UNIDADE oito  A MINERAÇÃO NO BRASIL COLONIAL

Pintura. Pintura de orientação vertical representando um local aberto e montanhoso, coberto de vegetação baixa. À frente, em primeiro plano, há dois homens em pé: à esquerda, um homem branco de cabelos castanhos e curtos, bigode espesso castanho, chapéu de palha sobre a cabeça, usando uma camisa de mangas longas branca com as mangas dobradas até os cotovelos, calça e sapatos marrons. Ele tem o braço direito flexionado até o peito, com a mão direita em forma de concha, como se segurasse um pequeno objeto nela. Pendurado no punho direito dele há um chicote, fino, feito de couro, na vertical e marrom. A mão esquerda dele repousa sobre uma bateia, um objeto circular com fundo cônico, de cor  bege, que lhe é entregue por um outro homem, à frente dele, à direita. Este, visto de lado, é um homem negro, tem cabelos pretos,crespos e muito curtos, está com o torno nu, descalço e veste um tecido de cor marrom amarrado à sua cintura. Ele olha para o homem à esquerda, com o corpo voltado para à esquerda. Perto deles, no chão, um chapéu bege sobre a grama verde. Ao fundo, à direita, há dois homens e, pé, de torno nu, usando um tecido de cor marrom e outro um tecido de cor bege amarrado na cintura. Um, à esquerda, segura uma lança apoiada no ombro esquerdo, o outro, à direita está de chapéu. Ambos observam os dois homens à frente.  Mais ao fundo, morros de cor verde com caminhos de terra e no alto,  o céu nublado com nuvens.
AMOEDO, Rodolfo. Ciclo do ouro. 1922. Óleo sobre tela, 222 por 132 centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Gravura. Vista de local aberto com chão de terra e morros ao fundo, cobertos por vegetação em verde claro. À frente, em primeiro plano um grupo de homens em pé e outros, atrás do grupo, montados à cavalo, caminha para frente, na direção de quem olha para a imagem. A maioria deles usa chapéus e veste blusa de mangas compridas, calça e botas. Alguns estão descalços. No centro, à frente do grupo, três homens apoiam em um dos ombros na vertical, suas armas de cano longo. Um deles usa um chapéu militar, preto, alto com um brasão na frente. Três mulas de pelo marrom carregam cargas dispostas ao lado do dorso dos animais, que está coberto por tecidos de cor amarela. A fileira de homens em pé é seguida por uma outra, de homens montados à cavalo, vestidos com uniformes de cor azul e chapéus altos. Há cinco cavalos, quatro marrons e um branco. Algumas pessoas à margem da estrada de terra, à esquerda e à direita, observam a passagem do comboio. Entre eles, à esquerda, um homem negro de blusa de mangas compridas amarela, com uma haste fina de madeira na mão esquerda. No canto inferior direito, um homem visto de perfil. Um homem negro de cabelos curtos e pretos, vestido com casaco cor de laranja e calça em azul, descalço, segurando um chapéu na mão direita. Atrás dele, dois outros homens, um de camisa azul que estende o braço direito para o comboio e outro, com vestimentas de cor marrom, coloca a mão direita sobre a aba do chapéu. Em segundo plano, na estrada um outro homem de traje azul à cavalo. A estrada leva a uma cidade, ao fundo, com casas baixas de paredes brancas, telhado cor de terracota e uma igreja amarelo claro, com  duas torres, iluminada pelo sol. Mais ao fundo, morros cobertos de vegetação e, no alto, o céu azul claro e nuvens amarelo claro.
Rugendás Iôrram Morrítis. Comboio de diamantes passando por Caeté. cêrca de 1821-1825. Ilustração (detalhe), 37 por 57 centímetros.Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

A acumulação de metais preciosos foi um dos principais objetivos da política econômica adotada pelos Estados nacionais europeus no início da Idade Moderna. Além de estimular as exportações para ampliar a entrada de metais preciosos no reino, os Estados europeus incentivaram a busca por ouro e prata nas colônias da América. O acúmulo de metais significava concentração de riqueza e poder. Por essa razão, os reinos europeus investiram fortemente em viagens exploratórias e na instalação de colônias em outros continentes. Dessa fórma, grandes volumes de metais preciosos foram transferidos das Américas para a Europa, aumentando o tesouro das Coroas europeias.

Na América portuguesa, ao final do século dezessete, jazidas de ouro foram descobertas pelos bandeirantes na região que mais tarde foi chamada de Minas Gerais. Esse acontecimento logo atraiu o ímpeto exploratório dos colonizadores portugueses e daqueles que tinham expectativa de enriquecer com a atividade mineradora. A região das Minas se tornou então um eixo fundamental da colônia e passou a concentrar uma numerosa população nas vilas e cidades mineiras.

O que você sabe sobre as transformações que ocorreram na ocupação do território colonial após a descoberta do ouro? E sobre as outras mudanças que ocorreram na sociedade colonial?

Você estudará nesta Unidade:

A descoberta de ouro no Brasil colonial

A Guerra dos Emboabas

Sistemas de contrôle metropolitano na região das Minas

A sociedade mineradora

O Barroco

A urbanização e o abastecimento das Minas

Transformações na América portuguesa causadas pela economia mineradora

CAPÍTULO 19  A EXPLORAÇÃO DE OURO E DIAMANTE

Provavelmente, as primeiras descobertas de ouro e de diamantes na região que mais tarde foi chamada de Minas Gerais ocorreram em fins do século dezessete em meio às expedições bandeirantes. Confirmada a existência das lavrasglossário , a notícia se difundiu pela colônia e metrópole portuguesa. Um grande contingente de pessoas, de origens e condições sociais variadas, foi atraído para a chamada região das Minas. O padre jesuíta André João Antonil descreveu o acontecimento:

Cada ano vêm nas frotas quantidade de portugueses e de estrangeiros para passarem as Minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos e muitos índios, de que os paulistas se servem. A mistura é de toda condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos reticências.

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Edusp, 2007. página 227.

A mineração provocou uma grande concentração populacional e a formação de novos povoados na região (observe o mapa A região mineradora (1711-1798)). Além disso, a atividade mineradora impulsionou a ampliação do território e o deslocamento do eixo econômico da colônia das áreas de produção açucareira no litoral nordestino para o interior do território, na região centro-sul.

A região mineradora (1711-1798)

Mapa. A região mineradora (1711 a 1798). Mapa representando o território da América portuguesa, representado em rosa, com as fronteiras traçadas em cinza. Localizado a leste do Vice-Reino do Peru e a sudeste do Vice-Reino de Nova Granada.  Há destaque para alguns rios, áreas circuladas e um território destacado em laranja. Na legenda,  um círculo azul representa, 'Principal área de diamantes'. A principal área de diamantes localizava-se próximo à cidade de Tejuco. Um círculo vermelho representa., 'Área de extração de ouro em Minas Gerais'. A área de extração de ouro em Minas Gerais englobava parte do território que hoje corresponde ao estado de Minas Gerais, onde ficavam as cidades de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, Vila Real de Nossa Senhora do Carmo e Vila Rica. Um círculo verde representa, 'As minas de Mato Grosso e Goiás'. Localizadas em territórios que hoje corresponde ao estados de Mato Grosso, Mato Groso do Sul e Goiás, onde ficavam as cidades de Cuiabá, às margens do Rio Cuiabá, e Vila Boa de Goiás. E o território destacado em laranja corresponde a 'Capitania de Minas Gerais'. Localizada entre a região ao sul do Rio São Francisco e a região ao norte do Rios Paranaíba, a leste, do Rio Grande, a norte do Rio Tietê. Englobando as cidades de Tejuco, Nossa Senhora da Conceição do Sabará, Vila Real de Nossa Senhora do Carmo, Vila Rica e São João del Rei. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 475 quilômetros.

Fonte: RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos (organizador). As Minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica: Companhia do Tempo, 2007.página 77.

Disputas nas terras do ouro

Logo após as primeiras descobertas de ouro na região das Minas, os bandeirantes paulistas passaram a exigir o direito de explorá-lo com exclusividade. Entretanto, a informação sobre a localização das minas se espalhou rapidamente e atraiu para a região muitas pessoas, como aventureiros, colonos, tropeiros, comerciantes, estrangeiros e funcionários da Coroa. Essas pessoas foram chamadas pejorativamente pelos paulistas de emboabasglossário .

Entre 1707 e 1709, diversas disputas pelo contrôle da área mineradora levaram a um enfrentamento armado entre paulistas e emboabas que ficou conhecido como Guerra dos Emboabas. O conflito resultou na derrota dos exploradores paulistas, que continuaram organizando suas expedições à procura de metais preciosos, mas em outras regiões.

Pintura. Vista geral de local aberto, em três planos. No primeiro, área de solo rochoso,  com colina rochosa,  pedras de cor cinza, vegetação e baixa e algumas árvores de folhas verdes. À direita, um homem negro em pé carregando um tabuleiro sobre sua cabela e outros três pessoas sentadas sobre pedras. No centro, um vale por onde corre um rio, e, ao fundo, um morro sobre o qual se ergue uma cidade, com diversas construções. Uma delas desponta no centro da pintura, uma igreja com torres altas. A cidade é cortada por ladeiras, que levam até o rio. Ao fundo, morros altos e, no alto, céu nublado com nuvens esparsas.
Ênder, Tômas. Vila Rica. 1817-1818. Aquarela e lápis sobre papel, 21,8 por 32,6 centímetros. Academia de Belas Artes, Viena, Aústria. Fundada em 1711, em 1823 a cidade passou a se chamar Ouro Preto.

O ouro na região dos atuais estados de Goiás e Mato Grosso

A descoberta de ouro na região onde hoje se localizam os estados de Goiás e Mato Grosso também atraiu muitas pessoas, o que contribuiu para o surgimento de rótas comerciais, arraiais e povoados. Em 1722, a fim de controlar a extração dos metais preciosos na região, a Coroa elevou Cuiabá, capital do atual estado do Mato Grosso, à categoria de distrito, subordinado à capitania de São Paulo.

A vida nas minas mato-grossenses e goianas, mais distantes da administração metropolitana, foi marcada pela escassez de alimentos e pelos constantes conflitos entre mineradores e indígenas. Além disso, o ouro escasseou rapidamente, contribuindo para que a região não vivesse o mesmo vigor econômico e cultural das Minas Gerais no século dezoito.

O aumento do contrôle metropolitano

O crescente fluxo de pessoas em direção à região das Minas gerou disputas pelas áreas da mineração, as quais levaram a Coroa portuguesa a impor o contrôle político, criando órgãos administrados por funcionários ligados ao reino. Em 1709, a Coroa criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, que centralizava a administração das atividades na região. Seu primeiro governador, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, iniciou o processo de instalação do senado, da câmara municipal e da cadeia, o que ampliou o quadro de autoridades reais na capitania.

A partir de 1711, a Coroa elevou alguns povoados à categoria de vilas, como a Vila Real do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo (atual município de Mariana), a Vila Rica de Albuquerque (atual Ouro Preto) e a Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará (atual Sabará).

Nas vilas, os órgãos de govêrno cuidavam de questões judiciárias, administrativas, militares e fiscais. As câmaras, por exemplo, estabeleciam as regulamentações locais, administravam os espaços públicos, fiscalizavam as atividades comerciais, promoviam festas públicas e religiosas e geriam os conflitos privados.

As medidas tomadas pela metrópole restringiram a liberdade dos colonos e ocasionaram novas tensões e conflitos. Em uma tentativa de resolver a situação, a Coroa criou, em 1720, a capitania de Minas Gerais, separando-a da capitania de São Paulo. Essa mudança intensificou ainda mais a presença das autoridades portuguesas na área mineradora.

Pintura. Imagem de orientação vertical. Vista de um local aberto em declive, chão de terra de cor, com pedras grandes de cor cinza nas laterais e no fundo. Ao fundo, um paredão de pedras têm uma abertura, com as pedras escoradas por vigas de madeira na diagonal. A abertura revela águas subterrâneas. Diante dessa abertura, um homem negro de bermuda vermelha e blusa azul trabalha com as costas curvadas, movimentando pedras. Do lado esquerdo, próximo a essa abertura, um homem branco, de casaca azul, colete vermelho calças vermelha, botas e chapéu pretos, segura um bastão. No centro da imagem, outro homem branco vestido de maneira similar,  está com as mãos entrelaçadas atrás do corpo, e segura  um bastão. Diante dele, formando uma fila que forma uma linha diagonal do centro até o canto superior esquerdo da pintura, homens negros, alguns de torso nu, outros de blusas vermelhas, verdes ou azuis e bermudas vermelhas ou azuis, trabalham. Alguns delas têm picaretas nas mãos que inventem contra as pedras; outros, bateias. Outros, ainda, passam minérios uns para os outros e outros carregam recipientes circulares sobre as cabeças. No alto, o céu azul claro e luz solar em tons de amarelo.
Julião, Carlos. Extração de diamantes. Século dezoito. Aquarela, 45,5 por 35 centímetros. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A cena representa a atividade mineradora em Sêrro Frio.
A distribuição de datas

Em razão do aumento do contrôle político-administrativo metropolitano, as minas de metais e pedras preciosas descobertas no período colonial passaram a ser consideradas propriedade da Coroa portuguesa. Assim, a Coroa criou uma série de normas rígidas para a exploração do ouro.

Cada lavra descoberta só poderia ser explorada com autorização especial. Depois de registrada, a mina era dividida em lotes, conhecidos como datas. O descobridor tinha direito à concessão de duas datas; a seguinte ficava para a Coroa. As demais eram repartidas pela Intendência das Minas e concedidas por sorteio. As maiores datas eram destinadas aos mineradores que tivessem mais escravizados.

O cargo de Intendente das Minas, submetido ao govêrno da Metrópole, foi criado com a intenção de cobrar impostos dos colonos, fiscalizar toda atividade exploratória nas minas e a circulação de ouro e estabelecer a divisão das datas. Era ainda função do Intendente impedir o contrabando do ouro, evitando que este fosse levado para outros locais sem o pagamento dos impostos. Dessa fórma, foram organizadas barreiras com fiscais do reino nos principais caminhos que ligavam a região das Minas a outras localidades da colônia, como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

O declínio da exploração do ouro

Na região das Minas, predominou o chamado ouro de aluvião, em que esse metal, junto com outros sedimentos, fica depositado em correntes de água após um longo processo natural de desgaste das rochas. Misturado com cascalho, areia e argila, o ouro de aluvião era encontrado nos leitos e nas margens dos rios, na fórma de pedriscos.

Como a exploração do ouro de aluvião é superficial, sua intensa exploração levou ao rápido esgotamento das reservas. Por volta de 1770, as faiscações (pequenas lavras de ouro), com número reduzido de trabalhadores, tornaram-se comuns. Houve então, nesse período, o declínio na produção do ouro.

Gravura. Vista de local aberto com duas quedas d’água, que descem morro abaixo, por entre pedras. À direita, perto da queda d’água,  muitas pessoas negras, homens e mulheres, trabalham, As mulheres de vestido amarelo e roxo, carregam tabuleiros sobre a cabeça. Algumas pessoas saem de uma abertura no morro, ao lado da cachoeira. Outras trabalham ao longo do rio, formado pela queda de água e represado em alguns pontos com tábuas de madeira. À direita, há um homem branco, de chapéu bege sobre a cabeça, vestido com casaca azul e calça marrom que pesa algo com uma balança, e tem uma uma bateia dourada diante de si, sobre uma plataforma retangular. À frente dessa cena, dois homens negros com varas batem um couro marrom em formato de folha, preso à hastes de madeira. No rio, à esquerda, um grupo de quatro homens negros usam bateias e pedaços de couro para obter ouro do leito do curso d'água. À esquerda desse grupo, um homens branco, acenando com o chapéu. Em segundo plano, à esquerda, outras pessoas negras no rio e outra queda d’água maior. Entre as pedras, vegetação. No alto, o céu com nuvens.
Rugendás Iôrram Morrítis. Lavagem do minério do ouro: a montanha Itacolumi. cêrca de 1821-1825. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.
A cobrança de impostos

A Coroa portuguesa esperava garantir lucros na exploração aurífera por meio da cobrança de impostos. A principal taxação, aplicada desde o início do século dezessete, era o quinto, em que 20% de todo o metal encontrado era reservado à Coroa.

Para evitar o contrabando, a Coroa portuguesa proibiu a circulação de ouro em pó e implantou, entre 1717 e 1719, as Casas de Fundição. Nelas, o quinto era recolhido e o ouro era transformado em barras e recebia o sêlo real. A circulação do ouro era autorizada apenas após esse processo. As penas para quem descumprisse a lei poderiam ser desde o confisco de bens até o banimento para as colônias portuguesas na África. No entanto, mesmo com esses mecanismos de contrôle, grande quantidade de ouro circulou de contrabando e houve sonegação de impostos.

Entre 1735 e 1750, instituiu-se também o sistema de capitação, em que era cobrada uma taxa pela posse de cada escravizado. Contudo, esse sistema gerou vários motins, pois os tributos eram cobrados independentemente de os escravizados serem ou não utilizados na exploração das minas.

A partir de 1750, o govêrno português manteve apenas o imposto do quinto e fixou uma cota de 100 arrobas (cêrca de 1.500 quilogramas) anuais para toda a área mineradora. Para pressionar os mineiros a cumprir a exigência, a Coroa instituiu a derrama. Caso a cota não fosse atingida, a população deveria completá-la com seus próprios recursos.

Desde 1762, com o rápido esgotamento das minas, os quintos nunca mais atingiram as 100 arrobas e houve várias derramas. Essa situação provocou durante décadas muita insatisfação, que se agravava a cada cobrança. A ameaça de aplicação da derrama era motivo de preocupação constante. Dessa fórma, o clima de revolta se alastrava entre os mineradores.

Fotografia. Sobre um fundo branco, vistos de cima, utensílios diversos: um deles, à esquerda, é arredondado, similar a uma bacia rasa, no centro dele há pequenas pedras;  outro, à direita, tem hastes finas na vertical em preto e caixinhas em formato retangular; ao lado dele, à direita, recipientes dourados, pequenos, de formas arredondadas; acima, um peso de cor preta com uma alça e outro objeto fino de madeira com manivela pequena em dourado.  Abaixo deles, à direita, uma caixa de madeira de formato retangular, na cor marrom, com a tampa semiaberta; mais abaixo, outros recipientes arredondados e dourados, menores que os do alto, de diversos tamanhos.
Equipamentos de extração, fundição, aferição e transporte de ouro, datados do século dezoito. As três fórmas de ferro eram utilizadas na antiga Casa de Fundição de Vila Rica. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.

A revolta contra os impostos

Desde a descoberta das primeiras grandes jazidas de ouro, a região das Minas foi palco de tensões envolvendo mineradores, colonos e funcionários da Coroa encarregados da fiscalização.

A notícia de que seriam instaladas as Casas de Fundição foi motivo de um importante conflito na região. Os mineradores contestaram a medida, que aumentaria ainda mais o custo de vida, que já era muito alto, pois praticamente tudo o que era consumido na região das Minas era proveniente de outras áreas da colônia.

Diante dessa situação, em junho de 1720, cêrca de 2 mil mineiros, comandados pelo tropeiro português Filipe dos Santos, tomaram Vila Rica e exigiram que o da capitania cancelasse a medida. Porém, o governo não só manteve as Casas de Fundição como também reprimiu violentamente os revoltosos para servir de exemplo a futuros agitadores. Filipe dos Santos foi enforcado e seu corpo, esquartejado e exibido em praça pública. Essa rebelião ficou conhecida como Revolta de Vila Rica.

Pintura. Em uma rua com casarões de dois pavimentos à esquerda, ao lado de uma igreja de paredes de cor branca com uma pequena cruz na parte superior. No centro, na rua, uma multidão de pessoas em pé. Em destaque, no centro, um homem branco, de cabelos e barba castanhos, com uma faixa branca com mancha vermelha ao redor da cabeça,  blusa de mangas compridas branca rasgada, calça amarela com manchas. À frente dele, um homem negro sentado no chão, visto de lado, usando bermuda em azul escura, descalço, com os braços estendidos em direção para a frente. À esquerda, um outro homem negro de cabelos pretos e curtos, vestido com uma camisa vermelha, calça cinza e descalço, em pé, com as costas flexionadas, o braço esquerdo apontando para frente, onde está o homem agachado. Atrás dele, há um cavalo branco com a cabeça inclinada para baixo e outro marrom, empinando, com as patas dianteiras fora do chão, montado por um homem de casaco azul e chapéu alto, com uma faixa branca cruzando o peito e um dos braços para o alto segurando um bastão marrom. À direita, sobre degraus que levam à porta de um edifício visto parcialmente, um homem branco sentado sobre uma cadeira marrom. Este homem tem cabelos escuros e longos presos em um rabo de cavalo, e veste casaca verde com detalhes dourados, blusa branca calça branca e botas de cano alto pretas. Ele está com a mão esquerda sobre o joelho. Perto dele, outros homens em pé, todos brancos, com casacas e calça e botas de cano alto. Na calçada, há diversas outras pessoas, a maioria homens, mas também algumas crianças. Ao redor da multidão, homens de uniforme azul montados à cavalo. Nas janelas das construções, muitas pessoas observam a rua. No alto, o céu azul com nuvens.
Parreiras, Antônio. O julgamento de Filipe dos Santos. 1923. Óleo sobre tela, 88,5 por 148,4 centímetros. Museu Antônio Parreiras, Niterói, Rio de Janeiro.

“Santo do pau oco”

Diante das cobranças excessivas de impostos e das ações violentas promovidas pela Coroa portuguesa, a população que vivia na região das Minas criou diversos artifícios para driblar a fiscalização e contrabandear as riquezas. Utilizava, por exemplo, figuras de santos entalhadas em madeira para transportar ouro, diamante e outras peças de valor. Por isso, essas esculturas ficaram conhecidas como “santos do pau oco”.

Descoberta e exploração dos diamantes

Os primeiros diamantes provavelmente foram encontrados no Arraial do Tijuco (ou Tejuco, atual Diamantina), na região do Sêrro Frio, na década de 1710. Entretanto, a existência da pedra preciosa demorou a ser oficialmente comunicada à Coroa portuguesa.

Em 1734, quando tomou conhecimento do achado, a Coroa criou o Distrito Diamantino, com séde administrativa no Arraial do Tijuco. O objetivo era impedir o contrabando, controlar o fluxo de pessoas, arrecadar impostos e isolar a área do restante da colônia.

Além de impostos como o quinto, em 1739 o govêrno português instituiu o sistema de contrato, com concessões que duravam quatro anos. Por meio dele, a Coroa concedia o direito de explorar os diamantes e estabelecia o pagamento de um tributo à Coroa.

Apesar dos elevados tributos, a extração de diamantes foi muito lucrativa para os contratadores, que desfrutavam de prestígio. Um dos mais conhecidos foi João Fernandes de Oliveira, que viveu com Chica da Silva, descendente de africanos e ex-escrava. Ela ocupou lugar de destaque na sociedade do período e manteve um padrão de vida luxuoso.

A utilização de contratadores foi mantida até 1771, quando a extração de diamantes passou a ser administrada diretamente por Portugal. O Distrito Diamantino foi dissolvido em 1882, quando as pedras tinham escasseado e o Brasil já não era mais colônia de Portugal.

Gravura. Em um local aberto, sobre um rio, uma barra de madeira na horizontal em marrom. Sentados sobre ela, seis homens negros, de torno nu, quadril coberto por um tecido de cor branca, alguns com uma pequena vasilha arredondada, similar a uma bateia nas mãos. Eles estão perto da água com os pés submersos. À frente, em pé, um homem negro, de torno nu, bermuda branco com listras verticais vermelhas, com um braço para o alto e a outra mão sobre uma vasilha apoiada em uma estrutura de madeira, na margem do rio. À direita dele, um homem branco, de cabelos escuros, chapéu preto, casaca azul, calça branca e botas de cano alto pretas. Mais à direita, outro homem branco, visto de costas, recostado com o cotovelo sobre uma elevação do solo. Ele tem cabelos pretos, bigode de mesma cor, usa chapéu preto e camisa de mangas compridas branca. Na ponta esquerda, ao lado de uma construção de taipa e teto de palha vista parcialmente, outro homem branco sentado, de chapéu preto na cabeça, casaca azul, faixa vermelha na cintura e calça branca. Atrás dos homens sentados sobre a tábua acima do rio, há dois outros homens negros, em pé, no rio, cada um deles segurando um recipiente arredondado. Em segundo plano, local com morros altos e pedregosos e o céu na cor branca.
Representação de escravizados negros lavando diamantes, publicada no Atlas de uma viagem ao Brasil, de iôrrân bapitísti fôn ispíquis e Cal Fridric Fílip Marchius. cêrca de 1835-1850. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

Chica da Silva

A vida de Chica da Silva, que viveu no Arraial do Tijuco, já foi cantada em letra de música, filmada e narrada em livros, e desperta até hoje curiosidade pela sua particularidade no contexto da sociedade escravista colonial.

Francisca da Silva, a Chica da Silva, nasceu em 1732 no Arraial do Tijuco, hoje cidade de Diamantina, Minas Gerais. Mulher negra escravizada, era filha do Capitão das Ordenanças de Bocaina, o português Antônio Caetano de Sá, e da escravizada Maria da Costa. Chica conquistou sua alforria aos 22 anos, após ser comprada pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira.

Com João Fernandes teve uma união por concubinato [informal], e seu nome foi alterado para Francisca da Silva de Oliveira. Juntos tiveram treze filhos. A união era um tanto incomum para a época, pois os relacionamentos entre homens brancos e escravizadas negras nunca vinham a público. Por esse motivo, não oficializaram a relação. Mesmo assim, o comerciante reconheceu a paternidade de todos os filhos do casal, num período em que nenhum filho fruto de uma relação interracial obtinha o sobrenome do pai.

reticências

NARRATIVAS negras. Biografias ilustradas de mulheres pretas brasileiras. Curitiba: Voo, 2021. E-book.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Geografia

Meio Ambiente. Saúde.

Mineração e degradação ambiental

A mineração de ouro e diamantes gerou impacto na paisagem natural da região das Minas. O desmatamento para expor o solo das margens dos rios, extrair madeira, construir povoados e abrir estradas e áreas para plantações foi significativo.

Além disso, na extração do ouro eram empregadas três técnicas: a procura direta nos leitos dos rios, com o uso de uma bateiaglossário ; a lavagem de morros ou barrancos para obtenção de uma mistura de lama e areia da qual o ouro poderia ser separado (ouro de lavagem); e a extração no interior das galerias, seguindo os veios de ouro, método mais caro e só acessível aos mineradores mais ricos.

A lavagem de ouro provocou o assoreamento de rios, desviou o percurso de riachos e, consequentemente, afetou espécies aquáticas. A prática tornou as águas dos rios tão turvas e avermelhadas que a Vila Real do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo (atual município de Mariana) chegou a ser chamada de Ribeirão Vermelho.

Recentemente, em janeiro de 2019, no município de Brumadinho, em Minas Gerais, ocorreu um acidente decorrente da atividade mineradora. O rompimento da barragem de rejeitos compostos por metais pesados, como ferro, manganês, cromo e cobre, de uma empresa mineradora lançou cêrca de 12 milhões de metros cúbicos de lama, que contaminaram o rio Paraopeba e atingiram o rio São Francisco, do qual o primeiro é afluente. O rio São Francisco passa por Minas Gerais e mais quatro estados brasileiros. O acidente levou cêrca de duzentas e setenta pessoas à morte, destruiu moradias e construções, contaminou as águas do rio Paraopeba, o solo de Mata Atlântica no seu entôrno, matou peixes e outros seres vivos e afetou a saúde das comunidades que vivem no entôrno. Atingiu, inclusive, a aldeia Pataxó ramranrãe, localizada às margens do rio Paraopeba.

Fotografia. Vista aérea. No centro, seguindo o curso sinuoso de um rio,  muita lama em marrom-escuro, cobrindo o leito do rio e muitos metros além de suas margens. Na parte inferior da imagem, o rio está completamente soterrado pela lama.  À esquerda vegetação e árvores. À direita, cidade coberta por lama.
Vista aérea do rio Paraopeba em Brumadinho, no estado de Minas Gerais, após o rompimento de barragem de rejeitos de uma grande empresa mineradora. Fotografia de 2019.
  1. Quais foram as mudanças na paisagem da região das Minas provocadas pela atividade mineradora no século dezoito?
  2. Descreva a paisagem que você observa na fotografia de Brumadinho em 2019. Em sua opinião, seria possível evitar acidentes como esse? Como?

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Considerando a situação da economia portuguesa a partir do século dezessete, que efeitos você imagina que a descoberta do ouro na região das Minas trouxe para o reino português?
  2. Analise o trecho a seguir, escrito por participantes da Revolta de Vila Rica ao governador, em 1720, criticando a atuação dos fiscais da Coroa na região.

Primeiramente, não consentem em casas de fundição, cunhos e moeda. Não consentem em contrato novo algum que não esteja em estilo até o presente.

reticências

Não consentem que o aferidor leve pêso de ouro por outro tanto de cobre, e como isto sejam condições do senado, por ser contrato seu em que o povo nunca experimentou conveniência, que só a fim de ser o contrato alto fazem o regimento caro em prejuízo do povo, como é: de marcar somente uma balança e marco uma oitava e meia e de revista uma oitava e de tirar a olho a balança uma oitava, fazendo mais milagres que santa Luzia, dando olhos quando querem, fundados no interesse. E a este respeito as mais medidas, para o que se lhe dê regimento útil para o povo.

FIGUEIREDO, Luciano R. A.; CAMPOS, Maria Verônica (coordenação) Códice Costa Matoso. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1999. página 372-373. Disponível em: https://oeds.link/vyAUZ0. Acesso em: 20abril. 2022.

  1. Quais são as reivindicações do povo de Vila Rica ao governador?
  2. Que críticas são feitas aos fiscais da Coroa portuguesa?

3. Leia o trecho a seguir, sobre as taxações impostas pela Coroa portuguesa na região das Minas, e depois responda à questão.

reticências Para pagar em tempo sua taxa de capitação, a maior parte das pessoas era forçada a fazer empréstimos de mais quantidade de ouro, ou então vender seus próprios pratos, ou as joias da esposa e das filhas. Os escravos eram todos comprados a crédito, com longos prazos, e os mineiros que não podiam pagar sua taxa de capitação, muitas vezes, tinham esses escravos sequestrados pelos funcionários da Coroa, antes de terem pago por eles, em todo ou em parte. reticências

BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. página 218.

• Muitas pessoas foram atraídas para a região das Minas com o intuito de enriquecer rapidamente. Pelas informações apresentadas no texto, você considera que esse objetivo foi atingido por todos os mineradores? Explique.

4. Você estudou que a Coroa portuguesa estabeleceu diversos impostos sobre os metais extraídos na região das Minas, bem como criou aparatos administrativos para fiscalizar a atividade mineradora e evitar o contrabando. Pensando nisso, reúna-se em grupo. Observem a imagem de um “santo do pau oco”, figura que circulava com frequência nas cidades mineiras.

Fotografia. Duas fotografias da mesma escultura vista de frente e de costas. De tamanho médio, a escultura representa uma mulher segurando um bebê no colo. Ela usa um véu cobrindo os cabelos longos e cacheados, uma coroa alta sobre a cabeça, usa uma túnica longa e drapeada, comprida até os pés em tons de marrom e azul. Na vista frontal da escultura, a figura feminina segura na mão direita um bebê nu. Na parte inferior, na base da escultura, foram esculpidos  rostos de anjos de feições humanas, infantis, com cabelos castanhos, curtos e cacheados. À direita, a mesma escultura vista de costas. No centro das costas da figura, há uma abertura retangular, vertical. Por ela, é possível perceber que a escultura é oca por dentro.
Nossa Senhora do Rosário. Séculodezoito. Escultura em madeira, 2,02 métros de altura. Museu da Inconfidência, Ouro Preto (Minas Gerais).
  1. Quais teriam sido as funções do “santo do pau oco” em Minas Gerais?
  2. Com o tempo, a expressão “santo do pau oco” adquiriu novos significados. Discuta com seus colegas de grupo os significados que a expressão tem nos dias de hoje.

CAPÍTULO 20 A SOCIEDADE MINERADORA

O grande afluxo populacional para a região das Minas provocou um rápido processo de urbanização em tôrno das áreas mineradoras. Além de portugueses, a região atraiu pessoas vindas de outros reinos e de variados pontos da colônia.

A sociedade que se constituiu nesse ambiente urbanizado era muito diferente da que tinha se formado nas áreas rurais, voltada para a agricultura de exportação, que até então predominava na América portuguesa. Havia, por exemplo, uma relativa mobilidade entre os diferentes grupos sociais na região das Minas, condi­ção não experimentada até então na colônia.

Ao longo do tempo, o comércio e as atividades artesanais foram ganhando importância. Havia alfaiates, quituteiras, costureiras, sapateiros, leiteiros, latoeiros, seleiros, entre outros prestadores de serviço. Muitas dessas atividades eram exercidas por negros livres ou escravizados. Esses são alguns indícios da mobilidade e da diversificação social que caracterizaram a sociedade mineradora.

Gravura. Em um local aberto, arborizado, com chão de terra, muitas pessoas aglomeradas no centro da imagem. No centro do grupo, um homem e uma mulher. O homem é negro, tem cabelos curtos, usa uma coroa dourada na cabeça, veste um manto vermelho e dourado, calça branca e usa meias e sapatos de cor bege. À direita dele, uma mulher negra, com os cabelos cobertos por um barrete vermelho, uma coroa dourada sobre a cabeça, usando um vestido longo cor de rosa de mangas curtas e bufantes, lenço azul amarrado na cintura, colares dourados ao redor do pescoço, meias de cor bege e sapatinhos pretos. À direita deles, um homem negro com uma peruca de cabelos longos e brancos, um chapéu preto com plumas sobre a cabeça, uma casaca verde e uma calça verde. Mais ao fundo, visto de costas, um homem negro de cabelos curtos, segurando um chapéu em uma mão e uma baqueta na outra, os braços para o alto, como se regesse um grupo de músicos. À direita, à frente do cortejo, dois homens vistos de lado, com instrumentos musicais: um com um tambor e ou outro com uma espécie de corneta dourada. Ambos são negros, estão descalços, usam chapéu. Há pessoas no grupo que levantam o chapéu para cima; outras, ainda, carregam bandeiras hasteadas. Há uma bandeira azul com um sol amarelo no centro. Uma bandeira dourada bordada e uma bandeira dourada quadrada com as bordas vermelhas. À frente, à esquerda, duas crianças negras, uma maior de gorro de cor bege e bermuda vermelha, com uma haste fina no ombro direito com uma bandeira vermelha e um círculo em amarelo. Ao lado dele, uma criança menor, vista de costas, com camiseta verde clara, calça branca e suspensórios. No canto esquerdo, mais ao fundo, dois homens brancos, vistos de costas, montados à cavalo, vestidos com chapéu bege sobre a cabeça, capa sobre as costas e outro de casaca são vistos de costas, observando o grupo no centro. Ao longo da estrada de terra, há muitas pessoas em festa. Os homens estão com trajes coloridos variados.  Em segundo plano, árvores altas nas margens da estrada. Uma nuvem de poeira sobre da estrada de chão. Mais atrás, residências e no alto de um morro, uma igreja de paredes brancas com duas torres. No alto, o céu de cor azul claro.
Rugendás Iôrram Morrítis. Festa de Santa Rosália, padroeira dos negros. cêrca de1835. Litografia. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

Os indígenas que viviam nas Minas

Muito antes de surgirem as primeiras vilas mineiras e a capitania de Minas Gerais, diversos grupos indígenas, como os Botocudo, os Maxacalí, os Puri e os Kayapó, já habitavam a região. Suas aldeias estavam distribuídas por toda a Zona da Mata Mineira.

A descoberta das primeiras lavras de ouro e a fundação de vilas fizeram muitos grupos indígenas se deslocarem para o interior da colônia, pois diversas aldeias estavam próximas a jazidas de ouro. Mas esses povos também resistiram ao avanço da atividade mineradora, promovendo ataques contra os povoados estabelecidos na região e contra as bandeiras, que adentravam cada vez mais o interior do território.

Nos confrontos, muitos indígenas foram mortos ou capturados e escravizados para trabalhar nas lavras de ouro, na agricultura ou em serviços domésticos. Para burlar a lei que proibia a escravização dos indígenas, os colonos assumiam a tarefa de catequizá-los.

Recorrendo à justiça colonial

É importante ressaltar que muitos indígenas conseguiram fugir das vilas mineiras e formar quilombos. Em 1726, por exemplo, foi descoberto um quilombo indígena na Zona da Mata Mineira. Outros indígenas conseguiram mover ações contra seus exploradores, que insistiam em mantê-los em cativeiro. Isso foi possível graças a uma medida criada em 1760, que permitia aos indígenas recorrer à justiça colonial para defender seu direito à liberdade. No entanto, resoluções a favor dos indígenas foram raras, pois a maioria dos colonos alterava o registro de origem étnica dos nativos, identificando-os como mestiços.

Gravura. Na floresta, sobre o chão de terra cercado por árvores, um grupo de pessoas indígenas, de cabelos pretos e rostos largos, nuas, umas sentadas e outras em pé. No centro, sentado sobre uma pedra, um dos homens é visto de costas, com as mãos entrelaçadas sobre a nuca. Perto dele, folhas, galhos e restos de um animal. De frente para ele, homens e mulheres sentados diante de pequenas fogueiras de chamas pequenas que emanam fumaça de cor cinza, para o alto. À direita, sentada, uma mulher de cabelos curtos amamenta um bebê. Ao lado dela, uma criança encostada sobre o ombro direito de uma outra mulher, também sentada. Na ponta direita, um homem sentado sobre uma pedra e grande quantidade de fumaça sobre o rosto dele. Mais ao fundo, à esquerda, diante de uma árvores de tronco grosso, dois homens em pé. Um deles se alimenta com a carne que ele puxa de um osso; o outro segura com as duas mãos um galho sobre a cabeça. Em segundo plano, à direita, duas mulheres, uma de frente para a outra, ambas carregam criança nas costas. A mulher da direita tem um cesto sobre a cabeça com plantas dentro. Entre as duas, um homem visto de costas, agachado, com galho de árvore sobre o ombro esquerdo.
debrêJean Batísti. Botocudos, Puris, Pataxós e Maxakalís. 1834. Gravura, 22,7 por 32centímetros. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.

A elite e as camadas intermediárias

Na região das Minas, formou-se uma sociedade mais diversificada que a do Nordeste açucareiro. Apesar disso, havia uma diferença bastante expressiva entre as condições sociais dos grandes proprietários e dos representantes da Coroa e as da maior parte da população.

O pequeno grupo de pessoas que tinham poder econômico e influenciavam politicamente as decisões tomadas na região era formado por proprietários de grandes lavras e por contratadores. Esses últimos eram geralmente portugueses e obtinham da Coroa não só autorização para explorar diamantes, como também o direito de arrecadar o dízimo e as entradas (taxas sobre as importações). Os altos cargos administrativos do govêrno, essenciais para o contrôle da vida colonial, também costumavam ser exercidos por membros da elite portuguesa. Compunham ainda esse seleto grupo os grandes comerciantes, que eram donos de imensas fortunas e, em geral, haviam enriquecido com o comércio de gado e de produtos manufaturados entre Minas e outras regiões do Brasil.

As camadas intermediárias, por sua vez, eram formadas por faiscadores, pequenos comerciantes, roceiros, profissionais liberais como médicos e advogados, artesãos e artistas em geral.

A maior parte da sociedade mineira era formada por escravizados africanos e seus descendentes. Para se ter uma ideia da sua participação na composição social da colônia, em 1742, por exemplo, de uma população com pouco mais de 174 mil pessoas, cêrca de 95 mil eram escravizadas. Os brancos pobres e ex-escravizados, por sua vez, estavam entre as camadas intermediárias e os escravizados não tinham poderes políticos e detinham poucos recursos econômicos.

Gravura. Vista de uma estrada de terra com morros baixos cobertos de vegetação nas laterais. À esquerda, vegetação rasteira com folhas de cor verde. Em destaque, no caminho, passam três pessoas a cavalo e três a pé, caminham no sentido da esquerda para a direita. No centro, um cavalo branco montado por um homem branco de cabelos castanhos, casaca azul, calça branca e botas de cano alto marrom, com uma  arma debaixo do braço direito. À direita, um cavalo marrom montado por um homem branco, com chapéu marrom, vestido com uma capa grande vermelha e calça cinza. Ao fundo, um cavalo cinza montado por uma mulher branca. Ela está sentada de lado, tem cabelos castanhos e usa vestido azul, manto longo roxo e chapéu bege com um laço azul sobre a cabeça. 
À direita dela, em pé, um homem negro visto parcialmente, com chapéu bege e blusa de cor azul-claro, guiando o animal. 
No canto direito, uma mulher branca em pé, de cabelos escuros longos cobertos por um chapéu bege e um véu azul, usa um vestido longo em rosa claro, lenço azul em volta do corpo, casaco de cor amarela e sapatos marrons. Ela olha para os cavalos, segurando um bastão  na mão direita. Na outra mão, segura a mão de um menino negro, de cabelos castanhos, com casaco marrom alaranjado, calça curta azul, descalço. No alto, o céu em azul claro sem nuvens.
Rugendás Iôrram Morrítis. Habitantes de Minas. 1821-1825. Gravura. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

Africanos escravizados e libertos

A descoberta de ouro e pedras preciosas fez multiplicar a entrada de escravizados africanos na colônia portuguesa. Entre o final do século dezessete e o final do século seguinte, mais de 2 milhões de escravizados africanos entraram nos portos brasileiros, o triplo de todos os anteriores somados.

O cotidiano dos escravizados que trabalhavam diretamente nas minas era muito duro. Eles ficavam longas horas com os pés na água extraindo o ouro no leito dos rios e frequentemente eram vítimas da tuberculose e de outras doenças pulmonares. Nas galerias subterrâneas, estavam sujeitos à asfixia e ao risco de soterramento, caso desabassem rochas durante as escavações.

Nas regiões mais urbanizadas, havia os chamados escravos de ganho. Eles eram autorizados pelos senhores a exercer atividades remuneradas, geralmente no pequeno comércio. Com o dinheiro obtido vendendo galinhas, frutas e doces, ou mesmo trabalhando no garimpo, o escravizado pagava ao senhor uma quantia estipulada e ficava com o excedente, muitas vezes conseguindo, com o tempo, juntar dinheiro suficiente para comprar sua alforria. As chamadas negras quitandeiras constituíram um caso comum desse tipo de escravizado.

A possibilidade de obter a alforria teria sido, segundo parte da historiografia, um mecanismo de contrôle social, isto é, uma fórma de evitar levantes. Para os proprietários, a promessa da alforria criava condições para conviver em relativa segurança com uma maioria de oprimidos. Os alforriados, contudo, continuavam carregando o estigma da escravidão e permaneciam excluídos dos cargos de poder.

Pintura. Sobre um fundo de papel amarelado, retangular disposto na vertical, à direita, uma mulher negra, com um lenço sobre a cabeça, blusa da mesma cor, e com uma faixa larga de tecido preto na cintura. Ela veste uma saia longa e rodada de cor azul e sapatos vermelhos. Usa colares e pulseiras douradas. Tem uma faixa de tecido vermelho ao redor do quadril. Nas suas costas, carrega um bebê branco e loiro preso às suas costas pela faixa larga de tecido preto que tem atado ao seu corpo.  Ela segura na mão direita um pequeno animal cinza quadrúpede. Com a mão esquerda, erguida para cima, apoia um tabuleiro que carrega sobre a cabeça: uma bandeja de cor bege com cinco frutos arredondados cor de laranja claro e caules de cana-de-açúcar. Aos pés dela, à esquerda, um cachorrinho de tamanho médio, peludo, de cor cinza com partes em preto, de focinho fino. À direita, uma mulher negra, de lenço vermelho na cabeça, com um chapéu preto redondo, blusa branca com mangas bufantes, saia longa e rodada azul, e lenço preto sobre os ombros, uma faixa  dourada com dois frutos pequenos redondos e vermelhos e duas folhas verdes presos ao redor de seu quadril.  Ela está descalça, com as mãos para cima, segurando uma cesta sobre a suas cabeça; na cesta, uma gaiola em forma de gota com galinhas dentro. Na parte inferior, o chão de terra na cor bege com pequenas pedras de cor cinza à frente.
JULIÃO, Carlos. Negras vendedoras de rua. Século dezoito. Aquarela, 45,5 por 35 centímetros. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Ícone. Sugestão de livro.

TANAKA, Beatriz. A história de Chico Rei: um rei africano no Brasil. São Paulo: Edições ésse eme, 2010. Livro sobre Chico Rei, personagem da tradição oral mineira. Segundo a tradição, Chico teria vindo à América portuguesa na condição de escravo; como ele era rei em sua aldeia no Congo, acabou tornando-se “rei” na cidade mineira de Ouro Preto.

O cotidiano nas cidades mineiras

Diferentemente de outras regiões da colônia, a sociedade da região das Minas era bastante urbanizada. A maioria das pessoas morava em casas térreas pequenas e simples, construídas com barro, madeiras ou pedras, com poucas portas e janelas. Com exceção das famílias ricas, que geralmente moravam em sobrados espaçosos e que exibiam maior requinte. Os escravizados, por sua vez, residiam em senzalas ao lado da moradia de seus senhores ou em ranchos, construções frágeis e precárias feitas de pau a pique, barro, madeira ou palha.

Os habitantes das vilas e das cidades mineiras cuidavam de seus negócios, promoviam festas e participavam das atividades religiosas organizadas pelas irmandades, que ocupavam o centro da vida comunitária na região das Minas.

As irmandades religiosas

Em 1705, a Coroa portuguesa expulsou as ordens religiosas regulares das vilas mineiras, preocupada com as disputas administrativas na região do ouro. Na ausência das ordens regulares, surgiram confrarias, irmandades e ordens terceiras, que eram associações religiosas leigas organizadas em tôrno do culto a um santo.

Essas associações religiosas existiram em várias regiões do Brasil, mas tiveram papel destacado na região das Minas. Elas eram responsáveis pelas atividades religiosas, como a construção de capelas e igrejas e a organização de procissões e festas católicas. Também prestavam assistência social, dando auxílio aos doentes, aos necessitados e às famílias nos funerais. Assim como outras práticas culturais da colônia, as irmandades refletiam a divisão social que existia na sociedade mineira, sendo organizadas irmandades de ricos e de pobres, de brancos e de negros.

Fotografia. Foto de orientação vertical. Sob um céu azul, vista da fachada de uma igreja de paredes de cor branca com detalhes em pedra de cor bege no contorno das janelas e da porta e nas laterias da fachada, formando duas colunas. As janelas e portas são de madeira e têm o formado de arco e a cor verde claro. Acima da porta, entre duas janelas verdes, uma escultura entalhada em pedra, representando figuras religiosas. No alto, acima dessa escultura, um outra, de formato circular, contornada por pedra de cor bege. No alto dessa construção central, um crucifixo cortado por duas hastes horizontais.  À direita e a esquerda, duas torres altas. Na da esquerda, por aberturas de forma oval, é possível perceber um sino de metal. No topo de cada torre, uma pequena cúpula arredondada com uma ponta fina na vertical. Diante da igreja, calçamento feito de pedra de cor bege, e uma mureta baixa, de pedra. A igreja está em patamar elevado, há uma pequena escada com um portão que dá acesso à rua, também com calçamento de pedra. Ao fundo, árvores de folhas verdes e morros cobertos e vegetação. No alto, céu azul e nuvens brancas.
A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, em Minas Gerais, foi construída pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis, dirigida por brancos, entre 1766 e 1802. As ordens leigas disputavam entre si a construção da igreja mais bela, refletindo, assim, os diferentes grupos sociais e a desigualdade econômica da época. Fotografia de 2020.

O Barroco nas Minas Gerais

A arte barroca surgiu na península Itálica no final do século dezessete. Ligada à afirmação da fé católica, priorizava a expressão das emoções, dos sentidos e da intuição humana. Com o objetivo de impressionar o observador, por meio de obras monumentais, a arte barroca apresentava rostos expressivos, figuras distorcidas e uma decoração rica e rebuscada.

O Barroco chegou à América portuguesa com os jesuítas. Aqui, ele se caracterizou pela riqueza de detalhes na decoração das igrejas e na fachada das edificações. Na região das Minas, os artistas decoraram os templos de fórma intimista e requintada, sem as deformações típicas do Barroco, acrescentando cores de tons fortes e alegres ao dourado. Além disso, as esculturas eram feitas principalmente de pedra-sabão, um material típico de Minas Gerais.

Entre os grandes artistas do Barroco mineiro, destacam-se Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde.

Aleijadinho especializou-se em entalhar e esculpir peças em madeira e pedra-sabão. Entre suas principais obras, estão Os Doze Profetas, que ficam em frente ao Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, e a decoração interna da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.

Já o mestre Ataíde era pintor, dourador, professor e encarnador (aquele que cria imagens e estátuas). Em parceria com Aleijadinho, realizou a obra-prima do Barroco no Brasil: a igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. No teto da igreja, Ataíde pintou, com traços mestiços, a Virgem Maria e os querubins que a rodeiam.

Fotografia. Escultura feita de pedra de cor bege claro. Ao fundo uma forma com o topo em semicírculo e laterais retas, como um arco. Ao redor desse arco, há figuras de anjos esculpidas: pequenos bebês nus de cabelos cacheados, com asas pequenas nas costas. O fundo do arco tem linhas verticais em relevo, e detalhes esculpidos com frisos horizontais, como os de uma coluna da Antiguidade. Na base, de formato retangular, há frisos esculpidos com formas de plantas e, na parte frontal, três pias arredondas esculpidas, cada uma sobre uma coluna. Acima das pias, à frente do arco esculpido, no centro, sobre um pedestal esculpido na pedra bege, uma escultura representando uma mulher de túnica segurando um tecido com textos gravados nele. Há anjos aos pés da mulher. Um tecido com um texto gravado na pedra está disposto entre os anjos e, acima da mulher, há um anjo maior, no centro, com asas grandes, túnica longa drapeada e um escudo redondo nas mãos. No topo do arco, no centro, a figura de um brasão com parte de um crucifixo. Em cada um dos lados do brasão, há um anjo sentado. Um dos anjos, à direita, segura um crânio humano com uma de suas mãos.
Lavabo da sacristia da igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, em Minas Gerais. Obra de Aleijadinho, de 1766, esculpida em pedra-sabão.
Ícone. Sugestão de livro.

DILL, Luis. Ouvindo pedras: Aleijadinho. São Paulo: Escala Educacional, 2008. Livro sobre a vida e as obras de Aleijadinho.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Arte

Multiculturalismo.

A arte barroca

Mestre Ataíde exerceu vários ofícios artísticos durante sua vida. Mas, sem dúvida, foram as pinturas feitas nos tetos das igrejas que lhe garantiram o reconhecimento como um dos maiores artistas de sua época, o século dezoito, no Brasil colonial. Suas representações eram bastante pessoais e marcantes e seus traços remetiam, muitas vezes, à mestiçagem. Ataíde mesclava os recursos do Barroco que despertavam fortes impressões no obser­vador com a técnica da pers­pectiva, uma combinação bastante comum na época. O uso da perspectiva criava a ilusão de proximidade entre o fiel espectador e as imagens de anjos e santos, causando grande impacto visual.

Pintura. Pintura sobre um teto de madeira com as fissuras das tábuas na vertical, vista de baixo para cima. Na pintura, a representação do céu pintado em um fundo azul turquesa, com quatro colunas com capiteis dourados, as pontas das colunas formando os vértices de um quadrado. Nesse espaço, há uma abertura nas nuvens, com duas pontas arredondadas de cada lado do quadrado. A abertura tem um fundo amarelo e laranja, com bordas vermelhas e, em destaque, no centro, há uma mulher de traços mestiços, sentada com os joelhos dobrados, dando a impressão de que ela está, de fato, se elevando em direção ao céu. Ela está sobre uma nuvem bege, tem cabelos castanhos longos usa uma túnica clara de mangas vermelhas e um manto azul, está com as mãos em posição oração, unidas na frente do peito. A partir da cabeça dela, raios de luz dourada e dois anjos, um de cada lado da cabeça da mulher sobrevoam a cena. Ao redor dessa cena, há muitos anjos entre nuvens em tons de amarelo, formando um círculo. Os anjos têm nas mãos diversos instrumentos musicais e partituras. Os anjos foram representados como bebês de cabelos curtos e cacheados, com pequenas asas brancas. Ao redor, pinceladas em tons muito vivos de vermelho, laranja, azul e dourado e formas sinuosas com lenços de tecidos na cor vermelha.
MESTRE ATAÍDE. Assunção da Virgem.1801-1807. Pintura em madeira. Esta obra decora o teto da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, em Minas Gerais.
  1. Analise a pintura do mestre Ataíde e responda.
    1. Como a subida da Virgem Maria ao céu foi representada na pintura? Qual aspecto revela o protagonismo da Virgem na obra?
    2. Quais elementos do Barroco estão presentes na pintura? Quais foram os efeitos alcançados com o uso da técnica da perspectiva?
    3. Na pintura, a Virgem Maria foi representada com traços mestiços. Qual teria sido a intenção do artista ao representá-la com essas feições?
  2. Considerando o que você já estudou sobre as reformas religiosas na Europa e sobre a arte barroca, qual seria a função de pinturas como essa no interior das igrejas? Você acredita que elas conseguiam atingir seu objetivo? Relacione seus conhecimentos anteriores ao que você estudou neste Capítulo para elaborar uma explicação clara e coerente.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. O que a exploração de ouro significou para os indígenas? Quais foram suasfórmas de resistência ao avanço colonial na região das Minas? Explique.
  2. Nas regiões mineradoras a sociedade era mais diversificada e as relações sociais eram menos rígidas do que nos engenhos nordestinos. Para refletir sobre o assunto, observe a imagem produzida no século dezoito, leia a sua legenda e o texto a seguir sobre a população da região das minas. Depois responda às questões.
Pintura. Sobre um fundo de papel amarelado, retangular, de orientação vertical, no canto esquerdo, uma mulher branca de cabelo grisalho preso em um coque, usando vestido branco estampado com flores está de frente para um homem negro, à direita dela. Com as duas mãos, mulher segura um recipiente redondo de cor bege. O homem negro à frente dela despeja um líquido recipiente com uma colher preta. Ele é visto de lado, usa um chapéu de abas  bege, veste um casaco azul, calça curta branca, e está descalço.  Próximo aos pés deles, um jarro de cor marrom arredondado, com duas alças, uma em cada lado. À direita, visto de frente, olhando para trás, na direção do vendedor e da mulher, um homem branco, de cabelos longos grisalhos presos em um rabo de cavalo, traje preto coberto por uma capa preta, longa até os tornozelos com detalhes em vermelho na gola e no punho. Ele usa um chapéu claro com uma fita vermelha, com um laço vermelho. Meias compridas brancas e tamancos pretos.
JULIÃO, Carlos. Negro vendedor de leite. Século dezoito. Aquarela, 45,5 por 35 centímetros. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. A obra representa a população de Sêrro Frio, na região das Minas no século dezoito.

Os mulatos e negros forros realizavam trabalhos de variadas categorias, e mesmo aqueles “ganhando para a alforria” dedicavam-se a funções mais lucrativas e menos perigosas que as das minas de ouro ou de diamantes, que eram vistas como difíceis e capazes de abreviar a vida.

Dentre as profissões mais mencionadas encontramos carpinteiro, ferreiro, músico, cozinheiro e alfaiate. reticências

SCARANO, Julita. Negros nas terras do ouro: cotidiano e solidariedade – século dezoito. segunda ediçãoSão Paulo: Brasiliense, 2002. página 32-33.

  1. Na sua opinião, é possível relacionar a imagem de Carlos Julião com as informações do texto sobre a população negra na região das Minas no século dezoito? Explique.
  2. Explique a relativa mobilidade social entre os negros escravizados e livres na região das Minas no período colonial. Elabore sua resposta com base no que você estudou no Capítulo, na observação da imagem e na análise do texto anterior.

3. Observe o gráfico e responda às questões.

estimativa da população na colônia

Gráfico de barras. Estimativa da população na colônia. No eixo vertical, dados numéricos sobre a população e, no eixo horizontal, datas. Barras na cor verde. Ano de 1690. População de 180.000 a 300.000. Ano de 1780. População de 2.523.000. Ano de 1798. População de 3,250.000,  com um asterisco. Na parte inferior, o asterisco e o texto: 'Subdivididos em: brancos, 1.010.000 (31%); indígenas, 250.000 (7,7%); libertos, 406.000 (12,5%); pardos (escravizados), 221.000 (6,8%); negros (escravizados), 1.361.000 (42%).

Fonte: sáimonsen, Roberto. História econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1978. página 271.

  1. Aponte os motivos que explicam o grande crescimento populacional na América portuguesa entre 1690 e 1780.
  2. De acôrdo com as informações do gráfico, em 1798 havia mais pessoas livres ou escravizadas no Brasil?
  3. Com base nesse gráfico, o que você pode concluir sobre a sociedade mineira?

CAPÍTULO 21  NOVAS CONFIGURAÇÕES NA COLÔNIA

Muitas cidades brasileiras foram batizadas com nomes relacionados às atividades econômicas desenvolvidas no local durante o período colonial. Os nomes das cidades mineiras de Ouro Preto, Ouro Branco, Ouro Fino, Lagoa Dourada, Lavras, Catas Altas e Diamantina, por exemplo, são relacionados à atividade mineradora.

Muitos centros urbanos do atual estado de Minas Gerais, como esses, originaram-se de arraiais que se formaram em tôrno das lavras. À medida que essas regiões se tornavam importantes economicamente, a Coroa instalava no local seu aparelho administrativo, elevando-as à categoria de vilas e cidades. Assim, a atividade mineradora possibilitou o desenvolvimento do comércio no interior da colônia.

Ao contrário da sociedade açucareira do Nordeste, que se concentrava nas fazendas, na região das Minas o centro das atividades cotidianas eram as cidades, onde se aglomeravam milhares de pessoas e onde a vida cultural era relativamente intensa.

Entretanto, no início da mineração, as pessoas que se dirigiram para as Minas encontraram uma região desprovida de infraestrutura. A necessidade de abastecimento fez alguns caminhos começarem a se formar, constituindo as rótas comerciais que ligavam diversas partes da colônia e por onde circulavam pessoas, mercadorias e culturas.

Fotografia. Vista geral de local aberto com escadaria de pedra de cor marrom e ao fundo, catedral de paredes brancas com partes em bege no contorno. Na frente da escadaria uma fonte de pedra. À esquerda e à direita, há duas torres simétricas, com um sino de metal na parte superior e telhado com telhas de cor de terracota. No centro da construção, no alto do telhado uma  cruz. Logo abaixo, um vitral de forma ovalada. No primeiro andar, três janelas de formato retangular. No térreo, uma porta alta de madeira, de cor marrom, também de formato retangular. Perto da catedral, nas ruas que a ladeiam, carros e pessoas caminhando. No alto, o céu azul e muitas nuvens brancas.
Catedral no centro histórico de Mariana, em Minas Gerais. Durante o século dezoito, Mariana foi uma das cidades mais importantes da região das Minas. Fotografia de 2020.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Urbanização e necessidade de abastecimento

A descoberta de ouro atraiu pessoas de várias partes da América portuguesa e da Europa para a região das Minas. Em tôrno das lavras surgiram casas, ruas e os primeiros espaços públicos. As novas cidades cresciam improvisadamente, de acôrdo com as necessidades de ocupação. Diante da rapidez com que as vilas cresciam, a Coroa portuguesa não conseguiu impor seus padrões de planejamento urbano. Em vez de ruas retas e planas, a construção da maioria das cidades mineiras acompanha os contornos dos morros e das ladeiras, onde se aglomeraram as edificações.

A ocupação em ritmo acelerado das vilas mineiras explica, entre outros fatores, a instabilidade econômica e a pobreza em que vivia a maior parte da população. Apesar da abundância de ouro, poucos habitantes das cidades mineiras conseguiram acumular fortunas. O próprio critério para conceder as datas, baseado no número de escravizados de cada proprietário, colaborou para a formação de um grupo muito pequeno de pessoas ricas.

Na região das Minas não havia lavouras e as rótas de abastecimento eram muito difíceis de ser percorridas. O resultado foi a escassez de alimentos, o encarecimento dos produtos de primeira necessidade e a ocorrência de crises periódicas de fome. A necessidade de abastecer a região com roupas, alimentos, calçados, utensílios domésticos e demais produtos consumidos pela população impulsionou o surgimento de novas rótas comerciais, que ligavam as cidades mineiras a outras regiões da colônia, de onde vinham as mercadorias.

Fotografia. No centro, rua estreita com calçamento em pedras, com casas à esquerda e à direita, de arquitetura em estilo colonial: casas de um ou dois pavimentos, paredes de cor branca e o contorno das janelas em forma de arco coloridos: em azul, amarelo, vermelho e outras cores. Na calçada, feita de pedras, à esquerda, pessoas observando as construções e, à direita, carros estacionados. Ao fundo, vista parcial de uma igreja e morro coberto de vegetação. No alto, o céu azul com nuvens.
Casario colonial no centro histórico de Ouro Preto, em Minas Gerais. Fotografia de 2020.
Ícone. Sugestão de site.

ERA virtual: Patrimônios da Humanidade – Ouro Preto. Disponível em: https://oeds.link/Arv4t1. Acesso em: 7 abril 2022. No site, é possível realizar uma visita virtual à cidade de Ouro Preto (Minas Gerais).

Em direção à região das Minas

Arraiais e vilas foram surgindo ao longo das rótas comerciais que abasteciam a região das Minas. Para controlar o escoamento de ouro até Portugal, alguns caminhos foram transformados pela Coroa em estradas reais, como a Róta que unia Minas Gerais e São Paulo ao Pôrto de Paraty, conhecida como Caminho Velho, e a Róta para o Rio de Janeiro, conhecida como Caminho Novo (observe mais adiante o mapa Os caminhos do comércio interno (século dezoito)).

Tropas de mulas seguiam por esses caminhos para abastecer a capitania de Minas Gerais. Já os caminhos fluviais eram utilizados principalmente para chegar às minas da região dos atuais estados de Mato Grosso e Goiás. O surgimento dessas rótas propiciou a integração entre as diversas regiões da colônia, em que predominava até então uma vida rural, com localidades afastadas e com poucas fórmas de comunicação entre si. A formação dessa rede de caminhos e circulação de pessoas favoreceu também o transporte mais rápido de mercadorias da colônia para a metrópole.

O papel dos tropeiros

Os tropeiros eram responsáveis pelo transporte e pela comercialização de mercadorias em diversas partes da colônia, sobretudo nas áreas mineradoras. As mercadorias eram transportadas por mulas, animais considerados resistentes a longos percursos em terrenos acidentados.

As tropas que partiam do sul da colônia abasteciam regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás com gado e produtos obtidos nas feiras de Sorocaba. Tropeiros vindos dos portos das cidades de Salvador e Rio de Janeiro forneciam açúcar, roupas, utensílios domésticos, ferramentas, armas, azeite, vinho, tecidos, peixes secos e outros itens trazidos da Europa. Além de gêneros alimentícios, peças de vestuário e demais utensílios, os tropeiros comercializavam escravizados. Por esses mesmos caminhos, o ouro e os diamantes seguiam para Portugal. Já as monções paulistas transportavam para a região das Minas principalmente sal, roupas e farinha de mandioca.

Gravura. Local aberto, estrada com chão de terra avermelhada sobre morros sinuosos,  onde há dezenas de pessoas montadas sobre cavalos formando uma caravana. Há homens com chapéu sobre a cabeça, casaca e calça vistos de costas. À esquerda, perto de um homem a cavalo, um homem a pé, negro, de chapéu bege sobre a cabeça, de blusa de mangas compridas e calça azul, carregando uma trouxa de cor bege nas costas. À direita, um animal quadrúpede marrom, deitado de lado sobre solo, ao lado de um cachorro marrom que late para ele. No canto direito, um pequeno açude de água azul onde um cachorro marrom bebe água. Em segundo plano, morros e outros animais caminhando em fila. Mais ao fundo, sobre os morros, à esquerda, casas de paredes brancas e de telhado marrom. No alto, céu em azul claro, nuvens brancas e aves voando.
rugêndasiôrrán morits . Caravana de mercadores a caminho do Tejuco. 1821-1825. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Geografia

rótas comerciais

A necessidade de abastecer a região mineradora gerou novas ocupações para colonos e reinóis (pessoas vindas de Portugal), além de riqueza para muitos tropeiros. Porém, apresentou-se como um enorme desafio. As mercadorias eram carregadas por mulas, os caminhos muitas vezes eram tortuosos e as viagens rumo ao interior podiam durar meses.

Observe o mapa a seguir e responda às questões.

Os caminhos do comércio interno (século dezoito)

Mapa. Os caminhos do comércio interno. Século 18. Mapa representando o leste da América do Sul com foco no território que hoje corresponde ao Brasil. O território da América portuguesa está destaco em amarelo e contornado por uma linha cinza. Há setas coloridas indicando caminhos e áreas destacadas em cor de rosa. Também há ícones pelo território. Na legenda: Em rosa, 'Áreas de mineração (século 18)'. As áreas de mineração localizavam-se nos territórios que hoje correspondem à Região Centro-Oeste e à Região Sudeste, mais especificamente aos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Regiões próximas às cidades de Cuiabá, Vila Boa de Goiás; além de Tejuco, Nossa Senhora da Conceição do Sabará, São João del Rei, Vila Real de Nossa Senhora do Carmo e Vila Rica. Um diamante laranja em formato de losango, indica: 'Diamantes'. Os diamantes eram explorados a leste e oeste da cidade de Cuiabá, a oeste do Recife, a oeste de Salvador, ao norte de Nossa Senhora da Conceição do Sabará e ao norte de São João del Rey. Um quadrado laranja, indica: 'Principais portos'. Os principais portos eram os de Salvador, Rio de Janeiro, Parati e Santos. Linha marrom, , indica: 'Caminhos terrestres'. Os caminhos terrestres ligavam Vila Bela, Cuiabá e Vila Boa de Goiás até Tejuco e chegavam até o norte da Vila Real de Nossa Senhora do Carmo. Linha  roxa, indica: 'Caminho Geral do Sertão: aguardente, rapadura, marmelada, alimentos'. O caminho geral do sertão ligava São Paulo e o Caminho Velho, que interligava, por sua vez, Vila Rica e Parati. Linha cinza, indica: 'Caminho Velho: diamante, ouro, escravizados, ferramentas, roupas, importados'. Interligava Vila Rica e Parati. Linha  rosa, indica: 'Caminho Novo: diamante, ouro, escravizados, ferramentas, roupas, importados'. O Caminho Novo ligava Vila Rica e o Rio de Janeiro. Linha azul , indica: 'Monções'. As monções seguiam o curso dos rios Cuiabá, Paraná e Tietê até São Paulo. Outras seguiam o curso do Rio São Francisco desde um território ao sul do Recife até São João Del Rey. Seta amarela, indica: 'Mulas e charque'. As mulas e o charque partiam de Pelotas até chegar a Sorocaba. Seta vermelha, indica: 'Tabaco, aguardente, escravizados'. O tabaco, a aguardente, e as pessoas escravizadas percorriam uma rota que ligava Salvador a Vila Real de Nossa Senhora do Carmo pelo interior da colônia, margeando o rio São Francisco. Seta verde escura, , indica: 'Arroz, carne-seca, couro, jegues, coco '. O arroz, a carne-seca, o couro, os jegues e os cocos vinham de São Luís e do Recife. As duas rotas se interligavam ao norte do Rio São Francisco e rumavam para o sul, pelo curso desse rio, até atingir a rota do tabaco, aguardente e escravizados, a oeste de Salvador com direção a Vila Real de Nossa Senhora do Carmo. Seta verde clara, indica:  'Ouro, suprimentos'. O ouro e os suprimentos de mineração percorriam a rota entre Vila Boa de Goiás e São Paulo atravessando o Rio Tietê. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 400 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: ISTOÉ Brasil. 500 anos: atlas histórico. São Paulo: Três, 1998.página 28; quítin, Vallandro; MARANHÃO, Ricardo. Caminhos da conquista: a formação do espaço brasileiro. São Paulo: Terceiro Nome, 2008. página 209.

  1. De acôrdo com o mapa, quais eram as áreas de mineração na América portuguesa? Que rótas as abasteciam?
  2. Segundo as informações do mapa, quais produtos eram fornecidos para a região das Minas?
  3. Identifique os caminhos por onde circulava o ouro extraído das Minas Gerais.
  4. Por que a mineração contribuiu para a interiorização e integração do território colonial?
  5. O que significou a abertura do Caminho Novo? De que maneira ele facilitou o escoamento de ouro da América portuguesa para a metrópole?

A diversificação da economia mineira

Inicialmente, a região das Minas dependia quase exclusivamente da atividade dos tropeiros para obter gêneros de primeira necessidade. No entanto, esses produtos eram caros em virtude da ausência de lavouras e das dificuldades enfrentadas nas rótas que ligavam a região a diferentes partes da colônia.

Para amenizar o problema e garantir a máxima produtividade na exploração das minas, a Coroa portuguesa passou a incentivar a produção local de gêneros alimentícios. Diversos produtores, estimulados pela disponibilidade de terras e pelos altos preços das mercadorias na região, começaram a investir na atividade agropecuária.

Assim, surgiram muitas áreas destinadas à agricultura e à criação de gado, o que tornou a população mineira menos dependente dos produtos vindos do sul ou de São Paulo. A expansão da atividade agropecuária foi muito importante para o abastecimento do mercado interno da região das Minas.

Dessa fórma, a partir da segunda metade do século dezoito, quando a atividade mineradora passou a declinar, a capitania de Minas Gerais não entrou em colapso econômico. A região sul de Minas Gerais, por exemplo, tornou-se a principal fornecedora de leite e queijos para as capitanias de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Mudanças na América portuguesa

O surgimento dos caminhos que integravam a colônia contribuiu também para o aumento da circulação de moedas.

Até a descoberta de ouro na região das Minas, poucas moedas circulavam na América portuguesa e eram produzidas em Portugal. Era comum os colonos usarem, por exemplo, tabaco e algodão como fórma de pagamento. Para regular a mineração e impedir o contrabando de ouro, aumentou-se o volume de moedas, que passaram a ser usadas na compra de mercadorias.

A atividade mineradora estimulou ainda uma mudança importante na organização administrativa colonial: a transferência, em 1763, da capital da cidade de Salvador para o Rio de Janeiro. Com a mineração e a formação de um mercado interno, o eixo econômico e político da colônia foi deslocado para o centro-sul.

A circulação de pessoas, moedas e mercadorias favoreceu também a comunicação entre as diversas culturas do interior da colônia.

Pintura. Pintura em formato oval, disposta na horizontal. Representação de um local com uma lagoa azul clara no centro, onde há animais quadrúpedes, semelhantes a bois, dentro da água. Perto de um deles, há um homem negro, de chapéu marrom, blusa rosa e bermuda branca tocando o gado adiante. Ao redor da lagoa, chão de terra, vegetação rasteira verde e arbustos à direita da mesma cor. À frente, um homem com chapéu marrom, capa nas costas da mesma cor e roupa branca. Ao lado dele, homens e mulheres negros, quatro deles carregando trouxas brancas arredondadas sobre a cabeça. No centro, ao fundo, uma construção bege com dois andares de arcos, como um aqueduto romano. À esquerda, diversas construções; uma delas, com torre alta e branca e, ao fundo, casa de paredes brancas e telhado em marrom, com janelas e portas em arco.  Morros e árvores  à esquerda e à direita.  No alto, o céu em azul e nuvens.
Joaquim, Leandro. Vista da Lagoa do Boqueirão e do Aqueduto de Santa Teresa. cêrca de 1790. Óleo sobre tela, 86 por 105 centímetros. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Na nova capital (Rio de Janeiro, retratada na pintura), se desenvolveu o principal centro urbano da América portuguesa.

Vida cultural na colônia

No século dezoito, com o desenvolvimento econômico da região centro-sul da colônia, a circulação de ideias e pessoas foi intensificada. Mesmo com as restrições impostas pela metrópole, como o contrôle da entrada de livros e a proibição da imprensa na colônia, muitos colonos conseguiam driblar a censura e constituir bibliotecas particulares. Além disso, membros da elite colonial, que costumavam viajar e estudar em universidades europeias, entravam em contato com as ideias que por lá circulavam e acabavam difundindo-as na colônia.

Esse novo clima intelectual, somado ao crescimento econômico e demográfico da colônia, estimulou uma crescente identidade local, o que aprofundava os conflitos de interesses e opunha colonos a metropolitanos. Assim, os colonos passaram a criticar de fórma mais contundente as restrições impostas pela Coroa portuguesa.

A censura à circulação de ideias

A Coroa portuguesa estabeleceu a censura sistemática à livre circulação de ideias e livros, assim como à instalação de gráficas e imprensa na colônia. Uma lista com textos proibidos foi formulada para facilitar a fiscalização de obras que versassem contra a religião, o Estado e os bons costumes. No entanto, os livros e as publicações circularam na colônia de maneira clandestina. O govêrno português temia, sobretudo, a influência de ideias revolucionárias francesas, advindas do pensamento iluminista e da Revolução Francesa, que defendia o direito à liberdade e à igualdade.

Fotografia. Vista de uma praça aberta. Ao fundo, uma construção grande, formando um 'U' em torno da praça, de três andares, paredes de cor branca, janelas e portas retangulares. No centro, uma escadaria que dá acesso ao local e uma entrada com frontão triangular e três arcos altos na entrada.  Sobre a construção, telhado com telhas de cor terracota. Na ponta da esquerda, uma torre alta, com oito andares, de cor bege clara, com um sino no sétimo andar e um relógio redondo de fundo branco contornado de preto no oitavo. Nas extremidades da construção, escadarias dão acesso ao primeiro pavimento. Na praça, vistas de lado, algumas pessoas caminham em duplas e grupos. No alto, o céu em azul com nuvens.
A Universidade de Coimbra, em Portugal, era uma das universidades europeias onde pessoas da elite colonial estudavam. Nelas, entravam em contato com as ideias iluministas que circulavam na Europa no século dezoito. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de site.

MUSEU de Artes e Ofícios.Disponível em: https://oeds.link/0Uq0AU. Acesso em: 11 fevereiro2022. O museu, localizado em Belo Horizonte, conta com um grande acervo de obras de arte, ferramentas e peças produzidas no Brasil entre os séculos dezoito e vinte. O site do museu oferece uma visita virtual.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Cite um dos maiores problemas enfrentados pela população da região mineradora.
  2. Observe a imagem produzida em 1822 pelo artista francês Jãn Batiste Dêbret, que esteve no Brasil entre 1817 e 1831. A pintura representa um personagem que se tornou comum na colônia, com a descoberta de ouro na região das Minas.
Pintura. Em um local aberto, uma estrada com chão de terra de cor clara, há um homem ao centro, conduzindo uma fila e animais. O homem é negro, usa um grande chapéu de abas largas de cor bege sobre a cabeça, blusa de mangas curtas vermelha, bermuda bege, está descalço, segura um bastão de madeira em uma mão e uma arma de cano longo na outra. Ele puxa pelo cabresto uma mula de pelo marrom, com cargas sobre seu dorso. Mais ao fundo, pela estrada, em fila, outros animais com grandes pacotes de carga nas costas. Ao fundo, local com morros de picos altos e o céu.
Debrê, Jan-Batiste. Carvão. Aquarela sobre papel, 14,2 por 21,5 centímetros. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
  1. Descreva o personagem e as atividades que realizava com base na observação da imagem e no que estudou no Capítulo.
  2. Por que esse personagem se tornou tão importante para a integração da América portuguesa?
  3. Quais eram os principais artigos que transportava para a região das Minas? De quais regiões eram trazidos os produtos?

3. Leia o trecho a seguir, que trata do deslocamento do eixo econômico da colônia. Depois responda às questões.

As transformações provocadas pela mineração deram resultado final o deslocamento do eixo econômico da colônia, antes localizado nos grandes centros açucareiros do Nordeste (Pernambuco e Bahia). A própria capital da colônia (capital mais de nome, pois as diferentes capitanias, que são hoje os Estados, sempre foram mais ou menos independentes entre si, subordinando-se cada qual diretamente a Lisboa) transfere-se em 1763 da Bahia para o Rio de Janeiro. As comunicações mais fáceis das minas para o exterior se fazem por este Pôrto, que se tornará assim o principal centro urbano da colônia.

De um modo geral, é todo este setor centro-sul que, graças em grande parte à mineração, toma o primeiro lugar entre as diferentes regiões do país; para conservá-lo até hoje. A necessidade de abastecer a população, concentrada nas minas e na nova capital, estimulará as atividades econômicas num largo raio geográfico que atingirá não somente as capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro propriamente, mas também São Paulo. A agricultura e mais em particular a pecuária desenvolver-se-ão grandemente nestas regiões. reticências

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1971. página 64.

  1. Segundo o autor do texto, por que a capital da colônia foi deslocada da Bahia para o Rio de Janeiro? Isso também correspondeu ao deslocamento do eixo econômico da colônia para qual região?
  2. De acôrdo com o texto, a necessidade de abastecer a população da região das Minas e da nova capital estimulou a diversificação e a expansão das atividades econômicas em um largo raio geográfico. Dê exemplos dessas atividades e em que região eram realizadas.
  3. Por que, mesmo após o declínio da atividade mineradora, a capitania de Minas Gerais não entrou em colapso?
Ícone. Seção Para refletir.

Para refletir

A dinâmica do tráfico de escravizados foi sempre a mesma ao longo de sua existência?

Em 2011, um tesouro foi descoberto por acaso na cidade do Rio de Janeiro. Escavações feitas para reformas urbanas encontraram as ruínas do chamado Cais do Valongo, construído no começo do século dezenove na zona portuária da cidade, onde ocorriam o desembarque e o comércio de africanos escravizados.

No Cais do Valongo, estima-se que desembarcaram entre 500 mil e um milhão de africanos escravizados. Ao longo do tempo, ele passou por reformas e, em 1911, foi totalmente aterrado. Atualmente, o lugar passou a ser estudado como sítio arqueológico e recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela unêsco, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.

Fotografia. Vista de um sítio arqueológico escavado cercado de edifícios. O sítio, no centro da imagem, possui pedras grandes e quadrangulares, pavimentos de pedra cercados de grama e, ao fundo, um obelisco. Atrás, uma praça, com árvores e construções baixas. Acima, o céu parcialmente nublado.
Sítio arqueológico do Cais do Valongo, Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro. Entre 1811 e 1831, mais de meio milhão de africanos escravizados ali desembarcaram. Fotografia de 2021.

Assim como o Pôrto do Rio de Janeiro, outros portos espalhados ao longo da costa brasileira serviram como local de desembarque (e às vezes de comércio) de homens e mulheres africanos escravizados:

E assim, depois de longa e traumática travessia, os africanos chegavam aos portos do Brasil: Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém e São Luís eram os principais reticências. No século dezessete foram, sobretudo, Salvador e Recife que se firmaram como grandes portos, e de lá cativos seguiam também para o Maranhão, Pará e rio Amazonas. reticências no século seguinte, o Pôrto do Rio de Janeiro ganhou impulso significativo, e daí os escravizados eram reexportados especialmente para Minas Gerais, Mato Grosso e Colônia do Sacramento, ao sul da colônia, no território do atual Uruguai.

Chuárquis, M.; istárlin, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 87.

  1. Por que as autoras do texto citado dizem que os africanos capturados passavam por uma “longa e traumática travessia”?
  2. Por que o Pôrto no Rio de Janeiro ganhou destaque no séculodezoito? Por que os escravizados que lá chegavam eram revendidos para as Minas Gerais?

E do outro lado do Atlântico, na costa do continente africano, quais serão os lugares ligados à história do tráfico de africanos, como o Cais do Valongo?

Um desses lugares é a fortaleza de São Jorge da Mina, localizada em Gana, país da África Ocidental. Construída no século quinze para servir de base ao comércio português na África, a fortaleza se transformou em um entreposto no século dezenove, onde os cativos capturados pelos comerciantes de escravizados aguardavam o embarque para o Brasil e para outros locais da América.

Segundo historiadores, os africanos trazidos ao Brasil pelo tráfico negreiro eram embarcados, no continente africano, sobretudo nos portos das chamadas costa da Mina e de Luanda e Benguela. Os principais portos da costa da Mina eram o de São Jorge da Mina e Benin, onde hoje estão localizados, aproximadamente, Benin, Gana, Togo e Nigéria. Luanda e Benguela estão localizados em Angola. Os indivíduos embarcados nessas duas áreas eram capturados, geralmente, no interior do continente africano, em diversos reinos envolvidos com o tráfico de escravizados.

No século dezenove, o comércio de escravizados também passou a ser feito nos portos da costa oriental do continente africano. Os escravizados originários dessa região que chegavam ao Brasil eram chamados de moçambiques. Africanos de vários grupos étnicos foram, portanto, enviados para o Brasil, havendo algumas variações na dinâmica do tráfico entre os séculos dezesseis e dezenove.

  1. No período do tráfico de escravizados, qual era a função de construções como a fortaleza de São Jorge da Mina?
  2. Quais eram as principais regiões do continente africano em que ocorria o embarque dos africanos escravizados?
  3. Podemos afirmar que a dinâmica do tráfico negreiro foi sempre a mesma, ou houve alterações entre os séculos dezesseis e dezenove?
Fotografia. Sobre a água do mar, em verde, uma embarcação de pequena de costado de cor branca com partes em azul. Na proa da embarcação, à direita, uma bandeira com listras verticais azuis e brancas hasteada. Sobre o barco, um grupo de cerca de oito homens sentados e quatro em pé. Eles são negros, têm cabelos curtos, vestem blusas de mangas compridas, uns de calça e outros de bermuda. Em uma linha inclinada, à esquerda, uma barreira de pedras grandes de cor marrom e uma fileira de palmeiras com folhas verdes. Atrás da barreira de pedras, muitas pessoas em pé, de frente para o mar, minúsculas em relação a uma grande construção ao fundo. Em segundo plano, ao fundo, um castelo cercado por um muro alto. A construção é uma fortificação grande, com paredes grossas brancas, vários pavimentos, uma torres central, janelas retangulares e outras em forma de arco. A altura do muro que varia conforme a altura da construção. Na parte mais baixa, à direita, tem ameias. O telhado é de cor cinza.  No alto, o céu de cor azul clara e nuvens brancas esparsas.
Castelo de São Jorge da Mina, em Gana, no continente africano. Construído por portugueses em 1482 com funções de feitoria, tornou-se, a partir do século dezesseis, um dos mais importantes pontos do tráfico negreiro no Atlântico. Fotografia de 2019.

Glossário

Lavra
Local de onde podem ser extraídos metais ou pedras preciosas.
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Emboaba
Na língua dos paulistas da época, significava “pássaro de pés emplumados”. Referia-se às botas e calças utilizadas pelos colonos, vistas com estranheza pelos paulistas, que andavam descalços.
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Bateia
Recipiente de madeira, semelhante a uma bacia, utilizado no garimpo.
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