UNIDADE seis  A ECONOMIA AÇUCAREIRA

Pintura. Vista de um local aberto. À esquerda e à frente, local com vegetação, com árvores altas e duas palmeiras. Ainda à esquerda, mais ao fundo, sobre uma plataforma de madeira, dois homens trabalham espalhando um material sobre a plataforma para a secagem. À direita, sobre o solo marrom, há três pessoas em pé e uma sentada. Ao fundo, à direita, uma construção grande,uma espécie de barracão aberto sustentado por vigas de madeira e coberto por um telhado marrom, dentro desse espaço,  há maquinário com uma moenda formada por uma grande roda com dezenas de pessoas perto do local, trabalhando. Em segundo plano à direita, um casarão de dois andares em tons de bege e branco. No alto, o céu de cor cinza e nuvens brancas.
pôst. Engenho. cêrca de 1668. Óleo sobre madeira, 40 por 64,1 centímetros. Coleção particular. A pintura representa um engenho, complexo produtor de açúcar, com a moenda em primeiro plano, à direita. Ao fundo, vê-se a casa-grande, onde moravam o senhor do engenho e sua família.
Pintura. Vista geral de um local aberto. Em primeiro plano, na parte inferior da pintura, vegetação rasteira de cor verde, com arbustos da mesma cor. No centro, sobre o solo marrom, há um grupo de sete pessoas, homens e mulheres, com saiotes brancos e vermelhos e blusas verdes com golas brancas. Atrás delas, um rio de águas azuis. No canto direito, em meio à vegetação, há uma casa de cor bege, com duas janelas retangulares, porta retangular no centro, com vegetação verde no entorno da construção e sobre seu telhado. Ao fundo, atrás do rio, vegetação com arbustos em tons de verde, e uma cidade com casas baixas de cor bege. No alto, o céu azul claro e nuvens brancas.
Pôst, Frens. Paisagem em Pernambuco com casa-grande. 1665. Óleo sobre madeira, 59 por 94,5 centímetros. Museu de Arte de São Paulo Assis chatôbrian, São Paulo.
Gravura. Vista geral de um local aberto com solo de terra batida, No centro, perto de um carro de boi feito de madeira que contém caules de cana-de-açúcar amarelada, quatro homens negros manuseiam a cana-de-açúcar: dois deles a retiram do carro de madeira, um a transporta para a moenda, no centro e outro manuseia a moenda. Um dos homens usa blusa amarela, bermuda em azul e é  visto de costas, retirando a cana do carro. Outro homem é visto de frente, com chapéu amarelo, blusa azul clara e calça de mesma cor. Ele manuseia a cana sobre o carro. À frente do carro de madeira, um homem visto de costas, sem blusa, de calça vermelha, carrega a cana sobre o ombro direito. À frente dele, no centro, há uma  máquina sustentada por vidas de madeira com grandes engrenagens de ferro, redondas e um cilindro, no centro,: a moenda. Ela está colocada sob uma espécie de barracão aberto, retangular, sustentado por vigas de madeira e coberto por um telhado de telhas de cor marrom. Diante de uma das engrenagens da moenda, um homem de blusa verde e calça amarela faz alguns feixes de caules de cana-de-açúcar passarem por um cilindro, no centro da moenda. À direita do carro de boi, há uma mulher negra, de vestido cor de rosa e chapéu vermelho que segura os arreios de um cavalo de pelagem marrom  parado atrás dela. Em segundo plano, à direita, uma casa de cor verde com telhado de telhas na cor marrom, com uma varanda na frente, onde há duas pessoas brancas em pé, vista de frente: um homem de blusa amarela e lenço no pescoço e uma mulher de cabelos castanhos e vestido cor de rosa,. A mulher branca de vestido rosa molda um pão de açúcar, na forma de um cone branco, sobre a mureta da varanda da casa. Há outros dois pães de açúcar apoiados na mureta à esquerda daquele moldado por ela. Diante da casa, visto de costas, há um homem branco, de cabelos claros, casaco azul, calças azuis e botas de cano longo marrom. Esse homem segura o chapéu em uma das mãos e está com os braços abertos, como se conversasse com o homem de blusa amarela em um patamar mais elevado, na varanda da casa. À esquerda, diante da moenda, há um boi deitado no solo, dois bois em pé e uma pequena cabra ao lado deles. Ao fundo, à direita, árvores com folhas verdes e ramos finos e um morro alto com vegetação verde. No alto, o céu azul claro.
Rugendás Iôrram Morrítis. Moinho de açúcar. 1835. Litografia, 19,9 por 28,2 centímetros. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

Entre os séculos dezesseis e dezessete, o cultivo da cana-de-açúcar era a atividade econômica mais importante da América portuguesa.

Originária da Índia, a cana-de-açúcar encontrou na América as condições ideais de cultivo. As lavouras ocupavam grandes extensões de terra e estavam concentradas principalmente nas áreas próximas ao litoral da região que hoje corresponde ao Nordeste. Naquele tempo, o açúcar obtido da cana era muito valorizado na Europa. Com a produção em larga escala, ele passou a ser cada vez mais consumido pelas elites europeias, que pagavam preços elevados pelo produto.

Os rendimentos gerados com a produção de açúcar foram muito significativos para a economia de Portugal, e a atividade favoreceu o processo de colonização e a efetiva ocupação da América portuguesa pelos colonizadores.

Você imagina qual foi o impacto da difusão do açúcar, principalmente na Europa, no período colonial? E o que sabe sobre a influência da produção açucareira na organização da sociedade colonial?

Você estudará nesta Unidade:

A produção açucareira, principal negócio da colônia portuguesa

A vida nos engenhos

Escravidão e resistência na América portuguesa

A invasão da América portuguesa pelos holandeses

CAPÍTULO 14  O PRINCIPAL NEGÓCIO DA COLÔNIA

Durante os dois primeiros séculos de colonização, o açúcar foi o produto mais lucrativo para a Coroa portuguesa e para os comerciantes envolvidos com o seu negócio.

O cultivo do açúcar na América portuguesa foi empreendido por vários motivos. Portugal já tinha experiência com a produção açucareira em suas ilhas do oceano Atlântico. Banqueiros e grupos comerciais europeus tinham grande interesse em financiar o empreendimento e, depois, distribuir e negociar o produto no mercado internacional. Além disso, na colônia americana havia solo e clima adequados ao cultivo da cana-de-açúcar. Os melhores resultados foram obtidos na faixa litorânea da região que corresponde ao atual Nordeste, principalmente em Pernambuco e na Bahia. As duas capitanias foram favorecidas pela maior proximidade da metrópole, pela disponibilidade de terras aráveis e pela existência de rios navegáveis, que facilitavam o transporte do açúcar.

A empresa açucareira, no entanto, não se sustentava sozinha. Outras atividades, como a produção de alimentos, a criação de gado bovino e serviços artesanais, desenvolveram-se para atender às necessidades dos moradores da colônia.

Pintura. Vista de um local aberto com chão de terra marrom. À esquerda, cercada por árvores altas de folhas verdes e duas palmeiras, uma casa de dois andares, paredes de cor branca, com uma varanda no segundo andar e um telhado de duas águas de telhas na cor marrom. Na varanda da casa, há dois homens brancos de cabelos escuros, vestidos com casaco de cor marrom e camisa branca. Um, de frente, usa uma calça branca. Outro, de costas, usa uma calça marrom e um chapéu preto. Eles conversam entre si. À direita, há nove pessoas negras, homens e mulheres, alguns em pé,  outros sentados. Aqueles que estão sentados têm grandes cestos de palha ao redor deles. Eles vestem blusas brancas, saias ou calças cor de rosa ou marrom e alguns têm fitas brancas ao redor da cabeça e fitas vermelhas ao redor da cintura. Em segundo plano, à direita, mais ao fundo, uma espécie de estrada de solo arenoso, por lá, há mais quatro pessoas, indistinguíveis. Ao redor dessa estrada, há vegetação verde que se espalha em linhas até o horizonte. No alto, o céu azul claro e nuvens brancas.
Pôst, Frens. Paisagem brasileira com a casa de um trabalhador. 1655. Óleo sobre madeira, 46,5 por 62,9 centímetros. Museu de Arte do Condado de Los Angeles, Estados Unidos.

A organização da produção açucareira

Os donatários das capitanias hereditárias distribuíam aos colonos sesmarias, lotes de terra que deveriam ser explorados economicamente. Se o detentor da sesmaria não tivesse condições de investir na produção, podia ceder o direito de uso da terra, ou de parte dela, recebendo em troca uma parcela do que fosse produzido ou uma quantia em dinheiro. Esse regime ficou conhecido como arrendamento.

A atividade açucareira esteve associada a financiadores europeus, principalmente flamengosglossário e holandeses, que emprestavam dinheiro para os investimentos necessários à aquisição e manutenção de maquinário, à compra de escravizados e ao aumento da área de cultivo.

O cultivo da cana-de-açúcar (séculos XVI-XVII)

Mapa. O cultivo de cana-de-açúcar. Séculos 16 e 17. Mapa representando o leste da América do Sul, com foco em parte do território que hoje compreende o Brasil, destacado em lilás e contornado de cinza no mapa. Algumas áreas estão destacadas em cores distintas. Uma linha vertical azul corta o território, desde a Ilha de Marajó, ao norte, até a região que hoje compreende o litoral de Santa Catarina, ao sul. A linha azul está indicada como 'Meridiano de Tordesilhas'. Na legenda,  em vermelho 'Século 16'. Nesse período, a cana-de-açúcar era cultivada no litoral próximo às cidades de Paraíba, Olinda e Recife, no litoral ao sul da cidade de Recife, ao norte de Salvador, em torno de Ilhéus, em torno de Vitória e Espírito Santo, em torno da cidade do Rio de Janeiro, a norte de Santos e de São Vicente e em Itanhaém. Em verde, 'Século 17'.  No período, a cana-de-açúcar  passou a ser cultivada também no litoral em torno da cidade de São Luís, no litoral ao redor da cidade de Natal, ao sul de Salvador, ao norte de Porto Seguro, ao norte do Rio de Janeiro e na região de São Vicente. No canto inferior, centralizada, rosa dos ventos e escala de 0 a 390 quilômetros.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 20, 28.

Gravura em preto e branco. Vista de um local aberto, com três galpões abertos feitos de vigas de madeira com telhados de palha ou telhas. 
No canto esquerdo, em primeiro plano, dois bois puxam um carro de madeira fechado com uma espécie de lona,  com uma pessoa dentro. Um dos bois se alimenta da vegetação sobre o solo. 
À frente do carro de boi, há uma pilha de caules de cana-de-açúcar sobre solo, e um homem negro à frente, agachado, sem blusa, com um tecido branco amarrado ao quadril, manuseando os caules de cana-de-açúcar. Atrás dele, há cerca de sete plantas vivas de cana-de-açúcar com seus caules verticais e folhas finas. Há outro carro de boi, visto parcialmente atrás dos caules de cana-de-açúcar. Esse carro está carregado de cana e, sobre o monte de caules, há um homem negro formando feixes com os caules da pilha de cana sobre o carro.
Em segundo plano, à esquerda, há uma construção como um barracão aberto em um dos lados, com um telhado de uma água coberto de telhas; no centro desse barracão está a moenda, com engrenagens grandes arredondadas, cilindros verticais no centro e pessoas em pé, moendo cana-de-açúcar, passando os caules pelos cilindros. No canto direito dessa construção, há três aberturas com o topo em forma de arco, e dentro delas, fogo. São fornos.  Duas pessoas trabalham ali, uma em cada forno.
Atrás desse barracão, há ainda mais um barracão, coberto de telhas e com duas pessoas trabalhando em uma máquina com um grande cilindro vertical no centro e dois bois atrelados a uma longa haste da máquina, movendo-a. 
À direita, há uma construção aberta, como um barracão ou galpão com telhado de palha. Dentro dela, há três homens negros trabalhando. Dois deles estão de costas, diante de duas estruturas feitas de tijolos, de forma arredondada. Eles seguram nas mãos longas colheres de tamanho grande. Estão purgando o açúcar. 
À direita deles, há outro homem, perto de um equipamento de madeira, que jorra um líquido em uma vasilha. No chão, há vasos de formas diferentes. Ao fundo, sobre uma prancha de madeira, há dezenas de pães de açúcar (açúcar moldado em formato de cone), secando sobre o tampo de uma mesa de madeira. 
Ao fundo, local com vegetação, um morro alto, uma casa baixa e comprida e árvores à esquerda e à direita.
Produção de açúcar em engenho de Pernambuco. cêrca de 1680. Gravura, 21 por 29,5 centímetros. Arquivo da cidade de vancúver, Canadá.

Engenho: o complexo do açúcar

O engenho, local de fabricação do açúcar, era composto da lavoura canavieira, das instalações onde a cana era transformada em açúcar e das moradias de proprietários e trabalhadores. Grande parte dos engenhos também contava com uma capela, onde eram realizados casamentos, missas e festividades previstas no calendário da Igreja católica.

A produção do açúcar era feita em várias etapas. Após a colheita, a cana era levada até as moendas, onde passava por cilindros de madeira para a extração do caldo. A moagem podia ser feita com o uso da fôrça da água ou por tração animal.

Sob a supervisão do mestre de açúcar, o caldo era cozido até virar melaço, o qual era depositado em fôrmas de barro para purgarglossário . Depois, o produto era exposto ao sol por até 20 dias, pesado, empacotado e enviado para a Europa.

É importante perceber que a organização do espaço do engenho, que era uma grande propriedade latifundiária, refletia as relações sociais e de poder que envolviam a sociedade colonial e o processo produtivo do açúcar.

A casa-grande era a residência dos senhores de engenho, o centro administrativo e religioso da propriedade. As primeiras construções, com paredes de barro e teto de sapé ou folhas de palmeira, tornaram-se depois mais sólidas, com alicerces em pedra e telhados de barro.

Os escravizados habitavam a senzala, construção bastante precária, em geral em fórma de grandes pavilhões térreos, divididos em cubículos destinados a casais ou indivíduos solteiros, ou sem divisões, destinada a abrigar vários membros de uma família.

Fotografia. Vista geral de um local aberto. À frente, solo plano com grama de cor verde,, No centro, à frente de uma construção, uma estrutura tubular cinza, coo uma grande chaminé. Atrás dela, um casarão de paredes de cor branca, com varanda e telhado coberto de telhas de cor marrom. À direita, uma árvore frondosa de folhas verdes. No alto, o céu azul claro e nuvens brancas.
Engenho de São João na Ilha de Itamaracá, no estado de Pernambuco, construído no século dezessete. Fotografia de 2021.

A vida nos engenhos

O engenho reunia senhores, pessoas escravizadas, sacerdotes e diferentes tipos de trabalhadores livres e expressava, em grande parte, a sociedade colonial da América portuguesa. Conheça agora as características dos grupos sociais que integravam a vida nos engenhos e suas tarefas na economia açucareira.

Os escravizados

Os africanos escravizados realizavam a maior parte das atividades nos engenhos. Além de participar da produção de açúcar, trabalhavam como marceneiros, barqueiros, ferreiros e pedreiros. Muitos desempenhavam atividades especializadas, pois tinham conhecimentos e técnicas que foram desenvolvidos no continente africano por diversos povos, como a metalurgia, o artesanato e a arte da construção de objetos e edificações.

As mulheres escravizadas em geral realizavam diversas atividades domésticas para os senhores de engenho e trabalhavam no eitoglossário .

As refeições dos escravizados eram à base de farinha de mandioca e de alguns poucos pedaços de carne-sêca ou peixe. Recebiam poucas peças de roupas, motivo pelo qual suas vestes viravam farrapos. Era frequente haver nas fazendas teares domésticos para a fabricação de tecidos.

O cotidiano dos escravizados

A vida dos escravizados de origem africana na América portuguesa foi marcada, sobretudo, pela violência nas relações sociais e de trabalho. No entanto, havia distinções entre o cotidiano dos escravizados que realizavam atividades domésticas, dentro da casa dos senhores, e dos que exerciam atividades nas lavouras ou dentro dos engenhos.

O trabalho de fabricação do açúcar era voltado para a produtividade; com isso, os escravizados eram explorados ao máximo para garantir os rendimentos da empresa açucareira. O cotidiano dos escravizados domésticos também era pesado e violento, porém as relações sociais entre senhores e escravizados se desenvolviam em outras bases, no espaço das relações familiares, que algumas vezes disfarçavam as brutalidades da escravidão.

Gravura. Em um local aberto com chão de terra batida marrom e vegetação rasteira à esquerda, no centro, uma construção grande de paredes brancas, aberta à direita e em um dos lados (à frente), sustentada por vigas verticais e com um telhado coberto de telhas na cor marrom. Dentro da construção, no centro dela, há uma grande moenda, com uma grande engrenagem na cor marrom, de formato redondo, disposta horizontalmente. Essa engrenagem é sustentada por uma armação de madeira de formato quadrado e, no centro dela, há três cilindros dispostos verticalmente. No canto direito da construção, há uma grande roda de madeira, do teto ao chão da construção, disposta verticalmente. Diante dos cilindros da moenda, vistos de costas, uma mulher negra e um homem negro, ela de vestido longo branco e ele sem blusa e de bermuda branca. À direita, perto de uma viga, um homem negro de bermuda branca e torso nu segura  um tabuleiro apoiado no topo de sua cabeça. À esquerda, perto de outra viga, uma mulher negra de vestido longo branco carrega um feixe de cana-de-açúcar sobre a cabeça. Ao lado dela, à esquerda, um homem negro carrega um feixe de cana sobre o ombro esquerdo; ele está curvado sobre uma pilha de caules de cana-de-açúcar. À esquerda, dois homens negros vestidos com bermudas brancas são vistos de costas trabalhando diante de dois fornos em formato de arco, construídos nas paredes  brancas da construção. Atrás da construção, vista parcialmente, uma palmeira. No alto, o céu azul claro e nuvens brancas.
Cóster, Rênri. A xúgar mil (Um moinho de açúcar). 1816. Gravura, 26 centímetros de altura. Biblioteca Brasiliana da Universidade de São Paulo, São Paulo. A obra representa homens e mulheres escravizados trabalhando em um engenho de açúcar pernambucano do século dezenove. As relações de trabalho eram semelhantes às que se viam nos engenhos no séculodezesseis.
Os senhores de engenho

As grandes propriedades onde a cana era cultivada e o açúcar fabricado pertenciam aos senhores de engenho. Eles eram detentores de um volume significativo de riquezas, terras e pessoas escravizadas e representavam o poder máximo nos engenhos. Em seu dia a dia, ocupavam-se com a administração da propriedade, com o comércio de açúcar e de escravizados e com o pagamento dos trabalhadores livres.

Muitos engenhos ficavam próximos às cidades portuárias. Vários senhores de engenho tinham residência, negócios e cargos públicos nas cidades.

O rural e o urbano na colônia

A vida na América portuguesa era predominantemente rural. Contudo, nem todos os lavradores e os senhores de engenho moravam em suas propriedades. Por exemplo, os que tinham fazendas próximas a Olinda e a Salvador, capital da colônia, muitas vezes residiam nessas cidades.

Os senhores que tinham mais de uma propriedade geralmente contratavam pes­soas para administrá-las. As visitas do proprietário às suas terras ocorriam especialmente no período do córte de cana (iniciado em agosto), que era a época mais importante e movimentada do ano.

Trabalhadores livres

Em todas as etapas da produção do açúcar, havia um enorme número de escravizados. Mas também havia o trabalho de homens livres, que realizavam tarefas especializadas:

  • feitores: o feitor do eito escolhia as terras para o plantio e o tipo de cana utilizado na lavoura e determinava os momentos adequados para o cultivo e a colheita. O feitor da moenda recebia os feixes de cana e controlava a produção do caldo. Acima deles estava o feitor-mor, que controlava o trabalho dos escravizados e assegurava o bom estado dos equipamentos.
  • mestre de açúcar: garantia a qualidade do produto final. Ele definia o momento em que o melaço estava pronto para ser retirado do fogo e levado à purga.
  • outros trabalhadores: o purgador administrava o processo de clareamento do açúcar, enquanto o caixeiro retirava a parte dos impostos que cabia à Coroa.
Gravura. Imagem de recorte horizontal. Vista geral de um local aberto com o solo coberto de grama verde. Em primeiro plano, um barracão sustentado por vigas de cor marrom, com telhado de telhas de cor vermelha, aberto na frente e à direita. No centro do barracão, uma moenda, com uma grande engrenagem redonda em marrom, disposta horizontalmente, abaixo dela, cilindros ma vertical e quatro pessoas negras, com tecidos de cor rosa, amarelo e azul amarrados à cintura trabalhando diante dos cilindros. À esquerda, ainda sob o barracão, um carro de boi levando sua carga. Mais à esquerda, fora do barracão, um carro de boi carregando cana, guiado por um homem negro de torso nu, com um tecido vermelho amarado à cintura. Na lateral do barracão, dois homens negros cada um trabalhando diante de um forno. À direita, sob o barracão, uma roda de madeira, alta do teto ao chão do barracão. A roda forma um moinho movido à água, e está encaixada em um pequeno curso de água ladeado por pedras. Em segundo plano, um casarão grande com dois pavimentos, de paredes em bege, telhado com telhas de cor vermelha. Na varanda da frente do casarão, um homem branco, de cabelos escuros e roupa vermelha. À esquerda do casarão, mais ao fundo, uma construção de um só pavimento, com o telhado coberto de palha. Na frente dessa construção, há um grupo de homens e mulheres negros, alguns com um dos  braços erguido para o alto. à esquerda, uma palmeira. No alto, o céu.
Pôst, Frens. Representação do Engenho de Itamaracá, feita para mapa de Gaspar Barleis, da obra Rêrum per octênium in Brasília. 1647. Gravura (detalhe), 42 por 54 centímetros. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa, Portugal.
Os lavradores de cana

Os produtores de cana que não tinham condições de assumir os custos da instalação de um engenho eram chamados de lavradores. Eles se dividiam basicamente em duas categorias: os lavradores proprietários e os arrendatários. Os proprietários cultivavam a cana em suas terras e a moíam em outro engenho. Os arrendatários plantavam e moíam a cana nas terras de um proprietário e entregavam a ele metade ou a terça parte do açúcar produzido.

Os lavradores de cana tiveram muita importância na sociedade açucareira. No século dezessete, havia na América portuguesa, em média, cinco lavradores de cana para cada engenho. Eram desde indivíduos humildes até produtores prósperos, com dezenas de escravizados e ligados, muitas vezes, ao comércio açucareiro e à política.

O trabalho no engenho na visão de Antonil

O jesuíta italiano André João Antonil (1649-1716) chegou em 1681 a Salvador, na capitania da Bahia, permanecendo naquela cidade até a sua morte. Grande orador e escritor, publicou, em 1711, um livro em que relata as condições sociais e econômicas na colônia. Conheça a seguir um trecho em que ele descreve o trabalho no engenho de açúcar.

Servem ao senhor do engenho, em vários ofícios, além dos escravos de enxada e foice que tem nas fazendas e na moenda e fóra os mulatos e mulatas, negros e negras de casa ou ocupados em outras partes, barqueiros, canoeiros, calafatesglossário , carapinasglossário , carreirosglossário , oleirosglossário , vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais cada senhor destes necessariamente um mestre-de-açúcar, um banqueiro e um contrabanqueiro, um purgador, um caixeiroglossário no engenho e outro na cidade, feitores nos partidos e roças, um feitor-mor do engenho, e para o espiritual um sacerdote seu capelão reticências.

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Edusp, 2007. página 79-80.

Desenho. Sobre um fundo de papel de cor bege, à direita, uma estrutura triangular, contornando uma engrenagem redonda disposta horizontalmente sustentada por quatro vigas na vertical. Abaixo, entre as vigas, três cilindros dispostos na vertical com uma pessoa à frente, moendo cana. À esquerda, uma roda pequena, disposta verticalmente está encaixada na engrenagem à direita. dela, parte uma  estrutura vertical que termina em uma grande engrenagem disposta na vertical, com aros diagonais. Próximo dela, há um homem negro sem blusa, de bermuda, que carrega sobre os ombros um feixe de cana-de-açúcar. Na ponta direita, uma porta de madeira fechada.
FREIRE, José. Moagem de canas em uma moenda de cilindros verticais movida por uma roda hidráulica. 1784. Desenho, 34,5 por 23,5 centímetros. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

Escravidão e resistência

Os castigos físicos faziam parte do cotidiano dos escravizados no Brasil. Eles eram aplicados para punir os desobedientes e dar exemplo aos demais. Os principais instrumentos de tortura eram chicotes, algemas, correntes e palmatórias.

Grande parte dos escravizados utilizou diversos métodos de resistência à escravidão, como ações organizadas e práticas cotidianas. Alguns evitavam ter filhos, outros se suicidavam. Havia aqueles que entravam em um estado de profunda tristeza e apatia, chamado banzo, que muitas vezes os levava à morte. Outros reagiram de fórma violenta, assassinando feitores, capitães do mato e familiares do senhor de engenho.

Outra fórma de resistência comum era a fuga. Muitos fugiam para cidades distantes, para as matas ou para comunidades formadas por escravizados fugidos, os quilombos. Porém fugir dos domínios do senhor era uma empreitada difícil. Assim que a ausência de um cativo era notada, os capitães do mato saíam para capturá-lo e levá-lo de volta ao proprietário.

Quilombo dos Palmares

Os quilombos eram refúgios organizados por escravizados que fugiam do trabalho forçado e da vida cativa. Os quilombos abrigavam também afrodescendentes livres, indígenas e brancos pobres.

O Quilombo dos Palmares, o mais conhecido deles, localizava-se em terras do atual estado de Alagoas e chegou a reunir mais de 20 mil pessoas. Visto como grande ameaça ao regime escravista, esse quilombo foi destruído por ordem das autoridades portuguesas em 1694. Um dos seus líderes, Zumbi dos Palmares (1655-1695), foi morto e esquartejado, e sua cabeça foi exposta em uma praça pública de Recife, como fórma de amedrontar e desestimular a fuga de outros escravizados.

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Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: Quilombo: uma forma de resistência

[LOCUTOR 2]: Pode não parecer, mas nosso país é ainda bastante jovem. Estamos distantes da época imperial há pouco mais de 130 anos, quase o mesmo tempo em que ainda existia a prática da escravidão e, para a História, essa distância entre períodos é um piscar de olhos.

Um pouco mais atrás, durante o período colonial, existiram os quilombos que, apesar de ainda não tão conhecidos, têm grande importância na história do Brasil, principalmente por seu caráter de resistência à escravidão.

[EFEITO SONORO. SOM DE TAMBORES]

[LOCUTORA]: Durante o período colonial, o Brasil era habitado por povos indígenas nativos – chamados pelos portugueses de “negros da terra” –, por africanos retirados à força dos reinos de Congo, Angola e Costa da Mina, e por europeus vindos de Portugal, Espanha, França e Holanda, que tinham como um dos principais objetivos gerar riquezas com a exploração de recursos naturais, como a cana-de-açúcar e os minérios, por meio de trabalho escravo de povos indígenas e africanos.

Por estarem mais próximas do oceano Atlântico e das rotas de comércio para exportação e tráfico negreiro, as capitanias, localizadas nas regiões Nordeste e Sudeste, tornaram-se lugares com maior desenvolvimento comercial e exploração escravista. Consequentemente, houve maior criação de quilombos e mocambos nesses lugares, os quais eram usados como estratégia de resistência dos africanos e dos indígenas escravizados.

É comum que se confundam quilombos e mocambos, já que as duas práticas fizeram parte do mesmo conjunto de estratégias usadas por escravizados contra o cativeiro. Em banto, o significado da palavra “quilombo” seria algo próximo à “sociedade dotada de hierarquia e de disciplina caracteristicamente militar”. Indo além da fortificação, podemos entender o quilombo como um conjunto de princípios, valores, regras e exercícios de combate, voltado para a proteção, o refúgio e a subsistência de africanos, que não raramente aliavam-se a indígenas e até mesmo a brancos.

A palavra “mocambo” não tem uma tradução exata, mas, na língua portuguesa, pode ter como significado “esconderijo” e também “palha”. Por isso, ao mesmo tempo em que os mocambos eram entendidos como locais de refúgio – construídos com a mesma velocidade com que eram abandonados quando havia riscos de aprisionamento –, tinham pouca durabilidade, dada à fragilidade de seus materiais de construção, como palha e madeira.

Resumindo, podemos dizer que os quilombos eram aldeamentos de mocambos, fortificados ou não, que funcionavam com regras próprias, ofereciam abrigo e proteção para africanos e indígenas escravizados ou livres, e brancos pobres. É importante dizer que nem todos os quilombos eram iguais; pelo contrário, havia os refúgios escondidos na mata, mas há documentos que relatam quilombos tão desenvolvidos que até abasteciam as cidades vizinhas.

[EFEITO SONORO. SOM DE TAMBORES]

[LOCUTORA]: O famoso Quilombo dos Palmares foi um quilombo agrícola, o maior de que se tem registro no país. Construído na capitania de Pernambuco, onde hoje se localiza o estado de Alagoas, tornou-se conhecido por ter existido por mais de 100 anos e resistido a 18 tentativas de ataque das autoridades reais. Quando seu famoso líder, Zumbi dos Palmares, foi morto em 1695, viviam ali aproximadamente 20 mil pessoas.

Os modos de funcionamento de cada quilombo eram únicos e nem todos dependiam exclusivamente da agricultura para existir. Havia os que contavam com atividades de caça, pesca e coleta de frutos, por exemplo. Esses quilombos eram os mais populosos. Havia, ainda, os quilombos mineradores, nos quais o ouro e os diamantes extraídos das minas eram trocados por alimentos ou armas. Eles estavam presentes nas regiões que contemplam hoje os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso, locais onde ocorreu uma rica fusão entre povos indígenas e povos africanos. Existia, em muitos casos, uma cumplicidade grande entre os moradores dos quilombos mineradores e os comerciantes brancos da região.

Já os quilombos extrativistas e mercantis localizavam-se na região amazônica. Lá, os quilombolas lidavam com as chamadas “drogas do sertão”, como eram conhecidas algumas plantas, que poderiam ser comercializadas com os regatões, os comerciantes de rios, que sabiam da existência dos quilombos, mas guardavam as localidades em segredo.

Na região Sul, onde hoje se localiza o estado do Rio Grande do Sul, eram comuns os quilombos pastoris, nos quais o gado selvagem era domesticado para fins de comercialização de produtos, como o couro e os chifres. Por lá, visavam-se bastante aos negócios com aventureiros portugueses e castelhanos fugitivos.

Havia, ainda, outros dois tipos de quilombos, localizados em matas próximas aos centros urbanos: os chamados quilombos de serviços eram caracterizados pela oferta de pequenos trabalhos ocasionais, como carregadores, estivadores, engraxates, leiteiros, amoladores de faca, oferecidos para viajantes em passagem pelos centros urbanos, comerciantes e até mesmo para os escravizados de ganho, ligados ao funcionamento das cidades.

Em outro extremo, havia os chamados quilombos predatórios, nos quais eram realizadas atividades de inteligência, como o planejamento de ataques a fazendas, a comércios urbanos e a viajantes desavisados.

[EFEITO SONORO. SOM DE TAMBORES]

[LOCUTORA]: Por mais variadas que fossem as atividades realizadas nos quilombos e independentemente da localização de cada um deles, uma coisa é certa: eles constituíram uma forma de resistência que não era apenas contra a escravidão, mas também a favor da conservação cultural.

Gravura. Local aberto com chão de terra batida.  No centro, uma casa de taipa pequena, com telhado coberto por folhas de palmeira. Ao redor da casa, há duas bananeiras, um pé de mamão, quatro pés de abacaxi, duas galinhas ciscando e um grupo formado por doze pessoas, mulheres, homens e crianças negras, de cabelos curtos e descalças. À frente da casa, à esquerda, um homem negro, está sentado sobre um tronco de madeira encostado na parede da casa;  vestido com uma regata lilás e uma bermuda azul clara, ele usa um gorro amarelo. Ao lado dele, no centro, na porta aberta da casa de taipa, uma mulher negra com uma saia cor de rosa e um gorro azul sobre a cabeça oferece fogo para o homem sentado, que acende um cachimbo longo na brasa oferecida pela mulher. À direita sentada no chão sobre uma pequena esteira, à porta da casa, há uma mulher sentada com as pernas esticadas, vestida com um tecido cor de rosa em torno de sua cintura e colares de contas ao redor do pescoço. Ela segura uma tesoura em uma das mãos e olha para a direita, onde há um menino negro em pé, nu, que fala com ela com as duas mãos unidas na frente do corpo, e, atrás dele,  uma criança pequena negra, nua, engatinhando sobre a terra. À esquerda da mulher com a tesoura, em pé, diante da casa, há uma mulher negra de torso nu, com uma saia longa azul, colares no pescoço e gorro amarelo na cabeça; ela segura no colo um bebê com os dois braços esticados para frente. A frente dela, no canto inferior esquerdo da imagem há dois homens: um sentado no chão apoiando as costas em uma mureta baixa onde há um tecido rosa estendido, o outro deitado de lado em uma esteira sobre o chão. Ele é visto de costas. O homem sentado usa uma blusa branca, um casaco vermelho e um gorro de cor verde. Está com as mãos sobre os joelhos e as pernas esticadas e cruzadas. O homem deitado usa um gorro vermelho, uma blusa amarela e um tecido verde com listras pretas horizontais em torno de seus quadris. À direita da casa, há vegetação, frutos e árvores com folhas verdes. Diante de uma fileira de pés de abacaxi, um menino negro, nu, segura um abacaxi amarelo na mão direita e, ao lado dele, segurando seu ombro, há um homem adulto, negro, com um gorro bege, regata rosa e saiote amarelo; Ele tem a mão direita para cima e leva sobre sua cabeça uma vasilha redonda marrom. Mais à esquerda, há outra bananeira com frutos e, à sombra dela, uma pessoa vista de lado, com uma túnica curta de cor bege, está ajoelhada sobre o chão tecendo uma esteira de palha com suas mãos. Mais ao fundo há outra casa de telhado de palhas e árvores. À esquerda, atrás da casa, visto parcialmente, um casarão grande com dois pavimentos, de paredes marrons. Na varanda desse casarão há uma mulher branca, de cabelos escuros e de blusa de mangas compridas branca, apoiada no parapeito ela olha para baixo, olhando a cena em torno da casa de taipa. No alto, o céu.
Rugendás Iôrram Morrítis. Habitação de negros. 1827-1835. Gravura, 34,5 por 53,8 centímetros. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.
Multiculturalismo. Cidadania e Civismo.
Identidade cultural

A resistência dos africanos escravizados deu-se ainda por meio da preservação de suas identidades e dos laços culturais que os uniam à África. Vindos de diferentes regiões e muitas vezes falando línguas distintas, na colônia entraram em contato com diferentes povos e costumes do continente africano. Juntos, reforçaram a relação com a história e as culturas africanas. Dessa fórma, mantiveram o culto aos ancestrais, práticas musicais e religiosas e criaram uma cultura que sintetizava a identidade dos povos que vieram da África para a América portuguesa.

Religiosidade e resistência

Até o século dezoito, as religiões de origem africana eram frequentemente chamadas de calundú, termo de origem banta que designava todo tipo de ritual religioso que envolve danças coletivas e músicas, acompanhadas por atabaques, invocação de espíritos, adivinhações, magias e possessão.

As religiões africanas eram vistas pelos católicos como feitiçaria. Para evitar a perseguição da Igreja, os africanos passaram a associar suas entidades religiosas a santos católicos, o que contribuiu para que pudessem continuar praticando algumas de suas tradições.

O movimento negro no Brasil

Abdias do Nascimento (1914-2011), sociólogo e ativista do movimento negro no Brasil, cumpriu um papel fundamental para a reflexão sobre as fórmas de atuação dos afrodescendentes na sociedade brasileira. Foi diretor-fundador do Teatro Experimental do Negro e contribuiu para a organização do Primeiro Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Como deputado federal e senador, lutou contra o racismo e pela criação de políticas afirmativas para a população afrodescendente.

Fotografia. Um homem visto dos ombros para cima com um dos braços levantados para o alto e o punho fechado. Ele é negro, tem cabelos, barba e bigode grisalhos, usa um par de óculos de grau de armação metálica, olha para frente, e veste uma blusa de mangas compridas na cor branca, com detalhes bordados em azul e amarelo nos ombros e no peito. Ao fundo, três outros homens são vistos parcialmente: à esquerda, um homem branco de camisa branca e terno preto, olhando para frente sorrindo. À direita, outros dois homens brancos e grisalhos vistos apenas parcialmente. O fundo está desfocado, há uma viga metálica como a da estrutura de um palco e um fundo preto.
Abdias do Nascimento é homenageado na cerimônia de abertura da segunda Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora, em Salvador, na Bahia, em 2006.
Ícone. Sugestão de livro.

disaléte, Marcelo. Angola Janga: uma história de Palmares. São Paulo: Venêta, 2017. Na fórma de história em quadrinhos, o livro aborda a organização do Quilombo dos Palmares e a trajetória de seus líderes.

Ícone. Sugestão de site.

Ipêafro. Disponível em: https://oeds.link/WHh69V. Acesso em: 31janeiro. 2022. O site do Ipêafro reúne o acervo do sociólogo e ativista do movimento negro Abdias do Nascimento, disponibilizando para o público suas obras e inúmeros documentos relacionados à sua trajetória.

Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a Seção Em debate.

Em debate

Diferentes visões sobre a escravidão

Leia os textos a seguir, que descrevem a visão de dois historiadores sobre as condições de vida dos escravizados durante o período em que o Brasil foi colônia de Portugal. Depois, observe a imagem e responda às questões.

Texto 1

Nos engenhos, tanto nas plantações como dentro de casa, nos tanques de bater roupa, nas cozinhas, lavando roupa, enxugando prato, fazendo doce, pilando café; nas cidades, carregando sacos de açúcar, pianos reticências, os negros trabalharam sempre cantando: seus cantos de trabalho, tanto quanto os de xangô, os de festa, os de ninar menino pequeno, encheram de alegria africana a vida brasileira. Às vezes de um pouco de banzo: mas principalmente de alegria. reticências

FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. trigésima primeira edição Rio de Janeiro: Record, 1996. página 463.

Texto 2

Os escravizados eram seres humanos oprimidos pelo mais duro dos regimes de exploração de trabalho. Não escapavam ilesos às degradações impostas por este regime.

Enfrentavam-nas com sofrimento, humor, astúcia e também egoísmo perverso. Escravizados agrediam escravizados em disputas por mulher, para entregá-los a capitães do mato ou para roubá-los. Mulheres escravizadas faziam da sedução sexual de homens livres o caminho para o bem-estar e a liberdade. reticências várias delas conseguiram sair do sufoco da senzala.

gorênder, jacó. A escravidão reabilitada. São Paulo: Ática, 1991. página 121.

Pintura. Dentro de um cômodo de paredes azuis, com uma mesa com toalha em bege claro ao centro. Sobre a mesa, pratos de comida Uma ave assada, laranjas), pratos, taças com vinho e uma garrafa escura. À esquerda, sentada à mesa, uma mulher branca de cabelos pretos amarrados em um penteado alto, usando vestido em amarelo e manto em vermelho sobre o ombro direito. Ela usa um colar e braceletes dourados, Esta com uma faca em uma das mãos, o cotovelo apoiado sobre a mesa e o outro braço esticado, entregando comida a uma criança à frente dela que está à frente da mesa. A criança está em pé, é  vista de lado, é, negra, está nua e descalça, com um colar de contas vermelhas no pescoço. Ainda à frente da mesa, ao centro, há um menino negro, sentado no chão, nu e descalço. À direita,sentado à mesa, um homem branco de cabelos pretos, e costeletas preta, vestido com uma blusa de mangas compridas branca com bolinhas vermelhas, calça branca com listras verticais azuis, meias brancas e tamancos amarelos. Ele está com o corpo inclinado, comendo com talheres nas mãos. Atrás dele, em segundo plano, um homem negro, de cabelos pretos, crespos e curtos, vestido com uma blusa de mangas compridas em rosa claro, de braços cruzados e olhar baixo. Mais à direita, ao fundo, perto de porta com batente cor de rosa, uma pessoa negra, vista parcialmente, de blusa de mangas compridas amarela, calça branca e braços cruzados. À esquerda, atrás da mulher de vestido amarelo, há uma mulher negra, de cabelos, curtos, crespos e pretos, com uma tiara prateada sobre a cabeça, vestido longo branco, colares prateados e brincos prateados nas orelhas. Ela é vista de lado com o olhar baixo, segurando um abanador de pluma nas mãos.
Debrê, Jan-Batiste. Um jantar brasileiro. 1827. Aquarela sobre papel, 15,9 por 21,9 centímetros. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
  1. Que aspecto cada autor destaca ao analisar a escravidão africana na América portuguesa?
  2. A pintura de Debret relaciona-se mais com a visão de Gilberto Freyre ou com a de Jacób Gorender? Justifique.
  3. Em seu caderno, escreva um texto com suas ideias a respeito da escravidão na América portuguesa e responda: sua visão sobre a escravidão é mais parecida com a de Gilberto Freyre ou com a de Jacób Gorender? Explique.

Nem só de açúcar vivia a colônia

A produção de cana-de-açúcar foi a base econômica da colonização portuguesa no Brasil nos séculos dezesseise dezessete. Isso não significa, contudo, que outras atividades econômicas não tenham tido importância no período, como a criação de gado e a produção de alimentos, tabaco e algodão.

A criação de gado

Nas fazendas produtoras de açúcar, os animais de tração eram empregados para puxar carros, transportar cargas, conduzir pessoas e acionar moendas e moinhos. Deles eram obtidos o couro, o leite e a carne.

Com o passar do tempo, deixou de ser vantajoso destinar uma grande área para pasto, pois era mais lucrativo plantar cana-de-açúcar. Além disso, havia o constante perigo de os animais invadirem propriedades e destruírem plantações.

Desse modo, ao longo do século dezessete, a pecuária tornou-se uma atividade complementar praticada em áreas mais afastadas do litoral e, ao avançar pelo interior, contribuiu para expandir o território.

Tabaco e algodão

Planta nativa da América, o tabaco tinha sua principal área produtora na Bahia. Destinava--se aos mercados europeus, mas também era usado na África como moeda de troca na aquisição de pessoas escravizadas.

O algodão, também um produto nativo da América, já era utilizado pelos indígenas antes da chegada dos europeus. Por volta de 1760, passou a ser exportado para a Europa regularmente. O principal centro produtor era a capitania do Maranhão.

A economia da américa portuguesa (século dezessete)

Mapa. A economia da América portuguesa. Século 17. Mapa representando o leste da América do Sul, com foco em parte da região que hoje corresponde ao Brasil.  Alguns rios estão destacados. Há diferentes territórios demarcados por áreas coloridas. Alguns ícones estão dispostos pelo mapa.
Na legenda, em marrom "Pau-brasil (extração)". Extraído no litoral, desde a região de Olinda e de Recife e ao sul de Recife; até um território que se estende desde o sul de Salvador (que foi capital da colônia entre 1534 e 1763) até o sul do Rio de Janeiro, englobando regiões mais ao interior em torno de parte do  Rio Jequitinhonha e em torno de todo o Rio Doce. 
Em verde, "Cana-de-açúcar". Plantada no litoral, nas redondezas das cidades de Natal, Paraíba, Olinda e Recife; na região costeira ao sul de Salvador, no litoral de Ilhéus até Porto Seguro, no litoral de Vitória e de Espírito Santo, no litoral de  Campos dos Goytacazes até a cidade do Rio de Janeiro; na região de Santos e de São Vicente.
Em amarelo, "Pecuária". Atividade que ocorria ao longo do Rio Parnaíba e do Rio São Francisco; em uma área localizada entre o Rio Parnaíba e a cidade de Fortaleza; a oeste da cidade de Natal e a oeste da cidade da Paraíba; no litoral ao norte de Salvador; em parte da região em torno do Rio Tietê; na região da nascente do Rio Iguaçu e ao longo do curso do Rio Uruguai.
Em vermelho, "Mineração". Ocorria a nordeste da cidade de São Paulo e a noroeste das cidades de Iguape e de Cananeia. 
Em rosa claro, "Drogas do sertão". Extraídas desde a cidade de Belém e por toda a região da Bacia Amazônica (na região em torno dos rios Amazonas, Negro, Tapajós, Madeira, Purus, Solimões e Juruá), além do oeste da Ilha de Marajó, da região da Baía de São Marcos em torno na Ilha de São Luís, e a norte da cidade de São Paulo.
Ícone representando uma folha marrom, indica: "Tabaco". Encontrado ao sul de Belém, a sudeste de São Luís, a oeste da cidade da Paraíba, na foz do Rio São Francisco, ao norte de Salvador e ao norte do Rio de Janeiro.  
Ícone representando um chumaço de algodão branco, indica: "Algodão".  Encontrado na região de Belém, de São Luís e de Olinda.  
Uma linha cinza, demarca os "Limites do Brasil atual". 
Ao norte do território uma linha curva lilás apresenta o texto: "Companhia de Comércio do Estado do Maranhão (1682-1685)".
A leste do território, uma linha curva vermelha apresenta o texto: "Companhia Geral de Comércio do Brasil (1649-1720)".
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 435 quilômetros.

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 102.

Saúde.
A produção de alimentos

Mesmo com o interesse principal na fabricação do açúcar, a Coroa portuguesa incentivou a produção de alimentos na colônia. No entanto, muitos proprietários rurais resistiam à ideia de utilizar a terra para produzir artigos voltados para o consumo local, pois estavam mais preocupados com os lucros gerados pelo comércio açucareiro.

À medida que os produtores ampliavam o cultivo de cana, diminuía a área destinada aos gêneros de subsistência. Isso provocou escassez de alimentos e a elevação de seus preços, o que gerou um problema crônico de subnutrição nas camadas mais pobres da população. Essa situação estimulou o plantio de alimentos por pequenos lavradores.

A maior parte dos produtos de subsistência cultivados tinha origem na cultura indígena, como a mandioca, principal alimento da colônia, e o milho. Mas produtos originários de outros continentes, como o arroz, a banana e a laranja, também eram cultivados e consumidos pelos colonos.

As especiarias do sertão

As especiarias (chamadas, no período da colonização, de “drogas do sertão”) passaram a ser exploradas a partir do século dezessetena região amazônica. Produtos como cacau, cravo, urucum, baunilha, anil, castanha-do-pará e pequi, todos nativos da América, eram utilizados na alimentação, como temperos, e na produção de remédios. Esses produtos eram vendidos por altos preços na Europa e na colônia.

Alimentação: cultura e saúde

A alimentação tem profundas relações com nossas memórias, experiências e sociabilidades. Além disso, envolve técnicas e saberes relacionados não apenas aos prazeres gustativos, como também à saúde e aos usos medicinais que se pode fazer de diferentes ingredientes e formas de cozinhar.

reticências A transplantação e aclimatação de plantas e animais de criação entre os dois lados do Atlântico foi uma constante entre os séculos dezesseis e dezenove, e envolveu tanto saberes específicos, como técnicos especializados.

reticências

No universo da vida doméstica, a alimentação destaca-se, ainda, não só na cozinha, mas também na botica, devido à sua importância na manutenção da saúde e no tratamento de doenças.reticências Uma mesma erva, por exemplo, poderia ser utilizada tanto como tempero de um prato, quanto na confecção de elixires ou emplastros por boticários, cirurgiões e curiosos.

Algrânti, Leila Mezan. História da alimentação na América portuguesa. In: ARQUIVO NACIONAL. O Arquivo Nacional e a História Luso-Brasileira. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 6fevereiro. 2018. Disponível em: https://oeds.link/S8HFBB. Acesso em: 14 abril. 2022.

Pintura. Sobre fundo de cor bege, uma planta de galhos finos com folhas grandes e arredondadas em verde. Na parte superior, um galho com frutos arredondados e espinhentos em tons de marrom. Há dois frutos abertos ao meio, revelando pequenas sementes vermelhas em seu interior.
équirráut , álbert. Representação de urucum, uma especiaria do sertão. 1662. Óleo sobre papel, 59,6 por 35,4 centímetros. Biblioteca Iáguielônian, Cracóvia, Polônia. Os indígenas utilizam tradicionalmente as sementes de urucum como pigmento avermelhado para pintar o corpo e colorante de alimentos e suas folhas como remédio para uma doença infecciosa na pele, chamada erisipela.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Quais espaços geralmente compunham os engenhos e como eram utilizados?
  2. Responda às questões sobre a produção de açúcar nos engenhos coloniais e justifique cada uma delas.
    1. Todos os trabalhadores dos engenhos de açúcar eram escravizados?
    2. Todos os proprietários de canaviais eram senhores de engenho?
    3. Todos os trabalhadores especializados que trabalhavam nos engenhos eram livres?
    4. Em sua opinião, como era o dia a dia dos escravizados dentro dos engenhos?
  3. Quais atividades econômicas passaram a ser desenvolvidas no interior da colônia e contribuíram para a ocupação e a expansão territorial?
  4. Leia a seguir o texto do historiador Edison Carneiro sobre alguns aspectos relevantes da formação do Quilombo dos Palmares. Na sequência, responda às questões.

A floresta acolhedora dos Palmares serviu de refúgio a milhares de negros que se escapavam dos canaviais, dos engenhos de açúcar, dos currais de gado, das senzalas das vilas do litoral, em busca da liberdade e da segurança, subtraindo-se aos rigores da escravidão

Os negros fugiam na calada da noite, embrenhando-se no mato, mas, com o tempo, desciam novamente para as “cabeceiras” dos povoados, a fim de induzir outros escravos a acompanhá-los e raptar negras e moleques para os Palmares. Em breve, o movimento de fuga era geral. reticências Os que vinham da lavoura plantavam canaviais, roças de milho, pacovaisglossário . Os que vinham das cidades, e conheciam ofícios mecânicos, se instalavam com tendas de ferreiro. Outros empenhavam-se na caça, na pesca, na criação de galinhas, na fabricação de cestos, chapéus, abanos, potes e vasilhas.

fórmas de govêrno, naturalmente rudimentares, foram-se desenhando entre essa massa colossal de negros, que a princípio tinha, apenas, como traço de união, o desejo de liberdade e, mais tarde, a vontade de defendê-la a todo custo. reticências

Os quilombolas concertaram, desde cedo, certa modalidade de comércio – o simples escambo – com os moradores mais vizinhos. Trocavam produtos da terra, objetos de cerâmica, peixes e animais de caça, por produtos manufaturados, armas de fogo, roupas, ferramentas industriais e agrícolas.

CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. página29-30.

  1. O autor do texto menciona que os negros que se refugiavam no Quilombo dos Palmares com o tempo desciam novamente para os povoados. O que motivava esse tipo de ação?
  2. Que atividades econômicas os moradores de Palmares realizavam?

5. O jongo é uma dança coletiva afro-brasileira, ritmada por tambores, em um ritual de louvação aos antepassados. No Brasil escravista, sua poesia metafórica foi utilizada pelos escravos africanos para se comunicar sem que os feitores e senhores compreendessem. Era, portanto, uma fórma de os negros falarem de si e de sua comunidade por meio de uma linguagem cifrada. Atualmente, ainda existem comunidades jongueiras em alguns locais do Brasil. Elas costumam se apresentar em festas de santos católicos e divindades afro-brasileiras, nas festas juninas e no dia 13 de maio, quando se comemora a abolição da escravidão. Reúnam-se em pequenos grupos e façam uma pesquisa sobre as manifestações culturais afro-brasileiras no estado ou na região em que vivem. Pode ser sobre músicas, danças, festividades, crenças religiosas ou práticas alimentares. Produzam um texto expositivo com as informações obtidas e o ilustrem com várias imagens. Bom trabalho!

CAPÍTULO 15  OS HOLANDESES NO NORDESTE

Você sabia que os holandeses dominaram parte da região que hoje fórma o Nordeste brasileiro durante quase 30 anos? Eles fundaram cidades, construíram edifícios, e algumas marcas da sua presença na região podem ser vistas ainda na atualidade.

Para compreender essa história, vamos relembrar a parceria entre Portugal e Holanda na empresa açucareira da América portuguesa. Para construir um engenho, era preciso investir muito dinheiro. Como grande parte dos portugueses não tinha condições de custear o empreendimento, o govêrno da Holanda passou a garantir todas as etapas da empresa açucareira, desde o financiamento até o fornecimento de equipamentos. Em troca, os holandeses tinham o direito de comercializar o açúcar produzido na América portuguesa. Eles atracavam nos portos das colônias portuguesas para comprar e revender o produto, além de transportá-lo, refiná-lo e distribuí-lo na Europa.

As boas relações entre portugueses e holandeses começaram a ser abaladas quando uma crise sucessória em Portugal levou o rei espanhol Filipe segundo (1527-1598) a assumir também o trono português. O fato, ocorrido em 1580, marcou o início da União Ibérica, período em que Portugal e suas colônias estiveram subordinados à Coroa espanhola, e que perdurou até 1640.

Fotografia. Vista geral de um local aberto com solo arenoso cor de areia na parte inferior da fotografia.  Cortando a imagem em uma linha diagonal, um muro longo, horizontal, feito de pedras pintadas de amarelo com partes desgastadas e escurecidas em tons de preto. No centro, uma entrada com a parte superior elevada em formato de arco e, acima, um pórtico vertical da mesma cor do muro. O muro contorna o local e em segundo plano, há muitas árvores com folhas de cor verde escura. No alto, o céu azul claro e nuvens brancas.
O Forte Orange, construído em 1631 pelos holandeses na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, logo após a conquista, era originalmente feito de taipa. Após a expulsão dos holandeses, em 1654, o forte, que estava em ruínas, foi reformado e revestido de pedra pelos portugueses. Fotografia de 2021.

Em busca do domínio do Atlântico

Durante o século dezesseis, desobedecendo à partilha das terras descobertas e a descobrir estabelecida entre Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, ingleses e franceses chegaram à América do Norte. Viam nas terras do continente americano a possibilidade de enriquecimento. As lendas sobre riquezas e maravilhas existentes na América tinham grande repercussão na Europa e impulsionavam as viagens de conquista e colonização do chamado Novo Mundo. Depois de algumas incursões à costa norte do continente, no início do séculodezessete, foi fundada a Virgínia, a primeira colônia inglesa na região sudeste dos atuais Estados Unidos.

A Coroa francesa também quis derrubar o monopólio espanhol e português do mundo atlântico e enviou navegadores para explorarem a América do Norte. Foram fundadas diversas colônias, principalmente no território do atual Canadá. Os franceses investiram ainda na conquista de colônias espanholas, como as ilhas do Caribe e algumas regiões da América do Sul e também da América portuguesa.

A Holanda iniciou sua expansão ultramarina no início do século dezessete, com a fundação, em 1602, de uma organização controlada por mercadores que disputava o contrôle do comércio internacional no Oriente, a Companhia das Índias Orientais. Em 1621, foi fundada a Companhia das Índias Ocidentaisglossário , que obteve o monopólio comercial nas colônias do Atlântico. Assim, os holandeses tomaram algumas possessões no Caribe, pertencentes à Espanha, e nas Américas portuguesa e inglesa. Participaram da produção de açúcar e de outros produtos, bem como do tráfico de escravizados.

Possessões europeias na América (século dezessete)

Mapa. Possessões europeias na América. Século 17.  Mapa representando a América com territórios destacados em diferentes cores. Destaque, em texto, para a América do Norte, as Bahamas, Porto Rico, Haiti, Guianas e América do Sul. Na legenda, a indicação: Em amarelo, 'Possessões espanholas'. Na América do Norte, incluíam todo o sul da América do Norte, desde a Península da Califórnia, a oeste, até a região em torno do Golfo do México, incluindo a Península de Yucatán, a leste; além da Península da Flórida. Se estendiam por toda a  América Central, incluindo as ilhas de Cuba, o leste da Ilha de Hispaniola, Porto Rico e a costa oeste da América do Sul, desde os golfos do Panamá e de Darién e da foz do Rio Orinoco, no norte, até o sul da Cordilheira dos Andes, no limite sul, incluindo toda a região em torno da Cordilheira dos Andes e as regiões dos Pampas e do Chaco, no centro da América do Sul. Em roxo, 'Possessões francesas'. Incluíam, na América do Norte, territórios no entorno dos lagos Erie e Ontário, ao sul do Lago Michigan, um território em torno do Rio São Lourenço e ilhas no Golfo de São Lourenço; na América Central, o Haiti (localizado na porção oeste da Ilha de Hispaniola) e as ilhas da Martinica, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas e a Guiana Francesa na América do Sul. Em marrom, 'Possessões holandesas'. Incluíam as ilhas de Curaçao nas Antilhas e o Suriname na América do Sul. Em lilás, 'Possessões inglesas'. Incluíam, na América do Norte, um território no sul e no sudeste da Baía de Hudson, a Terra Nova, a Nova Escócia e territórios no litoral leste da América do Norte; na América Central, as Bahamas, a Jamaica e parte das Pequenas Antilhas, além da Guiana, na América do Sul. Em verde claro, 'Possessões portuguesas'. Incluíam toda a costa leste da América do Sul, da região do Oiapoque até territórios ao sul da Lagoa dos Patos, além de territórios no interior do continente, ao longo do Rio Amazonas e a região em torno do Rio São Francisco. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.495 quilômetros.

Fonte: ATLAS da História do Mundo. São Paulo: Folha de Sul.Paulo, 1995.página 156-157, 160-161.

Espanha e Holanda: domínio e guerra

O reino de Filipe segundo abrangia os Países Baixos (na época, Holanda e Bélgica). Algumas províncias dessa região, descontentes com o domínio católico e com a cobrança de pesados tributos, lutavam para se tornar independentes da Espanha. A insatisfação aumentou ainda mais quando Filipe segundo proibiu o comércio da Holanda com as colônias portuguesas.

Prejudicados por essa decisão, que afetava diretamente a parceria comercial com o reino português, os holandeses invadiram e conquistaram importantes domínios ultramarinos espanhóis, em especial aqueles destinados ao tráfico negreiro na África e à produção de açúcar em áreas que hoje formam o Nordeste brasileiro.

Pintura. No mar, diante de uma praia, (no canto direito), dois galeões de madeira marrom, com velas brancas com detalhes em vermelho se chocam. A embarcação da esquerda tem uma bandeira com faixas verticais nas cores vermelha, branca e azul hasteada na popa. É vista de lado. A embarcação da direita é maior, vista de costas, e está em chamas com tons de laranja e vermelho sobre o convés, com o castelo de popa e os mastros quebrados. No alto, perto dos mastros, pessoas sendo jogadas para cima. Algumas pessoas pulam das embarcações para o mar. Entre as duas embarcações, uma embarcação pequena de madeira movida a remo, com uma bandeira com faixas verticais nas cores vermelha, branca e azul com muitas pessoas dentro. No mar, há pessoas nadando e outras em um grande grupo na água, à direita. Em segundo plano, outras dezenas de embarcações à vela de tamanho médio. No alto, o céu com nuvens brancas espalhadas.
Van Vírrenham, Cornêiles Clás. Explosão do navio-almirante espanhol. cêrca de 1622. Óleo sobre tela (detalhe), 136,8 por 187 centímetros. Museu Nacional dos Países Baixos, Amsterdã, Países Baixos. A obra representa um episódio das guerras entre Holanda e Espanha no século dezessete.
Da Bahia a Pernambuco

A invasão holandesa no Nordeste foi promovida pela Companhia das Índias Ocidentais, que detinha o monopólio do comércio na América e na África. O primeiro grande ataque ocorreu em 1624, na capitania da Bahia, com o objetivo de tomar a cidade de Salvador, séde da administração ibérica na colônia.

A princípio, o ataque foi bem-sucedido. Porém, a resistência organizada após a invasão impediu que os holandeses consolidassem seu domínio, obrigando-os a abandonar a cidade no ano seguinte.

Diante da derrota em Salvador, os holandeses passaram a buscar uma área menos protegida, mas de igual importância econômica, na rica região do açúcar. A escolha recaiu sobre a capitania de Pernambuco.

Em 1630, os holandeses atacaram o litoral pernambucano e, depois de vários enfrentamentos com tropas portuguesas e proprietários locais, apoderaram-se da região em 1635. A séde do govêrno holandês, estabelecida primeiramente na cidade de Olinda, logo foi transferida para Recife.

O domínio holandês na América portuguesa

Depois da conquista da capitania de Pernambuco, novos ataques possibilitaram aos holandeses estender seus domínios em uma área que ia do atual estado de Alagoas até o atual estado do Rio Grande do Norte, aproximadamente. No início, os senhores de engenho se opuseram aos estrangeiros, pois temiam perder suas propriedades. Entretanto, ao perceber que seu maior interesse era o comércio do açúcar, decidiram apoiar o govêrno holandês.

A cidade de Recife, séde da administração holandesa, ganhou ares de cidade europeia. Ruas foram calçadas e foram construídos praças, pontes e edifícios. Intelectuais, cientistas e artistas foram trazidos ao Nordeste holandês para estudar e retratar a natureza e os povos do Brasil e torná-los conhecidos na Europa. Entre os pintores, destacaram-se: Zarrarías Váguena(1614-1668), com suas aquarelas de animais brasileiros; âubert équirráut (1610-1665), famoso por suas pinturas de modelos vivos; e frãns pôst (1612-1680), com suas representações de paisagens. Os mapas do cartógrafo Gueiórg Márcgráf (1610-1644) eram tão precisos que se temia que a divulgação de seu trabalho despertasse a cobiça sobre o território conquistado.

Os holandeses promoveram uma série de mudanças na vida colonial do Nordeste, com a introdução de costumes e uma política de tolerância religiosa e cultural. Maurício de Nassau (1604-1679), principal autoridade holandesa no Nordeste entre 1637 e 1644, estabeleceu alianças com grupos locais e concedeu empréstimos aos fazendeiros, a fim de retomar rapidamente a produção de açúcar.

Com o fim da União Ibérica, em 1640, Portugal recuperou sua independência, mas havia perdido territórios e se encontrava endividado, o que dificultou a reconquista de suas colônias. Por esse motivo, os holandeses permaneceram no Nordeste até 1654.

O domínio holandês no Nordeste do Brasil (século dezessete)

Mapa. O domínio holandês no nordeste do Brasil, Século 17.  Mapa representando o nordeste da América do Sul. Destaque para o Rio São Francisco. Algumas cidades estão demarcadas. há territórios destacados em verde. Mapa sem legenda. Foco na parte costeira do nordeste do território que hoje corresponde ao Brasil. Em verde, no mapa, as possessões holandesas: São Luís (1641), Fortaleza (1637), e toda a costa desde Natal (1634), até São Cristõvão (1637), passando por Frederica (1634), Olinda (1630), Recife (1630), Penedo (1637) e São Cristóvão (1637).  Mais ao sul, Salvador foi conquistada entre 1624 e 1625. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 350 quilômetros.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1980. página26.

Pintura. Vista geral de um local aberto, à esquerda, construções em uma área plana; à direita, uma praia e o mar. À esquerda, sobre o chão de terra marrom, dezenas de pessoas em pé em uma área aberta diante de quatro casas com paredes brancas, janelas pequenas e telhado marrom. Atrás das casas,m há mais uma rua, perpendicular, com construções baixas em uma linha e vegetação, incluindo palmeiras altas. À direita, uma praia com solo de areia, o mar azul claro e uma espécie de ilha, ao fundo, com outras construções. No alto, o céu claro com nuvens.
Pôst, Frens. Vista da Cidade Maurícia e do Recife. 1653. Óleo sobre madeira, 48,2 por 83,6 centímetros. Coleção particular. A Cidade Maurícia, situada no Recife, foi construída por iniciativa de Maurício de Nassau durante o domínio holandês.
Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Arte

A invasão holandesa representada no teatro

Calabar: o elogio da traição é uma peça de teatro musicada, com texto e canções de Chico Buarque e Ruy Guerra. A peça conta a história de Domingos Fernandes Calabar (1609-1635), senhor de engenho pernambucano que, à época da invasão holandesa, se aliou aos estrangeiros contra os portugueses.

Em 1973, a peça foi impedida de estrear. Nesse período, o Brasil era governado por militares, que, com a ajuda de alguns setores da sociedade, haviam estabelecido uma ditadura no país. A censura a jornais, ao cinema, ao teatro, à música e a outras produções artísticas era comum nessa época.

Esse é o assunto da reportagem a seguir.

Calabar não aparece em cena. Os feitos do personagem que se aliou aos holandeses contra os portugueses são cantados por figuras também reais, como Mathias de Albuquerque, Felipe Camarão e Maurício de Nassau. Mas a trama se debruça sobre a ligação entre ele, que conhecia as entranhas das matas brasileiras, e os invasores vindos da Holanda, em meio a conflitos contra Portugal pela posse do Brasil. Por isso, segundo a Censura, “os responsáveis pela peça se situam entre os que optariam de bom grado pela colonização holandesa em detrimento dos portugueses”. reticências

O nome Calabar foi proibido de ser mencionado, pois, segundo eles [os militares], evocava traição.

FONSECA, Rodrigo. Marco da censura no Brasil, Calabar faz 40 anos com nova montagem. O Globo, Rio de Janeiro, 12 maio 2013. Cultura. Disponível em: https://oeds.link/ALTaaw. Acesso em: 1ºjaneiro. 2022.

  1. Qual é o tema da peça teatral Calabar: o elogio da traição?
  2. Quais personagens históricos da época da invasão holandesa são citados? Quem eram eles? Se necessário, faça uma pesquisa para responder a essa questão.
  3. De acôrdo com o texto, quais foram os argumentos dados pelos militares para censurar a peça teatral em 1973?
Cartaz em preto e branco. De cor cinza escuro, esse cartaz é vertical com texto em branco. Na parte superior, lê-se: 'Um musical de Chico Buarque e Ruy Guerra'. Na parte inferior, o título com letras imitando pintura com tinta escorrendo, 'CALABAR, o elogio da traição' Abaixo, outros textos: 'Arranjos. Edu Lobo; Direção musical. Dori Caymmi; Coreografia. Zdenek Hampl; Cenografia. Hélio Eichbauer; Figurinos. Rosa Magalhães; Direção. Fernando Peixoto; Uma produção de Fernando Torres Diversões – 1973. Ouça o disco, assista a peça e leia o livro'.
Reprodução do cartaz da peça Calabar: o elogio da traição, censurada em 1973.

O fim do domínio holandês

A saída de Maurício de Nassau do govêrno holandês no Nordeste, em 1644, pôs fim à boa convivência que tinha sido estabelecida entre holandeses e colonos.

Os novos administradores, preocupados com a contínua queda do preço do açúcar no mercado europeu, tentaram recuperar os enormes gastos feitos por Nassau e aumentar os lucros da companhia holandesa. Pressionaram, então, os fazendeiros a pagar os empréstimos concedidos sob a ameaça de confiscar suas terras ou a produção de açúcar. Tal situação deflagrou uma nova guerra entre colonos e holandeses.

As guerras de expulsão

Portugal tinha grande interesse em recuperar o contrôle da rica região açucareira do Nordeste, mas a precária situação financeira e militar do reino impossibilitava a expulsão dos holandeses pela Coroa portuguesa. Então os colonos formaram milícias em várias partes do Nordeste.

Os combates aos holandeses ficaram conhecidos como Insurreição Pernambucana. Eles começaram em 1645 e estenderam-se por nove anos. As duas batalhas dos Guararapes, em 1648 e em 1649, foram decisivas para restaurar gradualmente o domínio português. Em 1654, os holandeses assinaram a Capitulação da Campina da Taborda e se retiraram do território. O acôrdo de paz, no entanto, só foi assinado em 1661.

Invasores europeus

Além dos holandeses, outros europeus invadiram as terras da América portuguesa. Ingleses tentaram se apoderar da capitania da Bahia em 1587; depois, em 1592, atacaram a cidade de Santos e o litoral da capitania do Espírito Santo. Em 1596, chegaram a fundar uma feitoria em uma área hoje localizada aproximadamente no estado do Amazonas, mas foram expulsos.

Os franceses chegaram a dominar áreas do litoral (na altura do atual estado do Rio de Janeiro), em 1555, e das capitanias da Paraíba em 1581 e do Maranhão em 1612.

Pintura. Em um local aberto, sobre o chão de terra, centenas de pessoas em uma batalha. No centro, um cavalo branco caído e, perto dele, pessoas caídas. Há outros homens em pé apontando lanças finas com pontas de metal. A maioria deles está de capacete cinza e outros com chapéu, com blusa de mangas compridas, calças e botas. De frente para eles, dois homens sobre cavalos. Um homem de barba castanha, chapéu azul e blusa de mangas compridas marrom e uma espada na mão direita, apontada para cima. Há outros homens com espadas para cima, uns com cavalos e outros a pé.
À esquerda, há homens no chão e um entre eles, agachado, aponta uma lança para frente, em direção a outro homem em pé. Este tem barba  castanha, chapéu azul com pluma amarela sobre a cabeça, blusa de mangas compridas marrom e calça bege, está  correndo para à direita. No canto direito, outros homens em pé, entre outros, no chão. Dois que estão em pé, olham para o centro, onde está o cavalo branco caído. Um dos homens tem um chapéu preto e uma lança fina na vertical na mão direita e o outro veste uma blusa de mangas compridas vermelha, colete azul, e segura um tambor na mão direita. Em segundo plano, local com vegetação alta, fumaça esparsa  e o céu em tons de azul claro e muitas nuvens de cor cinza.
Meirelles, Victor. Batalha dos Guararapes. 1875-1879. Óleo sobre tela, 500 por 925 centímetros. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Ler a pintura

Que elementos da pintura indicam uma situação de confronto e desarmonia?

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

O “indígena selvagem” na pintura de équirráut

âubert équirráut foi um dos artistas holandeses que integraram a comitiva de Maurício de Nassau no Brasil. O quadro Mulher Tapuia (1641) faz parte de um conjunto de retratos de povos não europeus que o artista teria conhecido durante o período em que esteve no Brasil. Ao pintar esses retratos, o artista nos fornece algumas pistas sobre como as sociedades europeias daquela época viam os nativos do Novo Mundo.

Pintura. Em um local aberto,  no centro, uma mulher indígena, com cabelos curtos pretos, nua, com um chumaço de  folhas verdes sobre a pelve e sandálias de tiras marrom nos pés. Há um animal de médio porte, quadrúpede, de pelos cinza, pequenas partes nas patas e no focinho em branco; ele está entre as pernas da mulher, bebendo água em um riacho, que forma uma pequena cascata na parte inferior da pintura. Aos pés da mulher, uma linha pontilhada verde com o texto, fora da pintura: 'Aos pés da mulher Tapuia está um animal domesticado, provavelmente a representação de um pequeno lobo-guará'. A mulher leva um cesto de cor bege à suas costas. O cesto tem uma alça apoiada sobre o topo da cabeça da mulher. Dentro do cesto, há um pedaço de uma perna humana com um pé para cima e uma tigela. A mulher, segura na mão direita um pedaço de um antebraço humano com uma mão.  Na mão esquerda, a mulher Tapuia segura ramos de uma planta de folhas verdes junto ao seu corpo. Duas linhas pontilhadas verdes apontam para o pé no cesto e o pedaço de antebraço e apresentam o texto, fora da pintura: 'Partes de corpos humanos ocupam lugar de destaque na composição'. À esquerda, vista parcialmente, uma planta com caules finos e folhas de cor verde em formato de coração. Uma linha pontilhada verde com o texto, fora da pintura: 'Esta planta nativa, Montrichardia arborescens, é conhecida popularmente como aninga'. À direita, há uma árvore alta com folhas verdes miúdas e frutos em forma de vagem; crescendo no tronco da árvore, há um pé de maracujá, florido,com flores grandes de pétalas brancas e centro roxo.  Na copa da árvore e nas folhas em formato de coração da aninga, linhas pontilhadas verdes com o texto, fora da pintura: 'A flora e a fauna representadas impressionam por seu detalhismo e pelos traços realistas'. À direita, no tronco da árvore, uma linha pontilhada verde com o texto, fora da pintura: 'Esta árvore nativa é uma cássia-rosa, reconhecida por suas longas vagens. Ao pé dela há folhas de passiflora'. Ao fundo, a linha do horizonte e um morro inclinado coberto de vegetação. No centro desse morro, há um grupo de pessoas, vistas de longe. Uma linha pontilhada verde com o texto, fora da pintura, indica: 'Ao fundo, 12 indígenas armados com lanças ou longos dardos descem uma colina em direção a uma caçada ou possível combate'.
ECKHOUT, Albert. Mulher Tapuia (Tarairiu). 1641.Óleo sobre tela, 272 por 165 centímetros. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague, Dinamarca.
  1. Observe a imagem e identifique uma prática cultural comum a muitos povos indígenas representada nessa pintura.
  2. Mencione aspectos da paisagem brasileira representados nessa pintura.
  3. Você consegue imaginar que impressões a representação da indígena Tapuia causou ao observador europeu da época? Justifique.
  4. O que essa pintura revela sobre a visão que o artista tinha dos indígenas Tapuia? Explique.

Os franceses buscam espaço na América

Entre os séculos dezesseis e dezessete, os franceses fizeram várias investidas no litoral da América portuguesa para obter o pau-brasil e comercializá-lo na Europa.

Em 1555, a Coroa francesa decidiu ir além das simples investidas e fundou a França Antártica na baía da Guanabara, na atual cidade do Rio de Janeiro. O apôio dos indígenas Tupinambá foi fundamental para essa conquista territorial.

Ao tomar conhecimento do ocorrido, os portugueses organizaram tropas formadas por colonos e indígenas para expulsar os franceses. Após vários anos de luta, em 1567, a França Antártica foi destruída. Mas os franceses continuaram a assediar outras regiões, muitas delas no Nordeste, em terras que hoje correspondem aos estados da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Maranhão.

Os franceses fizeram algumas expedições à atual cidade de São Luís, no estado do Maranhão, e estabeleceram contatos com os Tupinambá, com quem trocavam produtos. Em 1612, conseguiram fundar na região a França Equinocial. O nome foi dado para homenagear o rei francês Luís treze (1601-1643) e fazia referência à proximidade com a linha imaginária do Equador.

Em 1615, os franceses foram expulsos do Maranhão. O govêrno da União Ibérica (1580-1640), no entanto, preocupado com o constante assédio de estrangeiros à costa atlântica, decidiu estender a colonização da América portuguesa para o norte do território. Para lutar contra os rivais franceses, holandeses e ingleses e defender o território da colônia, foram enviadas várias expedições e construídos fortes na região dos atuais estados do Pará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

Fotografia. Vista aérea de local aberto.  À direita, rio extenso de águas de cor marrom esverdeada; sobre as águas, no canto superior direito, uma embarcação de tamanho médio, vista parcialmente. À esquerda, vista aérea de um forte, local construído em plano elevado, com telhado de telhas cor de terracota, com um muro contornando local, grama verde no entrono do muro. Contornando o muro um caminho sinuoso de cor cinza.  No canto superior esquerdo,  árvores com folhas verdes perto de um prédio de dois andares paredes claras e telhado marrom.  à esquerda, uma rua de mão única com os carros formando uma fila.
O Forte do Castelo, construído no século dezessete em Belém, no estado do Pará, faz parte, hoje, de um complexo turístico chamado Feliz Lusitânia. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de site.

BIBLIOTECA Nacional Digital: França-Brasil.Disponível em: https://oeds.link/lVSmAh. Acesso em: 19 março 2022. Dossiê da Fundação Biblioteca Nacional do Brasil em parceria com a Biblioteca Nacional da França sobre a presença da França na América portuguesa.

O mundo atlântico

No contexto das Grandes Navegações, os dois lados do Atlântico foram explorados pelos europeus. Na África, eles adquiriam, principalmente, escravizados, ouro e marfim. Na América, extraíam ouro, prata e madeiras nobres e obtinham produtos como algodão, açúcar, tabaco, couro e anil. Além disso, abasteciam suas colônias com produtos manufaturados na Europa. Por isso, era grande o interesse dos reinos europeus em conquistar e colonizar territórios em diversos continentes.

O comércio de produtos ultramarinos também envolveu indiretamente a Ásia. Por exemplo, os portugueses adquiriam a prata japonesa, que vendiam aos chineses, de quem compravam sedas e porcelanas. Na Europa, esses produtos chineses eram trocados por armas, as quais podiam ser trocadas depois por escravizados na África. E os escravizados, por fim, eram vendidos na América, o que gerava grandes lucros aos comerciantes e à Coroa portuguesa.

Disputas na América do Sul

A partir do final do século dezesseis, ingleses, irlandeses e holandeses, partindo da América Central e passando pela Guiana, estabeleceram colônias nas ilhas do arquipélago marajoara, no Cabo do Norte (atual Amapá) e na foz do rio Amazonas.

Alguns europeus chegavam à região atraídos por uma lenda indígena que mencionava uma cidade feita de ouro e repleta de tesouros. Outros buscavam o rio Amazonas como um caminho de acesso às minas de ouro e prata do atual Peru. Além disso, a região amazônica oferecia produtos de grande aceitação no mercado europeu, como pássaros coloridos, madeiras de todo tipo, ervas medicinais, frutas exóticas e tinturas.

As primeiras viagens foram exploratórias e tinham o objetivo exclusivo de conhecer a região. Em um segundo momento, com interesses comerciais, esses europeus praticaram atividades extrativas por meio do regime de escambo, fornecendo utensílios para os indígenas em troca do seu trabalho.

Mais tarde, irlandeses e ingleses estabeleceram plantations de tabaco, algodão e cana-de-açúcar na região da Guiana e da foz do Amazonas, utilizando mão de obra indígena escravizada.

Em 1619, nobres ingleses financiaram a criação da Amazon Company, que contribuiu para a expansão das plantations. A Companhia também criou fortes na costa do atual Amapá para delimitar e defender a posse da terra.

Mapa histórico em preto e branco. Sobre um fundo branco, linhas de cor preta e inclinadas na diagonal, à esquerda e à direita, se entrecruzam. No centro, dispostas horizontalmente e paralelamente, duas linhas de formato sinuoso, cada uma delas representando um rio. Entre os dois rios, há uma forma ovalada disposta horizontalmente representando um lago. Originalmente com o texto em inglês, 'Lago Manoa'. Há pequenas ilustrações representando montanhas e construções e textos pequenos ilegíveis nessa reprodução.
ruáleiUálter. Mapa da Guiana. Século dezesseis. Arquivo da Marinha, Rio de Janeiro.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Explique a importância da parceria entre Portugal e Holanda para o êxito da economia açucareira na América portuguesa.
  2. Observe o gráfico e responda às questões.

Exportações da américa portuguesa (séculos XVII-XVIII)

Gráfico de barras. Exportações da América portuguesa. Séculos 17 e 18. Barras coloridas verticais. No eixo vertical, marcações de 0 a 3, em milhões (de libras esterlinas). No eixo horizontal, os anos de 1650 a 1800 com intervalos de 50 em 50 anos. Em azul: Exportações de açúcar. Em amarelo: Exportações de ouro. Em verde: Exportações de outros itens (como pau-brasil, couro, tabaco, algodão e outros). Ano de 1650: Açúcar: mais de 4 milhões de libras esterlinas. Ouro: próximo ao zero. Outros (pau-brasil, couro, tabaco, algodão): cerca de duzentas e cinquenta mil libras esterlinas. Ano de 1700: Açúcar: cerca de 1,6 milhões de libras esterlinas. Ouro: quase meio milhão de libras esterlinas. Outros (pau-brasil, couro, tabaco, algodão): cerca de duzentas e cinquenta mil libras esterlinas. Ano de 1750: Açúcar: pouco mais de 2 milhões de libras esterlinas. Ouro: cerca de 1,8 milhões de libras esterlinas Outros (pau-brasil, couro, tabaco, algodão): cerca de trezentas e cinquenta mil libras esterlinas. Ano de 1760: Açúcar: 2,3 milhões de libras esterlinas. Ouro: pouco mais de 2,1 milhões de libras esterlinas. Outros (pau-brasil, couro, tabaco, algodão): meio milhão de libras esterlinas. Ano de 1800: Açúcar: pouco mais de 1 milhão de libras esterlinas. Ouro: pouco mais de meio milhão de libras esterlinas. Outros (pau-brasil, couro, tabaco, algodão): quase um milhão e meio de libras esterlinas.

Fonte: ISTOÉ Brasil: 500 anos: atlas histórico São Paulo: Três, 1998. página18.

  1. Que produtos a América portuguesa exportava para a Europa no período informado no gráfico?
  2. No século dezessete, qual era o produto mais importante das exportações da América portuguesa? Como você explica essa importância?
  3. Qual mudança importante ocorreu nas exportações da América portuguesa, entre 1650 e 1700? O que teria causado essa mudança?
  4. No período destacado no gráfico, a produção econômica da América portuguesa tendeu a se especializar ou a se diversificar? Explique.

3. O artista holandês frãns pôst chegou ao Recife em 1637. Ele veio como pintor oficial da comitiva de Maurício de Nassau, encarregado de retratar em desenhos, gravuras e pinturas as paisagens, as cidades, as fortificações e a riqueza do Nordeste holandês. Nas obras de frãns pôsta figura humana é apenas coadjuvante perante a fôrça e a pujança da natureza. O pintor chegou ao Brasil em 1637 e aqui permaneceu até 1644. Reúna-se com um colega e observem a pintura a seguir. Ela foi produzida 13 anos após o artista ter regressado para a Europa.

Pintura. Pintura de orientação vertical, Local aberto, na floresta, com vegetação à direita e à esquerda, com árvores altas de folhas de cor verde-escuro. No centro, um rio sinuoso de águas transparentes; à direita, próxima à base das árvores altas, em uma área inclinada uma pequena cachoeira; a queda d’água formando espuma branca sobre a pedras. No canto inferior direito, sobre o chão de terra marrom, um grupo de seis pessoas negras, homens, mulheres e uma criança. Eles estão, em pé, são vistos de costas olhando para a cachoeira. As pessoas tem uma proporção pequena em relação aos demais elementos da pintura. A criança usa um tecido branco em volta da cintura. À direita dela, outra pessoa usa um tecido branco em volta da cintura e, à direita deles, há uma pessoa de blusa branca, colete marrom e calça cinza segurando um grande cesto de palha de formato arredondado apoiado sobre sua cabeça. À esquerda desse grupo, há mais três pessoas: uma de traje todo branco com um cesto de palha de formato quadrado sobre a cabeça; outra de blusa branca, colete preto e calças vermelhas; e outra com uma espécie de saiote branco e o torso nu. No chão, ao lado desse grupo, à esquerda, há um cesto de palha de formato arredondado. Ao fundo, atrás das copas das árvores altas, o céu iluminado e nuvens brancas.
Pôst, Frens. Cachoeira na floresta.1657. Óleo sobre madeira, 47por 44centímetros. Instituto Ricardo brenãn, Recife.
  1. Descrevam o que vocês veem na pintura. Que sensações ela provoca em vocês? Indiquem os elementos da obra que provocam essas sensações.
  2. O período da escravidão no Brasil foi marcado por violência e intensos conflitos. Observem como os escravizados foram representados na pintura: eles não parecem desconfortáveis na cena. O que essa fórma de representá-los revela sobre o artista e seu tempo? Reflitam sobre essa questão e redijam um texto com a opinião da dupla. Lembrem-se de organizar as ideias com clareza, utilizar os termos mais adequados e reler a redação antes de entregá-la ao professor.
Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Economia.

Por que é difícil comparar as formas de escravidão em diferentes períodos da História?

Na década de 1990, pesquisadores de diversos países que estudavam o tráfico de africanos escravizados entre os séculos dezesseis e dezenove tiveram a ideia de reunir em um banco de dados as informações relacionadas ao assunto. Depois de anos de muito planejamento, as informações foram reunidas e disponibilizadas para o público na internet, em “Viagens: O Banco de Dados do Tráfico de Escravos Transatlântico”.

Esse trabalho, que contou com a colaboração de pesquisadores de várias nacionalidades, reúne muitas informações sobre o tráfico de escravizados africanos entre os séculos dezesseis e dezenovee nos ajudam a compreender a complexa rede de negócios controlada pelos europeus. Também elucida as dinâmicas das diferentes fases do comércio escravista na modernidade.

Você já procurou refletir sobre as características da escravidão em diferentes períodos da história? Esse é um tema com muitas questões a serem exploradas! Vamos experimentar pensar sobre esse assunto? Para isso, leia a seguir trechos que foram selecionados de três textos.

Texto 1

reticências o uso da fôrça de trabalho de escravos africanos esteve na base da construção da maior parte da América. O que permitiu a existência de regimes escravistas na América foi o comércio de escravos reticências.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 56.

Texto 2

Desde o início das civilizações grega e romana, a prática da escravidão era comum – em Roma, a partir do século 8 antes de Cristo e, na Grécia, desde a civilização micênica (1500-1200 antes de Cristo). Nos dois casos, um homem podia se tornar escravo por ter contraído dívida sem honrá-la. Era possível, ainda, passar a essa condição por ter sido vencido na guerra. Nesse caso, a vida do inimigo era poupada para que ele fosse conservado como escravo (daí a palavra latina sérvus). O comércio ocorria em grandes mercados, regulado por leis que previam o direito do cativo de comprar sua liberdade de volta por meio do acúmulo de um pecúlio. reticências Na Grécia, era rara a libertação de um escravo e o liberto não tinha direitos. Seus descendentes continuavam escravos, e as chances de alforria eram restritas. Já em Roma, era comum que escravos urbanos fossem alforriados, e seus filhos, considerados livres. Os libertos adquiriam a cidadania romana. Outra diferença: entre os romanos, os libertos passavam a ser tratados como parentes do seu antigo dono, herdando, inclusive, seu nome de família. Em duas gerações, não havia mais distinção entre os antigos donos e os descendentes de escravos. Nas duas sociedades, havia punições e maus-tratos: eles podiam ser mantidos acorrentados, marcados a ferro, sofrer mutilações e ser condenados à morte.

NUNES, Ronaldo . Existe alguma diferença na fórma como os escravos eram tratados na Grécia e Roma antigas? Nova Escola, 1º outubro2009. Disponível em: https://oeds.link/6pPRwc. Acesso em: 1ºjaneiro 2022.

Texto 3

É difícil comparar, para citar exemplos extremos, a escravidão ritual praticada pelos tupis brasileiros, na qual o “escravo”, prisioneiro de guerra, ocupava o lugar e o nome de um membro da tribo morto em combate, com a escravidão voluntária e temporária que encontramos nos textos hebraicos [do mundo antigo], ou com o escravo africano moderno, transferido violentamente de outro continente por um amplo sistema comercial, o escravo etnicamente marcado reticências.

GUARINELLO, Norberto Luiz. Escravos sem senhores: escravidão, trabalho e poder no mundo romano. Revista Brasileira de História, São Paulo, volume 26, número 52, página 227-246, 2006.página 229-230.

  1. Explique a seguinte frase da autora do texto 1: “O que permitiu a existência de regimes escravistas na América foi o comércio de escravos”.
  2. Qual é a importância do banco de dados sobre o comércio de escravizados entre os séculos dezesseis e dezenove?
  3. O texto 2 fala sobre a escravidão no mundo antigo. Segundo esse texto, de que maneira uma pessoa se tornava escrava na Grécia e em Roma na Antiguidade?
  4. De que fórma o autor do texto 3 compara os três tipos de escravidão citados por ele?
  5. Por que é tão complicado comparar asfórmas de escravidão em diferentes períodos da história?
    Pintura. Em um local aberto com chão de terra e vegetação verde rasteira. Sobre o solo, dezenas de crianças e jovens negros sentados com as pernas esticadas, descalços, usando tecidos coloridos em volta do corpo (azul, amarelo, branco ou vermelho). No centro, cinco homens em pé, usando turbantes sobre a cabeça e túnicas longas coloridas (em tons de rosa, azul, marrom e verde claro). À direita, um grupo de de crianças e jovens sentados no chão, perto de um homem com turbante azul sobre a cabeça, túnica longa azul, com uma arma de cano longo pendurada em suas costas. À esquerda, outro homem de turbante com túnica azul e um manto de cor vermelha sobre os ombros. Ele é visto de costas. Perto dele, há três jovens sentados no chão, com o torso nu e com bermudas coloridas. Em segundo plano, casas parcialmente destelhadas de paredes de cor bege, com telhados feitos de palha. Em uma fila diante dessa construção, uma fileira de seis jovens negros em pé, com tecidos de cor branca em torno do peito, cobrindo o corpo. Ao fundo, à direita e à esquerda, há outras casas com o mesmo tipo de telhado, vistas parcialmente. No canto superior direito, duas palmeiras altas vistas parcialmente. No alto, o céu azul claro com nuvens.
    Rén (Tenente). Tráfico de escravos: África, 1872. Ilustração. Biblioteca Pública de Nova York, Nova York, Estados Unidos. Originalmente publicada no jornal Illustrated London News, em 8 de junho de 1872.

Glossário

Flamengo
Habitante de Flandres, região norte da atual Bélgica.
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Purgar
Purificar; depurar.
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Eito
Plantação em que os escravizados trabalhavam.
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Calafate
Trabalhador que calafeta, isto é, prepara a vedação de assoalhos, madeiras, embarcações.
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Carapina
Carpinteiro.
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Carreiro
Aquele que conduz carro de boi.
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Oleiro
Aquele que produz objetos de cerâmica.
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Caixeiro
Comerciante responsável por vender e transportar mercadorias.
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Pacoval
Bananal; extensa plantação de bananas.
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Companhia das Índias Ocidentais
Empresa criada pelos holandeses para estabelecer domínios e comércio na América continental e no Caribe.
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