UNIDADEdois MODOS DE VIDA E MODIFICAÇÕES DA NATUREZA

Fotografia. Um corpo feminino esculpido em relevo sobre uma pedra de cor marrom. A figura tem cabeça arredondada voltada para a direita, cabelos longos e lisos, seios fartos e ventre avantajado. O braço direito está curvado para cima e, na mão direita, a figura segura um objeto semelhante a um chifre. O braço esquerdo está voltado para baixo com a mão apoiada sobre o ventre. A figura não tem olhos, nariz e boca.
Vênus de Laussel, também conhecida como Vênus com chifre, produzida por volta de 25000 antes de CristoMuseu da Aquitânia, Bordeaux, França.
Respostas e comentários

Apresentação

Esta Unidade, intitulada “Modos de vida e modificações da natureza”, relaciona-se às seguintes Unidades Temáticas da Bê êne cê cê do 6º ano: História: tempo, espaço e fórmas de registros e A invenção do mundo clássico e o contraponto com outras sociedades.

Esta Unidade está em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1 e número 7 a fim de estilmular os estudantes a valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sôbre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva; assim como argumentar para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável.

Em consonância com as Competências Específicas do Componente Curricular História, os conteúdos trabalhados nesta Unidade buscam levar os estudantes a: Compreender a historicidade no tempo e no espaço, relacionando acontecimentos e processos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais, bem como problematizar os significados das lógicas de organização cronológica (2), Elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em relação a documentos, interpretações e contextos históricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens e mídias, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito (3) e Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (4).

Fotografia. Vista em diagonal, de cima para baixo, de um local coberto, com solo de pedra de cor bege. O solo tem dois níveis, um à esquerda inclinado, outro, tomando o restante da imagem, mais alto e plano. No trecho plano, há duas mulheres de chapéu, trabalhando, agachadas. À esquerda, a mulher agachada, usa um chapéu marrom sobre a cabeça,  veste uma camiseta cinza clara e calças escuras, segura uma colher de pedreiro e um pincel na mão esquerda. Com a mão direita, passa outro pincel sobre o solo. Mais ao fundo, à direita, outra mulher agachada, com camiseta branca e calça escura, além de chapéu bege e uma pochete voltada para trás. Ela executa uma operação semelhante, passando um pincel largo sobre o solo de pedra.
Arqueólogos no sítio arqueológico de tchátarruiuk, em cônia, na Turquia. Fotografia de 2018.
Fotografia. Três objetos de pedra em formatos e tamanhos diferentes, de cor cinza. Dois são longitudinais e bem polidos nas bordas. O outro é arredondado, e tem um furo no meio.
Machados de pedra produzidos entre 4000 antes de Cristo e 2200 antes de Cristo Museu e Galeria de Arte Real Memorial Albert, Exeter, Inglaterra.
Fotografia. Sobre um fundo cinza, à frente, três jarras arredondas de cor marrom, com pinturas em tons de marrom-escuro da metade para cima. Elas têm uma abertura na parte superior  e são de tamanhos diferentes. Também possuem pequenas alças arredondadas e simétricas nas laterais.
Jarras de cerâmica pintadas, cêrca de2500 antes de CristoColeção do Museu de Arte Lowe, da Universidade de Miami, Estados Unidos.

Charles Dárvin e Álfred Vallace, cuja teoria da evolução das espécies estudamos na Unidade anterior, participaram de um debate que, ainda hoje, mobiliza os cientistas: o que diferencia os seres humanos dos outros animais?

O processo de diferenciação dos seres humanos em relação aos outros animais tem uma longa história. Dessa história fazem parte outras histórias, como a do desenvolvimento de técnicas para lidar com a natureza e a do surgimento das organizações sociais.

Você conhece as principais teorias que explicam o desenvolvimento dos seres humanos? O que você sabe sôbre os modos de vida dos primeiros seres humanos e como se relacionavam com a natureza? Como será que fomos nos tornando humanos? Quais foram as mudanças mais significativas ao longo da história do desenvolvimento humano? Perguntas como essas há muito tempo são feitas pêlas pessoas e por pesquisadores e até hoje estão entre as nossas indagações.

Você estudará nesta Unidade:

Como era a vida no Paleolítico

O Neolítico e a Revolução Agrícola

O surgimento do comércio e das cidades

Os modos de vida dos antigos ameríndios

Como viviam os mais antigos habitantes do Brasil

As sociedades da Mesoamérica e dos Andes

Respostas e comentários

Nesta Unidade

Esta Unidade apresenta aspectos do modo de vida dos primeiros seres humanos, mais especificamente no Paleolítico e no Neolítico, e trata do surgimento das cidades e do comércio. Apresenta, também, aspectos do modo de vida dos povos da Antiguidade nas Américas.

A exploração de temas relacionados ao modo de vida dos primeiros seres humanos, em filmes, revistas e seriados de televisão, leva os estudantes a obter diversas informações sôbre o assunto. O estudo desta Unidade ajudará a identificar o que é fantasioso e o que é fruto do conhecimento científico, constantemente revisitado.

Muitos estudantes podem ter concepções equivocadas sôbre alguns temas desta Unidade, como a ideia de que a Arqueologia e a História não são ciências, na medida em que não se tem certeza sôbre alguns fatos. É preciso deixar claro que essas duas áreas do conhecimento científico se valem de métodos para realizar as pesquisas e formular as teorias.

Objetos de conhecimento trabalhados na Unidade

fórmas de registro da história e da produção do conhecimento histórico.

As origens da humanidade, seus deslocamentos e os processos de sedentarização.

Povos da Antiguidade na África (egípcios), no Oriente Médio (mesopotâmicos) e nas Américas (pré-colombianos).

Os povos indígenas originários do atual território brasileiro e seus hábitos culturais e sociais.

CAPÍTULO 3  OS MODOS DE VIDA DOS PRIMEIROS HUMANOS

Multiculturalismo

Muitos estudiosos consideram como marco inicial da história humana o período em que os hominídeos começaram a fabricar, de maneira regular, utensílios de pedra com formato e intenção determinados, como facas, machados e lanças. Essa atividade teria começado com o gênero Homo, há cêrca de 2 milhões de anos.

Os primeiros utensílios, feitos de pedra lascada, são atribuídos aos Homo . Eles batiam uma pedra na outra até formar uma borda afiada que usavam para cortar a carne e retirar a pele dos animais. As lascas obtidas eram também usadas como facas e raspadores.

Foi só com o Homo , por volta de 700 mil anos atrás, que apareceram os instrumentos de pedra talhados em uma face (monofaciais) e, mais tarde, os talhados nas duas faces (bifaciais).

Fotografia. Sobre um fundo cinza, à frente, uma pedra de cor cinza, com partes em tons em bege. Ela tem pontas disformes, está colocada na posição horizontal e tem dois riscos horizontais na parte central..
Instrumento monofacial de pedra. cêrca de 400000 antes de Cristo Altura: 20 centímetros. Este instrumento foi encontrado em escavações arqueológicas em Sanremo, na Itália. Museu Cívico, Sanremo.
Fotografia. Sobre um fundo preto, à frente, um pedaço de rocha de cor amarela e marrom, de formato pontiagudo, com as laterais lascadas, disposto em posição vertical. Por estar lascado, o objeto possui relevos diferentes nas extremidades, com as pontas afinadas, e no centro, com uma textura irregular.
Instrumento bifacial de sílex. cêrca de300000antes de Cristo Altura: 20 centímetros. Este instrumento foi encontrado em escavações arqueológicas em Amiens, França. Museu de Arqueologia Nacional, Saint-Germain-en-Laye.
Respostas e comentários

sôbre o Capítulo

O desenvolvimento do ser humano está ligado à sua capacidade biológica e cultural de trabalhar, pois foi por meio dessa habilidade que ele conseguiu se adaptar às diferentes condições ambientais do planeta. Trabalho, nesse caso, significa a produção de ferramentas e a possibilidade de intervir na natureza e transformá-la. No estudo deste Capítulo, os estudantes vão perceber que essa transformação exigiu esforço intelectual e físico, cooperação com outros membros do grupo, planejamento, divisão de tarefas, em suma, relações sociais.

Diversos historiadores criticam o uso do termo “Paleolítico” pelo fato de ele abranger um tempo muito longo e por reduzir todos os aspectos da vida humana nesse período à tecnologia de fabricação de objetos de pedra. Mesmo assim, outros estudiosos defendem a validade do termo. Eles argumentam que, de fato, outros materiais devem ter sido usados pelos primeiros seres humanos, mas, como o que restou dessa época foram os utensílios de pedra, o uso desse termo não seria equivocado.

O conteúdo apresentado neste capítulo possibilita trabalhar o tema contemporâneo Diversidade cultural.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero seis agá ih zero dois: Identificar a gênese da produção do saber histórico e analisar o significado das fontes que originaram determinadas fórmas de registros em sociedades e épocas distintas.

ê éfe zero seis agá ih zero cinco: Descrever modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos indígenas originários e povos africanos, e discutir a natureza e a lógica das transformações ocorridas.

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para dar continuidade ao trabalho com a habilidade ê éfe zero seis agá ih zero dois.

A vida no Paleolítico

Os pesquisadores deram o nome de Paleolítico (pedra antiga ou pedra lascada) ao longo período que vai do aparecimento do gênero Homo, há cêrca de 2 milhões de anos, quando os hominídeos começaram a fabricar diversos utensílios de pedra, até o início da prática da agricultura, ocorrido há aproximadamente 10 mil anos.

Os primeiros humanos viviam principalmente da caça e da coleta de frutos silvestres. Provavelmente, no decorrer de milhares de anos, foram aprimorando as técnicas de caça, passando de predadores de pequenos animais para caçadores de grandes mamíferos, como rinocerontes e elefantes.

Eles viviam em acampamentos provisórios, no interior de cavernas ou a céu aberto. Com o tempo, alguns grupos começaram a construir moradias simples, estruturadas com madeira ou ossos e cobertas com peles. Eram nômades, ou seja, não moravam em um lugar fixo. Deslocavam-se de uma região para outra, em busca de alimentos. Eles não domesticavam animais e também não praticavam a agricultura.

A importância do domínio do fogo

Uma descoberta fundamental para as sociedades humanas do Paleolítico foi o domínio do fogo. Por muito tempo acreditou-se que isso teria ocorrido por volta de 700 mil anos atrás, mas estudos arqueológicos de vestígios de fogueiras encontrados na África do Sul indicam que o homem já usava o fogo há 1 milhão de anos. Com o fogo foi possível afugentar os animais, iluminar os caminhos e as moradias à noite, aquecer-se no frio e cozinhar os alimentos.

Fotografia. Sobre um fundo preto, vista de lado, uma escultura em relevo sobre argila, representando um bisão deitado de lado, de cor marrom-claro. O animal quadrúpede, tem a cabeça pequena e pelos compridos embaixo do pescoço e sobre o peito e, sobre a cabeça, pequenos chifres curvados. Na parte traseira, tem uma cauda fina.
Representação de bisão do período Paleolítico.cêrca de 12000 antes de Cristo Escultura em argila. Esta escultura, encontrada na caverna de Tuc d'Audoubert, em Ariège, na França, é um exemplar raro da arte paleolítica e um vestígio importante para a compreensão de como viviam os seres humanos naquele período.
Imagem: Ícone ‘’Site’’ composto pelo desenho de uma tela de celular.
Ícone ‘’Livro’’ composto pelo desenho de dois livros empilhados um acima do outro.
Ícone ‘’Vídeo’’ composto pelo desenho de uma câmera. Fim da imagem.
Ícone. Sugestão de livro.

RODRIGUES, Rosicler Martins. A Pré-História. quinta edição São Paulo: Moderna, 2016. (Coleção Desafios). O livro traz uma série de indagações sôbre a origem, o desenvolvimento e os modos de vida dos grupos humanos desde a Pré-História.

Respostas e comentários

Orientações

O fato de termos linguagem, de construirmos e usarmos ferramentas e de transmitirmos o que sabemos a outras gerações, por exemplo, nos faz humanos. Hoje, contudo, inúmeras pesquisas mostram que outros animais também podem eventualmente ter algumas dessas características e que, além disso, geneticamente somos bastante semelhantes a alguns deles, como os chimpanzés. De qualquer modo, as diferenças também são grandes.

Para onde quer que se olhe, há similaridades entre nosso comportamento e o dos animais reticências Todavia, é claro, seria perverso afirmar que as pessoas não são diferentes dos chimpanzés. A verdade é que somos diferentes. Somos mais capazes de autoconsciência, de calcular e alterar o ambiente circundante do que qualquer outro animal. É óbvio, em certo sentido, que isso nos distingue. Construímos cidades, viajamos ao espaço, adoramos deuses e escrevemos poesia.

ridlei mét. O que nos faz humanos: genes, natureza e experiência. terceira edição Rio de Janeiro: Record, 2013. página 28.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para iniciar o trabalho com a habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

Ícone. Sugestão de vídeo.

Sugestões para o estudante:

A GUERRA do fogo. Direção: jeãn jac anô. França/Canadá, 1981. Duração: 101 minutos.

O filme conta a história de diferentes grupos de hominídeos. Somente um deles tem o domínio do fogo, o que dá origem a situações de conflito.

MISTÉRIOS da humanidade. Direção: Barbara Jampel. Estados Unidos, 1988. Duração: 60 minutos.

Este documentário trata das origens da humanidade, mostrando as descobertas de fósseis e as principais pesquisas sôbre o tema.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Arte

Ciência e Tecnologia

A arte rupestre

Os seres humanos do Paleolítico não produziram apenas objetos relacionados à sua sobrevivência, como armas para abater animais e utensílios para retirar a pele e cortar a carne. Eles também produziram pinturas e gravuras que exprimiam o cotidiano dos grupos humanos e o significado que davam à sua existência.

Conhecidas como figuras rupestres, essas pinturas e gravuras foram feitas em paredes de cavernas ou em outros abrigos pré-históricos. As primeiras figuras rupestres eram desenhos de animais e foram feitas entre 35 mil e 30 mil anos atrás. Por volta de 17 mil anos atrás já eram produzidas figuras mais elaboradas, mas ainda sem proporção. Exemplo disso são os desenhos de animais encontrados na caverna de Lascaux, na França.

Aproximadamente 5 mil anos mais tarde, as imagens ganharam mais realismo e proporção. As pinturas da caverna de Altamira, na Espanha, são um exemplo dessa nova fase. Por volta de 10 mil anos atrás, as imagens passaram a representar também a figura humana em cenas de dança, luta e caça ou em rituais mágicos.

Qual seria o significado das figuras rupestres? Elas seriam um ritual para dar sorte às caçadas ou para tentar dominar as forças da natureza? Ou, ainda, um meio de compartilhar com a comunidade as situações do dia a dia? Os estudiosos ainda não chegaram a um consenso.

Pintura. Sobre uma superfície rochosa de cor bege, um  desenho, feito com tinta de cor marrom representando um animal em pé sobre as quatro patas, grande, com uma cauda fina e um par de chifres. À frente dele, há duas figuras humanas portando arco e flecha. Nas patas dianteira e traseira do animal, dois cachorros o atacam.
Pintura rupestre da caverna de tassilí nagér, na Argélia, África. Acredita-se que essas pinturas tenham aproximadamente 12 mil anos.
  1. Há muitas hipótesessôbre o significado das pinturas rupestres. Na sua opinião, elas seriam parte de um ritual, uma forma de registro ou uma forma de expressão artística? Justifique sua resposta.
  2. Observe a imagem da pintura rupestre e descreva o que você vê nela.
  3. Imagine que você é um arqueólogo e encontra essa pintura rupestre. Que informações ela pode fornecer acerca do modo de vida das pessoas que a produziram?
Respostas e comentários

Orientações

Ao desenvolver as atividades desta seção com os estudantes, comente que as tintas utilizadas nas pinturas rupestres eram feitas a partir da mistura da argila com o óxido de ferro, um composto químico presente em alguns minérios que era socado até virar pó. Dessa mistura obtinham-se as côres marrom, vermelha e amarela. O preto era obtido, em geral, do carvão. Mais tarde, as tintas passaram a ser extraídas de plantas.

O conteúdo desta seção também possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Ciência e Tecnologia.

Observação

O trabalho com esta seção possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero dois.

Respostas

1. Resposta pessoal. No momento de conversar sôbreo tema das pinturas rupestres com os estudantes, vale lembrar que, segundo os pesquisadores, quando o ser humano representa ou cria símbolos (como a linguagem) com a intenção de comunicar uma ideia e elabora um tipo de explicação mágica ou religiosa na tentativa de compreender o mundo, ele se diferencia da natureza e inicia aquilo que chamamos de cultura. Assim, o “ser humano moderno”, para os pesquisadores, é aquele que se diferenciou dos outros animais ao criar representações (linguagem, arte, mitos) para interagir com os semelhantes e com o meio.

2. Na pintura há um animal cercado por pessoas que utilizam arco e flecha e por animais que se assemelham a cães. Essas informações podem indicar que se trata de uma cena de caça.

3. É possível concluir que criavam animais domésticos, que caçavam e que fabricavam e utilizavam arco e flecha.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o estudante:

CAVERNA dos sonhos esquecidos. Direção: Vérner Rérzógui. França/Canadá/Estados Unidos/Alemanha, 2010. Duração: 90minutos.

A obra, realizada com a tecnologia 3D, mostra o interior da caverna de Chauvet, na França, famosa por suas pinturas rupestres. Explique aos estudantes que o uso da tecnologia 3D (disponível para exibições em cinemas) tem o intuito de “transportar” o espectador para dentro da caverna. O filme conta com trilha sonora instrumental.

O período Neolítico

No período que se estendeu entre 40 mil e 12 mil anos atrás, houve um grande avanço nas técnicas de fabricação de instrumentos. O trabalho cada vez mais cuidadoso de talhe da pedra possibilitou a criação de diferentes tipos de facas, machados, furadores, raspadores e outros instrumentos.

Os grupos humanos também aprimoraram o uso do osso, da madeira e do marfim para fabricar arpões, lanças, pontas, garfos e agulhas com furos. Com os novos objetos, puderam desenvolver a pesca, construir abrigos artificiais e organizar caçadas coletivas de grandes manadas.

Há aproximadamente 12 mil anos, os grupos humanos começaram a produzir também enxadas, foices, pilões e machados com pedras polidas, inaugurando o período que os estudiosos denominaram Neolítico (pedra nova ou polida). Os mais antigos utensílios neolíticos foram encontrados no Oriente Médio.

Esse período foi marcado por uma descoberta tão ou mais importante quanto a do fogo: a agricultura, que modificou radicalmente o modo de vida dos grupos humanos e estimulou a fabricação de instrumentos usados na produção, no preparo e no armazenamento de alimentos.

Fotografia. Sobre um fundo preto, à frente, quatro hastes finas de cor marrom dispostas na vertical. À esquerda, estão duas hastes menores e à direita, outras duas, maiores, cada uma delas tem um pequeno furo na parte inferior. Nas duas maiores, a parte inferior tem círculos em relevo ao redor das hastes.
Agulhas com furo e furadores, objetos feitos de osso no período Neolítico. A maior agulha desta fotografia tem 17 centímetros de comprimento. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague.
Fotografia. Sobre um fundo cinza, à frente, três objetos de pedra com o formato de gota, pontiagudo, colocados lado a lado. Da esquerda para à direita: um objeto maior que os demais, marrom escuro. No centro, um objeto de tamanho médio cor de laranja e à direita, um objeto de tamanho médio em verde-escuro.
Pontas de flechas do período Neolítico encontradas no Níger.
Saúde.

Fome e abundância

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (fáo), em 2020, o mundo produziu cêrca de 2,5 bilhões de toneladas de grãos. Essa quantidade de cereais seria suficiente para alimentar a população de todo o planeta. O problema é que a maior parte desses alimentos fica concentrada nos países ricos, onde é grande o desperdício. Calcula-se que 17%, ou cêrca de 931 milhões de toneladas, dos alimentos produzidos no ano foram parar na lata de lixo, enquanto 811 milhões de pessoas passaram fome. A situação da população mundial em relação ao enfrentamento da pobreza, principalmente nos países menos desenvolvidos, já era crítica; no entanto, com a pandemia da côvid dezenóve, houve um agravamento da miséria, da insegurança alimentar e da fome.

Respostas e comentários

Orientações

A abordagem sôbre a fome, apesar da abundância de produção na agricultura, em um contexto de desigualdade, possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Educação alimentar e nutricional.

Observação

O conteúdo desta página trabalha aspectos da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

Texto complementar

O trecho a seguir faz parte do livro História das agriculturas no mundo, que analisa a trajetória humana na agricultura.

reticências o homem, tal qual a evolução produziu, não era dotado de ferramentas anatômicas especializadas, nem de um modo de vida geneticamente programado que lhe permitisse, desde a origem, uma intervenção vigorosa no meio exterior. Desprovido de pinça, presas, ganchos, dardos, defesas, escamas, cascos, garras, o homem dispõe de mãos, que, se de um lado são o mais leve e o mais polivalente dos instrumentos, não são por si mesmas senão um dos instrumentos mais moles e uma das armas mais frágeis. Pouco rápido, mal escalador, mal protegido, certas partes essenciais e frágeis de sua anatomia muito expostas pelo fato de andar de pé, dotado, ou talvez afligido, de uma fraca capacidade de reprodução e de uma maturidade tardia, é um ser nu e desprovido que tinha, no início, uma valência ecológica inferior ao que, em geral, se pensa. Só podia sobreviver pêla colheita dos produtos vegetais e pêla captura de animais mais acessíveis

Sabendo pouco, pobre em instintos, mas imensamente educável, seu principal trunfo residia então na variedade dos regimes alimentares e dos modos de vida que podiam lhe convir. O homem é eclético, onívoro e adaptável. Essas são suas primeiras vantagens.

, Marcel; , . História das agriculturas no mundo: do Neolítico à crise contemporânea. São Paulo: editora Brasília, Distrito Federal: nid, 2010.página 58.

Novos modos de viver

Há aproximadamente 12 mil anos chegou ao fim o último período glacial do planeta, em que o clima era mais frio e grandes extensões de terra estavam cobertas por gelo. O aquecimento do clima – gradual, mas constante – fez com que geleiras derretessem, o nível do mar subisse e a vegetação se transformasse. As paisagens do planeta mudavam radicalmente.

Na região que conhecemos por Oriente Médio, por exemplo, as espécies vegetais que serviam à alimentação dos animais deram lugar a outras. Assim, os animais se viram obrigados a migrar para o norte em busca de alimento, e a caça tornou-se mais difícil e rara para os grupos humanos.

Essa situação, contudo, foi compensada pelo fato de que as novas espécies vegetais que passaram a dominar as paisagens da região, como cereais silvestres (cevada e trigo), lentilhas e ervilhas, eram abundantes e disponíveis na maior parte do ano. A nova realidade possibilitou aos grupos humanos obter alimentos sem ter de se deslocar de tempos em tempos, e muitos deles fixaram-se em determinado local, tornando-se, assim, sedentários.

Com o novo modo de vida sedentário foram construídas habitações, que formaram pequenos vilarejos, e seus habitantes passaram também a criar pequenos animais. Os instrumentos que foram produzidos nesse período, como foices, machados e enxós, possibilitaram a exploração e a utilização mais intensa dos recursos naturais.

Os machados e enxós, por exemplo, serviam para desmatar, cortar e modelar a madeira, que era utilizada na construção das moradias. As foices favoreceram uma coleta mais eficiente dos cereais silvestres.

Fotografia. Vista de um local aberto, de cima para baixo. Terreno irregular, com solo e pedras de cor bege. Há blocos de pedra bege formando estruturas antigas em ruínas. No centro da imagem, uma abertura no chão, quadrada, com hastes de madeira entrelaçadas formando uma grade sobre ela.
Vestígios de vilarejo do período Neolítico em tchátarruiuk. cêrca de 8000antes de Cristo O sítio de tchátarruiuk localiza-se em cônia, na Turquia, e é considerado Patrimônio Histórico Mundial pêla Unesco. Fotografia de 2020.
Respostas e comentários

Texto complementar

O texto a seguir compara o trabalho de investigação do passado da humanidade com o trabalho de um detetive e destaca a importância do estudo dos instrumentos produzidos pelos primeiros seres humanos.

A investigação do passado da humanidade lembra o trabalho de um detetive: cada pista ajuda a reconstituir como eram e como viviam nossos ancestrais

Dessa maneira, as figuras dos homens pré-históricos que conhecemos são criadas por artistas, baseadas nos dados colhidos pêla “leitura” de seus ossos.

Não é fácil encontrar ossos de seres humanos que morreram há dez, cem ou até um milhão de anos. Uma das razões é que eles eram poucos.reticências A maioria dos esqueletos encontrados está incompleta, com os ossos partidos em centenas de pedaços, que são pacientemente montados e colados como um grande quebra-cabeça.

Mas fundamentais na investigação do nosso passado são os instrumentos de pedra fabricados pelos homens pré-históricos, pois ajudam a imaginar como era a sobrevivência do dia a dia naqueles tempos.

RODRIGUES, Rosicler Martins. O homem na Pré-História. São Paulo: Moderna, 2021. página11-13.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

A Revolução Agrícola

Em terrenos desmatados próximos às moradias de aldeias das sociedades sedentárias de caçadores e coletores, e também em terrenos regularmente inundados pêlas cheias dos rios, os grupos humanos começaram a explorar fórmas ainda selvagens de plantas e de animais.

Acredita-se que a domesticação de plantas para a agricultura tenha sido uma invenção das mulheres. Como elas geralmente eram responsáveis pêla coleta de raízes e frutos, puderam observar que as sementes das plantas, uma vez enterradas no solo, davam origem a novas plantas. Começaram, assim, a cultivar a terra para obter produtos para a sua subsistência.

O cultivo das primeiras espécies de plantas ocorreu no Extremo Oriente e no Crescente Fértil, por volta de 10 mil anos atrás (ou 8000 antes de Cristo). O Crescente Fértil se estendia do Vale do Rio Nilo, no Egito, até as margens dos rios Tigre e Eufrates, onde atualmente está localizado o Iraque. Observe no mapa a seguir.

O início da agricultura se desenvolveu em muitas outras regiões do planeta, mas isso não se deu ao mesmo tempo. Na América, por exemplo, acredita-se que o cultivo da terra tenha começado um pouco mais tarde, por volta de 8 mil anos atrás. As primeiras experiências ocorreram nas regiões dos atuais Equador e México.

A prática agrícola mudou a vida dos grupos humanos e exigiu esforço para planejar as épocas do plantio e da colheita, organizar a comunidade para realizar o trabalho e providenciar os instrumentos necessários para a derrubada da mata e o cultivo dos campos. Foram tantas mudanças que esse processo foi chamado de Revolução Agrícola do Neolítico.

crescente fértil

Mapa.  Crescente fértil. Mapa representando parte do continente asiático, com os mares Negro e Cáspio ao  norte, o Mar Mediterrâneo a oeste, o Mar Vermelho ao sul e o Golfo Pérsico a leste. No centro, destacado em rosa, o Crescente Fértil identificado por um grande desenho na cor rosa, em forma de meia lua com a boca voltada para o sudeste. Essa região. próxima da Ásia Menor, abrange os rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo, englobando desde a porção leste do Mar Mediterrâneo até o Golfo Pérsico. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 210 quilômetros.

Fonte: . Atlas histórico: da Pré-História aos nossos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990.página 39.

Respostas e comentários

Observação

Ao trabalhar a domesticação de plantas e o desenvolvimento da agricultura no período chamado de Neolítico, estamos contemplando a habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco, uma vez que os estudantes podem tomar contato com um entre vários exemplos de modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade. Essa habilidade perpassa todo o Capítulo, principalmente ao tratar das modificações da natureza e da paisagem realizadas pelos primeiros grupos humanos.

Texto complementar

O texto a seguir procura defender a ideia de que a única “revolução” autêntica foi a do Neolítico.

O Neolítico é o período mais importante da história e um dos mais desconhecidos do grande público. Com a adoção da pecuária e da agricultura foram criadas as primeiras cidades, nasceu a aristocracia, a divisão de poderes, a guerra, a propriedade, a escrita, o crescimento populacional... Surgiram, em poucas palavras, os pilares do mundo em que vivemos. As sociedades atuais são suas herdeiras diretas: nunca fez tanto sentido falar de revolução porque deu origem a um mundo totalmente novo. E talvez tenha sido também o momento em que começaram os problemas da humanidade, não as soluções.

reticências O motivo é que foi naquele período que a humanidade começou a transformar o meio ambiente para adaptá-lo às suas necessidades, e quando a população da Terra começou a crescer exponencialmente, um processo que só se acelerou desde então. reticências

“O crescimento demográfico constante, que ainda está fóra de contrôle, provocou concentrações humanas, tensões sociais, guerras, desigualdades crescentes”, escreve o arqueólogo francês gean pôu demulã reticências. “Acredito que é a única verdadeira revolução na história da humanidade”, explica por telefone.

ALTARES, Guillermo. A autêntica revolução foi no período Neolítico. ÉlPaís, São Paulo, 22 abril. 2018. Disponível em: https://oeds.link/szie7f. Acesso em: 13 fevereiro2022.

Os objetos de cerâmica

A maior parte dos primeiros povos agrícolas também desenvolveu a fabricação de cerâmica, técnica que transforma a argila em um material duro e resistente, próprio para a produção de utensílios. Atualmente, essa técnica é utilizada na fabricação de louças para casa, peças decorativas, material de construção e até peças para máquinas.

Os estudiosos não sabem ao certo quando a cerâmica foi inventada. Um dos artefatos mais antigos é uma estatueta encontrada na Europa Oriental datada de 26 mil anos atrás, ainda no Paleolítico. A fabricação de potes e de outros utensílios é menos antiga. Fragmentos de cerâmica de cêrca de 20 mil anos, descobertos em uma caverna na China, podem ser uma evidência de que a fabricação de utensílios de cerâmica para o cozimento foi anterior à agricultura.

Com a produção de panelas de cerâmica, o ser humano pôde cozinhar a carne que obtinha por meio da caça, tornando-a mais macia e nutritiva. Os potes de cerâmica com tampa também possibilitaram armazenar grãos e líquidos, conservando-os.

Ler a imagem

Fotografia. Peça de cerâmica de cor bege, semelhante a um cálice, com base estreita e abertura larga na parte superior. Na parte mais larga, a peça tem uma  pintura de cor marrom. Há também duas linhas horizontais marrons na parte superior e duas linhas horizontais marrons na parte inferior do desenho na parte mais larga da peça. A pintura repete os mesmos motivos ao redor de todo o corpo do cálice, representando um animal quadrúpede com um par de chifres grandes sobre a cabeça e uma planta com duas hastes centrais verticais e quatro galhos formando dois vês, com pequenos tracinhos sobre as hastes.

Esta peça de cerâmica de 10 centímetros de diâmetro, datada de cêrca de 5 mil anos atrás, foi encontrada nos anos 1970 em um sítio arqueológico no atual Irã. Muitos anos depois, após a observação acurada de um estudioso, foi anunciada como “a primeira animação do mundo”. Está exposta no Museu Nacional do Irã, em Teerã.

• Observe a ilustração a seguir, que reproduz as imagens dessa peça de cerâmica em sequência. Tente descobrir por que ela foi considerada “a primeira animação do mundo”. Discuta suas conclusões com os colegas.

Fotografia. Reprodução do desenho do corpo da peça de cerâmica da imagem anterior, apresentado de forma plana,  em uma fita estreita horizontal. Sobre um fundo bege, pintura em marrom, com a repetição de dois motivos ao longo de toda a fita: em diferentes posições, um animal quadrúpede com um par de chifres grandes sobre a cabeça. E, ao lado do animal, planta com duas hastes centrais verticais e quatro galhos formando dois vês, com pequenos tracinhos sobre as hastes. Há duas linhas horizontais marrons na parte superior e duas linhas horizontais marrons na parte inferior do desenho. À esquerda, entre as plantas, as patas dianteiras e traseiras do animal estão fora do chão; na sequência, à direita, o animal está entre as plantas, com as patas dianteiras para cima e as traseiras para baixo, ambas longe do solo; na terceira repetição, entre as plantas, o animal está com as patas dianteiras ainda mais para cima e as traseiras em posição vertical, em um salto; na quarta imagem, o animal está entre as plantas com as quatro patas no chão; na última repetição do motivo, ele está com as duas patas traseiras no chão e as duas dianteiras um pouco elevadas, a cabeça do animal também está elevada.
Ícone. Sugestão de site.

MUSEU Nacional de Arqueologia de Lisboa.Disponível em: https://oeds.link/W94733. Acesso em: 7 abril2022. O site deste museu, localizado em Lisboa, Portugal, oferece uma visita virtual por suas salas e por seus laboratórios. Há, também, muitas fotografias de peças do acervo, com informações sôbre a datação e o local em que foram encontradas.

Respostas e comentários

Resposta

Ler a imagem: A sequência de posições do animal leva à impressão de que ele está em movimento quando o vaso é girado. Assim, parece que a intenção do artesão foi, de fato, dar a ideia de animação à pintura.

Esta atividade propicia o trabalho com práticas de pesquisa como a análise documental.

Atividade complementar

Para dar prosseguimento à exploração das imagens do tópico “Os objetos de cerâmica” e aos temas ligados às atuais técnicas de animação, é possível conduzir uma atividade de leitura e de produção de uma “animação” com os estudantes. Sugerimos a leitura da obra Cartilha anima escola: técnicas de animação para professores e alunos, de Marcos Magalhães e Joana Miliê, publicada pêla editora Ideia.

Depois da leitura e da discussão da obra, os estudantes podem produzir a própria animação, com base nas técnicas expostas (dobradinha, flip book ou stop motion, por exemplo). As animações podem ter como tema o modo de vida dos primeiros seres humanos no Paleolítico ou no Neolítico.

Observação

O conteúdo desta página, bem como a a atividade proposta pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar aspectos das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero dois e ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

Texto complementar

O trecho a seguir fala sôbre o processo de animação conhecido como flip book.

To flip, em inglês, significa “folhear”. O flip book é um bloquinho animado, no qual vemos uma animação quando o folheamos rapidamente. Para isso acontecer, ele precisa ter um desenho diferente em cada uma de suas páginas. reticências Pode ser criado no cantinho de seus cadernos escolares, onde a maioria dos animadores profissionais fez as suas primeiras animações.

MAGALHÃES, Marcos; MILLIET, Joana (. Cartilha anima escola: técnicas de animação para professores e alunos. segundaeditora Rio de Janeiro: Ideia, 2015. página 31.

Meio ambiente
Os cultivadores modificam as paisagens

Durante milênios o Homo sapiens sapiens explorou a natureza por meio da caça, da pesca e da coleta. Essas atividades não exigiam grandes alterações do meio ambiente para garantir o sustento dos grupos humanos. Mas a Revolução Agrícola transformou as relações das comunidades humanas com a natureza.

Inicialmente, as hortas próximas às moradias e o cultivo em áreas alagadas pelos rios complementavam os alimentos obtidos por meio da caça e da coleta. Esses solos eram férteis, propícios para a agricultura, mas eram áreas restritas e, para ampliar a produção de alimentos, era necessário expandi-las.

Os seres humanos começaram, então, a derrubar e queimar florestas, para usar essas áreas enriquecidas com minerais nutritivos contidos nas cinzas para o cultivo das plantas já domesticadas.

O aumento na produção de alimentos resultou no crescimento populacional, que exigiu a subdivisão das aldeias e a expansão da agricultura para novas áreas arborizadas. Entre 10 mil e 5 mil anos atrás, o sistema neolítico de cultivo de córte e queimada se estendeu progressivamente para a maior parte das florestas do planeta, levando ao desmatamento de várias regiões.

Ao [mudar] da condição de “homem-coletor” para “homem-produtor”, este passa não apenas a produzir sua própria existência, mas também um espaço adequado e ajustado às suas novas necessidades. A relação passiva mantida até então, entre homem e natureza, muda e, ao longo da história, o meio ambiente sofrerá, de fórma permanente, profundas alterações em face [da transformação] social e econômica da sociedade, que exigirá novas configurações espaciais.

FERREIRA, Daniela Figueiredo; SAMPAIO, Francisco Edison; SILVA, Reinaldo Vieira da Costa. Impactos socioambientais provocados pêlas ocupações irregulares em áreas de interesse ambiental – Goiânia/Goiás. 2004. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão Ambiental) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2004. página 4.

Fotografia. Vista do alto de um local aberto. No primeiro plano, solo coberto de cinzas com manchas em preto e em branco e troncos de árvores finos derrubados sobre o solo. Em segundo plano, mais ao fundo, área com muitas árvores em pé e vegetação densa. Na parte superior, céu azul com nuvens brancas.
Trecho desmatado da Floresta Amazônica em Apuí, no Amazonas, em dezembro de 2020. Ainda que, desde o período Neolítico, os seres humanos tenham realizado alterações na natureza, nos últimos séculos essas ações aumentaram de tal modo que chegam a pôr em risco a existência de várias espécies vegetais e animais do planeta.
Respostas e comentários

Orientações

O estudo sôbre a formação de sociedades distintas – a dos nômades caçadores-coletores e a dos sedentários agricultores – propicia a discussão sôbre a pluralidade cultural, cuja origem está na relação entre o ser humano e a natureza. Além disso, é importante considerar que a adaptação dos seres humanos a diferentes ecossistemas gerou conhecimentos, atitudes e explicações variadas sôbre o mundo. Assim, ao refletir e conversar sôbreesses temas, os estudantes podem perceber que a diferença cultural entre os povos não se traduz em progresso ou atraso tecnológico.

A análise do desenvolvimento das diferentes culturas – expressões da capacidade humana de adaptar-se ao ambiente – também possibilita aos estudantes avaliar a dependência do ser humano em relação à tecnologia e a importância da transmissão desse conhecimento às novas gerações. Cabe destacar que a humanidade depende de sua relação com a técnica e com a natureza para sobreviver.

Nesse sentido, o conteúdo desta seção também possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Meio ambiente.

Observação

O conteúdo explorado nesta página possibilita ao estudante conhecer alguns exemplos importantes de transformação da natureza e da paisagem realizada por diferentes grupos humanos, o que contempla a habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

O surgimento do comércio e das cidades

Com o aumento da quantidade de alimentos possibilitado pelo cultivo da terra, a população humana cresceu rapidamente. Assim, aumentava também a demanda por alimentos. Para atendê-la, tornou-se necessário ampliar as áreas cultivadas e desenvolver técnicas para melhorar a produtividadeglossário do solo, como o uso de fertilizantes naturais para produzir grãos maiores, métodos para controlar as pragas agrícolas e fórmas de garantir o fornecimento de água para as plantas, com a construção de sistemas de irrigaçãoglossário .

Essas e outras técnicas agrícolas ajudaram a produzir excedentes, ou seja, a obter mais alimentos do que era necessário para o consumo. O aumento da produção agrícola possibilitou às comunidades neolíticas começarem a trocar os excedentes entre grupos que produziam diferentes produtos. Por exemplo, uma aldeia que tinha excesso de cevada negociava a troca desse produto pelo excedente de trigo da aldeia vizinha. Dessa fórma, surgiu o comércio.

À medida que as trocas comerciais se expandiam e a população das aldeias crescia, muitas pessoas que trabalhavam nos campos passaram a executar outros ofícios. Como se produzia mais que o necessário para a sobrevivência, com o excedente de alimentos era possível sustentar pessoas que exerciam outras funções, como sacerdotes, soldados, comerciantes, barqueiros e tecelões. Isso impulsionou a especialização das atividades profissionais em um processo que chamamos de divisão social do trabalho, o qual teve grande importância no surgimento das cidades.

Imagem: Ícone ‘’Site’’ composto pelo desenho de uma tela de celular.
Ícone ‘’Livro’’ composto pelo desenho de dois livros empilhados um acima do outro.
Ícone ‘’Vídeo’’ composto pelo desenho de uma câmera. Fim da imagem.
Fotografia. Vista de local aberto. Em primeiro plano, vista de um rio de águas de cor azul escura. Sobre as águas há duas embarcações pequenas à direita, de cor branca, com velas grandes em formato triangular, estendidas para cima. Em segundo plano, dunas de areia de cor bege. Na parte superior, céu azul-claro.
A atividade dos barqueiros que navegavam no Rio Nilo transportando produtos e fazendo a comunicação com aldeias da região é bastante antiga e existe até os dias de hoje. Na fotografia, embarcações à vela, chamadas de felucca, navegam no Rio Nilo, no Egito. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de livro.

SOALHEIRO, Bárbara. Como fazíamos sem... São Paulo: Panda Books, 2014. A obra conta como as pessoas viviam sem determinados objetos, hoje tão comuns e presentes no dia a dia. É o caso do dinheiro, uma vez que, no surgimento do comércio, as negociações eram baseadas em trocas.

Respostas e comentários

Orientações

A humanidade demorou milênios para consolidar os primeiros povoamentos urbanos. As cidades foram os locais do desenvolvimento de novas atividades que possibilitaram aos seres humanos aprimorarem as tecnologias em diversas áreas do conhecimento. Por intermédio delas, desenvolveram-se as técnicas agrícolas, o comércio e a escrita.

Na atualidade, vivemos uma época de intensa urbanização. Em 2007, pêla primeira vez na história, a população urbana superou a rural. Até 2050, segundo estimativas da ONU, a população das cidades somará 6,4 bilhões de pessoas. As imensas aglomerações urbanas do séculovinte e um demandam novas soluções para as questões de infraestrutura, de moradia, sociais, econômicas e culturais.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

As primeiras cidades

As pesquisas arqueológicas indicam que as duas comunidades urbanas mais antigas de que se tem conhecimento foram Jericó, na Palestina, e tchátarruiuk, na atual Turquia. Provavelmente, Jericó era um assentamento fortificado, cercado de uma espessa muralha de pedra. No caso de tchátarruiuk, tudo indica que constituísse um aglomerado de habitações sem ruas, em que os moradores acessavam o interior das casas pêla cobertura.

Nas áreas férteis à margem de grandes rios, como Nilo, Tigre e Eufrates, as pequenas comunidades e aldeias começaram a se unir para construir sistemas de irrigação e aproveitar melhor a água das enchentes, que era essencial para a atividade agrícola.

Assim, nos vales dos rios Nilo (Egito), Tigre e Eufrates (Mesopotâmia), Amarelo e Azul (China) e Indo (Índia), a união das aldeias deu origem às primeiras cidades (observe o mapa a seguir). Com as cidades, nasciam as primeiras civilizações. Por se localizarem às margens de rios, ficaram conhecidas como civilizações fluviais.

Há dificuldades de se precisar o momento da origem das primeiras cidades. reticências

reticências Ao observarmos, concretamente, sua proximidade com os rios, podemos nos perguntar que razões explicariam esta coincidência histórica.

Levantamos, aqui, uma explicação de ordem “geográfica”, natural. Essas cidades surgiram em regiões com predomínio de climas semiáridos, daí a necessidade de se fixarem perto dos rios, repartir a água, repartir os escassos pastos, e proceder ao aproveitamento das planícies inundáveis, ricas de húmus e propícias ao desenvolvimento da agricultura.

Assim, embora fossem resultado do social e do político enquanto processo, as primeiras cidades tiveram suas localizações determinadas pêlas condições naturais reticências.

ispózito, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e urbanização. São Paulo: Contexto, 2000. página 16.

Os primeiros assentamentos, cidades e civilizações

Mapa. Os primeiros assentamentos, cidades e civilizações. Mapa representando parte da Europa, sobretudo o Leste Europeu e a Península do Peloponeso, parte do nordeste da África e a parte continental da Ásia. Há algumas regiões demarcadas com cores distintas e cidades destacadas. Em texto, estão indicadas a Europa e as regiões do Egito, da Anatólia, da Arábia, da Mesopotâmia, do Irã, da Índia e da China.
Conforme a legenda, em laranja escuro ‘Egípcios’. Com um território abrangendo o vale do rio Nilo, no nordeste da África, com destaque para as cidades de Mênfis, Gizé, Sacara, Tebas e Assuã. 
Em rosa, ‘Mesopotâmicos’. Com um território abrangendo a região dos rios Tigre e Eufrates, na Ásia, ao sul da Anatólia, com destaque para as cidades de Ebla, Mari, Kish, Nipur,  Uruk, Ur e Eridu.  
Ao norte da região demarcada em rosa, destaque para a cidade de Çatalhoyük, na Anatólia. 
A leste da região demarcada em rosa, destaque para a cidade de Susa, no Irã. 
No sudoeste da região demarcada em rosa, destaque para a cidade de Jerico, às margens do Rio Jordão.
Em verde, ‘Indianos’ com um território abrangendo a região do vale do Rio Indo, até o litoral do Mar Arábico com destaque para a cidade de Mohenjo-Daro. 
Ao norte da região demarcada em verde, destaque para a cidade de Mundigak. 
À nordeste da região demarcada em verde, destaque para a cidade de Harapa. 
No sudeste da região demarcada em verde, destaque para a cidade de  Lothal.
Em amarelo escuro, ‘Chineses’ com um território abrangendo a região leste da Ásia, entre os rios Amarelo e Azul. Destaque para as cidades de Taixiun, Cheng-ziyai, Erlitou, Sufutun, Anyang,  Tseng-tsou e Pan-lou-cheng.
No canto inferior esquerdo,  rosa dos ventos e escala de 0 a 690 quilômetros.

Fonte: A AURORA da humanidade. Rio de Janeiro: Abril Livros; Londres: táime láife, 1993. (Coleção História em Revista).

Respostas e comentários

Texto complementar

O conceito de civilização, originalmente, foi utilizado como oposto ao de barbárie. Mais tarde, ele se tornou o equivalente ao acervo de conhecimentos desenvolvidos pela humanidade.

Surgido no século dezoito, o conceito de civilização logo vai se opor ao de barbárie. Posteriormente, Marcel mausafirma que civilização “são todas as conquistas humanas”. Existindo tanto no singular quanto no plural, civilização é o bem comum partilhado, ainda que desigualmente, por todas as civilizações; é “aquilo que o homem não esquece mais”. O fogo, a escrita, o cálculo, a domesticação das plantas e dos animais já não se ligam mais a uma origem particular e se tornaram bens coletivos da civilização

As civilizações em relação às outras são capazes de dar, receber, emprestar e recusar. É também seu destino “partilharem-se” a si próprias, como dizia Ém fukó, operando-se a si mesmas e deixando para trás parte de suas heranças e bagagens.

LIMA, Luis Corrêa. História, meio ambiente e cultura: a contribuição teórica de fernã brôdél. Em Debate, Rio de Janeiro, número 2, página 1-15, 2005. Disponível em: https://oeds.link/ciiU34. Acesso em: 13fevereiro 2022.

Observação

O conteúdo desta página é uma boa oportunidade para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

Atividade complementar

O atual crescimento urbano desordenado pode ser trabalhado de maneira interdisciplinar com Geografia, numa atividade de coleta de dados estatísticos e discussão sôbre os desafios das grandes cidades brasileiras. O site í bê gê É Cidades, disponível em: https://oeds.link/JOX77t (acesso em: 13fevereiroponto2022), é uma ótima fonte de pesquisa. Os estudantes podem consultar esse site e pesquisar dados estatísticos sôbre três grandes cidades brasileiras, focando nas seguintes questões: número de habitantes, taxa de escolarização, saúde e meio ambiente. Os dados servem de base de comparação e de pontos de partida para que os estudantes identifiquem os desafios das grandes cidades brasileiras atuais.

A pesquisa proposta nesta atividade complementar incentiva o trabalho com práticas de pesquisa como revisão bibliográfica e observação, tomada de nota e construção de relatórios.

A descoberta do uso dos metais

Os metais são inicialmente extraídos dos minerais, que são os principais compóstos das rochas e do solo. O ouro e o cobre, ao contrário, já são encontrados na natureza na fórma metálica. É possível que a descoberta do uso dos metais tenha sido semelhante à da agricultura, como nos mostra o texto a seguir.

Com efeito, reticências talvez acidentalmente, as populações badarienses [que viveram no Egito no período Neolítico] descobriram o esmalte azul, ao aquecer pedras ou paletas nas quais havia sido triturado material para a pintura dos olhos à base de malaquita, que é um minério de cobre. Assim, os habitantes do vale teriam descoberto simultaneamente o cobre, que trabalhavam a frio, e a chamada “faiança egípcia”, isto é, o esmalte azul, que logo passou a ser utilizado na fabricação de contas de adorno.

verrcuterr jian. Descoberta e difusão dos metais e desenvolvimento dos sistemas sociais até o século verdadeiro antes da Era Cristã. In: KI-ZERBO, Joséf (editora). História Geral da África, um: metodologia e Pré-História da África. 2. editora Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 811.

O primeiro metal utilizado pelo homem do qual existem evidências foi o cobre, há cêrca de 8 mil anos, para fazer estatuetas e enfeites. Por ser um metal mole, era pouco usado na fabricação de armas e ferramentas. Por meio de golpes, os humanos conseguiam modelar o metal na fórma desejada. Mais tarde, passaram a usar o fogo para fundir o cobre.

Mais duro e resistente que o cobre, o bronze é uma liga metálica obtida da fusão de cobre com estanho. O bronze começou a ser usado cêrca de 6 mil anos atrás na produção de armas, escudos etcétera.

O uso do ferro era raro e só se difundiu em torno de 1500 antes de CristoNesse momento descobriu-se que o minério de ferro retirado das jazidas, quando misturado a outros elementos químicos (como o carbono e o manganês) e aquecido em fornos primitivos, transforma-se em ligas bastante resistentes.

Com o ferro foi possível fabricar armas mais duradouras, aperfeiçoar instrumentos agrícolas e criar novos tipos de utensílios e ferramentas. Foi o início de um processo de desenvolvimento tecnológico que prossegue até hoje nos laboratórios, nas metalúrgicas e nas siderúrgicas.

Fotografia, Ponta de machado feita de metal escuro disposta na posição vertical. Com formato de um losango pontiagudo, achatado na base, tem um buraco redondo na parte inferior. Na parte superior, uma ponta fina.
Machado de metal de aproximadamente 7 mil anos, encontrado em prócuplie, na Sérvia.
Fotografia. Em metal de cor escura com partes em marrom, uma estatueta vista de frente. Representa uma figura humana de nariz pontiagudo com as mãos sobre a cintura.
Estatueta feminina de metal, produzida há cérca de 7 mil anos e encontrada em prócuplie, na Sérvia.
Respostas e comentários

Orientações

É interessante destacar aos estudantes que o bronze tem papel fundamental na produção de artefatos e de obras de arte. Ele é bastante resistente à corrosão, o que faz com que as esculturas e outros tipos de artefato produzidos com esse material mantenham sua fórma e suas características originais.

Posteriormente, o uso do ferro foi responsável por grandes mudanças nas sociedades. Com ele, a agricultura se desenvolveu com rapidez, visto que os seres humanos passaram a produzir uma série de utensílios agrícolas, bastante resistentes. Também é importante notar que a confecção de armas de ferro tornou possível, em certa medida, a expansão territorial de diversos povos.

Alguns historiadores consideram que, dependendo do material empregado, a chamada Idade dos Metais poderia ser dividida em três fases: Idade do Cobre, Idade do Bronze e Idade do Ferro.

Observação

O trabalho nesta página pretende mostrar como a utilização dos metais constitui um processo que se conecta ao conjunto de transformações na natureza e na paisagem empreendidas por diferentes grupos humanos ao longo do tempo. Estudar esse tema possibilita que a habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco seja contemplada.

Respostas e comentários
Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

, Marcel; , História das agriculturas no mundo: do Neolítico à crise contemporânea. São Paulo: editoraUnésp, 2010.

Com base em minuciosos estudos e levantamentos de dados, a obra aborda o desenvolvimento da agricultura desde o período Neolítico até o mundo contemporâneo.

PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Contexto, 2012. (Coleção Repensando a História).

Produzida pelo renomado historiador Jaime Pinsky, a obra é resultado de anos de pesquisa e apresenta o processo civilizatório e o desenvolvimento de diversos aspectos, como a agricultura, a escrita e as cidades, ao longo do tempo.

O nascimento do Estado e da escrita

O desenvolvimento da agricultura e o crescimento populacional mudaram a organização de algumas sociedades. Acredita-se que o chefe ou o sacerdote de uma família poderosa, em data incerta, assumiu o contrôle de uma região e transformou-se em rei. Originou-se, assim, uma instituição que tinha plena autoridade sôbre a população. É o que chamamos de processo de formação do Estado.

Para garantir o contrôle sôbre o conjunto da população, o rei tinha vários servidores. Eles desempenhavam tarefas em seu nome, como registrar as colheitas, cobrar impostos e organizar a defesa do território. O rei ainda podia fazer leis, julgar os crimes e dirigir rituais religiosos.

Um dos principais resultados do surgimento das cidades e do Estado foi o desenvolvimento da escrita, por volta de 4000 antes de Cristo, em decorrência de vários fatores, entre eles:

a necessidade de contabilizar os produtos comercializados e os impostos arrecadados pelos servidores do rei;

o levantamento da estrutura das obras, que exigiu a criação de um sistema de sinais numéricos para realizar os cálculos geométricos.

A escrita possibilitou também aos seres humanos registrar suas ideias e seus sentimentos, além de representar uma nova fórma de comunicação. Os registros escritos têm grande importância para o conhecimento das diferentes experiências humanas no passado, e permitem que a vida de hoje seja conhecida pêlas gerações futuras.

Fotografia. Estátua  feita de pedra cinza, vista de frente, representando uma pessoa, em pé, com vestes longas com inscrições verticais e um adorno arredondado sobre a cabeça. Segura nas mãos um pequeno jarro de fundo arredondado, com linhas finas saindo dele, que se estendem até os pés da escultura. A figura está descalça.
Estátua representando Gudea. cêrca de 2130 antes de Cristo Altura: 62 centímetrosponto Gudea governou a cidade suméria de lagach aproximadamente entre 2140 antes de Cristo. e 2120 antes de Cristo Museu do Louvre, Paris, França.
Fotografia. Vista de um local fechado. Em primeiro plano, um homem de cabelos longos e loiros, vestindo blusa preta e calça jeans com uma mochila bege é visto de costas, observando uma vitrine. Dentro da vitrine, retangular e fechada hermeticamente com vidro, uma pedra cinza com a ponta superior fina apoiada sobre um suporte bege.  Em segundo plano, atrás de uma faixa de contenção preta, outras pessoas observam a mesma vitrine e há outros objetos expostos sobre pedestais ao fundo.
Os registros escritos produzidos há milhares de anos dão pistas importantes sôbre o modo de vida e a cultura de diversos povos no passado. A Pedra Roseta, um pedaço de granito descoberto em 1799, no Egito, foi fundamental para decifrar os hieróglifos egípcios, por exemplo. Na fotografia, a Pedra Roseta integra uma exposição sôbre o Egito no Museu Britânico. Fotografia de 2020.
Respostas e comentários

Texto complementar

A prática da escrita sofreu grandes transformações com o uso do computador e da internet. O texto a seguir aborda esse tema.

Alguns educadores posicionam-se favoravelmente à inclusão da nova variedade linguística dos conteúdos de língua portuguesa. A escola deve valorizar também a linguagem codificada que os alunos usam em ambientes de comunicação virtual, porém, mostrando as diferenças de uso de acôrdo com o contexto. Assim como uma tese exige linguagem formal e um bate-papo, descontração, a comunicação na Internet precisa de códigos e sinais mais rápidos e curtos

SCARAMAL, Junior; cráemer, Alessandro. A influência da internet nas variações linguísticas. In: ENCONTRO NACIONAL DE INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO, 2, 2011, Cascavel. Anais Cascavel: unioéste, 2011. página289-397. Disponível em: https://oeds.link/XTl94Q. Acesso em: 13 fevereiro 2022.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero dois.

Atividade complementar

Com o desenvolvimento das cidades nas civilizações fluviais, a escrita desempenhou um papel central na administração, na propagação de ideias e na comunicação. O aprendizado da leitura e da escrita estava restrito a poucas pessoas e inserido numa teia de relações de poder. Vale a pena organizar um pequeno debate em sala de aula e questionar os estudantes: será que a relação entre poder e domínio da leitura e da escrita permanece na atualidade? De modo geral, sim: aqueles que obtêm acesso à informação estão mais preparados para enfrentar questões importantes e também podem ter mais discernimento sôbre os acontecimentos vivenciados.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. O objeto registrado na fotografia a seguir foi feito há milhares de anos e nos revela algumas informações sôbre o grupo humano que o produziu. Observe a imagem, leia a legenda e, com base nos conteúdos estudados neste Capítulo, identifique o período em que o objeto foi produzido e a sua provável utilidade.

Fotografia. Sobre um fundo cinza, um pote ovalado, largo no meio, com base e abertura mais estreitas, em formato circular. A abertura superior é maior do que a base. O pote de cor terracota está pintado em cor de argila clara com desenhos decorativos em formatos ovalados.
Pote de cerâmica de aproximadamente 3000 antes de Cristo Altura: 23,2 centímetros. Esta cerâmica foi encontrada na Tailândia. Museu de Arte de clívilan, Estados Unidos.

2. Elabore um pequeno roteiro que explique o processo de surgimento da agricultura e, a partir dele, crie uma história em quadrinhos. Depois, compartilhe com o restante da turma a sua produção.

Versão adaptada acessível

2. Elabore um pequeno roteiro que explique o processo de surgimento da agricultura e, a partir dele, construa uma história em quadrinho tátil, usando materiais como papéis com diferentes texturas, linhas, botões, palitos, materiais emborrachados, entre outros. Depois, compartilhe com o restante da turma a sua produção.

Orientação para acessibilidade

Para a construção de uma história em quadrinho tátil recomenda-se o uso de materiais de diferentes texturas para a elaboração da história em quadrinhos. Uma aula antes, oriente os estudantes a respeito dos materiais que eles devem levar à sala de aula para realizar a atividade. Contrastes do tipo liso e áspero, fino e espesso, tendem a favorecer a percepção tátil dos estudantes. Dessa forma, podem ser utilizados para criação da história em quadrinhos material emborrachado, diversos tipos de papéis, palitos, linhas, botões, retalhos de tecidos etc. Os contornos das personagens e dos elementos da história podem ser representados por materiais maleáveis, como linhas de barbante. Pode-se sugerir que os estudantes criem associações entre a textura de determinado material e a personagem ou ideia representada. Oriente que os textos sejam inseridos próximos aos quadros de cada cena.  Se considerar pertinente, adapte o nível de complexidade da atividade. Os estudantes também podem descrever aos colegas a história criada, favorecendo o exercício da imaginação e da criatividade. Eles podem indicar a caracterização das personagens e suas expressões, o cenário principal, o plano de fundo, os diálogos, entre outros elementos possíveis.

3. O texto a seguir trata de uma descoberta que transformou a vida do ser humano. Leia-o para realizar a atividade proposta.

Há centenas de milhares de anos, nas noites frias de inverno, a escuridão era um grande inimigo. Sem a Lua cheia, a negritude da noite, além de assustadora, era perigosa. Havia muitos predadores com sentidos aguçados, e que poderiam atacar facilmente enquanto dormíamos. O frio intenso era outro inimigo. Não eram fáceis os primeiros passos da humanidade, dados por antepassados muito diferentes de nós.

Até que, um dia, talvez ao observar uma árvore atingida por um raio, os hominídeos primitivos descobriram algo que modificaria completamente o rumo da nossa evolução Ao dominar essa entidade, foi possível se aquecer, proteger-se dos predadores e ainda cozinhar os alimentos. Como nenhuma outra criatura do nosso planeta, conseguimos usar a nosso favor um fenômeno natural para ajudar a vencer as dificuldades diárias.

OLIVEIRA, Adilson de. A descoberta que mudou a humanidade. Ciência Hoje, 16julho 2010. Disponível em: https://oeds.link/kcBUqP. Acesso em: 6 abril 2022.

  1. A qual descoberta o texto se refere? Quando ela teria ocorrido?
  2. Como, segundo o texto, essa descoberta pode ter acontecido? Que outras hipóteses poderiam explicar essa descoberta?
  3. Que benefícios, segundo o texto, essa descoberta trouxe para a vida humana? Cite exemplos de como essa descoberta está presente no nosso cotidiano.

4. Em grupo, leiam o texto a seguir.

Populações tradicionais – indígenas e não indígenas – de regiões tropicais do planeta ainda adotam o chamado cultivo de coivara, também conhecido como “cultivo de córte e queima”. Essa fórma itinerante de agricultura, usada há milênios, baseia-se na abertura de clareiras na floresta para serem cultivadas por períodos mais curtos do que aqueles destinados ao descanso e à regeneração da terra. O sistema de coivara é encontrado hoje em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil, na Amazônia e em áreas de mata atlântica.

Para muitos especialistas, trata-se de uma estratégia de manejo de recursos na qual os campos cultivados são usados em rodízio, com o objetivo de explorar o capital energético e nutritivo acumulado no conjunto solo-vegetação das florestas.

NEVES, Walter et al. Coivara: cultivo itinerante na floresta tropical. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, volume 50, número 297, página 26-30, 2012.

Apontem semelhanças e diferenças entre a prática da coivara e o sistema neolítico de cultivo de córte e queimada.

Respostas e comentários

Seção Atividades

Objeto de conhecimento

As origens da humanidade, seus deslocamentos e os processos de sedentarização.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero seis agá ih zero dois (atividade 1)

ê éfe zero seis agá ih zero cinco (atividades 2, 3, 4)

Respostas

1. O objeto é uma espécie de pote de cerâmica feito no período Neolítico e pode indicar que os grupos humanos que o fizeram tinham conhecimentos sôbre argila, cerâmica e técnicas para guardar ou acomodar alimentos.

2. Oriente os estudantes no desenvolvimento dos seguintes tópicos: sedentarismo, desenvolvimento de ferramentas de pedra polida, exploração de fórmas selvagens de plantas, observação da germinação, mudanças na organização dos grupos humanos.

3. Se desejar, comente que os diferentes tipos de energia utilizados em indústrias, hospitais, iluminação das ruas etc. foram desenvolvidos com base nos princípios termodinâmicos da liberação de energia para a produção de movimento, proporcionadospêla criação, no século dezoito, da máquina a vapor. A utilização do carvão como fonte de energia possibilitou a produção de máquinas que fizeram da Inglaterra a pioneira na industrialização. Pode-se dizer que, sem o uso e o domínio do fogo, a vida humana seria diferente ou, talvez, a nossa espécie não teria sobrevivido.

a) A descoberta é o uso do fogo, que teria ocorrido entre 1 milhão e 700 mil anos atrás.

b) O ser humano pode ter descoberto o uso do fogo observando árvores atingidas por raios, atividades vulcânicas ou a queima de petróleo que brotava das jazidas.

c) O fogo possibilitou cozinhar os alimentos, iluminar os ambientes, afugentar os predadores e aquecer-se no frio. Exemplos do uso do fogo no dia a dia: fusão dos metais, produção de cerâmica, preparo dos alimentos.

4. A coivara é semelhante ao sistema neolítico de plantio. Há o córte de árvores para abrir uma clareira na floresta, a queima da área, seguida da semeadura sem o uso de arado. O cultivo na área é temporário, de 1 a 3 anos. Após esse período, a área fica em repouso durante um tempo, entre 10 e 30 anos. Procede-se, então, ao córte e à queima de uma nova área. As diferenças que podem ser apontadas referem-se às ferramentas utilizadas. No Neolítico, os instrumentos eram feitos de pedra polida; atualmente, usa-se o ferro ou o aço.

CAPÍTULO 4  MODOS DE VIDA NA AMÉRICA: POVOS DO ATUAL TERRITÓRIO BRASILEIRO

Como você já sabe, ainda não existe um consenso sôbre as rótas percorridas pelos seres humanos para chegarem à América e a data exata em que isso ocorreu. Contudo, é certo que quase todas as regiões do continente estavam habitadas pelo menos por volta de 10 mil anos atrás.

Ao longo de milhares de anos, as inúmeras sociedades que povoaram o continente americano desenvolveram modos de vida bastante diversificados, organizando sua vida econômica, política e social, ocupando espaços geográficos e estabelecendo relações com o ambiente natural de maneiras muito específicas.

Mas, apesar das diferenças, também podemos dizer que havia semelhanças entre os modos de vida desses povos. Em geral, eles se organizavam em grupos bastante reduzidos, praticavam a caça, a pesca e a coleta de vegetais, como frutos e raízes, e levavam uma vida nômade, deslocando-se constantemente em busca de alimentos.

Além da pedra, outros materiais, como ossos, madeira, fibras vegetais e peles, eram utilizados na confecção de abrigos, casas, vestimentas e instrumentos de trabalho.

Pintura. Sobre uma grande parede rochosa em tons de bege, dezenas de mãos pintadas sobre a pedra. Algumas foram contornadas nas cores preta, marrom e vermelha. Outras pintadas com tinta nas cores vermelha e marrom.
Pintura rupestre (detalhe) na Caverna das Mãos, em Santa Cruz, na Argentina. Essas pinturas foram feitas entre 13 mil e 9 mil anos atrás, e trazem valiosas informações sôbre o modo de vida dos povos que habitaram o local nesse período. Fotografia de 2019.
Respostas e comentários

sôbre o Capítulo

Ao longo deste Capítulo são apresentadas informações sôbreos mais antigos habitantes do território que hoje compreende o Brasil. Os estudos a respeito desses povos, bem como sôbre seu modo de vida e aspectos de seu cotidiano e de sua produção cultural, estão entre os temas abordados neste Capítulo.

Orientações

Conhecer a maneira como os povos americanos se desenvolveram desde sua chegada a este continente é propiciar uma melhor compreensão das sociedades americanas do presente.

No estudo sôbre os primeiros habitantes da América, retome com os estudantes a compreensão de conceitos históricos importantes, como nomadismo e sedentarismo, relação entre ser humano e natureza, pesquisa arqueológica e tecnologia. Atualmente, a noção de tecnologia está vinculada ao desenvolvimento de equipamentos eletrônicos. É importante apresentar aos estudantes uma ideia mais ampla, que abrange as técnicas criadas pêla humanidade que transformaram o ambiente e o próprio ser humano.

Além disso, as questões relacionadas ao desenvolvimento tecnológico auxiliam os estudantes a perceber como se formulam as hipóteses e as teorias arqueológicas e como elas podem mudar ao longo do tempo, gerando assim novas explicações de um mesmo acontecimento.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar, e retomar, aspectos da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero seis agá ih zero cinco: Descrever modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos indígenas originários e povos africanos, e discutir a natureza e a lógica das transformações ocorridas.

ê éfe zero seis agá ih zero oito: Identificar os espaços territoriais ocupados e os aportes culturais, científicos, sociais e econômicos dos astecas, maias e incas e dos povos indígenas de diversas regiões brasileiras.

Os mais antigos habitantes do atual Brasil

As discussões entre os arqueólogos para determinar qual rota ou quais rotas os grupos humanos percorreram para chegar à América e quando isso teria acontecido também se repetem, evidentemente, quando o assunto é o povoamento do território brasileiro. Até o momento, o que é aceito pelos cientistas é que, há pelo menos 12 mil anos, o território que hoje corresponde ao Brasil já era ocupado por pequenos grupos de caçadores e coletores.

Os primeiros habitantes do Brasil viviam principalmente em habitações a céu aberto ou em abrigos sob rochas e, às vezes, em cavernas. No interior das cavernas, os moradores costumavam fazer pinturas que mostravam cenas da vida cotidiana, figuras de animais e de pessoas.

A descoberta de vestígios como artefatos de pedra, anzóis feitos de ossos e conchas perfuradas indica que tais povos praticavam a caça, a pesca e a coleta.

Os mais antigos vestígios de agricultura no território brasileiro datam de aproximadamente 7 mil anos atrás e foram encontrados na região amazônica. Os primeiros agricultores plantavam milho, algodão e feijão, mas a mandioca era o principal cultivo. Raiz rica em calorias, ainda hoje é uma fonte de energia fundamental para milhares de pessoas no Brasil.

Como aconteceu em outras regiões do mundo, mesmo após a descoberta da agricultura, diversos povos continuaram sendo, basicamente, caçadores e coletores. Assim, os povos agricultores mantiveram a caça e a pesca como parte das suas atividades cotidianas.

Fotografia. Em um local aberto, um grupo formado por quatro homens trabalha em volta de uma área escavada sobre o solo marrom-escuro. No centro, destaca-se uma vala em formato retangular e retilíneo. demarcada por fios na lateral. Na ponta da esquerda e da direita, ao lado da vala, há dois homens com ferramentas nas mãos, cavando a terra. Próximo a eles, baldes pretos cheios de terra. Ao fundo, atrás deles, dois homens sentados observando. Um deles faz anotações em um caderno. Em volta, densa vegetação.
Equipe de arqueólogos escava em sítio arqueológico na cidade de Porto Velho, em Rondônia. Fotografia de 2016.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR]: Povos indígenas na constituição da Floresta Amazônica

[LOCUTORA]: [TOM DE APRESENTAÇÃO] Há milênios, diversas sociedades vêm modificando a natureza e a paisagem do continente americano. No território atual do Brasil, as fontes históricas dessas mudanças remontam a pelo menos 12 mil anos.

Pinturas rupestres, utensílios de cerâmica e sambaquis são registros que, para olhares mais atentos, ajudam a entender um pouco mais sobre as culturas dos povos que habitaram nossas terras, suas visões de mundo, suas formas de organização e suas relações com a natureza e com outras sociedades.

A ação humana também deixou sua marca naquele que é um dos maiores patrimônios naturais do país e do mundo: a Floresta Amazônica.

Estudos recentes descobriram evidências de que a natureza e a paisagem que os europeus encontraram na Amazônia a partir do século XVI já eram resultados de transformações produzidas por sociedades de um passado ainda mais remoto.

[LOCUTORA]: [TOM DE CONVITE] Vamos conversar agora com Carlos Machado Dias Júnior, professor adjunto na Universidade Federal do Amazonas, para entender melhor como isso aconteceu.

[LOCUTORA]: [PERGUNTA A CARLOS MACHADO] Como era a organização e o modo de vida desses povos? Como eles se relacionavam com a floresta e de que formas a teriam afetado?

[CARLOS MACHADO]: [TOM CALMO E PAUSADO] Certezas absolutas não podem ser ditas àqueles tempos da América Pré-Colombiana. No entanto, algumas hipóteses já foram bem construídas, pelos cientistas, com os relatos e as informações reunidas desde o século XVI e associadas às formas de organização da vida desses povos hoje.

Os estudos da antropologia já mostraram que esses povos são muito diferentes de nós. E uma das diferenças que mais nos chama a atenção é o fato de que eles não separam, como nós, os seres humanos dos outros seres que habitam o planeta. Essa diferença, como bem mostrou o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, bem entendida, nos ajuda a compreender muito como esses povos aliam seus modos de ser e de viver.

Por exemplo, quando dizemos que eles não separam os seres humanos dos demais do planeta, todos os seres, aqueles que nós chamamos de vivos e inanimados – animais, plantas, pedras, rios etc. – significa que, para eles, todos são iguais sem nenhum privilégio para os humanos.

Significa que todos os seres e coisas devem ter os mesmos direitos de existir e, quando um está em risco de extinção, todos os demais estarão também. Talvez isso possa nos ajudar a compreender um pouco a importância que eles dão para a floresta.

[LOCUTORA]: [PERGUNTA A CARLOS MACHADO] A devastação da floresta também provoca perda de patrimônio humano?

[CARLOS MACHADO]: Certamente. Devastar o que chamamos de floresta significa também perda de patrimônio humano. Hoje e cada vez mais, os remanescentes dos povos indígenas passam a reivindicar seus direitos pela terra e, muitas vezes, essa terra é delimitada de acordo com os locais que eles reconhecem como patrimônio cultural.

Então... Se olharmos para esses territórios hoje demarcados de terras indígenas, os marcos de limites dessas terras costumam ser lugares e locais que esses povos têm como referência das suas origens culturais.

O que assistimos, infelizmente, muitas vezes, são grandes projetos de ocupação da Amazônia, de exploração desses recursos amazônicos, como hidrelétricas, por exemplo, ou exploração de minérios, que muitas vezes passam por cima desses locais que os povos indígenas têm como a origem das suas expressões culturais.

[LOCUTORA]: [PERGUNTA A CARLOS MACHADO] Tendo em vista a experiência dos povos que habitaram as terras amazônicas há milhares de anos, que aprendizados poderemos aplicar na sociedade brasileira contemporânea?

[CARLOS MACHADO]: Temos muitas diferenças, se compararmos com os povos ameríndios, os nossos modos de ser, de pensar e de estar no mundo. Pude constatar, de muitos modos, com imensa satisfação e admiração, que aqueles povos vivem em busca de felicidade, e que a felicidade está muito longe da ideia de acumular riquezas pessoais.

Como os antropólogos mostraram, em vários casos, faz parte da essência da vida desses povos o desenvolvimento da pessoa no seu coletivo. É preciso sorrir todos os dias, dar muitas gargalhadas. Quanto mais engraçada a vida cotidiana, mais justa é a forma de vida que levam.

Se nós, modernos ocidentais, acreditamos na ideia do desenvolvimento econômico, de mercado, como razão de ser e de viver, os índios nos informam que sua aposta maior de vida está no desenvolvimento social da pessoa e do grupo.

Respostas e comentários

Orientações

Com o final da última glaciação, há 10 mil anos, a temperatura elevou-se e grande parte da camada de gelo que cobria o espaço terrestre derreteu. O clima tornou-se mais quente e úmido, causando inúmeras mudanças ambientais no continente americano. Entre as mudanças, estava o aumento do volume das chuvas e da umidade, que levou à formação de vastas áreas florestais, à destruição das savanas (hábitat dos grandes animais), à ampliação das florestas, à redução das pastagens, que provocaram a fome e o aumento da disputa por alimentos entre os animais. Os grandes animais, como as preguiças-gigantes e os gliptodontes (uma espécie de tatu gigante), acabaram extintos. Apenas animais menores sobreviveram.

O fim da Era Glacial coincidiu, no Oriente Médio, no norte da África e na China, com o início da agricultura. Na América, acredita-se que o cultivo da terra tenha se iniciado um pouco mais tarde, por volta de 7 mil anos atrás. As primeiras experiências com a agricultura na América ocorreram nas regiões dos atuais Equador e México.

Os primeiros produtos cultivados foram feijões de diferentes tipos, pimentões, abóboras, tomates e milho, além do algodão, usado na confecção de tecidos, e a cabaça. Posteriormente, na América do Sul, também foram cultivadas a batata, a batata-doce e a mandioca.

É provável que os habitantes da região amazônica tenham aprendido a técnica da produção agrícola com os povos andinos, que eram excelentes agricultores.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar aspectos das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco e ê éfe zero seis agá ih zero oito.

Os povos dos sambaquis

A elevação do nível do mar, provocada pelo derretimento das geleiras, motivou muitos povos a se instalarem nas proximidades de rios, lagos e mares à procura de alimentos e recursos hídricos. Nesses locais, em diversas partes do nosso continente, foram encontrados grandes montes de conchas e de restos de animais, principalmente aquáticos. Essas elevações, que misturam material orgânico e material mineral como calcário, foram chamadas de sambaquis.

Muitos sambaquis foram encontrados no Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, embora haja sambaquis também na região amazônica. Alguns deles são tão grandes que chegam a atingir 30 metros de altura e 400 metros de comprimento. Os sambaquis litorâneos, que são os mais antigos, podem ter 7 mil anos de idade ou mais.

Mais do que montes formados de material orgânico e calcário, os sambaquis impressionam por seu tamanho e intrigam por sua finalidade. Atualmente, acredita-se que o sambaqui era um local preparado para enterrar os mortos e depositar oferendas. Isso explicaria os esqueletos humanos descobertos nesses locais, cada um deles protegido por uma cêrca, como se fosse um ritual funerário.

Os sambaquis fazem parte do patrimônio arqueológico do Brasil, mas sua preservação está ameaçada pêla atividade de exploração do calcário, largamente utilizado para a produção de cimento e cal.

Fotografia. Vista de local aberto, sob um céu azul-claro diurno. Ocupando os dois terços inferiores da imagem, um morro formado por sedimentos nas cores bege e branca, parcialmente coberto por vegetação de cor verde clara, com algumas partes em verde escuro.
Sambaqui com conchas no sítio arqueológico Ponta da Garopaba do Sul, em Jaguaruna, em Santa Catarina. Fotografia de 2021.
Respostas e comentários

Orientações

Durante o estudo dos mais antigos habitantes do atual Brasil, vale lembrar que os pesquisadores não estabelecem, necessariamente, uma linha direta entre os povos aqui apresentados e os indígenas que tiveram contato com os europeus no final do século quinze.

Ao tratar dos sambaquis, vale a pena informar aos estudantes que os antigos habitantes do litoral de Santa Catarina tinham uma qualidade de vida invejável. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores levaram em consideração a estatura média, a saúde dos dentes, as infecções ósseas e as lesões nas articulações de mais de 12 mil esqueletos humanos. A análise dos esqueletos de diversos sambaquis catarinenses revelou que esses habitantes tinham poucas cáries e não sofriam de lesões causadas por carência de ferro no organismo.

Observação

É importante notar que o estudo dos sambaquis e das transformações na natureza e na paisagem empreendidas pelos povos que desenvolveram esse tipo de construção possibilita contemplar, mais uma vez, a habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões para o professor:

CARDOSO, Ciro Flamarion S. América pré-colombiana. São Paulo: Brasiliense, 2004.

(Coleção Tudo é História).

O livro aborda o passado pré-colombiano do México Central a partir do resgate de diversas documentações destruídas no período.

prú, André. O Brasil antes dos brasileiros: a Pré-História de nosso país. Rio de Janeiro: zarrár, 2007.

A obra traz o panorama da Arqueologia no Brasil discutindo sôbre as datações e as hipóteses acerca do povoamento e da ocupação no território.

Multiculturalismo
Os povos ceramistas

É provável que a produção de cerâmica tenha sido iniciada no território brasileiro na mesma época em que começou o cultivo de alimentos. A atividade ceramista era exercida provavelmente por mulheres.

Uma das mais antigas cerâmicas do Brasil foi encontrada em um sambaqui da região de Santarém, na junção do rio Tapajós com o Amazonas. O fato de ela estar associada a um sambaqui, e não à agricultura, nos leva a questionar a ideia de que a cerâmica foi desenvolvida exclusivamente para armazenar grãos e cozinhar alimentos. É possível que algumas sociedades ameríndias tenham produzido peças de cerâmica para fins cerimoniais. Exemplo disso são as urnas funerárias, recipientes com tampa nos quais o corpo ou os ossos do morto eram depositados.

Fotografia. Uma estatueta de cor bege clara, representando uma mulher nua sentada com as pernas esticadas, com um recipiente grande e arredondado sobre suas pernas. Ela segura o recipiente com as duas mãos. As orelhas da figura tem os lóbulo alongados até os ombros, com uma abertura estreita na parte inferior. Ela tem uma faixa ao redor da cabeça.
Estatueta da cultura Santarém. cêrca de 1000 a 1400. Cerâmica restaurada, 23por 28 Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém Pará.

Principais sítios arqueológicos e sambaquis brasileiros

Mapa. Principais sítios arqueológicos e sambaquis brasileiros. Mapa representando o território atual do Brasil destacado em verde, no território, há diferentes ícones destacando a localização de sambaquis e de sítios arqueológicos. O ícone representando uma concha clara indica os 'Sambaquis'. Eles estão concentrados no litoral sul do Espírito Santo, no litoral do Rio de Janeiro, no litoral de São Paulo, no litoral do Paraná,  no litoral norte e sul de Santa Catarina e no litoral norte do Rio Grande do Sul. O ícone representando um rosto de cor cinza indica o 'Sítio arqueológico de Lagoa Santa', localizado no sul do estado de Minas Gerais. O ícone representando uma mão com uma espiral no centro, em preto, indica o 'Sítio arqueológico da Pedra Pintada', localizado no noroeste do estado do Pará, próximo à cidade de Monte Alegre. O ícone representando um pote de cerâmica, em  marrom, indica o 'Sítio arqueológico da Ilha de Marajó', localizado no Pará, na Ilha de Marajó. O ícone representando um martelo, indica  'Outros sítios arqueológicos', localizados no Pará (Santarém, Prainha e Anapu), em Rondônia (Médio Guaporé), no norte do Piauí (Sete cidades), no Rio Grande no Norte (Carnaúba dos Dantas, Parelhas), entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba (Seridó), na Paraíba (Pedra Lavada, Campina Grande), em Pernambuco (Venturosa, Petrolândia e Iati), na Bahia (Irecê, Xique-xique, Central), em Minas Gerais (Montalvânia, Peruaçu, Pedro Leopoldo), Goiás (Serranópolis, Água Limpa), São Paulo (Serra Azul, Caieiras, Itapeva) e Rio Grande do Sul (São Miguel). A segunda parte da legenda se refere a: 'Sítios arqueológicos com mais de 11.400 anos'. O ícone representando uma pintura rupestre de um quadrúpede, em preto, indica o 'Parque Nacional Serra da Capivara', localizado no sul do Piauí, próximo à São Raimundo Nonato. O ícone representando uma pintura rupestre de uma pessoa inclinada e com os braços flexionados, em preto, indica 'Lapa do Boquête', sítio localizado no norte do estado de Minas Gerais próximo a cidade de Januária. O ícone representando uma pintura rupestre de uma ave de pescoço longo, em preto, indica 'Lapa Vermelha 4', sítio localizado no centro do estado de Minas Gerais, próximo às cidades de Diamantina e  Pedro Leopoldo. O ícone representando uma pintura de uma figura humana com os braços abertos e esticados, em preto, representa 'Santana do Riacho', sítio arqueológico no sul de Minas Gerais, próximo ao sítio de Lagoa Santa. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 390 quilômetros.

Fonte: rétzél, Bia; NEGREIROS, Silvia (organizador). Pré-História do Brasil. Rio de Janeiro: Manati, 2007. página 22.

Imagem: Ícone ‘’Site’’ composto pelo desenho de uma tela de celular.
Ícone ‘’Livro’’ composto pelo desenho de dois livros empilhados um acima do outro.
Ícone ‘’Vídeo’’ composto pelo desenho de uma câmera. Fim da imagem.
Ícone. Sugestão de site.

MUSEU de Arqueologia – Universidade Católica de Pernambuco. Disponível em: https://oeds.link/XROJP3. Acesso em: 7 abril 2022. O Museu de Arqueologia, localizado em Recife, Pernambuco, disponibiliza em seu site uma visita virtual que possibilita conhecer suas dependências. O site também publica notícias sôbre o museu e fotografias de peças de seu acervo.

Respostas e comentários

Orientações

Se desejar, informe aos estudantes que os exemplares de cerâmica descobertos na Ilha de Marajó, situada na foz do rio Amazonas, foram produzidos pêla chamada cultura marajoara, que começou a se desenvolver cêrca de 1 800 anos atrás.

A cerâmica marajoara é marcada por uma grande diversidade de fórmas, desenhos e funções. Um dos padrões mais conhecidos é o das urnas, que apresentam figuras com fórmas humanas. As urnas funerárias serviam para enterrar os mortos. O povo Marajoara descarnava os corpos, limpava e pintava os ossos de vermelho e os depositava nas urnas. Ele acreditava que essas partes do corpo humano constituíam o depósito da alma.

A decoração geométrica e a distribuição harmônica das côres nas urnas marajoaras pressupõem que havia, naquela sociedade, trabalhadores especializados na arte decorativa. Tal preocupação com a decoração indica uma sociedade que já teria abandonado sua fase nômade. Raramente, os povos nômades desenvolvem a cerâmica nesse nível, pois as peças se quebrariam com facilidade durante os deslocamentos. Os rituais de sepultamento em urnas detalhadamente ornadas sugerem que o povo Marajoara dedicava boa parte do cotidiano às atividades simbólicas, como a arte e a religião. As cerimônias fúnebres eram ocasiões propícias para expressar mitos e crenças e também para afirmar relações de poder. É provável que a decoração mais elaborada de determinada urna funerária indicasse o lugar de destaque que o morto ocupava naquela sociedade.

Nesse sentido, essa abordagem possibilita trabalhar o tema contemporâneo Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar aspectos das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco e ê éfe zero seis agá ih zero oito.

Os sítios de Lagoa Santa e São Raimundo Nonato

O estudo de esqueletos humanos do Brasil pré-histórico teve início no século dezenove, com escavações nas grutas de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Lá foram encontrados ossos de animais já extintos, pontas de flechas e machados, além da ossada de trinta humanos. Mais tarde, no século vinte, novas escavações levaram à descoberta de um crânio feminino de aproximadamente .11500 anos. Ao ser examinado, na década de 1990, o crânio foi batizado de Luzia e ganhou o apelido carinhoso de “a primeira brasileira”.

As pesquisas científicas com restos humanos encontrados em Lagoa Santa têm levado os estudiosos a discutir sôbre as possíveis origens dos primeiros povoadores do continente americano. Alguns pesquisadores consideram que podem ter ocorrido duas levas migratórias, uma mais antiga, de origem africana e aborígene australiana, e outra de origem asiática. Outros consideram que houve uma única Róta migratória, de origem asiática.

Na década de 1970, escavações dirigidas pêla arqueóloga niêde Guidon no sítio arqueológico Boqueirão da Pedra Furada, em São Raimundo Nonato, no Piauí, levaram à descoberta de centenas de artefatos de pedra lascada e pedaços de carvão vegetal. O sítio é um abrigo de paredes rochosas cobertas por mais de mil pinturas e grafismos rupestres. Os objetos ali encontrados, segundo a pesquisadora, teriam sido produzidos por grupos humanos há mais de 50 mil anos. Alguns estudiosos, porém, não aceitam essa hipótese e afirmam que os objetos de pedra e os pedaços de carvão podem ser resultado de processos naturais, como o esfacelamento das rochas ou incêndios florestais.

Fotografia. Em primeiro plano, um crânio humano, com ossos de cor bege, os orifícios do nariz e dos olhos marcados. Mais ao fundo, em cor de argila, um molde de cabeça de uma mulher com crânio largo, , sem cabelos, nariz achatado e lábios grossos.
A primeira reconstituição do rosto de Luzia com base em seu crânio levou os pesquisadores à conclusão de que ela teria traços muito semelhantes aos dos africanos ou aos dos aborígenes australianos. O crânio de Luzia fazia parte do acervo do Museu Nacional, na cidade do Rio de Janeiro, destruído por um incêndio de grandes proporções em 2 de setembro de 2018.
Fotografia. Duas imagens de um molde de cabeça humana. em cor de argila. A primeira imagem, à esquerda, mostra o seu rosto de frente e, a segunda, à direita, mostra o rosto de perfil, voltado para a esquerda. A figura, sem cabelos, tem o nariz comprido e os olhos pretos.
Reconstituição mais recente do rosto de Luzia. Alguns pesquisadores reconstituíram o rosto de Luzia com base em investigações de dê êne á fóssil. Segundo essas pesquisas, seus traços genéticos indicam uma provável origem asiática. Fotografia de 2018.
Pintura. Sobre uma superfície rochosa de cor bege, o contorno da figura de um animal quadrúpede, de pescoço longo, em tons de marrom sobre pedra marrom-claro. Na região do abdômen da figura, uma área ovalada, pintada de marrom. Embaixo desse animal maior, há a figura de outro semelhante, mas bem menor e todo pintado de marrom. Ambos estão correndo em direção à esquerda da imagem.
Pintura rupestre (detalhe) no Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí. Fotografia de 2021.
Respostas e comentários

Orientações

Se julgar conveniente, comente com os estudantes que, em 2006, no Simpósio Internacional “O povoamento das Américas”, estudos apresentados reforçaram as hipóteses de niêde Guidon.

Atividade complementar

Alguns dos principais sítios arqueológicos brasileiros estão localizados no município de São Raimundo Nonato, no estado do Piauí. A Fundação Museu do Homem Americano, sediada na localidade, tem por finalidade incentivar a pesquisa, a preservação e a divulgação dos importantes sítios arqueológicos da região. Entre outras atividades, como a manutenção desse importante museu, a instituição mantém um site que conta com excelente material fotográfico dos patrimônios naturais e culturais do local, disponível em: https://oeds.link/YxEHFQ. (acesso em: 14 fevereiro 2022). Há registros de alguns sítios arqueológicos da região, com destaque para as pinturas rupestres.

Você pode orientar os estudantes a observar as pinturas e a compará-las com outras, reproduzidas nesta Unidade. Sugerimos o seguinte roteiro para a apreciação das figuras:

• identificar as figuras e as cenas representadas;

• identificar as côres predominantes;

• levantar hipóteses acerca do significado das imagens;

• levantar hipóteses acerca dos materiais utilizados na pintura.

Observação

O conteúdo desta página pode constituir uma boa oportunidade para trabalhar aspectos das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco e ê éfe zero seis agá ih zero oito.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o professor:

PIVETTA, Marcos; ZORZETTO, Ricardo. Walter Neves: o pai de Luzia. Pesquisa Fapesp, São Paulo,número217, página26-31, maio 2012. Disponível em: https://oeds.link/imVGLv. Acesso em: 14abril2022.

Nesta entrevista, o pesquisador Walter Neves, “pai da Luzia” e um dos principais críticos de Guidon, admite que o povoamento da região pode ter ocorrido há mais de 30 mil anos.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Ciências

Meio ambiente

A megafauna do Quaternário

Os grandes animais que viviam na América e em outros continentes até o fim da última glaciação eram mamíferos e são conhecidos hoje por “megafauna do Quaternárioglossário ”. “Fauna” refere-se a “reino animal” e “mega” significa “muito grande”. Nos últimos 50 mil anos, esses animais entraram em processo de extinção em todos os continentes. Na América do Sul, contudo, 83% da megafauna desapareceu, índice muito maior que o da África, de apenas 10%.

Ainda hoje os cientistas que estudam o desaparecimento da megafauna não têm certeza absoluta do que causou a sua extinção. Mas eles suspeitam que as variações climáticas ocorridas ao final da última glaciação e a ação humana podem ter sido as responsáveis.

No caso das variações climáticas, acredita-se que a elevação da temperatura e da umidade ao longo dos anos, com a consequente redução das áreas de savanas, principal hábitat da maior parte desses animais, inviabilizou sua sobrevivência.

No caso da ação humana, a hipótese é que os primeiros habitantes do continente americano podem ter caçado animais em excesso, ou destruído paisagens naturais de onde muitas espécies obtinham o alimento, causando a sua extinção. Acompanhe, no texto a seguir, a opinião de alguns estudiosos sôbre o tema.

Qual teria sido o papel do ser humano na extinção da megafauna?

“Há aproximadamente 10 mil anos, ocorreu nas Américas uma tragédia faunística”, diz o paleontólogo Bruno Kraimer, da púqui-Minas. Segundo ele, a única “unanimidade” sôbre a razão disso é que a causa teve relação com alterações no clima. Para ele, a dúvida maior é sôbre “quando” exatamente a mudança climática aniquilou os bichos gigantes. reticências

A opinião de Guimarães [ecólogo], entretanto, é uma “unanimidade” diferente: tribos caçadoras mataram a megafauna. “Esses animais se extinguiram no fim da última glaciação. Mas ocorreram muitas glaciações nesse período geológico. Em nenhuma delas o grau de extinção foi tão alto quanto no fim do período. A única diferença entre a última glaciação e as anteriores é a presença humana nas Américas.”

Debate sôbre extinção opõe teorias sôbre caça predatória e mudanças climáticas. Folha de São Paulo, 20 julho 2008. Disponível em: https://oeds.link/DiNh1Y. Acesso em: 15 fevereiro 2022.

  1. Para o paleontólogo Bruno Kraimer, qual é a causa da extinção da megafauna do Quaternário?
  2. Qual é a posição do ecólogo Guimarães? E qual é seu argumento para defendê-la?
  3. Atualmente, algumas espécies de animais correm risco de extinção. Faça uma pesquisa na internet e responda: esse risco é motivado por variações climáticas ou pêla ação humana?
Respostas e comentários

Respostas

1. O paleontólogo tem como base os debates que a comunidade científica vem travando sôbre as razões que teriam levado à extinção da megafauna americana; uma razão que tende a unificar todos eles é a mudança climática. Destaque que esse processo teria causado a redução das savanas e a sua substituição por florestas tropicais.

2. O ecólogo destaca a ação humana como decisiva para o desaparecimento desses grandes animais. Para ele, uma das principais evidências dessa relação de causa e efeito é o fato de que essa megafauna sobreviveu a várias glaciações, mas apenas na última, quando o ser humano já habitava as Américas, ela foi extinta no continente.

3. Incentive a pesquisa na internet, destacando aos estudantes que o tema escolhido para esta seção, a megafauna extinta da América, aprofunda noções já vistas na primeira Unidade do livro: a evolução das espécies, as mudanças ambientais e algumas questões e hipóteses presentes na pesquisa científica que envolvem várias áreas do conhecimento (Arqueologia, Paleontologia, Biologia, Geologia, Geografia, entre outras). Este item da atividade faz um paralelo com as questões ambientais da atualidade, com destaque para o papel das comunidades humanas na extinção (ou preservação) da biodiversidade em nosso planeta. A intenção é fazer com que os estudantes exercitem práticas de pesquisa e de organização de novas informações e, principalmente, reflitam sôbre novas atitudes a respeito do tema.

O conteúdo desta seção também possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Meio ambiente.

Observação

O conteúdo desta página constitui uma boa oportunidade para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

FUNARI, Pedro Paulo; NOELLI, Francisco Silva. A Pré-História do Brasil. São Paulo: Contexto, 2002. (Coleção Repensando a História).

A obra reúne estudos sôbre o processo migratório responsável por povoar o Brasil muito antes da chegada dos europeus.

NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro: zarrár, 2006.

Um dos principais estudiosos de Arqueologia da Amazônia na atualidade, Eduardo Góes Neves propõe um novo olhar para a região com base nos estudos dos diversos sítios arqueológicos existentes na localidade e dos povos indígenas que a habitaram.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Monte no caderno um quadro conforme o modelo a seguir, completando-o com as afirmativas que se relacionam a cada sítio arqueológico.

Ícone modelo.
Sítios arqueológicos

Lagoa Santa

Boqueirão da Pedra Furada

  1. Os objetos ali encontrados, segundo alguns pesquisadores, teriam sido produzidos por grupos humanos há mais de 50 mil anos. Mas nem todos os estudiosos aceitam essa hipótese.
  2. Sítio arqueológico onde foi encontrado o crânio de “Luzia, a primeira brasileira”.
  3. As escavações foram conduzidas pêla pesquisadora niêde Guidon.
  4. Pinturas rupestres em paredes rochosas de cavernas são estudadas por pesquisadores que procuram identificar quando elas podem ter sido produzidas.
  1. Identifique as afirmações incorretas e reescreva-as corretamente em seu caderno.
    1. A fauna do Brasil pré-histórico tinha animais muito maiores que os de hoje e a vegetação apresentava menos áreas florestais.
    2. Ao contrário de outros povos americanos, os habitantes do Brasil pré-histórico não conheciam a cerâmica e eram nômades.
    3. Os sambaquis são formações naturais que não tinham nenhuma função para os homens pré-históricos que habitavam o litoral.
    4. A agricultura no território brasileiro começou a ser praticada por volta de 7 mil anos atrás, e seu principal produto era a mandioca.
    5. Após desenvolverem a prática da agricultura, os habitantes do Brasil pré-histórico deixaram de praticar a caça e a coleta.
  2. Qual é a importância dos sambaquis para a compreensão do povoamento da América?
  3. Em grupo, leiam o texto e respondam às questões no caderno.

Em abrigos rochosos nos estados do Piauí e Minas Gerais, por exemplo, os arqueólogos encontraram fragmentos de parede com pinturas e blocos de pedra com gravuras, vestígios soterrados por camadas de sedimentos que datam de 7 mil a 9 mil anos. reticências Entretanto, a crescente exploração econômica das jazidas minerais brasileiras, a rápida expansão da urbanização e o desenvolvimento do turismo em áreas não urbanas têm ameaçado esse milenar patrimônio cultural devido à carência de informação e proteção.

JORGE, Marcos (organizador). Brasil rupestre: arte pré-histórica brasileira. Curitiba: Zencrane Livros, 2007. página114.

  1. Quais descobertas arqueológicas foram citadas no texto? Onde elas ocorreram?
  2. Segundo o texto, que ações humanas têm causado a degradação desses e de outros vestígios de povos pré-históricos no Brasil?
  3. Imaginem a seguinte situação: no processo de construção de uma estação de metrô em seu estado, pesquisadores encontram um conjunto de vestígios arqueológicos importantes. Eles solicitam a interrupção das obras e a alteração do traçado original da linha para que o local seja tombado e transformado em um sítio arqueológico. As autoridades do estado, no entanto, insistem em manter as obras alegando que grandes investimentos já foram feitos e que milhares de pessoas seriam prejudicadas pêla interrupção do trabalho e pêla alteração do traçado original do projeto. Reflitam sôbre essa situação, avaliando os prós e os contras. Que decisão vocês acham que os governantes devem tomar? Interromper ou continuar os trabalhos? Antes de responder à questão, considerem as necessidades imediatas da população, os gastos já feitos e o valor daquele patrimônio arqueológico para o nosso país.
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objetos de conhecimento

• As origens da humanidade, seus deslocamentos e os processos de sedentarização.

• Os povos indígenas originários do atual território brasileiro e seus hábitos culturais e sociais.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero seis agá ih zero cinco (atividades 2, 3, 4)

ê éfe zero seis agá ih zero oito (atividades 1, 2, 3, 4)

Respostas

1. a) Boqueirão da Pedra Furada.

b) Lagoa Santa.

c) Boqueirão da Pedra Furada.

d) Lagoa Santa.

2. b) Os primeiros habitantes do Brasil pré-histórico eram nômades, mas alguns passaram a adotar o sedentarismo, como alguns povos dos sambaquis. Vários povos, como os Marajoara e os Guarani, conheciam a arte da cerâmica; c) Os sambaquis foram produzidos por habitantes de algumas regiões litorâneas e ribeirinhas da América, e tinham um significado simbólico, como servir de moradia aos mortos; e) Mesmo após o desenvolvimento da agricultura, a caça e a coleta eram fontes importantes de alimentação para muitos habitantes do Brasil pré-histórico.

3. Os povos dos sambaquis são um exemplo de modo de vida sedentário não relacionado à agricultura, o que justifica a teoria de que não foi apenas a prática da agricultura que possibilitou a fixação de povos em algumas regiões.

4. a) Foram descobertos fragmentos de parede com pinturas e blocos de pedra com gravuras, com idade entre 7 mil e 9 mil anos, nos estados do Piauí e de Minas Gerais.

b) A exploração de jazidas minerais, a urbanização e o turismo em áreas não urbanas, sem o acompanhamento de políticas eficientes, contribuem para a degradação do patrimônio arqueológico. O desconhecimento da população sobre esses vestígios e de sua importância também dificulta sua preservação.

c) Esse tipo de impasse ocorre no Brasil e em outros países. Leve os estudantes a confrontar a necessidade da população que utiliza o transporte público e a importância de pesquisas históricas e arqueológicas. É importante ressaltar que o conhecimento sôbre a vida cotidiana e a cultura material dos povos pré-cabralinos pode revelar aspectos do processo de colonização que ocorreu a partir do século dezesseis. Ao se colocar no lugar de tomada de decisão administrativa e política, o estudante aprende a considerar os diversos pontos de vista dos envolvidos na situação, a pensar e a medir, com responsabilidade, as consequências positivas e negativas de uma decisão dessa amplitude. O estudante deve procurar uma solução que concilie a necessidade de estimular o uso do transporte público com a importância de preservar o patrimônio arqueológico e a memória do país.

Glossário

Produtividade 
No caso da agricultura, é a capacidade de obter o maior volume de alimentos utilizando o mesmo espaço agrícola e no menor tempo possível.
Voltar para o texto
Irrigação
Técnica utilizada na agricultura para fornecer água às plantas, com o uso de equipamentos ou a construção de canais e diques, por exemplo.
Voltar para o texto
Quaternário
Na classificação estabelecida por estudiosos, é o período da escala de tempo geológico que corresponde à última fase da Era Cenozoica. O Quaternário se iniciou por volta de 2,6 milhões de anos atrás e continua nos dias de hoje.
Voltar para o texto