UNIDADE quatro A CONQUISTA E A RESISTÊNCIA NA AMÉRICA
Na Unidade dois, estudamos que, a partir do século , v quinzeários Estados da Europa passaram a dispor grandes investimentos em estudos científicos nas mais diversas áreas. Tais estudos propiciaram uma série de inovações técnicas nos mais variados setores, como o marítimo.
O desenvolvimento de embarcações mais velozes e resistentes, além de instrumentos de navegação mais precisos, por exemplo, possibilitou a exploração de regiões até então desconhecidas pelos europeus.
Foi nesse contexto que os europeus chegaram à América e, a partir de então, a maior parte dos territórios do continente americano se tornou colônia dos reinos europeus.
Os impactos da exploração territorial na América foram profundos, e podem ser percebidos e sentidos até os dias de hoje.
Entre outros fatores, essa exploração envolveu a dominação, o massacre e a escravização dos povos nativos.
Você sabe qual foi o impacto desse processo nos modos de vida dos habitantes do continente americano? Ou como os povos indígenas resistiram à dominação europeia? Nesta Unidade, você vai conhecer um pouco mais sobre esses assuntos.
Você estudará nesta Unidade:
O processo de expansão marítima europeia
As viagens marítimas portuguesas e espanholas
A conquista da América pelos portugueses e pelos espanhóis
O impacto da dominação e da colonização europeia para os indígenas
A resistência indígena
CAPÍTULO 8 EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA
Hoje, se alguém perguntar onde fica a China, o Peru e a África do Sul, você saberia responder e localizar esses países facilmente em um mapa-múndi, não é mesmo? No entanto, esse conhecimento geográfico nem sempre existiu! Ele é fruto de longos anos de estudos e de viagens exploratórias, realizadas por diversos povos, dentre eles os europeus no século quinze.
Até o século catorze, os europeus tinham um conhecimento geográfico bem diferente daquele da atualidade: eles conheciam, basicamente, a Europa e as proximidades do Mediterrâneo, como o norte da África e regiões da Ásia. Além disso, existia o medo do desconhecido. Contavam-se histórias de que o oceano Atlântico abrigava monstros marinhos e as terras distantes eram habitadas por seres assustadores.
Apesar dessas narrativas, no início do século quinze, os europeus partiram para viagens marítimas à procura de terras até então desconhecidas por eles. Vamos entender melhor como isso aconteceu?
Mares nunca antes navegados
Vamos, agora, conhecer um pouco mais sobre o contexto que impulsionou a exploração dos mares até então desconhecidos pelos europeus.
Com as Cruzadas, nos séculos onze a treze, os europeus passaram a consumir mercadorias orientais, como especiarias e produtos de luxo (porcelanas, cristais e seda, entre outros). As rótas de comércio do Mediterrâneo eram controladas por mercadores árabes, venezianos e genoveses, que cobravam preços altos pelos produtos. Em 1453, a cidade de Constantinopla foi conquistada pelos turcos otomanos. O contrôle turco do Mediterrâneo impulsionou a busca de novas rótas para o Oriente e as viagens oceânicas europeias.
No entanto, outros fatores contribuíram para que os europeus iniciassem as Grandes Navegações: as minas de metais preciosos europeias estavam esgotadas; portanto, era necessário obter ouro e prata em outras regiões; o crescimento das cidades e a intensificação da produção de manufaturas exigiam a ampliação dos mercados consumidores de produtos europeus. As práticas mercantilistas também estimularam a expansão marítima, afinal a conquista de novas áreas de comércio era fundamental para manter uma balança comercial favorável nos reinos.
Portugal conquista os mares
Movidos por interesses comerciais e religiosos, os portugueses e os espanhóis foram pioneiros nas chamadas Grandes Navegações. Em Portugal, a centralização monárquica se iniciou já no século doze. Nos séculos seguintes, com o desenvolvimento do comércio, especialmente o marítimo, houve intensificação da pesca, da agricultura e da produção artesanal em Portugal.
A posição geográfica de Portugal possibilitou o surgimento de importantes centros comerciais, como os portos de Lisboa e da cidade do Pôrto. O comércio marítimo aumentou cada vez mais, rendendo lucros aos comerciantes e à Coroa portuguesa. Além disso, as técnicas de navegação portuguesa foram sendo aperfeiçoadas.
No século catorze, ocorreu a Revolução de Avis (1383-1385), quando dom João, conhecido como o mestre de Avis, foi proclamado rei de Portugal. Aliando-se à burguesia mercantil, ele decidiu conquistar novas áreas de comércio e consolidar seu reinado. As ambições de dom João para o reino, aliadas à aliança com a burguesia, impulsionaram ainda mais o comércio marítimo português.
Inovação náutica
O aperfeiçoamento das caravelas pelos portugueses revolucionou a tecnologia náutica. Uma típica caravela portuguesa tinha de 20 a 30 metros de comprimento e utilizava as chamadas velas latinas, com dois ou três mastros. Canhões também foram colocados no casco, para a defesa e o ataque. Com isso, elas ficaram mais seguras, velozes e com o dobro de capacidade de carga. Não eram necessários grandes investimentos para a fabricação e a manutenção das caravelas. Por isso, muitos comerciantes e reis financiavam viagens com essas embarcações.
Navegando em direção às Índias
Os portugueses iniciaram as navegações marítimas com a exploração de novas rótas em direção às Índias (nome dado pelos europeus às terras do Oriente), onde eles poderiam adquirir especiarias e outros artigos orientais, a preços mais baixos, e depois revendê-los na Europa.
Em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, cidade localizada no norte da África e dominada, à época, pelos muçulmanos. O local era um importante entreposto comercial e ponto estratégico para controlar as rótas comerciais do Mediterrâneo. Além disso, Portugal pretendia expandir a fé cristã na região.
Os portugueses chegam às terras do atual Brasil
Entre 1487 e 1488, o navegador português Bartolomeu Dias comandou uma expedição que contornou o sul do continente africano, mais tarde conhecido como Cabo da Boa Esperança. Dez anos depois, Vasco da Gama realizou o mesmo percurso e alcançou finalmente Calicute, na Índia, importante região fornecedora de especiarias. Os lucros obtidos com essa viagem foram reinvestidos em outras expedições, que tornaram Portugal o maior centro europeu do comércio de especiarias do século dezesseis.
Com a intenção de fixar entrepostos comerciais em Calicute, garantir o comércio de especiarias com o Oriente e expandir o cristianismo, a Coroa portuguesa organizou uma expedição comandada por Pedro Álvares Cabral. A armada partiu de Lisboa em 9 de março de 1500. Entretanto, quando atingiu o noroeste da África, a frota desviou-se de sua Róta original e acabou ancorando no sul do atual estado da Bahia, no dia 22 de abril. As terras foram chamadas de Ilha de Vera Cruz e, mais tarde, de Terra de Santa Cruz. Alguns historiadores acreditam que o desvio não foi um acidente, mas uma decisão, pois Cabral estaria à procura de novas terras, já descritas por outros navegadores. Ao explorar riquezas em diferentes territórios, os portugueses cumpriam um importante objetivo da política mercantilista: obter artigos de grande valor no comércio europeu.
TORERO, José Roberto; PIMENTA, Marcus Aurelius. Nuno descobre o Brasil. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2016. Nessa história, Nuno, um garoto português que vivia em Lisboa em 1500, embarca em uma das esquadras comandadas por Pedro Álvares Cabral e chega às terras do atual Brasil, onde descobre uma nova cultura e novos costumes.
As viagens marítimas espanholas
Após a centralização do Estado espanhol, concretizada com o casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, em 1476, e a expulsão definitiva dos árabes muçulmanos da península Ibérica, em 1492, a Espanha teve condições de iniciar suas viagens marítimas.
Assim, a Espanha se tornava o segundo Estado europeu a se lançar nos projetos ultramarinos. As viagens espanholas tiveram início em 1492, quando a Coroa financiou a expedição comandada pelo navegante genovês Cristóvão Colombo rumo ao Oriente.
Inspirado pelo espírito renascentista, Colombo se interessava pelos inventos e pelas descobertas científicas e era também um estudioso das navegações. Por ser um defensor dos estudos de acôrdo com os quais a Terra era redonda, e não plana, ele acreditava que seria possível alcançar as Índias navegando em direção ao oeste.
Com esse pensamento, em outubro de 1492, Colombo chegou à ilha de Guanahani, no Caribe, por ele batizada de San Salvador (provavelmente, atual Bahamas). Daí em diante, Colombo alcançou Cuba e São Domingos (atual Haiti e República Dominicana, respectivamente). O navegador, no entanto, achava que tinha chegado às Índias. Por isso, chamou os habitantes da região de índios.
Colombo fez outras três viagens à América, mas morreu acreditando que tinha chegado às Índias. Foi o navegador florentino Américo Vespúcio, após realizar três viagens à América, que apresentou a hipótese de que as terras encontradas estavam separadas da Ásia, ou seja, formavam outro continente.
Grandes navegações portuguesas e espanholas (SÉCULOS quinze E dezesseis)
Elaborado com base em dados obtidos em: ATLAS histórico. São Paulo: Enciclopédia Britânica, 1997. p. 88; Reiô Dión Ar Idade das explorações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. página 54.
Percursos e objetivos
No século dezesseis, os espanhóis contornaram o sul do continente americano e alcançaram o oceano Pacífico. Em 1513, o navegador Vasco núnhes de Balboa atravessou o istmo do Panamá e foi o primeiro europeu a avistar esse oceano. Em 1519, Fernão de Magalhães, em sua viagem pela parte sul do oceano Atlântico e da América, encontrou uma passagem por um estreito, que recebeu seu nome (estreito de Magalhães), por meio do qual atingiu o Pacífico.
A expedição do navegador Fernão de Magalhães, ao aportar nas ilhas Filipinas, estabeleceu diversos acordos com as autoridades locais, com o objetivo de participar da rica rede de comércio que havia nessa região com a China, desde o século dez.
Durante a viagem, Magalhães foi morto por um nativo e Sebastião Elcano assumiu o comando da frota, navegou pelo oceano Índico e novamente pelo Atlântico, e retornou à Espanha em 1522, após quase três anos de viagem. A expedição completou a primeira volta ao mundo por via marítima, comprovando a esfericidade da Terra.
Em 1543, Ruy Lopes de Villalobos, a pedido do rei espanhol, voltou às Filipinas para reconhecer o território. Mais tarde, em 1571, uma esquadra viajou ao arquipélago com o objetivo de transformá-lo em um domínio espanhol.
A partir do século dezesseis, portugueses, espanhóis e, posteriormente, holandeses chegaram às ilhas da Indonésia e lutaram entre si para monopolizar o comércio local de especiarias com os chineses e indianos. Nessa época, as Ilhas Molucas eram as únicas produtoras de cravo e noz-moscada, mercadorias que atingiam preços elevadíssimos na Europa.
A expedição de Fernão de Magalhães (1519-1522)
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 54.
O Tratado de Tordesilhas
Ao iniciar as expedições marítimas, a Espanha passou a rivalizar com os portugueses, e as duas coroas se envolveram em disputas pela posse das terras ultramarinas. Assim, em 1493, o papa Alexandre sexto apresentou a Bula Inter-Coetera, que propunha a divisão dos territórios. Os espanhóis ficariam com as terras encontradas por Colombo e deveriam reconhecer a soberania portuguesa sobre as ilhas da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde. Porém, o rei português dom João segundonão aceitou o acôrdo.
Para solucionar o conflito, os representantes de Portugal e Espanha, a convite do papa, reuniram-se novamente e assinaram um documento chamado Tratado de Tordesilhas, em julho de 1494. O acôrdo estabeleceu uma linha imaginária que passaria trezentas e setenta léguas (.2500 quilômetros) a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras descobertas ou por descobrir situadas a oeste dessa linha ficavam com a Espanha e as localizadas a Léste pertenciam a Portugal.
A vida em alto-mar
Você já imaginou quais eram os perigos e as dificuldades que os navegadores enfrentavam em suas viagens? Em geral, participavam das expedições um comandante e alguns oficiais auxiliares, soldados, religiosos, marinheiros, artesãos e um médico.
A alimentação era composta, basicamente, de biscoitos, carne salgada, peixe seco, lentilhas, arroz, passas, mel e vinho. Os alimentos frescos estragavam com facilidade. Mortes por fome ou doenças podiam encurtar as viagens. Doenças como tifo, coqueluche e sarampo atingiam os tripulantes. Era muito comum que os tripulantes adquirissem escorbuto, ou “mal das gengivas”, uma doença grave, causada pela falta de vitamina C presente em alimentos frescos. O primeiro sintoma era o inchaço da gengiva, depois a perda dos dentes e por fim a putrefação da carne. Os naufrágios também eram frequentes. Uma das regiões mais temidas no Atlântico era o extremo sul da África, batizado inicialmente de Cabo das Tormentas.
RAMOS, Fabio Pestana. Por mares nunca dantes navegados: a aventura dos descobrimentos. . São Paulo: Editora Contexto, 2008.Nesse livro, é possível conhecer as aventuras e as dificuldades vivenciadas pelos navegadores portugueses na época da expansão marítima europeia. segunda edição
Integrar conhecimentos
História e Geografia
Mapa-múndi de Valdissimíler
O mapa-múndi reproduzido a seguir foi elaborado em 1507 por estudiosos dirigidos pelo cartógrafo alemão MÁRTIN VALDISSÍMILER. Produzido com base nas descrições feitas pelo na-vegador Américo Vespúcio e em conhecimentos de cartografia disponíveis na época, o mapa é considerado a certidão de nascimento da América.
Nesse mapa, pela primeira vez o continente americano foi representado separado da Ásia. Também foi a primeira vez que o nome “América” apareceu em um mapa.
- Quem são os dois personagens representados no mapa? Por que eles foram homenageados?
- Por que o mapa de Valdissimíler é um marco para a história da cartografia? Que novidades ele apresenta?
- Compare o mapa de Valdissimíler com um mapa-múndi atual. Quais são as principais semelhanças e diferenças?
- Observe os quatro continentes representados no mapa. Como o fato de a América possuir menos detalhes que os demais pode ser explicado?
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Que fatores levaram portugueses e espanhóis a serem pioneiros nas expedições ultramarinas europeias?
- Analise o texto a seguir. Depois, reúna-se com um colega e, em dupla, respondam às questões.
Os portugueses e os espanhóis tiveram precursores reticências na conquista dos oceanos Atlântico e Pacífico, mas os esforços desses aventureiros notáveis não alteraram o curso da história do mundo. reticências
Somente depois de os portugueses terem contornado a costa ocidental da África, dobrado o Cabo da Boa Esperança, atravessado o oceano Índico e de terem se fixado nas Ilhas das Especiarias da Indonésia e na costa do mar do sul da China; somente depois de os espanhóis terem atingido o mesmo objetivo através da Patagônia, do oceano Pacífico e das Filipinas é que então, só então, teve início a ligação marítima regular e duradoura entre os quatro continentes.
Bóquisser, Chárles . O império marítimo português, 1415-1825. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. página 31-33.
- Por que, para o autor, as viagens portuguesas e espanholas se diferenciaram das de seus antecessores?
- O que significa dizer que as viagens portuguesas e espanholas estabeleceram “uma ligação marítima regular e duradoura entre os quatro continentes”?
3. O mapa a seguir representa as duas propostas de divisão das terras ultramarinas entre Portugal e Espanha, no final do século quinze.
Divisão das terras ultramarinas entre Portugal e Espanha (1493-1494)
Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 239.
- Qual das duas propostas de divisão de terras foi a primeira? O que cada uma delas estabelecia?
- Que mudança houve na segunda proposta que convenceu Portugal a aceitar o acôrdo? Considerando que essa negociação ocorreu seis anos antes da chegada de Cabral ao atual Brasil, que hipótese podemos levantar sobre os interesses portugueses nessa divisão?
CAPÍTULO 9 ESPANHÓIS NA AMÉRICA
As primeiras expedições espanholas que alcançaram o continente que viria a ser chamado de América não renderam à Espanha os lucros esperados, pois não foram encontradas as tão almejadas riquezas. Contudo, a repercussão da viagem de Colombo, que em 1492 aportou no continente até então desconhecido pelos europeus, estimulou novas expedições. As viagens que se seguiram, entre os séculos quinze e dezesseis, percorreram diferentes pontos do continente, possibilitando aos espanhóis dimensionar a extensão do território e vislumbrar a existência de riquezas como ouro e prata.
A dominação territorial foi acompanhada por ações violentas que visavam submeter os povos nativos ao contrôle espanhol e extrair a maior quantidade de riquezas possível. Esse processo, no entanto, fez eclodir diversas fórmas de resistência dos povos indígenas da América, que você vai conhecer um pouco mais ao longo deste Capítulo.
A conquista do Caribe
A chegada dos espanhóis à região do Caribeglossário , em 12 de outubro de 1492, marca um dos eventos mais conhecidos da história: a chamada “descoberta” da América pelo navegante Cristóvão Colombo.
Contudo, vale ressaltar que Colombo e seus marinheiros não chegaram a um lugar desabitado ou onde as populações estivessem esperando para serem descobertas. A região do Caribe, assim como o extenso território americano, era habitada por diversas populações indígenas que tinham os próprios modos de vida, crenças, costumes e conhecimentos.
Como estamos estudando, a chegada dos europeus à América foi impulsionada por vários fatores, entre eles a busca por rótas alternativas para chegar ao Oriente. Desse modo, os europeus poderiam obter as valiosas especiarias diretamente da fonte produtora, as Índias.
No entanto, conforme as expedições foram percorrendo o continente americano, os conquistadores espanhóis tomaram conhecimento da existência de grandes jazidas minerais, e o continente se transformou no alvo principal da política mercantilista da Espanha.
Caribe (SÉCULO dezessete)
Fonte: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas: história do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. página 13.
, Celina; PRANDO, Fabiana. Bôden míler Contos encantados da América Latina. São Paulo: Moderna, 2018. Esse livro é formado por uma coletânea de 18 contos que reúnem a tradição oral dos mais diversos países da América Latina. Os contos estão relacionados com lendas e mitologias da cultura indígena e com as influências culturais da colonização espanhola.
No início, as alianças
Os povos tainos, população predominante em várias ilhas do Caribe, estabeleceram, inicialmente, alianças com os espanhóis. Entretanto, é importante ressaltar que os acordos que os indígenas faziam com os europeus eram movidos por interesses específicos e, muitas vezes, diferentes das intenções europeias.
No caso dos tainos, provavelmente, a aliança com os espanhóis estava relacionada ao contexto de expansão dos povos caraíbas ou caribes, indígenas inimigos que estavam ampliando seus domínios e ameaçando a soberania taina sobre seu próprio território. Dessa fórma, a aliança com os espanhóis significou o fortalecimento na luta contra os inimigos caraíbas.
No fim, o extermínio
A aliança dos tainos com os espanhóis teve curta duração. Com a convivência, eles perceberam que os europeus, além de obter recursos naturais, pretendiam dominar os territórios. Assim, as relações iniciais, baseadas na troca de mercadorias, como ouro, pérolas, esmeraldas e madeira, foram se tornando mais impositivas, com a adoção de diferentes fórmas de trabalho compulsório.
A exploração do trabalho, somada aos surtos de doenças, como sarampo, varíola e gripe, trazidas pelos colonizadores e contra as quais os indígenas não possuíam imunidade, desencadearam um processo brutal de declínio demográfico da população nativa, que chegou, em algumas ilhas, a desaparecer. Nas Antilhas, havia pelo menos 200 mil indígenas no começo do século dezesseis; cêrca de meio século depois, eles não passavam de 15 mil.
Ler a gravura
• Quais são os dois povos representados nessa obra? Que atitude ou postura cada um deles expressa? Procure explicar por que o artista retratou o encontro entre os dois povos dessa . fórma
A destruição do Império Asteca
Ainda no Caribe, os espanhóis ouviram falar de uma sociedade imperial muito rica estabelecida na parte continental da América (no planalto central do México). Era o Império Asteca, formado por uma rede de alianças que envolvia três capitais políticas: as cidades de tescôco, de Tlacopan e de Tenochtitlán, a capital do império.
A aliança entre esses centros urbanos integrava um domínio político e tributário sobre diversos grupos étnico-territoriais, denominados altépet. A dominação asteca imposta a esses povos gerava uma situação de descontentamento. Essa divisão entre os grupos indígenas foi notada e habilmente manipulada pelos espanhóis.
Quando o conquistador espanhol hernãn cortês chegou com seus homens à capital asteca, em fevereiro de 1519, conheceu Malinche, a jovem indígena que foi sua intérprete e possibilitou a aliança dos espanhóis com o povo de tlaquiscála, inimigo dos astecas.
Em novembro daquele ano, os espanhóis chegaram a Tenochtitlán e foram recebidos pacificamente por Montezuma, o imperador asteca. O primeiro conflito de que se tem notícia entre espanhóis e astecas ocorreu em maio de 1520, quando os conquistadores invadiram um templo e mataram dezenas de indígenas.
Como explicar a derrota asteca?
Os espanhóis contaram com o apôio de vários povos inimigos dos astecas, e utilizaram cavalos, armas de fogo e couraças de ferro nos combates. A disseminação da varíola é considerada outro fator para a derrota asteca, já que essa doença provocou muitas mortes entre aquela população. Além disso, a associação que Montezuma teria feito entre o colonizador espanhol cortés e o deus asteca Ket zol kooah tol, aliada à crença de que a chegada dos espanhóis concretizava maus presságios, explicaria o temor diante dos invasores e a demora em reagir à ameaça espanhola.
A tomada de Tenochtitlán
Derrotados na primeira tentativa de tomar a capital asteca, os espanhóis se refugiaram em tlaquiscála, onde instalaram a base de suas operações. A queda definitiva de Tenochtitlán só ocorreu em agosto de 1521, após meses de combates.
O sistema de alianças que os espanhóis selaram durante o conflito foi decisivo para o desfecho, tanto que, ao terminar a guerra, enquanto os espanhóis tinham o apôio de cêrcade cinquenta altépet, os astecas eram apoiados por apenas três.
Como podemos perceber, a tomada de Tenochtitlán não se tratou da vitória dos espanhóis sobre os indígenas, mas da vitória de diversos grupos étnicos que, aliados aos espanhóis, derrotaram um inimigo em comum: os astecas. Os povos nativos coligados aos espanhóis não podiam imaginar que a queda dos astecas era apenas o primeiro grande ato de uma história de destruição que arrastaria depois suas cidades e suas fórmas de organização social.
Ler o texto
Os espanhóis queimarão os livros dos mexicanos para apagar a religião deles; destruirão os monumentos, para fazer desaparecer qualquer lembrança de uma grandeza antiga. Mas, cem anos antes, durante o reinado de Itscôat, os próprios astecas tinham destruído todos os livros antigos [de seus inimigos], para poderem escrever a história a seu modo.
todoróv, Zisvêtâm. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1999. página 71.
• Que comparação o autor Zisvêtâm Todoróviestabeleceu entre os espanhóis e os astecas?
Documento
As ideias de Bartolomê de Las Casas
Bartolomê de Las Casas participou de expedições espanholas à América como explorador e depois como missionário, quando se tornou um frade dominicano. Entre as obras que escreveu, está a Brevíssima relação da destruição das Índias Ocidentais ou O paraíso destruído, publicada em 1542.
A obra de Bartolomê de Las Casas é até hoje analisada por historiadores. Leia, a seguir, dois trechos escritos por ele.
Trecho 1
Na ilha Espanhola que foi a primeira, como se disse, a que chegaram os espanhóis, começaram as grandes matanças e perdas de gente, tendo os espanhóis começado a tomar as mulheres e filhos dos índios para deles servir-se reticências. Depois de muitos outros abusos, violências e tormentos a que os submetiam, os índios começaram a perceber que esses homens não podiam ter descido do céu.
LAS CASAS, Frei Bartolomê de. O paraíso destruído. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 2001. página32-34.
Trecho 2
As Índias foram descobertas no ano de mil quatrocentos e noventa e dois. Foram povoadas por cristãos espanhóis no ano seguinte. reticências A razão pela qual os cristãos mataram e destruíram tantas, tais e tão infinito número de almas foi somente para ter, como seu fim último, o ouro e encher-se de riquezas em muitos breves dias reticências.
LAS CASAS, Frei Bartolomê de. Único modo de atrair todos os povos à verdadeira religião. São Paulo: Paulus, 2010. página 495-498.
- Segundo o trecho 1, de que fórma agiam os espanhóis que chegaram à América no contexto da conquista?
- No trecho 2, Las Casas expõe a razão pela qual os cristãos mataram e destruíram tantas almas na América. Segundo o religioso, qual seria o motivo dessa violência?
- Alguns historiadores dizem que Las Casas chegou a ser muito malvisto por colonizadores e autoridades espanholas. Por que isso teria acontecido?
- Observe a imagem de Las Casas. Como o missionário foi representado nessa obra?
A destruição do Império Inca
Os domínios do Império Inca se espalhavam por regiões dos atuais Peru, Equador, Bolívia, Argentina e Chile. Reunindo diferentes grupos e culturas indígenas, distribuídos em um vasto território, o império mantinha-se, principalmente, por meio de acordos com lideranças e da cobrança de impostos.
A configuração de estados com características imperiais gerou conflitos pelo trono. Foi o que aconteceu no século dezesseis, na sucessão de Ruaina Capaqui. Seus filhos, Atarrualpa e Uáscar, disputavam violentamente o poder quando os espanhóis chegaram à região, em 1532.
Os europeus, sob o comando de Francisco Pizarro, aproveitaram-se da situação. Assassinaram Uáscar, culparam Atarrualpa pela morte do irmão e o condenaram à morte, não sem antes cobrar uma quantia exorbitante em ouro e prata como resgate.
Com o apôio de povos indígenas rebelados contra a dominação inca, os espanhóis tomaram a cidade de Cuzco (capital inca) e de Quito. Em 1535, Pizarro fundou a cidade de Lima, futura capital dos domínios espanhóis nos Andes Centrais.
A conquista espanhola desintegrou profundamente as estruturas sociais, culturais e religiosas da civilização inca, como podemos acompanhar no texto a seguir:
O resultado do conflito não dependeu apenas da fôrça dos oponentes: a partir da perspectiva dos derrotados, a invasão europeia também continha uma dimensão religiosa, e mesmo cósmica. Saques, massacres, incêndios: os índios estavam vivendo o fim de um mundo; a derrota significava que os deuses tradicionais haviam perdido seu poder sobrenatural.
Uatitél, Natán . Os índios e a conquista espanhola. ín: Betell, Leslie ( organizador). História da América Latina: América Latina Colonial. segunda edição São Paulo: Edusp; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. volume um página 199.
A resistência indígena
Muitos povos indígenas resistiram à dominação espanhola durante décadas. Na região de Vilcabamba, ao lado de Cuzco, o líder inca Manco Capac e seus seguidores organizaram sucessivos movimentos de resistência ao domínio espanhol até 1572. A última luta de resistência indígena foi dirigida em Vilcabamba pelo líder inca Tupac Amaru. Ele reuniu cêrca de 40 mil indígenas para combater a cobrança de tributos, pagos aos espanhóis na fórma de trabalho nas minas de prata. Capturado pelo inimigo, o líder inca foi decapitado na praça central de Cuzco, para servir de exemplo à população.
Outro importante movimento de resistência surgiu em Huamanga e espalhou-se pela região norte do atual Peru. Entre 1564 e 1567, mais de 8 mil indígenas chamanes repudiaram o domínio espanhol e todos os objetos e crenças trazidos pelos europeus. O movimento chamado de Taqui Ongo, ou a “enfermidade da dança”, baseava-se em tradições inseridas no contexto colonial. Os indígenas acreditavam que era preciso dançar constantemente para que as divindades andinas despertassem e vencessem o deus cristão, restabelecendo a ordem anterior. O movimento, porém, foi violentamente reprimido.
No atual Chile, os indígenas araucanos, também conhecidos como Mapúche, encabeçaram uma longa resistência aos espanhóis. Em sua luta contra os conquistadores, eles aperfeiçoaram suas armas e incorporaram o uso dos cavalos: uma prática dos espanhóis. A resistência Mapúche teve seu momento de maior explosão entre 1550 e 1696; depois disso, os enfrentamentos com os espanhóis passaram a ser esporádicos, predominando entre eles acordos comerciais e negociações de fronteira.
POVOS Indígenas no Brasil. Disponível em: https://oeds.link/zrZGlw. Acesso em: 10 2022. fevereiro Enciclopédia sobre os povos indígenas do Brasil, com informações acerca de línguas, costumes, modos de vida, iniciativas, direitos etcétera de diferentes grupos. Produzida pelo Instituto Socioambiental (). Ísa
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Nos atuais Haiti, Cuba e Jamaica, a maioria da população é formada por afrodescendentes, sendo as pessoas de origem indígena um grupo muito pequeno. Por que esse fenômeno ocorre nessas ilhas do Caribe?
- Com um colega, observe a charge, que trata da colonização espanhola na América, e responda às questões.
- Qual grupo social das colônias espanholas é representado por cada um dos personagens? Que momento histórico é representado na charge?
- O que o comportamento do europeu ao encontrar-se com o indígena americano revela?
- Imaginem a continuação do diálogo entre os dois personagens e se coloquem no lugar deles. Cada um de vocês deve criar argumentos para defender as ideias e os interesses de um dos grupos representados.
d. Apresentem seus argumentos para os colegas e, ao final das exposições, realizem um debate para escolher os argumentos mais convincentes.
3. Leia o texto com atenção e responda às questões.
Ao ler a história do México, não podemos evitar a pergunta: por que os índios não resistem mais [aos espanhóis]? Será que não se dão conta das ambições colonizadoras de cortés? A resposta desloca a pergunta: os índios das regiões atravessadas por cortés no início não ficam muito impressionados com suas intenções colonizadoras, porque esses índios já foram conquistados e colonizados – pelos astecas. O México de então não é um estado homogêneo, e sim um conglomerado de populações subjugadas pelos astecas, que ocupam o topo da pirâmide. Desse modo, longe de encarnar o mal absoluto, cortés frequentemente aparecerá como um mal menor, como um libertador, mantidas as proporções, que permite acabar com uma tirania particularmente detestável, porque muito mais próxima.
Sensibilizados como estamos aos danos causados pelo colonialismo europeu, temos dificuldade em compreender por que os índios não se revoltam imediatamente, enquanto é tempo, contra os espanhóis. reticências
Todoróvi, Zisvêtâm. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1999. página 69.
- Explique por que os indígenas não se impressionaram com as intenções colonizadoras de cortés.
- Segundo o texto, que povo foi mais prejudicado com a chegada dos espanhóis? Por quê?
- cortés e Francisco Pizarro adotaram estratégias semelhantes para dominar os astecas e os incas, respectivamente. Explique essa afirmativa.
CAPÍTULO 10 PORTUGUESES NA AMÉRICA
Quando os portugueses chegaram às terras que viriam a ser chamadas de Brasil, encontraram povos com cultura, costumes, organização social e línguas totalmente diferentes dos que conheciam na Europa, na África e no Oriente. Calcula-se que, em 1500, entre 3 milhões e 5 milhões de nativos habitassem o território brasileiro, distribuídos em mais de mil povos.
Segundo a classificação feita por estudiosos, as línguas mais faladas pelos indígenas do Brasil podem ser agrupadas em quatro troncos linguísticos: Tupi, Macro-jê, Aruaque e Caraíba.
Por estarem distribuídos ao longo da costa brasileira, os povos Tupi foram os que tiveram mais contato com os portugueses. Praticavam a agricultura de subsistência, cultivando mandioca, milho, inhame, abóbora, batata-doce, entre outros alimentos. Coletavam frutos, caçavam e pescavam. Com troncos de árvores, ossos, fibras vegetais, barro e madeira, confeccionavam diferentes artigos, como canoas, arcos e flechas, redes, cestos, vasos e urnas funerárias. Possuíam conhecimentos a respeito da prática da pintura corporal. Praticavam também a arte plumária, sendo responsáveis pela produção de belíssimos adornos feitos de penas e plumas de pássaros.
BRASIL 500 anos – I. Disponível em: https://oeds.link/bWAtsn. Acesso em: 10 fevereiro 2022. Linha do tempo que mostra alguns marcos da chegada dos portugueses ao território que hoje compreende o Brasil.
Primeiros contatos entre indígenas e portugueses
Os Tupi chamavam o Brasil de Pindorama, que, na sua língua, significa “terra das palmeiras”. Tanto esse grupo como a maior parte dos povos indígenas que habitavam o Brasil na época da chegada dos portugueses viviam em aldeias. As moradias podiam estar organizadas em círculo ou em fileiras. Porém, em algumas aldeias, havia apenas uma grande casa comum.
As aldeias estabeleciam entre si laços de solidariedade. Entretanto, havia guerras constantes entre grupos diferentes. Muitas vezes, os conflitos ocorriam quando um povo queria afirmar sua superioridade sobre outro.
Além disso, os indígenas não tinham um Estado organizado. Entre os Tupi, por exemplo, não existia um poder centralizado, exercido por um rei ou alguém com o poder de dar ordens aos demais. Reunidos em uma espécie de conselho, os líderes, chamados principais, decidiam em conjunto o destino da aldeia. Os membros mais corajosos eram os primeiros a serem ouvidos.
Os povos indígenas no Brasil em 1500
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 12.
Organização das famílias indígenas
Muitas sociedades indígenas eram matrilineares, o que significa que a criança, ao nascer, recebia um nome que a ligava à família de sua mãe. Em outros casos, o parentesco podia ser patrilinear, ou seja, estabelecido a partir do pai.
Os casamentos, em geral, aconteciam entre membros da mesma aldeia e, em certos grupos, os guerreiros tinham direito a ter mais de uma esposa. Outro costume bem marcado em muitos povos era o ritual do couvade, que consistia no resguardo do pai após o nascimento da criança. Nesse período, o pai não podia trabalhar e devia se alimentar de fórma moderada. Essa prática demonstrava a importância do papel paterno no desenvolvimento da criança. Durante um ano e meio, mães e filhos não se separavam.
CARAMURU: a invenção do Brasil. Direção: Guel Arraes. Brasil, 2001. Duração: 88 minutosO filme apresenta as aventuras do jovem português Diogo, que chega às terras do atual Brasil em 1500.
A guerra na cultura Tupi
A guerra era um valor central da cultura Tupi, servindo, principalmente, para vingar parentes mortos pelo inimigo. O ritual da antropofagia estava associado à guerra. Nesse grande evento, realizado na aldeia, o inimigo capturado no conflito era morto e devorado em uma festa ritual. Esse era um destino digno na vida de um guerreiro: para os Tupi, os mortos em guerra iam para uma espécie de paraíso, onde estavam seus ancestrais.
Índio ou indígena?
O indígena Daniel Munduruku fala sobre o uso correto do termo “indígena”:
reticências [o termo índio] não é uma definição, é um apelido, e apelido é o que se dá para quem parece ser diferente de nós ou ter alguma deficiência que achamos que não temos. reticências
Por outro lado o termo indígena significa “aquele que pertence ao lugar”, “originário”, “original do lugar”. Se pode notar, assim, que é muito mais interessante reportar-se a alguém que vem de um povo ancestral pelo termo indígena que índio.
MUNDURUKU, Daniel. Usando a palavra certa para doutor não reclamar. Blog Daniel Munduruku. Disponível em: https://oeds.link/SQsfJX. Acesso em: 10 fevereiro 2022.
Lugar e cultura
O contato com o “outro”
Quando os indígenas viram as caravelas de Cabral aportando, eles provavelmente sentiram grande estranhamento. O que eles teriam pensado ao ver homens barbados, com aqueles trajes, vindos do mar em uma embarcação muito diferente das canoas que eles conheciam?
A surpresa dos portugueses também deve ter sido grande. Chamou a atenção deles a fauna e a flora locais, assim como a aparência dos indígenas. Leia um trecho do relato que o escrivão português Pero Vaz de Caminha escreveu sobre o primeiro encontro entre indígenas e portugueses, em 1500.
Andavam ali muitos deles, ou quase a maior parte. Todos traziam aqueles bicos de osso nos beiços; e alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau que pareciam espelhos de borracha. Alguns traziam três daqueles bicos, a saber, um na metade e outros dois nos cabos. Outros andavam aí esquartejados de cores, a saber, deles a metade da sua própria cor e a metade de tintura negra, [à] maneira de azulada, e outros quartejados de escaques.
Entre eles ali andavam três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduasglossário . reticências
Ali por então não houve mais fala nem entendimento com eles, por ser a barbariaglossário deles tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenamos-lhes [para] que se fossem. Assim o fizeram e passaram-se além do rio.
Carta de Pero Vaz de Caminha a el rei Dom Manuel [1o de maio de 1500]. Educação Pública. Disponível em: https://oeds.link/J24lE2. Acesso em: 10 fevereiro 2022.
• É possível dizer que, nesse relato, Caminha faz um julgamento dos indígenas expressando alguma ideia de superioridade dos europeus? Por quê?
O valioso pau-brasil
Os exploradores portugueses não encontraram ouro nem pedras preciosas em suas primeiras incursões à América. Por essa razão, a Coroa procurou garantir seus domínios no Oriente, principalmente as lucrativas rótas de comércio nas Índias.
No entanto, nas primeiras expedições à América, os portugueses encontraram uma árvore nativa da qual se extraía uma tinta vermelha, muito cobiçada na Europa para tingir tecidos e pintar manuscritos. Era o pau-brasil, o primeiro produto a despertar o interesse comercial dos portugueses em terras brasileiras. A árvore crescia na Mata Atlântica, especialmente no litoral sul do atual estado da Bahia. Por sua madeira ser muito dura e resistente, também foi utilizada nas obras de construção civil e naval.
A Coroa portuguesa logo declarou o monopólio real sobre a exploração do produto. Assim, a madeira só poderia ser extraída e comercializada com autorização régia e o pagamento de tributos a Portugal.
Na floresta, a madeira era explorada no regime de escambo. Por meio dele, os indígenas cortavam a madeira e a carregavam até os navios em troca de diferentes produtos, como peças de tecido, contas coloridas, canivetes, facas e espelhos.
A intensa exploração de pau-brasil devastou a espécie. Hoje, ela está ameaçada de extinção, como outras espécies nativas da Mata Atlântica.
América portuguesa ou Brasil?
O termo “Brasil” tem origem no comércio do pau-brasil. No período colonial, porém, não existia, entre os colonos, um sentimento de nacionalidade, e o território era bem menor. Por isso, muitos historiadores questionam a expressão “Brasil colônia”. Para eles, a expressão “América portuguesa” é mais apropriada.
Documento
Mapa Terra Brasilis
Observe novamente o "Mapa-múndi de Valdissimíler", reproduzido no Capítulo. Ele expressa o conhecimento que os europeus tinham de Geografia e das diferentes regiões do mundo na época em que foi produzido. Por essa razão, os registros cartográficos são fontes para o estudo da História.
O mapa que você analisará a seguir chama-se Terra Brasilis, elaborado por volta de 1519 pelos cartógrafos portugueses Lopo Homem, Pedro Reinel e Jorge Reinel. Mapas como este eram produzidos com base em descrições feitas nas viagens de exploração dos territórios.
- Descreva como os indígenas foram representados pelos portugueses nesse mapa.
- O mapa Terra Brasilis foi encomendado pelo rei português dom João terceiro para ser dado de presente ao rei Francisco , da França. Qual seria o interesse do rei português ao encomendar esse mapa? primeiro
- Que diferenças você percebe entre os mapas atuais e esse mapa do século dezesseis? Se necessário, consulte um atlas atual para responder.
- Volte ao "Mapa-múndi de Valdissimíler". Note que ele foi produzido no ano de 1507, ou seja, antes do Terra Brasilis. É possível observar alguma diferença e/ou semelhança na representação do território que atualmente corresponde ao Brasil nos dois mapas? Explique.
Formas de resistência indígena
No início da colonização portuguesa na América, as relações entre portugueses e indígenas foram pacíficas. Por meio dessa convivência, os europeus aprenderam com os nativos, por exemplo, a se orientar nas matas e a fabricar canoas com um tronco de árvore. O milho, a mandioca e outros produtos da dieta indígena foram incorporados à alimentação portuguesa e à cultura que se formaria no Brasil.
Porém, as tensões tornaram-se inevitáveis quando os portugueses começaram a escravizar os nativos, obrigando-os a abandonar suas aldeias e a trabalhar nas lavouras. A guerra dos conquistadores contra os nativos que resistiam à dominação, conhecida como guerra justa, tornou-se uma prática frequente. Assim, no século dezessete, uma parcela da população nativa já tinha sido dizimada pelos portugueses.
A resistência indígena se intensificou no processo de colonização. As fugas, as guerras contra os colonizadores, os ataques contra vilas e a defesa das aldeias tornaram-se práticas comuns entre os indígenas. Também ocorriam muitos casos de suicídio quando os indígenas não conseguiam escapar da escravização. Outra fórma usual de sabotagem ao projeto de dominação foi a aliança que alguns povos faziam com outros invasores europeus, que ameaçavam a hegemonia portuguesa no território.
Ao longo dos séculos, os indígenas tiveram de enfrentar a violência da dominação, a invasão de suas terras, a imposição de outra cultura. Até os dias de hoje, a resistência acontece com a reafirmação da identidade dos diversos povos indígenas, na luta pela preservação e pelo reconhecimento de suas culturas.
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Transcrição do áudio
[LOCUTOR]: A aventura de Hans Staden
[LOCUTORA]: Olá! Você já parou para pensar no quanto devem ter sido complicados os primeiros anos de colonização? Como será que europeus e indígenas se comunicavam? Será que eles se entendiam? Até hoje, não é fácil compreender como se deu esse momento da história, sobretudo em seus primeiros 50 anos. Até porque são raros os documentos que tratam desse assunto.
Como eram poucos os europeus que sabiam escrever e que conheciam o território brasileiro, eles tinham dificuldades para explicar sua localização. E como os povos indígenas não possuíam escrita, até hoje é difícil compreender como viviam. A maior parte do que conhecemos sobre aquele período foi escrito por pessoas que tinham ouvido relatos de acontecimentos passados.
Sabemos que aqui viviam milhares de povos, organizados cada qual com a sua cultura. De tempos em tempos, muitos desses povos se deslocavam para regiões mais férteis, o que acabava gerando conflitos entre eles. As guerras eram muito importantes para os indígenas e assim os povos que tinham os melhores guerreiros ocupavam as melhores terras.
Quando os europeus chegaram em 1500, os povos Tupi ocupavam as terras do litoral desde o Nordeste até o Sudeste, e, por isso, foram eles os primeiros a estabelecer contato com os colonizadores.
Sabemos também que muitas vezes o que motivou os europeus a se aventurarem por terras tão distantes era a promessa de possíveis riquezas. Por isso, apesar de os portugueses e espanhóis terem dividido só entre eles as terras e os mares por onde navegavam, outros europeus se infiltravam no território americano e lutavam para ter acesso às suas riquezas.
De qualquer forma, por algum motivo desconhecido, os Tupiniquim se aliaram aos portugueses, ajudando-os a sobreviver no território e oferecendo a eles produtos que desejavam, como pau-brasil, animais silvestres e pimentas, em troca de objetos que não existiam por aqui, como facas, espelhos, machados de ferro e anzóis. E a mesma relação se estabeleceu entre os Tupinambá e os franceses.
Bem, como eu estava dizendo antes, temos poucos documentos sobre essa fase da nossa história, mas eles existem. Dos raros registros escritos, um é especialmente interessante: o livro Duas viagens ao Brasil, escrito em 1557 pelo alemão Hans Staden, que esteve duas vezes no Brasil.
Apesar de ser alemão, ele veio para cá, pela primeira vez, em um navio português, e, na segunda, em um navio espanhol.
A primeira viagem, que teve início em 1547 e durou quase um ano, foi para Pernambuco. Já a segunda viagem durou de 1549 até 1555.
A embarcação em que Hans Staden se encontrava passou por inúmeros problemas e acabou naufragando próximo à região de Itanhaém, no litoral paulista. De lá, os sobreviventes, entre eles Hans Staden, foram a pé até São Vicente, mais ou menos 50 quilômetros de distância. Lá, o alemão se aliou aos portugueses e foi nomeado, em 1553, “Artilheiro de Bertioga”, uma região do litoral onde havia inúmeras guerras entre os europeus e os povos indígenas Tupiniquim e Tupinambá.
Um dia, no início de 1555, Hans Staden resolveu sair da fortificação para procurar seu indígena escravizado que ainda não havia voltado da caça. Durante a busca, ele foi capturado por alguns Tupinambá e levado, ferido e chorando.
Foram três dias até chegar à região denominada por ele de Uwattibi, hoje cidade de Ubatuba, no litoral paulista.
Em seus registros, Hans Staden conta que conviveu com os Tupinambá por nove meses, até ser resgatado por um navio francês. Segundo o alemão, os Tupinambá achavam que ele era português, mas ele, por mais que tentasse, não conseguia provar o contrário. Essa situação nos ajuda a imaginar como era difícil a comunicação entre europeus e os nativos nessa época.
Em seu livro, Hans Staden narra, ainda, conflitos entre os povos indígenas e entre indígenas e europeus. Ele conheceu um dos mais importantes líderes indígenas da história brasileira: o Tupinambá conhecido como Cunhambebe, que liderou guerras contra os portugueses.
A obra também descreve, com grande riqueza de detalhes, um pouco do cotidiano dos Tupinambá: sua alimentação, seus rituais, a organização da sociedade, as guerras, e muito mais.
Uma dica: leia Hans Staden. [TOM ENFÁTICO] Em um primeiro momento, pode parecer difícil, por causa das palavras antigas. Mas assim que você se acostumar com a linguagem, tenho certeza de que vai se interessar muito pelas aventuras desse alemão em terras brasileiras. Além disso, passará a conhecer melhor a história do nosso país. [TOM ENFÁTICO]
Até a próxima.
Resistência Tupinambá
Os Tupinambá habitavam uma extensa área do litoral brasileiro no século dezesseis. Contra as tentativas de escravização empreendidas pelos portugueses, organizaram uma associação das populações situadas entre as atuais cidades de Cabo Frio ( Rio de Janeiro) e São Vicente ( São Paulo). Essa associação ficou conhecida como Confederação dos Tamoios. Os Tupinambá se aliaram aos franceses, que, entre 1555 e 1567, formaram uma colônia na Baía de Guanabara, desrespeitando as determinações do Tratado de Tordesilhas.
A Confederação dos Tamoios foi liderada pelo chefe tupinambá Cunhambebe. Devido ao grande poder ofensivo da Confederação, os padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta foram chamados para mediar um acôrdo de paz. Depois de muita negociação, os padres obtiveram a chamada Paz de Iperoig, mas os combates continuaram. No final, os Tupinambá foram massacrados, e os franceses foram expulsos do território.
Segundo os antropólogos e pesquisadores Beatriz Perrone-Moisés e Renato Istútman, as principais fontes para entendermos a complexidade da chamada Confederação dos Tamoios são portuguesas (na fórma de documentos, cartas e crônicas escritas, em maior parte, por Manuel da Nóbrega e José de Anchieta). Por isso, é necessário atenção ao examinar essas fontes, pois elas expressam um ponto de vista unilateral. Além disso, é importante notar que:
Dos próprios Tamoio não possuímos descrição alguma dos eventos que os tornaram famosos. Como os demais grupos tupi da costa, foram varridos do litoral para dar lugar à expansão da colonização portuguesa e, em meados do século dezessete, já não havia notícia de grupos tupi ao longo da costa de que antes eram senhores. Seu depoimento está dissolvido no discurso de missionários e viajantes. Como poderíamos compreender o que para eles significariam tais alianças e oposições políticas, tais confederações? reticências
Imortalizada pela historiografia, a confederação dos Tamoio não foi a única a ser assim designada. Lê-se, por exemplo, que com a derrota na Guanabara, franceses e indígenas teriam fugido para a região de Cabo Frio, onde teriam se organizado mais uma vez, para serem massacrados alguns anos depois. No Maranhão, meio século mais tarde, o grande evento Tamoio como que se repete: aldeias tupi, aliadas aos franceses, opõem-se a aldeias tupi, aliadas dos portugueses. Identificam-se, em cada um desses blocos, líderes que se ampliam, se magnificam, inclusive (e sobretudo) mediante dádivas e casamentos com oficiais franceses. reticências
PERRONE-MOISÉS, Beatriz; Istútman, Renato. Notícias de uma certa confederação Tamoio. Mana, Rio de Janeiro, volume 16, número 2, página 401-433, outubro2010. página403, 408.
MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio. São Paulo: Callis, 2019. Essa obra foi escrita pelo indígena Daniel Munduruku e apresenta um panorama dos povos indígenas no Brasil, com textos repletos de informações interessantes.
Resistência Guaicuru
Os Guaicuru eram grupos indígenas que, para escapar da colonização espanhola, migraram da região norte do atual Paraguai para a região dos atuais estados de Mato Grosso do Sul e Goiás. Os Guaicuru eram grandes guerreiros e, por influência dos colonizadores, adotaram o uso de cavalos em seus ataques.
Em 1791, o Tratado de Paz e Amizade foi firmado entre esses povos e a Coroa portuguesa. Por esse acôrdo, os Guaicuru passavam a colaborar com os portugueses na sua luta contra os espanhóis em algumas regiões.
Os indígenas Guaicuru no imaginário brasileiro
Hoje, estudiosos consideram que os Guaicuru tiveram presença marcante no imaginário brasileiro ao longo do tempo.
A importância dos índios Guaicuru e de grupos sociais que estabeleciam relações de aliança/guerra com eles, especialmente os Guana, é ilustrada pelo lugar de destaque que os “índios cavaleiros” ocuparam no imaginário do Brasil Império, sobretudo no final do século dezoito e na primeira metade do século dezenove. Presença que se verifica no registro iconográfico realizado por pintores como Jãn Batiste Dêbret, que retratou os índios Guaicuru em alguns de seus quadros mais conhecidos.
reticências A produção contínua de informações iconográficas e textuais mostra exatamente o lugar que os índios Guaicuru ocupavam no imaginário da sociedade colonial e imperial brasileira da primeira metade do século dezenove: uma posição tão destacada que as imagens desses índios circulavam desde as côrtes brasileiras até as academias de Artes e Ciências europeias. Isto principalmente em razão da sua capacidade guerreira e da sua habilidade política.
FERREIRA, Andrey Cordeiro. Conquista colonial, resistência indígena e formação do Estado-Nacional: os índios Guaicuru e Guana no Mato Grosso dos séculos dezoito- dezenove. Revista de Antropologia, São Paulo, volume 52, número1, página 97-136, 2009. página 99.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Qual povo indígena teve mais contato com os portugueses no período inicial da conquista do território?
- A pintura corporal é uma das principais características das sociedades indígenas. Ela pode ter inúmeros significados: pode ser apenas uma expressão da beleza, como também um símbolo ritualístico de preparação para a guerra ou para a caça, uma fórma de proteger o corpo contra maus espíritos, um ornamento para cerimônias, entre outras possibilidades. Além disso, os desenhos geométricos e os motivos estilizados de plantas ou de animais identificam o grupo ao qual o indivíduo pertence, bem como seu sexo, sua idade e seu status na comunidade. Atualmente, em nossa sociedade, é muito comum as pessoas pintarem seu rosto com maquiagem, tingirem seus cabelos ou fazerem tatuagens no corpo. Quais podem ser os significados desses costumes? Seriam os mesmos que os dos povos indígenas? Converse com seus colegas sobre o assunto.
- Descreva alguns aspectos da organização social dos Tupi na época da conquista portuguesa do território que atualmente fórma o Brasil.
- Qual foi o primeiro produto explorado pelos portugueses em sua colônia da América?
- O português Pero de Magalhães Gândavo (1540-1579) residiu por algum tempo na América portuguesa no século dezesseis e escreveu o livro Tratado da Terra do Brasil, publicado em 1576. O documento histórico revela algumas especificidades da visão europeia sobre os indígenas. Leia a seguir um trecho. Depois, reúna-se com um colega e respondam às questões.
Não há como digo entre eles nenhum Rei, nem Justiça, somente em cada aldeia tem um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por fôrça; morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar; não serve doutra cousa se não de ir com eles à guerra, e conselhá-los como se hão de haver na peleja, mas não castiga seus erros nem manda sobre eles cousa alguma contra sua vontade. Este principal tem três, quatro mulheres, a primeira tem em mais conta, e faz dela mais caso que das outras. Isto tem por estado e por honra. Não adoram cousa alguma nem têm para si que há na outra vida glória para os bons, e pena para os maus, tudo cuidam que se acaba nesta e que as almas fenecem com os corpos, e assim vivem bestialmente sem ter conta, nem pêso, nem medida.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Senado Federal, 2008. página 66.
- Como o autor caracteriza a organização social dos indígenas?
- Como Pero de Magalhães Gândavo descreve as crenças dos indígenas?
- Vocês acreditam que a descrição que Gândavo faz das crenças e dos costumes indígenas corresponde à visão que os indígenas têm da própria cultura? Será que realmente os indígenas “não adoram coisa alguma”, como diz o autor?
- Identifiquem no texto um adjetivo utilizado por Gândavo para caracterizar o modo de vida dos indígenas.
- Na opinião de vocês, a fórma como Gândavo descreve os indígenas demonstra que ele respeita a diversidade cultural, as crenças e os modos de vida desses povos, tão diferentes dos costumes europeus?
- Cite algumas estratégias de resistência indígena à dominação europeia utilizadas ao longo do tempo pelos povos nativos.
- O que foi a Confederação dos Tamoios?
Para refletir
Qual é a relação entre o conceito de modernidade e o eurocentrismo?
Você já parou para pensar sobre a origem do conceito de modernidade? Quais são os marcos estabelecidos para sua periodização, as mudanças históricas e o ponto de vista que norteiam sua explicação?
A historiografia tradicionalmente localiza a Idade Moderna no ano de 1453, quando ocorreu a queda de Constantinopla. De acôrdo com essa visão, o acontecimento marcou o fim da hegemonia do Oriente e do Mediterrâneo no comércio intercontinental, enquanto a exploração do Atlântico impulsionou o desenvolvimento de uma nova era, relacionada ao mercantilismo, ao absolutismo, à ampliação das relações comerciais entre diversas regiões do mundo e ao desenvolvimento das bases para a consolidação do capitalismo.
Alguns estudiosos fazem ainda uma análise crítica da ideia de modernidade, identificando-a à visão eurocêntrica, que se baseia no pressuposto de que a Europa seria o centro das transformações que direcionariam a história da humanidade.
Hoje, heranças desses processos iniciados no século quinze ainda podem ser vistas, influenciando até mesmo decisões políticas e territoriais no continente americano. Reportagens que tratam de conflitos vivenciados pelos povos indígenas atualmente, nos diversos países da América do Sul, podem servir como exemplo dessas heranças.
O Chile atual é um caso a ser destacado: no país, conflitos entre o govêrno e os povos indígenas ocorrem há décadas, sempre com perdas significativas para a cidadania e a soberania dos indígenas. Os Mapúche, etnia que se manteve autônoma e livre até o século dezenove, constituem o principal povo indígena a fazer reivindicações.
A demarcação de territórios, o direito à soberania e o ensino da cultura Mapúche nas escolas chilenas estão entre os principais pedidos dos povos Mapúche no Chile.
Em 2022, os conflitos entre os Mapúche e o govêrno chileno pareceram caminhar para uma nova direção, com a expectativa de definição de um estado plurinacional no Chile. Saiba mais sobre esse assunto na reportagem a seguir e aproveite para refletir: por que as culturas desses povos foram consideradas pelos europeus “primitivas” e contrárias à ideia de modernidade?
Chile: aprovada a proposta de um estado plurinacional
reticências
Na reunião da Comissão de Sistemas Políticos da Convenção Constitucional do Chile, os deputados constituintes aprovaram reticências propostas que podem mudar a cara do país, seguindo a linha do que já definiram a Bolívia e o Equador. A primeira delas é definir o Estado chileno como um Estado Plurinacional e Intercultural, incorporando assim a ideia de que os povos originários têm direito à livre determinação. Representantes Mapúche, Aymara e Rapa Nui celebraram a proposta, que é uma luta de décadas.
TAVARES, Elaine. Chile: aprovada a proposta de um estado plurinacional. Iêla, ú éfe ésse cê, Florianópolis, 28 janeiro2022. Disponível em: https://oeds.link/UjbHZs. Acesso em: 10 fevereiro 2022.
- Quais são as principais reivindicações dos povos Mapúche, na atualidade?
- A reportagem fala sobre a criação de um Estado Plurinacional e Intercultural no Chile. Quais seriam os pontos positivos de um Estado como esse para os povos indígenas? Se necessário, faça uma pesquisa na internet para responder, sob supervisão do professor.
- Agora, reúna-se em grupo. Vocês vão atuar como jornalistas, elaborando uma matéria que relacione o processo de colonização com os conflitos vivenciados pelos povos indígenas da América atualmente. A matéria deve abordar, de maneira crítica, o conceito de modernidade, o longo processo de dominação europeia e a dificuldade de construir uma sociedade que respeite a diversidade e a autonomia dos povos indígenas nos dias de hoje. Para escrever a matéria, retomem os conhecimentos construídos até aqui, neste volume, e façam pesquisas na internet, em órgãos oficiais e em sáites de reportagem. Se possível, compartilhem a matéria escrita por vocês com a comunidade escolar e com os familiares, por meio de blóguis ou no sáite da escola, por exemplo.
Glossário
- Caribe
- Região formada por inúmeras ilhas na América Central. Também é chamada de Antilhas.
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- Espádua
- Ombro.
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- Barbaria
- Relativo a bárbaro, selvagem, estranho.
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