UNIDADE dois A EUROPA MODERNA EM FORMAÇÃO
Você estudará nesta Unidade:
O Renascimento
O Humanismo
A Reforma protestante
A Contrarreforma
A arte renascentista
O absolutismo
O mercantilismo
No final da Idade Média, novas práticas e mentalidades se tornaram cada vez mais presentes na sociedade europeia. O feudalismo estava em crise e um novo grupo social surgia: a burguesia.
Esse período de transformações políticas, econômicas e sociais tomou fórma nos séculos catorze e quinze. Essas transformações se consolidaram e se integraram a uma nova visão de mundo.
Os artistas e os intelectuais da época procuravam se diferenciar do pensamento e da cultura medievais. Para isso, passaram a buscar inspiração na Antiguidade clássica, considerada por eles um período de grandes realizações. Era o início do movimento que ficou conhecido como Renascimento.
Como será que as transformações que ocorreram na Europa ocidental nos séculos catorze e quinze originaram um novo modo de pensar e de ver o mundo? Como esse novo modo de pensar se manifestou no campo das artes, no das ciências e no da religião? O que você sabe sobre esse assunto?
CAPÍTULO 3 O RENASCIMENTO
Na Europa da Idade Média, quem cuidava das escolas e das universidades era a Igreja católica. Para os membros do clero, havia um único caminho de compreensão da vida: o da fé e da religião. Assim, defendiam uma visão teocêntrica, segundo a qual a vida deveria ser guiada pela crença na vontade de Deus, que era considerado o centro do Universo. Mesmo os pensadores de uma corrente filosófica chamada de Escolástica, que procuraram conciliar a fé e a razão, defendiam que a verdade absoluta estava na palavra de Deus revelada nas Escrituras.
Contudo, essa fórma de contemplar o mundo já não correspondia às transformações que estavam em curso na Europa desde o século onze, como a urbanização, a intensificação do comércio e o surgimento de um novo grupo social, a burguesia, que enriquecia graças às atividades comerciais. Nesse contexto, foram surgindo ideias que pretendiam renovar os estudos tradicionais por meio da valorização de outras áreas do conhecimento, como História, Filosofia, Literatura, Retórica e Matemática.
Surgia na península Itálica, em fins do século catorze e início do quinze, um movimento intelectual e cultural que expressava o novo modo de pensar que se desenvolvia na Europa, e que ficou conhecido como Renascimento.
Uma nova visão de mundo
O termo “Renascimento” era utilizado pelos próprios artistas da época para definir suas obras em contraposição à produção artística medieval.
Contudo, é importante notar que a visão de mundo divulgada pelos renascentistas contribuiu para a consolidação da ideia de que a Idade Média foi um período de atraso, um milênio de trevas durante o qual o conhecimento da Antiguidade clássica teria “desaparecido”.
Essa concepção a respeito da Idade Média é equivocada, pois a cultura greco-romana continuou presente ao longo da Idade Média, na Literatura, nas teorias políticas, na Educação, na Filosofia etcétera. Além disso, a Idade Média foi uma época marcada por importantes estudos, invenções e uma produção artística intensa.
Outro problema decorrente dessa nova visão de mundo divulgada pelos renascentistas é acreditar que qualquer expressão cultural possa surgir fóra de seu tempo. Ainda que os renascentistas desejassem fazer “renascer” a cultura greco-romana, eles criaram um estilo artístico que expressava algo novo, refletindo os indivíduos e a sociedade do final da Idade Média.
Esses artistas eram pessoas de seu tempo, ou seja, viviam em um mundo em que as ideias religiosas do cristianismo ainda tinham muita fôrça, enquanto novos valores se desenvolviam rapidamente. Uma das concepções que começou a ser construída nessa época foi a de modernidade. Porém a passagem para o "novo mundo", o mundo moderno, tinha como centro a história da Europa e desconsiderava os processos históricos e culturais vivenciados por diversos povos.
PROENÇA, Graça. Descobrindo a história da arte. São Paulo: Ática, 2019. Nesta obra é possível encontrar um vasto panorama da história da arte, incluindo informações e imagens de obras de artistas do Renascimento.
O Humanismo
O período de grandes transformações pelo qual passava a Europa propiciou o desenvolvimento do Humanismo, movimento intelectual do Renascimento que surgiu nos centros urbanos mais prósperos da península Itálica. O Humanismo voltava-se para a busca do conhecimento sobre o ser humano e a natureza por meio da investigação, da observação e da crítica, valorizando a razão e o raciocínio lógico.
Os humanistas questionavam a submissão das pessoas e também a devoção religiosa como centro da existência e a vida contemplativa, que eram características da época medieval. O movimento buscava, então, apoiar uma postura mais ativa, inventiva, observadora e capaz de usufruir do seu mundo e de seu tempo.
Assim, em substituição à visão teocêntrica, os humanistas defendiam o antropocentrismo, que colocava o ser humano no centro do Universo. O homem, no lugar de Deus, deveria ser a medida de todas as coisas.
Vale considerar, no entanto, que os humanistas não eram ateus, embora defendessem a busca da verdade por meio da investigação e da reflexão racional.
Observe, por exemplo, como o poeta inglês Uíliam Xêiquispíer, em sua famosa obra Hamlet, expressou essa nova visão sobre o ser humano:
Que obra-prima, o homem! Quão nobre pela razão! Quão infinito pelas faculdades! Como é significativo e admirável na fórma e nos movimentos!
Nos atos quão semelhante aos anjos! Na apreensão como se aproxima aos deuses, adorno do mundo, modêlo das criaturas!
Xêiquispíer, Uílliam. A trágica história de Hamlet. [ sem local]: Ridendo Castígat Mores, 2000. E-book.
É possível conhecer um pouco mais a obra desse famoso dramaturgo, Uíliam Xêiquispíer, assistindo à montagem do cineasta Franco Zefiréli da comédia A megera domada.
O espírito científico
Os estudiosos renascentistas buscavam explicar o mundo por meio da observação e da experimentação, do cálculo, do método e do rigor científico, contribuindo para o desenvolvimento do que chamamos de pensamento moderno. Com base nessas concepções, realizaram muitas descobertas e inovações técnicas. Nos campos da Matemática, da Física e da Astronomia, destacaram-se:
• Nicolau Copérnico (1473-1543): astrônomo polonês, contestou a teoria geocêntrica, elaborada pelo grego Ptolomeu e reafirmada pela Igreja católica, segundo a qual a Terra era o centro do Universo. No lugar, defendeu a teoria heliocêntrica, de acôrdo com a qual o Sol era o centro de tudo, e a Terra e os demais planetas giravam em tôrno dele.
(1571-1630): astrônomo e matemático alemão, dedicou-se à observação do planeta Marte e descobriu que os planetas descrevem órbitas elípticas em vez de circulares, como se acreditava até então. Também elaborou as leis sobre o movimento dos planetas.
• Galileu Galilei (1564-1642): astrônomo, matemático e filósofo italiano, aperfeiçoou a luneta, instrumento que lhe permitiu descobrir as luas de Júpiter, os anéis de Saturno, as fases de Vênus e as dimensões da Via Láctea e do sistema solar. Por meio de suas observações, confirmou a teoria heliocêntrica elaborada por Copérnico.
Ler a gravura
• Esta imagem representa a teoria geocêntrica ou a teoria heliocêntrica? Explique.
De olho na Medicina
A Medicina desenvolveu-se bastante nos séculos quinze e dezesseis. O químico e médico suíço-alemão Paracelso, por exemplo, propôs a cura da sífilis pelo mercúrio. O médico espanhol Miguel Servet descobriu o funcionamento da pequena circulação sanguínea, mostrando que o sangue é levado aos pulmões para ser oxigenado, retornando depois ao coração. Já o inglês uíliãm rárvei descobriu o funcionamento da grande circulação sanguínea e afirmou que o coração funciona como uma bomba para manter o fluxo sanguíneo.
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Transcrição do áudio
[LOCUTOR]:Carta do cardeal Roberto Belarmino
[LOCUTORA]: O movimento humanista e o Renascimento promoveram inovações científicas muito importantes na Europa entre os séculos XVI e XVII. Uma dessas inovações foi a teoria heliocêntrica do universo, defendida por Galileu Galilei. Essa nova visão provocou duras reações de membros da Igreja, por acreditarem que o teocentrismo seria uma verdade inquestionável da religião cristã. Na carta escrita pelo religioso Roberto Belarmino no século XVII, cuja leitura de alguns trechos você ouvirá a seguir, o problema da oposição da Igreja às ideias humanistas e à postura de Galileu é abordado.
[LOCUTOR 2]: Roberto Belarmino a Paulo Antônio Foscarini. Roma, 12 de abril de 1615. Ao Mui Reverendo Padre Mestre Frei Paulo Antônio Foscarini, Provincial dos Carmelitas da Província da Calábria meu Mui Reverendo Padre, li com prazer a carta em italiano e o escrito em latim que Vossa Paternidade me enviou. Agradeço-lhe por uma e outro e confesso que estão ambos cheios de engenho e de doutrina.
Primeiro. Digo que me parece que Vossa Paternidade e o Senhor Galileu ajam prudentemente, contentando-se em falar por suposição e não de modo absoluto, como eu sempre cri que tenha falado Copérnico. Porque dizer que, suposto que a Terra se move e o Sol está parado, salvam-se todas as aparências melhor do que com a afirmação dos excêntricos e epiciclos, está mencionado muitíssimo bem e não há perigo algum. Isto basta para o matemático. Mas querer afirmar que realmente o Sol está no centro do mundo e gira apenas sobre si mesmo sem correr do Oriente ao Ocidente e que a Terra está no Terceiro Céu e gira com suma velocidade em volta do Sol é coisa muito perigosa não só de irritar todos os filósofos e teólogos escolásticos, mas também de prejudicar a Santa Fé ao tornar falsas as Sagradas Escrituras.
Segundo. Digo que, como o senhor sabe, o Concílio proíbe explicar as Escrituras contra o consenso comum dos Santos Padres. Se Vossa Paternidade quiser ler, não digo apenas os Santos Padres, mas os comentários modernos sobre o Gênesis, sobre os Salmos, sobre o Eclesiastes, sobre Josué, verá que todos concordam em explicar literalmente que o Sol está no céu e gira em torno da Terra com suma velocidade e que a Terra está muitíssimo distante do céu e está imóvel no centro do mundo. Considere agora o senhor, com sua prudência, se a Igreja pode tolerar que se dê às Escrituras um sentido contrário aos Santos Padres e a todos os expositores gregos e latinos. Nem se pode responder que esta não é matéria de Fé, porque, se não é matéria de Fé por parte do objeto, é matéria de Fé por parte de quem fala. Assim, seria herético quem dissesse que Abraão não teve dois filhos e Jacó doze, como quem dissesse que Cristo não nasceu de uma virgem, porque um e outro o diz o Espírito Santo pela boca dos Profetas e Apóstolos.
Terceiro. Digo que, se houvesse verdadeira demonstração de que o Sol esteja no centro do mundo e a Terra no Terceiro Céu e de que o Sol não circunda a Terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso proceder com muita atenção na explicação das Escrituras que parecem contrárias e dizer, antes, que não as entendemos, do que dizer que é falso aquilo que se demonstra. Mas não crerei que há tal demonstração até que me seja mostrada. Nem é o mesmo demonstrar que, suposto que o Sol esteja no centro e a Terra no céu, salvam as aparências, e demonstrar que na verdade o Sol esteja no centro e a Terra no céu. Porque a primeira demonstração creio que possa haver, mas da segunda tenho dúvida muitíssimo grande e, em caso de dúvida, não se deve abandonar a Escritura Sagrada, explicada pelos Santos Padres.
Com o que saúdo afetuosamente Vossa Paternidade e peço a Deus que lhe conceda toda a satisfação.
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História e Ciências
A vida de Galileu
O texto a seguir apresenta um diálogo fictício entre Galileu Galilei e seu aluno e amigo Andrea, em que o cientista explica de maneira experimental a teoria heliocêntrica. Trata-se de uma adaptação da peça A vida de Galileu, escrita pelo poeta e dramaturgo alemão bértold Brécht entre 1938 e 1939.
Galileu – Veja o que eu trouxe para você, ali atrás dos mapas astronômicos.
Andrea – O que é isso?
Galileu – É uma esfera armilar; mostra como as estrelas se movem à volta da Terra, segundo a opinião dos antigos.
Andrea – E como é?
Galileu – Vamos investigar, e começar pelo começo: a descrição.
Andrea – No meio tem uma esfera pequena.
Galileu – É a Terra.
Andrea – A bola embaixo é a Lua, é o que está escrito. Mais em cima é o Sol.
Galileu – E agora faça mover o Sol.
Andrea (movendo as esferas) – É bonito. Mas nós estamos fechados lá no meio.
Galileu – É, foi o que eu também senti, quando vi essa coisa pela primeira vez. Há dois mil anos a humanidade acredita que o Sol e as estrelas do céu giram em tôrno dela. Pois onde a fé teve mil anos de assento, sentou-se agora a dúvida. Todo mundo diz: é, está nos livros – mas nós queremos ver com nossos olhos.
Galileu – Você acabou entendendo o que eu lhe expliquei ontem?
Andrea – O quê? Aquela história do Copérnico e da rotação?
Galileu – É.
Andrea – Não. Por que o senhor quer que eu entenda? É muito difícil!
Andrea – eu vejo que o Sol de tarde não está onde estava de manhã. Quer dizer que ele não pode estar parado! Nunca e jamais!
Galileu – Você vê! O que é que você vê? Você não vê nada! Você arregala os olhos e arregalar os olhos não é ver. (Galileu põe uma bacia de ferro no centro do quarto.) Bem, isto é o Sol. Sente-se aí. (Andrea se senta na única cadeira; Galileu está de pé, atrás dele.) Onde está o Sol, à direita ou à esquerda?
Andrea – À esquerda.
Galileu – Como fazer para ele passar para a direita?
Andrea – O senhor carrega a bacia para a direita, claro.
Galileu – E não tem outro jeito? (Levanta Andrea e a cadeira do chão, faz meia-volta com ele). Agora, onde é que o Sol está?
Andrea – À direita.
Galileu – E ele se moveu?
Andrea – Ele, não.
Galileu – O que é que se moveu?
Andrea – Eu.
Galileu (berrando) – Errado! A cadeira!
Andrea – Mas eu com ela!
Galileu – Claro. A cadeira é a Terra. Você está em cima dela. Esta aqui é a Terra; seus pés estão sobre ela Você entendeu isto?
Andrea – Sim.
LISBOA FILHO, Paulo N.; LAVARDA, Francisco C. Galileu. [Adaptado da obra de] . [ sem local, sem nome], [2012]. Disponível em: https://oeds.link/PZKw18. Acesso em: 3 . 2022. fevereiro
- Você acabou de ler um texto teatral. Que elementos do texto confirmam essa afirmação? Reescreva em seu caderno a alternativa correta.
- Presença de um narrador e texto organizado cronologicamente.
- Presença de personagens e texto em fórma de diálogo.
- Linguagem formal e exposição de informações de modo objetivo.
- Galileu Galilei afirma que “há dois mil anos a humanidade acredita que o Sol e as estrelas do céu giram em tôrno dela [a Terra]”. Essa afirmação diz respeito a qual teoria? Ela foi defendida por quem?
- Que teoria Galileu está tentando explicar a seu aluno Andrea?
- As palavras de Galileu apresentam algumas das principais características do Humanismo. Quais são elas? Justifique com passagens do texto.
- Galileu expõe uma teoria a Andrea por meio de um experimento, feito com uma cadeira e uma bacia de ferro. Forme um grupo com seus colegas e, juntos, pensem em outra fórma de explicar essa teoria. Em seguida, apresentem o resultado para a turma.
A difusão de novas ideias
Até a primeira metade do século quinze, os livros eram manuscritos (ou seja, escritos ou copiados à mão, geralmente por monges copistas), mas eles não eram acessíveis a grande parte da população. O fato de serem manuscritos acabava por limitar e encarecer a sua produção. Além disso, grande parte dos livros ficava guardada nas bibliotecas de mosteiros, o que dificultava a difusão do conhecimento.
Essa situação começou a se modificar em 1450, quando o alemão Iorranes Gutembergue desenvolveu, a partir de um modêlo chinês, a prensa de caracteres móveis feitos de chumbo. A prensa era uma máquina que comprimia, em uma superfície, os tipos alfabéticos, que eram embebidos em tinta e, assim, formavam um texto. O invento permitiu agilizar a reprodução de livros em grandes quantidades, barateando os custos e permitindo difundir as ideias humanistas para várias regiões da Europa. Vale ressaltar, porém, que o uso da prensa somente se tornou hegemônico no século dezenove, com a produção industrial de livros.
Perseguições e redes de apôio
Apesar de todas essas inovações, a criação e a difusão de novas fórmas de pensar foram tarefas difíceis nesse período. Isso porque muitas dessas ideias, como a teoria heliocêntrica, eram consideradas subversivas em relação à doutrina da Igreja.
Ao questionar as “verdades” estabelecidas, muitos pensadores e cientistas foram excomungados, perseguidos, torturados e, até mesmo, condenados à morte. Giordano Bruno e Miguel servêt, por exemplo, foram queimados vivos pela Inquisição; Galileu foi repreendido pela Igreja e teve de negar suas descobertas para escapar da condenação à fogueira.
Mas, mesmo com a censura da Igreja, as novas ideias continuaram a florescer. Entre os pensadores renascentistas, estabeleceu-se uma rede de apôio, de troca de ideias, de descobertas, de formação de discípulos e de incremento do ambiente universitário.
A arte do Renascimento
Como você pôde perceber, o pensamento humanista teve importantes expressões nas mais diversas áreas do conhecimento, como nos estudos de Astronomia de Galileu e de Copérnico, na Literatura de Xêiquispíer, na Química e na Medicina de Paracelso, entre outras. Contudo, foi principalmente nas artes visuais produzidas no Renascimento que o humanismo manifestou o potencial sensível do ser humano e sua capacidade de representar o mundo.
A península Itálica foi o berço desse movimento e também o local onde ele atingiu o esplendor. A riqueza proveniente das atividades comerciais e bancárias permitiu a formação de uma burguesia próspera e orgulhosa do seu poder, que passou a financiar o trabalho de pintores, escultores e arquitetos.
Ao atuar como mecenas, ou seja, como protetores e patrocinadores dos artistas, esses ricos burgueses tinham um duplo objetivo: exibir sua riqueza e seu prestígio e imortalizar sua figura.
A pintura mitológica
A obra Baco e Ariadne, do italiano Ticiano Vetiéli, é considerada a obra-prima da pintura mitológica do Renascimento. Ela mostra Baco (ao centro), deus do vinho, encontrando Ariadne (à esquerda), filha do rei de Creta e sua futura noiva.
No lado direito da pintura, observamos também a figura mítica de Laocoonte lutando contra uma serpente. Sacerdote de Troia, Laocoonte tentou convencer os troianos a recusar o cavalo de madeira oferecido como presente pelos gregos. Como castigo, os deuses gregos enviaram serpentes marinhas, que mataram Laocoonte e seus filhos.
. Xêiquispíer, Uílliam Romeu e Julieta. São Paulo: Moderna, 2016. Essa obra conta uma história de amor envolvendo dois jovens de famílias rivais que viviam na cidade de Verona: Romeu, filho dos Montéquio, e Julieta, herdeira dos Capuleto.
Inovações da arte renascentista
Os artistas renascentistas inspiraram-se nos valores humanistas e, dessa fórma, passaram a destacar em suas obras a natureza, os animais e, principalmente, o ser humano. A mitologia e os personagens bíblicos, que mostram a síntese da religiosidade cristã com a cultura pagã greco-romana, eram temas que apareciam muito em suas obras.
Para os renascentistas, a função principal da obra de arte era recriar a realidade e a natureza, proporcionando prazer ao observador por meio da beleza e da perfeição na representação das fórmas. Para isso, introduziram a paisagem e desenvolveram estudos para reproduzir a expressividade das figuras humanas. Os avanços técnicos da arte renascentista foram obtidos graças aos estudos de Matemática, Física, Geometria e Óptica. Dessa fórma, o artista passou a assumir, progressivamente, o papel de “cientista das artes”.
A valorização do mundo terreno e natural também levou os artistas do Renascimento a retomar, na edificação de palácios e igrejas, as linhas retas, as colunas e os arcos, características das construções greco-romanas.
Universalismo
A aliança entre humanismo e ciência definiu uma característica geral do Renascimento: o universalismo, que tinha como base a visão de que o ser humano deveria desenvolver todas as áreas do saber, assumindo a atitude de um sábio capaz de se posicionar ativamente em um mundo dinâmico e em transformação.
A pintura renascentista
Na pintura, os renascentistas desenvolveram diversas técnicas inovadoras para atingir a beleza, o realismo e a perfeição. A composição em pirâmide, por exemplo, foi utilizada para transmitir harmonia e equilíbrio e para direcionar o olhar do observador. Ao destacar a paisagem em suas obras, os artistas empregaram a técnica da perspectiva, que criava a sensação de profundidade e volume ao representar os objetos em uma superfície plana. O aumento ou a diminuição do tamanho do objeto representado transmitia a ilusão de estar mais próximo ou mais distante do observador, conferindo à pintura uma realidade tridimensional.
Outra inovação foi a técnica de luz e sombra, que permitiu o uso das cores, dos tons e dos meios-tons para representar cenas, emoções e movimentos.
Ler a pintura
Vários artistas renascentistas se destacaram e são admirados até os dias de hoje. Um deles é Sandro Botitcheli, que entendia a arte como representação espiritual, religiosa e simbólica e dedicou-se aos nus e aos temas religiosos e mitológicos, além de pintar quadros e retratos encomendados por famílias burguesas.
Observe a seguir uma de suas obras.
1. Que características do Renascimento você consegue identificar na pintura de ? Botitcheli
2. Que impressões essa pintura provoca em você?
Outros expoentes do Renascimento
Entre os expoentes da arte renascentista na península Itálica, além de Botticelli, destacamos:
- Leonardo da vinti (1452-1519): considerado o maior exemplo do homem universal, foi pintor, escultor, matemático, arquiteto, engenheiro e inventor. Por meio da dissecação de cadáveres, realizou diversos desenhos anatômicos. Entre suas invenções, que quase nunca saíam do papel por não haver tecnologia disponível na época para a sua concretização, estão o salva-vidas, o paraquedas, a bicicleta e o protótipo de helicóptero.
- Miquelângelo Buonaróti (1475-1564): entre suas obras, destacam-se os afrescos no teto da Capela Sistina, no Vaticano, que contam a história bíblica da criação do mundo. Também teve imensa expressividade na escultura.
- Rafael Sãnzio (1483-1520): conhecido como o “pintor das Madonas” pela série de representações que fez da Virgem Maria com o Menino Jesus.
fóra da península Itálica, destacaram-se El Greco (1541-1614), pintor e escultor de origem grega radicado na Espanha; o pintor flamengo iân van êiqui ( cêrca de 1390-1441), cuja obra foi marcada pelos detalhes e pelo uso de cores vivas; e os alemães Albrechi Durrár (1471-1528) e Rans Rúlbaim (1498-1543).
TUFANO, Douglas. Leonardo da vinti e sua época. São Paulo: Moderna, 2019. Com linguagem atraente para os jovens leitores, esse livro apresenta a vida e a obra de Leonardo da . vinti
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História e Arte
A cultura greco-romana na arte renascentista
O triunfo de Galateia, obra do pintor renascentista Rafael Sãnzio, representa uma cena da mitologia grega, na qual Galateia, ninfa dos mares, foge das investidas amorosas do ciclope Polifemo. A obra foi encomendada por um rico banqueiro italiano, Agostino Quídi, para decorar sua residência em Roma.
- Após observar as imagens, responda às questões a seguir.
- Que elementos míticos da Grécia Antiga você identifica nessa pintura?
- Cite exemplos do realismo renascentista presentes na pintura.
- Que conhecimento foi utilizado por Rafael para criar proporções equilibradas e simetria na obra?
- De que maneira Rafael harmonizou os diferentes elementos da pintura?
- Como as mulheres foram representadas nessa pintura? O ideal de beleza do corpo feminino representado por Rafael é semelhante ao de nossa sociedade, nos dias atuais? Por quê?
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Por que os artistas e os intelectuais renascentistas utilizaram o termo “Renascimento” para definir suas produções? Por que esse conceito é polêmico?
- A ideia dos renascentistas de criação de um "novo mundo" contribuiu para a construção da concepção de modernidade. Essa visão que começava a se desenvolver considerava os processos históricos de diversos povos?
- Hamlet é uma das mais importantes obras do dramaturgo inglês Uíliam Xêiquispíer. Em diversos momentos da obra, Hamlet, o personagem principal, reflete sobre a existência humana. Em um dos monólogos mais célebres da peça, o personagem pronuncia o famoso trecho “Ser ou não ser, eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias?” (Hamlet. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 2014. página 249). Considerando as informações apresentadas nesse enunciado e o que você estudou nesta Unidade, responda.
- O que você entendeu ao ler esse trecho de Hamlet?
- Que relação pode ser estabelecida entre o trecho e os valores do Renascimento?
- Observe a charge para responder às questões.
- O que Galileu e o papa representariam nessa charge?
- Relacione o pensamento de Galileu representado nessa charge ao contexto cultural, científico e religioso dos séculos quinze e dezesseis.
- Que instrumento criado pela Igreja católica pode ser associado ao pensamento do papa nessa charge?
- Os e-readers, aparelhos de leitura de livros digitais, e os tablets, computadores em fórma de prancheta e com tela sensível ao toque, começaram a se popularizar por volta de 2010. Com seus colegas, debata as questões a seguir.
- Você lê mais frequentemente textos impressos ou eletrônicos? Para você, quais são as vantagens e as desvantagens de cada um?
- Na sua opinião, qual revolução foi mais importante: a revolução impressa, atribuída à invenção da prensa de tipos móveis metálicos por Gutembergue, no século quinze, ou a revolução digital, que possibilitou a criação de livros digitais e de aparelhos leitores de mídias digitais? Por quê?
CAPÍTULO 4 A REFORMA PROTESTANTE E A CONTRAREFORMA
As transformações políticas, econômicas e sociais na Europa Ocidental e o novo modo de pensar e ver o mundo do homem moderno, que se manifestaram no campo das artes e no das ciências, também afetaram a religião.
Com o fortalecimento das monarquias nacionais, o poder papal passou a rivalizar com o poder dos reis. Assim, a Igreja, que antes ocupava um papel importante na política, começou a perder espaço nas decisões dos Estados. Além disso, os interesses da burguesia chocavam-se com o que a Igreja pregava, como a condenação do lucro e da usura (cobrança de juros abusivos ao conceder um empréstimo a alguém).
Para agravar a situação, o poder da Igreja católica foi abalado por uma série de críticas surgidas dentro da própria instituição. Isso porque, desde o final da Idade Média, a Igreja vinha se desviando de seus princípios e seus valores iniciais, usufruindo, por exemplo, do luxo, da riqueza e da ostentação. Além disso, boa parte do clero desrespeitava as regras religiosas, como o celibato, e tratava com descaso os cultos e os ritos religiosos.
Esse quadro de enfraquecimento do poder da Igreja católica e de críticas à instituição gerou um amplo movimento reformista que deu origem a novas igrejas cristãs: a Reforma protestante.
Lutero e o início da Reforma
O movimento protestante iniciou-se na Saxônia, região da atual Alemanha, e foi dirigido pelo monge Martinho Lutero. Em 1517, ao saber da venda de indulgências autorizada pelo papa Leão décimo com o objetivo de arrecadar fundos para a reconstrução da Basílica de São Pedro, Lutero resolveu se manifestar publicamente. Em um encontro de eruditos religiosos da cidade de Wittenberg, o monge teria apresentado suas 95 teses, nas quais denunciava a venda de indulgências e criticava o comportamento do clero e do papa.
Depois disso, seguiram-se debates teológicos entre Lutero e sábios da Igreja, os quais refutaram (ou seja, rejeitaram) todas as teses. Em 1520, três anos após o início da crise, uma bula papal foi enviada a Lutero ameaçando-o de excomunhão caso não se retratasse; o monge, porém, não só manteve suas críticas, como queimou a bula papal em praça pública. O ato simbolizou a ruptura de Lutero com a Igreja e iniciou a Reforma protestante.
A doutrina luterana
A doutrina luterana foi formalizada no documento intitulado Confissão de Auguisbúrgo, de 1530. Nele, Lutero afirmou que a salvação era obtida pela fé; rejeitou a hierarquia eclesiástica; estabeleceu que todo crente é livre para interpretar a Bíblia, sem necessitar da mediação de sacerdotes da Igreja; aboliu o celibato dos padres e os sacramentos, mantendo apenas o batismo e a eucaristia; e determinou a substituição do latim pelo idioma nacional nos cultos religiosos.
Muitos apoiaram a nova doutrina. A nobreza viu nela a oportunidade de tornar-se independente da autoridade da Igreja católica e de confiscar suas terras e seus bens. Já os camponeses viram na nova doutrina a possibilidade de se livrar dos tributos devidos ao clero.
Por que protestantes?
Em 1529, o imperador romano-germânico Carlos quinto, que governava uma região que hoje faz parte da Alemanha, convocou uma reunião com os nobres locais para reafirmar que Lutero não cumpria as leis da Igreja católica. Por isso, além de ser escomungado, Lutero foi expulso do império.
No entanto, um grupo de nobres que apoiavam o monge protestou contra a declaração de Carlos quinto. Em decorrência desse episódio, mais tarde, os seguidores de Lutero passaram a ser chamados de protestantes.
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História e Arte
A arte do luteranismo
O renascentista Lucas cránar, o Velho, nascido na Baviera, região da atual Alemanha, é considerado o pintor oficial da doutrina luterana. Amigo de Martinho Lutero, cránar expressava em suas obras as ideias luteranas com base na reinterpretação de temas tradicionalmente católicos.
Na pintura a seguir, por exemplo, o artista representou a ideia de salvação pela fé, defendida por Lutero. Ao centro, podemos ver um homem nu sendo orientado por dois profetas. À esquerda, notamos um homem morto e, no canto mais ao fundo, Adão e Eva com o fruto proibido. As duas situações representam o pecado e a morte. No lado esquerdo superior, observamos Moisés recebendo de Deus os Dez Mandamentos. À direita, em contrapartida, observamos Jesus Cristo morto na cruz e, ao lado, a representação de sua ressurreição.
- Os elementos que compõem a pintura de Lucas cránar foram representados em um único plano? Por quê? Qual é o nome dessa técnica típica da arte renascentista?
- Quais outras características da arte renascentista estão presentes nessa pintura?
- Como a ideia luterana de salvação pela fé foi representada nessa pintura?
- De acôrdo com a doutrina luterana, a única fonte da verdade é a Bíblia, e não a tradição ensinada pela Igreja. Que elementos da pintura mostram a importância do livro sagrado para o luteranismo?
Os seguidores de Calvino
Com a ajuda da prensa de Gutembergue, as ideias de Lutero se difundiram rapidamente pela Europa e abriram caminho para novos movimentos reformadores. O francês João Calvino, por exemplo, foi perseguido na França, no século dezesseis, por converter-se ao protestantismo, refugiando-se em Genebra, na Suíça.
Aos poucos, Calvino se distanciou do luteranismo, criando uma doutrina religiosa baseada na ideia da predestinação absoluta. Segundo Calvino, Deus já havia escolhido, desde o princípio, os indivíduos abençoados com a vida eterna e os condenados à perdição. Os bens materiais e a riqueza deviam ser vistos como bondades concedidas por Deus aos seres humanos.
Após a morte de Calvino, seus seguidores fizeram reinterpretações da doutrina da predestinação. A riqueza e a prosperidade passaram a ser vistas como sinais da graça divina, e não apenas como generosidades de Deus. Isso explica por que o calvinismo obteve grande apôio da burguesia e estimulou seus adeptos a se esforçar para progredir economicamente.
A Igreja anglicana
A Reforma anglicana ocorreu na Inglaterra no começo do século dezesseis, em um momento em que o Estado era forte e centralizado e a Igreja católica era tida como uma rival de seus interesses. A ruptura religiosa foi conduzida pelo rei Henrique oitavo e teve caráter essencialmente político.
O pretexto para o rompimento com a Igreja veio de uma questão pessoal do rei. Como de seu casamento com Catarina de Aragão não havia nascido nenhum herdeiro, o rei solicitou a anulação ao papa, para que pudesse se casar com a cortesã Ana Bolena. O pedido foi negado, mas, mesmo assim, Henrique oitavo separou-se de Catarina e casou-se com Ana Bolena. Diante disso, foi excomungado pelo papa.
Em resposta, Henrique oitavo decretou, em 1513, o Ato de Supremacia, pelo qual se tornou o chefe da Igreja na Inglaterra, com total apôio do Parlamento.
A Contrarreforma
O luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo produziram uma cisão definitiva na cristandade ocidental, que se dividiu em cristãos católicos e cristãos protestantes. Com isso, a intolerância religiosa e o radicalismo cresceram, e as perseguições e as guerras religiosas se estenderam por, pelo menos, um século. A Igreja católica reagiu às críticas dos reformadores e criou um movimento denominado Contrarreforma ou Reforma católica.
Para compreender esse período histórico, é importante perceber que a Igreja católica não estava indiferente aos seus problemas internos e não foi necessariamente o movimento protestante que a fez rever sua conduta. Entre os pensadores, os juristas e os devotos católicos, também havia a percepção de que a Igreja estava se desviando de seu rumo original e precisava de mudanças.
No entanto, a Reforma protestante, a expansão das novas igrejas pela Europa e a perda de adeptos pressionaram o catolicismo a iniciar seu movimento de renovação. Assim, no século , décimo sexto sob a liderança dos papas Paulo , terceiro Paulo , Pio quarto quinto e Xisto , quinto a Igreja católica iniciou um processo de moralização e reestruturação interna.
Entendendo a Contrarreforma
A chamada Contrarreforma deve ser compreendida como uma reação da Igreja católica ao avanço do protestantismo pelo continente europeu. Também é importante destacar que a Contrarreforma foi feita por meio de diversas ações, como a catequização (evangelização dos fiéis), a reativação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e a proibição de circulação de determinados livros. Algumas dessas ações foram debatidas já durante o Concílio de Trento, como acompanharemos adiante.
A intolerância religiosa
Na época das reformas religiosas, no interior de cada país, as pessoas eram obrigadas a seguir a religião do rei, o que propiciava o aumento da intolerância e das guerras religiosas. Atualmente, os conflitos religiosos ainda fazem milhares de vítimas em diversas partes do mundo, como na Nigéria e na Indonésia, onde existem disputas entre muçulmanos e cristãos; na Síria e no Iraque, entre muçulmanos xiitas e muçulmanos sunitas; na Índia, entre seguidores do hinduísmo e do islã; no Afeganistão e no Sudão, entre muçulmanos e não muçulmanos.
Instrumentos da Contrarreforma
Para iniciar a Reforma católica, em 1545, o papa Paulo terceiro convocou um concílioglossário na cidade italiana de Trento, cujos trabalhos se estenderam até 1563. O Concílio de Trento, como ficou conhecido, reafirmou os dogmas e os ritos católicos, como a salvação pela fé e pelas boas obras; a presença de Cristo na eucaristia; a autoridade e a infalibilidade do papa; a hierarquia eclesiástica; o celibato do clero; a devoção aos santos e à Virgem; os sete sacramentos (batismo, eucaristia, crisma, matrimônio, ordem, penitência e extrema-unção); e o emprêgo do latim na Bíblia e na realização de missas.
O concílio também determinou a criação de seminários para a formação do clero e a elaboração do catecismo, um resumo da doutrina católica para ser usado na evangelização dos fiéis, principalmente de jovens e crianças. Em Trento, a Igreja também condenou a venda de indulgências e de cargos eclesiásticos. O Concílio de Trento acabou reafirmando a divisão da comunidade cristã, abrindo uma acirrada disputa entre católicos e protestantes em busca de adeptos na Europa e em outros continentes.
O Tribunal do Santo Ofício
Para garantir que os fiéis seguissem à risca suas determinações, o Concílio de Trento ordenou a reorganização do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, criado em 1231 com o objetivo de vigiar, julgar e punir os acusados de heresiaglossário . Além de protestantes, judeus, cristãos-novos, muitos cientistas e pensadores foram perseguidos pela Inquisição. Os acusados de crimes contra a fé católica eram punidos até mesmo com a morte, e alguns eram queimados em fogueiras. O Tribunal também era responsável pela elaboração do Índice de Livros Proibidos, o índequis, que consistia em uma lista de livros censurados pela Igreja por serem considerados prejudiciais à fé católica.
A tarefa de expandir o catolicismo e conquistar novos adeptos foi reforçada com a criação da Companhia de Jesus, em 1534, pelo militar espanhol Inácio de Loyola. Os jesuítas, como ficaram conhecidos, consideravam-se “soldados de Cristo”. Eles seguiam uma disciplina rígida e tinham a missão de combater o avanço do protestantismo por meio da reafirmação da fé católica, da criação de escolas religiosas e, principalmente, da conversão de fiéis. Além da Europa, a ação dos jesuítas voltou-se para a Ásia, a África e a América.
MUSEU da história da Inquisição. Disponível em: https://oeds.link/SXIHbE. Acesso em: 3 fevereiro 2022. Localizado em Belo Horizonte (), o museu resgata a história da Inquisição e da presença de judeus e cristãos-novos na América portuguesa. O Minas Gerais site oferece uma visita virtual às instalações do museu.
A Contrarreforma na arte: o Barroco
A arte barroca nasceu na península Itálica, no final do século dezesseis, e difundiu-se por diversos países católicos da Europa, como Portugal, Espanha e França, e, posteriormente, pela América. Esse estilo artístico predominou na arquitetura de igrejas e capelas, de palácios e prédios administrativos, bem como na pintura, na música e na literatura.
Produzida geralmente sob encomenda da Igreja católica, a arte barroca tinha como objetivo educar pelo olhar, convencer e envolver emocionalmente o observador. Opondo-se ao realismo da arte renascentista, o Barroco utilizou-se da exuberância, da dramaticidade, da exaltação dos sentimentos, da religiosidade e do misticismo, produzindo obras rebuscadas, repletas de detalhes e elementos decorativos que procuravam despertar nos fiéis o fervor religioso.
Por essas características, o Barroco também pode ser visto como um instrumento da Contrarreforma, utilizado para atrair fiéis.
Leia a seguir o que o historiador de arte érnést gombrit fala sobre o assunto:
Quanto mais os protestantes pregavam contra a ostentação nas igrejas, mais se empenhava a Igreja Católica Romana em recrutar o poder do artista. reticências O mundo católico descobrira que a arte podia servir à religião de um modo que superava a simples tarefa que lhe fôra atribuída nos começos da Idade Média – a de ensinar a doutrina a pessoas que não sabiam ler. Agora, poderia persuadir e converter mesmo aqueles que talvez tivessem lido demais. Arquitetos, pintores e escultores foram convocados para transformar igrejas em exibições grandiosas cujo esplendor e glória quase nos corta a respiração.
Gombrit, Érnést Rans Iosef. A história da arte. décima sexta edição. Rio de Janeiro: éle tê cê, 1999. página 436-437.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
1. Leia, a seguir, uma das teses formuladas por Martinho Lutero e responda: qual é o tema tratado nessa tese? De que modo essa tese se posiciona em relação às práticas da Igreja católica no século dezesseis?
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.
LUTERO, Martinho. 95 teses de Lutero. [ sem local]: Portal Luteranos, [ Década de dois mil e dez]. Disponível em: https://oeds.link/n69xDM. Acesso em: 3 fevereiro. 2022.
- Elabore uma síntese dos principais fundamentos da doutrina luterana.
- Estabeleça a diferença, no que diz respeito à salvação dos seres humanos, entre a doutrina calvinista, a luterana e a católica.
- Sobre o Ato de Supremacia, aprovado pelo Parlamento inglês, responda:
- Em que contexto europeu esse decreto inglês foi aprovado?
- Qual foi a principal decisão aprovada com esse decreto?
- Atualmente, existe tolerância religiosa? Debata essa questão com seus colegas. Não se esqueça de escutá-los com atenção, procurando refletir sobre os argumentos apresentados.
- Forme um grupo com os colegas para pesquisar as correntes do protestantismo mais presentes atualmente no Brasil. Procurem informar-se sobre as características da sua doutrina, as celebrações religiosas e as diferenças entre elas. Se for possível, entrevistem conhecidos que sejam adeptos de uma dessas igrejas e complementem a pesquisa com as informações obtidas.
7. Observe a gravura a seguir e responda à questão.
• Que diferenças entre protestantes e católicos foram destacadas na gravura?
CAPÍTULO 5 O ESTADO ABSOLUTISTA E O MERCANTILISMO
Na Europa Ocidental, que vivera uma série de transformações sociais, políticas e econômicas, especialmente nos séculos quinze e dezesseis, a burguesia enriquecida desejava implementar reformas para impulsionar o comércio.
O transporte de mercadorias de uma cidade para outra, por exemplo, obrigava os comerciantes a cruzar vários feudos. Cada um deles estava sob a autoridade de um senhor feudal, que estipulava suas leis e taxações. Dificuldades como essas levaram a burguesia a apoiar a centralização do poder nas mãos de um rei, que poderia unificar a moeda, as leis e os impostos e estabelecer um sistema de pesos e medidas único, facilitando as trocas comerciais.
Muitos nobres também apoiavam a centralização do poder nas mãos de um rei. Esses nobres, geralmente enfraquecidos com as Cruzadas e com as fugas de servos para as cidades, desejavam se aliar aos reis em troca de benefícios e privilégios.
O processo de centralização do poder real foi longo e também sofreu resistências, principalmente da Igreja católica e da maior parte dos senhores feudais. Apesar desses entraves, os reis conseguiram impor sua autoridade sobre os habitantes de um território e consolidar os chamados Estados modernos.
A centralização monárquica
A partir do século doze, várias regiões da Europa tinham iniciado o processo de centralização do poder real e de formação dos Estados modernos. Essa mudança estava relacionada a um conjunto de transformações sociais, econômicas e culturais que ocorriam no período, como a intensificação do comércio e o crescimento das cidades, o questionamento do poder da Igreja católica, a difusão das ideias humanistas e o fortalecimento da autoridade do rei.
A partir do século quinze, os monarcas criaram mecanismos para a consolidação do seu poder e a possibilidade de exercê-lo sobre vastas regiões.
As crises econômicas, a baixa produção de alimentos, a fome e as guerras que atingiram algumas regiões da Europa também contribuíram para a centralização monárquica, que era considerada uma fórma de combater esses problemas e assegurar a estabilidade.
Os reis criaram leis, impostos e moedas de circulação nacional, passaram a fiscalizar as estradas e constituíram uma burocracia formada por funcionários administrativos encarregados de fazer valer as decisões do soberano em todo o reino. A organização e o contrôle do comércio, do sistema educacional e da justiça também ficaram a cargo do Estado. Além disso, os reis formaram exércitos permanentes e profissionais, subordinados à autoridade da Coroa.
O absolutismo
A centralização do poder atingiu seu ápice nos séculos dezesseis e dezessete com o absolutismo. O regime absolutista caracterizou-se pela grande concentração do poder político nas mãos dos reis, em uma época em que o comércio se expandia e a burguesia acumulava riqueza. Muitos dos antigos direitos feudais que favoreciam os senhores locais e a nobreza perderam validade.
A eclosão da Reforma protestante também contribuiu para o fortalecimento do poder dos reis. A divisão do cristianismo enfraqueceu o poder do papa. Nos países católicos, a Igreja foi colocada sob a autoridade dos reis. Alguns teóricos do período defenderam a centralização política do Estado absolutista como fórma de constituir uma sociedade forte e poderosa.
Ler a pintura
O rei Luís catorze, conhecido como o Rei-Sol, é um dos mais representativos monarcas absolutos. Seu reinado, que durou 72 anos (de 1643 a 1715), foi marcado pela ostentação e por rituais que envolviam vestes, objetos de luxo e uma grande côrte. Para muitos historiadores, as demonstrações de riqueza, a grandeza, a glória e o prestígio propagandeados pelo rei e sua côrte serviam para garantir a estabilidade do reino e a legitimação do poder real.
• Em grupos, observem cuidadosamente a imagem a seguir e respondam:
a) Como o rei Luís catorze foi representado nesta pintura?
b) Que elementos da pintura revelam a autoridade do monarca?
Teóricos do absolutismo
Na Europa ocidental, o poder absoluto dos reis contrariava uma longa tradição de poderes locais, exercidos pelos senhores em cada feudo. Era necessário, então, legitimar o poder dos reis e justificá-lo pela razão e pela fé. Essa tarefa ficou a cargo de intelectuais importantes, como Tômas Róbese jáque bossuê.
- Tômas Róbes (1588-1679): filósofo inglês, rróbis afirma em sua principal obra, Leviatã, que só um Estado forte seria capaz de limitar a liberdade individual, impedindo a “guerra de todos contra todos”. O indivíduo deveria dar plenos poderes ao Estado, renunciando à sua liberdade a fim de proteger a própria vida. Hobbes defendia o poder absoluto do Estado, mas não necessariamente o do rei. Para ele, a autoridade poderia ser representada por um monarca ou por uma assembleia, desde que o poder fosse exercido sem contestação por parte dos súditos.
- jáque bossuê (1627-1704): bispo e teólogo francês, bossuê foi um dos mais importantes intelectuais da côrte de Luís catorze, o mais absolutista dos reis da França. Em seu livro Política tirada da Sagrada Escritura, bossuê desenvolveu a doutrina do direito divino dos reis, segundo a qual o poder do soberano expressava a vontade de Deus, sendo, portanto, incontestável e ilimitado. Como o poder monárquico era tido como sagrado, qualquer rebelião contra ele era considerada criminosa.
Diferentes fórmas de pensar o absolutismo
É possível perceber uma diferença no pensamento dos dois teóricos vistos anteriormente ( Tômas Róbes e ): jáque bossuê
- , por um lado, defendia o absolutismo com base na razão, no argumento de que era necessário garantir a segurança dos indivíduos. rróbis
- Por outro lado, o bispo bossuê fundamentava sua defesa do absolutismo no direito divino dos reis, ou seja, na religião.
Ao estudar esse tema nas aulas de História, é comum vermos que a defesa do absolutismo com base no direito divino dos reis é considerada a fórma mais “clássica” de absolutismo. Contudo, como acabamos de notar ao comparar as ideias de rróbis e bossuê, diferentes teorias a respeito do poder absoluto dos reis coexistiram em um mesmo período, em diferentes reinos.
Diferentes absolutismos
Hoje, historiadores consideram que o absolutismo poderia variar de região para região, como mostra o trecho a seguir.
reticências o absolutismo apresentava variações regionais que o poderiam fazer mais ou menos centralizado. Há diferentes absolutismos, cada qual com suas particularidades, como é o caso da Espanha, da Inglaterra e da Rússia. reticências
Hoje é comum que o absolutismo francês seja tomado como modêlo clássico, Luís catorze, como o maior soberano absolutista, e a teoria do direito divino dos reis generalizada para todas as monarquias absolutas. No entanto, essa teoria não foi aceita e defendida por todas as monarquias. Em países como a Espanha, apesar do caráter religioso dos soberanos, a legitimação do poder foi feita mais por princípios legais do que religiosos. reticências
Já na Inglaterra, o Parlamento muito cedo diminuiu o poder dos monarcas. reticências
Assim, vemos que o absolutismo assumiu diferentes fórmas dependendo do Estado onde foi aplicado. As justificativas jurídicas ou teológicas tinham em comum o fato de que foram construídas para explicar o poder centralizado do rei.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Absolutismo. In: SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. segunda edição. São Paulo: Contexto, 2009. página 8-9.
O mercantilismo
Observe, na pintura reproduzida a seguir, a vestimenta das pessoas, repleta de adornos e requinte. Manter a abundância e ostentação das côrtes europeias, assim como sustentar os funcionários que cuidavam da administração do reino e equipar as tropas que protegiam o território, tinha um custo muito alto.
Como sustentar tudo isso? A solução encontrada por muitas monarquias para enriquecer o reino foi adotar um conjunto de práticas que recebeu o nome de mercantilismo. Conheça algumas delas:
- Metalismo: a riqueza de um reino era medida pela quantidade de metais nobres que ele possuía. Por essa razão, muitos governos evitavam a saída de ouro e prata dos cofres do Estado.
- Balança comercial favorável: os governos criavam medidas protecionistas para encarecer os produtos importados e reduzir sua entrada no reino. Diminuindo as importações e aumentando as exportações, a balança comercial ficaria positiva.
- Estímulo às manufaturas locais: os governos estimulavam a produção de bens manufaturados, como tecidos e ferramentas. Esses produtos abasteciam o mercado interno, geravam impostos e podiam ser exportados, rendendo mais moedas para a Coroa.
A acumulação de riquezas
As práticas mercantilistas foram utilizadas pelos reinos europeus para acumular riquezas. Um traço comum a todos os reinos foi a interferência do Estado na economia por meio de incentivos, tributação (impostos e taxas) e contrôle monopolistaglossário do comércio.
Entre os séculos quinze e , na Europa, a aliança entre os Estados e as burguesias impulsionou o investimento nas grandes viagens marítimas. Vários governos europeus passaram a organizar expedições para explorar os mares e conquistar colônias na África, na Ásia e na América, em busca de riquezas e produtos de alto valor para serem comercializados no mercado europeu, como dezoito especiariasglossário e metais preciosos. Assim, a acumulação de capitaisglossário foi garantida por meio de saques nas regiões conquistadas, que permitiram a transferência de imensos tesouros para a Europa. A pirataria também teve papel importante nesse processo.
As conquistas territoriais e a ampliação das relações comerciais permitiram a concentração de riquezas pelos europeus. A produção colonial de mercadorias muito cobiçadas e de alto valor na Europa, como o açúcar, o cacau, o algodão, o ouro e a prata, foi possível com a utilização do trabalho compulsórioglossário de indígenas e africanos.
Além disso, as monarquias europeias intensificaram a produção de manufaturas, que também passaram a ser vendidas em suas colônias, o que aumentava seus lucros. Dessa fórma, algumas monarquias se transformaram em grandes potências econômicas mundiais.
Diferentes caminhos
Os reinos europeus seguiram diferentes caminhos no processo de acumulação de riquezas. Portugal e Espanha deram maior ênfase ao metalismo. No século dezesseis, a Espanha extraiu uma grande quantidade de ouro e prata das suas colônias na América. Portugal encontrou minas de ouro no Brasil no final do século dezessete.
Já a Holanda investiu na integração do comércio externo e nos empréstimos ao setor manufatureiro, por exemplo, para a produção do açúcar. A França, em busca de uma balança de comércio favorável, estabeleceu incentivos às exportações, restrições às importações e estímulo à produção de manufaturas de luxo.
A Inglaterra, além de garantir uma balança de comércio favorável e a produção interna de manufaturas, promoveu os cercamentos das terras, o que induziu a migração em massa de trabalhadores do campo para as cidades.
A Inglaterra combinou diferentes métodos de acumulação de capitais e superou os demais países europeus, preparando o caminho de transição do mercantilismo para o capitalismo industrial, no século dezoito.
Os cercamentos
Os “cercamentos” foram decretos do govêrno inglês que permitiram aos grandes proprietários rurais cercar e se apoderar das terras comunais, que eram utilizadas pelos camponeses para a produção agrícola. Nessas terras, foram criadas ovelhas, das quais era retirada a lã, utilizada como matéria-prima na indústria têxtil.
Esse processo, que deixou os camponeses sem ter onde plantar para a sua sobrevivência e obrigou-os a abandonar o campo, foi criticado na obra mais famosa do humanista Tômas Morus (1478-1535). Leia o trecho a seguir.
De fato, a todos os pontos do reino, onde se recolhe a lã mais fina e mais preciosa, acorrem, em disputa do terreno, os nobres, os ricos e até santos abades. reticênciasEles subtraem vastos tratos de terra à agricultura e os convertem em pastagens; abatem as casas, as aldeias, deixando apenas o templo para servir de estábulo para os carneiros. Transformam em desertos os lugares mais povoados e mais cultivados.
reticências honestos cultivadores são expulsos de suas casas, uns pela fraude, outros pela violência . E e reticênciasstas famílias mais numerosas do que ricas (porque a agricultura tem necessidade de muitos braços) emigram campos em fóra, maridos e mulheres, viúvas e órfãos, pais e mães com seus filhinhos.
mórus, tômas. A Utopia. [ sem local]: Ridendo Castígat Mores, 2011. ibúk.
Em debate
Mercantilismo como transição para o capitalismo ou capitalismo comercial?
Frases como “tempo é dinheiro” e “tudo é mercadoria” traduzem um tipo de sociedade chamado de capitalista. A sociedade capitalista caracteriza-se pela propriedade privada dos bens e dos meios de produção, pela produção em massa voltada para o mercado, pela existência de trabalhadores que precisam vender sua fôrça de trabalho em troca de um salário para sobreviver e pela busca do lucro.
O capitalismo começou a se desenvolver no interior do feudalismo, quando este entrava em declínio. Na concepção de alguns historiadores, o mercantilismo é um conjunto de práticas relacionadas a esse processo de transição.
Para o historiador Francisco Falcon, o mercantilismo é uma época específica, com estruturas políticas, econômicas e sociais que não são mais feudais nem propriamente capitalistas. A acumulação de capital pelos Estados modernos europeus nesse período teria possibilitado a posterior consolidação das relações capitalistas. Para aprofundar esse tema, leia o texto a seguir e realize as atividades propostas.
Vivemos hoje, mais do que nunca, mergulhados num mundo de “ismos”, tanto políticos quanto econômicos, a tal ponto que eles se tornaram elementos necessários a nossa própria maneira de pensar e sentir a realidade que nos cérca. É com eles que classificamos, rotulamos e, acima de tudo, aceitamos ou criticamos a realidade contemporânea. O mercantilismo é, num certo sentido, um desses ismos reticências.
Do nosso próprio ponto de vista acreditamos que o mercantilismo deve ser entendido como o conjunto de ideias e práticas econômicas que caracterizam a história econômica europeia e, principalmente, a política econômica dos Estados modernos europeus durante o período situado entre os séculos quinze/ dezesseis e dezoito.
Nesse sentido, entendemos que a definição de Mauricio Dób “o mercantilismo foi essencialmente a política econômica de uma era de acumulação primitivaglossário ” é, ainda, bastante esclarecedora, se entendermos essa acumulação primitiva como a acumulação prévia reticências, ou seja, um período anterior à existência da produção capitalista propriamente dita enquanto fórma ou modo de produçãoglossário dominante, reticências durante o qual diversas fórmas de acumulação de capital, não capitalistas por definição, tiveram lugar.
FALCON, Francisco. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense, 1996. página 8-12.
- De acôrdo com o texto, o que é o mercantilismo?
- Segundo o historiador, por que a época mercantilista foi um período de transição?
- Com base no texto e no estudo do Capítulo, explique como as práticas mercantilistas colaboraram para a acumulação primitiva de capitais.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- No caderno, numere as frases a seguir para que, ao serem encadeadas, formem um texto contínuo e coerente.
- O bispo jáque bossuê, ao contrário, defendia o poder absoluto dos reis com base em explicações religiosas.
- Os teóricos do poder absoluto dos reis utilizaram a razão e a fé para justificar a autoridade monárquica.
- A centralização do poder real ocorreu em um contexto de empobrecimento da aristocracia e de perda do poder pelo papa em decorrência da Reforma protestante.
- Em vários países da Europa, o crescente fortalecimento do poder dos reis foi o início do processo que originou o absolutismo.
- O filósofo Tômas Róbes, um dos mais importantes defensores do absolutismo, pregava a necessidade de uma monarquia forte para controlar a agressividade humana e impedir a luta de todos contra todos.
- Segundo ele, o poder do rei tinha origem divina; logo, era inquestionável.
- A frase “O Estado sou eu” é tradicionalmente atribuída ao rei francês Luís catorze. Qual era o sentido dessa afirmação?
- Elabore uma frase que sintetize cada uma das práticas mercantilistas listadas a seguir.
- Balança comercial favorável.
- Metalismo.
- Incentivo à produção interna.
- Qual grupo social se aliou aos reis e apoiou a centralização política? Quais eram os interesses envolvidos nessa aliança?
- Como a política econômica mercantilista contribuiu para o fortalecimento das monarquias europeias e a passagem para o capitalismo?
- Explique a relação entre o mercantilismo e o avanço territorial das monarquias europeias em diversas regiões do mundo.
- O texto a seguir aborda o processo de transição da Idade Média para a consolidação dos Estados modernos. Com um colega, leia e identifique as principais transformações mencionadas pelo autor. Depois, ainda em dupla, respondam às questões:
reticências é impossível duvidar que o Estado, tendo fôrça para fazê-lo, não tomasse, pouco a pouco, o caminho do mercantilismo. Essa palavra não se pode empregar aqui sem amplas restrições. Mas, por estranho que seja, ainda, aos governos do fim do século catorze e princípios do quinze, o conceito de uma economia nacional, o certo é que a sua conduta revela o desejo de proteger a indústria e o comércio dos seus súditos contra a concorrência externa, e mesmo, em alguns casos, de introduzir, na região, novas fórmas de atividade. Inspiraram-se, a esse respeito, no exemplo das cidades. Sua política é, no fundo, unicamente, uma política urbana estendida até os limites do Estado. Da política urbana conserva o caráter essencial: o protecionismo. Inicia-se a evolução que, por fim, rompendo com o internacionalismo medieval, impregnara os Estados de um particularismo tão exclusivo como o foi o das cidades durante os séculos.
. Pirrêne, Enrí História econômica e social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou, 1982. página 216-217.
- Quais aspectos citados no texto evidenciam que ainda no final do século catorze surgiram práticas que culminariam mais tarde na centralização política do absolutismo e no mercantilismo?
- Como o autor caracteriza a política urbana desse período?
Para refletir
Como se deu a construção da ideia de “modernidade” e de ciência moderna?
Você já percebeu que os estudos da História são resultado de uma construção? Essa construção tem como base o trabalho dos historiadores e as questões que eles consideram importantes, de acôrdo com as experiências de seu tempo. Assim, é interessante perceber que os estudiosos fazem escolhas: eles escolhem o que vão analisar e, mais importante, como vão analisar determinado evento ou uma questão específica.
No trabalho com a chamada Idade Moderna não é diferente. O que está em jôgo quando pensamos na ideia de modernidade? Vamos pensar mais sobre essa ideia, construída ao longo do tempo? Para começar, leia uma definição de modernidade no contexto da História que estudamos nesta Unidade:
Os homens do século dezesseis julgavam estar vivendo em um mundo novo (moderno), embora o passado greco-romano devesse ser respeitado na construção desse novo mundo e do novo homem, liberto do “obscurantismo” medieval. reticências
Podemos definir a modernidade como um conjunto amplo de modificações nas estruturas sociais do Ocidente, a partir de um processo longo de racionalização da vida. Nesse sentido, como afirma [o historiador] Jaques Le Gófi, modernidade é um conceito estritamente vinculado ao pensamento ocidental, sendo um processo de racionalização que atinge as esferas da economia, da política e da cultura. reticências
reticências No plano cultural, aos poucos ocorreu o desencantamento do mundo: o mundo moderno só poderia ser entendido pela razão, sem necessitar recorrer a mitos, às lendas, ao temor, à superstição.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Modernidade. In: SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. segunda edição São Paulo: Contexto, 2009. página 297-298.
- Como os autores definem a modernidade?
- Retome os conteúdos estudados nesta Unidade e escreva um pequeno parágrafo relacionando a ideia de modernidade exposta nesse trecho à formação dos Estados modernos, ao Renascimento, à Reforma protestante e ao mercantilismo.
Você também percebeu, ao longo dos estudos nesta Unidade, que a modernidade e o racionalismo contribuíram para a valorização da ciência moderna, certo? E não foi só isso: o pensamento racional e os métodos científicos possibilitaram também a consolidação da História como disciplina científica.
Assim, os estudos históricos passaram a ser organizados em uma periodização criada por intelectuais franceses no século dezenove. Essa periodização, utilizada ainda na atualidade, segue uma lógica que coloca a Europa e o Ocidente como centro propulsor da evolução humana.
Para saber mais sobre esse assunto, leia o texto a seguir, do historiador jeãn chenô.
O quadripartismo [periodização da História em Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea] tem como resultado privilegiar o papel do Ocidente na história do mundo e reduzir quantitativa e qualitativamente o lugar dos povos não europeus na evolução universal. reticênciasOs marcos escolhidos não têm significado algum para a imensa maioria da humanidade: fim do Império Romano, queda de Bizâncio.
chenô jeãn. Devemos fazer tábula rasa do passado? Sobre a história e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995. página 95.
- Segundo jeãn chenô, a periodização da História utilizada atualmente tem consequências? Explique.
- Considerando os dois textos, responda:
• Você acha que é possível dizer que a ideia de modernidade está ligada ao Ocidente e, mais especificamente, às transformações na Europa entre os séculos quinze e ? dezoito
Agora, para refletir sobre como a construção da ideia de modernidade desconsidera o ponto de vista de muitos povos, leia a seguir o trecho de um artigo.
A começar com o Renascimento e culminando [no século dezoito], os europeus passaram a se ver como sendo o centro do mundo e o clímax da evolução humana. Não apenas criaram uma geografia em que se localizam no centro e os outros povos reticências na periferia, mas também inventaram uma história em que se situam no presente de uma linha do tempo que evolui de um estado da natureza a um estado racional, civilizado, e os demais povos, embora contemporâneos, são situados no passado, são primitivizados.
[Nessa ideia de modernidade], os não europeus, “não ocidentais” são totalmente excluídos do diálogo, sequer são considerados reticências.
Minhôlo, Válter D.; SOUZA PINTO, Júlio Roberto de. A modernidade é de fato universal? Reemergência, desocidentalização e opção decolonial. tchívitas, volume 15, número 3, página 381-402, julho/ setembro 2015. página 386-387. Disponível em: https://oeds.link/1SLTcs. Acesso em: 3 fevereiro 2022.
5. Considerando o trecho do artigo que você acabou de ler, a ilustração do artesão chinês e sua legenda, responda: será que a ideia de modernidade pode tornar pouco visíveis as contribuições históricas e culturais dos diversos povos que não viviam no continente europeu?
Glossário
- Concílio
- Reunião do alto clero católico convocada para decidir questões da doutrina da Igreja, dos costumes e da disciplina eclesiástica.
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- Heresia
- Pensamento ou conduta que contrariam a doutrina estabelecida pela Igreja. Entre as práticas consideradas heréticas pela Igreja, estavam a feitiçaria e os ritos pagãos.
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- Monopolista
- Na época mercantilista, exploração exclusiva, sem concorrência, do comércio de mercadorias ou manufaturas.
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- Especiaria
- Nome dado ao conjunto de temperos que os europeus traziam do Oriente, como açúcar, cravo, canela, gengibre e pimenta.
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- Capital
- Em economia, é qualquer bem econômico que pode ser utilizado na produção e aquisição de outros bens ou serviços, como recursos monetários, fábricas e equipamentos.
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- Trabalho compulsório
- Trabalho forçado, imposto a uma pessoa.
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- Acumulação primitiva
- Fase preparatória de acumulação de riquezas que antecedeu a constituição do modo de produção capitalista.
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- Modo de produção
- Reúne as fôrças produtivas (meios de produção e fôrça de trabalho) e as relações sociais e técnicas de produção.
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