Unidadesete O NASCIMENTO DO MUNDO MEDIEVAL

Fotografia. Vista frontal de catedral, de baixo para cima, com destaque para a entrada principal e a torre principal. Em primeiro plano, rua e pessoas caminhando em frente à catedral. Na parte inferior da construção, porta em forma de arco, escura envolta por paredes de cor cinza. A fachada tem tons de bege e marrom, á direita e as esquerda construções com  telhados de cor cinza. No alto, céu nublado em cinza.
Catedral de Aachen, construída no final do séculooito por ordem do imperador Carlos Magno, na Alemanha. Em 1978, foi declarada Patrimônio da Humanidade pêla unêsco. Fotografia de 2019.

Você estudará nesta Unidade:

Os povos germânicos

A formação dos reinos germânicos

O Reino Franco

O nascimento do islamismo

O Império Muçulmano

Cultura e ciência no mundo muçulmano

Fotografia. Vista lateral de duas construções. A primeira, à direita, possui três pavimentos, sendo o primeiro caracterizado por portas em arco. A outra, centralizada e à esquerda da imagem, possui grandes colunas frontais três torres altas e afinadas nas pontas, e uma cúpula grande na cobertura principal, na cor azul. Ao fundo, à esquerda, cidade com prédios. No alto, céu nublado com nuvens brancas e céu azul diurno.
Mesquita ál amin, em Beirute, no Líbano. Localizada ao lado da Catedral Ortodoxa Grega de São Jorge, foi construída entre 2002 e 2007. Fotografia de 2019.

As crises e as transformações no Império Romano, principalmente a partir do século três, se relacionam diretamente com o início da Idade Média.

Você sabia que, na Europa medieval, diversos reinos foram formados, e ficaram marcados pelo fortalecimento do cristianismo? O que você sabe sôbre os reinos germânicos e o poder da Igreja Católica durante a Idade Média?

No mesmo período, no Oriente Médio, nascia uma sociedade bastante diferente da europeia, vinculada a outra religião: a islâmica. Que imagens surgem na sua mente quando falamos em povos árabes e islamismo? O que você conhece sôbre esse assunto?

Fotografia. Vista de local fechado, com luminosidade natural externa projetando sombras ao chão. O piso tem cor cinza claro, sobre o qual se erguem colunas de cor bege ornamentadas. A parte superior das colunas formam arcos ornados com relevos similares a um mosaico. O local tem profundidade em três partes. Em segundo plano, um pátio circular aberto e, mais ao fundo, outras colunas e telhado marrom.
Palácios násrrídas, em álhambra, no complexo palaciano de arquitetura islâmica localizado na Espanha. Sua construção teve início no século treze, durante a ocupação árabe. Em 1984, álhambra foi declarado Patrimônio da Humanidade pêla Unesco. Fotografia de 2021.

CAPÍTULO16  OS REINOS GERMÂNICOS

O Império Romano, a partir do século três, passou a enfrentar crises e transformações. Em razão desse cenário e da fragilidade de suas fronteiras, povos de diferentes partes da Europa e da Ásia invadiram e ocuparam territórios romanos. A maioria desses povos fazia parte de um grupo linguístico conhecido como germânico.

A pressão dos germânicos sôbre o território romano aumentou no século cinco, com a vinda dos hunos, povos originários da Ásia Central. Forçados a se deslocar ainda mais para o interior do Império Romano, os germânicos promoveram ataques violentos, que prejudicaram o comércio e agravaram a crise da economia romana.

Em 476, o Império Romano estava em colapso: a falta de trabalho e a queda do comércio e da população eram evidentes nas cidades, e os germânicos já representavam grande parte dos soldados e generais do exército romano. Naquele ano, o povo germânico hérulo depôs o último imperador romano do Ocidente.

A data da queda de Roma foi adotada como marco para o fim da Antiguidade e o início da chamada Idade Média na Europa Ocidental.

Qual é a origem do nome “Idade Média”?

Acredita-se que o nome “Idade Média” tenha sido formulado por estudiosos que viveram em cidades italianas no século dezesseis. Mais tarde, historiadores do século dezenove adotaram esse nome na periodização mais utilizada ainda hoje: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea (sôbre isso, retome o Capítulo 1). Para facilitar o estudo desse período, ainda, costuma-se dividi-lo em Alta Idade Média (século cinco ao dez) e Baixa Idade Média (século onze ao quinze).

Mosaico. Sobre um fundo branco e descascado, à esquerda, a figura de um homem  montado sobre um cavalo de pelagem marrom. Vistos lateralmente, eles se deslocam da esquerda para a direita. O homem tem cabelos escuros, longos até a altura das orelhas; veste blusa de mangas compridas verde, calça justa preta e botas. À direita, um cervo cinza escuro, com grandes chifres. O cavaleiro está segurando um laço amarrado no pescoço do cervo, que parece correr para escapar. Ao redor, vegetação rasteira e plantas floridas.
Germânico caçando. Século cinco. Mosaico, 1,29 por 2,66 métros. Museu Britânico, Londres, Inglaterra. Este mosaico foi encontrado em uma vila romana em Cartago, no norte da África.

Os povos germânicos

Qual seria a origem dos povos germânicos? A hipótese mais provável é que eles tenham vindo da Escandinávia e da região do mar Báltico, situadas no norte da Europa. Mais tarde, teriam entrado em contato com povos indo-europeus, como os celtas e os gregos. O resultado desse convívio foi uma influência cultural recíproca, tanto que a língua indo-europeia foi adotada pelos germânicos.

O que pode ser afirmado sôbre os germânicos é que eles estavam divididos em vários povos, que falavam línguas ou dialetos aparentados. Entre esses povos, se destacavam os francos, os godos, os vândalos, os anglos, os saxões, os lombardos, entre outros. Mesmo com algumas diferenças entre si, os povos germânicos se aproximavam pêla língua, por uma organização social baseada na família e por uma forte tradição guerreira.

Chefes guerreiros

O chefe guerreiro era uma das figuras mais importantes da tribo. Nos períodos de guerra, o chefe era escolhido por uma assembleia para comandar o bando armado nas conquistas. Caso saíssem vitoriosos, dividiam entre eles as riquezas adquiridas dos inimigos nos conflitos. Além disso, as vitórias também proporcionavam terras para a agricultura e a criação de gado, garantindo a sobrevivência da comunidade e o poder do chefe guerreiro e de seus parentes. Com o tempo, a liderança do chefe guerreiro passou a ser hereditária.

Fotografia. Sobre um fundo preto, seis objetos dourados: no centro, um colar circular. Dentro do círculo formado pelo colar, três objetos pequenos, dourados, similares a broches ou abotoaduras, arredondados e de formas diversas, com pedras vermelhas incrustadas. Fora do aro formado pelo colar, dois objetos pequenos, dourados, similares a broches ou abotoaduras, arredondados e de formas diversas, com pedras vermelhas incrustadas.
Objetos de ouro produzidos por povos germânicos. Séculocinco. Museu de Belas Artes e Arqueologia, Troyes, França.
Mosaico.  Vista de local aberto. Uma cena com cinco homens, uma mulher e três animais, dois cavalos e um bovino. No centro, de um círculo alaranjado, um homem está prestes a golpear um cavalo com objeto pontiagudo. À direita dele, outro homem segura um cavalo pela cabeça e, com a outra mão, ergue um bastão no alto. Na parte inferior da cena, um outro homem está abaixado suspendendo um objeto do solo. À esquerda, uma mulher vista de costas, sentada em um banco estende o braço direito, com a palma da mão aberta, na direção dos homens. À direita um homem ergue um bastão para o alto e aponta, com a mão esquerda, na direção de um animal à frente. À direita dele, outro homem está de pé, com um bastão encostado ao solo, e, com a mão direta, aponta na direção da mulher, sentada no plano inferior da imagem.  Ao fundo, uma construção com a lateral formada por arcos e telhado marrom.
Uso de animais na debulha do trigo. Século três. Mosaico, 58 por 58centímetros. Museu Arqueológico, Líbia.
Ícone. Sugestão de site.

REVISTA da Associação Brasileira de Estudos Medievais. Disponível em: https://oeds.link/Ng3yGB. Acesso em: 17janeiro2022. A revista apresenta textos e publicações sôbre a Idade Média.

O encontro de diferentes culturas

Durante o século cinco e o início do século seis, os germânicos fixaram-se em terras das antigas aristocracias romanas. Assim, os líderes guerreiros tornaram-se reis. Contudo, como eles não possuíam uma organização estatal nem instituições para administrar os territórios conquistados, seus domínios tinham curta duração. Somente a partir do século seis alguns povos germânicos estabeleceram domínios duradouros na Europa. Foi o que ocorreu com os francos na Gália (região da atual França), com os anglo-saxões nas Ilhas Britânicas e com os lombardos na península Itálica.

Os reinos germânicos incorporaram elementos da cultura romana, como o latim e algumas leis do direito romano. O latim era mais usado nos setores administrativos, mas influenciou fortemente as línguas germânicas. Já o direito romano convivia com leis germânicas, baseadas nos costumes.

Os romanos, por outro lado, incorporaram alguns costumes germânicos, como o consumo cotidiano da carne de porco. Antes, os romanos consumiam esse tipo de carne apenas em festividades e banquetes. Os povos germânicos tiveram forte presença na cultura ocidental.

Os reinos germânicos (séculoscinco e seis)

Mapa. Os reinos germânicos (séculos cinco e seis). No centro, o Mar Mediterrâneo. Ao norte, parte da Europa; ao sul, parte do Norte da África, ao leste, parte da Ásia, a oeste, o Oceano Atlântico. Alguns territórios estão destacados por cores e outros, conforme na legenda: Em  rosa, 'Reino dos francos em 486',  no norte da Europa, com destaque para as cidades de Reims, Cambrai e Tournal. Em rosa com linhas inclinadas em lilás 'Reino dos francos em 511', abrangendo desde a cidade de Touluse até a região a leste do rio Reno. Fazendo fronteira com os Saxões, a leste, os Lombardos e o reino dos Turíngios, a leste; o reino dos Burgúndios, em cor laranja, ao sul e o reino dos Ostrogodos, ao sul. A oeste, o Oceano Atlântico. Destacados em roxo no mapa, o reino dos Visigodos e o reino dos Ostrogodos abrangiam as regiões da Península Ibérica, a costa mediterrânica do território que hoje corresponde à França, a Península Itálica e parte dos Bálcãs; a cidade de Toledo está destacada no Reino dos Visigodos. As cidades de Verona, Ravena, Roma e Siracusa estão destacadas no Reino dos Ostrogodos. No noroeste da Península Ibérica, e dentro dos limites ocupados pelos visigodos, destaca-se em verde claro, o Reino dos Suevos, com destaque para as cidades de Lugo e Braga. A leste do Reino dos Francos, destacado em amarelo, o Reino dos Turíngios. A leste do Reino dos Ostrogodos, o Reino dos Gépidas às margens do rio Danúbio, destacado na cor verde. No Norte da África, na costa mediterrânica em torno do Cabo Bon, incluindo as Ilhas Baleares, a Córsega e a Sardenha, destacado em verde escuro, o Reino dos Vândalos, com a capital em Cartago. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos com escala de 0 a 230 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: Ríguelmãn, Vérner; Quínder, Rérmãn. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página112.

O Reino Franco

Os francos foram um dos povos germânicos que mais se destacaram no período. No início do século cinco, eles ocuparam a Gália e continuaram se expandindo para outros territórios, por meio de guerras ou alianças políticas.

A expansão do Reino Franco ganhou impulso com o rei Clóvis, da dinastia merovíngiaglossário . Clóvis estabeleceu a capital de seus domínios em lutétcia parisiórum (Lutécia), uma antiga cidade romana que daria origem, mais tarde, a Paris. No final do século cinco, esse rei se converteu ao cristianismo.

Não se sabe com certeza por que Clóvis teria se convertido, mas, independentemente de qual tenha sido o motivo, sua conversão teve um pêso simbólico muito grande na época e serviu de exemplo para outros reis germânicos. Com o apôio da Igreja, os francos continuaram expandindo seus domínios pelos territórios germânicos e conquistando novos adeptos para a fé cristã.

Iluminura. Duas imagens associadas, dispostas uma acima da outra. Na imagem situada acima, um homem nu, com cabelos castanhos, mergulhado em um recipiente redondo semelhante à uma grande taça na cor azul, com as mãos cruzadas sobre o peitoral. À esquerda dele, quatro homens em pé com túnicas religiosas, longas e com cores diferentes, e chapéu branco triangular na cabeça. Um deles à frente, de manto vermelho e túnica verde está com a mão esquerda espalmada para cima. À direita do homem mergulhado no recipiente azul, outros homens em pé, com roupas longas até os pés em vermelho e azul. Um deles, à frente, segura nas mãos uma coroa. Ao fundo, uma cortina em azul. Na imagem situada abaixo, sobre um fundo metade azul (à esquerda), metade vermelho (à direita) dois homens montados à cavalo, da um sobre um cavalo branco, outro sobre um cavalo azul. O homem sobre um cavalo branco, usa uma túnica roxa e está com a mão direita estendida à frente, com o dedo indicador em riste. O outro, de cabelos castanhos, com túnica longa na cor vermelha, toca um instrumento similar a uma corneta. À frente deles, um cachorro de cor bege salta sobre um cervo, marrom com longos chifres.
Batismo de Clóvis. Século catorze. Iluminura. Esta iluminura faz parte do manuscrito A vida de Saint Denis, datado de 1317. Biblioteca Nacional da França, Paris, França.

Novas ligações entre o cristianismo e o Reino Franco

Os vínculos entre a Igreja e o Reino Franco estreitaram-se ainda mais quando o papado solicitou a ajuda do governante Pepino, o Breve, para lutar contra os lombardos na península Itálica. Pepino derrotou os inimigos e entregou as terras da Itália central ao papa Estevãosegundo, dando origem ao Patrimônio de São Pedro ou Estados Pontifícios. Em troca, o papa reconheceu Pepino como rei dos francos e legitimou a dinastia carolíngia.

Ícone. Sugestão de livro.

Como seria sua vida na Idade Média? São Paulo: Scipione, 2019. Com ilustrações detalhadas e textos interessantes e que despertam a curiosidade, esse livro apresenta o cotidiano, as invenções e os costumes da Idade Média.

Carlos Magno e o Império Carolíngio

Carlos Magno, filho e sucessor de Pepino, continuou a expandir os territórios francos, dando fórma, então, ao chamado Império Carolíngio. Ele também fortaleceu a aliança dos francos com a Igreja de Roma e conquistou os reinos dos lombardos, dos saxões e dos bávaros, abrindo caminho para a cristianização desses reinos germânicos.

No Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado imperador do Ocidente pelo papa Leão terceiro, em Roma. Com esse gesto, o papa reafirmava a autoridade da Igreja sôbre os homens e os reis e declarava que o poder vinha de Deus. A coroação de Carlos Magno também tinha um significado político: garantir a unidade da Igreja e do império em tôrno do imperador do Ocidente, descredenciando, portanto, o Império Bizantino.

Com a perspectiva de governar todo o mundo cristão, Carlos Magno promoveu um movimento que ficou conhecido como Renascimento Carolíngio. O principal objetivo era preparar intelectualmente o clero cristão para orientar, com sabedoria e conhecimentos, os fiéis na doutrina da Igreja.

Com a orientação de estudiosos cristãos, a Bíblia foi revista e copiada pelos monges em latim, criando um texto bíblico único no Ocidente. Os escritos gregos, romanos e cristãos serviram de base para desenvolver o ensino, que era praticado na escola palatinaglossário , nos mosteiros e em instituições ligadas ao clero.

O Império Carolíngio (séculos seteI-nove)

Mapa. O império carolíngio (séculos 8 a 9) Mapa representando parte do continente Europeu e uma pequena parte do Norte da África.  No centro, a região dos Alpes e dos Pirineus. A oeste, a Península Ibérica. A Leste a região dos Cárpatos e dos Bálcãs. Há territórios destacados em cores diferentes. Em amarelo 'Reino dos Francos no início do governo de Carlos Magno', abrangendo vasta área da Europa Ocidental e Central. Algumas regiões se destacam, como, ao sul, a Aquitânia e  a Borgonha; no centro, a Nêustria e a Alemanha; a nordeste, a Austrásia. Destaque para as cidades de Aquisgrã, Trévis, Attigny, Reims e Worms. Em  verde,  as 'Conquistas de Carlos Magno', expandiram o território a Sudoeste, a Marca da Bretanha, ao norte, a Marca Hispânica, ao sul, o Reino da Itália, os Estados da Igreja, o Ducado de Espoleto, Veneza, a leste, Aquileia, Ístria, Baviera e a nordeste, Saxônia e a cidade de Verden. Em roxo, 'Estados tributários', consistindo no Ducado de Benevento (destacada a cidade de Benevento) e na Marca da Panônia e Ávaros. Em rosa, 'Área de influência carolíngia', abrangendo a Ilha da Córsega, e parte do leste da Europa, na divisa com os reinos Eslavos. Em laranja, 'Domínio bizantino', nas ilhas da Sardenha e da Sicília, no extremo sul da Península Itálica, em Nápoles, bem como no litoral mediterrânico da Península Balcânica e na Península do Peloponeso. No canto superior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 220 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 87.

Ler o mapa

• Observe o mapa “O Império Carolíngio (séculos oito-nove)”. Escreva em seu caderno um parágrafo explicando, com suas palavras, o que as conquistas de Carlos Magno significaram para o Reino Franco.

O enfraquecimento do poder real

Carlos Magno também organizou a administração do Império Carolíngio. Para evitar as agitações e traições, que marcaram a dinastia merovíngia, ele incentivou o costume germânico das relações de fidelidade e honra entre senhor e servidores, estabelecendo relações de vassalagem.

A prática da vassalagem consistia em uma relação de obrigações e direitos entre o rei, que doava terras ou outros benefícios, e seus servidores, que os recebiam, comprometendo-se, em troca, a prestar auxílio administrativo e militar. Com o tempo, criou-se uma ampla rede de dependência pessoal que enfraqueceu o poder do rei. Isso porque os vassalos reais estabeleceram relações de vassalagem com seus dependentes, tornando-se ao mesmo tempo vassalos do rei e senhores dos seus vassalos. O poder do rei acabou pulverizado nas mãos de muitos senhores.

Com a morte de Carlos Magno e a disputa de poder entre seus sucessores, a figura do rei ficou ainda mais enfraquecida. A unidade política e territorial do Império Carolíngio se rompeu, e vários pequenos reinos surgiram. Neles, em vez do rei, quem exercia o poder eram os senhores locais, que tinham fôrça para cunhar moedas, aplicar a justiça, estabelecer tributos e formar exércitos locais.

Além disso, várias áreas da Europa foram saqueadas pelos vikings. Cada região do império organizou a própria defesa, o que mostrou ainda mais a fragilidade do poder real.

Os vikings

Os vikings, ou normandos, viviam na região onde hoje se situam Dinamarca, Suécia e Noruega. Eles eram hábeis navegadores. A partir do século nove, provavelmente pressionados pelo aumento populacional, os vikings expandiram seus domínios e se estabeleceram na Islândia, na Groenlândia e, por volta do ano 1000, desembarcaram na costa da América do Norte. Mas foi na região da Normandia, situada no norte da França, e na Inglaterra que os vikings estabeleceram domínios mais duradouros. Eles também fundaram cidades nas atuais Grã-Bretanha, França e Rússia.

Fotografia. Sob um céu claro, com nuvens esparsas, vista de local aberto, sobre águas esverdeadas, uma embarcação à vela, feita de madeira, vista de frente, com um só mastro, casco marrom com listras coloridas decorando o costado e proa arqueada e afinada. No centro da imagem a vela da embarcação, aberta, em formato retangular, de cor vermelha, com feixes cordas perpassando a na vertical, entre a vela, o mastro e a embarcação. Ao fundo, à direita,  sobre um pequeno braço de terra com árvores verdes, a Estátua da Liberdade.
dráken rárald horfagrê, réplica de embarcação viking, navega próximo a Nova York, Estados Unidos, em 2016. A construção dessa embarcação ocorreu entre 2010 e 2012 e foi feita com base em pesquisas arqueológicas e em estudos sôbre a cultura naval dos normandos. O material usado na embarcação e até mesmo as técnicas de montagem foram cuidadosamente pesquisados. É o maior navio viking da atualidade: seu mastro tem 24 metros de altura; a embarcação tem 34,5 metros de comprimento e 8 metros de largura.
Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Multiculturalismo

A tradição medieval nas Cavalhadas do Brasil

Muitas poesias de tradição oral falavam sôbre Carlos Magno e a cristandade. A Canção de Rolando, por exemplo, do século onze, narra os feitos lendários de Rolando, sobrinho de Carlos Magno e comandante dos guerreiros francos (os doze pares de França), na luta contra os mourosglossário na Espanha. Segundo a obra, Rolando foi morto por guerreiros do islã. Carlos, então, continuou na batalha, derrotou os mouros e reconquistou o território para os cristãos.

A poesia chegou a Portugal e também ao Brasil, trazida para cá pelos missionários jesuítas no período colonial. Até hoje, essa história sôbre o batalhão de Carlos Magno está presente nas famosas Cavalhadas, que têm maior expressão no município de Pirenópolis, em Goiás.

As Cavalhadas são celebrações que ocorrem há mais de 200 anos em Goiás, inspiradas nas tradições de Portugal e da Espanha na Idade Média. reticências

O cenário das Cavalhadas consiste em uma representação das batalhas entre cristãos e mouros que ocorreram durante a ocupação moura na península Ibérica (século nove a século quinze). São dois exércitos com 12 cavaleiros cada, que durante três dias se apresentam, encenando a luta

CAVALHADAS podem se tornar Patrimônio Cultural. Jornal Estado de Goiás, 29setembro 2020. Disponível em: https://oeds.link/goiJ31. Acesso em: 28 julho 2022.

Fotografia. Sob um céu azul claro diurno, em um local aberto com o solo coberto por grama verde, como um campo de futebol, dois homens, montados à cavalo, com o corpo voltado para a esquerda. Os cavalos, ambos de pelagem marrom, estão com ornamentos dourados, colar em branco e vermelho, armadura cobrindo o focinho e uma pluma longa e vermelha pendurada na cabeça. Os homens estão com vestes longas, chapéus com plumas vermelhas na cabeça, mantos vermelhos com detalhes dourados e bordas de plumas brancas, calças vermelhas com uma listra vertical amarela e botas pretas. Ao fundo, local com arquibancada e pessoas desfocadas, um prédio branco e árvores ao redor.
Encenação das Cavalhadas na Festa do Divino, em Pirenópolis, em Goiás, em 2018. Em 2020 e 2021, as Cavalhadas foram canceladas em razão da pandemia da côvid dezenóve. Essas foram as únicas vezes que a festa foi cancelada durante seus 200 anos de existência.

Por que a narrativa lendária de Carlos Magno ainda está presente em tradições culturais no Brasil de hoje? Explique.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. sôbre a coroação de Carlos Magno como imperador do Ocidente, responda:
    1. Por que a autoridade da Igreja era reafirmada com esse ato do papa?
    2. Qual é a relação entre a coroação e as disputas entre a Igreja Católica do Ocidente e a do Oriente?
  2. Observe a imagem que representa uma cerimônia de vassalagem, produzida no século treze. Depois, reúna-se com um colega para responder no caderno às questões propostas.
Iluminura. Imagem em local fechado, com duas pessoas, sendo uma sentada em um banco e a outra ajoelhada ao solo. À esquerda, sentada sobre um banco com acolchoado marrom e base vermelha, uma pessoa com um adorno sobre a cabeça. Ela tem cabelos castanhos e vestes longas da mesma cor, com linhas quadriculadas e faixas na horizontal nos braços e pernas. Sobre o ombro direito dela, um pano em verde claro. À esquerda dela, ajoelhado, um homem de cabelos castanhos, com roupa bege-claro. Ele está com as mãos abertas, sobre as quais a outra pessoa repousa suas próprias mãos.
Cerimônia de vassalagem. Século treze. Iluminura. Arquivo Geral da Coroa de Aragão, Barcelona, Espanha.
  1. Façam uma descrição dos personagens representados e de outros elementos da imagem. Para isso, fiquem atentos às vestimentas, às ações dos personagens e aos traços das figuras.
  2. Que prática medieval foi representada na imagem? Como essa prática funcionava?
  3. Quais foram, para os reis, as consequências dessa prática?

3. Agás, o horrível, é um personagem que vive na Europa medieval. Observe a tirinha e, junto com um colega, responda à questão a seguir no caderno.

Tirinha. História  em dois quadros, lado a lado. Hagar. Um homem de nariz redondo, barba vermelha longa cobrindo todo o rosto, com um elmo pontudo com dois cifres brancos nas laterais, vestido com uma blusa branca e uma pele marrom cruzada sobre seu ombro. Primeiro quadro. Hagar visto de perfil, olhando para a direita com a mão esquerda levantada com o balão de fala: 'PSST, não digam nada sobre nosso ataque à Inglaterra...' Um balão de fala ligado a um personagem que não pode ser visto no primeiro quadro, à direita de Hagar, com a reação à fala deste: 'Por que não?' Segundo quadro. Sobre o mar, diante de um céu azul com uma grande nuvem, uma embarcação viking marrom, com a proa no formato de um animal com um pescoço longo que está olhando de soslaio para a tripulação: sete pessoas remando, com remos que passam por buracos circulares no costado, voltadas para a esquerda, onde está, sentado, Hagar, na ponta esquerda do barco. Entre os remadores, estão cinco homens vestidos de preto e capacete azul, um homem vestido de vermelho com chapéu azul  (próximo à Hagar), e um homem vestido com uma armadura de ferro, completamente coberto, com um lenço preto esvoaçando no topo do capacete. Hagar com um balão de fala: 'É possível que o rei tenha implantado um espião entre nós.'

bráun, cris. Agás, o horrível, 2001.

Os personagens da tirinha baseiam-se em referências relacionadas à Idade Média. Que referências são essas?

CAPÍTULO 17  O NASCIMENTO DO ISLAMISMO E O IMPÉRIO MUÇULMANO

A península Arábica ou Arábia é o berço de um conjunto de povos que falam a língua árabe. Ela se localiza no Oriente Médio, região que tem a maior parte do território dominada por desertos, oásis e estepes, com clima quente e árido. Essas condições geográficas marcaram o desenvolvimento econômico e cultural dos povos da antiga Arábia.

É possível identificar, na antiga Arábia, duas regiões. Na chamada Arábia Central ou Desértica predominava o modo de vida dos povos nômades ou beduínos. Eles viviam da criação de camelos, carneiros e cabras e dependiam da água, sempre escassa, e de locais para a pastagem. Já na Arábia do Sul ou “Arábia Feliz”, região banhada pelo mar Vermelho e pelo oceano Índico, formaram-se centros urbanos onde se desenvolveu o comércio, principalmente de pedras preciosas e essências aromáticas.

“Arábia Feliz”

Na chamada “Arábia Feliz”, a água não era escassa. Desse modo, era possível garantir o cultivo dos campos, e a região tornou-se próspera por sua agricultura. Além disso, a localização geográfica da “Arábia Feliz” favorecia o comércio marítimo. A cidade mais importante da região era Aden, que contava com um grande porto.

A Península arábica (século sete)

Mapa. A Península Arábica (século 7) Mapa representando a Península Arábica, no centro, o nordeste da África, à  esquerda, e parte da Ásia, à direita. Na Península Arábica, há territórios demarcados por diferentes cores e setas representando rotas. Uma linha fina preta demarca os limites da Península Arábica, que tem, a oeste, o Mar Vermelho e a África; a noroeste, o Mar Mediterrâneo; ao sul, o Oceano Índico; e leste, a Ásia.; ao norte, a linha fica ao sul das cidades de Hira, Kufa, Damasco, Jerusalém e Agaba Em laranja, 'Deserto'. Áreas que estão distribuídas no norte, centro e sul da península. No norte da península, ao sul do Rio Eufrates, abrangendo as proximidades das cidades de Damasco, Jerusalém e Kufa. No sul da península está a maior área desértica, à leste da cidade de Nejran e ao norte da cidade de Maarib. Na área central da península três pequenas áreas de desérticas. Em verde: 'Arábia Feliz'. Com áreas situadas nas regiões litorâneas. Uma delas próxima à cidade de Tabuk, no litoral do Mar Vermelho. Mais ao sul, ainda no litoral do Mar Vermelho, uma grande área abrange desde as cidades de Meca e Taif, passando mais ao sul por Sana e percorre quase todo o litoral sul, banhado pelo Oceano Índico. Por fim, a Arábia Feliz também abrange uma pequena faixa litorânea a sudeste, ao sul do Golfo Pérsico. Linhas vermelhas indicam, 'Rotas comerciais terrestres', que cruzam a Península Arábica ao norte, tendo como pontos de destaque as cidades de Au-Jaufi, Agaba e Tabuk. Essa mesma rota bifurca em direção ao sul, cruzando as cidades de Tayma, Khaybar, Fadak, Yathrib (ou Medina), Yambo, Meca, Taif, Nejran, Maarib e Sana. A partir de Meca, a rota terrestre também de dirige rumo ao Mar Vermelho, cruzando-o na direção da África, onde de une a outra rota terrestre que segue na direção do norte do Rio Nilo até a cidade de Fostat. Outra rota comercial terrestre se inicia próxima à cidade de Hira, se deslocando ao sul, na costa banhada pelo Golfo Pérsico e, em seguida, perfaz um deslocamento para o interior da península, contornando a grande área desértica ao sul, conectando-se à cidade de Nejran. Linhas azuis indicam: Rotas comerciais marítimas. Ao atingir o limite sul da península as rotas terrestres se transformam em rotas marítimas, cujo principal fluxo se dirige à Índia  (Pelo Mar Vermelho e pelo Golfo Pérsico) e à África Oriental. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 360 quilômetros.

Fonte: MANTRAN, róbert. Expansão muçulmana: séculos sete-onze. São Paulo: Pioneira, 1977. página 57.

Os povos da Arábia

Os antigos povos da Arábia tinham uma organização social baseada nos laços de parentesco entre tribosglossário . Essas tribos eram de origem semita e falavam diferentes dialetos árabes. Em razão das dificuldades de sobrevivência no deserto, eles desenvolveram o sentimento de que as necessidades do grupo eram superiores às do indivíduo.

Dessa fórma, as relações cotidianas apoiavam-se em um estrito código de ética em que os valôres mais importantes eram o orgulho dos ancestrais; a lealdade à família, ao clãglossário e à tribo; a virtude, a coragem, a honra e a generosidade; a proteção ao mais fraco; e a hospitalidade. Além disso, a vida cotidiana entre os antigos povos da Arábia também seguia as regras ditadas pelo costume, que tinha como base as tradições ancestrais beduínas e a Lei de Talião, frequentemente conhecida pela expressão “ôlho por ôlho, dente por dente”.

Os antigos árabes eram politeístas animistas, isto é, acreditavam em diversos deuses e cultuavam elementos da natureza. Cada uma das tribos cultuava o próprio deus. Contudo, alguns deuses eram cultuados em toda a Arábia. Todos eles estavam subordinados a um deus superior, Allah (Alá).

Ilustração. Uma folha de cor bege, com textos em árabe na horizontal, tanto na parte superior como na inferior. Sobre um fundo lilás,  galhos de árvores na cor marrom  com folhas verdes e uma forma oval azul no centro. Abaixo, no centro, ilustração com fundo em azul-escuro, com dez figuras. Há nove demônios de corpo humano, colorido (azul, vermelho, roxo,) com chifres sobre a cabeça, de peito nu, vestidos com tecidos coloridos em torno da cintura. Um dele, c de corpo azul, no alto, à esquerda, tem a cabeça separada do corpo, No meio, montado sobre um cavalo em tons de vermelho, um homem com vestes na cor marrom, o rosto oculto e a cabeça rodeada por chamas de cor amarela.
Representação de sacerdote muçulmano combatendo um conjunto de djíns. 1568. Ilustração. Palácio do Golestão, Teerã, Irã.
Fotografia. Vista de local aberto, com solo arenoso de cor bege, ensolarado. Em primeiro plano, três homens e um adolescente estão sentados diante de uma fogueira. Eles estão vestidos com roupas de mangas compridas e lenço vermelho e branco enrolado em torno da cabeça. Ao fundo, uma cadeia de montanhas cor de areia iluminadas pelo sol. No alto, céu azul claro sem nuvens.
Grupo de beduínos em uma fogueira, no deserto de vádi rum, também conhecido como Vale da Lua, na Jordânia. Fotografia de 2021.
A importância de Meca

As tribos árabes que se estabeleceram na “Arábia Feliz” criaram uma organização social complexa, fundando povoações que deram origem a diversas cidades. Entre as mais importantes, estavam táif, iátrib (Medina) e Meca.

A cidade de Meca está localizada no entrecruzamento das antigas rótas de caravanas de comércio que vinham de Damasco (na Síria) e da Mesopotâmia e percorriam toda a península Arábica. Por sua localização, a cidade tornou-se um grande centro comercial.

A partir do século cinco, Meca foi dominada pêla tribo árabe dos coraixitas. Seus líderes fizeram dela um importante centro religioso, reunindo em um santuário em fórma de um grande cubo negro, a Caaba, as principais divindades cultuadas pêlas tribos. O local tornou-se sagrado para todas as tribos da Arábia, que para lá se dirigiam, todos os anos, em peregrinação.

Foi nesse contexto que surgiu Maomé (murrãmad), que daria origem a uma nova religião: o islã, islam ou islamismo.

Fotografia. Vista panorâmica de um local aberto. Sob um céu escuro, noturno, estrutura branca e circular que se destaca por portais em formas de arco. Dentro dessa estrutura, milhares de pessoas aglomeradas em torno de uma estrutura no centro: uma rocha preta em formato quadrado, com detalhes dourados.
Até hoje Meca tem grande importância para os islâmicos. Vista da Grande Mesquita de Meca, na Arábia Saudita, durante a peregrinação anual de fiéis muçulmanos à cidade, em 2019.
Fotografia. Vista panorâmica do mesmo local da fotografia anterior, à luz do dia, com céu azul-claro e nuvens brancas. 
No centro, uma estrutura quadrada, preta com detalhes dourados. Em volta dela, dezenas de pessoas em pé, formando círculos em torno da pedra de cor preta. As pessoas que estão mais afastadas, permanecem mais distantes umas das outras. Esse local é circundado por uma estrutura branca e circular que se destaca por portais em formas de arco. Ao fundo, duas torres muito altas e edifícios altos com guindastes na cidade.
Em 2021, devido à pandemia da covid-19, a peregrinação anual de fiéis muçulmanos a Meca teve restrições sanitárias, com número menor de participantes, isolamento social e uso de máscaras.
Maomé e o surgimento do islã

Maomé nasceu na cidade de Meca por volta de 570. Pertencia a uma família do clã hashemita, um ramo menos poderoso da tribo dos coraixitas. Perdeu sua mãe aos 7 anos e foi adotado por uma família de comerciantes. Desde jovem, acompanhava seu irmão adotivo em caravanas comerciais pêla região, até se tornar um mercador. É possível que nessas viagens Maomé tenha entrado em contato com o judaísmo, o cristianismo e crenças politeístas da Arábia.

Segundo a tradição islâmica, em 610, aos 40 anos, Maomé teve sua primeira revelação divina na caverna de Hira, próximo a Meca. Enquanto meditava, o anjo Gabriel lhe apareceu e anunciou: “Maomé, tu és o profeta de Deus e sua missão é pregar a fé em um único Deus”.

Inicialmente, Maomé confiou a revelação apenas a familiares próximos. Por volta de 613, decidiu tornar pública a mensagem de Deus. Assim, dirigiu-se à Colina de Safa, diante do santuário da Caaba, para anunciar a existência de um único Deus, condenar a idolatria e declarar-se o último mensageiro de Deus.

No início, os ensinamentos e as pregações de Maomé estiveram limitados a um pequeno grupo de jovens da tribo dos coraixitas, além de mercadores, artesãos e escravos. À medida que o número de seguidores foi crescendo, as principais famílias coraixitas começaram a se sentir ameaçadas. Como a pregação de Maomé condenava o politeísmo e a idolatria da Caaba, os líderes coraixitas temiam perder seu poder político e os lucros obtidos com as peregrinações ao santuário. Dessa fórma, Maomé e seus seguidores passaram a ser duramente perseguidos.

Pintura. Sob um fundo de papel  bege, nas partes inferior e superior do papel, textos em língua árabe. Na parte central, um desenho de uma figura humana, com asas em cores azul, vermelha e preta, suspenso no ar, com as pernas para o alto e as mãos para baixo, entregando um objeto a outra pessoa, ajoelhada sobre um tapete azul. Esta pessoa está vestida com uma túnica verde e possui um lenço branco cobrindo a face e a cabeça. Ao fundo dessa cena, uma porta alta, com figuras em arabesco, nas laterais direita e esquerda. Nas laterais direta e esquerda da imagem, vários homens com vestimentas semelhantes as do homem ajoelhado, nas cores azul, verde, vermelho e outras, porém com os rostos à mostra. Do lado esquerdo, dezenas de homens ajoelhados e de pé, observam a cena. Do lado direito, alguns homens ajoelhados fazem o mesmo. à esquerda, dois homens negros, de pé, observam a cena com o anjo. No centro da imagem, em primeiro plano, no chão coberto por tapetes com detalhes azuis, uma jarra com duas alças, sobre um suporte.
O arcanjo Gabriel revelando a Maomé a oitava surata. 1595. Guache e ourosôbre papel. Pintura do manuscrito turco síer i nebí. Museu do Louvre, Paris, França.
Ícone. Sugestão de vídeo.

rabí, a estrangeira. Direção: María Florencia Álvarez. Argélia/Brasil, 2013. Duração: 92 minutos O filme conta a história de uma jovem de 20 anos que se muda para Buenos Aires, na Argentina. Ela se encanta com a comunidade muçulmana que vive na cidade e passa a adotar costumes islâmicos em seu cotidiano.

Em direção a Medina

Em 622, Maomé decidiu migrar para iátrib, mais tarde conhecida como Medina, a cidade do profeta. Esse episódio, conhecido como Hégiraglossário , inaugurou uma nova fase da aceitação do islã como religião única na península Arábica e de sua expansão, principalmente por meio da jihadglossário . Por sua importância para o islã, a Hégira foi adotada como o ano 1 do calendário muçulmano.

Os coraixitas cederam às pregações de Maomé ao perceber que a aceitação da nova crença poderia ser positiva para a manutenção de seu poder e seus negócios. Nesse contexto, estabeleceu-se em Medina uma nova ordem social e política com a formação da comunidade islâmica, a úma.

Meca preservou sua importância econômica e religiosa, agora como centro de peregrinação da nova fé. Além disso, em Meca, Maomé anunciou os fundamentos da fé islâmica: a unicidade de Deus, a crença na ressurreição e no dia do Juízo Final, as orações e a purificação da alma. Na cidade de Medina, o profeta estabeleceu a oração sagrada da sexta-feira e determinou que ela deveria ser feita com o fiel voltado em direção a Meca. Os ensinamentos transmitidos por Alá a Maomé foram reunidos, após a morte do profeta (632), em um livro sagrado: o Alcorão.

Fotografia. No centro, uma criança sentada em carteira escolar de madeira, lendo um livro grande, acompanhando a leitura com o dedo indicador apoiado sobre a página aberta. À esquerda e à direita, outras carteiras escolares, dispostas em fileiras,  com outros meninos sentados, um de frente para o outro,  lendo o mesmo tipo de livro. Ao fundo, a parede da sala, de cor lilás e duas janelas de madeira amarelas.
Crianças e adolescentes leem o Alcorão em mesquita na Arábia Saudita. Fotografia de 2021.
Ícone. Sugestão de livro.

rúsâin sherú. Fábulas do mundo islâmico. São Paulo: dáblio ême éfe Martins Fontes, 2017. No livro estão reunidas diversas histórias tradicionais do mundo islâmico, acompanhadas de belas ilustrações.

O Império Muçulmano

Quando Maomé morreu, em 632, abú bácr, um de seus primeiros seguidores, declarou à comunidade: “murrãmad morreu, mas Alá e o islã estão vivos”. Suas palavras serviram de consôlo aos fiéis, mas também procuraram manter o legado do profeta de unificar a Arábia em tôrno do islã. Essa preocupação existia porque Maomé não havia deixado nenhuma orientação de como seria a sua sucessão. A ausência de regras para definir o sucessor dividiu a comunidade em dois grupos principais.

O primeiro grupo defendia que a escolha do sucessor deveria ser feita entre os membros mais velhos da comunidade. abú bácr, amigo, conselheiro e pai de Aisha, uma das espôsas de Maomé, seria a pessoa ideal. Como defendiam suas posições baseados nas orientações descritas na suna, os membros desse grupo ficaram conhecidos como sunitas. O outro grupo, porém, considerava que a sucessão deveria seguir a linhagem da família do profeta, atribuindo um caráter sagrado ao poder. Dessa fórma, Ali, primo e genro de Maomé, seria o sucessor mais indicado. Os membros desse grupo ficaram conhecidos como xiitas, do árabe “partidários de Ali”. Venceu o grupo de abú bácr, que se tornou o primeiro califa (sucessor).

As disputas sucessórias provocaram a cisão do islã entre xiitas e sunitas, e a rivalidade entre eles se mantém ainda hoje. Atualmente, os sunitas são maioria, representando de 80% a 90% da população islâmica. Os xiitas, divididos em vários ramos, representam a maioria dos muçulmanos do Irã e do Azerbaijão, além de representarem entre metade e dois terços dos fiéis do islã no Iraque, no bárrein e no Iêmen.

Fotografia. Vista de local aberto. Sob um céu azul claro com nuvens brancas esparsas, em primeiro plano, um pátio com árvores  uma fonte com água em tons de verde no centro, rodeada por quatro árvores, uma em cada ponta. Em segundo plano, construção alta com três andares, com arcos e entradas em arco.  Acima do pórtico de entrada alguns ornamentos em formato de arabesco. Duas torres paralelas, de mesma altura, se destacam na parte mais elevada da construção. Na parte superior, no centro da construção, uma cúpula arredondada.
Mesquita arra bozôrg, construída no final do séculodezoito, em káshân, no Irã. Fotografia de 2019.

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Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: O islã na África

 

[TRILHA SONORA]

 

[LOCUTORA]: Olá, bem-vindo! No episódio de hoje do podcast, vamos falar sobre a expansão do islamismo na África. Nossa história começa na península Arábica, mais precisamente na cidade de Meca, onde nasceu o fundador da religião islâmica: Maomé.

No século VI, Meca era um importante centro comercial dessa península, região conhecida por seus desertos e localizada entre a Europa e a Ásia. A população do local era majoritariamente composta por comerciantes nômades, que seguiam diferentes religiões, com os mais diversos deuses. Porém, em Meca, Maomé começou a pregar a crença em um único Deus, Allah.

Perseguido, Maomé deixa Meca e segue para Yatrib, cidade conhecida atualmente como Medina, de onde passou a combater seus opositores. No local, o profeta atraiu grande número de seguidores, abrindo caminho para unificar os povos árabes em torno da fé em um Deus único. Assim nasceu o islã.

O islamismo se propagou rapidamente por diferentes lugares, ultrapassando assim os limites da península Arábica. Após a morte de Maomé, em menos de um século, a religião se expandiu para o Oriente Médio, parte da Ásia, o sul da Europa e o norte da África.

A expansão do islã no continente africano aconteceu de diferentes formas. O norte da África já havia sido parte do Império Romano, do Reino dos Vândalos e do Império Bizantino quando Abu Bakr, sucessor de Maomé, traçou um plano para entrar no continente. Mas foi só durante o comando de seu sucessor, Omar, que o islamismo consolidou sua expansão pelo norte da África. O islã expandiu-se ainda mais durante o califado Omíada, chegando à área da atual Tunísia.

No fim do século VII, os muçulmanos avançaram para a costa atlântica do Marrocos. No califado Abássida, os dirigentes do islã adotaram políticas de estímulo à conversão religiosa, como a isenção de tributos, e isso impulsionou a islamização em massa dos povos conquistados. Mas a intensa disputa pelo poder entre os islâmicos provocou o enfraquecimento dos abássidas e a formação de diferentes califados autônomos, como o dos fatímidas. Essa situação acabou favorecendo a invasão de outro povo muçulmano no norte da África: os turco-otomanos.

Ao sul da região conquistada pelos califas, no Sahel, cinturão que se estende pelo continente africano, do oceano Atlântico até o mar Vermelho, a expansão do islamismo foi mais lenta. Isso devido aos reinos e impérios que estavam organizados, há muito tempo, na região, e que foram incorporados ao islã em decorrência do comércio transaariano.

Gana foi o primeiro grande reino africano do Sahel, formado por uma maioria étnica soninquê. Seu poder vinha principalmente do controle de minas de ouro e de entrepostos do comércio caravaneiro do Saara. A partir desse comércio, os mercadores muçulmanos começaram a difundir o islamismo e a cultura árabe na região do Sahel. Assim, a partir do século XI, o islamismo se tornou a religião predominante em Gana e nos demais reinos existentes nessa região.

Entre os séculos XVI e XVIII, os europeus não tiveram grande interesse nos territórios da África; com isso, não ameaçaram a maior parte dos reinos islâmicos existentes no continente. A situação se alterou a partir de 1800. Com o avanço do imperialismo, os países europeus criaram e consolidaram vários impérios que puseram fim aos Estados islâmicos na África. Os muçulmanos perderam poder político, mas os impactos sociais provocados pela dominação imperialista incentivaram o crescimento do islamismo no continente africano e a conversão de muitas pessoas.

Atualmente, o islamismo predomina em vários países da África.

Converse com seus colegas sobre de que maneira o islamismo se expandiu no território africano e como isso pode ter acontecido em outros continentes.

Até a próxima!

[FIM DA TRILHA SONORA]

Os califados: expansão e conquista

Mesmo após a morte de Maomé, o islã continuou se expandindo. Diversos fatores contribuíram para isso, como a manutenção da unidade espiritual e política iniciada por Maomé; a busca de novas terras para o cultivo; a fraca resistência de alguns povos que, enfraquecidos por guerras e perseguições religiosas, aceitaram mais facilmente o islã; e as vantagens oferecidas pelos conquistadores aos convertidos, como isenção ou redução de impostos.

O califa abú bácr (632-634) foi responsável por consolidar o contrôle da península Arábica e recuperar para o islã a fidelidade daqueles que haviam renegado a nova crença após a morte de Maomé. Omar, sucessor de abú bácr, incorporou a Síria, a Mesopotâmia, a Palestina e o Egito.

A dinastia dos omíadas (661-750), que escolheu como capital a cidade de Damasco, na Síria, expandiu o islã em direção à Pérsia, ao Afeganistão, ao norte da África e à península Ibérica. A dinastia dos abássidas, com séde em Bagdá, marcou o auge da produção científica e cultural islâmica.

Quando a dinastia abássida (750-1258) sucedeu a omíada, Abderramão (abdal rámân) estabeleceu na península Ibérica o Emirado de Córdoba, um govêrno independente do Império Islâmico, embora reconhecesse a autoridade religiosa dos abássidas.

Em 929, Abderramão terceiro, oitavo emir de Córdoba, autoproclamou-se califa, rompendo com a autoridade dos califas abássidas. O califado de Córdoba marcou uma era de grande florescimento cultural, convivência e tolerância religiosa. Foi permitido, por exemplo, que a população local mantivesse suas tradições cristãs e judaicas, desde que pagasse imposto especial.

Domínios muçulmanos árabes (séculos sete-doze)

Mapa. Domínios muçulmanos árabes (séculos 7 ao 12) Legenda: Extensão máxima Na cor amarela, 'Domínio omíada. (Séculos 7 e 8)'. compreendendo uma vasta região, entre a costa noroeste da África até a Ásia, abrangendo parte da Ásia, a Pérsia, a Península Arábica, o norte da África e partes da Ásia. Destaque para as cidades de Trípoli, Cairo, Samarra, Damasco e Bagdá, Medina e Meca. Hachurado com listras em cinza e branco na diagonal, 'Emirado/ Califado de Córdoba. (Séculos 8 ao 14)', ocupando o sul da Península Ibérica, com destaque para a cidade de Córdoba. Hachurado com listras em branco e laranja na diagonal, 'Domínio abássida. (Séculos 8 ao 13)', que abrangeu as áreas do litoral norte da África,desde a altura de Cabo Verde até a Península do Sinai, abrangendo as cidades de Trípoli e Cairo e a costa do Mar Vermelho, avançando também sobre a Península Arábica, parte da Ásia e a Pérsia. Destacado com um contorno em verde 'Domínio fatímida. (Séculos 10 ao 12)', abrangendo um território no Norte da África, acima do Saara, do Cabo Bon ao Mar Vermelho, incluindo as cidades de Trípoli e Cairo. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 630 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: Atlas of the World History. Skokie: Rand McNally, 1995. página 54-55; ATLANTE storico. Novara: Istituto Geografico de Agostini, 1984. página 40; dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 1987. página 196-197, 209.

A expansão turco-otomana

A queda da dinastia abássida, em meados do século treze, marcou o declínio do Império Muçulmano sob o comando dos árabes e o início de uma nova fase, a turco-otomana. Os turcos eram povos nômades oriundos da Ásia Central, convertidos ao Islã.

A expansão turca recebeu grande impulso com o início da dinastia otomana, que teria sido fundada no século onze pelo guerreiro Otoman um. A partir de então, o Império Turco-Otomano, de maioria sunita, expandiu e unificou o mundo muçulmano em tôrno de um grande Estado islâmico. Sob o govêrno de um sultão, uma espécie de monarca absoluto, a dinastia otomana promoveu a prosperidade econômica do império e o reflorescimento das ciências e da cultura muçulmanas, atingindo o apogeu no século dezesseis.

Além de controlar e manter sob seu domínio todas as conquistas árabes na península Arábica, na Mesopotâmia, no Líbano, na Síria, na Palestina e na África, os turco-otomanos expandiram seu império, incorporando novos territórios e disseminando o islamismo nas regiões ocupadas.

O Império Turco-Otomano (séculoscatorze-dezessete)

Mapa. O Império Turco-Otomano (séculos 14 ao 17). Mapa representando parte do Leste Europeu, parte do Norte da África e Parte da Ásia, com destaque para a região nordeste da África, a porção oeste da Ásia, principalmente as regiões próximas aos mares Vermelho, Cáspio e Negro, e as regiões das penínsulas Balcânica, do Peloponeso e Itálica. Há territórios destacados em cores distintas. Em vermelho, o Império Turco-Otomano 'Na primeira metade do século 14'. Circunscrito à região de Karasi na Península da Anatólia. Em laranja claro, o Império Turco-Otomano 'Na segunda metade do século 14'. O territórios se expandiu para a Germânia, na Ásia Menor; Bulgária, Trácia e parte da Macedônia, na Europa. Em verde claro, o Império Turco-Otomano 'No século 15'. Incorporando toda a Macedônia, a Bósnia, a Sérvia, a Valáquia, parte da Península da Crimeia e parte da região do Cáucaso, na Europa; além, da Anatólia e Karamania, na Península da Anatólia, na Ásia. Em lilás, o Império Turco-Otomano 'Do século 16 ao 17'. Incorporando, territórios a oeste do Mar Cáspio, no Daguestão, no Mar Negro (com toda a Península da Crimeia, e os territórios em torno do Mar de Azov), a Hungria, a Bessarábia, a Podólia, a Moldávia, a Geórgia, a Armênia, o Curdistão, a Mesopotâmia, a Palestina, a cidade de Jerusalém, as cidades de Meca e Medina, Alexandria e Cairo, no Egito. Também foi incorporada a região banhada pelo Rio Nilo, a leste de Al-Wahat. Seguindo pela costa nordeste da África, conquistou a cidade de Trípoli e a Tunísia. Destacado por um pequeno quadrado preto 'Capitais sucessivas': sendo a primeira Brousse, na Anatólia; a segunda Adrianopla, na Trácia; e a Terceira, Constantinopla, no Bósforo, entre o Mar Negro e o Mar de Mármara. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 305 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 178.

Ler o mapa

• Ao observar o mapa “O Império Turco-Otomano (séculos catorze-dezessete)”, identifique pelo menos três localidades que passaram a fazer parte dos domínios desse império. Para auxiliar sua resposta, compare este mapa com o mapa “Domínios muçulmanos árabes (séculos sete-doze)”, apresentado anteriormente.

A importância do comércio no Império Muçulmano

A posição geográfica do Império Muçulmano, entre o Oriente e o Ocidente, favoreceu o surgimento de um rico comércio, essencial para o desenvolvimento econômico da região.

Inicialmente, as rótas de comércio utilizadas pelos árabes eram terrestres. Grandes caravanas de comerciantes, reunindo até 6 mil camelos, percorriam os extensos desertos do império, como o do Saara e o da Arábia. Ao longo do caminho, os mercadores e os animais podiam descansar em locais de parada, denominados cãns. A partir do século oito, com a fundação das cidades de Bagdá e Samarra, houve um impulso das rótasmarítimas em direção ao Extremo Oriente, com o uso dos rios Tigre e Eufrates e do oceano Índico. Pelo mar Mediterrâneo, foi possível alcançar o sul da Europa e o noroeste da África.

Na Ásia Central e na China, os mercadores árabes compravam produtos como porcelana, lã, bronze, perfume, joias, pedras preciosas e sêda. Este último artigo era tão importante que o caminho até a fonte produtora foi batizado de “Róta da sêda”. Na África, os árabes obtinham ouro e outros metais, escravos, resinas, gomas, peles e couros. Foi também graças a essa rede comercial que os árabes e os povos do Ocidente conheceram alimentos como laranja, limão, banana, arroz, berinjela e alcachofra.

O grande desenvolvimento do comércio proporcionou o surgimento de muitas cidades no Império Muçulmano, que se tornaram grandes centros de consumo e de circulação de riquezas. O comércio, além de proporcionar o contato entre diferentes culturas e civilizações, contribuiu para a expansão do islã e dos conhecimentos dos povos árabes.

Fotografia. Vista de local aberto, em um deserto, com areia marrom. Em primeiro plano, dois camelos vistos lateralmente, um atrás do outro, presos por cordas na cabeça e puxados por um homem com traje longo azul e a cabeça e o rosto cobertos por um tecido branco. Ao fundo, uma duna de areia e no alto, céu azul claro.
O Deserto do Saara é o maior deserto quente do mundo e se estende por países como Argélia, Chade, Egito, Líbia, Mali, Mauritânia, Marrocos, Níger, Sudão e Tunísia. Na fotografia, parte de caravana na região do Marrocos, comum ainda hoje. Fotografia de 2019.

Camelo ou dromedário?

O camelo, mamífero da família dos camelídeos, tem duas corcovas, enquanto o dromedário, da mesma família, tem apenas uma. Muitos autores, contudo, não fazem diferenciação entre o camelo e o dromedário; por isso, optamos pelo uso do primeiro termo, mais comumente encontrado na literatura produzida sôbre a história africana.

Ícone. Sugestão de site.

MUSEU caluste golbekiân. Disponível em: https://oeds.link/oCDdoh. Acesso em: 18 janeiro 2022. No site do museu, que se localiza em Lisboa, Portugal, é possível visualizar uma belíssima coleção de objetos de arte do Oriente Islâmico.

Cultura e ciências no mundo muçulmano

O mundo árabe e islâmico produziu importantes estudos, reflexões e descobertas em diversas áreas do conhecimento. Ao expandir o islã e as atividades comerciais, os árabes entraram em contato com muitas culturas, o que lhes permitiu conhecer invenções e inovações tecnológicas de outros povos, como a bússola, o astrolábio e o papel chineses, bem como textos de antigos pensadores gregos, persas e indianos.

Principalmente por meio do comércio, os árabes ajudaram a difundir essas inovações por vários territórios. Além disso, o próprio Alcorão era veículo de estudo e conhecimento, assim como base da alfabetização de boa parte da população. O estudo do Alcorão possibilitou o desenvolvimento da teologia, da filosofia, do direito, da gramática e da história, destacando-se, entre os principais pensadores muçulmanos, o filósofo de origem turca abu al fárabi e o historiador árabe êbnú ráldúna.

A valorização do conhecimento fez com que os árabes se destacassem em diversos campos da ciência, como a matemática, a química e a medicina. Na matemática, por exemplo, eles aprimoraram e difundiram uma criação hindu fundamental nos dias de hoje, os símbolos (de 0 a 9) conhecidos como algarismos indo-arábicos. Desenvolveram também a álgebra, a trigonometria, o uso da letra “x” para representar uma incógnita e a classificação das equações segundo os graus.

Manuscrito. Uma folha de papel acinzentada, com uma ilustração no centro. Nas partes inferior e superior, textos em caracteres árabes, em linhas horizontais. No centro da ilustração, duas figuras humanas uma de frente para a outra, vistas lateralmente. A figura da esquerda está vestida de vermelho e segura nas mãos um recipiente largo e fundo, do qual parece escorrer um líquido. A figura da esquerda, vestida com roupa verde, segura com a mão direita uma estrutura em forma de hastas entrecruzadas, com três pontas no alto e duas hastes fincadas ao solo. Essas figuras estão entre duas árvores. A árvore do lado direito tem folhas em formato pontiagudo, enquanto a do lado esquerdo possui folhas em formato arredondado.
Manuscrito Dois médicos preparam um remédio. 1224. Tinta, pigmentos e folha de ouro sôbre papel. Tradução árabe do manuscrito do estudioso grego Dioscorides, que viveu no século um. Museu de Arte WaltersBaltimore, Estados Unidos.
Iluminura. Sobre um papel de cor bege, a ilustração duas figuras. A esquerda, uma mulher sentada sobre os calcanhares sobre um tapete azul; veste uma roupa vermelha e usa um turbante branco sobre a cabeça. Ela é vista de lado. À direita, um homem de barbas longas, sentado à frente da figura de vermelho, está vestido com um traje comprido verde e turbante branco em torno da cabeça. Ele está sentado sobre um banco e tem os dois pés apoiados sobre um suporte. A mulher estende um ramo de folhas na direção do homem e ele faz o mesmo na direção da mulher. A cena é circunscrita pelo desenho de um arco com duas colunas laterais, na cor lilás e uma cobertura em marrom escuro.
DIOSCORIDES. De materia médica. 1229. Papel, 19,2 por 14 centímetros. Palácio de tôfcapí, Istambul, Turquia. Cópia manuscrita em árabe do texto grego.

Língua árabe

A língua árabe exerceu uma influência muito forte nas línguas portuguesa e espanhola. Assim, muitas palavras de origem árabe foram incorporadas ao nosso vocabulário. Algumas são identificáveis pêla partícula “al”, como alambique, alface, alfândega, álgebra, entre outras. Há também palavras que não começam com o artigo, mas derivam do árabe, como café, xadrez e xerife.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Cidadania e Civismo

A mulher no islã

O que sabemos sôbre a condição das mulheres no mundo muçulmano ao longo do tempo? Para começar a refletir sôbre isso, é importante compreender que o Alcorão apresenta diversas passagens relativas aos direitos das mulheres. De acôrdo com o texto sagrado, a mulher tem, por exemplo, os direitos à propriedade, à herança, de pedir o divórcio e de estudar. pêla tradição, ela também pode escolher com quem deseja se casar, usar métodos contraceptivos e também ter o próprio negócio.

Segundo estudiosos, há muitas mulheres no mundo muçulmano reconhecidas por seu trabalho e seus conhecimentos. Entre os diversos exemplos, podemos citar Rufaida al áslamia, a primeira médica muçulmana, que viveu no mesmo período que Maomé. Além disso, a fundação de uma das mais antigas universidades no mundo se deve às mulheres muçulmanas: a Universidade de al karaouíne, na cidade de Fez, no atual Marrocos, foi fundada em 859, por Fátima al fírriri e por sua irmã, Mariam.

Apesar disso, é importante reconhecer que, em vários países islâmicos, os direitos das mulheres são continuamente violados. É o que ocorre, por exemplo, na Arábia Saudita, que tem um regime ditado pêla interpretação rigorosa das leis islâmicas. Nesse país, as mulheres são submetidas a muitas restrições, decorrentes de dois fatores principais: uma leitura radical do Alcorão e tradições culturais de vários grupos que adotaram o islã, mas não abandonaram muitas de suas práticas anteriores.

Fotografia. Três mulheres sentadas, cada uma segurando um cartaz branco com texto escrito em línguas inglesa e hindu, em preto. Nos três cartazes é possível identificar a sigla, em inglês, AIDWA, que significa Associação das Mulheres para a Democracia em toda a Índia. À esquerda, a mulher usa um gorro sobre a cabeça em branco e preto, com traje longo de cor azul, cobrindo dos braços aos joelhos, além de uma calça azul. No centro, uma mulher com lenço laranja sobre a cabeça, o pescoço e os ombros, com um traje comprido de cor preta, olhando para à direita. Ela usa par de óculos de grau no rosto. No canto direito da imagem, uma mulher com a cabeça, e a parte inferior do rosto coberta por um véu espesso  e preto, tapando boca e nariz, com um lenço escuro e estampado sobre os ombros. Ela usa blusa de mangas compridas  e calças  pretas. no fundo, pessoas vistas parcialmente.
Algumas mulheres na Índia participam de campanha pêla igualdade de cidadania e pêlofim à perseguição de minorias religiosas no país. Fotografia em Nova Délhi, Índia, em 2021.

Reúna-se com seus colegas. Em grupos, façam uma pesquisa na internet para identificar protestos recentes de mulheres em países de maioria muçulmana. Registrem no caderno de que país se trata e quais as principais reivindicações das manifestantes.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Depois que foi fundado, no séculosete, o islamismo se difundiu rapidamente por regiões da África, da Ásia e da Europa, originando um grande império. De que fórma essa expansão favoreceu o intercâmbio entre diferentes culturas e conhecimentos no período? Cite exemplos.
  2. Meca, Medina, islã, Alcorão, Maomé, península Arábica, Hégira. Qual é a relação existente entre essas palavras? Redija um texto em seu caderno utilizando todos esses termos. Fique atento à pontuação, à linguagem e ao encadeamento do texto, para que ele fique claro e coerente.
  3. A charge a seguir apresenta três catedrais hostilizando uma pequena mesquita, que se retrai, amedrontada com tal atitude. Analise-a.
Charge. Ilustração em preto e branco, com traços finos. À esquerda, uma mesquita com rosto e braços humanos: um prédio pequeno com um minarete, uma torre vertical com uma ponta superior triangular, com uma lua e uma estrela  na ponta. Ela está curvada para trás, olhando para frente, com olhos, boca e braços para baixo. À direita, de frente para a mesquita, três catedrais em fila: construções grandes de base larga na parte inferior; cada uma delas tem, no centro, uma torre grande com cruzes na ponta. As torres tem rostos, que estão com as sobrancelhas franzidas e boca para baixo em sinal de reprovação. Uma das torres, está com a mão esquerda na cintura e a mão direita estendida, segurando um cartaz. Nele há a ilustração de uma placa de proibição, um círculo cortado por uma reta na diagonal sobre a silhueta do minarete de uma mesquita.
pismetróvich, P. Três catedrais hostilizando uma pequena mesquita. 2009. Charge. Esta charge foi publicada no jornal Kleine Zeitung, Graz, Áustria.

Agora, leia o seguinte texto com muita atenção. Depois, responda às questões em dupla.

A Anistia Internacional alertoureticências para a discriminação de muçulmanos em diversos países europeus, principalmente na área da educação e no mercado de trabalho reticências.

reticênciasalguns desses países adotaram leis contra o uso de véus cobrindo o rosto ou o de símbolos religiosos nas escolas.

reticências O relatório [da atingido integralmente] também critica especialmente a Suíça, pêla lei de 2009 que proíbe a construção de novos minaretes nas mesquitas, e a região da Catalunha, na Espanha, onde os muçulmanos são obrigados a orar ao ar livre porque as autoridades locais se recusam a aprovar projetos para a construção de mesquitas alegando que elas são incompatíveis com as tradições e a cultura da Catalunha.

Anistia Internacional afirma que muçulmanos são discriminados na Europa. Deutsche Welle, 24 abril 2012. Disponível em: https://oeds.link/Vf8Xtx. Acesso em: 19janeiro 2022.

  1. Que atitude, cada vez mais frequente na Europa, pode ser identificada na charge?
  2. O texto e a charge abordam a mesma atitude? Justifique.
  3. Você estudou que o islã se difundiu também pêla Europa, especialmente na península Ibérica, com o Emirado de Córdoba. É possível dizer que os árabes que ocuparam o território naquela época adotaram, com os cristãos e os judeus, a mesma atitude que os europeus em relação aos muçulmanos nos dias de hoje, como o texto e a charge sugerem? Justifique.
Ícone. Ilustração do globo terrestre circundado por uma linha amarela, simulando a trajetória da Lua em torno do planeta, indicando a seção Ser no mundo.

Ser no mundo

Multiculturalismo

Islamismo hoje

Você já estudou aspectos das origens do islamismo e da trajetória de Maomé. Já sabe, também, como se deu a disseminação da fé islâmica por vários pontos do planeta, em especial após a morte do profeta.

E hoje? Qual é o alcance do islã no mundo em que vivemos? Como é a realidade desse grupo religioso? Na atualidade, o islamismo agrupa mais de 1,8 bilhão de fiéis no mundo todo. No ano de 2019, a Indonésia era o país com a maior população de seguidores do islã.

Nos países do Oriente Médio (com exceção de Israel), o islamismo prevalece. Em países asiáticos, como Bangladesh, Malásia e Indonésia, também. Já na África, o islamismo é a religião mais professada nos países árabes do norte do continente e na região do Sael. Na Europa, os adeptos do islamismo predominam na Albânia e na Bósnia-Herzegovina.

O islã tem muitos seguidores na China, na Rússia, na Índia, na Europa Ocidental, nos Estados Unidos e no Brasil. Isso significa que milhões de pessoas nesses países, mesmo não sendo árabes, são muçulmanas.

Fotografia. Vista de local aberto com um portão gradeado preto em primeiro plano. Em segundo plano, uma escadaria que dá acesso a um templo com abertura em arcos no primeiro pavimento em branco e na parte superior, outro andar em tons de azul. No topo, vê-se cúpula em azul-claro. À esquerda e à direita, torres de formato tubular em branco, de tamanho duas vezes maior que o prédio e com uma pequena cúpula em azul-claro no alto. No alto, céu em azul com nuvens brancas.
Mesquita Imam áli ibin abí talíb, também conhecida como Mesquita de Curitiba, no Paraná. Inaugurada em 1972. Segundo a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (fãmbrás), em 2020 havia mais de 1 milhão de muçulmanos no país, além de 90 mesquitas e salas de oração e 80 centros islâmicos. Fotografia de 2017.
Fotografia. Vista de local fechado. Em primeiro plano, quatro mulheres vistas de costas sentadas sobre um banco de madeira. Elas estão vestidas com blusa de mangas compridas em branco e detalhes em amarelo e preto. Sobre a cabeça, lenços, sendo um em amarelo e os outros três em preto. De frente para elas, em segundo plano, uma mulher de cabelos pretos, presos para trás, com camiseta em vermelho, servindo um prato. Mais ao fundo, cartaz de cor vermelha e com preços de mercadorias em amarelo.
Jovens muçulmanas em barraca de comida em importante rua comercial na cidade de ioguiakarta, na Indonésia. Fotografia de 2019.

É interessante lembrar que existe uma diferença entre ser árabe e ser muçulmano. O árabe é o indivíduo que pertence a um povo de língua e cultura árabes. Há árabes muçulmanos, cristãos e de outras crenças. O muçulmano é o seguidor da religião islâmica, que pode ser árabe ou não. Assim, nem todo árabe é muçulmano, da mesma fórma que nem todo muçulmano é árabe.

As muçulmanas conquistam novos espaços

As mulheres muçulmanas vêm procurando ganhar novos espaços na sociedade – espaços esses que, muitas vezes, por tradição, eram reservados somente aos homens. Conciliando a fé com as práticas do mundo atual, estão transformando sua realidade.

Em 2021, por exemplo, mulheres muçulmanas da Europa organizaram um protesto on-line contra a proibição do uso do véu (o chamado ríjab) na França.

Em fotografias e em selfies disseminadas em redes sociais, mulheres muçulmanas escreveram em suas mãos mensagens como “Tire as mãos do meu véu” e “Tire as mãos do meu ríjab”.

mariâm chorák tem 16 anos e é uma muçulmana devota, para quem o ríjab (véu islâmico) é uma expressão de sua devoção ao profeta morramédi, mas a proposta de senadores franceses em breve poderá negar a ela a liberdade de usá-lo em espaços públicos.

reticências

— É parte da minha identidade. Forçar-me a removê-lo seria uma humilhação — disse chorák. — Eu não consigo entender por que querem aprovar uma lei que discrimina.

Tire a mão do meu véu! Muçulmanas fazem campanha contra proibição do uso do ríjab na França. O Globo, 4 maio 2021. Disponível em: https://oeds.link/oPtTZ0. Acesso em: 18janeiro 2022.

Fotografia. Vista de local aberto. Muitas mulheres em manifestação, uma ao lado da outra. As que estão em primeiro plano, à frente, seguram nas mãos um cartaz marrom claro onde se lê, em inglês: 'Tire as mãos do meu véu'. Nas laterais, outras mulheres com cartazes menores, onde se lê, também em inglês: 'Não à islamofobia'. A maioria das mulheres usa véu  cobrindo a cabeça. Em segundo plano, árvores com ramos em marrom e céu diurno nublado.
Mulheres muçulmanas em diversos países do mundo vêm organizando protestos e atos pêlas causas em que acreditam. Esta fotografia, de março de 2019, mostra algumas mulheres muçulmanas em Londres, na Inglaterra, em um ato contra o preconceito à população muçulmana residente naquele país e contra a proibição do uso do véu. Na faixa maior, lê-se, em inglês: “Tire as mãos do meu véu”.
  1. A reportagem mostra a opinião de mariâm chorák, uma jovem muçulmana de 16 anos. Para ela, o que significa o uso do ríjab? Responda em seu caderno.
  2. Procure no dicionário o significado do termo “empatia”. Depois, responda: você acha que, para compreender uma cultura diferente da nossa, é necessário ter empatia? Por quê? Como esse caso se aplica às mulheres muçulmanas e ao protesto que organizaram, citado na reportagem?

Glossário

Dinastia merovíngia
Fundada supostamente por Meroveu, chefe guerreiro franco e avô de Clóvis.
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Escola palatina
Escola criada por Carlos Magno que funcionava no próprio palácio imperial. Nela, estudavam os filhos da nobreza e o próprio imperador.
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Mouros
fórma como os cristãos chamavam os muçulmanos que se estabeleceram na península Ibérica no século oito.
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Tribo
Conceito da antropologia que designa um grupo social autônomo que apresenta, entre seus membros, certa homogeneidade (física, linguística, culturaletcétera); povo.
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Clã
Grupo de pessoas unidas por laços de parentesco que acreditam ter um ancestral comum.
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Hégira
Significa receber proteção e acolhimento em um lugar que não é o seu; por isso, a interpretação mais correta para esse termo é imigração ou exílio, e não fuga, como geralmente é traduzido.
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Jihad
Palavra árabe que significa “esfôrço”, isto é, esforço em favor de Deus. Trata-se do compromisso do muçulmano de manter-se fiel às crenças do islã, praticar boas ações e transmitir a mensagem divina para outros povos.
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