UNIDADE cinco A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA
Você estudará nesta Unidade:
A colonização inglesa, espanhola e portuguesa na América
As principais atividades econômicas nas colônias
O trabalho dos indígenas e africanos escravizados
Sociedade colonial – as relações entre diferentes culturas
A administração das colônias
Identidade latino-americana
O que você sabe sobre os processos de colonização que se desenvolveram na América? Os habitantes do continente americano têm culturas, costumes, línguas e origens étnicas bastante variados. Essa diversidade revela aspectos dos diferentes processos de colonização que se desenvolveram ao longo do tempo.
As sociedades coloniais das Américas portuguesa e espanhola, por exemplo, diferiram muito das colônias inglesas. Essas últimas se constituíram com certa autonomia em relação à Coroa inglesa. Já nos domínios coloniais tanto da América espanhola quanto da América portuguesa, o contrôle político e econômico metropolitano foi bastante intenso.
Você conhece as características dessas sociedades coloniais? Apesar de os processos de colonização terem se desenvolvido de maneira específica em cada região, podemos dizer que existem semelhanças históricas que identificam os povos da América?
CAPÍTULO 11 A COLONIZAÇÃO INGLESA NA AMÉRICA
A descoberta do caminho marítimo para as Índias e a chegada de Colombo à América despertaram o interesse de alguns reinos europeus pelas viagens ultramarinas. Os ingleses, por exemplo, também estavam interessados nas valiosas mercadorias orientais. Por isso, passaram a investir na busca de um caminho marítimo para as Índias, diferente das rótas portuguesa e espanhola.
As regiões ao norte do oceano Atlântico já eram conhecidas por navegadores dinamarqueses e noruegueses e por pescadores e comerciantes de peles de animais desde o século nove. A partir de meados do século quinze, o govêrno da Inglaterra também passou a demonstrar interesse por essa região, patrocinando expedições como a do genovês Dión Québét( cêrca de 1450-1499), que chegou à Terra Nova e à Nova Escócia, no atual Canadá, entre 1497 e 1498. No início do século dezesseis foi a vez dos franceses, que exploraram, em suas expedições, o rio São Lourenço, chegando aonde hoje se localiza a cidade de Montreal, no Canadá.
Ingleses e franceses, ao iniciarem suas viagens oceânicas, encontraram os territórios correspondentes à América Central e à América do Sul, chamados de terras do Novo Mundo, divididos entre Portugal e Espanha. Excluídos da partilha colonial, eles recorreram muitas vezes à pirataria para tirar proveito das riquezas extraídas da América.
A fase comercial da exploração da América do Norte
Os piratas que atuavam para a Coroa inglesa recebiam um documento chamado “carta de corso”, que declarava que eles navegavam a serviço do rei. Por isso, eles eram conhecidos como corsários. O alvo principal dos corsários eram as embarcações espanholas que se dirigiam à Europa carregadas de metais preciosos extraídos das colônias americanas. As expedições e as navegações inglesas e francesas no norte da América, durante o século , dezesseis se diferenciaram das espanholas e das portuguesas no continente americano, pois não resultaram em conquistas militares e processos colonizatórios.
Nesse período, o contato dos ingleses e dos franceses com os povos ameríndios era basicamente comercial. Entre os principais produtos comercializados, estavam gêneros alimentícios, peles de animais, objetos de metal e tecidos. Somente no século dezessete, regiões costeiras da América do Norte foram efetivamente ocupadas.
Ingleses, franceses e holandeses na América do Norte (século dezessete)
Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 209.
Francis Drêic
Financiado pela rainha Elizabeth primeira, o corsário inglês Francis Drêic partiu, em 1577, rumo às terras americanas. Seguindo a mesma Róta de Fernão de Magalhães, ele e sua tripulação atingiram o oceano Pacífico após assaltar pequenas povoações da costa ocidental da América espanhola e saquear navios ancorados na costa de Lima, no atual Peru. O corsário retornou à Inglaterra em 1581, após realizar a primeira viagem inglesa de circum-navegação, levando toneladas de ouro e prata.
A formação das treze colônias
Entre 1584 e 1587, a Coroa inglesa iniciou a tentativa de colonização da América do Norte por meio de expedições organizadas por nobres, com o objetivo de ocupar os territórios encontrados. No entanto, doenças, fome e ataques de grupos nativos levaram essas iniciativas ao fracasso. Diante disso, a Coroa inglesa estabeleceu acordos com companhias comerciais, como a de Londres e a de Plymouth. O govêrno inglês reconhecia o direito dessas companhias às terras que fossem conquistadas e garantia a elas o monopólio do comércio entre a região e a Europa. Em seguida, colonos independentes começaram a migrar, em busca de um novo lugar para viver.
Os primeiros colonos independentes na América do Norte desembarcaram do navio Mayflower e fundaram a cidade de Plymouth, em 1620. Muitos deles eram puritanos (protestantes calvinistas) que fugiam de perseguições religiosas na Europa e ficaram conhecidos como “pais peregrinos” (pilgrim fathers). A crise econômica e a falta de terras para os camponeses na Inglaterra também foram fatores que estimularam a migração de colonos para a América. Depois deles vieram outros, como franceses, holandeses, irlandeses e alemães, que formaram as treze colônias da América do Norte.
A esperança de melhores condições de vida na América do Norte parecia estimular a ideia de criar um “novo mundo”. Por isso, em muitos dos nomes dados às colônias, aparece a palavra “novo” ou “nova”, como Nova Inglaterra, Nova França, Novos Países Baixos ou Nova Holanda e Nova Amsterdã (atual Nova York).
Servos temporários
Trabalhadores ingleses compunham parte dos que migraram para a América do Norte. Em geral, eram pessoas pobres que aceitavam trabalhar nas novas terras sem remuneração, em troca do pagamento das despesas de viagem, na condição de servos temporários. Geralmente, depois de sete anos, os servos ficavam livres para estabelecer seu próprio negócio.
Ler a pintura
• Em seu diário de bordo, o líder puritano escreveu que, ao chegar à América, os puritanos fundariam uma colônia para a “glória de Deus”. Que elementos desta pintura representam esse projeto? Uílham Brédford
Relação entre indígenas e colonos
Conta a tradição que, após chegarem à América no Mayflower e fundarem a colônia de Plymouth, no atual estado de Massachusetts, os colonos enfrentaram um terrível inverno e muitos morreram de fome e frio. Porém, com a ajuda de indígenas Uampanôag, que lhes forneceram alimentos e sementes de milho para o cultivo, os colonos teriam sobrevivido. Essa história é lembrada até hoje e celebrada em uma das principais festas nacionais do país: o Dia de Ação de Graças.
O fato é que, apesar desse episódio, as relações entre colonos e indígenas foram muito conflituosas. De norte a sul, os ingleses invadiram os territórios habitados pelos indígenas, que reagiram com ataques ou guerras. A população nativa diminuiu de fórma drástica, caindo de 10 milhões de pessoas, no começo do século dezesseis, para 600 mil indivíduos no final do século dezoito.
Diferentemente do que ocorria nas colônias espanholas e portuguesa na América, os protestantes ingleses não promoveram a evangelização sistemática dos povos indígenas. O resultado desse modêlo de colonização foi a formação de uma sociedade com quase nenhuma integração entre ameríndios e brancos.
Lugar e cultura
Dia de Ação de Graças
- O Dia de Ação de Graças é comemorado anualmente nos Estados Unidos na quarta quinta-feira do mês de novembro. No dia seguinte, acontece a famosa Black Friday. Você sabe o que é?
- Que recursos foram utilizados na história em quadrinhos para apresentar com humor uma visão crítica da comemoração do Dia de Ação de Graças? Explique.
As colônias do norte e do centro e as colônias do sul
Com base nos tipos de atividade econômica que foram desenvolvidos e na estrutura social que se formou, as treze colônias podem ser agrupadas em colônias do norte e do centro e em colônias do sul.
O clima do norte e do centro, com invernos rigorosos, dificultou o cultivo de produtos tropicais e semitropicais, valorizados no comércio internacional. Interessados em praticar uma atividade rentável na região, os colonos desenvolveram, desde cedo, o comércio, as manufaturas e a pesca.
Nas colônias do norte, chamadas de Nova Inglaterra, predominava uma economia agrícola voltada ao mercado interno e praticada em pequenas propriedades pela própria família, com mão de obra livre e, em alguns casos, com a presença de servos temporários. Além disso, os colonos fabricavam navios, que eram usados no comércio marítimo e na atividade pesqueira. Embora pouco numerosos, havia africanos e indígenas escravizados nas colônias do norte e do centro.
Nas colônias do sul, o clima mais ameno possibilitava o cultivo de produtos agrícolas valorizados no mercado europeu, como o tabaco e o algodão. A atividade agrícola era realizada em grandes propriedades monocultoras, com o predomínio de trabalhadores africanos escravizados. Essa produção era vendida, sobretudo, para a Europa, por meio das companhias inglesas de comércio.
As treze colônias inglesas (séculos XVII-XVIII)
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 62.
O NOVO mundo. Direção: . Estados Unidos, 2005. Duração: 136 Térence Mélic minutosNo filme, um oficial inglês chega, em 1607, às terras dos atuais Estados Unidos e se apaixona pela filha de um grande líder indígena.
A autonomia das treze colônias
Apesar das distinções entre as colônias do norte e do centro e as colônias do sul, as treze colônias tinham muitos elementos em comum: o predomínio do protestantismo, a ausência de um comando político centralizado, a independência de cada uma delas e a razoável liberdade em relação à Coroa inglesa. Mesmo devendo obediência ao Estado inglês, dispunham de relativa autonomia na sua organização interna e nas decisões políticas.
A organização política atual dos Estados Unidos reflete, de certa fórma, a independência das treze colônias. Os 50 estados que formam o país têm autonomia para adaptar as determinações da Constituição à sua própria realidade e apresentam diferenças em alguns dispositivos legais; por isso, alguns estados admitem, por exemplo, a pena de morte e outros não; há também uma variação da maioridade penal entre 16 e 18 anos.
O comércio triangular
Os colonos ingleses exportavam gado, peixes, madeira e alimentos para as ilhas do Caribe. Lá, eles obtinham açúcar e melaço, que eram utilizados para o consumo local e principalmente para a fabricação de rum. A bebida era usada como moeda de troca na compra de pessoas escravizadas na África, que depois eram revendidas sobretudo no Caribe e nas grandes propriedades das colônias sulistas. Os colonos ingleses também aproveitavam os artigos obtidos no Caribe para adquirir tecidos e ferramentas produzidos na Inglaterra. Esse sistema ficou conhecido como comércio triangular e possibilitou a integração entre as treze colônias, e entre elas e a metrópole inglesa.
Os lucros do comércio triangular propiciaram o desenvolvimento das manufaturas nas colônias do norte e do centro e favoreceram o surgimento de uma rica burguesia mercantil na América.
O comércio triangular (séculos dezessete- dezoito)
Fonte: NARO, Nénci Priscilla S. A formação dos Estados Unidos. São Paulo: Atual; Campinas: unicâmpi, 1987. página15.
A presença de pessoas escravizadas
O comércio de pessoas escravizadas foi praticado nas treze colônias inglesas de maneira distinta em cada uma das regiões. O sul absorvia a maior parte dessa mão de obra, que chegou a totalizar cêrca de setecentas e cinquenta mil pessoas no final do século dezoito, a maioria originária da África Ocidental, principalmente de Angola e Guiné.
Gustavo Vassa (1745-1797), nascido no reino do Benin, escravizado e levado para os Estados Unidos (onde foi batizado com nome cristão), descreveu, em 1794, a fórma como os sobreviventes da travessia do oceano eram leiloados nos mercados da América.
Conduziram-nos imediatamente ao pátio reticências como ovelhas em redil, sem olharem para idade ou sexo. Como tudo me era novo, tudo o que vinha causava-me assombro. Não sabia o que diziam, e pensei que esta gente estava verdadeiramente cheia de mágicas reticências A um sinal de tambor, os compradores corriam ao pátio onde estavam presos os escravos e escolhiam o lote que mais lhes agradava. O ruído e o clamor com que se fazia isso e a ansiedade visível nos rostos dos compradores serviam para aumentar muito o terror dos africanos reticências Dessa maneira, sem escrúpulos, eram separados parentes e amigos, a maioria para nunca mais voltarem a se ver.
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2008. página 63.
Em todas as colônias, a integração social e a mestiçagem dos africanos escravizados com os colonos brancos foram muito pequenas. No entanto, apesar de as culturas africanas terem sido intensamente reprimidas, os escravizados encontraram diversas maneiras de preservá-las e de resistir à escravidão, como por meio das fugas, da sabotagem da produção e dos equipamentos e das rebeliões.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Quais eram as principais atividades econômicas desenvolvidas nas colônias do norte e centro e nas colônias do sul?
- Observe o mapa a seguir. Ele representa as viagens de circum-navegação realizadas por Fernão de Magalhães a serviço da Coroa espanhola e, anos depois, pelo corsário Francis Drêic a serviço da Coroa inglesa.
VIAGENS DE CIRCUM-NAVEGAÇÃO
Fonte: insaiclopidia britânica. Disponível em: https://oeds.link/1AQUcI. Acesso em: 27 janeiro 2022.
- Compare os trajetos realizados por Fernão de Magalhães e por Francis Drêic. Qual a principal diferença entre as rótas percorridas por eles?
- Qual seria a intenção das coroas que financiaram essas viagens de circum-navegação?
3. Observe e compare as imagens a seguir. Depois responda às questões.
- Como os colonos parecem se relacionar com os indígenas em cada uma das imagens?
- Elabore uma hipótese para explicar as diferentes visões do encontro de indígenas e colonos representadas nas imagens.
CAPÍTULO 12 A COLONIZAÇÃO ESPANHOLA NA AMÉRICA
Os conquistadores espanhóis se lançaram com avidez sobre as riquezas encontradas nas terras americanas. Para garantir seus ganhos, a Coroa espanhola precisava organizar a exploração econômica da região. Assim, um complexo sistema administrativo foi criado com a finalidade de incorporar a América, política e economicamente, ao nascente Império Espanhol.
Após a queda dos principais impérios indígenas pré-colombianos, a Coroa espanhola inseriu representantes na administração colonial, visando consolidar a conquista e garantir a exploração econômica dos territórios. A América espanhola foi dividida administrativamente em vice-reinos, ao mesmo tempo que algumas instituições foram criadas para exercer o contrôle político e econômico no território, atendendo aos interesses da política mercantilista do govêrno espanhol.
A administração colonial
Antes de iniciar a exploração da parte continental da América, a Coroa espanhola criou, em 1503, o primeiro órgão encarregado de administrar, da Espanha, as colônias americanas: a Casa de Contratação. A instituição regulamentava a administração colonial, nomeava os funcionários e fiscalizava a coleta do quinto, imposto cobrado pela Coroa que recaía sobre a mineração e as transações comerciais da colônia. Encarregava-se também de garantir o monopólio do comércio colonial fiscalizando os navios que partiam das colônias e chegavam ao reino espanhol.
Em 1524, após a queda do Império Asteca, foi criado o Conselho das Índias, órgão encarregado de tomar as decisões relativas às colônias. Suas reuniões podiam ser lideradas pelo próprio rei, que indicava pessoas de sua mais alta confiança para os principais cargos do conselho.
Depois, para facilitar ainda mais o contrôle administrativo da colônia pela metrópole, a América espanhola foi dividida em vice-reinos. O Vice-Reino da Nova Espanha foi o primeiro a ser criado, em 1535, seguido pelo Vice-Reino do Peru, em 1543, e pelos demais vice-reinos. Os vice-reis eram membros da nobreza ou da burguesia espanhola. Na América, eles representavam o rei, portanto eram as mais altas autoridades coloniais. Os vice-reis cuidavam dos assuntos administrativos, militares e religiosos. Eles ainda presidiam as audiências, nas quais exerciam o papel de autoridade judicial.
Outro órgão muito importante era o cabildo. Espécie de conselho municipal, os cabildos tratavam de vários assuntos, como segurança, abastecimento e uso dos espaços públicos.
A América espanhola (século dezoito)
Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 239; VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 95.
As principais atividades econômicas
Entre as atividades econômicas desenvolvidas nas colônias americanas, a mineração da prata, a partir de 1540, foi a que gerou mais lucros à Coroa espanhola. A atividade mineradora impulsionou outros empreendimentos, como a extração de carvão e a criação de mulas, que serviam como transporte. A produção de tabaco, cana-de-açúcar, anil e algodão, por sua vez, visava abastecer o mercado europeu.
A pecuária e a produção de gêneros alimentícios também tiveram papel importante na economia interna da América espanhola. Entre os principais alimentos cultivados estavam o milho e a batata.
O comércio da seda, trazida das Filipinas através do oceano Pacífico, foi outra atividade lucrativa, mas foi proibida pelo govêrno espanhol por escapar ao seu contrôle tributário. O negócio enriqueceu muitos membros das elites comerciais e mostrou uma face da economia colonial: o comércio interno e o contrabando.
A produção de açúcar também foi uma atividade muito rentável. A cana começou a ser cultivada na Nova Espanha (onde hoje se situa o México), mas o principal centro produtor de açúcar foram as ilhas do Caribe (Cuba e Hispaniola). Com o uso de africanos escravizados e de grandes propriedades agrícolas, a partir do século dezessete, a região se especializou na produção de açúcar, melaço e rum para a exportação.
A mão de obra indígena
Na maior parte da América espanhola, as populações ameríndias foram usadas como a mão de obra predominante, ou como trabalhadores livres, compulsórios, ou escravizados. A encomienda e a mita eram as principais fórmas de exploração do trabalho indígena.
A encomienda era uma instituição jurídica comum nas terras do Vice-Reino da Nova Espanha. Por meio dela, os encomenderos cobravam tributos de um certo número de indígenas, que trabalhavam na agricultura e nas minas. Além disso, os encomenderos eram encarregados de catequizar os indígenas. O regime de encomiênda rendia altos tributos ao govêrno da Espanha, chegando a totalizar 20% de toda a receita da Coroa.
A mita, por sua vez, era uma instituição de origem inca adaptada pelos espanhóis em suas colônias. Por meio dela, os colonizadores encarregavam os chefes indígenas de selecionar, nas comunidades, pessoas que deveriam ser encaminhadas ao trabalho, principalmente nas minas, onde permaneciam por quatro meses. Os indígenas recrutados recebiam um pagamento e só podiam se ausentar do trabalho mediante autorização.
, defou . Robinson Crusoé. São Paulo: Scipione, 2019. Publicado originalmente em 1719, o livro aborda as aventuras de um náufrago que passa segunda edição cêrca de 28 anos em uma ilha deserta próxima à costa da atual Venezuela.
Documento
O trabalho nas minas de prata
José de Acosta (1540-1600) foi um padre jesuíta que viveu no atual Peru de 1571 a 1587. Leia, no texto a seguir, como ele descreve o trabalho nas minas de prata de Potosí.
Lá dentro é perpétua a escuridão, sem saber quando é dia ou noite pois são lugares nunca visitados pelo Sol, não somente há perpétuas sombras como também muito frio e um ar muito grosso e impróprio para a natureza humana. E assim se sucede enjoar, quando entra pela primeira vez, como a mim aconteceu reticências. Trabalham com velas reticências, repartindo o trabalho, de modo que uns lavram de dia e descansam à noite e, outros, o contrário reticências. O metal é duro, sendo comum retirá-lo a golpe de barretes reticências. Depois sobem com ele às costas, por escadas de couro de vaca retorcido , reticências retira um homem uma carga de duas arrobas e ata a sua manta no peito reticências subindo muitas vezes 250 metros.
ACOSTA, José de. Historia natural y moral de las Índias. In: PRODANOV, Cleber C. Cultura e sociedade mineradora: Potosí, 1569-1670. São Paulo: Annablume, 2002. página 48.
• Observe a imagem a seguir. Que relações podemos estabelecer entre a gravura de e o relato de José de Acosta?
A sociedade colonial
A sociedade colonial era bastante diversificada, e cada vice-reino desenvolveu um tipo de economia. No Vice-Reino da Nova Espanha e no Vice-Reino do Peru, por exemplo, havia grandes minas de ouro e prata e a mineração tornou-se a principal atividade. As ilhas do Caribe, por outro lado, concentraram a produção açucareira. Apesar dessas diferenças, cinco grupos sociais compunham a América espanhola:
- espanhóis: conhecidos como chapetones, ocupavam os postos públicos mais destacados, como a Igreja e o Exército, além de possuírem grandes negócios.
- criollos: descendentes de espanhóis nascidos na América, possuíam grandes propriedades, atuavam no comércio, como profissionais liberais, ou participavam do cabildo.
- mestiços: filhos de espanhóis com mulheres indígenas, dedicavam-se ao pequeno comércio, ao serviço doméstico e ao trabalho no campo como vaqueiros ou administradores de propriedades.
- indígenas: em geral, não tinham propriedades, trabalhavam na agricultura, nas minas e na construção e no reparo de obras públicas.
- africanos escravizados: foram expressivos no Vice-Reino de Nova Granada e nas ilhas do Caribe, principalmente a partir da segunda metade do século dezessete.
Um dos critérios de hierarquização social mais comuns na América espanhola foi o da “pureza do sangue”, definida pela origem europeia. Assim, um criollo, mesmo sendo filho de nobre espanhol, não poderia alcançar os postos administrativos mais elevados da colônia por ter nascido na América. No entanto, ao longo do tempo, a miscigenação deu origem a novos grupos sociais e a novas desigualdades na América hispânica.
Vice-reinos
Como estudamos, no Vice-Reino da Nova Espanha (atual México) e no Vice-Reino do Peru surgiram importantes núcleos mineradores dos quais eram extraídos ouro e prata. A mão de obra principal foi a indígena, que era obtida por meio do sistema de encomienda e posteriormente pelo repartimiento, recrutamento de trabalhadores temporários semelhante à mita andina. Também havia trabalhadores indígenas assalariados que viviam permanentemente no local e escravizados africanos.
Com a expansão do povoamento próximo às minas, às cidades e às capitais administrativas, foram formadas as haciendas, voltadas para a produção agrícola e a criação de gado. Nas haciendas, havia o cultivo destinado ao mercado (cana, milho, trigo, agave ou gado) e ao consumo próprio (milho, feijão e pimenta).
Nas Antilhas
Nas ilhas do Caribe, como Cuba e Hispaniola, pertencentes à Capitania Geral de Cuba, desenvolveu-se a produção de açúcar e tabaco, favorecida por uma série de condições: terras férteis, proximidade geográfica com a Europa, clima quente e úmido.
Nessas áreas, foi utilizado o sistema de plantation (grandes propriedades agrícolas monocultoras, escravistas e exportadoras de artigos para a Europa). Com o avanço espanhol sobre as ilhas do Caribe e a América Central e com o drástico declínio da população nativa, houve aumento do emprêgo da mão de obra de africanos escravizados na região. Grande parte dos africanos era originária de Luanda, São Jorge da Mina e Cabo Verde.
Embarque de pessoas escravizadas da África para a América (séculos dezesseis- dezoito)
Elaborado com base em dados obtidos em: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas: História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1997. página 9.
Relações entre diferentes culturas
A proibição de escravizar os indígenas, decretada pela Coroa espanhola no século dezesseis, não criou uma situação de igualdade entre nativos e europeus e seus descendentes. Na realidade, os indígenas eram considerados inferiores e ingênuos, incapazes de decidir por conta própria onde trabalhar, de que maneira viver e qual religião seguir. A Coroa e as elites políticas e econômicas espanholas preferiam que os colonizadores e os indígenas não se misturassem. Porém, apesar desse pensamento, muitos conquistadores tiveram filhos com as indígenas. Em menor grau, ocorreram outras miscigenações.
Nesse ambiente social bastante heterogêneo, a identidade de indígenas, africanos e mestiços foi transformada e recriada. A maioria das comunidades indígenas adotou o cristianismo e incorporou práticas dessa religião à sua identidade cultural. No entanto, essas populações não deixaram de se considerar indígenas e mantiveram os elementos que caracterizam essa identidade, como a língua, a visão de mundo, as relações de parentesco, as festas, os trajes e as tradições culinárias, artísticas e religiosas.
Já os africanos, que pertenciam a diversos grupos étnicos, mantiveram muitas de suas tradições e práticas culturais, apesar de terem incorporado expressões culturais europeias, como a língua do colonizador e a religião cristã. Em muitos casos, essa situação desencadeou o surgimento de religiões que tinham forte relação com crenças africanas, como o vudu haitiano ou a santería cubana, aparentadas com o candomblé e a umbanda, que conhecemos no Brasil. No entanto, mesmo com a fusão de elementos culturais e a mestiçagem, os descendentes de africanos ainda enfrentam nos dias de hoje os legados da escravidão e do racismo nos diferentes países da América.
MUSEU de Arte de Lima. Disponível em: https://oeds.link/zQViqn. Acesso em: 26 janeiro 2022. No site do Museu de Arte de Lima, é possível conhecer diversas obras de artistas da América espanhola do período colonial e de outros períodos.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Identifique o grupo social da América espanhola com base nas características descritas a seguir.
- Eram descendentes de espanhóis e podiam possuir terras e minas, mas exerciam cargos inferiores na administração da colônia.
- Filhos de espanhóis com indígenas, eram comerciantes ou ocupavam funções de pouco prestígio, como ferreiros, pedreiros etcétera
- Tinham os maiores privilégios, como ocupar as funções mais elevadas no vice-reino e na Igreja. Eram os únicos que podiam atuar no comércio externo.
- Constituíam a maioria da população e sua fôrça de trabalho era explorada nas minas e nas fazendas.
- Trabalhavam principalmente na produção de açúcar do Caribe e da costa das atuais Colômbia e Venezuela.
- As principais fórmas de exploração do trabalho indígena na América espanhola foram a encomienda e a mita. Explique como cada uma delas era organizada.
- O frei espanhol Domingo de Santo Tomás (1499-1570) escreveu: “Não é prata o que se envia à Espanha, é o suor e o sangue dos índios”. O que o frei denunciou com essa frase?
- O uso da mão de obra indígena e o sistema de encomienda foram intensamente debatidos pelos colonizadores e religiosos espanhóis. Alguns defendiam a escravização dos nativos e outros denunciavam a violência empregada pelos colonizadores no contato com as populações indígenas. Leia a seguir dois textos escritos pelos religiosos espanhóis Ruán ( cêrca de1490-1573) e Bartolomê de Las Casas (1474-1566), em que expõem essas posições, e em seguida responda às questões.
Texto 1
E é justo e útil que [os indígenas] sejam servos, e vemos que isso é sancionado pela própria lei divina. Pois está escrito no livro dos provérbios: ‘O tolo servirá ao sábio’. Assim são as nações bárbaras e desumanas, estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acôrdo com o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humanas reticências. E se recusam esse império, é permissível impô-lo por meio das armas e tal guerra será justa reticências. Concluindo: é justo, normal e de acôrdo com a lei natural que todos os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem essas virtudes.
Ruán. In: LAS CASAS, Frei Bartolomê de. O paraíso destruído. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 1985. página 23.
Texto 2
A causa pela qual os espanhóis destruíram tal infinidade de almas foi unicamente não terem outra finalidade última senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo reticências, não foi senão sua avareza que causou a perda desses povos, que por serem tão dóceis e tão benignos foram tão fáceis de subjugar; e quando os índios acreditaram encontrar algum acolhimento favorável entre esses bárbaros, viram-se tratados pior que animais reticências; e assim morreram, sem fé e sem sacramentos, tantos milhões de pessoas.
LAS CASAS, Frei Bartolomê de. O paraíso destruído. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 2001. página 32.
- Procure sintetizar a postura de cada um dos missionários em relação aos indígenas.
- Identifique algumas expressões que indicam o ponto de vista de Sepúlveda e Bartolomê de Las Casas sobre os indígenas e os europeus.
5. Observe novamente o mapa “Embarque de pessoas escravizadas da África para a América (séculos dezesseis- dezoito)” reproduzido neste Capítulo. Identifique os principais grupos étnicos africanos enviados para as colônias americanas. Depois reflita: em que momento houve o aumento do uso da mão de obra de africanos escravizados na América espanhola?
CAPÍTULO 13 A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NA AMÉRICA
Nas primeiras décadas do século dezesseis, após a conquista das terras americanas pelos portugueses, foram construídas feitorias no litoral, uma espécie de entreposto que funcionava como armazém, local de abastecimento dos navios e fortaleza destinada a proteger o território colonial. Como não encontraram metais preciosos à primeira vista, os portugueses dedicaram-se inicialmente à exploração do pau-brasil, árvore da qual se aproveitava a madeira e que era usada, também, para a fabricação de corante vermelho. Segundo o historiador Boris Fausto:
Nesses anos iniciais, entre 1500 e 1535, a principal atividade econômica foi a extração de pau-brasil, obtido principalmente mediante troca com os índios. As árvores não cresciam juntas, em grandes áreas, mas encontravam-se dispersas. À medida que a madeira foi-se esgotando no litoral, os europeus passaram a recorrer aos índios para obtê-la. reticências Os índios forneciam a madeira e, em menor escala, farinha de mandioca, trocadas por peças de tecido, facas, canivetes e quinquilharias reticências.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp: éfe dê é, 1994. página 42.
O início da colonização
A extração de pau-brasil não exigia a fixação dos portugueses no território; dessa fórma, não houve, nos anos iniciais da colonização, a criação de povoados. Porém, a investida constante de europeus no litoral, principalmente franceses, interessados em explorar o pau-brasil, começou a preocupar a Coroa portuguesa.
Para agravar a situação, os portugueses perderam o monopólio do comércio de especiarias no Oriente para holandeses e espanhóis.
Diante desse quadro, a partir de 1530, a Coroa portuguesa tomou medidas para manter o contrôle sobre sua colônia americana. Para garantir a defesa do território e promover a organização de atividade econômica que gerasse lucros, a Coroa decidiu estimular a fixação de portugueses na colônia e investir na produção de açúcar da cana, produto muito valorizado pelas elites europeias.
O cultivo da cana
Os portugueses já tinham experiência e conhecimentos técnicos necessários para a produção de açúcar, pois cultivavam cana em outras de suas colônias, nas ilhas atlânticas da Madeira e de Cabo Verde.
O litoral da região que hoje corresponde aproximadamente ao Nordeste do Brasil oferecia as condições necessárias para o cultivo da cana: clima quente e úmido e solo massapêglossário .
A fim de criar núcleos de povoamento em sua colônia americana, em 1531 a Coroa enviou uma expedição à América, comandada por Martim Afonso de Souza ( cêrca de1490-1564). Em 1532, Martim Afonso fundou São Vicente, a primeira vila portuguesa em terras americanas, onde introduziu o cultivo de cana. Começava, assim, a efetiva colonização da América portuguesa.
Inicialmente, a produção colonial representava uma parte muito pequena das rendas da Coroa portuguesa. Porém, já no final do século dezesseis, o açúcar produzido na colônia havia se tornado mais lucrativo do que o comércio oriental de especiarias e produtos de luxo.
A mão de obra indígena foi utilizada na produção açucareira; no entanto, em pouco tempo ela foi substituída pela mão de obra de pessoas escravizadas trazidas da África. A partir do século dezessete, os africanos já representavam a maioria da população colonial.
Colonização e escravização
O comércio escravista, da África para as colônias europeias na América, foi uma atividade mercantil extremamente lucrativa para os portugueses e para outros europeus que passaram a participar dessa ampla rede de negociantes. A atividade integrou-se ao sistema de exploração econômica nos territórios coloniais e possibilitou às potências europeias que obtivessem uma enorme acumulação de capitais.
O escravismo tornou-se a mola propulsora do sistema colonial implantado na América portuguesa e ajudou a estruturar a economia de plantation, isto é, a produção agrícola monocultora, em larga escala e em grandes extensões de terra, voltada para o mercado externo. O sucesso e a lucratividade da produção açucareira no território também se apoiaram na exploração do trabalho escravo. O regime de escravidão estava no centro de toda a produção da América portuguesa e marcava a fórma como as relações eram constituídas na colônia. A maioria das atividades era realizada por mão de obra escrava, e o fato de a pessoa ser ou não escravizada era determinante para o lugar que ocuparia na sociedade colonial.
O impacto do tráfico escravista na África
Quando os europeus chegaram à África, as guerras para a obtenção de escravos ocorriam por motivos étnicos, tribais ou religiosos. No entanto, visando obter lucros e vantagens econômicas crescentes, os comerciantes europeus alteraram o sentido da escravidão africana, dando-lhe um caráter essencialmente econômico. Dessa fórma, alguns reinos africanos participavam do comércio de escravizados, vendendo aos europeus os prisioneiros capturados em guerras. Negociantes também percorriam o interior do continente em busca de pessoas para serem comercializadas com os traficantes europeus.
Vários entrepostos foram instalados no litoral africano, onde as pessoas escravizadas eram negociadas. O comércio escravista promoveu o enriquecimento dos envolvidos nesse negócio, mas provocou a desorganização de diversos reinos e uma drástica diminuição demográfica na África entre os séculos quinze e dezenove, o que comprometeu o seu desenvolvimento econômico e deixou marcas profundas nos povos africanos.
BIBLIOTECA Nacional Digital: Tráfico. Disponível em: https://oeds.link/UhKqAI. Acesso em: 31 janeiro 2022. Dossiê da Fundação Biblioteca Nacional sobre o tráfico de escravizados para o Brasil.
A administração da colônia
No início, o govêrno português não tinha recursos para assumir diretamente a colonização de suas terras na América. A solução foi transferir essa tarefa para particulares. Assim, a colônia foi dividida em 15 faixas de terra, chamadas de capitanias hereditárias, que se estendiam do litoral até a linha imaginária estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas. Cada capitania era administrada por um capitão donatário, escolhido pelo rei de Portugal, que tinha a permissão de usufruir as terras pertencentes à Coroa, mas não podia vendê-las.
Com exceção das capitanias de São Vicente e Pernambuco, que tiveram sucesso com o cultivo da cana-de-açúcar, as demais fracassaram. Os altos custos do empreendimento, o isolamento das capitanias, as doenças tropicais e as relações hostis com indígenas, entre outras dificuldades, impediram que muitos donatários tomassem posse de suas terras.
Para garantir a defesa da colônia, em 1548 a Coroa criou o governo-geral, um centro político para administrar a América portuguesa, com séde em Salvador. O primeiro governador-geral, Tomé de Sousa (1503-1579), chegou ao Brasil em 1549, acompanhado de padres jesuítas, funcionários reais, soldados, artesãos, entre outros.
As câmaras municipais organizavam o cotidiano das vilas e das cidades. Elas providenciavam a construção de obras públicas, cuidavam da limpeza das ruas, organizavam as festas religiosas, cobravam impostos, fixavam os pesos e as medidas, determinavam a prisão dos acusados de perturbar a ordem, entre outras atribuições. Somente os chamados homens-bons (proprietários de terra e de escravizados, que eram portugueses ou seus descendentes) podiam ser eleitos vereadores das câmaras municipais.
Em debate
Reconstruindo as capitanias hereditárias
Em julho de 2014, o engenheiro Jorge Cintra, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, divulgou um novo estudo acerca das capitanias hereditárias. Segundo ele, o mapa tradicional das capitanias (mapa 1), que se baseia nas pesquisas do historiador Francisco Adolfo de vãrnrárrê (1816-1878), contém erros.
Analisando os mapas e as cartas de doação da época, que apresentam a extensão das terras distribuídas aos capitães donatários, Jorge Cintra descobriu que as divisões ao norte do Brasil foram feitas equivocadamente com base nos paralelos, e não nos meridianos. Diante disso, o engenheiro propôs um novo mapa das capitanias hereditárias (mapa 2).
- Observe e compare os dois mapas. Quais são as principais diferenças no mapa proposto por Jorge Cintra (mapa 2) em relação ao mapa tradicional mapa 1)?
- Os meridianos e os paralelos são linhas imaginárias que nos ajudam a localizar diferentes pontos da superfície terrestre em um mapa. Com base nos seus conhecimentos em Geografia, defina o que são meridianos e paralelos. Se precisar, consulte livros ou sáites e converse com os colegas e o professor.
Capitanias hereditárias (1534)
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 16.
capitanias hereditárias (1534-1536)
Fonte: CINTRA, Jorge. Reconstruindo o mapa das capitanias hereditárias. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, volume 21, número2, página11-45, dezembro2013. Disponível em: https://oeds.link/hJHNd4. Acesso em: 28 janeiro2022.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- O que levou a Coroa portuguesa a iniciar o processo de ocupação efetiva do território conquistado na América?
- Leia a seguir um texto escrito por Pero de Magalhães Gândavo, um viajante, cronista e historiador português que viveu no século dezesseis nas terras que mais tarde formariam o Brasil. Depois, responda às questões.
Os moradores desta Costa do Brasil, todos têm terras de sesmarias dadas e repartidas pelos Capitães da terra, e a primeira cousa [coisa] que pretendem alcançar são escravos para lhes fazerem e grangearem suas roças e fazendas, porque sem eles não se podem sustentar na terra: e uma das cousas por que o Brasil não floresce muito mais é pelos escravos que se alevantaram e fugiram para suas terras e fogem cada dia: e se estes índios não foram [fossem] tão fugitivos e mudáveis, não tivera comparação a riqueza do Brasil. As fazendas donde se consegue mais proveito são açúcares, algodões e pau do brasil [pau-brasil], com isto fazem pagamento aos mercadores que deste Reino lhes levam fazenda porque o dinheiro é pouco na terra, e assim vendem e trocam uma mercadoria por outra em seu justo preço.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Senado Federal, 2008. página 54.
- Pero de Magalhães Gândavo descreve que tipo de organização territorial da colônia?
- Do que os colonos necessitavam para se sustentar e produzir na terra conquistada?
- Qual era a maior dificuldade encontrada pelos colonos?
- Que produtos mencionados por Gândavo eram os mais proveitosos na terra do Brasil?
- Organizem-se em grupos para responder às questões:
- Qual foi o objetivo da Coroa portuguesa ao organizar o governo-geral? Onde estava localizada a sua séde administrativa?
- Quais eram as funções das câmaras municipais no período colonial?
- Hoje, quais são as funções das câmaras municipais, ou câmaras dos vereadores?
- Observe o mapa a seguir. Depois responda às questões.
O tráfico de escravizados para o Brasil
Fonte: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas: história do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. página 9.
- Identifique os principais portos de embarque de pessoas escravizadas no continente africano para o Brasil.
- Localize as principais cidades onde os africanos escravizados desembarcavam no Brasil.
- Por que a maior parte dos escravizados eram conduzidos para cidades litorâneas?
Ser no mundo
Identidades latino-americanas
Ao pôr em prática a exploração colonial, a Coroa portuguesa seguiu a lógica mercantil, mas estabeleceu relações específicas em cada uma das terras conquistadas que integraram seu império. Em algumas regiões da África, por exemplo, foram construídos fortes e feitorias, onde era realizado o comércio escravista e de outros produtos, sem a implantação de um govêrno diretamente controlado pelos portugueses. Na América, os portugueses implantaram uma colônia com govêrno permanente, exploraram as riquezas que encontraram no território e impuseram o trabalho forçado aos indígenas – que em um segundo momento foram substituídos pela mão de obra de africanos escravizados, cujo tráfico representava uma rede de negócios muito lucrativa. As riquezas, os produtos obtidos e comercializados na colônia, visavam atender às necessidades do mercado europeu.
Será que os processos históricos do passado colonial influenciaram a formação territorial, cultural e populacional do Brasil e de outros países do continente e continuam influenciando quem somos hoje? O que define nossas identidades? Com base em reflexões como essas, o historiador mexicano Edmundo Ô Gôrmantece algumas considerações:
reticências Real, verdadeira e literalmente a América, como tal, não existe, apesar da existência da massa de terras não submersas que, no decorrer do tempo, acabará por lhe atribuir esse sentido, esse significado. Colombo, pois, vive e atua no âmbito de um mundo em que a América, imprevista e imprevisível, era, em todo caso, mera possibilidade futura, mas da qual, nem ele nem ninguém tinha ideia, nem poderia tê-la.
Ô Gôrman, Edmundo. A invenção da América: reflexão a respeito da estrutura histórica do Novo Mundo e do sentido do seu devir. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992. (Coleção Biblioteca básica). página 99.
O advento da América, no sentido da reflexão proposta pelo historiador Ô Gôrman, só pode ser entendido como um fenômeno colonial, que reflete as relações de dominação dos povos europeus sobre os indígenas, africanos e aqueles que vieram a constituir a população do chamado “novo mundo”, como lugar concebido sob o ponto de vista do colonizador.
A partir da obra de Ô Gôrman“A Invenção da América”, podemos, pois, ir além das interpretações históricas cristalizadas que tratam o continente americano como uma descoberta europeia, logo, sujeito a dominação dos espanhóis e portugueses – o que engloba terras, povos, identidades, epistemologias e aspectos outros. reticências Ô Gôrman lança luz sobre uma possibilidade, até então, encoberta nos debates da história do continente: a América não poderia ter sido descoberta, pois não existia; a América, isto pôsto, foi inventada; a América só passa a existir quando conceituada tal qual América; a América, portanto, não à toa, é uma invenção europeia e, sendo assim, é despojada de toda a sua “americanicidade original” – e conceituada de acôrdo com os interesses europeus para com aquela porção de terras, aquele novo continente.
reticências
Tomando como fundamento primeiro a ideia de raça, a colonização seguiu um caminho que não apenas distinguiu os sujeitos históricos enquanto colonizados ou colonizadores, mas, de mesmo modo, naturalizou esta distinção numa condição de superiores e inferiores, de modernos e primitivos.
GUERRA, Rodrigo de Morais. Invenção da América, colonialidade do poder e pós-colonialismo: reflexões acerca do primitivo Novo Mundo. Relacult, Foz do Iguaçu, volume 6, número 6, março 2020. página 2-4. Disponível em: https://oeds.link/1Etq6l. Acesso em: 28 janeiro2022.
- O que o historiador Ô Gôrman quis dizer com a afirmação de que a América na época de Colombo era mera possibilidade futura?
- Releia o segundo texto citado. Nele, o autor analisa a obra do historiador Ô Gôrmane ressalta a ideia de que a América não foi descoberta, e sim inventada pelos europeus. Em seu caderno, escreva um texto utilizando argumentos para explicar essa afirmação.
- Formem uma roda de conversa na sala de aula para discutir as seguintes questões:
- Vocês se sentem mais brasileiros ou mais latino-americanos? Por quê?
- Que aspectos nos aproxima e nos diferencia do restante da América de colonização espanhola?
- O nosso passado colonial influencia quem somos hoje?
- Na opinião de vocês, é possível criar identidades latino-americanas para além da visão de América forjada no processo histórico colonial?
Glossário
- Massapê
- Terra argilosa, de cor escura e fértil.
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