UNIDADE cinco A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA

Gravura. Vista de local aberto, em zona portuária. Em primeiro plano, atracada em um cais de madeira, uma embarcação pequena, feita de madeira, movida a remo, com detalhes de frisos dourados esculpidos, com um tapete azul e dourado estendido sobre o costado e uma pequena bandeira hasteada na proa.  A bandeira tem cinco listras horizontais: três amarelas (uma no topo, uma no centro e uma na base) entremeadas por duas listras vermelhas, uma na parte superior, outra na inferior. No cais, próximo da embarcação, um grupo formado por uma mulher, quatro homens e duas crianças. A mulher  usa um longo vestido branco de mangas compridas e cauda longa com detalhes dourados no corpete acinturado, um véu branco cobrindo a cabeça e uma coroa dourada sobre o véu. Duas crianças seguram a cauda do vestido. Ela oferece a mão esquerda para um homem de cabelos grisalhos até os ombros vestido com um traje vermelho com listras douradas, saiote vermelho, meias longas vermelhas e sapato marrom. Ele está com um pé dentro da embarcação de madeira e o outro pé apoiado no cais.  Com uma das mãos, segura a mão da mulher, com suas costas curvadas em um gesto de reverência. Com a outra mão, segura seu chapéu e um pergaminho enrolado. Tem uma espada dourada presa em sua cintura. No cais, atrás da mulher, há um homem de cabelos castanhos até os ombros, com um bigode de mesma cor, uma coroa dourada sobre a cabeça e um traje cor de vinho com detalhes dourados. Ao lado da mulher, há um homem vestido com uma longa túnica marrom com uma faixa dourada no centro e um chapéu alto dourado. Ele observa a cena com as mãos na cintura. À direita dele, ajoelhado no cais, um padre de túnica preta com capuz estende as mãos na direção da embarcação, segurando uma cruz na mão esquerda, como se estivesse rezando. Dentro da pequena embarcação de madeira, há quatro homens sentados, vestidos com trajes verdes de mangas compridas e com barras douradas, com chapéus cor de vinho sobre a cabeça, segurando remos de madeira na vertical. Há também um homem na popa da embarcação,  visto de costas, com um traje verde com detalhes dourados e um chapéu em suas mãos. Ao fundo, no porto, uma multidão é contida por um homem com uma lança. As pessoas observam a cena de longe, tendo ao fundo vários mastros  com velas recolhidas e bandeiras coloridas de outras embarcações ancoradas lado a lado. À direita, no mar, dois navios à vela estão ancorados um pouco mais distantes do porto e uma embarcação de madeira a remo, pequena, se dirige na direção deles. No alto, o céu azul claro.
Prang e Co. A primeira viagem. 1893. Gravura. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos. A obra retrata Cristóvão Colombo se despedindo da rainha Isabel primeira em sua partida para o Novo Mundo, em 3 de agosto de 1492.

Você estudará nesta Unidade:

A colonização inglesa, espanhola e portuguesa na América

As principais atividades econômicas nas colônias

O trabalho dos indígenas e africanos escravizados

Sociedade colonial – as relações entre diferentes culturas

A administração das colônias

Identidade latino-americana

Gravura em preto e branco. Vista de uma praia. À esquerda, a costa com árvores altas e algumas pessoas. À direita, o mar com algumas embarcações. Em primeiro plano, um grupo de homens descendo de uma embarcação usando uma prancha larga de madeira. Em destaque, caminhando sobre a prancha, um homem de barba com um chapéu decorado com uma grande pluma branca, vestido com um traje de mangas bufantes, colarinho grande na cor branca, calças com pregas e espada na cintura. Ele toda o ombro de um homem na praia, ao lado dele, auxiliando o desembarque. De cabelos curtos e escuros ele usa uma camisa branca semiaberta e uma calça escura, e segura um chapéu na mão direita apontando na direção da terra firme. Atrás deles, em uma pequena embarcação de madeira, dois homens caminham sobre a prancha, vestidos com trajes de mangas compridas bufantes e calças de pregas, de cabelos e barba escuros. Na embarcação, um homem de chapéu visto de costas e um homem visto de lado segurando um remo. No mar, há três grandes embarcações à vela ancoradas lado a lado. Do lado esquerdo da imagem, na praia, chá três homens com o dorso nu e saiote, com adornos de penas sobre a cabeça e arcos em suas mãos, observam o grupo que desembarca. No alto, o céu com muitas nuvens.
SENDIM, Maurício José do Carmo. Pedro Alvares Cabral descobre o Brazil. 1839. Gravura. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Pintura. Representação de embarcação sobre o mar, sob um céu crepuscular, com uma região costeira ao fundo. A luz do crepúsculo aparece refletida nas águas do mar. Em destaque, em primeiro plano, um navio à vela, com três mastros de velas. As velas redondas, brancas, de formato retangular estão parcialmente abertas e seguras por feixes de cordas nos dois primeiros mastros; sobre o mastro no castelo de popa, uma vela latina, de formato triangular, também branca. À direita dessa embarcação maior, há um pequeno bote de madeira com pessoas embarcadas, remando. A tripulação está sentada e há um homem em pé na popa da pequena embarcação. Ao fundo, uma linha horizontal distante, com relevo baixo e vegetação escura, representando a costa. Acima da linha do horizonte, uma espessa nuvem acinzentada e, na parte superior, o sol entre nuvens, com a luz solar em tons de amarelo claro, laranja claro, rosa e vermelho refletidos nas nuvens brancas e na superfície das águas.
Rálsal, Uílham. O Mayflower em sua chegada ao Pôrto de Plymouth. 1882. Óleo sobre tela. Museu dos Peregrinos, Plymouth, Estados Unidos. A obra retrata a chegada da embarcação inglesa Mayflower ao território que hoje corresponde aos Estados Unidos.

O que você sabe sobre os processos de colonização que se desenvolveram na América? Os habitantes do continente americano têm culturas, costumes, línguas e origens étnicas bastante variados. Essa diversidade revela aspectos dos diferentes processos de colonização que se desenvolveram ao longo do tempo.

As sociedades coloniais das Américas portuguesa e espanhola, por exemplo, diferiram muito das colônias inglesas. Essas últimas se constituíram com certa autonomia em relação à Coroa inglesa. Já nos domínios coloniais tanto da América espanhola quanto da América portuguesa, o contrôle político e econômico metropolitano foi bastante intenso.

Você conhece as características dessas sociedades coloniais? Apesar de os processos de colonização terem se desenvolvido de maneira específica em cada região, podemos dizer que existem semelhanças históricas que identificam os povos da América?

CAPÍTULO 11  A COLONIZAÇÃO INGLESA NA AMÉRICA

A descoberta do caminho marítimo para as Índias e a chegada de Colombo à América despertaram o interesse de alguns reinos europeus pelas viagens ultramarinas. Os ingleses, por exemplo, também estavam interessados nas valiosas mercadorias orientais. Por isso, passaram a investir na busca de um caminho marítimo para as Índias, diferente das rótas portuguesa e espanhola.

As regiões ao norte do oceano Atlântico já eram conhecidas por navegadores dinamarqueses e noruegueses e por pescadores e comerciantes de peles de animais desde o século nove. A partir de meados do século quinze, o govêrno da Inglaterra também passou a demonstrar interesse por essa região, patrocinando expedições como a do genovês Dión Québét(cêrca de 1450-1499), que chegou à Terra Nova e à Nova Escócia, no atual Canadá, entre 1497 e 1498. No início do século dezesseis foi a vez dos franceses, que exploraram, em suas expedições, o rio São Lourenço, chegando aonde hoje se localiza a cidade de Montreal, no Canadá.

Ingleses e franceses, ao iniciarem suas viagens oceânicas, encontraram os territórios correspondentes à América Central e à América do Sul, chamados de terras do Novo Mundo, divididos entre Portugal e Espanha. Excluídos da partilha colonial, eles recorreram muitas vezes à pirataria para tirar proveito das riquezas extraídas da América.

Gravura. Vista elevada de uma região costeira. Em primeiro plano, à esquerda, um homem de cabelos brancos cacheados e longos com um chapéu de pirata preto com bordas douradas,  vestido com casaco e calças azuis com estampa na cor branca, colares dourados em volta do pescoço e botas de cano alto na cor preta. Ele segura uma espada com a mão direita; está em pé com a mão esquerda na cintura, localiza-se em um plano elevado, como uma colina. Ao fundo, no plano inferior, uma baía: diante da costa, sobre o mar azul, há muitas embarcações à vela ancoradas. Elas são de diferentes tamanhos. Há também algumas poucas canoas. Na embarcação maior, à direita, há bandeiras azuis hasteadas nos mastros na embarcação. Em torno da baía, à esquerda e ao fundo, há terra coberta de vegetação verde com poucas construções e alguns morros.  No canto inferior direito, uma bússola de cor dourada.
Representação do pirata galês Bartólomiu Róberts, também conhecido como Bléc Bart. 1724. Gravura. Biblioteca da Universidade da Carolina do Léste, Greenville, Estados Unidos. Bléc Bartviveu entre os séculos dezessetee dezoito, época de intenso movimento nas viagens ultramarinas de diversos reinos europeus.

A fase comercial da exploração da América do Norte

Os piratas que atuavam para a Coroa inglesa recebiam um documento chamado “carta de corso”, que declarava que eles navegavam a serviço do rei. Por isso, eles eram conhecidos como corsários. O alvo principal dos corsários eram as embarcações espanholas que se dirigiam à Europa carregadas de metais preciosos extraídos das colônias americanas. As expedições e as navegações inglesas e francesas no norte da América, durante o século dezesseis, se diferenciaram das espanholas e das portuguesas no continente americano, pois não resultaram em conquistas militares e processos colonizatórios.

Nesse período, o contato dos ingleses e dos franceses com os povos ameríndios era basicamente comercial. Entre os principais produtos comercializados, estavam gêneros alimentícios, peles de animais, objetos de metal e tecidos. Somente no século dezessete, regiões costeiras da América do Norte foram efetivamente ocupadas.

Ingleses, franceses e holandeses na América do Norte (século dezessete)

Mapa. Ingleses, franceses e holandeses na América do Norte. Século 17. Mapa representando a costa leste da América do Norte, da Baía de Hudson, ao norte, ao Golfo do México, ao sul. Alguns territórios estão destacados por cores distintas. Na legenda, 'Territórios coloniais': Em amarelo, 'Ingleses', ocupando o território no entorno da Baía de Hudson, o centro e o sul da Terra Nova e o litoral da América do Norte banhado pelo Oceano Atlântico, desde a região da Nova Escócia no Cabo Sable até a região ao norte da Península da Flórida. Nesse território, há o destaque em texto: 'Colônias Inglesas'. Em rosa, 'Franceses', abrangendo territórios na Península do Labrador (a leste da Baía de Hudson), o extremo norte da Terra Nova, o território em torno do Rio São Lourenço (incluindo as cidades de Quebec e Montreal, que se localizam no território que hoje corresponde ao Canadá), o território em torno do Lago Winnipeg, o território em torno dos Grandes Lagos (Superior, Huron, Michigan, além dos lagos Ontário e Eriê), a região em torno do Rio Mississípi (desde a nascente ao sul do Lago Itasca, a oeste dos Grandes Lagos, até a foz, no sul, no Golfo do México.  No sul, a oeste do Rio Mississípi, há o destaque em texto: 'Louisiana'. Em laranja, 'Holandeses', ocupando pontualmente um território a oeste de Long Island, em meio ao território dominado pelos ingleses, cuja cidade de referência era Nova Amsterdã, hoje Nova York. Com listras diagonais nas cores rosa e amarelo, as 'Zonas disputadas entre franceses e ingleses', destacando três territórios: dois deles, situados no território que hoje corresponde ao Canadá, um no noroeste da Península do Labrador, entre a Baía de Hudson e a Terra Nova; outro mais ao sul, ao norte dos Grandes Lagos. E o terceiro, no território que hoje corresponde aos Estados Unidos se estendendo desde o sul do Rio São Lourenço, a leste dos lagos Ontário e Eriê, passando pela região em torno do Rio Ohio, até o norte da Península da Flórida. Uma linha cinza indica a 'Divisão política atual entre os países', Canadá e Estados Unidos. Os franceses ocupavam vastos territórios da região que hoje corresponde aos Estados Unidos e os ingleses ocupavam vastos territórios na região que hoje corresponde ao Canadá. À direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 415 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 209.

Francis Drêic

Financiado pela rainha Elizabeth primeira, o corsário inglês Francis Drêic partiu, em 1577, rumo às terras americanas. Seguindo a mesma Róta de Fernão de Magalhães, ele e sua tripulação atingiram o oceano Pacífico após assaltar pequenas povoações da costa ocidental da América espanhola e saquear navios ancorados na costa de Lima, no atual Peru. O corsário retornou à Inglaterra em 1581, após realizar a primeira viagem inglesa de circum-navegação, levando toneladas de ouro e prata.

Pintura. Sobre um fundo preto, o retrato de um homem. Ele é visto do busto para cima. É um homem de cabelos castanhos, curtos e encaracolados, bigode e barba castanhos e bochechas rosadas que veste uma blusa marrom com bordados dourados e uma gola branca de renda. Ele olha para frente e, à esquerda, ao lado dele, sobre o fundo, há o texto escrito em tinta dourada com a grafia da época: 'Sir Francis Draek'.
Rondius, Ióducus. Retrato de Frencis Dreic. Séculos dezesseis-dezessete. Pintura, 31,8 por 32,4 centímetros. Galeria Nacional de Retratos, Londres, Inglaterra.

A formação das treze colônias

Entre 1584 e 1587, a Coroa inglesa iniciou a tentativa de colonização da América do Norte por meio de expedições organizadas por nobres, com o objetivo de ocupar os territórios encontrados. No entanto, doenças, fome e ataques de grupos nativos levaram essas iniciativas ao fracasso. Diante disso, a Coroa inglesa estabeleceu acordos com companhias comerciais, como a de Londres e a de Plymouth. O govêrno inglês reconhecia o direito dessas companhias às terras que fossem conquistadas e garantia a elas o monopólio do comércio entre a região e a Europa. Em seguida, colonos independentes começaram a migrar, em busca de um novo lugar para viver.

Os primeiros colonos independentes na América do Norte desembarcaram do navio Mayflower e fundaram a cidade de Plymouth, em 1620. Muitos deles eram puritanos (protestantes calvinistas) que fugiam de perseguições religiosas na Europa e ficaram conhecidos como “pais peregrinos” (pilgrim fathers). A crise econômica e a falta de terras para os camponeses na Inglaterra também foram fatores que estimularam a migração de colonos para a América. Depois deles vieram outros, como franceses, holandeses, irlandeses e alemães, que formaram as treze colônias da América do Norte.

A esperança de melhores condições de vida na América do Norte parecia estimular a ideia de criar um “novo mundo”. Por isso, em muitos dos nomes dados às colônias, aparece a palavra “novo” ou “nova”, como Nova Inglaterra, Nova França, Novos Países Baixos ou Nova Holanda e Nova Amsterdã (atual Nova York).

Servos temporários

Trabalhadores ingleses compunham parte dos que migraram para a América do Norte. Em geral, eram pessoas pobres que aceitavam trabalhar nas novas terras sem remuneração, em troca do pagamento das despesas de viagem, na condição de servos temporários. Geralmente, depois de sete anos, os servos ficavam livres para estabelecer seu próprio negócio.

Pintura. Vista do convés de uma embarcação de madeira à vela. O convés está coberto por tecidos na cor bege, e há um grupo formado por homens, mulheres e crianças dispostos sobre o piso de madeira. Algumas pessoas estão em pé, outras, sentadas ou ajoelhadas. Uns estão olhando para o chão, outros olhando para cima. No centro do grupo, há um homem de olhos claros, cabelos lisos, longos e brancos, barba espessa branca, vestido com um traje bege, com um dos joelhos apoiado no chão e o outro flexionado à frente de seu corpo. Sobre o joelho, ele apoia um grande livro aberto, que segura com as duas mãos. Ele olha para o alto. À esquerda dele, há uma mulher sentada no chão, com a cabeça e os ombros cobertos por um tecido branco. Com um dos braços, ela abraça um menino de cabelos lisos, longos e castanhos, vestido com casaco e calças de cor marrom, meias longas brancas e um lenço branco amarrado ao pescoço. O menino segura a mão da mulher à direita dele. Vistos de costas, um homem e uma mulher estão ajoelhados, com as cabeças e as costas curvadas, as mãos na frente do corpo, unidas em posição de oração. Ela usa o cabelo castanho preso em um coque e veste um vestido preto com mangas longas e gola branca de renda. Ele tem cabelos curtos e castanhos e veste um casaco dourado com uma gola armada, redonda, branca, de tecido pregueado. Há um homem em pé, visto de costas, com um traje preto e um cantil prateado amarrado em um cordão às suas costas. Em pé, há uma mulher vista de lado, com cabelos curtos, claros e lisos e um chapéu de abas cor de rosa enfeitado com plumas brancas. Ela veste um vestido de corpete vermelho com um laço, mangas longas e bufantes na cor branca,  saia armada na cor branca e um manto cinza com uma gola de renda branca. Ela está de olhos fechados, com a cabeça inclinada, uma mão sobre o peito, a outra segurando um lenço branco. Ao lado dela, há um homem loiro de cabelos curtos e barba cheia, com um casaco amarelo bordado, um manto marrom em um dos braços, os olhos fechados, a cabeça inclinada para baixo e as mãos cruzadas em frente ao corpo em um gesto solene de respeito. Ao fundo, há pessoas em pé. Uma mulher de coque, em pé, vista de costas, com uma mão sobre a testa e a cabeça inclinada; um homem com chapéu de peregrino, barba e bigode espessos, apoia a mulher; há também uma outra mulher, vista de frente, com um bebê no colo. À direita, há dois homens ajoelhados. Um homem calvo de barba longa, com traje escuro com detalhes dourados e gola branca, redonda, de tecido pregueado. Ele segura um chapéu de peregrino (na cor verde com uma faixa vermelha) em uma das mãos e tem a cabeça inclinada e os olhos baixos, como se rezasse. O outro homem, à direita, veste um traje longo na cor preta, com golas e punhos brancos. Também está ajoelhado e tem as mãos abertas ao lado do corpo, com as palmas voltadas para cima. Com a cabeça inclinada para cima, ele olha para o alto.  Mais à direita, ao lado de uma mulher loira com um manto vermelho ajoelhada e vista parcialmente, há um homem loiro de cabelos curtos e barba espessa com um dos joelhos sobre o chão e o outro flexionado à frente do corpo dele. Ele tem as mãos unidas em frente ao corpo em posição de oração. Veste uma blusa de mangas compridas na cor amarela, uma armadura de metal prateado sobre a blusa, uma calça vermelha com uma listra lateral vertical amarela, meias longas vermelhas e sapatos marrons. Atrás deles, há uma mulher e uma menina, ambas ajoelhadas, a menina com as mãos unidas à frente do corpo em posição de oração; a mulher, curvada com a cabeça inclinada parecendo orientar a menina. Ao fundo, mais algumas pessoas em pé. À direita, há pessoas, em pé, fora da embarcação, no ancoradouro. Entre elas, uma mulher loira de chapéu cor de rosa, enxugando as lágrimas em seu rosto com um lenço grande e branco. À esquerda, ao fundo, na lateral da cobertura de tecido bege, o céu nublado de cor cinza e um arco-íris. À direita, ao fundo, ao lado da cobertura de tecido bege,  vista parcial de prédios antigos da cidade e pessoas aglomeradas se despedindo.
Uíer, Róbert Uálter. Embarcação dos pais peregrinos em 1620. 1857. Óleo sobre tela, 121,9 por 181 centímetros.Museu de Arte do Brooklyn, Nova York, Estados Unidos.

Ler a pintura

• Em seu diário de bordo, o líder puritano Uílham Brédfordescreveu que, ao chegar à América, os puritanos fundariam uma colônia para a “glória de Deus”. Que elementos desta pintura representam esse projeto?

Relação entre indígenas e colonos

Conta a tradição que, após chegarem à América no Mayflower e fundarem a colônia de Plymouth, no atual estado de Massachusetts, os colonos enfrentaram um terrível inverno e muitos morreram de fome e frio. Porém, com a ajuda de indígenas Uampanôag, que lhes forneceram alimentos e sementes de milho para o cultivo, os colonos teriam sobrevivido. Essa história é lembrada até hoje e celebrada em uma das principais festas nacionais do país: o Dia de Ação de Graças.

O fato é que, apesar desse episódio, as relações entre colonos e indígenas foram muito conflituosas. De norte a sul, os ingleses invadiram os territórios habitados pelos indígenas, que reagiram com ataques ou guerras. A população nativa diminuiu de fórma drástica, caindo de 10 milhões de pessoas, no começo do século dezesseis, para 600 mil indivíduos no final do século dezoito.

Diferentemente do que ocorria nas colônias espanholas e portuguesa na América, os protestantes ingleses não promoveram a evangelização sistemática dos povos indígenas. O resultado desse modêlo de colonização foi a formação de uma sociedade com quase nenhuma integração entre ameríndios e brancos.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Dia de Ação de Graças

História em quadrinhos. História em dois quadros dispostos verticalmente. Na parte superior, cena com o título: 'O primeiro dia de ação de graças'. Uma grande mesa de madeira marrom vai de uma extremidade a outra da cena. Sobre a mesa, há muitos pratos, como peru assado, tigelas com frutas,  copos, pães, folhas. No chão, à frente da mesa, há muitas abóboras, cestos com pães, milho e frutas de várias cores e tamanhos (maçã, uva, pera entre outras). Sentadas à mesa, dez pessoas, homens e mulheres. Entre elas há indígenas com cocares de penas e colonos europeus com chapéus  de peregrino, chapéus de abas, compridos, altos, na cor azul, com faixas pretas com uma fivela no centro. Todos estão alegres, sorrindo, com as bocas abertas, alguns segurando alimentos com as mãos. Em cada uma das pontas da cena há uma árvore com folhas de cor laranja e amarela caindo. No segundo quadro, abaixo, cena com o título: 'O segundo dia de ação de graças'. O mesmo cenário, com os alimentos parcialmente consumidos e, agora, há apenas duas pessoas indígenas com cocares com penas coloridas sentadas à mesa, conversando. Uma das pessoas com o balão de fala: 'Eu acho que esse dia de festa devia ser mais especial quando as pessoas não tinham que sair correndo para ficar na fila das vendas da Black Friday'.
Teivis, bóbiTeivis, Tom. O primeiro e o segundo Dia de Ação de Graças. 2014. História em quadrinhos.
  1. O Dia de Ação de Graças é comemorado anualmente nos Estados Unidos na quarta quinta-feira do mês de novembro. No dia seguinte, acontece a famosa Black Friday. Você sabe o que é?
  2. Que recursos foram utilizados na história em quadrinhos para apresentar com humor uma visão crítica da comemoração do Dia de Ação de Graças? Explique.

As colônias do norte e do centro e as colônias do sul

Com base nos tipos de atividade econômica que foram desenvolvidos e na estrutura social que se formou, as treze colônias podem ser agrupadas em colônias do norte e do centro e em colônias do sul.

O clima do norte e do centro, com invernos rigorosos, dificultou o cultivo de produtos tropicais e semitropicais, valorizados no comércio internacional. Interessados em praticar uma atividade rentável na região, os colonos desenvolveram, desde cedo, o comércio, as manufaturas e a pesca.

Nas colônias do norte, chamadas de Nova Inglaterra, predominava uma economia agrícola voltada ao mercado interno e praticada em pequenas propriedades pela própria família, com mão de obra livre e, em alguns casos, com a presença de servos temporários. Além disso, os colonos fabricavam navios, que eram usados no comércio marítimo e na atividade pesqueira. Embora pouco numerosos, havia africanos e indígenas escravizados nas colônias do norte e do centro.

Nas colônias do sul, o clima mais ameno possibilitava o cultivo de produtos agrícolas valorizados no mercado europeu, como o tabaco e o algodão. A atividade agrícola era realizada em grandes propriedades monocultoras, com o predomínio de trabalhadores africanos escravizados. Essa produção era vendida, sobretudo, para a Europa, por meio das companhias inglesas de comércio.

As treze colônias inglesas (séculos XVII-XVIII)

Mapa. As Treze Colônias inglesas. Séculos 17 e 18. Mapa representando a costa leste da América do norte, desde a região ao sul do Golfo de São Lourenço (no norte) até a Península da Flórida (no sul). Alguns territórios estão demarcados em cores distintas. Na legenda, em lilás, 'Colônias do norte (Nova Inglaterra)'. Incluindo: Massachussetts, Rhode Island, Nova Hampshire e Connecticut. Em cor de rosa, 'Colônias do centro'. Incluindo: Nova York, Pensilvânia, Nova Jersey e Delaware. Em cor de laranja, 'Colônias do sul'. Incluindo: Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia. À oeste da Virgínia, os Montes Apalaches e os territórios franceses.  Ao sul, na Península da Flórida, os territórios espanhóis. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 220 quilômetros.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 62.

Ícone. Sugestão de vídeo.

O NOVO mundo. Direção: Térence Mélic. Estados Unidos, 2005. Duração: 136 minutosNo filme, um oficial inglês chega, em 1607, às terras dos atuais Estados Unidos e se apaixona pela filha de um grande líder indígena.

A autonomia das treze colônias

Apesar das distinções entre as colônias do norte e do centro e as colônias do sul, as treze colônias tinham muitos elementos em comum: o predomínio do protestantismo, a ausência de um comando político centralizado, a independência de cada uma delas e a razoável liberdade em relação à Coroa inglesa. Mesmo devendo obediência ao Estado inglês, dispunham de relativa autonomia na sua organização interna e nas decisões políticas.

A organização política atual dos Estados Unidos reflete, de certa fórma, a independência das treze colônias. Os 50 estados que formam o país têm autonomia para adaptar as determinações da Constituição à sua própria realidade e apresentam diferenças em alguns dispositivos legais; por isso, alguns estados admitem, por exemplo, a pena de morte e outros não; há também uma variação da maioridade penal entre 16 e 18 anos.

O comércio triangular

Os colonos ingleses exportavam gado, peixes, madeira e alimentos para as ilhas do Caribe. Lá, eles obtinham açúcar e melaço, que eram utilizados para o consumo local e principalmente para a fabricação de rum. A bebida era usada como moeda de troca na compra de pessoas escravizadas na África, que depois eram revendidas sobretudo no Caribe e nas grandes propriedades das colônias sulistas. Os colonos ingleses também aproveitavam os artigos obtidos no Caribe para adquirir tecidos e ferramentas produzidos na Inglaterra. Esse sistema ficou conhecido como comércio triangular e possibilitou a integração entre as treze colônias, e entre elas e a metrópole inglesa.

Os lucros do comércio triangular propiciaram o desenvolvimento das manufaturas nas colônias do norte e do centro e favoreceram o surgimento de uma rica burguesia mercantil na América.

O comércio triangular (séculos dezessete-dezoito)

Mapa. O comércio triangular. Séculos 17 e 18. Mapa representando parte da América do Norte, com foco na costa leste; parte das Antilhas, com foco em Cuba, Porto Rico e Jamaica; o norte da América do Sul e a costa oeste da África. No centro do mapa, o Oceano Atlântico.  Territórios na costa leste da América do Norte estão destacados em cor de laranja. Setas coloridas indicam rotas comerciais. Na, legenda,  Pontos pretos indicam: 'Principais portos nas Treze Colônias'. Destaque para Boston, Newport, Nova York, Filadélfia, Norfolk e Charleston. Territórios destacados em cor de laranja indicam, 'Área de colonização inglesa (Treze Colônias)'. Destacando um território desde o sul do Golfo de São Lourenço (no norte) até o norte da Península da Flórida (no sul). Uma seta vermelha indica a rota das 'Treze Colônias para a África'.  Saindo da altura do porto de Newport, na costa leste da América do Norte, atravessando o Atlântico no rumo sudeste até a região do Golfo da Guiné no oeste da África. Nessa seta, há o texto 'rum, armas e tecidos'. Setas verdes indicam, rotas da 'África para a América Central'. Saindo da região do Golfo da Guiné, no oeste da África, atravessando o Oceano Atlântico no rumo oeste até as Antilhas, dividindo-se em duas rotas, uma para Porto Rico, outra para a Jamaica. Nessa seta, há o texto: 'escravizados e ouro'. Setas azuis indicam as rotas da 'América Central para as Treze Colônias e vice-versa'. Saindo da região das Antilhas, entre Cuba e Jamaica, atravessando o Mar das Antilhas no rumo norte até a costa leste da América do Norte.  A seta se divide em dois caminhos no Mar das Antilhas: uma indica 'escravizados', e liga a região das Antilhas até o porto de Charleston. Outra indica, 'moedas e açúcar, melaço e cana', e liga as Antilhas ao porto de Nova York. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 915 quilômetros.

Fonte: NARO, Nénci Priscilla S. A formação dos Estados Unidos. São Paulo: Atual; Campinas: unicâmpi, 1987. página15.

A presença de pessoas escravizadas

O comércio de pessoas escravizadas foi praticado nas treze colônias inglesas de maneira distinta em cada uma das regiões. O sul absorvia a maior parte dessa mão de obra, que chegou a totalizar cêrca de setecentas e cinquenta mil pessoas no final do século dezoito, a maioria originária da África Ocidental, principalmente de Angola e Guiné.

Gustavo Vassa (1745-1797), nascido no reino do Benin, escravizado e levado para os Estados Unidos (onde foi batizado com nome cristão), descreveu, em 1794, a fórma como os sobreviventes da travessia do oceano eram leiloados nos mercados da América.

Conduziram-nos imediatamente ao pátioreticências como ovelhas em redil, sem olharem para idade ou sexo. Como tudo me era novo, tudo o que vinha causava-me assombro. Não sabia o que diziam, e pensei que esta gente estava verdadeiramente cheia de mágicasreticências A um sinal de tambor, os compradores corriam ao pátio onde estavam presos os escravos e escolhiam o lote que mais lhes agradava. O ruído e o clamor com que se fazia isso e a ansiedade visível nos rostos dos compradores serviam para aumentar muito o terror dos africanosreticências Dessa maneira, sem escrúpulos, eram separados parentes e amigos, a maioria para nunca mais voltarem a se ver.

KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2008.página 63.

Em todas as colônias, a integração social e a mestiçagem dos africanos escravizados com os colonos brancos foram muito pequenas. No entanto, apesar de as culturas africanas terem sido intensamente reprimidas, os escravizados encontraram diversas maneiras de preservá-las e de resistir à escravidão, como por meio das fugas, da sabotagem da produção e dos equipamentos e das rebeliões.

Gravura. Sobre um fundo de papel amarelado, vista de um local aberto, com  um barracão feito de vigas de madeira e o teto coberto de palha; sobre o solo há grama verde. Na parte inferior direita da gravura, seis plantas verdes formam uma linha horizontal representando uma plantação. Há cinco homens negros e descalços trabalhando em diferentes etapas da produção de tabaco: no canto inferior esquerdo da gravura, fora do barracão, há um homem de cabelos curtos e castanhos sentado no chão com as pernas esticadas; ao redor dele há folhas de tabaco soltas e ele amarra as folhas em seu colo com uma espécie de corda. No barracão, quatro pessoas trabalham. Ao fundo, uma pessoa mais baixa que as demais, de cabelos curtos e castanhos, nua, segura um maço de folhas de tabaco; à frente dela, outra pessoa amarra feixes de folhas de ponta cabeça, formando linhas de chumaços de folhas marrons no teto do barracão, para a secagem das folhas. No meio da construção, um homem de cabelos curtos e castanhos vestido com calças curtas cor de rosa segura um bastão de madeira com o qual ele gira uma roda feita de madeira. Ao redor dele, há barris de madeira e uma bacia marrom, de madeira, vazia. Ao redor da bacia, há folhas de tabaco sobre o chão. À direita, um homem de cabelos castanhos e curtos vestido com um tecido branco em torno de sua cintura enrola uma corda de fumo em um carretel de madeira apoiado horizontalmente sobre dois ganchos verticais em forma de 'y'. Acima do telhado do local, a copa de uma árvore de folhas verdes.
BIASIOLI, Angelo. Escravos africanos preparando tabaco na colônia da Virgínia. cêrca de1790. Gravura, 36 centímetrosde altura. Biblioteca Nacional da Austrália, Camberra. O uso da mão de obra africana escravizada nas colônias do sul marcou a história dos Estados Unidos. Até hoje, a população afrodescendente do país luta por melhores condições – de vida e contra a violência, o preconceito e a discriminação.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Quais eram as principais atividades econômicas desenvolvidas nas colônias do norte e centro e nas colônias do sul?
  2. Observe o mapa a seguir. Ele representa as viagens de circum-navegação realizadas por Fernão de Magalhães a serviço da Coroa espanhola e, anos depois, pelo corsário Francis Drêic a serviço da Coroa inglesa.

VIAGENS DE CIRCUM-NAVEGAÇÃO

Mapa. Viagens de circum-navegação. Planisfério. Setas de cor vermelha e de cor azul indicam rotas de navegação. Na legenda, a seta vermelha indica: 'Fernão de Magalhães (1519-1522)'. A seta azul indica, 'Francis Drake (1577-1580)'. Destacada por setas vermelhas, a viagem realizada por Fernão de Magalhães entre 1519 e 1522, iniciou-se no sul da Espanha, tomou a direção sudoeste no Oceano Atlântico, atravessando a Linha do Equador e alcançando a costa leste da América do Sul, na altura da região que hoje corresponde ao estado brasileiro de Pernambuco. Contornou a costa da América do Sul, aportando na região da foz do Rio da Prata e seguiu, no rumo sul, aportando na região da Patagônia Argentina. Seguiu o rumo oeste, atravessando o Estreito de Magalhães, no sul da América do Sul, e atingiu o Oceano Pacífico, atravessou a Linha do Equador no Pacífico, navegando ao norte de Papua-Nova Guiné até atingir a região que hoje corresponde às Filipinas, chegando ao norte da Ilha de Bornéu, onde hoje se localiza parte da Malásia.  Rumou para o sul, no Mar de Banda, atravessando a região que hoje compreende a Indonésia, atingindo o Oceano Índico, e navegou na direção sudoeste, passando ao sul da Ilha de Madagascar, aportou na costa leste do sul da África, retornou para o mar, circundou o Cabo da Boa Esperança, contornando-o até atingir o Oceano Atlântico. Navegou no rumo noroeste, atravessou o Meridiano de Greenwich, contornando o oeste africano e terminou sua viagem de circum-navegação retomando a rota na costa noroeste da África até atingir a costa sul espanhola. Destacada por setas azuis, a viagem de Francis Drake, realizada entre 1577 e 1580, partiu do sul da Ilha da Grã-Bretanha, navegando pelo oceano Atlântico no rumo sul, contornou a Península Ibérica,  e navegou pela costa noroeste da África até o sul da região de Cabo Verde, atravessando o Atlântico, atravessando a Linha do Equador e alcançando a costa leste da América do Sul, pela qual navegou até atingir o Estreito de Magalhães. Navegou para oeste e atravessou o Estreito de Magalhães. Retornou para o leste e navegou ao sul da Terra do Fogo. Retomou o rumo oeste e alcançou a costa oeste da América do Sul, na região banhada pelo Pacífico, que hoje corresponde ao litoral do Chile. Contornou o oeste da América do Sul, tomando o rumo norte e navegando pela costa americana do Pacífico, aportou na região que hoje corresponde ao Chile e seguiu no rumo noroeste aportando no território que hoje corresponde ao Peru; seguindo pelo noroeste aportou também na região que hoje corresponde ao Equador. De lá partiu até atingir a América Central, onde aportou na região que hoje pertence à Nicarágua e no território que hoje compreende o extremo sul do México. Em seguida, navegou no rumo leste e depois no rumo norte, até a costa oeste da América do Norte, onde aportou na região que hoje corresponde à cidade de San Francisco. De lá, tomou a direção sudoeste, atravessou a Linha do Equador no Pacífico, e navegou ao norte de Papua-Nova Guiné. Aportou em ilhas do Pacífico e na região que hoje corresponde às Filipinas e tomou a direção sul na região das Ilhas Molucas.  No Mar de Banda, navegou em torno de ilhas que hoje compreendem a Indonésia. Tomou o rumo oeste, atravessou as Pequenas Ilhas Sonda e atingiu o Oceano Índico. Navegou no rumo sudoeste, na direção do sul da África, passou ao sul da Ilha de Madagascar, passou ao sul da África, contornou o oeste da África, navegando no Oceano Atlântico no rumo noroeste e atravessou o Meridiano de Greenwich. Atravessou a região do Cabo Verde, no Atlântico, seguindo no rumo norte até a Ilha da Grã-Bretanha. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 3.000 quilômetros.

Fonte: insaiclopidia britânica. Disponível em: https://oeds.link/1AQUcI. Acesso em: 27 janeiro 2022.

  1. Compare os trajetos realizados por Fernão de Magalhães e por Francis Drêic. Qual a principal diferença entre as rótas percorridas por eles?
  2. Qual seria a intenção das coroas que financiaram essas viagens de circum-navegação?

3. Observe e compare as imagens a seguir. Depois responda às questões.

Ilustração. Em um local aberto, diante do mar, um encontro entre indígenas e colonos. No centro, uma mulher branca de cabelos castanhos cobertos por uma touca branca, vestida de avental branco e vestido rosa oferece comida para um homem indígena sentado ao chão. Este está com o dorso nu, calças brancas e um cocar de penas brancas sobre a cabeça. Ao lado dele, no chão, uma vasilha com alimento de cor branca. Em torno dele há outras pessoas indígenas, homens e mulheres, vistos de lado e de costas, sentados no chão. Ao fundo, à esquerda, outras pessoas estão em pé. À frente desse grupo, dois homens brancos, um de cabelo e barca brancos e traje preto com gola redonda, armada na cor branca, outro de barba escura, corro vermelho, blusa vermelha listrada, segurando uma arma de fogo de cano longo apoiada em seu ombro. à esquerda deles, duas mulheres, uma branca e a outra indígena, está em pé, caminhando, lado a lado. A mulher branca usa uma touca branca e um vestido cinza e tem uma das mãos estendida à frente. A mulher indígena tem os cabelos longos, lisos e pretos, veste um vestido de cor bege e tem uma das mãos apoiada na cintura. À direita, há um grupo de pessoas, homens, mulheres e crianças brancos, em volta de uma mesa de madeira, vestindo roupas que cobrem o corpo inteiro. Um homem de chapéu alto preto e traje preto com gola branca segura uma vasilha nas mãos. Outro homem, próximo a ele, veste uma armadura de metal, com blusa vermelha, traz um elmo de metal sobre a cabeça e uma espada na cintura e está com uma das mãos apoiada na mesa. Uma criança comendo um bocado que segura com suas mãos e um cachorro de pelagem branca com manchas marrons conferem um atmosfera amigável à cena. Em segundo plano, outras pessoas em pé, conversam e observam a cena principal. Ao fundo, árvores, um rochedo cinza e um pedaço de mar azul.
Féris, Din León Gérome. Primeiro Dia de Graças em 1621. cêrca de1932. Ilustração. Biblioteca do Congresso, uóshinton, Estados Unidos da América
Gravura. Vista de um local aberto. Em primeiro plano, à esquerda, três homens brancos, vistos de costas e de lado, armados com espingardas e espadas, observam a chegada de um indígena, no centro da imagem. Os homens brancos usam chapéus altos nas cores preta, marrom e vermelha. Usam blusas em tons de marrom, azul e vermelho, calças pretas e botas de cano longo marrons. No centro da imagem, um homem indígena, de longos cabelos pretos.  Ele veste uma tanga laranja e usa um cocar de penas vermelhas sobre a cabeça. Em  primeiro plano, à esquerda, vista de costas, uma mulher sentada sobre um tronco de árvore cortado. Ela usa uma touca branca cobrindo os cabelos e veste um vestido longo de mangas compridas vermelho. Ao lado dela, há uma cesta de piquenique. Acima, à esquerda, uma mulher branca com lenço branco na cabeça, vestido longo azul e manto marrom está de costas para o indígena no centro da imagem e abraça um homens em pé, atrás dela em busca de proteção. Ao redor deles, há mais dois homens brancos, de chapéu alto, trajes com golas brancas armadas, redondas, blusas coloridas, calças pretas, e botas de cano alto. Eles estão em pé. Um deles segura uma  arma de fogo de cano longo apoiada no chão, deixando-a à vista. Ao fundo, uma casa de tijolos e telhado de palha, algumas árvores e um céu cinza.
Representação do encontro dos peregrinos na América inglesa com indígenas. Século dezenove. Gravura.
  1. Como os colonos parecem se relacionar com os indígenas em cada uma das imagens?
  2. Elabore uma hipótese para explicar as diferentes visões do encontro de indígenas e colonos representadas nas imagens.

CAPÍTULO 12  A COLONIZAÇÃO ESPANHOLA NA AMÉRICA

Os conquistadores espanhóis se lançaram com avidez sobre as riquezas encontradas nas terras americanas. Para garantir seus ganhos, a Coroa espanhola precisava organizar a exploração econômica da região. Assim, um complexo sistema administrativo foi criado com a finalidade de incorporar a América, política e economicamente, ao nascente Império Espanhol.

Após a queda dos principais impérios indígenas pré-colombianos, a Coroa espanhola inseriu representantes na administração colonial, visando consolidar a conquista e garantir a exploração econômica dos territórios. A América espanhola foi dividida administrativamente em vice-reinos, ao mesmo tempo que algumas instituições foram criadas para exercer o contrôle político e econômico no território, atendendo aos interesses da política mercantilista do govêrno espanhol.

Pintura. Mural representando um local aberto, com várias cenas sobrepostas. Na parte inferior da pintura, no subsolo escuro, há quatro homens negros vestidos apenas com um tecido ao redor do quadril. Um carregando lenha em feixes em suas costas; outro, sentado no chão alimentando uma fornalha; outro em pé organizando materiais à frente dele; e outro com as costas curvadas, também organizando materiais à frente dele. No canto esquerdo do subsolo, um homem branco de chapéu com um traje composto de casaco e calça e com uma espada presa à cintura, aponta para a direita e olha para o homem com os feixes de lenha às costas. Nesse subsolo, além da fornalha, há máquinas formadas por cilindros mecânicos e uma roda como a de um moinho, de cor amarelada. Acima, em primeiro plano, três homens brancos conversam entre si, trazendo sacos nas mãos e trocando moedas. Um deles, no centro, vestido de preto com um chapéu alto e preto, faz anotações à pena em um livro. Os dois homens com os sacos de moedas estão frente a frente, vestidos com coletes e chapéu, blusas de mangas bufantes, meias longas coloridas (um de meia branca outro de meia vermelha) e sapatos abertos brancos. Um traz colares com medalhões no pescoço (à esquerda) e o outro uma espada pendurada na cintura e uma arma de fogo de cano longo presa às suas costas (à direita). À esquerda dessa cena, dois homens brancos, são vistos de costas, um deles veste uma armadura metálica o outro um traje de mangas bufantes na cor amarela; ambos seguram uma pessoa indígena de cabelos longos e pretos, vista de costas, ajoelhada no chão. Os homens estão prestes a queimar o rosto da pessoa ajoelhada com um ferro em brasa. A pessoa tem as mãos amarradas às costas com uma corda e algemas metálicas prendendo seus tornozelos. Outras pessoas estão ao redor, entre as quais um homem negro com um artefato de metal com uma longa ponta presa ao seu pescoço e algemas em seus punhos presas às algemas em seus tornozelos, e um grupo de pessoas indígenas cabisbaixas e abatidas. À direita, vistos de lado, homens indígenas carregam alimentos e grandes sacos presos às suas costas. Alguns seguram no alto, atrás das costas, bandejas com porcos amordaçados. Uma mulher indígena leva seu bebê nas costas, amarrado por um tecido. Mais à direita, em um plano mais baixo, há cavalos e bois e, logo abaixo, cabras e ovelhas,  junto à um cachorro marrom que as ameaça, mostrando os dentes. Em segundo plano, à esquerda, homens brancos montados à cavalo seguram, em posição vertical, bastões compridos com lanças de ferro nas pontas. Eles estão vestidos com armaduras de ferro. Em segundo plano, à direita, um homem branco e loiro, vestido com casaco amarelo e calça amarela, chapéu amarelo sobre a cabeça, está montado à cavalo, à frente de um grupo de bois e de outros animais. Ele segura um bastão amarelo. Mais ao fundo, à direita, há uma cena com dezenas de pessoas  indígenas vistas de costas segurando um grande tronco de madeira,  transportando a madeira sob as chicotadas de um homem branco de chapéu preto. Um pouco abaixo, um homem indígena dirige um arado puxado por um grupo de homens indígenas, que tem as peças do arado atreladas aos seus pescoços, arando a terra de cor laranja, sob as ameaças de um homem branco de chapéu, casaco, calça e botas de cano alto marrons. Esse homem segura uma espada em uma de suas mãos.  Mais ao fundo, pessoas trabalham em rochedos com picaretas e transportam pedras. Em frente aos que transportam madeira, visto de costas, um padre de túnica cinza, ergue um crucifixo de madeira. Ao fundo, grupos de indígenas derrubam árvores puxando seus troncos amarrados em cordas para baixo. Há uma grande árvore, no centro e no topo do mural, com uma mulher e dois homens indígenas com os corpos pendurados por cordas presas aos galhos da árvore e aos seus pescoços. Ao fundo e à esquerda, em um patamar elevado, há uma grande cruz de madeira, um monge branco de túnica marrom lendo um livro com uma das mãos estendida com a palma virada para a direita e um homem branco de blusa marrom e calças amarelas, o chapéu em frente ao seu corpo e uma espada na mão direita. À frente dele, há uma pessoa indígena vista de costas, ajoelhada, com o corpo curvado para frente, os cotovelos no chão, e à frente dela, sobre um tecido, joias de ouro, organizadas como uma oferenda. Ao pé da árvore, uma estrada por onde homens indígenas carregam blocos de pedra às suas costas, há um carro de boi e a estrada termina em uma área com uma vila e pequenas plantações. Mais ao fundo, à esquerda, uma árvore com o corpo de uma pessoa pendurada de ponta cabeça, presa pelos pés com uma corda amarrada aos galhos. Mais ao fundo, à esquerda, uma praia com algumas embarcações no mar.
Rivera, Diego. A chegada de hernãn cortês a Veracruz. 1942­‑1951. Afresco, 4,02 por 5,27métros Detalhe. Palácio Nacional, Cidade do México, México.

A administração colonial

Antes de iniciar a exploração da parte continental da América, a Coroa espanhola criou, em 1503, o primeiro órgão encarregado de administrar, da Espanha, as colônias americanas: a Casa de Contratação. A instituição regulamentava a administração colonial, nomeava os funcionários e fiscalizava a coleta do quinto, imposto cobrado pela Coroa que recaía sobre a mineração e as transações comerciais da colônia. Encarregava-se também de garantir o monopólio do comércio colonial fiscalizando os navios que partiam das colônias e chegavam ao reino espanhol.

Em 1524, após a queda do Império Asteca, foi criado o Conselho das Índias, órgão encarregado de tomar as decisões relativas às colônias. Suas reuniões podiam ser lideradas pelo próprio rei, que indicava pessoas de sua mais alta confiança para os principais cargos do conselho.

Depois, para facilitar ainda mais o contrôle administrativo da colônia pela metrópole, a América espanhola foi dividida em vice-reinos. O Vice-Reino da Nova Espanha foi o primeiro a ser criado, em 1535, seguido pelo Vice-Reino do Peru, em 1543, e pelos demais vice-reinos. Os vice-reis eram membros da nobreza ou da burguesia espanhola. Na América, eles representavam o rei, portanto eram as mais altas autoridades coloniais. Os vice-reis cuidavam dos assuntos administrativos, militares e religiosos. Eles ainda presidiam as audiências, nas quais exerciam o papel de autoridade judicial.

Outro órgão muito importante era o cabildo. Espécie de conselho municipal, os cabildos tratavam de vários assuntos, como segurança, abastecimento e uso dos espaços públicos.

A América espanhola (século dezoito)

Mapa. A América espanhola. Século 18. Mapa representando a América Latina, entre os oceanos Pacífico e Atlântico, com os territórios da América espanhola no século 18 destacados em diferentes cores. Em lilás, na América do Norte e Central, o Vice-Reino da Nova Espanha, com destaque para as cidades de: México e Vera Cruz. Em verde, na América do Norte, na Península da Flórida, a Flórida, e no Caribe, a Capitania Geral de Cuba, com destaque para a cidade de Havana. Em vermelho, no Caribe, no Mar das Antilhas, a ilha de São Domingo, com destaque para a cidade de São Domingo. Em amarelo, na América Central, ao sul do Vice Reino da Nova Espanha, a Capitania Geral da Guatemala, com destaque para a cidade de Guatemala. Em rosa, na América do Sul, o Vice-Reino da Nova Granada, com destaque para as cidades de Bogotá e Quito. Em verde, no norte da América do Sul, a Capitania Geral da Venezuela, com destaque para a cidade de Caracas. Em marrom, ao sul do Vice Reino da Nova Granada, 0 Vice Reino do Peru, com destaque para as cidades de Lima e Cuzco. Em roxo, ao sul do Vice Reino do Peru, estendendo-se até a Terra do Fogo, o Vice Reino do Rio da Prata, com destaque para a cidade de Buenos Aires. Ao sul e a oeste do Vice Reino do Rio da Prata, em pink, a Capitania Geral do Chile, com destaque para a cidade de Santiago. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 910 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 239; VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 95.

As principais atividades econômicas

Entre as atividades econômicas desenvolvidas nas colônias americanas, a mineração da prata, a partir de 1540, foi a que gerou mais lucros à Coroa espanhola. A atividade mineradora impulsionou outros empreendimentos, como a extração de carvão e a criação de mulas, que serviam como transporte. A produção de tabaco, cana-de-açúcar, anil e algodão, por sua vez, visava abastecer o mercado europeu.

A pecuária e a produção de gêneros alimentícios também tiveram papel importante na economia interna da América espanhola. Entre os principais alimentos cultivados estavam o milho e a batata.

O comércio da seda, trazida das Filipinas através do oceano Pacífico, foi outra atividade lucrativa, mas foi proibida pelo govêrno espanhol por escapar ao seu contrôle tributário. O negócio enriqueceu muitos membros das elites comerciais e mostrou uma face da economia colonial: o comércio interno e o contrabando.

A produção de açúcar também foi uma atividade muito rentável. A cana começou a ser cultivada na Nova Espanha (onde hoje se situa o México), mas o principal centro produtor de açúcar foram as ilhas do Caribe (Cuba e Hispaniola). Com o uso de africanos escravizados e de grandes propriedades agrícolas, a partir do século dezessete, a região se especializou na produção de açúcar, melaço e rum para a exportação.

Gravura. Vista elevada de um local aberto e montanhoso. No centro da gravura, uma cidade com construções alinhadas em bloco, compondo formas quadradas e retangulares, separadas por ruas perpendiculares, tendo ao fundo montanhas, entre as quais se destaca uma grande montanha em forma triangular, de topo afinado. Um rio sinuoso corta a paisagem, à esquerda da cidade, na esquerda da gravura. Atrás da montanha, há um grande lago de cor azul cercado por morros e montanhas de tamanhos diversos, estendendo-se até o horizonte, pintado na cor cinza.  No alto, o céu em azul claro, com partes em rosa claro e uma nuvem branca.  No canto esquerdo da gravura, um quadrado de fundo branco com bordas douradas e o título em espanhol, 'Descrição de cerro Rico e Imperial Vila de Potosí'. Com uma lista de nomes de lugares ilegíveis na reprodução.
BERRIO, Gaspar Miguel. Vista panorâmica dos arredores das montanhas do Cerro Rico, em Potosí, no Vice-Reino do Peru. 1758. Gravura, 180 por 250 centímetros. Museu Tiárcas, Sucre, Bolívia.
A mão de obra indígena

Na maior parte da América espanhola, as populações ameríndias foram usadas como a mão de obra predominante, ou como trabalhadores livres, compulsórios, ou escravizados. A encomienda e a mita eram as principais fórmas de exploração do trabalho indígena.

A encomienda era uma instituição jurídica comum nas terras do Vice-Reino da Nova Espanha. Por meio dela, os encomenderos cobravam tributos de um certo número de indígenas, que trabalhavam na agricultura e nas minas. Além disso, os encomenderos eram encarregados de catequizar os indígenas. O regime de encomiênda rendia altos tributos ao govêrno da Espanha, chegando a totalizar 20% de toda a receita da Coroa.

A mita, por sua vez, era uma instituição de origem inca adaptada pelos espanhóis em suas colônias. Por meio dela, os colonizadores encarregavam os chefes indígenas de selecionar, nas comunidades, pessoas que deveriam ser encaminhadas ao trabalho, principalmente nas minas, onde permaneciam por quatro meses. Os indígenas recrutados recebiam um pagamento e só podiam se ausentar do trabalho mediante autorização.

Gravura em preto e branco. No centro, uma montanha grande com pequenas montanhas ao redor dela. Sobre a montanha principal está escrito: 'Cerro de Potosí'. À frente dela, algumas casas de tamanho pequeno, uma construção com torres e cruz na ponta, e uma pequena estrada à frente. Algumas pessoas caminham próximo às casas.
Representação das minas de prata em Potosí, na Bolívia. c. 1618-1619. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris, França. Originalmente publicada na obra , de Petrus Bertius.
Fotografia. Vista de baixo para cima de local aberto. Em primeiro plano, casas aglomeradas de paredes de cor cinza, telhados de cor marrom, algumas casas inacabadas e outras de tijolos, sem acabamento, e à direita, um prédio baixo de cor branca e vermelha. Em segundo plano, ao fundo, uma montanha grande de cor marrom. No alto, o céu azul claro, sem nuvens.
As minas de prata de Potosí foram o principal centro de exploração de prata na América espanhola. Hoje, a cidade de Potosí, na atual Bolívia, faz parte da lista de patrimônios da humanidade. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de livro.

defou, . Robinson Crusoé. segunda ediçãoSão Paulo: Scipione, 2019. Publicado originalmente em 1719, o livro aborda as aventuras de um náufrago que passa cêrca de 28 anos em uma ilha deserta próxima à costa da atual Venezuela.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

O trabalho nas minas de prata

José de Acosta (1540-1600) foi um padre jesuíta que viveu no atual Peru de 1571 a 1587. Leia, no texto a seguir, como ele descreve o trabalho nas minas de prata de Potosí.

Lá dentro é perpétua a escuridão, sem saber quando é dia ou noite pois são lugares nunca visitados pelo Sol, não somente há perpétuas sombras como também muito frio e um ar muito grosso e impróprio para a natureza humana. E assim se sucede enjoar, quando entra pela primeira vez, como a mim aconteceureticências. Trabalham com velas reticências, repartindo o trabalho, de modo que uns lavram de dia e descansam à noite e, outros, o contrário reticências. O metal é duro, sendo comum retirá-lo a golpe de barretes reticências. Depois sobem com ele às costas, por escadas de couro de vaca retorcido reticências, retira um homem uma carga de duas arrobas e ata a sua manta no peito reticências subindo muitas vezes 250 metros.

ACOSTA, José de. Historia natural y moral de las Índias. In: PRODANOV, Cleber C. Cultura e sociedade mineradora: Potosí, 1569-1670. São Paulo: Annablume, 2002. página 48.

Observe a imagem a seguir. Que relações podemos estabelecer entre a gravura de e o relato de José de Acosta?

Gravura. Vista do interior de uma montanha, com as paredes em estrutura rochosa na vertical. No interior dela, no chão da montanha, homens nus e seminus trabalham com picaretas e carregam pedaços de rocha. Uma longa escada liga o chão do interior da montanha a uma abertura no topo da montanha, por onde se vê o céu. O interior é iluminado por tochas. Ao fundo, do lado de fora da montanha, à esquerda, uma estrada. residências, construções cercadas por vegetação e árvores. No alto, céu em tons de cinza e azul e nuvens brancas.
. Representação do trabalho de indígenas nas minas de Potosí. 1597. Gravura, 36 centímetros de altura. Biblioteca Nacional da Espanha, Madri, Espanha. Estima-se que Potosí, sozinha, produziu mais de 45 mil toneladas de prata.

A sociedade colonial

A sociedade colonial era bastante diversificada, e cada vice-reino desenvolveu um tipo de economia. No Vice-Reino da Nova Espanha e no Vice-Reino do Peru, por exemplo, havia grandes minas de ouro e prata e a mineração tornou-se a principal atividade. As ilhas do Caribe, por outro lado, concentraram a produção açucareira. Apesar dessas diferenças, cinco grupos sociais compunham a América espanhola:

  • espanhóis: conhecidos como chapetones, ocupavam os postos públicos mais destacados, como a Igreja e o Exército, além de possuírem grandes negócios.
  • criollos: descendentes de espanhóis nascidos na América, possuíam grandes propriedades, atuavam no comércio, como profissionais liberais, ou participavam do cabildo.
  • mestiços: filhos de espanhóis com mulheres indígenas, dedicavam-se ao pequeno comércio, ao serviço doméstico e ao trabalho no campo como vaqueiros ou administradores de propriedades.
  • indígenas: em geral, não tinham propriedades, trabalhavam na agricultura, nas minas e na construção e no reparo de obras públicas.
  • africanos escravizados: foram expressivos no Vice-Reino de Nova Granada e nas ilhas do Caribe, principalmente a partir da segunda metade do século dezessete.

Um dos critérios de hierarquização social mais comuns na América espanhola foi o da “pureza do sangue”, definida pela origem europeia. Assim, um criollo, mesmo sendo filho de nobre espanhol, não poderia alcançar os postos administrativos mais elevados da colônia por ter nascido na América. No entanto, ao longo do tempo, a miscigenação deu origem a novos grupos sociais e a novas desigualdades na América hispânica.

Pintura. Sobre um fundo branco, retrato de um homem branco montado sobre um cavalo branco, em um local aberto, com vegetação verde e rasteira. O homem está usando um chapéu preto, vestido com uma roupa comprida como um poncho de fundo branco e bordado em azul, vermelho e verde, calça amarela, meia longa branca e sapatos pretos. Ele segura na mão direita uma correia vermelha presa ao cabresto do cavalo e, na mão direita, um buquê de flores cor de laranja e vermelhas.
companhón, . Criollo a cavalo, em traje de gala. Século dezoito. Aquarela. Biblioteca do Palácio Real, Madri, Espanha.
Pintura. Retrato de três pessoas. À esquerda, no colo de uma mulher, uma menina de cabelos castanhos amarrados para trás, usando vestido de mangas compridas de cor marrom, brincos e um colar dourado. Ela está no colo de uma mulher de origem indígena de cabelos pretos, longos e lisos penteados para trás, faixa azul sobre a testa, com vestido longo em azul claro, com mangas bufantes, bordados de flores e rendas. Ela usa uma gargantilha preta com um medalhão dourado. À direita da mulher, com o corpo voltado para ela, um homem branco, usando peruca de cabelos brancos cacheados até os ombros. Ele usa um casaco de cor marrom, sobre um camisa branca de mangas compridas com punhos e golas de renda, sobre a camisa, usa um colete longo vermelho. Ele segura um objeto preto embaixo de seu braço. À frente deles, pedaços de pano e armações de sapatos nas cores preta, vermelha e azul turquesa. Ao fundo, à esquerda, um armário de cor marrom com a porta de madeira aberta exibindo prateleiras cheia de sapatos nas cores bege, preto e  azul turquesa com saltos vermelhos. No alto, o céu em azul claro e nuvens brancas.  Em tinta branca, sobre o céu o texto, originalmente em castelhano: 'De espanhol e mestiça, castiça'.
CABRERA, Miguel. Representação de uma família na América espanhola. 1763. Óleo sobre tela, 132 por 101 centímetros.Museu da América, Madri, Espanha. Note que o pai tem origem europeia e a mãe é indígena ou mestiça.

Vice-reinos

Como estudamos, no Vice-Reino da Nova Espanha (atual México) e no Vice-Reino do Peru surgiram importantes núcleos mineradores dos quais eram extraídos ouro e prata. A mão de obra principal foi a indígena, que era obtida por meio do sistema de encomienda e posteriormente pelo repartimiento, recrutamento de trabalhadores temporários semelhante à mita andina. Também havia trabalhadores indígenas assalariados que viviam permanentemente no local e escravizados africanos.

Com a expansão do povoamento próximo às minas, às cidades e às capitais administrativas, foram formadas as haciendas, voltadas para a produção agrícola e a criação de gado. Nas haciendas, havia o cultivo destinado ao mercado (cana, milho, trigo, agave ou gado) e ao consumo próprio (milho, feijão e pimenta).

Nas Antilhas

Nas ilhas do Caribe, como Cuba e Hispaniola, pertencentes à Capitania Geral de Cuba, desenvolveu-se a produção de açúcar e tabaco, favorecida por uma série de condições: terras férteis, proximidade geográfica com a Europa, clima quente e úmido.

Nessas áreas, foi utilizado o sistema de plantation (grandes propriedades agrícolas monocultoras, escravistas e exportadoras de artigos para a Europa). Com o avanço espanhol sobre as ilhas do Caribe e a América Central e com o drástico declínio da população nativa, houve aumento do emprêgo da mão de obra de africanos escravizados na região. Grande parte dos africanos era originária de Luanda, São Jorge da Mina e Cabo Verde.

Embarque de pessoas escravizadas da África para a América (séculos dezesseis-dezoito)

Mapa. Embarque de pessoas escravizadas da África para a América. Séculos 16 ao 18. Mapa representando parte da América, parte da Europa, parte da Ásia e a África. Na África, há territórios destacados em diferentes cores. Em lilás, ao sul do Deserto do Saara, desde a costa do Atlântico, no oeste, até o Rio Nilo, no leste, 'Sudaneses', com destaque para os portos de Cabo Verde e São Jorge da Mina. Ao sul desse território, do centro da África até o sul do continente, desde a altura do Lago Vitória até o sul do Rio Limpopo, da costa atlântica, a oeste, até a costa índica, a leste, em laranja, 'Bantos', com destaque para os portos de Luanda e Benguela, na costa oeste, e Mombaça e Moçambique, na costa leste. Setas vermelhas indicam rotas de tráfico de pessoas. Na legenda, seta vermelhas, indicam, 'Tráfico de escravizados para as Américas'.  Pontos pretos indicam, 'Principais portos'. Do noroeste da África, na área destacada em lilás, dos povos sudaneses, da região do porto de Cabo Verde partem duas setas vermelhas: uma com direção à uma rota que se dirige ao Atlântico Norte, outra atravessando o Atlântico Sul, dividindo-se e tendo como destino os portos de São Luís e de Olinda, na América do Sul. Do porto de São Jorge da Mina, na região destacada como 'Costa dos Escravos', localizada na Baía do Benin, parte uma seta vermelha com direção a uma rota que se dirige ao Atlântico Norte, e outra que se divide no Atlântico Sul, com destino à Olinda e Salvador, na América do Sul. Da área em laranja, dos povos bantos, da região do Golfo de Benguela, a partir do porto de Luanda, uma seta vermelha parte com direção à uma rota que se dirige ao Atlântico Norte.  Ainda no Golfo de Benguela, do porto de Benguela, parte uma seta vermelha que se divide no Atlântico Sul, com direção à cidade de Salvador, e outra na direção do Rio de Janeiro. Da área em laranja, dos povos bantos, da região da Baía da Somália, do porto de Mombaça, e na região do canal de Moçambique, saindo do porto de Moçambique, parte uma seta vermelha que contorna o sudeste da África, contorna o Cabo da Boa Esperança e atravessa o Atlântico Sul até o Rio de Janeiro. Da altura do Rio de Janeiro, outra seta vermelha se dirige ao porto de Buenos Aires, mais ao sul. No centro do Atlântico, uma seta vermelha recebe setas vindas do Cabo Verde, de São Jorge da Mina e de Luanda e forma uma rota que se dirige ao Atlântico Norte, com destino às Antilhas, Cuba e a costa leste da América do Norte. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.220 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas: História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1997. página 9.

Multiculturalismo.

Relações entre diferentes culturas

A proibição de escravizar os indígenas, decretada pela Coroa espanhola no século dezesseis, não criou uma situação de igualdade entre nativos e europeus e seus descendentes. Na realidade, os indígenas eram considerados inferiores e ingênuos, incapazes de decidir por conta própria onde trabalhar, de que maneira viver e qual religião seguir. A Coroa e as elites políticas e econômicas espanholas preferiam que os colonizadores e os indígenas não se misturassem. Porém, apesar desse pensamento, muitos conquistadores tiveram filhos com as indígenas. Em menor grau, ocorreram outras miscigenações.

Nesse ambiente social bastante heterogêneo, a identidade de indígenas, africanos e mestiços foi transformada e recriada. A maioria das comunidades indígenas adotou o cristianismo e incorporou práticas dessa religião à sua identidade cultural. No entanto, essas populações não deixaram de se considerar indígenas e mantiveram os elementos que caracterizam essa identidade, como a língua, a visão de mundo, as relações de parentesco, as festas, os trajes e as tradições culinárias, artísticas e religiosas.

Já os africanos, que pertenciam a diversos grupos étnicos, mantiveram muitas de suas tradições e práticas culturais, apesar de terem incorporado expressões culturais europeias, como a língua do colonizador e a religião cristã. Em muitos casos, essa situação desencadeou o surgimento de religiões que tinham forte relação com crenças africanas, como o vudu haitiano ou a santería cubana, aparentadas com o candomblé e a umbanda, que conhecemos no Brasil. No entanto, mesmo com a fusão de elementos culturais e a mestiçagem, os descendentes de africanos ainda enfrentam nos dias de hoje os legados da escravidão e do racismo nos diferentes países da América.

Fotografia. Vista de local aberto. No centro de uma praça, um grupo de mulheres indígenas de cabelos pretos longos, vestidas com roupas de cores vermelha e preta.  Uma delas, à frente, usa o cabelo em duas tranças compridas ao lado da cabeça. Sobre a cabeça, elas usam um chapéu vermelho com uma coroa de flores amarelas e um véu vermelho até as costas. Há lenços vermelhos bordados sobre os ombros das mulheres que vestem blusas de mangas compridas vermelhas e saias rodadas até altura do joelho na cor preta com a borda vermelha. Elas calçam sandálias baixas de cor preta e dançam, tendo ao fundo, dezenas pessoas em pé, aglomeradas. Mais ao fundo, uma construção de tijolos de cor bege, com colunas e arcos.
Indígenas apresentam dança típica no Carnaval de Cuzco, no Peru. Fotografia de 2019.
Fotografia. Vista de rua com dezenas pessoas. Elas caminham para à esquerda, aglomeradas. No centro da multidão, uma mulher carrega nas mãos um boneco representando uma mulher negra, de cabelos pretos longos, usando coroa dourada, vestido amarelo comprido e bordado, com as duas mãos para cima. Ao fundo, casas baixas de paredes nas cores verde clara e branca, com portas e janelas protegidas por grades.
Cerimônia da santería na cidade de Havana, Cuba. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de site.

MUSEU de Arte de Lima. Disponível em: https://oeds.link/zQViqn. Acesso em: 26 janeiro 2022. No site do Museu de Arte de Lima, é possível conhecer diversas obras de artistas da América espanhola do período colonial e de outros períodos.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Identifique o grupo social da América espanhola com base nas características descritas a seguir.
    1. Eram descendentes de espanhóis e podiam possuir terras e minas, mas exerciam cargos inferiores na administração da colônia.
    2. Filhos de espanhóis com indígenas, eram comerciantes ou ocupavam funções de pouco prestígio, como ferreiros, pedreirosetcétera
    3. Tinham os maiores privilégios, como ocupar as funções mais elevadas no vice-reino e na Igreja. Eram os únicos que podiam atuar no comércio externo.
    4. Constituíam a maioria da população e sua fôrça de trabalho era explorada nas minas e nas fazendas.
    5. Trabalhavam principalmente na produção de açúcar do Caribe e da costa das atuais Colômbia e Venezuela.
  2. As principais fórmas de exploração do trabalho indígena na América espanhola foram a encomienda e a mita. Explique como cada uma delas era organizada.
  3. O frei espanhol Domingo de Santo Tomás (1499-1570) escreveu: “Não é prata o que se envia à Espanha, é o suor e o sangue dos índios”. O que o frei denunciou com essa frase?
  4. O uso da mão de obra indígena e o sistema de encomienda foram intensamente debatidos pelos colonizadores e religiosos espanhóis. Alguns defendiam a escravização dos nativos e outros denunciavam a violência empregada pelos colonizadores no contato com as populações indígenas. Leia a seguir dois textos escritos pelos religiosos espanhóis Ruán (cêrca de1490-1573) e Bartolomê de Las Casas (1474-1566), em que expõem essas posições, e em seguida responda às questões.

    Texto 1

E é justo e útil que [os indígenas] sejam servos, e vemos que isso é sancionado pela própria lei divina. Pois está escrito no livro dos provérbios: ‘O tolo servirá ao sábio’. Assim são as nações bárbaras e desumanas, estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acôrdo com o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humanas reticências. E se recusam esse império, é permissível impô-lo por meio das armas e tal guerra será justa reticências. Concluindo: é justo, normal e de acôrdo com a lei natural que todos os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem essas virtudes.

Ruán. In: LAS CASAS, Frei Bartolomê de. O paraíso destruído. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 1985. página 23.

   Texto 2

A causa pela qual os espanhóis destruíram tal infinidade de almas foi unicamente não terem outra finalidade última senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo reticências, não foi senão sua avareza que causou a perda desses povos, que por serem tão dóceis e tão benignos foram tão fáceis de subjugar; e quando os índios acreditaram encontrar algum acolhimento favorável entre esses bárbaros, viram-se tratados pior que animais reticências; e assim morreram, sem fé e sem sacramentos, tantos milhões de pessoas.

LAS CASAS, Frei Bartolomê de. O paraíso destruído. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 2001. página 32.

  1. Procure sintetizar a postura de cada um dos missionários em relação aos indígenas.
  2. Identifique algumas expressões que indicam o ponto de vista de Sepúlveda eBartolomê de Las Casas sobre os indígenas e os europeus.

5. Observe novamente o mapa Embarque de pessoas escravizadas da África para a América (séculos dezesseis-dezoito)” reproduzido neste Capítulo. Identifique os principais grupos étnicos africanos enviados para as colônias americanas. Depois reflita: em que momento houve o aumento do uso da mão de obra de africanos escravizados na América espanhola?

CAPÍTULO 13  A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NA AMÉRICA

Nas primeiras décadas do século dezesseis, após a conquista das terras americanas pelos portugueses, foram construídas feitorias no litoral, uma espécie de entreposto que funcionava como armazém, local de abastecimento dos navios e fortaleza destinada a proteger o território colonial. Como não encontraram metais preciosos à primeira vista, os portugueses dedicaram-se inicialmente à exploração do pau-brasil, árvore da qual se aproveitava a madeira e que era usada, também, para a fabricação de corante vermelho. Segundo o historiador Boris Fausto:

Nesses anos iniciais, entre 1500 e 1535, a principal atividade econômica foi a extração de pau-brasil, obtido principalmente mediante troca com os índios. As árvores não cresciam juntas, em grandes áreas, mas encontravam-se dispersas. À medida que a madeira foi-se esgotando no litoral, os europeus passaram a recorrer aos índios para obtê-la.reticências Os índios forneciam a madeira e, em menor escala, farinha de mandioca, trocadas por peças de tecido, facas, canivetes e quinquilharias reticências.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp: éfe dê é, 1994. página 42.

Gravura. Representação de um território cercado por mar azul, como uma península, com dezenas de árvores de folhas verdes e morros. O território está pintado na cor verde e há desenhos representando pessoas indígenas, homens e mulheres, que trabalham, nuas, cortando árvores, carregando troncos, e manuseando arco e flecha. Também há animais, como aves coloridas e macacos. A costa é contornada de amarelo. No canto inferior do mapa, em uma praia contornada em amarelo, há dois homens brancos de chapéus pretos segurando arcos, um vestido com traje azul, outro com blusa e vermelha e calça preta, ambos conversando com um homem indígena que segura um tronco de árvore apoiado sobre o ombro direito. O homem branco de traje azul oferece uma taça com líquido cor de vinho ao homem indígena. Acima deles, em uma construção retangular de teto de palha, aberta em um dos lados, há quatro pessoas indígenas, duas deitadas em redes, duas sentadas no chão, conversando. Alguns locais do território estão demarcados com nomes, tanto na costa, quanto no interior. Na parte superior, à direita, há a foz de um rio e o nome 'Marañon'. Na parte superior, à esquerda, há a grande foz de um rio e o nome 'Rio de la Plata'. No centro, na parte inferior do território, a indicação 'Cabo de Todos os Santos'.  No centro do território, em letras grandes, o texto, 'Brasil'. Ao redor do território, o mar com embarcações à vela de cor marrom, e peixes grandes na cor verde. No mar há indicação de uma ilha verde com o nome 'Fernando Lorona'. No centro, na parte inferior, sobre o mar, a inscrição com o nome 'Levante'.
Ramusio, Giovanni Battista. Mapa do Brasil. 1556. Xilogravura, 29,8 por 39,2 centímetros. Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, São Paulo. Representação de uma feitoria e das atividades de extração de pau-brasil na América portuguesa. Observe como o cartógrafo delimita o território, em grande parte ainda desconhecido dos europeus.

O início da colonização

A extração de pau-brasil não exigia a fixação dos portugueses no território; dessa fórma, não houve, nos anos iniciais da colonização, a criação de povoados. Porém, a investida constante de europeus no litoral, principalmente franceses, interessados em explorar o pau-brasil, começou a preocupar a Coroa portuguesa.

Para agravar a situação, os portugueses perderam o monopólio do comércio de especiarias no Oriente para holandeses e espanhóis.

Diante desse quadro, a partir de 1530, a Coroa portuguesa tomou medidas para manter o contrôle sobre sua colônia americana. Para garantir a defesa do território e promover a organização de atividade econômica que gerasse lucros, a Coroa decidiu estimular a fixação de portugueses na colônia e investir na produção de açúcar da cana, produto muito valorizado pelas elites europeias.

O cultivo da cana

Os portugueses já tinham experiência e conhecimentos técnicos necessários para a produção de açúcar, pois cultivavam cana em outras de suas colônias, nas ilhas atlânticas da Madeira e de Cabo Verde.

Pintura. Vista de um local aberto, em região litorânea, de um ponto do qual se vê a praia, com um braço de rio e o mar azul ao fundo, com caravelas ancoradas, tendo uma cruz de malta desenhada nas velas brancas. Em primeiro plano, dezenas de homens indígenas, usando cocares de penas coloridas e saiote  bege na cintura. No centro, cabanas de palha de cor bege. À esquerda, alguns homens brancos com capacete de cor cinza, com roupas longas vermelhas e armaduras metálicas cobrindo os ombros. Em segundo plano, dezenas de homens de roupas longas, uns com bandeiras brancas, onde se pode identificar a cruz de malta.  À esquerda e à direita, morros. No alto, o céu em azul claro e nuvens brancas.
Calixto, Benedito. Fundação de São Vicente. 1900. Óleo sobre tela (detalhe), 192 por 385 centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.

O litoral da região que hoje corresponde aproximadamente ao Nordeste do Brasil oferecia as condições necessárias para o cultivo da cana: clima quente e úmido e solo massapêglossário .

A fim de criar núcleos de povoamento em sua colônia americana, em 1531 a Coroa enviou uma expedição à América, comandada por Martim Afonso de Souza (cêrca de1490-1564). Em 1532, Martim Afonso fundou São Vicente, a primeira vila portuguesa em terras americanas, onde introduziu o cultivo de cana. Começava, assim, a efetiva colonização da América portuguesa.

Inicialmente, a produção colonial representava uma parte muito pequena das rendas da Coroa portuguesa. Porém, já no final do século dezesseis, o açúcar produzido na colônia havia se tornado mais lucrativo do que o comércio oriental de especiarias e produtos de luxo.

A mão de obra indígena foi utilizada na produção açucareira; no entanto, em pouco tempo ela foi substituída pela mão de obra de pessoas escravizadas trazidas da África. A partir do século dezessete, os africanos já representavam a maioria da população colonial.

Pintura. Vista de um local fechado, de paredes de cor bege clara, com duas janelas grandes, em arco,  na cor verde, fechadas, e à direita, uma porta em arco, verde, semiaberta por onde entra luz. Dentro da sala, há bancos grandes de madeira à esquerda e no centro, encostados na parede. No banco no centro há seis pessoas, no banco à esquerda há oito pessoas, todas negras, descalças e com os cabelos raspados. As pessoas sentadas no banco à esquerda usam tecidos de cor amarela. As que estão sentadas no banco ao centro, próximo às janelas, usam túnicas cor de rosa. Nesse banco, há uma pessoa deitada com a mão sobre a barriga. No chão, no centro, em frente aos bancos, há oito crianças negras também com os cabelos raspados. Elas estão sentadas no chão, formando um círculo. Elas usam tecidos azuis com listras brancas ao redor do corpo. À direita, há uma criança negra em pé, com um tecido azul claro sobre as costas, nua, de frente para um homem branco, em pé, de chapéu preto de abas, casaco preto, camisa branca, cinto vermelho, calça azul e botas de cano alto marrom. À esquerda,  sentado em uma cadeira marrom de encosto alto, um homem branco com um pano branco amarrado em torno da cabeça, uma blusa branca, calças bege, meias longas brancas e sapatos marrons.  O homem que está em pé, faz um gesto com a mão direita, como se apresentasse a criança para o homem sentado na cadeira, que está de braços cruzados e pernas esticadas e cruzadas. No alto, o forro do teto do cômodo, com vigas de madeira e forro marrom.
debrê, Jean Batísti. Mercado de escravos na rua do Valongo. cêrca de 1816-1828. Aquarela sobre papel, 17,5 por 26,2centímetros. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro. Na cidade do Rio de Janeiro, o local era ponto de comércio de pessoas escravizadas trazidas da África.
Economia.

Colonização e escravização

O comércio escravista, da África para as colônias europeias na América, foi uma atividade mercantil extremamente lucrativa para os portugueses e para outros europeus que passaram a participar dessa ampla rede de negociantes. A atividade integrou-se ao sistema de exploração econômica nos territórios coloniais e possibilitou às potências europeias que obtivessem uma enorme acumulação de capitais.

O escravismo tornou-se a mola propulsora do sistema colonial implantado na América portuguesa e ajudou a estruturar a economia de plantation, isto é, a produção agrícola monocultora, em larga escala e em grandes extensões de terra, voltada para o mercado externo. O sucesso e a lucratividade da produção açucareira no território também se apoiaram na exploração do trabalho escravo. O regime de escravidão estava no centro de toda a produção da América portuguesa e marcava a fórma como as relações eram constituídas na colônia. A maioria das atividades era realizada por mão de obra escrava, e o fato de a pessoa ser ou não escravizada era determinante para o lugar que ocuparia na sociedade colonial.

O impacto do tráfico escravista na África

Quando os europeus chegaram à África, as guerras para a obtenção de escravos ocorriam por motivos étnicos, tribais ou religiosos. No entanto, visando obter lucros e vantagens econômicas crescentes, os comerciantes europeus alteraram o sentido da escravidão africana, dando-lhe um caráter essencialmente econômico. Dessa fórma, alguns reinos africanos participavam do comércio de escravizados, vendendo aos europeus os prisioneiros capturados em guerras. Negociantes também percorriam o interior do continente em busca de pessoas para serem comercializadas com os traficantes europeus.

Vários entrepostos foram instalados no litoral africano, onde as pessoas escravizadas eram negociadas. O comércio escravista promoveu o enriquecimento dos envolvidos nesse negócio, mas provocou a desorganização de diversos reinos e uma drástica diminuição demográfica na África entre os séculosquinze e dezenove, o que comprometeu o seu desenvolvimento econômico e deixou marcas profundas nos povos africanos.

Gravura em preto e branco. Vista de local aberto. Na matam com árvores ao fundo. Formando uma linha horizontal, uma fila de homens, mulheres e crianças. Eles caminham para a esquerda, amarrados uns aos outros, pelas mãos e pescoço. São acompanhados por um homem  armado com uma arma de cano longo. Duas mulheres amarradas, uma em cada ponta da fila, carregam grandes cestos sobre a cabeça. Em segundo plano, árvores com muitas folhas.
Uímper, Diosaia Uud. Representação de pessoas capturadas no interior do continente africano e conduzidas ao litoral para serem vendidas como escravas. 1865. Gravura, 10 por 17centímetros. Coleção Wellcome, Londres.
Ícone. Sugestão de site.

BIBLIOTECA Nacional Digital: Tráfico. Disponível em: https://oeds.link/UhKqAI. Acesso em: 31janeiro 2022. Dossiê da Fundação Biblioteca Nacional sobre o tráfico de escravizados para o Brasil.

A administração da colônia

No início, o govêrno português não tinha recursos para assumir diretamente a colonização de suas terras na América. A solução foi transferir essa tarefa para particulares. Assim, a colônia foi dividida em 15 faixas de terra, chamadas de capitanias hereditárias, que se estendiam do litoral até a linha imaginária estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas. Cada capitania era administrada por um capitão donatário, escolhido pelo rei de Portugal, que tinha a permissão de usufruir as terras pertencentes à Coroa, mas não podia vendê-las.

Com exceção das capitanias de São Vicente e Pernambuco, que tiveram sucesso com o cultivo da cana-de-açúcar, as demais fracassaram. Os altos custos do empreendimento, o isolamento das capitanias, as doenças tropicais e as relações hostis com indígenas, entre outras dificuldades, impediram que muitos donatários tomassem posse de suas terras.

Para garantir a defesa da colônia, em 1548 a Coroa criou o governo-geral, um centro político para administrar a América portuguesa, com séde em Salvador. O primeiro governador-geral, Tomé de Sousa (1503-1579), chegou ao Brasil em 1549, acompanhado de padres jesuítas, funcionários reais, soldados, artesãos, entre outros.

As câmaras municipais organizavam o cotidiano das vilas e das cidades. Elas providenciavam a construção de obras públicas, cuidavam da limpeza das ruas, organizavam as festas religiosas, cobravam impostos, fixavam os pesos e as medidas, determinavam a prisão dos acusados de perturbar a ordem, entre outras atribuições. Somente os chamados homens-bons (proprietários de terra e de escravizados, que eram portugueses ou seus descendentes) podiam ser eleitos vereadores das câmaras municipais.

Gravura. Vista elevada  para uma baía, em primeiro plano, e praia com construções e uma cidade no alto de um morro, em segundo plano. O mar possui água de cor azul clara, com ondas e muitas embarcações à vela, feitas de madeira marrom, com velas brancas. Elas possuem tamanhos diferentes e estão espalhadas por toda a extensão da baía. Algumas exalam fumaça saindo dos cascos. No centro, à esquerda e à direita, na praia, há torres, com função de forte. De um deles, à esquerda, saem duas colunas horizontais de fumaça cinza expelida por dois canhões. À esquerda, sobre o mar, o texto: 'Baya de todos os sanctos'. No centro, a praia com areia bege várias construções de telhado marrom e paredes de cor bege. Ao fundo da praia, um morro alto com vegetação verde, cortado por estradas. No alto do morro, há mais construções, algumas delas, maiores que as demais e de telhado azul. No alto, o céu em azul claro e nuvens brancas. No alto da gravura, o texto, 'São Salvador'.
Físser, Clás Ians; Rérits, Réssol. São Salvador, Baya de Todos os Santos. 1624. Gravura com texto em tipografia. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A imagem retrata a então capital do Brasil no início do século dezessete.
Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a seção Em debate.

Em debate

Reconstruindo as capitanias hereditárias

Em julho de 2014, o engenheiro Jorge Cintra, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, divulgou um novo estudo acerca das capitanias hereditárias. Segundo ele, o mapa tradicional das capitanias (mapa 1), que se baseia nas pesquisas do historiador Francisco Adolfo de vãrnrárrê (1816-1878), contém erros.

Analisando os mapas e as cartas de doação da época, que apresentam a extensão das terras distribuídas aos capitães donatários, Jorge Cintra descobriu que as divisões ao norte do Brasil foram feitas equivocadamente com base nos paralelos, e não nos meridianos. Diante disso, o engenheiro propôs um novo mapa das capitanias hereditárias (mapa 2).

  1. Observe e compare os dois mapas. Quais são as principais diferenças no mapa proposto por Jorge Cintra (mapa 2) em relação ao mapa tradicional mapa 1)?
  2. Os meridianos e os paralelos são linhas imaginárias que nos ajudam a localizar diferentes pontos da superfície terrestre em um mapa. Com base nos seus conhecimentos em Geografia, defina o que são meridianos e paralelos. Se precisar, consulte livros ou sáites e converse com os colegas e o professor.

Capitanias hereditárias (1534)

Mapa 1. Capitanias hereditárias (1534).
Representação do leste do território que hoje corresponde ao Brasil, banhado pelo Oceano Atlântico. À esquerda, uma linha preta vertical perpendicular à Linha do Equador, demarca o limite de Tordesilhas.  À direita, limitadas pela costa, 15 faixas territoriais destacadas em cores distintas correspondem aos territórios de cada Capitania, assim descritas, de Norte a Sul:  Em amarelo, MARANHÃO - João de Barros e Aires da Cunha (2º lote). 
Em roso, MARANHÃO - Fernando Álvares de Andrade. 
Em verde, CEARA - Antônio Cardoso de Barros.  
Em rosa, RIO GRANDE - João de Barros e Aires da Cunha (1º lote), 
Em amarelo claro, ITAMARACA - Pêro Lopes de Sousa (3º lote). 
Em verde claro, PERNAMBUCO - Duarte Coelho. 
Em amarelo, BAHIA DE TODOS-OS-SANTOS - Francisco Pereira Coutinho. 
Em rosa, ILHÉUS - Jorge de Figueiredo Correia. 
Em verde escuro, PORTO SEGURO - Pêro de Campos Tourinho. 
Em roxo, ESPÍRITO SANTO - Vasco Fernandes Coutinho. 
Em rosa, SÃO TOMÉ - Pêro de Góis. 
Em amarelo, SÃO VICENTE - Martim Afonso de Souza (2º lote). 
Em rosa, SANTO AMARO - Pêro Lopes de Sousa (1º lote). 
Em verde claro, SÃO VICENTE – Martim Afonso de Souza (1º lote). 
em Verde escuro, SANTANA - Pêro Lopes de Sousa (2º lote).
No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 355 quilômetros.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 16.

capitanias hereditárias (1534-1536)

Mapa 2. Capitanias hereditárias (1534-1536).  Representação do leste do território que hoje corresponde ao Brasil, banhado pelo Oceano Atlântico. À esquerda, uma linha preta vertical perpendicular à Linha do Equador, demarca o limite de Tordesilhas.  À direita, limitadas pela costa, 18 faixas territoriais destacadas em cores distintas correspondem aos territórios de cada Capitania. Na legenda, uma linha cinza na horizontal, indica: Limites atuais, destacando a configuração dos estados atuais do Brasil. 
No norte do território, do leste da Ilha de Marajó até a região da Baía da traição, na vertical, sete territórios delimitados ao sul pela capitania de Itamaracá: à oeste, em laranja, Terras não distribuídas (ocupando territórios que hoje correspondem ao Oeste do Pará e parte do oeste do Maranhão) com limite a leste em Abra de Diogo Leite; em Roxo Maranhão  1 (ocupando territórios que hoje correspondem ao centro Maranhão) e em amarelo Maranhão 2 (ocupando territórios que hoje correspondem ao centro e leste do Maranhão), com limite a leste no Cabo de Todos-os-Santos; em verde escuro, Piauí  (ocupando territórios que hoje correspondem ao oeste do Maranhão, ao norte do Piauí e a a parte do oeste do Ceará) com limite a leste no Rio da Cruz; em rosa, Ceará  (ocupando territórios que hoje correspondem ao centro do Ceará) com limite a leste em Angra dos Negros; em roxo Rio Grande do Norte Um  (ocupando territórios que hoje correspondem ao loeste do Ceará e o Oeste do Rio Grande no Norte) e em amarelo Rio Grande do Norte dois  (ocupando territórios que hoje correspondem ao leste do Rio Grande do Norte e parte do norte da Paraíba), com limites a leste na Baía da Traição.  
Na horizontal, limitadas à leste pelo Oceano Atlântico e à oeste por Tordesilhas: em amarelo claro, Itamaracá  (ocupando territórios que hoje correspondem a parte do norte de Tocantins, sul do Maranhão, centro do Piauí, sul do Ceará, Paraíba e norte de Pernambuco), com limite sul no Rio da Santa Cruz; em verde claro, Pernambuco  (ocupando territórios que hoje correspondem ao leste do Tocantins, sul do Maranhão, Sul do Piauí, Pernambuco, Alagoas norte da Baía, e norte de Sergipe) com limite sul no Rio de São Francisco; em amarelo escuro, Bahia  (ocupando territórios que hoje correspondem ao sudeste do Tocantins e ao centro da Bahia) com limite sul no sul da Baia de Todos-os-Santos; em rosa, Ilhéus  (ocupando territórios que hoje correspondem ao nordeste de Goiás, centro e sul da Bahia e norte de Minas Gerais) com limite sul em Rio Pardo; em Verde escuro, Porto Seguro  (ocupando territórios que hoje correspondem ao sudeste de Goiás, norte de Minas Gerais, e sul da Bahia e pequena faixa do note do Espírito Santo) com limite sul em Rio Mucuri; em roxo, Espírito Santo  (ocupando territórios que hoje correspondem ao centro e o sul de Minas Gerais e ao Espírito Santo) com limite sul em Baixos dos Pargos; em rosa, São Tomé  (ocupando territórios que hoje correspondem ao extremo sul do Espírito Santo, extremo sudeste de Minas Gerais e norte do Rio de Janeiro) com limite sul em Rio Macaé; em amarelo claro, São Vicente um  (ocupando territórios que hoje correspondem ao Sul de Minas Gerais, Nordeste de São Paulo, e centro e sul do Rio de Janeiro) com limite sul em Rio Curupacê; em rosa, Santo Amaro  (ocupando territórios que hoje correspondem ao centro do estado de São Paulo) com limite sul em Barra da Bertioga;  em verde claro, São Vicente dois  (ocupando territórios que hoje correspondem ao sul de são Paulo e ao extremo norte do litoral do Paraná) com limite em Paranaguá; em verde escuro, Santana,  (ocupando territórios que hoje correspondem ao litoral de Santa Catarina) ao sul de Paranaguá.  
No canto direito inferior do mapa, rosa dos ventos e escala de 0 a 320 quilômetros.

Fonte: CINTRA, Jorge. Reconstruindo o mapa das capitanias hereditárias. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, volume 21, número2, página11-45, dezembro2013. Disponível em: https://oeds.link/hJHNd4. Acesso em: 28 janeiro2022.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. O que levou a Coroa portuguesa a iniciar o processo de ocupação efetiva do território conquistado na América?
  2. Leia a seguir um texto escrito por Pero de Magalhães Gândavo, um viajante, cronista e historiador português que viveu no século dezesseis nas terras que mais tarde formariam o Brasil. Depois, responda às questões.

Os moradores desta Costa do Brasil, todos têm terras de sesmarias dadas e repartidas pelos Capitães da terra, e a primeira cousa [coisa] que pretendem alcançar são escravos para lhes fazerem e grangearem suas roças e fazendas, porque sem eles não se podem sustentar na terra: e uma das cousas por que o Brasil não floresce muito mais é pelos escravos que se alevantaram e fugiram para suas terras e fogem cada dia: e se estes índios não foram [fossem] tão fugitivos e mudáveis, não tivera comparação a riqueza do Brasil. As fazendas donde se consegue mais proveito são açúcares, algodões e pau do brasil [pau-brasil], com isto fazem pagamento aos mercadores que deste Reino lhes levam fazenda porque o dinheiro é pouco na terra, e assim vendem e trocam uma mercadoria por outra em seu justo preço.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Senado Federal, 2008. página 54.

  1. Pero de Magalhães Gândavo descreve que tipo de organização territorial da colônia?
  2. Do que os colonos necessitavam para se sustentar e produzir na terra conquistada?
  3. Qual era a maior dificuldade encontrada pelos colonos?
  4. Que produtos mencionados por Gândavo eram os mais proveitosos na terra do Brasil?
  1. Organizem-se em grupos para responder às questões:
    1. Qual foi o objetivo da Coroa portuguesa ao organizar o governo-geral? Onde estava localizada a sua séde administrativa?
    2. Quais eram as funções das câmaras municipais no período colonial?
    3. Hoje, quais são as funções das câmaras municipais, ou câmaras dos vereadores?
  2. Observe o mapa a seguir. Depois responda às questões.

O tráfico de escravizados para o Brasil

Mapa. O Tráfico de escravizados para o Brasil. Mapa representando parte da América, parte da Europa, parte da Ásia e a África. Na África, há territórios destacados em diferentes cores. Em laranja, ao sul do Deserto do Saara, desde a costa do Atlântico, no oeste, até a região do Rio Nilo, no leste, 'Sudaneses', com destaque para os portos de Cabo Verde e São Jorge da Mina.  Songai, ao norte e Etiópia, a leste. Ao sul desse território, do centro da África até o sul do continente, desde a altura do Lago Vitória até o sul do Rio Limpopo, da costa atlântica, a oeste, até a costa índica, a leste, em verde, 'Bantos', com destaque para os portos de Luanda e Benguela, na costa oeste, e Mombaça e Moçambique, na costa leste. Destaque para o Congo, ao norte de Luanda. Setas vermelhas indicam rotas de tráfico de pessoas. Na legenda, setas vermelhas, indicam, 'Tráfico de escravizados para o Brasil'. Do noroeste da África, na área destacada em laranja, dos povos sudaneses, da região do porto de Cabo Verde partem uma seta vermelha que se divide no Atlântico Sul, uma com direção ao porto de São Luís, outra para o porto de Olinda, na América do Sul. Do porto de São Jorge da Mina, na região destacada como 'Costa dos Escravos', localizada na Baía do Benin, parte uma seta vermelha que se divide no Atlântico Sul, com destino à Olinda e outra para Salvador, na América do Sul. Da área em verde, dos povos bantos, da região do Golfo de Benguela, destaque para o porto de Luanda. Ainda no Golfo de Benguela, mais ao sul, o porto de Benguela, de onde parte uma seta vermelha que se divide no Atlântico Sul, com direção à cidade de Salvador, e na direção do Rio de Janeiro. Da área em verde, dos povos bantos, da região da Baía da Somália, do porto de Mombaça, e na região do canal de Moçambique, saindo do porto de Moçambique, parte uma seta vermelha que contorna o sudeste da África, contorna o Cabo da Boa Esperança e atravessa o Atlântico Sul até o Rio de Janeiro. Na parte inferior, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.570 quilômetros. Mapa. O Tráfico de escravizados para o Brasil. Mapa representando parte da América, parte da Europa, parte da Ásia e a África. Na África, há territórios destacados em diferentes cores. Em laranja, ao sul do Deserto do Saara, desde a costa do Atlântico, no oeste, até a região do Rio Nilo, no leste, 'Sudaneses', com destaque para os portos de Cabo Verde e São Jorge da Mina.  Songai, ao norte e Etiópia, a leste. Ao sul desse território, do centro da África até o sul do continente, desde a altura do Lago Vitória até o sul do Rio Limpopo, da costa atlântica, a oeste, até a costa índica, a leste, em verde, 'Bantos', com destaque para os portos de Luanda e Benguela, na costa oeste, e Mombaça e Moçambique, na costa leste. Destaque para o Congo, ao norte de Luanda. Setas vermelhas indicam rotas de tráfico de pessoas. Na legenda, setas vermelhas, indicam, 'Tráfico de escravizados para o Brasil'. Do noroeste da África, na área destacada em laranja, dos povos sudaneses, da região do porto de Cabo Verde partem uma seta vermelha que se divide no Atlântico Sul, uma com direção ao porto de São Luís, outra para o porto de Olinda, na América do Sul. Do porto de São Jorge da Mina, na região destacada como 'Costa dos Escravos', localizada na Baía do Benin, parte uma seta vermelha que se divide no Atlântico Sul, com destino à Olinda e outra para Salvador, na América do Sul. Da área em verde, dos povos bantos, da região do Golfo de Benguela, destaque para o porto de Luanda. Ainda no Golfo de Benguela, mais ao sul, o porto de Benguela, de onde parte uma seta vermelha que se divide no Atlântico Sul, com direção à cidade de Salvador, e na direção do Rio de Janeiro. Da área em verde, dos povos bantos, da região da Baía da Somália, do porto de Mombaça, e na região do canal de Moçambique, saindo do porto de Moçambique, parte uma seta vermelha que contorna o sudeste da África, contorna o Cabo da Boa Esperança e atravessa o Atlântico Sul até o Rio de Janeiro. Na parte inferior, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.570 quilômetros.

Fonte: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas: história do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. página 9.

  • Identifique os principais portos de embarque de pessoas escravizadas no continente africano para o Brasil.
  • Localize as principais cidades onde os africanos escravizados desembarcavam no Brasil.
  • Por que a maior parte dos escravizados eram conduzidos para cidades litorâneas?
Ícone. Ilustração do globo terrestre circundado por uma linha amarela, simulando a trajetória da Lua em torno do planeta, indicando a seção Ser no mundo.

Ser no mundo

Identidades latino-americanas

Ao pôr em prática a exploração colonial, a Coroa portuguesa seguiu a lógica mercantil, mas estabeleceu relações específicas em cada uma das terras conquistadas que integraram seu império. Em algumas regiões da África, por exemplo, foram construídos fortes e feitorias, onde era realizado o comércio escravista e de outros produtos, sem a implantação de um govêrno diretamente controlado pelos portugueses. Na América, os portugueses implantaram uma colônia com govêrno permanente, exploraram as riquezas que encontraram no território e impuseram o trabalho forçado aos indígenas – que em um segundo momento foram substituídos pela mão de obra de africanos escravizados, cujo tráfico representava uma rede de negócios muito lucrativa. As riquezas, os produtos obtidos e comercializados na colônia, visavam atender às necessidades do mercado europeu.

Será que os processos históricos do passado colonial influenciaram a formação territorial, cultural e populacional do Brasil e de outros países do continente e continuam influenciando quem somos hoje? O que define nossas identidades? Com base em reflexões como essas, o historiador mexicano Edmundo Ô Gôrmantece algumas considerações:

reticências Real, verdadeira e literalmente a América, como tal, não existe, apesar da existência da massa de terras não submersas que, no decorrer do tempo, acabará por lhe atribuir esse sentido, esse significado. Colombo, pois, vive e atua no âmbito de um mundo em que a América, imprevista e imprevisível, era, em todo caso, mera possibilidade futura, mas da qual, nem ele nem ninguém tinha ideia, nem poderia tê-la.

Ô Gôrman, Edmundo. A invenção da América: reflexão a respeito da estrutura histórica do Novo Mundo e do sentido do seu devir. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992. (Coleção Biblioteca básica).página 99.

O advento da América, no sentido da reflexão proposta pelo historiador Ô Gôrman, só pode ser entendido como um fenômeno colonial, que reflete as relações de dominação dos povos europeus sobre os indígenas, africanos e aqueles que vieram a constituir a população do chamado novo mundo, como lugar concebido sob o ponto de vista do colonizador.

A partir da obra de Ô Gôrman“A Invenção da América”, podemos, pois, ir além das interpretações históricas cristalizadas que tratam o continente americano como uma descoberta europeia, logo, sujeito a dominação dos espanhóis e portugueses – o que engloba terras, povos, identidades, epistemologias e aspectos outros. reticências Ô Gôrman lança luz sobre uma possibilidade, até então, encoberta nos debates da história do continente: a América não poderia ter sido descoberta, pois não existia; a América, isto pôsto, foi inventada; a América só passa a existir quando conceituada tal qual América; a América, portanto, não à toa, é uma invenção europeia e, sendo assim, é despojada de toda a sua “americanicidade original” – e conceituada de acôrdo com os interesses europeus para com aquela porção de terras, aquele novo continente.

reticências

Tomando como fundamento primeiro a ideia de raça, a colonização seguiu um caminho que não apenas distinguiu os sujeitos históricos enquanto colonizados ou colonizadores, mas, de mesmo modo, naturalizou esta distinção numa condição de superiores e inferiores, de modernos e primitivos.

GUERRA, Rodrigo de Morais. Invenção da América, colonialidade do poder e pós-colonialismo: reflexões acerca do primitivo Novo Mundo. Relacult, Foz do Iguaçu, volume 6, número 6, março 2020. página 2-4. Disponível em: https://oeds.link/1Etq6l. Acesso em: 28 janeiro2022.

Fotografia. Vista de local aberto, em uma praça, com centenas de pessoas aglomeradas, homens e mulheres. Elas são vistas de frente, da cintura para cima. Ao fundo, sobre um monumento de formato triangular, um grupo de homens em pé, muitos segurando bandeiras grandes. Uma bandeira quadriculada em branco e preto e outra bandeira, de cor azul, verde e vermelha, com detalhe redondo amarelo no centro, que simboliza o povo indígena mapuche.  Na base do monumento há centenas de pessoas, em manifestação, muitas delas, erguendo essa mesma bandeira. À esquerda, ao fundo, uma árvore de folhas verdes. No alto, o céu nublado.
Manifestação popular no Chile em defesa de reformas sociais que reuniu mais de 1 milhão de pessoas, em outubro de 2019. No alto da fotografia, é possível ver a bandeira do povo indígena Mapúche hasteada pelos manifestantes que estão em cima de um monumento da cidade de Santiago. Os Mapúche são nativos de territórios do Chile e da Argentina.
  1. O que o historiador Ô Gôrman quis dizer com a afirmação de que a América na época de Colombo era mera possibilidade futura?
  2. Releia o segundo texto citado. Nele, o autor analisa a obra do historiador Ô Gôrmane ressalta a ideia de que a América não foi descoberta, e sim inventada pelos europeus. Em seu caderno, escreva um texto utilizando argumentos para explicar essa afirmação.
  3. Formem uma roda de conversa na sala de aula para discutir as seguintes questões:
    • Vocês se sentem mais brasileiros ou mais latino-americanos? Por quê?
    • Que aspectos nos aproxima e nos diferencia do restante da América de colonização espanhola?
    • O nosso passado colonial influencia quem somos hoje?
    • Na opinião de vocês, é possível criar identidades latino-americanas para além da visão de América forjada no processo histórico colonial?

Glossário

Massapê
Terra argilosa, de cor escura e fértil.
Voltar para o texto