UNIDADE quatro POVOS DA ANTIGUIDADE NA ÁFRICA

Fotografia. Vista de local aberto com solo pedregoso e arenoso de cor bege claro, com uma pirâmide ao fundo. Em primeiro plano, um homem vestido com roupas brancas, visto de costas, puxa dois camelos por uma corda. Os camelos são vistos de costas, com tecidos vermelho e laranja sobre o dorso e presos um ao outro por corda. Ao redor deles, ruínas de construções em pedra. Ao fundo uma pirâmide grande de cor bege. No alto, o céu azul sem nuvens.
As pirâmides egípcias são construções geométricas que até hoje intrigam pela sua grandiosa estrutura, pela técnica e pela beleza arquitetônicas. Essas antigas construções tinham funções funerárias e abrigavam câmaras com sarcófagos, onde eram depositados os restos mortais de pessoas importantes, junto com seus objetos pessoais, escritos e até comida e bebida. Os corpos de reis, rainhas e nobres eram mumificados para que resistissem ao tempo e pudessem ter uma boa vida em outro mundo. Pirâmide de Gizé, no Cairo, no Egito. Fotografia de 2019.

Você estudará nesta Unidade:

A formação e a organização social do Egito Antigo

A importância da religião para os egípcios

O Reino de Cuxe e suas diversas configurações

Fotografia. Vista de local aberto com solo de areia. Sob um céu azul sem nuvens, na linha do horizonte,  há  várias pirâmides, uma ao lado da outra, de cor marrom. As pirâmides estão com o topo em ruínas e possuem formato semelhante.
Pirâmides de Méroe, na Núbia, no Sudão. Fotografia de 2020.
Fotografia. Vista de local aberto, uma construção grande, escavada em uma montanha de pedra cor de areia. Na entrada, escavada em formato de trapézio, com uma porta retangular no centro, existem quatro estátuas colossais representando pessoas sentadas com as mãos sobre os joelhos, duas à esquerda da porta e outras duas à direita. Há pessoas em fila na porta da construção. Uma das estátuas da esquerda está com as partes do tronco e da cabeça destruídos pela ação do tempo.
Templo de Ramsés dois, em Abu Simbel, no Egito. Fotografia de 2020.

Assim como na Ásia, no continente africano, após a sedentarização de grupos humanos, certas sociedades se organizaram em cidades-Estado independentes. Algumas dessas sociedades se expandiram com a conquista de novos territórios e estabeleceram impérios.

Uma das mais conhecidas sociedades africanas antigas é a do Egito, mas outras importantes sociedades se formaram nesse continente, na região da Núbia. Essas antigas sociedades se desenvolveram às margens do rio Nilo, que percorre grande extensão do território africano. As atividades agrícolas puderam florescer com o aproveitamento dos recursos hídricos e das terras férteis em torno do rio Nilo.

Você conhece histórias de faraós, pirâmides e múmias? Você sabia que a civilização egípcia integra as antigas culturas africanas? Sabe onde fica a região da Núbia ou algo sôbre as sociedades que ali se formaram?

CAPÍTULO 9  O EGITO: A CIVILIZAÇÃO DO NILO

O rio Nilo, localizado na África, é um dos rios mais extensos do mundo. Ele nasce na Floresta nigue, em Ruanda, no centro do continente, e atravessa mais nove países antes de desaguar no mar Mediterrâneo. O rio, com suas cheias periódicas, tem sido fonte de vida para as populações locais há milhares de anos. Por isso, às suas margens, formaram-se, ao longo do tempo, diversas aldeias e cidades.

Os egípcios antigos perceberam que o rio Nilo tinha períodos de enchente e períodos de retração de suas margens, fases que se repetiam regularmente. Ao notar que o rio tinha esse ciclo, que recomeçava a cada ano, eles puderam planejar as atividades para aproveitar os benefícios do rio e evitar que as enchentes causassem danos às casas e à lavoura.

Observando a natureza, os egípcios também perceberam que o início das enchentes do rio coincidia com o reaparecimento da estrela no céu. O evento era esperado e celebrado com uma grande festa, que marcava o início do ano no calendário egípcio.

O Egito Antigo

Mapa. O Egito antigo. Mapa representando o nordeste da África e a Península do Sinai, com o Mar Vermelho a leste e o Mar Mediterrâneo ao norte. No centro, a região do vale do Rio Nilo. A oeste, o Deserto do Saara. A leste, a Península do Sinai. Há uma área destacada em verde e alguns ícones dispostos no mapa. Algumas cidades também estão destacadas com bolinhas pretas. Em verde, Zona fértil e cultivável. O destaque colorido acompanha o curso do rio Nilo, ao longo do qual se situavam, no sul, as regiões de Cuxe (entre a quinta e a quarta catarata e a terceira catarata do Rio Nilo), e da Núbia (entre a terceira e a segunda catarata do Rio Nilo), com destaque para as cidades de Kerma, Tombos, Soleb e Ibsamboul. No centro, a região do Alto Egito,  próxima à primeira catarata do Nilo, com destaque para as cidades de Siena (Assuã), Karnak e Tebas, abrangendo ainda o Vale dos Reis. No norte, próximo ao Delta do Nilo, a região do Baixo Egito. Com destaque para as cidades de Akhenaton, Hermópolis, Mênfis, Gizé, Heliópolis e Tânis. Ícones em formato de pirâmide demarcam a localização das pirâmides de Gizé, erguidas na região do Baixo Egito,  próximas ao Delta do Nilo. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos escala de 0 a 210 quilômetros.

O Rio Nilo na África atual

Mapa. O Rio Nilo na África atual. Mapa representando o nordeste do continente africano, destacado em verde claro. A leste, a península arábica. As fronteiras atuais entre os países africanos estão demarcadas por linhas brancas. Um linha curvilínea azul indica o curso do Rio Nilo e de outros, não nomeados. O Rio Nilo atravessa os seguintes países africanos: Quênia, Uganda, Sudão do Sul, Etiópia, Sudão e Egito. Destacam-se algumas cidades no percurso, como Juba (capital), no Sudão do Sul; Cartum (capital), no Sudão; Asmara (capital), na Eritreia; Adis-Abeba (capital), na Etiópia;  Assuã, Cairo (a capital), Suez e Port Said no Egito. Localizado entre o Delta do Nilo e a Península do Sinai, a leste de Port Said, Cairo e Suez, o Canal de Suez está destacado por uma seta. No canto direito, rosa dos ventos e escala de 0  a 435 quilômetros.

Elaborados com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 7; FERREIRA, Graça M. Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. quarta edição São Paulo: Moderna, 2013. página 81.

A formação do Egito Antigo

Os primeiros grupos humanos começaram a se instalar no Vale do Rio Nilo por volta de 6000antes de CristoVivendo inicialmente de fórma igualitária, com o tempo as comunidades cresceram e surgiram diferenças sociais entre seus membros. É provável que a necessidade de organizar a irrigação tenha levado essas comunidades a se unirem formando grupos maiores, chamados nomos.

Os nomos cresceram rapidamente. Por volta de 3300antes de Cristo, a união de vários nomos deu origem a dois reinos: o Alto Egito, no sul, e o Baixo Egito, no norte. Conta a tradição que duzentos anos mais tarde o rei Menés, do sul, unificou os dois reinos e fundou a realeza faraônica. Por isso, Menés é considerado o primeiro faraó do Egito.

No longo período que vai de 2700 antes de Cristo a 1069 antes de Cristo, o Estado egípcio se fortaleceu e conquistou novas terras, formando um império. A fase de maior extensão territorial se deu entre 1570antes de Cristo e 1069 antes de Cristo Os faraós desse período estenderam os domínios egípcios à Palestina, à Síria, à Ásia Menor e à Núbia. Durante os séculos em que o Império Egípcio se manteve no poder, os territórios sob seu domínio foram governados por dinastias reais, ou seja, famílias de faraós que se sucederam no poder. Organizar e distribuir a produção agrícola, controlar a ordem pública e supervisionar toda e qualquer atividade eram tarefas realizadas por funcionários do Estado. Todos eles estavam subordinados ao faraó.

O poder centralizado

Apesar de as cheias do Nilo favorecerem o cultivo da terra, as boas colheitas não dependiam apenas da natureza. Os egípcios logo aprenderam a lidar com suas variações e com o ciclo do rio. Por isso, era necessário estocar alimentos para os períodos de sêca, construir diques para barrar a fôrça da correnteza e um sistema de canais para distribuir melhor a água pelo vale e facilitar a deposição do limo fertilizante. Tudo isso requeria organização e trabalho coletivo. Muitos historiadores acreditam que a necessidade de organizar esses trabalhos, associada às crenças religiosas, explica a centralização do poder nas mãos de um governante como o faraó.

Fotografia. Vista de local aberto, à direita, em plano inclinado, o rio em primeiro plano, à esquerda, uma de suas margens. Na margem vê-se vegetação rasteira e palmeiras de folhas verdes, altas. Ao fundo, mais terreno com vegetação. No alto, céu azul com nuvens brancas.
Campos cultivados às margens do rio Nilo. cérca de um terço da população que vive hoje no Egito é composto de agricultores, que dependem do regime de cheias do Nilo. Fotografia de 2019.

O faraó e seus colaboradores

O faraó era o rei e o supremo sacerdote do Egito Antigo. Era considerado um deus encarnado, escolhido por outros deuses para garantir a estabilidade no mundo. Ele estava ligado ao deus Hórus, filho dos deuses Ísis e Osíris e rei do mundo dos vivos.

Com sua autoridade divina, o faraó definia os objetivos do govêrno, comandava o exército e controlava a administração de todo o Egito. Na prática, ele era auxiliado por pessoas encarregadas de celebrar os cultos e de administrar e proteger as terras egípcias. Desde cêrca de 2500antes de Cristo, havia no Egito uma camada numerosa de funcionários que coordenavam as obras públicas, cobravam impostos e cuidavam dos templos e dos palácios. Os funcionários mais importantes eram o vizir, os sacerdotes e os escribas.

  • O vizir era o mais importante funcionário do Estado. Ele presidia o tribunal de justiça, chefiava a polícia e os assuntos externos e controlava a arrecadação de impostos em todo o império.
  • Os sacerdotes administravam os templos e realizavam os serviços religiosos. Possuíam muitas terras e milhares de pessoas trabalhavam para eles.
  • Os escribas se destacavam porque sabiam ler e escrever. Eles registravam os impostos arrecadados, faziam o censo da população, dos animais e das colheitas.

As guerras travadas contra os invasores hicsosglossário , iniciadas por volta de 1600 antes de Cristo, fortaleceram o exército e seus chefes militares. No esforço para expulsar o invasor, o govêrno egípcio criou um exército profissional. Mas, enquanto os oficiais provinham geralmente das camadas mais abastadas da população egípcia, os soldados eram recrutados entre os estrangeiros.

Fotografia. Escultura em pedra de cor cinza, representando uma figura humana sentada sobre os pés e com as duas mãos sobre os joelhos. A figura tem cabelos curtos, com uma franja sobre a testa e está nua, apoiada sobre uma base retangular horizontal.
Escultura representando o sacerdote rretepidiéf orando ajoelhado. cêrca de 2650antes de Cristo Escultura de granito rosa, 39 por 18 por 20 centímetros. Museu Egípcio, Cairo, Egito.
Fotografia. sobre um fundo dourado, entalhadas, pintadas e com alguns pontos coloridos feitos de pedras preciosas, as figuras de duas pessoas representadas com a pele em vermelho e os cabelos em azul,  uma de frente para outra. À esquerda, sentado em um trono, um homem, visto de perfil, com um colar grande, dourado e azul, ao redor pescoço, o peito nu, vestido com uma saia longa branca pregueada e com enfeite dourado e azul preso à cintura, estendendo-se por suas pernas.  À frente dele, à direita, uma mulher de pé com a mão esquerda apoiada sobre o ombro do homem. Ela também está de perfil e veste uma túnica branca e longa com um colar grande, dourado e azul, ao redor pescoço. Ao redor deles, objetos, ornamentos e frisos em tons de dourado e azul.
Detalhe do trono do faraó tutancâmon . 1327 antes de Cristo Madeira, ouro, prata e pedras preciosas.

Viver no Egito Antigo

A maior parte da população do Egito era constituída de camponeses. Eles cultivavam as terras do faraó, dos sacerdotes e dos altos funcionários do Estado.

As cheias periódicas do rio Nilo organizavam a vida cotidiana. De julho a setembro, o nível do rio subia e suas águas inundavam as margens. Nesse período, os camponeses eram recrutados pelo faraó para trabalhar na construção de templos, canais de irrigação e outras obras públicas. A partir de outubro, as águas baixavam e os camponeses começavam a semear a terra. O solo, umedecido e fertilizado pelo húmusglossário , estava pronto para a semeadura.

Os camponeses viviam com poucos recursos, pois apenas uma pequena parte da colheita ficava com eles. A maior parte dos rendimentos era destinada aos donos da terra e ao faraó, como pagamento pelo uso da terra e dos impostos cobrados pelo Estado.

Vários relatos da época descrevem a vida difícil dos camponeses. Além do trabalho duro da semeadura e da colheita, eles tinham de combater insetos, pássaros e ratos que estragavam as plantações. Ademais, nem sempre as cheias do rio Nilo eram suficientes para irrigar e adubar o solo. Quando chovia pouco, os egípcios passavam por graves crises de fome.

Escravos ou livres?

Os camponeses egípcios não eram escravos, mas também não podemos afirmar que fossem livres. Não tinham autonomia para decidir o que fazer de suas vidas: eram obrigados a obedecer às convocações periódicas do faraó, fosse para trabalhar nas obras públicas, fosse para servir ao exército. Além disso, podiam ser castigados pelos funcionários encarregados das obras, se estes julgassem que não estavam trabalhando corretamente. Também eram castigados pelos cobradores de impostos, quando não conseguiam pagar os tributos exigidos pelo faraó.

Pintura. Sobre um fundo de cor bege, três homens vistos de perfil e em pé usam saiote branco e trabalham com forquilhas (ferramenta longa com a ponta em forma de garfo). À frente deles, montes de trigo. À esquerda, um dos homens é mais alto que os demais e está com o corpo voltado para a direita; outros dois são mais baixos e estão em meio ao montes de trigo. À esquerda, vista parcial de árvore de galhos em bege e folhas pequenas em azul. Debaixo dela, um homem muito menor do que os outros, sentado, de com um tecido branco ao redor do quadril, segurando nas mãos um bastão fino e bege.
Camponeses recolhendo trigo. cêrca de 1420 antes de Cristo‑1411 antes de CristoPintura mural (detalhe) na tumba de Menna, em Luxor (antiga Tebas). As pinturas murais egípcias – como esta, na tumba de um escriba – são importantes fontes para conhecer aspectos do cotidiano daquela sociedade.
Os ofícios da cidade

À medida que os domínios egípcios se expandiram e a economia se desenvolveu, novas profissões apareceram. Por exemplo, a de “carregador de sandálias”, trabalhador que transportava as sandálias do faraó e uma chaleira com água para lavar seus pés; ou a de passarinheiro, pessoa encarregada de caçar as aves no céu.

A maior diversidade de profissões era encontrada nas cidades. No Egito Antigo, um assentamento era considerado urbano se uma parte expressiva dos seus habitantes se dedicava a atividades não agrícolas, ainda que essas atividades estivessem muito ligadas ao trabalho no campo.

As cidades egípcias se diferenciavam por suas funções. Havia cidades de pirâmides, como gizé, que abrigavam operários que construíam as tumbas reais e sacerdotes que cuidavam do culto ao faraó morto. Outras cidades tinham sido construídas para ser a residência da família real. Era o caso de per râmssés, na região do delta, que abrigava joalheiros, sapateiros, oleiros, padeiros, entre outros artesãos, além de escribas e sacerdotes.

Nas cidades-porto, que funcionavam como centros de comércio ou bases navais, havia mercadores, construtores de barcos, ferreiros, militares, entre outros profissionais. Muitas dessas profissões ainda existem nos dias de hoje, embora as técnicas, os materiais e o local de trabalho sejam diferentes.

Pintura. Três linhas horizontais com diversas figuras humanas exercendo diferentes tipos de atividades. Todos estão vestidos com tecidos de cor branca ao redor do quadril e tem o torso nu. Na linha superior,sentados sobre banquinhos baixos,  três homens trabalham com vasos menores, tendo às mãos pincel e escovas. Na linha intermediária, há seis homens. Uns carregam grandes vasos, outros os esculpem, lixam e limpam. Na linha inferior, sete homens trabalham, sendo que três carregam baldes nos ombros e outros três revolvem terra com as mãos; outro homem observa, trazendo nas mãos um bastão com uma corda na ponta.
Trabalhadores egípcios produzindo vasos. Século quinze antes de Cristo Pintura mural (detalhe). Esta pintura foi feita na tumba do vizir réquimirê, em Luxor (antiga Tebas). Além do faraó, apenas os altos funcionários tinham tumbas tão ricamente decoradas.
Homens e mulheres na terra dos faraós

A real situação da mulher no Egito Antigo é motivo de muita polêmica entre os estudiosos. Há, de um lado, os que defendem que as mulheres e os homens tinham os mesmos direitos e a mesma importância social; e, de outro, os que avaliam que as mulheres estavam relegadas a uma posição secundária naquela sociedade. Para esses autores, as poucas rainhas-faraós conhecidas só assumiram o trono porque não havia sucessores do sexo masculino.

Apesar da incerteza, os estudiosos admitem que as mulheres egípcias tinham direitos que inexistiam na maior parte das civilizações antigas. Em geral, podiam exercer os mesmos ofícios que os homens e aparecer em público sem restrições. No entanto, tudo indica que não havia uma situação homogênea entre elas. Se as mulheres da elite gozavam de ampla proteção legal, o mesmo não acontecia com as mais pobres, como as camponesas e as artesãs. Mas estas podiam recorrer aos tribunais caso se sentissem maltratadas.

Homens e mulheres podiam adquirir bens próprios. Os casamentos podiam ser arranjados ou ocorrer por amor, mas nada indica que houvesse uma cerimônia religiosa ou jurídica, apenas uma festa para celebrar a união do casal. É provável que os homens se casassem entre os 16 e os 20 anos, e as mulheres, por volta dos 14 anos. Existia o divórcio, e este podia ser solicitado por ambos. As razões para isso podiam ser várias, como adultério, incapacidade de gerar filhos ou desentendimento entre o casal.

Fotografia. Uma pedra de cor marrom-claro e formato de u de ponta cabeça, apoiada sobre base reta na horizontal. No centro da peça, esculpidas em baixo relevo, duas figuras humanas, uma de frente para a outra, representadas de perfil, com instrumentos nas mãos. À esquerda, um homem com cabelos pretos até a altura dos ombros e com o torso nu, com colar grosso no pescoço, saiote branco na cintura segura um objeto fino na horizontal com a mão esquerda e, na outra mão, um bastão longo na posição vertical. À direita, mulher de cabelos pretos e longos, com vestido regata de cor branca e com um objeto na mão esquerda, similar a um leque. Ambos estão descalços. Entre eles e acima de suas cabeças, há diversas inscrições em hieroglifos de cor azul.
Monumento funerário representando um casal. cêrca de2000 antes de Cristo Museu Egípcio, Cairo, Egito.
Ícone. Sugestão de livro.

uíliams, Marcia. Egito Antigo, contos de deuses e faraós. São Paulo: Ática, 2012. Neste livro, no formato de história em quadrinhos, você vai conhecer mais sobre os mistérios, as aventuras e as lendas que envolvem as trajetórias dos faraós do Egito Antigo.

A religião

No Egito dos faraós a religião estava presente em todos os momentos da vida. Cada cidade, cada vila e cada lar cultuavam divindades específicas, mas havia também deuses e deusas cultuados em todo o Egito. De tempos em tempos, o deus relacionado à dinastia do faraó poderia se tornar uma divindade reverenciada em todo o território, pois, afinal de contas, o faraó também era um escolhido dos deuses.

“Por que chove tanto em alguns meses? Por que há o dia e a noite? Por que a Lua muda de fases?” Questões como estas, no Egito Antigo, tinham respostas religiosas. O deus Hapi, por exemplo, era a divindade que trazia as inundações e cobria a terra com o húmus fertilizante. Os deuses também simbolizavam as qualidades humanas. A deusa Ísis, por exemplo, representava a boa espôsa e a mãe que cuida muito bem do filho (o deus Hórus).

O mundo dos mortos

A crença na vida após a morte era um ponto central da religião no Egito Antigo. Na visão de mundo dos egípcios havia uma relação de continuidade entre a vida terrena e o que eles chamavam de mundo inferior. A vida era vista por eles como uma caminhada. No momento da morte física, o coração parava e essa caminhada era interrompida. Por isso, era necessário preparar o morto para retomar, após a morte, o caminho iniciado no mundo terreno.

O preparo do morto para renascer no mundo inferior envolvia várias práticas funerárias que tinham como centro o ritual da mumificação. Os rituais funerários, da preparação da múmia ao entêrro na tumba, tinham como função eliminar do corpo tudo o que causasse corrupção e podridão, criando, assim, um corpo purificado para trilhar o caminho da eternidade.

Pintura.  Sobre um fundo branco, duas mulheres em pé, uma ao lado da outra, voltadas para a direita e representadas de perfil. À esquerda, uma mulher de cabelos pretos longos, com vestido longo branco, com cinto laranja amarrado com faixas caindo à frente de seu corpo, com um ornamento alto, dourado e vermelho sobre a cabeça e braceletes pretos no pulso. À direita, outra mulher de cabelos pretos até os ombros, com vestido de cor marrom com estampas, com bracelete marrom e colares. Sobre a cabeça dela, ornamento preto, similar a um par de chifres com um círculo laranja ao centro. Ela segura a mão da mulher atrás dela e, na mão esquerda, segura um bastão fino na posição vertical.
A rainha egípcia Nefertari (à esquerda) e a deusa Ísis (à direita) representadas na tumba de Nefertari.cêrca de1290 antes de Cristo-1224 antes de Cristo Afresco (detalhe). Vale dos Reis, Egito.
Ícone. Sugestão de livro.

belerr ôde grrô. O Egito Antigo passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2016. O Egito é bastante conhecido por suas pirâmides, seus deuses e faraós, mas o livro traz outras informações sôbre o mundo dos egípcios, como quais eram as profissões na época, o que faziam pra se divertir, além de curiosidades e detalhes sôbre como os egípcios viviam no dia a dia.

A escrita egípcia

A escrita egípcia parece ser tão antiga quanto a suméria, mas não há certeza sôbre isso. A primeira fórma de escrita no Egito foi o hieróglifo, que surgiu por volta de 3300 antes de Cristo No início, a escrita egípcia era pictográfica, isto é, representava objetos por meio de desenhos. Com o tempo, essa escrita passou a ser ao mesmo tempo ideográfica, contendo sinais representando ideias, e fonética, com sinais que representavam sons da fala.

A escrita hierática era uma escrita hieroglífica simplificada usada em registros cotidianos, para evitar a complexidade da escrita hieroglífica. O registro mais antigo dessa escrita data de meados do terceiro milênio antes de Cristo. A escrita demótica, ou popular, apareceu por volta do ano 700 antes de Cristo Era uma escrita mais simples, que servia também para escrever cartas, fazer contas e registros.

Os egípcios usavam vários materiais para escrever. Os hieróglifos eram usados principalmente para escrever nas paredes dos templos, em monumentos funerários e, em alguns casos, no papiro. Anotações cotidianas eram feitas em madeira e papiro, tanto na escrita hierática quanto na demótica.

Saber ler e escrever no Egito Antigo era indispensável ao indivíduo que quisesse seguir uma carreira de funcionário do faraó, ser sacerdote de um templo ou mesmo general de um exército.

Com o passar do tempo e o fim da realeza faraônica, os hieróglifos caíram em desuso e nem mesmo os egípcios compreendiam aqueles sinais.

A decifração dos hieróglifos

Em 1799, um grupo de soldados franceses descobriu na cidade de Roseta, no Egito, uma pedra com inscrições em hieróglifo, demótico e grego. Ao traduzir as inscrições em grego e em demótico, pesquisadores concluíram que se tratava do mesmo documento, escrito em duas línguas diferentes.

O próximo passo era descobrir a relação entre os hieróglifos e os caracteres gregos e demóticos. O trabalho de tradução mais bem-sucedido foi o do linguista francês , grande conhecedor da cultura egípcia.

Graças aos estudos do físico e egiptólogo britânico tômas iang, champolión reconheceu o nome do faraó egípcio Ptolomeu, comparando a posição dele na escrita hieroglífica e nas escritas demótica e grega. A descoberta descortinou uma história de milhares de anos.

Fotografia. Uma pedra grande de cor cinza, com bordas irregulares. Sobre a pedra, escrituras na horizontal, em linhas, ilegível.
Pedra de Roseta. Séculodoisantes de Cristo Inscrições em granito negro, 114 por 72 centímetros. Museu Britânico, Londres, Inglaterra.
Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

O Livro dos Mortos

O Livro dos Mortos é uma coletânea de orações, cânticos e hinos religiosos produzidos durante o Novo Império. Antes de começarem a ser escritos, provavelmente, os textos foram recitados e transmitidos por uma longa tradição oral; por isso, é difícil determinar quando eles de fato surgiram.

Acredita-se que esses textos eram usados para guiar o falecido em sua viagem pelo mundo inferior. Segundo a tradição egípcia, quando uma pessoa morria, a alma se separava do corpo e o reencontrava antes de se apresentar no Tribunal de Osíris. No tribunal, ocorria o momento decisivo para a regeneração do morto e sua admissão na eternidade: a pesagem do coração. Na presença do deus Anúbis, o coração do morto era colocado em uma balança que tinha como contrapêso a pluma de maát, deusa da verdade, da justiça, da ordem e do equilíbrio.

Observe a seguir uma ilustração do Livro dos Mortos, dividida em duas cenas.

Fotografia. Folha de papiro de cor marrom-claro, com desenhos em duas camadas. Primeira cena do Livro dos Mortos. Sobre um fundo de papiro na cor bege, na camada superior, à esquerda, um homem de túnica branca e cabelos escuros está ajoelhado com as mãos para cima. Uma seta destacando-o apresenta o texto: 'Hunefer se ajoelha diante de 14 deuses e juízes da morte.' À esquerda dele, há 14 figuras sentadas com os joelhos flexionados, com traços humanos e animais, usando roupas longas e cores variadas: bege, branco e verde. Todos eles têm sobre o joelho um desenho similar a uma chave, composto por uma haste vertical, encimada por uma outra haste, horizontal, mais curta e uma forma de gota invertida sobre ela; trata-se do símbolo de ank. Acima deles, hieróglifos escritos na vertical. Logo abaixo, ocupando o centro do papiro, cinco figuras, sendo quatro delas com cabeça de animal no lugar da cabeça humana. À esquerda, a única pessoa com cabeça humana, de túnica branca e cabelos escuros, tem uma seta, destacando-o, com o texto: 'O escriba Hunefer (à esquerda) é conduzido ao tribunal por Anúbis, o deus chacal, protetor dos embalsamadores e da necrópole'. O escriba Hunefer, dá a mão esquerda para uma criatura com corpo humano e uma cabeça de chacal nas cores preta e azul, Anúbis, que segura a mão de Hunefer e leva uma chave na outra mão. À frente deles, em menor formato, duas figuras antropomórficas estão abaixadas diante de uma grande balança de pratos, Anúbis e Ammut. Anúbis tem uma seta destacando-o com o texto: 'Anúbis pesa o coração de Hunefer, comparando-o ao peso da pluma de Maat, que simboliza as leis espirituais'. Ammut, com um corpo de leão e cabeça de crocodilo, com uma juba longa cor de rosa, tem uma seta destacando-a com o texto: 'Ammut é a deusa que devora os pecadores. Se o morto for absolvido de seus pecados, ele continua sua caminhada. Caso contrário, é devorado por Ammut'. À direita, tendo o mesmo tamanho das figuras de mãos dadas, uma figura de corpo humano e cabeça de ave, nas cores verde e azul, vestido com um tecido branco ao redor de seu quadril e o peito nu, Thot. Ele tem uma seta destacando-o com o texto: 'Thot, deus da sabedoria e escriba dos deuses, registra o resultado da pesagem'. Thot segura nas mãos uma tábua de escrita e um estilete, e registra um texto sobre a tabuleta.
Fotografia. Folha de papiro de cor marrom-claro. Segunda cena do Livro dos Mortos. Na sequência da cena anterior, o escriba Hunefer, à esquerda da imagem, aparece ao lado de uma figura humana com cabeça de falcão, Hórus. Ele tem uma seta destacando-o com o texto: 'Hórus, deus do céu e filho de Ísis e Osíris, leva Hunefer ao julgamento final.' Hórus segura um ank na mão esquerda aponta para a frente, com a mão direita, indicando a direção de uma espécie de tenda, com uma plataforma estreita e cinza, sobre a qual há um trono. Acima de toda essa cena, há hieróglifos escritos na vertical. À direita, sobre o trono, está sentado Osíris; ele tem a pele na cor verde, usa roupa toda branca e uma espécie de chapéu branco e comprido, longo e vertical. Ele tem uma seta destacando-o com o texto: 'Osíris, rei do mundo dos mortos, aguarda Hunefer'. Atrás do trono, há duas figuras femininas, com as mãos estendidas para cima e para frente. A figura à frente tem o cabelo azul e usa um vestido branco, a figura ao fundo tem o cabelo preto e seu corpo está coberto pelo perfil da primeira. Elas têm uma seta destacando-as com o texto: Ísis, esposa-irmã de Osíris, e sua irmã Néftis são deusas que também protegem a tumba dos mortos'. Da plataforma sobre qual está o trono, brota uma uma flor grande, verde, com a forma de um triangulo invertido, sobre o qual há quatro pequenas figuras humanas, vistas de perfil. Na tenda, com as laterais azuis e douradas, e o topo dourado com pedras colorias, há inscrições em hieróglifos.
Página do Livro dos Mortos de Hunefer, escriba do Novo Império, representando seu julgamento diante de Osíris. c. 1307 antes de Cristo-1306 antes de Cristo Museu Britânico, Londres, Inglaterra.
  1. As imagens reproduzidas nesta seção fazem parte da mesma página do Livro dos Mortos. Elas podem ser vistas como uma narrativa.
    1. Quem é o personagem principal e qual é seu papel na narrativa?
    2. Qual é o tema central da história? Justifique com elementos da própria imagem.
    3. A segunda cena mostra o desfecho da história, que se destaca em relação às partes anteriores. Por que ela tem esse destaque?
  2. O que essa passagem do Livro dos Mortos revela sôbre a religião e a arte no ­Egito Antigo?­
  3. Com base nas informações sôbre a religião egípcia vistas neste Capítulo, redija uma narrativa contando a história mostrada na imagem. Procure escolher as palavras mais adequadas para inserir no texto e se esforce para combiná-las na construção de uma história clara e coerente. Ao final, releia o texto e faça os ajustes necessários.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Qual era a relação entre o poder político e a religião no Egito Antigo?
  2. Por que, apesar de os camponeses do Egito Antigo não serem escravos, não se pode dizer que eram livres?
  3. Observe a pintura, leia sua legenda e depois responda às questões.
Pintura. Sobre um fundo de cor clara, quatro mulheres e uma menina em pé, uma ao lado da outra tocam instrumentos musicais. Da esquerda para à direita: uma mulher com cabelos pretos, vestes longas e brancas e um colar segura instrumento grande, com cordas finas, como uma harpa. À direita, mulher com cabelos pretos, longos e trançados, com instrumento arredondado de cordas, que passam sobre uma haste de madeira, semelhante a um alaúde. À direita dela, uma menina de cabelos pretos, de tamanho menor que as demais, a observa. À direita, uma mulher de cabelos pretos e longos,  com uma tira vermelha azul e branca sobre os cabelos, vestido longo branco e transparente, olha para a direita e toca um instrumento de sopro longo, que ela segura verticalmente longa. À direita, uma mulher de cabelos pretos e longos, com uma faixa branca sobre a testa e a cabeça, com vestido longo branco, segura um instrumento nas mãos, uma espécie de lira instrumento de sete cordas, com o centro quadrado (em que estão presas as cordas), do qual parte um contorno arredondado feito de madeira terminado em uma haste vertical, em que estão presas as outras pontas das cordas. Todas as figuras estão descalças.
Pintura em túmulo em Tebas representando mulheres tocando instrumentos, como harpa arqueada egípcia, alaúde, oboé duplo e lira. cêrca de 1420 antes de Cristo-1411 antes de Cristo
  1. A atividade que está sendo realizada pelas mulheres representadas na pintura egípcia provavelmente era restrita ao universo feminino ou poderia ser realizada tanto por homens como por mulheres?
  2. Em sua opinião, a imagem revela que as mulheres possuíam alguma mobilidade social para exercer diversos ofícios e participar da vida pública no Egito Antigo? Explique.

4. Considerado o protetor da ordem universal, o faraó passava por muitos ritos ao longo de seu reinado. O primeiro era a cerimônia de entronização, ao assumir o trono, quando incorporava o espírito de Hórus, que o guiaria pelo resto da vida. Leia o trecho de um hino que celebrava a elevação de Ramsés segundo (cêrca de 1280 antes de Cristo.-1213 antes de Cristo.) ao trono no Egito:

Ó dia feliz! O céu e a terra estão alegres

porque tu és o grande senhor do Egito!

Os que fugiram regressaram às suas cidades,

os que se escondiam apareceram;

os que tinham fome estão saciados e alegres. reticências

Um Nilo abundante sai de suas fontes,

para refrescar o coração dos homens. reticências

Todos resplandecem de júbilo desde que foi dito:

“O rei do Alto e Baixo Egito Heqamaatra

ostenta de novo a coroa branca!

O filho de Rá, Ramsés,

ocupou o trono que foi de seu pai!”

rórnin ériqui . O rei. In: DONADONI, Sérgio (organizador). O homem egípcio. Lisboa: Presença, 1990.página 251-252.

Em dupla, com base na leitura desse hino, expliquem a fórma como os faraós eram vistos pelos egípcios. Usem exemplos do hino para reforçar seus argumentos.

CAPÍTULO 10  A NÚBIA E O REINO DE CUXE

Os pesquisadores do século dezenove e do início do vinte tinham uma visão preconceituosa sôbre os povos da chamada África subsaarianaglossário , como os núbios. As antigas crenças racistas não permitiam aos estudiosos daquela época reconhecer a importância dessa civilização.

Coube aos arqueólogos contemporâneos reconhecer o preconceito e fazer críticas àqueles estudos. Eles descobriram a riqueza da cultura núbia, que, mesmo sendo marcada pela influência egípcia, tinha a própria história e importância.

Os povos da região da Núbia se desenvolveram entre as atuais cidades de Assuã, no Egito, e Cartum, no Sudão (observe mais adiante o mapa O Reino de Cuxe (séculos vinte e cinco antes de Cristo-quatroDepois de Cristo). Assim como o Egito Antigo, a região da Núbia acompanhava o curso do rio Nilo e as zonas de oásis. O território era rico em recursos naturais, como ouro, cobre, ferro e pedras semipreciosas. Os egípcios chamavam essa região de Cuxe.

Pintura. Sobre um fundo branco, no centro da imagem, cinco homens em pé, em grupo, ombro a ombro, formando uma fileira. O grupo caminha, lado a lado, para a esquerda. Eles têm cabelos curtos e pretos, vestem tecidos brancos amarrados ao redor do quadril em comprimento curto, têm o torso nu, estão descalços, e cada um segura bastão vertical nas mãos. Na parte superior, um retângulo com ilustração de duas silhuetas de pessoas uma de frente para outra, simulando um combate.
À direita, há outro grupo semelhante, visto parcialmente, que caminha para a direita.
Soldados núbios representados em pintura na tumba de tenuní.cêrca de 1420 antes de Cristo
Ícone. Sugestão de livro.

feisti ríldegárd. Arte africana. São Paulo: Moderna, 2010. (Série Artistas Anônimos). O livro apresenta a produção artística de diversas localidades do continente africano. De modo agradável e acessível, os leitores podem conhecer pinturas e obras de arte feitas em madeira, metal e argila.

Kerma e Napata

As evidências mais antigas de um reino organizado na região da Núbia são poços utilizados para guardar cereais datados de 2700 antes de Cristo, descobertos em uma ilha do rio Nilo. No decorrer dos séculos, a região transformou-se no centro de uma florescente rede de comércio que interligava, por rótas fluviais e terrestres, o mar Vermelho, o Egito e o oeste do atual Sudão.

A cidade de Kerma foi o centro dessa sociedade entre, aproximadamente, 2400 antes de Cristoe 1570 antes de Cristo Construída em terras irrigadas e férteis, graças aos canais do rio Nilo, a cidade era protegida por muralhas com até 10 metros de altura e mais de 1 quilômetro de comprimento. Lá viviam reis e altos funcionários ligados à família real, cuja riqueza provinha do comércio e da exploração de minas de ouro. Segundo pesquisadores, por volta de 2200 antes de Cristo, quando uma grande sêca devastou o Egito e a Mesopotâmia, Kerma atingiu seu esplendor.

O Reino de Cuxe foi um dos principais produtores de ouro do mundo antigo. As riquezas e o número de habitantes do reino cresceram principalmente em razão do comércio e da exploração do ouro. Sua população chegou a 10 mil pessoas por volta de 1700 antes de Cristo, número pequeno para os padrões atuais, mas muito expressivo para aquela época.

O crescimento do Reino de Cuxe foi interrompido com a invasão egípcia, iniciada por volta de 1570 antes de Cristo Durante aproximadamente 500 anos, as rótas comerciais e as minas de ouro cuxitas ficaram sob o contrôle dos faraós.

Nessa época, os núbios adotaram muitos conhecimentos e costumes do Egito, como a escrita hieroglífica e as técnicas de artesanato. Eles ainda foram empregados como mão de obra nas construções e no exército do faraó.

O REINO DE CUXE (séculos vinte e cinco -quatro Dona)

Mapa. O reino de Cuxe. Séculos vinte e cinco antes de Cristo a quatro depois de Cristo). 
Mapa representando o nordeste da África, tendo o Mar Vermelho a leste e o Mar Mediterrâneo ao norte. Destaque para o curso do Rio Nilo,  em uma linha azul clara. 
Do sul ao norte, acompanhando o curso do Nilo até o Mar Mediterrâneo, são destacadas a cidade de Cartum, a sexta catarata do Nilo, a cidade de Méroe, a quinta e a quarta catarata do Nilo, as cidades de Napata, Djebel Barkal, Kerma, a terceira catarata do Nilo, a região da Núbia, a segunda catarata do Nilo, a cidade de Abu Simbel, a primeira catarata do Nilo, a cidade de Assuã, a cidade de Tebas, a região do Alto Egito e o Baixo Egito, já próximo à foz do rio.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 170 quilômetros.

Fonte: SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. página 85.

Ícone. Sugestão de livro.

NASCIMENTO, Elisa lárquin. O tempo dos povos africanos. Brasília, Méqui: secádi, 2007. Este livro traz muitas informações sôbre os conhecimentos, as técnicas, os saberes e os costumes de diversos povos africanos.

Napata, a nova capital cuxita

Por volta de 1000 antes de Cristo, o domínio egípcio em Cuxe teve fim, e um reino cuxita independente foi fundado. A nova capital do Reino de Cuxe foi estabelecida na cidade de Napata. A partir de 730 antes de Cristo, exércitos núbios avançaram sôbre o Egito e dominaram o território por quase cem anos. De 715 antes de Cristo a 663 antes de Cristo, os faraós egípcios eram núbios.

Em Napata, os governantes ergueram estátuas, pequenas pirâmides e palácios, além de templos dedicados aos deuses. O maior templo, em homenagem ao deus Amon, situava-se na montanha de djebel bárkal, sagrada para os egípcios e para os núbios.

O domínio de Cuxe no Egito começou a ruir no século sete antes de Cristo, quando os reis cuxitas foram obrigados a retornar às suas fronteiras originais em Napata. No século seis antes de Cristo a capital cuxita deslocou-se para Méroe, mais ao sul.

A criação de animais

A criação de gado desempenhava papel fundamental no Reino de Cuxe. Leia o texto a seguir sôbre a importância dessa atividade para os cuxitas.

Na época da ascensão do reino de Napata, a criação de animais já possuía uma tradição milenar e, juntamente com a agricultura, representava a principal fonte de subsistência da população. Além do gado de chifres longos e curtos, a população criava carneiros, cabras e, em menor escala, cavalos e burros, utilizados como animais de carga. Os camelos só foram introduzidos relativamente mais tarde, ao final do século um antes da Era Cristã.

reticências

A primazia da criação de gado no Império de cúxi é atestada por numerosos indícios: a iconografia, os ritos funerários, as metáforas (compare-se um exército sem chefe a um rebanho sem pastor) etc.

As oferendas aos templos consistiam principalmente em animais domésticos, e ao que parece, a riqueza dos reis, da aristocracia e dos sacerdotes do templo era avaliada em gado.

luclân jiãn. O Império de cúxi: Napata e Méroe. In: moctar gamal ). História Geral da África, dois: África Antiga. 2. edição revista Brasília,Distrito Federal: Unesco, 2010. página 311-312.

Fotografia. Sob um céu azul sem nuvens, vista de local aberto, com ruínas de construções sobre o solo arenoso, com pedras espalhadas. À esquerda, destacam-se duas colunas na vertical arredondadas e, à direita, um muro de pedras cor de areia.
Ruínas do templo de Amon, em Karima, no Sudão. Fotografia de 2017. Em torno de djebel bárkal há ruínas de ao menos 13 templos e três palácios. Elas foram identificadas por arqueólogos europeus nas primeiras décadas do século dezenove. Muitos dos achados foram levados, à época, para museus na Europa, onde estão até hoje. Fotografia de 2017.

A civilização de Méroe

Nas terras desérticas localizadas nos arredores do Nilo, no atual Sudão, chama a atenção um conjunto de mais de duzentas pirâmides construídas pelos núbios. Elas não são grandes como as do Egito, mas cumpriam a mesma função: cobrir os túmulos de reis e rainhas de Méroe, a última capital do Reino de Cuxe.

Além de construtores, os meroítas eram grandes artesãos. Eles produziam lanças, machados e enxadas de ferro, assim como objetos de cerâmica, joias de ouro e tecidos. O ouro era extraído de minas entre o rio Nilo e o mar Vermelho e exportado em grande quantidade para o Egito. Os agricultores cultivavam trigo, cevada, algodão, lentilha e domesticavam bois, cabras, ovelhas e carneiros.

Os meroítas também desenvolveram um comércio eficaz, ligando o mar Mediterrâneo ao interior da África. Por suas rótas comerciais, circulavam ouro, marfim, ébano, peles de leopardo, penas de avestruz, macacos e pedras para a construção de templos e pirâmides. Por volta do século trêsantes de Cristo, Méroe tornou-se um grande empório de produtos vindos de vários pontos da África. Os comerciantes meroítas também obtinham produtos fenícios e gregos, entre outros, e os distribuíam em parte da África e na península Arábica.

Fotografia. Sobre um fundo branco, um objeto de cerâmica.  forma arredondada de cor marrom clara,  com desenhos organizados em quatro faixas horizontais, de cor bege clara, contendo diversos círculos lado a lado. Eles são divididos ao meio por uma linha vertical; a parte esquerda está  preenchida com a cor marrom avermelhada e, a parte direita, com listras escuras e horizontais. Em cada círculo, um grafismo composto de três linhas lembra a cauda de um peixe. Na parte superior, uma abertura em formato circular, bem menor do que a base.
Cerâmica meroíta, produzida entre 100 antes de Cristo-300 antes de Cristo Em geral, as cerâmicas eram decoradas com elementos que remetem à natureza local. Museu Metropolitano de Arte, Nova York, Estados Unidos.
Fotografia. Na parte superior, um céu azul sem nuvens. Em primeiro plano, vista de área aberta, com solo arenoso marrom avermelhado, com esculturas grandes à esquerda em uma linha diagonal. Sobre pedestais, bases de pedra altas e retangulares,  as esculturas representam dois animais deitados, com aparência de felino. Há uma terceira base sobre a qual se vê apenas ruínas. Ao fundo, outras ruínas de pedestais, pedaços de blocos grandes e ruínas de um pórtico de pedra.
Esculturas no Templo do Leão, em Naga, no Sudão. Século trêsantes de Cristo As ruínas desse templo estão entre os principais exemplares da arte meroíta. Fotografia de 2008.
O poder das mulheres em Méroe

As mulheres da família real tinham muito poder no reino cuxita de Méroe. No princípio, elas se limitavam a educar os príncipes. Depois, passaram a exercer um papel importante na escolha do rei e na cerimônia de coroação. Com um poder crescente, algumas se tornaram regentes de seus filhos menores ou se tornaram rainhas-mães, as chamadas candaces.

Várias mulheres que ascenderam ao poder foram representadas com corpos robustos, vestindo túnicas franjadas, cheias de colares e enfeites, à frente dos exércitos ou presidindo cultos.

O historiador e geógrafo grego Estrabão, no século umantes de Cristo, descreveu uma dessas rainhas, a candace amânichaketo, como uma mulher “viril”. Ela teria participado de uma expedição militar contra os romanos, em 23 antes de Cristo, quando foi ferida em combate e perdeu um olho.

Fotografia. Sobre um fundo de pedra uma figura em relevo. A pedra suporte tem o formato de um retângulo na posição vertical e cor marrom clara. O relevo representa a figura de mulher de cabelos longos até os ombros, vista de lado, com vestes longas, os braços erguidos para cima. Nas laterais, frisos com caracteres antigos. Na parte superior do relevo, viga na horizontal com listras na vertical, formando um arco retangular ao redor da mulher.
Pedestal representando a candace Amanitore, encontrado no sítio arqueológico de uád ban nága, no Sudão. Século umantes de Cristo relêvo em arenito, 117,5por 85 por 85 centímetros. Museu Egípcio, Berlim, Alemanha.
A escrita meroíta

A escrita meroíta foi registrada em templos, túmulos e outros diversos documentos. Desenvolvida a partir dos hieróglifos egípcios, a escrita meroíta era alfabética e tinha duas fórmas distintas. A primeira delas, mais restrita, era destinada aos documentos religiosos e reais. A segunda, mais utilizada que a anterior, era uma escrita cursiva, derivada do demótico egípcio. O alfabeto dessa segunda escrita tinha 23 sinais, que eram escritos e lidos em sentido contrário aos sinais dos egípcios.

A escrita meroíta ainda não foi totalmente decifrada. Os estudiosos conseguem identificar os sons de cada um dos sinais da escrita, mas não conseguem interpretar as palavras que eles formam. Apenas alguns nomes de personagens e locais foram decodificados. Dessa fórma, os avanços da arqueologia e de outras áreas do conhecimento são essenciais para que a escrita meroíta seja desvendada. Assim, será possível aprofundar os conhecimentos sôbre a história e o modo de vida dessa sociedade.

Fotografia. Inscrição em uma placa retangular de pedra bege, na posição vertical. As inscrições estão gravadas em linhas horizontais. Na parte superior da placa, uma saliência em pedra, de formato retangular
Placa com registro de escrita meroíta. Século seteantes de Cristo Inscrição em arenito, 51 por 38,5 centímetros. Museu Britânico, Londres, Inglaterra.
Ícone. Seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Ciência e Tecnologia

Documentos arqueológicos submersos

No final da década de 1950, a construção de uma barragem na fronteira do Egito com o Sudão levou os governos dos dois países a pedir ajuda internacional para salvar um valioso patrimônio arqueológico. Com a cooperação de estudiosos de todo o mundo, muitos sítios da região norte da Núbia foram fotografados, catalogados e estudados até 1971, ano de conclusão da obra, que inundou uma vasta área.

Em 2003, uma nova barragem no rio Nilo começou a ser construída, pelo govêrno do Sudão, para gerar energia elétrica. Dessa vez, não houve um esforço tão intenso da comunidade internacional e do govêrno do Sudão para salvar os sítios arqueológicos. Ativistas acusam o govêrno sudanês de não ter desenvolvido estudos do impacto ambiental e dos efeitos da criação da hidrelétrica para a população local.

Muitos sítios arqueológicos, onde no passado se desenvolveram as cidades do Reino de Cuxe, podem estar submersos pelas águas da represa, concluída em 2009. Além da submersão dos sítios, a população local foi retirada da região. Povos nômades, que utilizavam a área para atividades comerciais e pastoris, também foram prejudicados pela construção da barragem.

Fotografia. Vista de um local aberto. Ao fundo, estruturas altas em concreto armado, formando linhas na vertical. Entre elas, há fendas. Entre as fendas de algumas delas, uma espécie de nuvem branca, formada pela queda de água em velocidade. À frente, a água forma um lago azulado, visto parcialmente. No canto esquerdo, à frente, há um homem de camisa branca com um lenço vermelho amarrado em torno de sua cabeça. Ele parece minúsculo em função das proporções.
Barragem da Usina Hidrelétrica de Méroe, no norte do Sudão. Fotografia de 2009.
  1. Qual foi a finalidade da construção de uma nova barragem no rio Nilo em território sudanês?
  2. Quais foram os pontos positivos e os negativos da construção dessa barragem?

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. No caderno, escreva quais afirmativas estão relacionadas à civilização egípcia e quais dizem respeito à civilização núbia.
    1. O início da cheia do rio Nilo e o reaparecimento da estrela Sirius no céu marcava o comêço do ano em seu calendário.
    2. Sua escrita era alfabética e tinha duas fórmas distintas, sendo uma delas cursiva.
    3. O Livro dos Mortos é uma das principais fontes históricas para o estudo dessa civilização.
    4. O poder e o espírito guerreiro das candaces chamaram a atenção de povos de outras regiões.
  2. Leia o texto e responda às questões.

Um breve exame do mapa físico da África basta para mostrar a importância da Núbia como elo entre a África central – a dos Grandes Lagos e da bacia do Congo – e o mundo mediterrânico. O vale do Nilo, que em sua maior parte corre paralelo ao mar Vermelho, em direção ao “corredor” núbio, entre o Saara, a oeste, e o deserto arábico ou núbio, a leste, permitiu um contato direto entre as antigas civilizações do Mediterrâneo e as da África negra.

reticências a Núbia constitui uma verdadeira encruzilhada de caminhos africanos, um ponto de encontro das civilizações do leste e do oeste, do norte e do sul da África, sem esquecer as do Oriente Próximo, da Ásia distante e da Europa mediterrânica.

. A importância da Núbia: um elo entre a África central e o Mediterrâneo. In: moctar gamal ). História Geral da África, África Antiga. 2. edição revista Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 213-215.

  1. Por que o autor caracteriza a Núbia como elo entre as civilizações da África negra e as civilizações mediterrânicas?
  2. Quais teriam sido, em sua opinião, os resultados do intenso intercâmbio entre os povos da Núbia e os de outras regiões da África, do Oriente Próximo, da Ásia e da Europa mediterrânica?
  1. Explique o poder que as mulheres da família real, chamadas candaces, tinham no reino cuxita de Méroe.
  2. Responda às questões sôbre a escrita meroítica.
    1. Qual relação havia entre a escrita meroítica e a egípcia?
    2. Por que a escrita meroítica é ainda um grande desafio para os estudiosos?
  3. As sociedades que se desenvolveram em tôrno do rio Nilo se influenciaram mutuamente. Além das trocas culturais, houve períodos em que predominou uma tendência expansionista da civilização egípcia, a fim de formar um poder imperial em uma região mais ampla, com a dominação de territórios que ultrapassavam seus núcleos originais. A partir dessa reflexão, responda às questões a seguir.
    1. No período em que o Egito dominou o Reino de Cuxe, podemos dizer que a cultura egípcia influenciou a cultura núbia? Dê exemplos.
    2. Qual era o nome da nova capital no Reino de Cuxe fundada após o fim do domínio egípcio na região da Núbia?
    3. Depois de um longo período em que o Reino de Cuxe se estabilizou na nova capital, houve uma tendência expansionista dos cuxitas em direção aos territórios egípcios. Cite um fato relacionado ao período de dominação de Cuxe no Egito.
  4. Em 2003, arqueólogos franceses e suíços encontraram um enorme fosso com estátuas e monumentos produzidos no Reino de cuxe e concluíram que haviam sido enterrados há mais de 2 mil anos pelos conquistadores egípcios. À época, um dos arqueólogos que fizeram a descoberta declarou que os egípcios não ficaram satisfeitos em simplesmente conquistar o Reino de cuxe, mas quiseram também apagar a memória da cultura cuxita. Organizem-se em grupos, discutam e expliquem com suas palavras o que ele quis dizer com isso.
Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Ciência e Tecnologia

O que levar em conta ao comparar as fórmas de registro das sociedades antigas com as das sociedades atuais?

Hoje, grande parte das pessoas utiliza aplicativos de mensagem nos celulares. O uso desses dispositivos é tão intenso e tão disseminado que temos a impressão de que a comunicação entre amigos, familiares e até entre profissionais vem sendo feita predominantemente de maneira escrita. Graças à internet, essas mensagens de texto – que podem ser complementadas por outras fórmas de registro, como áudio, vídeo e fotografia – circulam rapidamente entre as pessoas.

Ao longo do tempo, os seres humanos criaram as mais variadas fórmas de registro para se comunicar e guardar informações.

Na antiga Mesopotâmia, como você já sabe, desenvolveu-se a escrita cuneiforme, que utilizava sinais em fórma de cunha, em geral gravados em tabuletas de argila. No Egito Antigo, foi desenvolvido um sistema de escrita conhecido como hieróglifo. Essa escrita era inicialmente pictográfica, isto é, baseava-se em símbolos que representavam objetos. Depois passou a representar também ideias e sons por meio de uma escrita ideográfica. A escrita que utilizamos hoje é alfabética. O alfabeto latino (ou romano) que utilizamos deriva do alfabeto grego, que por sua vez foi desenvolvido a partir do alfabeto fenício.

Fotografia. Uma folha de papiro horizontal, amarelada, com ilustração colorida, em tons de preto,  verde e bege circundada por uma moldura vermelha. À esquerda, um homem de pele verde, com roupa longa em bege, chapéu longo e alto da mesma cor, com barbicha preta no queixo. À frente, uma pequena mesa com objetos, e, à direita, uma mulher de cabelos pretos e longos em pé, com as mãos para frente e palmas abertas na direção do homem. Acima deles, textos na vertical escritos em hieróglifo. No centro e à direita, na parte superior, figuras de animais: aves em verde e serpentes em bege. Abaixo, quinze colunas verticais com inscrições em forma de hieróglifos escritas com tinta preta.
Página do Livro dos Mortos com hieróglifos. Papiro. cêrca de 1050 antes de Cristo, 35 por 5,24métros. Museu Metropolitano de Arte, Nova York, Estados Unidos.
Ilustração. Todas as letras do alfabeto latino, organizadas em cinco linhas: Primeira linha: A, B, C, D, E; segunda linha, F, G, H, I, J; terceira linha, K, L, M, N, O; quarta linha, P, Q, R, S, T, quinta linha, U, V, W, X, Y, Z.
Representação do alfabeto latino.
  1. Forme dupla com um colega e juntos criem símbolos para constituir um sistema de escrita que vocês possam utilizar para se comunicar. Montem um glossário com o significado de cada símbolo criado por vocês. Não se esqueçam de definir se utilizarão um sistema de escrita pictográfica, ideográfica ou alfabética.
    • Depois de definidos os símbolos, experimentem redigir com eles um pequeno texto. Pode ser uma carta, uma narrativa ou um poema, por exemplo.
    • Por fim, compartilhem com os colegas o texto que escreveram e os símbolos criados por vocês.

É possível dizer que o desejo (e também a necessidade) de registrar algo está presente entre os diferentes grupos humanos, desde os tempos mais remotos. Contudo, em geral, o material utilizado para realizar cada registro, o acesso das pessoas ou de determinados grupos a esses registros e a capacidade de interpretá-los mudam muito de uma sociedade para outra, e também de um período para outro.

Os sumérios na Mesopotâmia, por exemplo, registravam a escrita cuneiforme em argila. Os egípcios registravam os hieróglifos nas paredes dos templos e pirâmides ou em madeira. Os hieróglifos também eram registrados em papiro, um material muito semelhante ao papel, feito de fibras de uma planta que era comum no Egito. Posteriormente, a invenção da prensa móvel primeiro pelos chineses (por volta do século dez e onze) e depois pelo alemão Iorranes Gutembergue (no século quinze) revolucionou a escrita. Por meio da técnica de impressão, a prensa de tipos móveis possibilitou que cópias do mesmo texto fossem feitas rapidamente e não mais manualmente. Com isso, os livros e a imprensa difundiram-se no mundo todo e a leitura se popularizou.

Com a difusão das máquinas de escrever e, mais tarde, dos computadores e da internet, houve um novo processo de modificação da relação das pessoas com a escrita e a leitura. Hoje em dia temos acesso a uma grande quantidade de textos e informações, que precisam ser filtrados e analisados para que possamos identificar as fontes e os dados confiáveis e desenvolver nosso pensamento crítico. Além disso, a quantidade de texto que escrevemos é bastante significativa.

Com a popularização do uso de celulares e computadores, passamos a escrever mensagens e pequenos textos nas mais diversas redes sociais com frequência. Mas a linguagem escrita que é difundida nos canais de comunicação da internet foi ganhando aos poucos características específicas. Alguns estudiosos da comunicação chegam a mencionar a existência de uma nova linguagem, o internetês, com símbolos, abreviaturas e maneiras próprias de se comunicar que foram estimuladas com o uso da internet. Além disso, na internet, textos, imagens, sons e vídeos combinam-se quase naturalmente.

  1. Discuta com o colega com quem você formou duplasôbre as diferenças significativas entre as fórmas de registro nas sociedades antigas e as fórmas de registro nas sociedades atuais. Citem ao menos duas diferenças.
  2. Ainda em dupla, reflita com seu colega sôbre a seguinte questão: hoje em dia, a internet oferece diversas facilidades; no entanto, ela ao mesmo tempo tem sido usada para propagar notícias falsas, também chamadas de fake news, com o intuito de confundir a opinião das pessoas a respeito de diversos assuntos, obter lucros financeiros com anúncios, vídeos e perfis na internet ou promover manipulação política.
    • Façam uma pesquisa sôbre notícias falsas e procurem identificar ao menos uma notícia falsa e as possíveis intenções por trás de sua difusão. Observe a fonte que produziu a notícia, os argumentos utilizados para convencer o leitor, os elementos que demonstram não estar embasada em informações confiáveis e consistentes.
    • Compartilhem com o restante da turma as descobertas de vocês. Depois discutam sôbre as possíveis maneiras de identificar notícias falsas na internet e encontrar fontes confiáveis para obter informações.

Glossário

Hicso
Povo de origem asiática que dominou o Egito entre 1782 antes de Cristo e 1570 antes de Cristo
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Húmus
Material orgânico formado principalmente de vegetais decompostos ou em decomposição.
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África subsaariana
Nome pelo qual é conhecida a parte da África situada ao sul do Deserto do Saara.
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