Você estudará nesta Unidade:
Formação e crise do feudalismo
A sociedade feudal
As transformações na Europa Ocidental a partir do século onze
O poder da Igreja e as Cruzadas
A crise do século catorze na Europa
No início da Idade Média, muitas regiões da Europa Ocidental passaram por um processo de ruralização, ao mesmo tempo que as cidades e o comércio perderam importância. Aos poucos, um sistema social e econômico conhecido por feudalismo se formou.
O feudalismo foi predominante entre os séculos dez e treze, mas, a partir do século onze, a sociedade europeia passou por profundas transformações: as cidades e o comércio retomaram sua fôrça e a produção agrícola aumentou.
O que você sabe sôbre a Idade Média e o feudalismo? Sabe algo sôbreservos e senhores feudais? E sôbre peste negra, Cruzadas, burgos e burgueses?
CAPÍTULO 18 O FEUDALISMO
Com a desintegração do Império Carolíngio no século nove (se necessário, retome o Capítulo 16 deste volume), os descendentes dos servidores de Carlos Magno continuaram a praticar, em seus domínios, alguns costumes germânicos, principalmente o de doar terras a seus dependentes em troca de ajuda administrativa e militar. Esses grandes senhores de terras firmavam alianças pessoais com outros senhores de terras, que eram reforçadas pelo juramento de fidelidade entre eles.
Por meio dessa aliança, um senhor de terra transferia a outro o poder sôbre um bem seu, chamado de feudo. A fórma mais comum de feudo eram as terras. Aquele que doava o feudo passava a ser senhor de quem o recebia, chamado vassalo. Entre eles era firmado o contrato feudo-vassálico, que estabelecia obrigações e direitos recíprocos.
Gradualmente, nas regiões das atuais França e Alemanha, foi se configurando um novo sistema social que ficou conhecido como feudalismo. Entre os séculos dez e treze, esse sistema predominou na Europa Ocidental, embora o tempo de duração e as características tenham variado de uma região para a outra.
A sociedade feudal
Na Europa feudal, a agricultura era a fonte de sustento da maior parte da população. No senhorio, que era a propriedade agrícola senhorial, havia terras para o cultivo, celeiros para armazenar a colheita, um moinho para triturar os grãos e fornos para assar os pães.
Em geral, o feudo era autossuficiente, isto é, ele tendia a produzir quase tudo o que era necessário à sobrevivência dos moradores, como alimentos, ferramentas, vestuário e utensílios domésticos. O comércio e o artesanato não desapareceram, mas diminuíram de importância.
Um bispo do século chamado Adalberão de Laon, resumiu em um poema a visão da Igreja a respeito da sociedade feudal: havia os que oravam (clero), os que lutavam (nobres) e os que trabalhavam (camponeses). Segundo o bispo, essa estrutura refletia a ordem celeste, representada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. Alterar essa ordem seria o mesmo que ir contra a vontade de Deus.
Essa divisão, porém, não representava as relações reais estabelecidas na sociedade feudal. Atualmente, os historiadores especialistas em Idade Média tendem a caracterizá-la de acôrdo com o papel que o indivíduo ocupava na comunidade cristã. Segundo esse critério, havia os leigosglossário e os clérigos e, dentro de cada um desses grupos, outras divisões.
Ler a iluminura
• As iluminuras são ilustrações que decoram as páginas dos livros e dos manuscritos medievais. A iluminura O mês de setembro representa parte de um senhorio, a propriedade senhorial. Ao fundo, há uma grande construção. Você sabe que tipo de construção é essa? O que os elementos desta iluminura revelam sôbre a sociedade feudal?
Os leigos
Os senhores de terra formavam o grupo mais privilegiado de leigos das áreas rurais. Nesse grupo, havia os nobres, os grandes senhores e os senhores menores. Eles se dedicavam às atividades administrativas e militares e cuidavam da justiça e da vigilância dos camponeses. No grupo dos leigos, havia também os cavaleiros, isto é, combatentes armados.
No século onze, a cavalaria afirmou-se como uma instituição ligada à nobreza. O ritual de ingresso nessa instituição marcava a passagem do interessado para a vida adulta: um jovem de 18 a 20 anos recebia do senhor um golpe na nuca e as armas que faziam dele um integrante do grupo.
A figura do cavaleiro, no imaginário coletivo, distanciou-se da realidade e entrou no terreno da lenda. Quando surgiram os primeiros romances escritos na Europa medieval (séculos onze e ), as chamadas novelas de cavalaria, os cavaleiros eram os protagonistas. Escritas em verso e em prosa, as novelas adaptavam antigas narrativas orais que abordavam os feitos heroicos e as guerras históricas, como as conquistas de Carlos Magno e as lendas do rei Arthur. doze
As novelas de cavalaria apresentavam um código de conduta no qual se destacavam o heroísmo, a honra e a lealdade, que eram os ideais da cavalaria medieval. Nas histórias, o cavaleiro agia em defesa da honra e da lealdade ao rei e à Igreja. A mulher era o objeto do amor cortês do homem. Assim, a dama deveria ser tratada e amada com respeito e delicadeza.
Ler a ilustração
• Que elementos da imagem podem ser associados ao período medieval? Que características dos personagens indicam sua condição social?
HISTÓRIA éfe ême 074: Cavalaria Medieval: a história de uma classe guerreira europeia. Entrevistador: Icles Rodrigues. Entrevistado: Rodrigo Prates de Andrade. Leitura ObrigaHISTÓRIA, 18 outubro 2021. Podcast. Disponível em: https://oeds.link/zgFxtI. Acesso em: 14 abril 2022. O episódio traz curiosidades sôbre as cavalarias medievais.
Camponeses
A maior parte da população do mundo feudal era constituída por camponeses. Entre os camponeses, havia os servos e os vilões.
Os servos estavam presos à terra para o resto da vida. Em troca de proteção e do direito de usufruí-la, eles deviam várias obrigações ao senhor. Por meio da corveia, por exemplo, eram obrigados a trabalhar duas ou três vezes por semana no manso senhorial, o lote do senhorio em que os produtos obtidos pertenciam exclusivamente ao senhor e à sua família. A talha os obrigava a entregar ao senhor cêrca de um terço do que produziam nas terras destinadas ao sustento deles e de suas famílias (o manso servil). Havia ainda as banalidades, um tipo de taxação, paga em produtos, pelo uso do forno, do moinho e de outras instalações da reserva senhorial. Além disso, os servos executavam outras tarefas, como consertar pontes e construir edifícios. Eles também tinham obrigações ocasionais. Por exemplo, nas viagens que os senhores faziam pêlas aldeias, eles deviam oferecer alimentação e hospedagem.
Os vilões eram camponeses livres que haviam adquirido pequenos lotes de terra. Com o passar do tempo, porém, muitos cederam às pressões senhoriais e tornaram-se servos. Em algumas regiões podia haver um número reduzido de escravos, que trabalhavam principalmente nos afazeres domésticos dos castelos senhoriais.
Mercadores e artesãos
As cidades medievais chamavam-se burgos. Nelas viviam os burgueses, que exerciam diferentes ocupações.
Com a crescente importância econômica das cidades a partir do século surgiram novos grupos sociais, como mercadores, banqueiros, artesãos, açougueiros e estudantes das universidades e das escolas instaladas nas catedrais.
Burgueses
Em sua maioria, os burgueses eram provenientes do meio rural: podiam ser servos fugidos ou homens livres que dependiam dos senhores de terra.
Os clérigos
No mundo medieval, o papel dos que oravam era muito importante, tanto no campo quanto na cidade. No tôpo da hierarquia eclesiástica estava o papa, chefe da Igreja Católica. Entre outras atividades, ele tinha poder para julgar os clérigos, fiscalizar universidades, instituir diocesesglossário , reconhecer novas ordens religiosas, cobrar o dízimo e estabelecer um modêlo de conduta social. Abaixo do papa, havia o clero secular e o clero regular. O primeiro dividia-se em dois grupos: o alto e o baixo clero.
- Alto clero: era composto de bispos responsáveis pêlas dioceses. Eram, em sua maioria, pessoas nascidas nas famílias nobres.
- Baixo clero: eram os párocos, líderes de paróquia. Eles viviam frequentemente como os camponeses: cultivavam a terra e atendiam aos pobres e necessitados das vilas e regiões próximas da paróquia.
Já o clero regular era formado pelos monges, cristãos que se afastavam do mundo para glorificar e servir a Deus. Eles viviam em mosteiros afastados das cidades. Os mosteiros abrigavam grandes bibliotecas. Lá, os monges copiavam e ilustravam obras antigas dos gregos, dos romanos e dos cristãos, cumprindo, assim, um papel fundamental na preservação dos textos da Antiguidade clássica.
PERCIVALDI, Elena. A vida secreta da Idade Média. Petrópolis: Vozes, 2018. O livro propõe mostrar os costumes das pessoas que viveram no período da Idade Média, como o tipo de vestimentas, lazer, alimentação, relacionamentos, além de abordar como essas pessoas lidavam com o amor, a morte e as crenças.
Viver na Europa feudal
Na Europa feudal, as pessoas sentiam e registravam o passar do tempo em ritmos bastante diferentes daqueles que experimentamos atualmente em nossa acelerada sociedade. O modo de perceber a passagem do tempo (assim como os meios para marcar e contar o tempo) era bem menos rígido e mais lento do que o de hoje. A vida coletiva era ritmada pelos ciclos da natureza, como a passagem das quatro estações, e pelo conjunto de atividades exercidas pêla população.
Vida cotidiana e diferentes fórmas de entretenimento
A vida cotidiana, porém, não era a mesma para toda a sociedade medieval: as fórmas de entretenimento de um nobre, por exemplo, eram muito diferentes das de um camponês.
Os membros da nobreza divertiam-se com as caçadas e os torneios, e com diversos jogos, como o xadrez e o tarô. Além disso, distraíam-se com os jograis, artistas ambulantes que recitavam, cantavam ou apresentavam espetáculos circenses nos palácios ou nos castelos.
Os camponeses, por sua vez, divertiam-se com passatempos comunitários ao ar livre, como jogos e disputas esportivas, ocasiões em que podiam provar sua fôrça e habilidade física. Já nas áreas urbanas, uma fórma de entretenimento comum era o jôgo de dados, praticado em praças públicas ou em tavernas.
As vestimentas
Na Europa medieval, a túnica de mangas era a principal vestimenta utilizada por homens e mulheres. Em geral, os modelos femininos cobriam o corpo até os tornozelos, enquanto os masculinos ficavam na altura dos joelhos. Por baixo da túnica, usava-se uma camisa, e os homens também vestiam uma espécie de calção.
A nobreza exibia seu prestígio social pelo uso de tecidos caros como a sêda importada do Oriente, pelo refinamento dos brocados e pêla riqueza das côres. Já os camponeses usavam vestes mais simples, de tecidos grosseiros, como os feitos de fibras de cânhamo. Enquanto os nobres usavam botas de couro, de cano alto, ou sapatos de bicos longos, os mais pobres vestiam simples sapatilhas de pano.
Moradias: casas e castelos
Em geral, até o século oito, as habitações de nobres e as de camponeses eram feitas de madeira, mas a estrutura era diferente conforme o grupo social.
As casas camponesas limitavam-se a um único ambiente, que funcionava como cozinha, sala e quarto. Durante a noite, esse cômodo muitas vezes também abrigava os animais domésticos, que ajudavam a aquecer o ambiente.
Já os castelos só começaram a se multiplicar na Europa Ocidental com a afirmação do poder dos nobres. Os primeiros castelos eram de madeira e foram construídos com a finalidade de abrigar o senhor e sua família e de controlar e proteger um território. A partir do século onze, reis e senhores mais poderosos começaram a construir castelos de pedra.
Construções de pedra
O uso da pedra nas construções era mais comum onde havia pedras em abundância; caso contrário, a pedra ficava restrita às igrejas e aos palácios.
As mulheres no mundo feudal
A sociedade feudal era patriarcal, ou seja, os homens predominavam nas funções de liderança política e tinham privilégio social e contrôle das propriedades. A feminilidade era vista de fórma negativa, pois, segundo a tradição judaico-cristã, todas as mulheres descendiam de Eva, que era pecadora e responsável pêla perda do Paraíso. Assim, a Igreja Católica considerava as mulheres seres suscetíveis às fraquezas humanas e à maldade, e a elas era dado pouco espaço de expressão. A despeito disso, vários historiadores procuram resgatar a história das mulheres durante a Idade Média, mostrando a sua importância para essa sociedade.
As mulheres das famílias nobres eram obrigadas a circular, quase que exclusivamente, no domínio privado: na casa paterna, do marido ou no convento. Nesses espaços, contudo, tinham pesadas responsabilidades em relação à organização e às finanças da casa. Além disso, algumas delas tiveram importância política e significativa produção intelectual.
Já as mulheres não nobres viviam de maneira muito diferente. Dependentes do trabalho para sobreviver, terminavam por ter uma vida de maior liberdade.
A grande maioria das mulheres reticências trabalhava no campo, na lavoura e no lar. reticências Muitas delas na Idade Média eram trabalhadoras agrícolas Outras mulheres trabalhavam em comércios como a venda de víveres e bebidas, confecção de roupas ou em artesanatos. As esposas de mercadores e comerciantes estavam frequentemente envolvidas nos negócios dos maridos, e podiam optar por prosseguir neles quando viúvas.
lóin rênri R. (). organizador Dicionário da Idade Média. Rio de Janero: Jorge zarrár, 1997. página 405.
Vozes femininas
No mundo medieval, poucas mulheres tinham a oportunidade de aprender a ler e escrever. Geralmente, as que sabiam eram religiosas ou damas da alta sociedade. Apesar disso, vários escritos foram deixados por elas. Maria de França, por exemplo, uma poetisa da nobreza inglesa que viveu no século doze, criou narrativas muito diferentes das novelas de cavalaria, rompendo com a ética cortês. Em suas histórias, a dama cortejada geralmente tinha um papel decisivo e uma personalidade muito marcante.
Em debate
Servidão, escravidão, trabalho livre
O mundo do trabalho é um tema importante para muitos historiadores. Entender conceitos como trabalho livre, servidão e escravidão, por exemplo, pode ser fundamental para as pesquisas históricas e para compreender o funcionamento de sociedades antigas.
Ao longo do tempo, é possível encontrar a ocorrência de trabalho livre em diversas sociedades. Em diferentes períodos e sociedades da Antiguidade, os camponeses, por exemplo, eram livres, e trabalhavam em pequenas unidades familiares.
Agora, vamos estabelecer uma comparação entre os trabalhadores que não eram livres – escravizados e servos.
Texto 1
De origem e caracterização problemáticas, que geraram muitas polêmicas historiográficas, os servos eram trabalhadores dependentes. Recebiam do senhor lotes de terra, os mansos, de cujo cultivo dependia sua sobrevivência e em troca da qual realizavam o pagamento de determinadas taxas àquele senhor. Trabalhavam ainda em lugares e tarefas indicadas pelo senhor, sem nenhum tipo de remuneração. Em contrapartida, tinham a posse vitalícia e hereditária de seus mansos e a proteção militar proporcionada pelo senhor.
reticências
De qualquer fórma, ser servo implicava não gozar de muitas liberdades, ter incapacidades jurídicas. Ele reticências não podia testemunhar contra homem livre, não podia se tornar clérigo, devia diversos encargos. Contudo, ao contrário do escravizado clássico, tinha reconhecida sua condição humana, podia ficar com parte do que produzia e recebia proteção do seu senhor.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. 2. editora São Paulo: Brasiliense, 2005. página 91, 186.
Texto 2
A escravidão se caracteriza por sujeitar um homem ao outro, de fórma completa: o escravizado não é apenas propriedade do senhor, mas também sua vontade está sujeita à autoridade do dono e seu trabalho pode ser obtido até pêla fôrça.
Esse tipo de relação não se limita, pois, à compra e venda da fôrça de trabalho, como acontece, por exemplo, no Brasil de hoje, em que o trabalhador fornece sua fôrça de trabalho ao empresário por um determinado preço, mas mantém sua liberdade formal. Na escravidão, transforma-se um ser humano em propriedade de outro, a ponto de ser anulado seu próprio poder deliberativo: o escravizado pode ter vontade, mas não pode realizá-las.
Pínsqui, Jaime. A escravidão no Brasil. 18. editora São Paulo: Contexto, 2001. página 11.
- Retome as ideias de Hilário Franco Júnior e, com suas palavras, explique em seu caderno o conceito de servidão.
- O texto 2 apresenta uma definição para “escravidão”. Considerando essas ideias, de que modo a escravidão pode se diferenciar da servidão?
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Com base no estudo feito nesta Unidade, crie uma frase que caracterize cada um destes aspectos da Europa feudal:
- Economia.
- Sociedade.
- As iluminuras estão entre as mais importantes expressões da arte medieval. Analise a iluminura a seguir, que ilustra um livro do filósofo italiano Egídio Romano, e responda em grupo às questões propostas.
- Como as pessoas, as edificações, os objetos e os animais foram representados nessa iluminura? As representações são realistas? Há alguma relação de proporção entre esses elementos? Justifiquem suas respostas.
- Vocês conseguem identificar os grupos sociais representados na imagem? Quais são eles? Prestem atenção, por exemplo, nas vestimentas dos personagens, nos objetos que carregam e no que estão fazendo.
- Que diferenças vocês conseguem perceber entre o que dizia o bispo Adalberão de Laon sôbre a sociedade medieval, que vocês estudaram nesta Unidade, e o que mostra a iluminura?
- Pensem agora na sociedade em que vocês vivem. Ela também se divide em grupos sociais distintos? Se sim, quais são eles? Vocês se sentem parte de algum desses grupos sociais? Por quê? Organizem suas ideias e avaliem se seus argumentos são coerentes.
3. Leia o texto a seguir para responder às questões.
A sociedade feudal, além de agrária, militarista, localista e estratificada, era também uma sociedade clerical, ou seja, na qual havia contrôle eclesiástico sôbre o tempo, as relações sociais, os valôres culturais e mentais. reticências
O contrôle eclesiástico sôbre os valôres culturais e mentais era exercido por meio de vários canais. O sistema de ensino, monopolizado pêla Igreja até o século treze, permitia a reprodução do conjunto de ideias que ia sendo selecionado e formulado por ela. reticências
Numa época em que poucas pessoas tinham acesso [à] cultura escrita, as pinturas e esculturas das igrejas e os sermões dominicais dos clérigos funcionavam como os meios de comunicação de massa de então. reticências
FRANCO JÚNIOR, Hilário. Feudalismo: uma sociedade religiosa, guerreira e camponesa. São Paulo: Moderna, 1999. página 41, 43.
- Explique cada uma das características que o autor atribui à sociedade feudal:
- Agrária.
- Estratificada.
- Militarista.
- Clerical.
- Localista.
- De que fórma a Igreja exercia o contrôle das ideias e dos valôres culturais difundidos naquela sociedade?
- Como você vê o poder das igrejas ou das religiões nos dias atuais? Que veículos atualmente transmitem valôres, ideias e preferências?
CAPÍTULO 19 A BAIXA IDADE MÉDIA
Como se aproximava o terceiro ano que se seguiu ao ano mil, viu-se em quase toda a terra, mas sobretudo na Itália e na Gália, renovar as basílicas das igrejas; embora nenhuma necessidade tivesse disso, uma emulaçãoglossário levava cada comunidade cristã a ter uma mais suntuosa do que as outras. Era como se o próprio mundo tivesse sido sacudido e, despojando-se da sua vetustezglossário , se tivesse coberto por toda a parte de um manto branco de igrejas.
Les cinq livres de ses histoires (900-1044). In: Pedrêro sãntches, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas. São Paulo: editora Unésp, 2000. página 77-78.
O texto citado que você acabou de ler é do monge raúl glabê ( cêrca de 985- cêrca de 1047), que viveu por muito tempo na região francesa de Borgonha. Sua vida transcorreu em tôrno do ano 1000, data considerada um marco simbólico das transformações que ocorriam na Europa Ocidental e que é considerada o início da Baixa Idade Média. Segundo Raul, a “onda” de construção de novas igrejas e de reforma das antigas se deveu a uma espécie de “disputa sagrada”, pêla qual cada comunidade pretendia superar as outras p beleza e riqueza de seus templos.
A religião tinha enorme importância para o homem medieval. Que mudanças estavam ocorrendo na Europa, naquela época, que possibilitaram a construção de tantas igrejas? É o que vamos descobrir ao longo deste Capítulo.
. LE GÓFI, Jaques A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. O livro apresenta fatos e curiosidades da Idade Média, como as histórias de guerras e perseguições, os romances de cavalaria e as importantes descobertas e produções do período.
O crescimento da produção agrícola
Até por volta do ano 1000, a desnutrição e as frequentes crises de fome foram as principais razões das altíssimas taxas de mortalidade na Europa medieval. Após o século onze, a fome não desapareceu completamente, mas se tornou menos frequente e mais localizada. Houve um aumento da produção de alimentos que possibilitou reduzir as mortes por fome e desnutrição. O que teria proporcionado essa mudança?
Em primeiro lugar, destacam-se a ampliação das áreas cultivadas e o consequente aumento da quantidade de alimentos disponíveis. Florestas e bosques foram transformados em espaços de cultivo, e áreas pantanosas foram drenadas e usadas para a agricultura.
Uma segunda razão que explica o aumento da produção foi o desenvolvimento de novas técnicas e de instrumentos agrícolas, com o uso do ferro. O metal tornou-se mais acessível aos camponeses apenas entre os séculos onze e treze, o que foi essencial para aprimorar os instrumentos agrícolas da época. O principal exemplo disso foi a difusão de um tipo especial de arado na Europa: a charrua. As relhas desse equipamento abriam sulcos mais profundos na terra, ao mesmo tempo que misturavam as camadas do solo com o esterco, tornando-o mais fértil.
Os avanços técnicos atuavam em conjunto com outras melhorias: para puxar a charrua, os animais passaram a ser atrelados pelo peito, e não mais pelo pescoço. Isso aumentou a capacidade de tração e de transporte, favorecida também por inovações promovidas nas carroças com a introdução do segundo eixo móvel.
As técnicas agrícolas na Idade Média
Até meados do século vinte, os historiadores pensavam que os europeus dos primeiros séculos da Idade Média utilizavam apenas instrumentos agrícolas muito rudimentares, construídos basicamente com madeira endurecida ao fogo. Recentemente, contudo, alguns historiadores têm argumentado que essa ideia foi elaborada com base em preconceitos, em detrimento da análise cuidadosa das fontes escritas e arqueológicas do período. Seja como for, o aperfeiçoamento dos instrumentos agrícolas com o uso do ferro ocorreu de fórma muito mais efetiva entre os séculos onze e treze.
Rotação trienal de culturas
Outra mudança que contribuiu para aumentar a produtividade da terra foi o sistema trienal de cultivo. Na Idade Média, ainda não era comum o uso de adubos. Por isso, o cultivo precisava ser planejado para possibilitar que uma parcela do terreno passasse um período em repouso, improdutiva, recuperando naturalmente sua fertilidade. Os poucos animais domésticos eram mantidos nessas áreas para que ajudassem na recuperação do solo.
Com o sistema trienal de cultivo, as terras cultiváveis eram divididas em três partes. A cada ano, enquanto duas delas eram mantidas em plena atividade, a terceira ficava em repouso. Comparativamente ao sistema bienal, em que as terras eram divididas em duas partes (uma cultivada e a outra deixada em repouso), o sistema trienal tinha a vantagem de possibilitar duas colheitas anuais, uma de cereais de inverno e a outra de primavera.
Sistema TRIENAL de cultivo
O aumento populacional
Foram necessárias várias gerações para que a maior parte dos estabelecimentos agrícolas na Europa tivesse acesso às novas técnicas e instrumentos. Quando essas mudanças se disseminaram, entre os séculos onze e treze, as crises de fome diminuíram no continente e as epidemias tiveram drástica redução. O resultado foi a elevação da expectativa de vida e, consequentemente, o crescimento populacional.
Segundo o historiador Hilário Franco Júnior, entre o século onze e princípios do século catorze a população da Inglaterra teria crescido de 1,5 milhão para 3,75 milhões de habitantes; a da França, de 6,5 milhões para 16 milhões; e a de Portugal, de 600 mil para 1,25 milhão de habitantes.
O crescimento das cidades
A sociedade medieval era essencialmente agrária. Isso não significa que as cidades e o comércio tenham desaparecido do cenário europeu. É bem verdade que, nos primeiros séculos medievais, as cidades contraíram-se, e o comércio reduziu-se em volume e em importância, mas nenhum dos dois deixou de existir naquela época. A partir do século onze, porém, as cidades e o comércio na Europa tiveram grande expansão. O que teria criado essa nova situação?
O desenvolvimento de novas técnicas agrícolas e o crescimento demográfico criaram um excedente de mão de obra nos campos, ou seja, uma quantidade maior de trabalhadores do que era necessário para o cultivo. Com isso, muitas pessoas migraram em busca de novas terras para o cultivo ou se deslocaram para as cidades.
Nas cidades, tradicionalmente muradas, os sinais mais evidentes dessa mudança foram o surgimento de novas habitações em tôrno das muralhas. Essas aglomerações foram inicialmente chamadas de burgos, e seus habitantes, de burgueses. Nesse período, as maiores cidades do Ocidente, como Londres, Veneza e Paris, chegaram a reunir 100 mil, 150 mil e até 200 mil habitantes, respectivamente.
O INCRÍVEL exército de Brancaleone. Direção: Mario . França/Itália/Espanha, 1966. Duração: 116 monitiéli . No filme, um exército liderado pelo atrapalhado Brancaleone percorre diversas localidades da Europa medieval em busca de um feudo. Na minutos fórma de comédia, a obra explora os costumes e os valôres dos cavaleiros medievais.
Mercados, feiras e produtos do comércio
A partir do século onze, as atividades comerciais tiveram grande impulso na Europa medieval, crescendo tanto o volume quanto a variedade de produtos negociados.
O comércio medieval desenvolveu-se em tôrno de dois grandes eixos marítimos: o eixo do Mediterrâneo, que se estendia até o mar Egeu e o mar Negro, controlado pêlas cidades italianas de Gênova e Veneza; e o eixo nórdico, situado entre o canal da Mancha e o mar Báltico, dominado principalmente por mercadores flamengos.
Os locais de encontro de vendedores e compradores eram de dois tipos: os mercados, lugares públicos onde eles se encontravam semanalmente, e as feiras, realizadas normalmente uma vez ao ano. Tanto os mercados quanto as feiras passaram a acontecer com mais frequência, e vários deles se tornaram, com o tempo, permanentes.
As principais feiras cresceram ao longo do eixo nórdico-mediterrâneo. A lã bruta, por exemplo, comercializada em feiras da Inglaterra, era manufaturada na região de Flandres, situada no norte da atual Bélgica. Os tecidos, depois, eram vendidos por comerciantes flamengos nas regiões das atuais Alemanha, Rússia e França, de onde seguiam para o Mediterrâneo.
No sul, mercadores genoveses e venezianos, a partir do século doze, assumiram o contrôle do comércio de produtos vindos da Ásia, da África e do leste da Europa. Navegando pelo Mediterrâneo, esses mercadores levavam para a Europa Ocidental especiarias, , ouro, marfim, tintas, perfumes e escravos.
Principais rótas comerciais no século treze
Elaborado com base em dados obtidos em: . Quínder, Rírman; Rilgamán, Véarná; Rért, Mânfred Atlas histórico mundial: los orígenes a nuestros días. Madri: Akal, 2007. página 188.
Mestres, companheiros e aprendizes
O artesanato rural existiu praticamente durante toda a Idade Média. Nos domínios do senhorio, os camponeses cuidavam das lavouras, enquanto os artesãos, em pequenas oficinas, produziam peças de vestuário, artigos de couro, instrumentos de trabalho, armas de metal, peças de mobiliário, entre outros objetos. Também havia artesãos ambulantes, vindos de muito longe, que faziam seu trabalho em troca de algumas moedas, abrigo e produtos do senhorio.
A partir do século onze, com o crescimento populacional e urbano, multiplicaram-se os artesãos nas cidades da Europa Ocidental. Eles se organizavam em grupos e produziam artigos variados em pequenas oficinas. Cada oficina era comandada por um mestre de ofício. Ele administrava o trabalho dos companheiros e dos aprendizes.
Os companheiros eram trabalhadores especializados, que já tinham concluído a aprendizagem do ofício. Eles trabalhavam em troca de um salário, que podia ser pago em dinheiro ou na fórma de abrigo, vestuário e alimentação.
Os aprendizes iniciavam o ofício quando tinham entre 10 e 12 anos de idade. Escolhidos entre os familiares do mestre, esses jovens em geral não recebiam salário, apenas abrigo e alimentação diária.
Muitas vezes, pessoas que praticavam o mesmo ofício se organizavam em corporações de ofício, associações que controlavam, com rigor, a qualidade e o preço dos produtos e protegiam os artesãos da concorrência.
Ler a ilustração
• Observe a imagem, que mostra algumas profissões exercidas em uma cidade medieval. Quais delas você consegue identificar? Quais indícios possibilitaram reconhecer essas profissões?
O poder da Igreja
Muitas igrejas passaram a ser construídas na Europa Ocidental entre os séculos onze e treze. Esse contexto é importante para compreendermos o fortalecimento da Igreja Católica como instituição dominante na sociedade medieval. Também é interessante notar que a construção de igrejas, bem como de catedrais e basílicas, foi realizada graças às doações generosas da nobreza.
As igrejas construídas a partir do século onze seguiam o estilo românico, caracterizando-se por uma arquitetura mais simples, com paredes maciças, colunas grossas e pouquíssimas janelas. A ideia era fazer desse espaço a “fortaleza de Deus”. No final do século doze, começaram a ser erguidas as primeiras catedrais no estilo gótico. Elas apresentavam uma estrutura verticalizada e leve, com arcos ogivais, paredes estreitas e repletas de ornamentos e grandes vitrais. Esse novo estilo inspirava-se na religiosidade e na crescente valorização da vida terrena.
Ler as fotografias
• Qual das igrejas observadas nas fotografias foi construída no estilo românico? Qual delas é gótica? Justifique.
. páuil ráuárd Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Rio de Janeiro: Clássicos , 2015. Na obra, as famosas lendas do rei Arthur e seus cavaleiros são recontadas pelo escritor e ilustrador zarrár . ráuárd páuil
Os poderes político e espiritual
A fôrça da Igreja na sociedade medieval também se estabelecia pelos poderes político e espiritual. Ao colocar-se como intermediária entre os homens e Deus, a Igreja declarava que o poder espiritual, mantido pelo papa, era superior ao poder temporal, exercido pelos reis. Para afirmar sua autoridade, garantir a autonomia eclesiástica e limitar as interferências dos leigos nos assuntos religiosos, a Igreja adotou uma série de iniciativas, como a Reforma Gregoriana.
As bases dessa reforma foram estabelecidas em 1075, no díctatus papaê, documento elaborado provavelmente pelo papa Gregório sete, que reunia 27 determinações as quais sintetizavam os principais objetivos da Igreja no período. O item 3, por exemplo, afirmava que apenas o pontífice romano podia depor ou nomear os bispos; o 9 estabelecia que todos os príncipes deviam beijar os pés do papa; e o 12 atribuía ao papa o poder de destituir os imperadores.
As transformações vividas pêla Igreja entre os séculos onze e treze também se manifestaram na criação de novas ordens religiosas. Entre elas é possível destacar a ordem dos franciscanos, fundada em 1209. Ao contrário das ordens mais antigas, em que seus membros viviam reclusos em mosteiros, as novas ordens se integravam ao mundo, auxiliando a Igreja a dialogar com a nova realidade urbana que se expandia.
A Escolástica: entre a fé e a razão
Desde a queda de Roma, diversos padres da Igreja Católica tentavam colocar a razão a serviço da fé. Um dos principais representantes dessa corrente foi Santo Agostinho, nascido no século Essa questão tornou-se mais importante na Baixa Idade Média, quando filósofos como São Tomás de Aquino, do século treze, passaram a acreditar que era possível explicar a existência de Deus por meio da razão. A nova corrente filosófica ficou conhecida como Escolástica.
A Escolástica era ensinada nas universidades europeias. Essas instituições eram frequentadas principalmente pelos membros da burguesia, que desejavam se apropriar do conhecimento produzido pêla sociedade ocidental.
Segundo o pensamento da Escolástica, a autoridade do conhecimento residia na Bíblia e em obras de antigos pensadores, como Aristóteles. Cabia ao mestre indicar o verdadeiro sentido presente nesses textos. Eram realizadas, também, intensas disputas intelectuais, nas quais os mestres tinham de defender suas ideias e responder às perguntas de uma assembleia de professores e estudantes.
As Cruzadas
No século onze, com a ideia de unificar a cristandade na luta contra os inimigos de Cristo, dentro e fóra da Europa, a Igreja lançou o movimento da guerra santa, mais tarde conhecido como Cruzadas.
O chamado para a “guerra de Deus” foi anunciado pelo papa Urbano segundo em 1095, no Concílio de Clermont-Ferrand, na França. O objetivo era convocar os cristãos para retomar a cidade sagrada de Jerusalém. Desde o século sete, ela estava em poder dos árabes e, em 1076, foi tomada pelos turcos. Além do objetivo religioso, interesses políticos e econômicos impulsionaram o movimento. Os nobres buscavam terras e riquezas, que também interessavam aos clérigos. Os trabalhadores pobres buscavam melhores condições de vida. E os comerciantes, principalmente de Gênova e Veneza, tinham interesse em controlar os portos do Oriente.
A primeira expedição oficial em direção a Jerusalém, que reuniu pessoas de diferentes regiões da Europa, partiu em 1096. Conhecida como Cruzada dos Nobres, fundou Estados cristãos no Oriente e, em 1099, conseguiu retomar Jerusalém. Outras oito Cruzadas oficiais foram organizadas, sem, contudo, obter o sucesso da primeira. No século treze, Jerusalém foi novamente tomada pelos muçulmanos e os Estados cristãos desapareceram.
Apesar de não alcançar o objetivo religioso, as Cruzadas contribuíram para acelerar as mudanças sociais que já estavam ocorrendo na Europa desse período. Entre elas estão:
- o enfraquecimento do sistema feudal, visto que, de um lado, os senhores endividaram-se para montar seus exércitos e, de outro, muitos servos que partiram para as Cruzadas não retornaram;
- a recuperação da importância do Mediterrâneo, pois, com as Cruzadas, cresceu o número de embarcações que transitavam por ele;
- o aumento do comércio entre o Oriente e o Ocidente, principalmente pelos portos de Gênova e Veneza.
Documento
As Cruzadas na visão de cristãos e de árabes
Na visão da Europa cristã, as Cruzadas representavam a luta pela retomada da terra santa, em especial do Santo Sepulcro, local onde Jesus Cristo teria sido enterrado. No mundo muçulmano, as Cruzadas eram vistas como campanhas de invasão. Leia a seguir dois textos que representam cada uma dessas visões.
Texto 1
Os turcos e os árabes reticências penetram mais a cada dia nos países dos cristãos; eles os venceram sete vezes em batalha, matando e fazendo grande número de cativos, destruindo as igrejas e devastando o reino. reticências
Por isso eu vos apregoo e exorto, tanto aos pobres como aos ricos – e não eu, mas o Senhor vos apregoa e exorta – que como arautos de Cristo vos apresseis a expulsar esta vil ralé das regiões habitadas por nossos irmãos, levando uma ajuda oportuna aos adoradores de Cristo. Eu falo aos que estão aqui presentes e o proclamo aos ausentes, mas é o Cristo quem convoca reticências.
Se os que forem lá perderem a sua vida durante a viagem por terra ou por mar ou na batalha contra os pagãos, os seus pecados serão perdoados nessa hora; eu o determino pelo poder que Deus me concedeu reticências.
charrtre fuchêr de apud Pedrêro sãntches, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas. São Paulo: editora Unesp, 2000. página83-84.
Texto 2
Foi de fato, na sexta-feira 22 do tempo de chaá bân, do ano de 492 da Hégira, que os franjglossário se apossaram da Cidade Santa, após um sítio de quarenta dias. Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso reticências como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras reticências degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas.
Dois dias depois de cessada a chacina não havia mais um só muçulmano do lado de dentro das cidades. reticências Os últimos sobreviventes forçados a cumprir a pior das tarefas: transportar os cadáveres dos seus, amontoando-os, sem sepultura, nos terrenos baldios para em seguida queimá-los. reticências
Malúf, Amin. As Cruzadas vistas pelos árabes. 4. editoraSão Paulo: Brasiliense, 2007. página 12.
- O texto 1 é parte de um discurso feito pelo papa Urbano segundo, em 1095. A quem ele se dirige? Qual é a missão para a qual ele convoca os ouvintes?
- Que recursos Urbano segundo utilizou para convencer as pessoas a participar da missão?
- Que acontecimento é mencionado no texto 2? Qual é a importância desse acontecimento para o calendário muçulmano?
- Comparando os dois textos, é possível dizer que a tarefa anunciada pelo papa em 1095 foi cumprida? Justifique com base no estudo feito nesta Unidade.
Fome, peste, rebelião
No século catorze, o crescimento econômico que vinha ocorrendo desde o século onze na Europa Ocidental foi gradualmente dando lugar à estagnação.
Já por volta de 1270 começaram a surgir os primeiros sinais de queda da produção agrícola. A contínua ampliação das áreas de cultura ocorrida nos séculos anteriores terminou por atingir áreas de pastagens e terrenos menos apropriados ao cultivo. Com a redução do adubo natural, antes fornecido pelo gado, e o cultivo de solos menos férteis, o resultado foi a retração das colheitas e a queda dos rendimentos de senhores e de camponeses.
Entre 1309 e 1323, por exemplo, as fortes chuvas em quase todas as regiões da Europa destruíram muitas plantações. O período mais crítico durou de 1314 a 1319. Como consequência, houve um rápido aumento dos preços dos alimentos, principalmente do trigo. Assim, o temido fantasma da fome voltou a ameaçar a população europeia.
A fome entre a população
Em Winchester, na Inglaterra, as mortes ocorridas em 1317 atingiram o dobro das registradas em 1310. Na região do Baixo Reno, na França, um cronista relatou que as populações chegaram a se alimentar de cadáveres de animais vitimados por enfermidades, o que teria dado origem a epidemias tão graves que várias aldeias ficaram desoladas. Em algumas cidades da Europa, covas coletivas foram abertas para enterrar os “mortos de fome”.
A Idade Média passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2014. A obra apresenta um panorama sôbre a Idade Média, com texto leve e agradável, conteúdos atualizados e ilustrações que cativam o jovem leitor.
A peste negra
A escassez de alimentos e a consequente deficiência nutricional que ela provocou nas pessoas deixaram a população europeia vulnerável a uma epidemia devastadora, conhecida como peste negra.
A peste negra é uma doença de caráter infectocontagioso provocada pêla bactéria . Transmitida aos humanos por meio de pulgas que se contaminam ao parasitar roedores que alojam a bactéria, como os ratos, a peste se manifesta de duas fórmas principais: a bubônica e a pulmonar.
No primeiro caso, o bacilo entra no indivíduo percorrendo suas vias linfáticas até ficar retido nos gânglios do pescoço, sob os braços e nas virilhas, gerando um inchaço muito doloroso chamado bubão. A incubação da doença é rápida e seus sintomas, como manchas escuras na pele, aparecem entre dois a cinco dias após o contágio.
A peste pulmonar é mais grave. Isso porque as bactérias se alojam no pulmão, facilitando o contágio pelo ar por meio da tosse ou do espirro. Foi essa fórma da doença que matou mais de um terço da população europeia entre 1348 e 1352, o período mais crítico da pandemia, e reduziu ainda mais a produção econômica da Europa feudal.
Os caminhos da peste
Acredita-se que a peste teve origem na Ásia Central, de onde viajou ao longo da Róta da sêda, alcançando a região da Crimeia em 1343. De lá, foi provavelmente transportada por pulgas que viviam nos ratos que viajavam nas embarcações e se espalhou por toda a região do Mediterrâneo, chegando à Europa através da península Itálica.
As revóltas populares
O contexto de fome, epidemias e guerras, somado aos tributos devidos à Igreja e aos senhores feudais, impeliu muitos camponeses à rebelião. Na década de 1350, explodiram várias revóltas camponesas na França, conhecidas como jacqueries, nome que deriva de uma expressão francesa semelhante a “joão-ninguém”. Para alguns autores, essas revóltas contestavam os altos tributos cobrados pelos senhores. Para outros, teriam sido motivadas por uma crise de fome no norte da França. Outros, ainda, as interpretam como levantes contra o poder da nobreza. Essas revóltas foram duramente reprimidas, deixando mais de 20 mil camponeses mortos.
As rebeliões populares não se restringiram à Europa continental. Em 1381, uma revólta aglutinando trabalhadores do campo e da cidade explodiu na Inglaterra, motivada pêla cobrança de um novo imposto. Os trabalhadores chegaram a tomar Canterbury e a constranger o rei em Londres, que se viu forçado a atender às demandas do movimento. Porém, a rebelião acabou massacrada.
Nas cidades também ocorreram várias revóltas. Na região de Auvergne e Languedoc, no sul da França, entre 1366 e 1384, camponeses e trabalhadores urbanos formaram bandos armados que ficaram conhecidos como Tuchins. Eles lutavam principalmente contra a cobrança de impostos. Na região de Flandres, trabalhadores urbanos se voltaram contra as oficinas artesanais formadas por camponeses vindos das áreas rurais. Para os rebeldes, essas oficinas eram responsáveis pelo aumento da concorrência e pêla redução dos seus salários.
A Guerra dos Cem Anos
A Guerra dos Cem Anos teve início em 1337, principalmente em virtude das disputas comerciais entre a França e a Inglaterra e do interesse dos ingleses na sucessão do trono francês, e terminou em 1453, com a vitória dos franceses.
Nesse conflito, surgiu a figura de Joana Dárc, uma camponesa francesa analfabeta, mística e com fama de visionária. A jovem teria comandado um exército que libertou a cidade de Orleans. Em 1430, aos 18 anos, foi presa e entregue aos ingleses. No ano seguinte, acusada de heresia, Joana foi queimada viva. Inocentada em 1456, foi santificada pêla Igreja Católica em 1920.
O mêdo da morte
O cenário de mêdo, destruição e morte vivido no final da Idade Média foi representado à exaustão por muitos artistas da época.
Na pintura, por exemplo, a morte era representada na figura de esqueletos humanos, de corpos em decomposição e, em especial, nas danças macabras, como você pode observar na imagem a seguir. Essas danças mostravam a morte personificada em um esqueleto parcialmente coberto por um manto e carregando uma foice, seguida por indivíduos dos mais variados segmentos sociais.
Nas representações da morte, as diferentes camadas sociais da Europa medieval apareciam, enfim, igualadas pêla finitude da existência humana.
Ler a pintura
• Você consegue identificar os grupos sociais representados no fragmento da pintura Dança macabra? Como?
O fim do feudalismo
A crise do século catorze fez com que muitas famílias nobres perdessem suas terras, devastadas pêlas revóltas e pêla doença, e se deslocassem para as cidades ou para as côrtes reais. Outras casaram as mulheres da família com ricos burgueses. O clero também perdeu parte de seus poderes, pois, aos poucos, deixou de ser constituído apenas por homens da nobreza.
A burguesia foi, em geral, o grupo mais favorecido. Apesar das dificuldades, muitos burgueses compraram terras dos nobres e passaram a ocupar cargos administrativos nas côrtes.
As mudanças também atingiram os camponeses. Depois da peste, das revoltas e do declínio demográfico, muitos adquiriram terras e se livraram da servidão. Outros migraram para as cidades e se tornaram trabalhadores livres.
. massárdiê gil Contos e lendas da Europa medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. O livro reúne contos, histórias e lendas pertencentes à tradição medieval, reescritos pêlo historiador francês . gíle massárdiê
A centralização monárquica
Apesar de as transformações ocorridas entre os séculos onze e catorze terem favorecido o enriquecimento de uma nascente burguesia, havia muitos obstáculos para a expansão desse novo grupo social.
O transporte de mercadorias de uma cidade para outra, por exemplo, obrigava os comerciantes a cruzar vários feudos. Cada um deles, porém, estava sob a autoridade de um senhor feudal, que estipulava as próprias leis e taxações. Essas restrições, que variavam em cada feudo, levaram a burguesia a apoiar a transferência de poder para as mãos de um rei; assim, ele poderia unificar a moeda, as leis e os impostos e estabelecer um sistema de pesos e medidas único, facilitando os negócios.
O apôio aos monarcas também partiu de alguns nobres. Enfraquecidos com as Cruzadas e as fugas de servos para as cidades, muitos nobres acabaram se aliando aos reis em troca de benefícios e privilégios. A centralização do poder real, contudo, sofreu resistência da Igreja Católica e da maior parte dos senhores feudais. O alto clero receava que reis muito poderosos se tornassem politicamente mais fortes que o papa. Já os senhores feudais temiam que a centralização monárquica diminuísse seu prestígio e poder.
Apesar desses entraves, os reis conseguiram impor sua autoridade sôbre os habitantes de um território e estabelecer os chamados Estados modernos. Esse processo não foi igual em toda a Europa, e ocorreu em diferentes momentos. Na península Ibérica, por exemplo, o Reino de Portugal se organizou ainda no século doze, enquanto o Reino da Espanha se consolidou apenas ao final do século quinze. Na Inglaterra, o processo de centralização do poder se completou logo no início do século treze, e o Reino da França se estabeleceu no século quinze.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Várias mudanças marcaram a Europa medieval a partir do século onze. Cite e explique três delas.
- Escreva um pequeno texto sôbre os objetivos das Cruzadas, quem participou delas e seus resultados.
- Ao longo do século catorze, ocorreram diversas revóltas nos campos e nas cidades da Europa Ocidental. Na Inglaterra, um dos líderes da rebelião de 1381, o padre djón ból, declarou:
Boas gentes, as coisas não podem ir bem na Inglaterra e elas só irão quando os bens forem possuídos em comum, quando não mais haverá nem vilãos [“plebeus”] nem gentis-homens [“nobres”] e quando formos inteiramente iguais.
ból djón apud ESPINOSA, Fernanda. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1981. página 287-288.
- Qual era a condição social de djón ból? Suas críticas eram dirigidas a que camada social da Inglaterra?
- Segundo o padre, “as coisas” não estavam indo bem na Inglaterra. O que seriam essas “coisas”? O que ele pretendia dizer com isso?
- Qual era a proposta do padre djón ból para acabar com esses problemas? Você acha que essas ideias eram consideradas revolucionárias para a época? Por quê? E hoje, como você imagina que as ideias dele seriam vistas?
4. A pintura gótica desenvolveu-se entre os séculos doze e catorze. Um exemplo desse novo estilo é a obra Cristo no caminho do Calvário, de Simone Martini ( cêrca de 1284-1344). A pintura, como você pode notar ao lado, ainda conserva o dourado da arte bizantina, tanto no cenário quanto nas pregas que realçam as roupas dos personagens. No entanto, já é possível perceber nela a terceira dimensão na perspectiva criada no cenário e a tentativa de romper com a rigidez das figuras, dando-lhes uma expressão mais humana e natural. Observe.
- Que elementos da pintura mostram características mais humanas e naturais nos personagens representados?
- Por que podemos dizer que essa pintura já apresenta certa perspectiva, isto é, a ilusão de profundidade e volume das figuras?
- Observe que a cruz carregada por Jesus também está apoiada sôbre a multidão. O que esse detalhe pode indicar?
- Tendo em vista o que você estudou sôbre a Igreja medieval, qual teria sido a função de imagens como essa?
Para refletir
O mundo árabe e o mundo ocidental são, realmente, incompatíveis?
Com base nos estudos desta Unidade, você já percebeu que o mundo árabe e o mundo ocidental há muito tempo estão ligados. O jornalista e estudioso djónatân láions fez uma ampla pesquisa sôbre esse assunto e lançou, no ano de 2011, um livro sôbre o mundo árabe. O título da obra é A Casa da Sabedoria: como a valorização do conhecimento pelos árabes transformou a civilização ocidental.
Esse livro surpreendeu o público ao trazer uma nova visão sôbre a história dos povos árabes e mesmo sôbre o Ocidente. Em sua pesquisa, láions mostra a influência que os conhecimentos árabes exerceram durante a Idade Média, afirmando que, sem a difusão dos seus estudos, o mundo ocidental como conhecemos hoje seria bem diferente.
Mas em que medida o conhecimento construído pelos árabes influenciaram o Ocidente? Bom, só para começar, os árabes, na Idade Média, conseguiram medir a circunferência da Terra, descobriram e desenvolveram a álgebra, praticavam a astronomia, desenvolviam conhecimentos científicos na área da saúde e da medicina. Segundo láions e vários outros pesquisadores e historiadores, esses saberes não eram conhecidos pelos europeus, que só tiveram contato com eles durante a expansão árabe em partes da Europa, conforme você estudou no Capítulo 17. Além disso, os árabes traduziram e complementaram os textos de filósofos gregos antigos, o que possibilitou aos ocidentais ter acesso a esses textos.
Leia a seguir um trecho do livro A Casa da Sabedoria.
Os nomes de ál rauárizimi, Avicena, al ídrisi e Averróis – gigantes da cultura árabe e figuras dominantes na Europa medieval durante séculos – provocam hoje pouca ou nenhuma reação do leitor leigo instruído. A maioria está esquecida, não passa de lembrança distante de uma era passada. Contudo, eles foram apenas alguns dos protagonistas de uma extraordinária tradição científica e filosófica árabe que jaz escondida sob séculos de ignorância e franco preconceito antimuçulmano do Ocidente. Uma recente pesquisa de opinião pública mostrou que a maioria dos americanos vê “pouco” ou “nada” para admirar no islã ou no mundo muçulmano. Mas, se voltarmos nas páginas do tempo, veremos que é impossível imaginar a civilização ocidental sem os frutos da ciência árabe: a arte da álgebra de ál rauárizimi, os abrangentes ensinamentos médicos e a filosofia de Avicena, as duradouras geografia e cartografia de al ídrisi, o rigoroso racionalismo de Averróis. reticências
O esquecimento intencional do legado árabe pelo Ocidente teve início há séculos, quando a propaganda antimuçulmana criada à sombra das Cruzadas começou a obscurecer qualquer reconhecimento do profundo papel da cultura árabe no desenvolvimento da ciência moderna. reticências
Láions, Diônatan. A Casa da Sabedoria: como a valorização do conhecimento pelos árabes transformou a civilização ocidental. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2011. página 19-20.
- No trecho do livro de láions que você acabou de ler, ele diz que “Uma recente pesquisa de opinião pública mostrou que a maioria dos americanos vê ‘pouco’ ou ‘nada’ para admirar no islã ou no mundo muçulmano”. Logo depois, ele nos mostra fatos que possibilitam discordar totalmente dessa opinião. Que fatos são esses? Responda em seu caderno.
- Para láions, quando começou, possivelmente, o esquecimento que a influência cultural árabe teve no mundo ocidental? Baseando-se em seus conhecimentos de História, você diria que a hipótese de láions é possível? Por quê?
- Em sua opinião, uma pesquisa como a de , que fala djónatân láions sôbre os conhecimentos árabes durante a Idade Média e sua influência no mundo ocidental, é importante para a atualidade? Por quê?
Glossário
- Leigo
- Cristão comum, ou seja, aquele que não faz parte do clero; laico.
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- Diocese
- Unidade administrativa e religiosa que, entre os séculos quatro e nove, correspondia aos limites de uma cidade.
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- Emulação
- Rivalidade.
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- Vetustez
- Qualidade de vetusto, isto é, muito velho, antiquíssimo.
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- Franj
- Termo utilizado pelos árabes para se referir aos ocidentais, especialmente franceses.
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