrno de cabeça, o chapéu macio de feltro que os gregos chamavam de “frígio” e que, cêrca de 2 mil anos depois, seria adotado pelos revolucionários franceses como “o chapéu vermelho da liberdade”. Também conservaram seus sapatos característicos, uma bota fechada de couro flexível com ponta ligeiramente voltada para cima. A inovação mais importante foi o uso de calças, que passaram a ser consideradas o traje típico persa e, se pudermos confiar nos parcos registros disponíveis, também foram usadas pêlas mulheres.

leiver djeimis . A roupa e a moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.página 15.

Fotografia. Detalhe de uma escultura em relevo sobre uma superfície de pedra plana de cor cinza.  O relevo representa um guerreiro, visto de frente, esculpido e pedra em tons de rosa claro. Ele tem o braço direito erguido para o alto; com a mão esquerda, ele segura um escudo redondo atrás de si. A cabeça dele está voltada para a direita e ele veste uma túnica curta de mangas compridas, com pregas na parte inferior. Usa calças compridas e botas, além de um chapéu sobre  a cabeça. Ao redor dele, há outras figuras em relevo, nos mesmos tons de rosa claro,  vistas parcialmente. À esquerda do guerreiro, vista parcial de um cavalo empinado sobre as patas traseiras.
Guerreiro persa esculpido em sarcófago. Séculoquatroantes de Cristo relêvo em mármore (detalhe). Museu Arqueológico de Istambul, Turquia.

Quais costumes descritos no texto podem ser identificados nessa representação grega de um guerreiro persa?

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Em seu caderno, copie o quadro e complete-o com as afirmativas a seguir.

Hebreus

Fenícios

Persas

  1. Povo que se estabeleceu no Planalto do Irã no segundo milênio antes de Cristo
  2. Diferentemente dos demais povos da Antiguidade, eram monoteístas.
  3. Povo de origem semita que migrou da Mesopotâmia para a região da Palestina no segundo milênio antes de Cristo
  4. Povo de origem semita que se estabeleceu em uma faixa de terra entre o mar Mediterrâneo e as montanhas do atual Líbano.
  5. Criaram as satrapias, unidades administrativas controladas por um governador nomeado pelo rei.
  6. As condições geográficas da região em que essa civilização se estabeleceu favoreceram o desenvolvimento da navegação e do comércio marítimo.

2. Leia o texto a seguir do historiador brasileiro Jaime Pinsky sôbre o uso da Bíblia como evidência histórica e responda às questões em seu caderno.

É preciso ter presente que a Bíblia tem um compromisso básico com a unidade do povo hebreu e não com a narrativa fiel de acontecimentos. reticências O fato de questionarmos a historicidade de algum personagem não significa que não possamos tirar da história contada informações que nos interessam. O narrador acaba referindo-se a costumes e padrões de comportamento que caracterizam uma época e a mitos que derivam de uma região. Assim, não há contradição entre questionar a historicidade de personagens bíblicos, colocar em dúvida alguns dos fatos milagrosos ali narrados e utilizar o material como fonte para o trabalho do historiador.

PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. décima quinta edição São Paulo: Atual, 1994. página 83.

  1. Por que, segundo o autor, a historicidade de alguns aspectos da narrativa bíblica pode ser questionada?
  2. Segundo o texto, por que a Bíblia pode ser utilizada como fonte histórica?

3. Com base no que você estudou e no texto a seguir, responda às questões em seu caderno.

Por volta de 1000 antes de Cristo reticências iniciaram um processo de expansão sem precedentes. Eles já dominavam a metalurgia, fabricavam ligas de ouro e outros metais, eram excelentes para fazer armas, objetos de vidro e cerâmica.

Além disso, praticamente monopolizavam o comércio de algumas matérias-primas mais valorizadas da época, como marfim, pedras preciosas e púrpura, um pigmento extraído de moluscos utilizados para tingir tecidosreticências. Mas eles se destacavam, sobretudo, pêla sua numerosa e proeminente frota naval.

MAUSO, Pablo víliarúbia. Cartago: a joia dos fenícios. Aventuras na História, número 2, 1o agosto 2003.

  1. O texto se refere a que povo? Qual território ele habitava?
  2. Quais eram as principais atividades econômicas desse povo informadas no texto?

4. Junte-se a um colega, observem a imagem, leiam a legenda e respondam às questões a seguir.

Fotografia. Detalhe de um baixo-relevo esculpido sobre uma pedra de cor bege.  Na parte inferior da imagem, uma embarcação virada para a esquerda, em forma de 'C' com a abertura voltada para cima. A proa da embarcação tem o formato da cabeça de um animal; a popa, forma sua cauda. Há quatro cilindros longos, como troncos de árvores, empilhados e apoiados sobre cada uma das pontas da embarcação. Há quatro pessoas à abordo da embarcação, segurando remos ao lado dela. A embarcação está sobre águas representadas por meio de uma textura composta de linhas curtas em várias direções que se cruzam. Acima e abaixo da embarcação, figuras em relevo representando peixes e animais marinhos.
Representação em baixo-relêvo das práticas de construção de embarcações, de navegação e de comércio feitas pelos fenícios. cêrca de 713 antes de Cristo-716 antes de Cristo Pedra, 2,41 por 38 centímetros. Museu do Louvre, Paris, França.
  1. Que povo produziu esse relêvo e em que época?
  2. O que é possível conhecer sôbre o modo de vida desse povo ao observar esse documento histórico?

Glossário

Indo-europeu
Termo que designa as populações que ocuparam e conquistaram, ao longo de centenas de anos, grande parte da Europa e da Ásia Ocidental. Trata-se de uma classificação linguística, pois esses povos, ao que parece, tinham uma língua comum. Essa língua deu origem aos idiomas grego, sânscrito, latim, persa, entre outros.
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