UNIDADE um  REINOS E POVOS DA ÁFRICA

Fotografia. Vista do alto para baixo, em diagonal, de região portuária com o mar à direita e uma cidade à esquerda. Na cidade, à esquerda, há prédios de tamanhos e épocas diferentes e residências mais baixas. À direita, uma longa avenida margeia a região portuária, onde há embarcações atracadas e contêineres. No mar, há uma plataforma de base quadrada com duas torres verticais de ferro. Ao fundo, a continuação da cidade, o mar e o céu azul claro com nuvens brancas esparsas.
Por muito tempo, a história da África foi relegada a segundo plano pela historiografia. Na atualidade, cada vez mais têm tido destaque os estudos sobre o continente, incluindo a história de seus povos mais antigos. Na imagem, observa-se a cidade de Lagos, na Nigéria. Fotografia de 2019.

Você estudará nesta Unidade:

Os reinos do Sahel

O Reino de Gana

A presença islâmica no continente africano

O Império do Mali

Os povos iorubás e bantos

Os contatos entre África, Europa e Ásia

Respostas e comentários

Apresentação

A primeira Unidade deste volume, “Reinos e povos da África”, está relacionada à seguinte Unidade Temática da Bê êne cê cê do 7º ano: O mundo moderno e a conexão entre sociedades africanas, americanas e europeias. Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número2, número 3 enúmero4, a Unidade incentiva os estudantes a exercitar a curiosidade intelectual, recorrendo a atitudes de investigação, reflexão e análise para elaborar e testar hipóteses, bem como a valorizar manifestações culturais diversas. Os estudantes podem utilizar, ao longo das atividades, diferentes linguagens e conhecimentos artísticos para se expressar e partilhar informações.

Os conteúdos trabalhados no texto principal, nas seções e nas atividades propostas também buscam propiciar aos estudantes o desenvolvimento das Competências Específicas do Componente Curricular História número1, número 4 e número 5: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (1); Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (4); Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes populações (5).

Fotografia. Vista de um lugar aberto,  com uma grande construção no centro, com uma muralha e três torres em destaque, na mesma coloração do solo, em tons de marrom. Próximo à base da muralha, em primeiro plano, em um patamar mais baixo, uma escadaria pela qual algumas pessoas sobem. As pessoas parecem minúsculas, proporcionalmente, por conta do tamanho da construção. As três torres são contíguas ao muro, e foram erguidas com o mesmo material. Elas têm o topo em forma de cone. Acima, céu nublado na cor cinza.
A Grande Mesquita de Dijenê, localizada na cidade de Dijenê, na República do Mali, é considerada Patrimônio da Humanidade pela unêsco. Sua construção data do século treze. Fotografia de 2019.

Entre os séculos oito e dezesseis, no período correspondente ao da Idade Média europeia, o continente africano era ocupado por diversas sociedades. Algumas delas estavam organizadas em grandes reinos ou impérios, com governos centralizados. Outras se organizavam em aldeias, médias ou pequenas.

A atividade comercial desses povos era intensa, assim como a produção artística e cultural. O comércio de longa distância entre diversas regiões, ao sul e ao norte do deserto do Saara, possibilitou a formação de grandes reinos e as trocas culturais entre diferentes povos. Um exemplo desse intercâmbio cultural é a presença do islamismo, em especial no norte da África.

O que você sabe sobre a diversidade de povos, paisagens, histórias e culturas que caracterizam a África, esse imenso continente?

Respostas e comentários

Nesta Unidade

É importante reforçar, ao longo do estudo desta Unidade, a ideia de que uma multiplicidade de povos construiu distintas sociedades no imenso continente africano. Um dos conteúdos essenciais da Unidade é o modo de vida de alguns desses povos entre os séculos oito e dezesseis: seus costumes, crenças, histórias, práticas políticas, econômicas e sociais. Conhecer a fórma como esses grupos se organizavam e se relacionavam permite desenvolver uma atitude de valorização do patrimônio etnocultural africano. As pesquisas que procuram olhar para a África a partir do ponto de vista dos povos do continente contribuem para a valorização da diversidade étnica e cultural, para a construção de identidades, para o reconhecimento do legado das comunidades da diáspora negra estabelecidas em diversas regiões do mundo contemporâneo e a produção de conhecimentos desvinculados de uma visão eurocêntrica. Dessa fórma, a história das sociedades africanas deixa de ser apenas a “história dos europeus na África” ou a “história do tráfico e da escravidão moderna”. Ao deslocar o foco do estudo do processo histórico europeu para o dos povos africanos, esta Unidade promove a valorização da história e da cultura dos povos africanos, auxiliando os estudantes a construir relações de simultaneidade entre os processos históricos estudados. O estudo estimula ainda a valorização da participação dos afro-brasileiros na construção da sociedade brasileira.

Objeto de conhecimento trabalhado na Unidade

Saberes dos povos africanos e pré-colombianos expressos na cultura material e imaterial.

CAPÍTULO 1 OS REINOS DE SAHEL

Multiculturalismo.

Neste Capítulo, você vai conhecer um pouco sobre os antigos reinos africanos que se estabeleceram na região do Sael.

De origem árabe, a palavra Sael significa “margem” ou “borda”. O Sael é uma extensa faixa de terra situada imediatamente ao sul do deserto do Saara e habitada por diferentes povos pastores e comerciantes.

Entre os séculos oitoe dezesseis, desenvolveram-se na região diversos reinos e cidades mercantis, como o Reino de Gana, o Império do Mali e as cidades de Dijenê e Timbuquitú. Esses reinos e cidades estavam próximos das rótas de comércio a longa distância e constituíam grandes mercados de distribuição de produtos que cruzavam o deserto do Saara de norte a sul. Essas rótas de comércio são chamadas de transaarianas.

Mercadores, principalmente árabes, vindos do norte da África, levavam sal e cobre aos mercados das sociedades Saelianas, e lá adquiriam ouro, marfim, peles, pessoas escravizadas e outros artigos.

Os rios Senegal, Gâmbia e Níger eram muito importantes para os povos que viviam na região do Sael, pois suas cheias fertilizavam áreas onde eram cultivados diversos produtos. Além disso, esses rios eram utilizados para a pesca e o transporte de mercadorias e pessoas.

Fotografia. Vista de um local aberto. No centro, um rio largo de águas de cor marrom. Na margem esquerda do rio, construções de dois, três e quatro pavimentos nas cores rosa claro, branco e amarelo claro, iluminadas pela luz do Sol. Há também algumas pirogas de madeira atracadas na margem esquerda. No lado direito, há uma longa fila de barcos de pesca atracados na margem do rio. Eles são feitos de madeira e decorados com pinturas coloridas em tons de branco, amarelo, vermelho, verde, azul e outras cores. Há bandeiras coloridas hasteadas na proa desses barcos.  Sobre o convés de alguns deles, há redes de pesca emaranhadas na cor azul. No centro da imagem, na parte inferior, sobre as águas do rio, há um homem visto de costas, remando, em pé sobre uma piroga feita de madeira, pintada na cor azul com desenhos coloridos. Também sobre as águas, apoiados em materiais flutuantes, há dois meninos no rio, um à direita do homem remando e outro à esquerda dele. No canto inferior esquerdo, vistos de frente, um homem e um jovem navegando em um pequeno barco de madeira pintado com desenhos amarelos, vermelhos e azuis. No alto, o céu nublado de cor cinza.
Vista do rio Senegal, em san luí, no Senegal. Um dos maiores rios da África, ainda hoje o rio Senegal tem muita importância para as populações que habitam suas margens. Fotografia de 2019.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Ao introduzir o tema da história africana, sugerimos incentivar os estudantes a levantarem hipóteses acerca do recorte temporal proposto (séculos oito a dezesseis). Esclareça que no período focalizado havia intensas trocas entre povos dos continentes africano, asiático e europeu, mas que nos séculos quinze e dezesseis as potências ibéricas introduziram fórmas de dominação e exploração que iriam caracterizar um novo sistema de relações com a sociedade africana, identificado por muitos estudiosos como colonialista. Converse também com os estudantes sobre as fontes que têm sido utilizadas pelos historiadores em suas pesquisas. Ao longo da Unidade, os estudantes terão contato com fontes primárias, entre elas, textos escritos por árabes, fontes da cultura material, obtidas por meio de pesquisas arqueológicas, e conhecimentos originários da tradição oral. Instigue também os estudantes a rememorar o que já aprenderam sobre a história do continente africano no 6º ano, como o surgimento da espécie humana na África e o desenvolvimento de grandes civilizações antigas (a egípcia e a núbia) na porção nordeste do continente.

Este Capítulo possibilita ainda o trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.

Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo

ê éfe zero sete agá ih zero três: Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as fórmas de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.

Observação

Nesta página, são introduzidos os estudos sobre os reinos do Sael, o que possibilita iniciar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões para o estudante:

MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2014.

O livro apresenta a história da África de maneira abrangente, sem deixar de dar atenção para as especificidades culturais e a grande diversidade de povos que compõe o continente.

Panguilí Ivi. Contos e lendas da África. São Paulo: Seguinte, 2005.

Antigas histórias africanas, contadas de geração em geração, que constituem os saberes e as memórias de muitos povos do imenso continente, compõem esse livro. A publicação traz ainda um mapa e um glossário de palavras africanas.

O Reino de Gana

O Reino de Gana, o mais antigo do Sael, estabeleceu-se ao sul do deserto do Saara por volta do ano 300. Por muito tempo, o reino foi chamado pelos árabes de “terra do ouro”, devido às ricas zonas auríferas existentes na região.

Os comerciantes de Gana trocavam o ouro principalmente por sal, utilizado tanto como moeda nas transações comerciais quanto para a alimentação e a conservação dos alimentos. Estudos arqueológicos indicam que o comércio do ouro existia pelo menos desde o século três. Muitos produtos, como gomaglossário , sorgo, milhete, âmbarglossário , peles, penas e marfim, eram trocados por ouro nesse importante comércio.

O centro comercial do reino era a cidade de Koumbi Salé, que apresentava características urbanas desde o século nove e atingiu seu esplendor por volta dos séculos doze e treze. A cidade chegou a abrigar uma população de 20 mil pessoas e pode ter sido uma das capitais do Reino de Gana.

REINOS E IMPÉRIOS DO Sael (SÉCULOS dez-dezesseis)

Mapa. Reinos e impérios do Sahel. Séculos 10 ao 16. Mapa representando o continente africano. Na legenda, um fundo bege cortado por uma linha horizontal branca indica, 'Divisão política atual'; uma linha pontilhada verde indica, 'Região do Sahel'; uma linha pontilhada rosa, indica, 'Deserto do Saara'; em verde claro destaque para as 'Áreas de influência islâmica'; e territórios hachurados com linhas horizontais de cor cinza, indicam 'Impérios ou reinos'. Delimitada por duas linhas pontilhadas cor de rosa, a região do 'Deserto do Saara' compreende uma extensa faixa horizontal no norte do continente africano, que se estende da costa oeste banhada pelo Oceano Atlântico (desde o sul do Marrocos, o Saara Ocidental e o norte da Mauritânia), até a costa leste banhada pelo Mar Vermelho, que hoje corresponde ao Egito e parte do norte do Sudão. Delimitada por duas linhas pontilhadas verdes ao norte da linha do Equador, a 'Região do Sahel' abrange o sul do deserto do Saara, desde o sul da Mauritânia e o Senegal, na costa oeste, até o oeste de Djibouti e a Somália, na costa leste. Os territórios hachurados com linhas horizontais de cor cinza correspondem aos reinos e impérios de Gana, Mali, Songhai, Bornu e Etiópia; território delimitado, a oeste, pelo Rio Senegal e cortado, no sul, pelo Rio Níger. Considerando a divisão política atual da África, os Impérios de Gana, Mali e Songhai correspondem aos territórios que hoje compreendem o sul da Argélia, o Mali, o sul e o sudoeste da Mauritânia, parte do nordeste da Guiné e o oeste do Níger, com destaque para as cidades de Taodeni, Djenné e  Timbuctu, no atual Mali, e de Koumbi Saleh, na atual Mauritânia. No mapa, o norte desse território ocupa a região do Deserto do Saara e o sul ocupa a região do Sahel. Hachurado em cinza, Bornu ocupava territórios que hoje compreendem parte do sul da Líbia, o leste de Níger, o oeste do Chade e parte do norte da Nigéria, com destaque para a cidade de Bilma, no atual Níger, e o Lago Chade. No mapa, o norte de Bornu ocupa a região do Deserto do Saara e o sul ocupa a região do Sahel. Destacadas em verde claro, as áreas de influência islâmica abrangem: a costa noroeste da África, compreendendo a região banhada pelo Oceano Atlântico, do Estreito de Gibraltar até a foz do rio Gâmbia, região que hoje compreende o Marrocos, o Saara Ocidental, a Mauritânia e o norte do Senegal e parte da Gâmbia; ocupando também o centro e o sul do Mali, o noroeste de Burkina Fasso e parte do sul do Níger e do Norte da Nigéria. A influência islâmica abrange também a costa norte da África banhada pelo Mar Mediterrâneo, do Estreito de Gibraltar até a Península do Sinai, ao norte do Deserto do Saara, região que hoje compreende, o Marrocos, o litoral da Argélia, a Tunísia, o litoral da Líbia e a maior parte do Egito, até a Península do Sinai, ocupando também o centro do continente, com territórios no centro da Argélia e da Líbia, no sudoeste e no sudeste da Líbia, no noroeste do Chade, no leste e sul do Níger e no norte da Nigéria. Destacada em verde, a influência islâmica atinge também a costa leste da África banhada pelo Mar Vermelho e pelo Oceano Índico, desde o leste do Egito, o centro e o litoral do Sudão, a Eritreia, Djibouti, o centro e o leste da Etiópia, a Somália e parte do litoral do Quênia; além de territórios no litoral norte, central e sul de Moçambique e o norte da Ilha de Madagascar. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 640 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.página 297; HERNANDEZ, Leila M. G. L. A África na sala de aula: visita à África contemporânea. São Paulo: sêlo Negro, 2008. página 41.

Ícone. Sugestão de livro.

. Histórias de Ananse. São Paulo: ésse eme, 2007. O livro traz algumas histórias de Ananse, uma aranha que se comporta como um ser humano. As histórias, passadas de geração em geração, nos ensinam sobre tradições e costumes de Gana.

Respostas e comentários

Orientações

Se possível, converse com os estudantes sobre alguns aspectos de Gana na atualidade, para que eles possam observar sua historicidade. As atividades econômicas mais importantes da atual República de Gana, localizada no Golfo da Guiné, são a exportação de cacau e de madeira e a exploração de ouro e outros minérios. Entre os séculos dezesseis e dezenove, o território onde hoje se localiza Gana era conhecido como Costa do Ouro, região muito valorizada e explorada por europeus. No século dezenove, a Costa do Ouro foi dominada por ingleses, que extraíam grande quantidade de ouro das minas na região.

Em 1954, a Costa do Ouro tornou-se independente e adotou o nome de Gana. O nome do novo país foi escolhido por razões históricas, embora não haja coincidência territorial entre Gana e o Reino de Gana: o reino ficava mais ao norte do atual país, entre os rios Níger e Senegal.

Observação

O estudo de cidades e reinos do Sael possibilita dar continuidade ao trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Texto complementar

Conheça um pouco mais sobre a organização social no Reino de Gana.

Gana, como estado, possuía um núcleo coeso de poder, mas era sobretudo uma enorme esfera de influência. Nele havia povos que respondiam diretamente ao rei e outros que, sujeitos a seus sobas tradicionais ou a seus conselhos de anciães, apenas se sabiam ligados ao caia-manga por vínculos espirituais, pelo dever militar e pelo pagamento de tributos. As mais diversas fórmas de organização política conviviam dentro do reino, cuja frágil estrutura era quiçá permanentemente refeita pela ação das armas reticências.

SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. sétima edição Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2022. página 277.

A presença do islã em Gana

No século sete, o islã, religião difundida pelos povos árabes seguidores do profeta Maomé (cêrca de570-cêrca de 632), alcançou o norte da África, principalmente por meio da conquista militar. Após se difundir pelo norte, a religião foi levada para o Sael, desenvolvendo-se no Reino de Gana por volta do século onze, por intermédio de mercadores árabes e líderes religiosos islâmicos vindos do norte, os marabutos. A nova religião encontrou maior número de adeptos entre os funcionários dacôrte e os intelectuais que assessoravam o rei, chamado de gana. Além disso, a escrita árabe passou a ser utilizada na administração do reino e nos negócios.

A religião e a cultura islâmicas contribuíram para fortalecer o poder real e aglutinar diferentes povos sob o domínio do Reino de Gana, como tuaregues, malinquês, fulas, tuculores e soninquês. Com isso, o islã transformou-se em uma religião de Estado, ainda que o próprio gana não tenha se convertido e muitas crenças e rituais tradicionais tenham se mantido na região.

Ilustração. Sobre um fundo bege, quatro homens e um menino montados sobre quatro camelos, vistos lateralmente, com o corpo voltado para o lado esquerdo. À frente deles, um homem em pé, com o corpo voltado para o lado direito, também visto de lado. Os camelos têm cor bege, usam cabrestos vermelhos e brancos, mantas em tons de verde e vermelho sobre o dorso e selas brancas e marrons. Os homens e o menino usam túnicas coloridas (em tons de vermelho, azul e verde) com bordados dourados, além de turbantes brancos, vermelhos e verdes sobre as cabeças. Entre os homens montados, dois deles, à direita, seguram hastes com pontas em forma de meia lua. O menino também está montado sobre um camelo, e está abraçado ao homem montado na ponta esquerda. Os homens montados sobre os camelos possuem barba. O que está em pé, à frente deles, não tem barba. O homem em pé usa uma túnica longa, vermelha com bordados dourados e um manto azul também com detalhes dourados. Na barra da túnica, seus tornozelos estão cobertos por calças brancas pregueadas e ele usa sapatilhas vermelhas. Sobre a cabeça, usa uma espécie de chapéu pontudo em forma de cone, adornado por faixas de tecido branco. Ele estende a mão direita à frente de seu corpo. Na parte inferior, grama verde e flores. Entre o homem em pé e os camelos, há uma espécie de palmeira de caule vermelho e folhas verdes.
Representação árabe de uma caravana de comerciantes no deserto. 1237. Ilustração. O contato entre os mercadores árabes e os reinos do Sael foi uma das principais vias para a introdução do islã na região. Biblioteca de Artes Decorativas, Paris, França.

Diversos povos no Reino de Gana

O texto a seguir fala sobre aspectos sociais e políticos do Reino de Gana.

O Reino de Gana aglutinava diversos povos e cidades que se comunicavam, mas mantinham certa autonomia.

As mais diversas fórmas de organização política conviviam dentro do reino, cuja frágil estrutura era quiçá permanentemente refeita pela ação das armas, com cisões e acréscimos de súditos, e mantida pela divisão dos povos em segmentos de nobres, homens livres, servos e escravos.

SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. quinta edição Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. página 277.

Ícone. Sugestão de livro.

SILVA, Avani Souza. A África recontada para crianças. São Paulo: Martin Claret, 2020. O livro apresenta diversas histórias contadas nos países africanos onde também se fala o português, como Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Respostas e comentários

Orientações

Comente com os estudantes que gana era o título que recebia o rei de Gana, visto como o elo entre os deuses e as pessoas. Ele liderava um poderoso exército e ocupava o topo da sociedade, seguido por nobres, homens livres, servos e escravos. O poder do gana dependia da quantidade de súditos, aldeias e cidades que estavam sob a sua autoridade, os quais deviam pagar tributos, fornecer soldados para as guerras e servidores para a côrte.

Observação

Para que os estudantes desenvolvam plenamente a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três, é importante que, ao longo da Unidade, percebam a imensa diversidade de povos que habitavam o continente africano e que cada um deles tinha modos de vida, organizações sociais, saberes e técnicas próprios.

Texto complementar

O texto da historiadora Leila Leite ernândes trata de algumas questões que cercam o estudo da história da África.

reticências Apenas a partir de 1960, sob a influência dos nacionalismos independentistas e no âmbito da busca da identidade do continente e de cada um dos Estados-nação recém-formados, foi reconhecida a necessidade de conceber um novo método de abordagem adequado para negar a homogeneidade das “tribos africanas”.reticências passou a haver o objetivo de identificar as especificidades históricas de um continente que é um verdadeiro mosaico de heterogeneidade reticências.

ernândes, Leila Leite. A África na sala de aula. São Paulo: sêlo Negro, 2008.página 23-33.

O Império do Mali

Entre os séculos treze e dezesseis, na mesma região em que se desenvolveu o Reino de Gana, floresceu um império mais rico e poderoso: o Império do Mali.

Os governantes do Mali recebiam o título de mansa, que significa "rei dos reis". Segundo cronistas árabes, Sundiata Keita foi um dos mansas mais famosos. No século treze, fundou o reino e centralizou alguns povos sob seu poder. Outro importante governante foi Mansa Musa, que entre os séculos treze e catorze organizou o império em províncias, estreitou os laços com o Egito e ampliou a extensão do reino. Mansa Musa também fez uma peregrinação a Meca, em 1324, carregando, pelo deserto, ouro e presentes. Sua viagem foi relatada no Atlas catalão de Êibrarram Cresques, publicado em 1375.

Diversos povos e um rico comércio

O Império do Mali, assim como o Reino de Gana, era habitado por vários povos. Os mandingas, ou malinquês, eram o grupo principal e falavam a mesma língua que o povo de Gana. Além disso, também adotaram a cultura e a religião islâmicas.

O comércio era uma atividade de extrema importância no império. O contrôle das rotas transaarianas e a cobrança de taxas sobre produtos (como ouro, sal, escravos, marfim e noz-de-cola) também eram fundamentais para a manutenção do Império do Mali.

Com as taxas cobradas, o imperador obtinha cavalos para o exército e comprava tecidos e artigos de luxo como fórma de demonstrar seu poder.

A população em geral não era favorecida pela riqueza do comércio transaariano, exceto pelo sal, indispensável na sua alimentação. Os súditos viviam em vilarejos, habitando casebres feitos de barro. Cultivavam milhete, sorgo, inhame, algodão e feijão, criavam animais, como bois, camelos e cabras, pescavam, teciam e produziam objetos artesanais, como cestas e potes.

Fotografia. Escultura em relevo sobre madeira escura de cor marrom, em formato retangular. As bordas retangulares têm frisos geométricos. No centro, um desenho esculpido em alto relevo, representando cinco figuras humanas de formas femininas, em pé, vistas de frente, e uma outra figura, também vista de frente, à direita, pintada na cor dourada, de cabeça e rosto humano e corpo de formato oval. As cinco figuras humanas são iguais, estão nuas, não têm cabelos e têm três linhas verticais esculpidas sobre o ventre. A figura à direita tem a cabeça maior que a das demais, também não tem cabelos, e sobre o centro de seu corpo de formato oval, há linhas esculpidas formando um xis. Todas as figuras estão de olhos fechados.
Escultura (detalhe) de madeira feita pelo povo dogon. Esse povo habita a região do Mali há centenas de anos. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de vídeo.

MALI: deserto do Saara. Direção: Carél Bauer. Estados Unidos, 2008. Duração: 23 minutos. Documentário sobre as paisagens, a história e a cultura do atual Mali.

Respostas e comentários

Orientações

De acôrdo com narrativas transmitidas de uma geração para outra do século treze até os dias atuais, o Império do Mali foi fundado após Sundiata Keita vencer o rei Soumoaro Kanté na Batalha de Kirina, ocorrida em 1235, num lugar chamado Kurukan Fugá. Em 1236, no momento da entronização de Sundiata Keita como imperador do Mali, foi proclamada a Carta de Kurukan Fugá. Esse documento, preservado pela transmissão oral ao longo de séculos e registrado por escrito em 1998, por tradicionalistas africanos, pode ser comparado a uma Constituição, pois trata de questões relacionadas ao Direito de Propriedade, ao Direito Penal, ao Direito de Família, ao Direito Civil e ao meio ambiente. Em 2009, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) incluiu a Carta de Kurukan na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Sugerimos realizar um estudo comparativo entre o Reino de Gana e o Império do Mali, estudados neste Capítulo, destacando os marcos cronológicos de cada um, a organização política, as atividades econômicas e a influência da cultura árabe-muçulmana.

Atividades complementares

Se possível, apresente em sala de aula o documentário indicado nesta página: Mali: deserto do Saara. Ele está disponível na internet. Após a exibição do documentário, proponha uma discussão com a turma, estimulando a troca de opiniões, dúvidas e impressões, assim como o levantamento das informações mais importantes que puderam ser identificadas pelos estudantes.

Você pode também promover a leitura coletiva de trechos previamente selecionados da seguinte obra: BARBOSA, Rogério Andrade. Sanjata, o príncipe leão. São Paulo: Melhoramentos, 2014. Segundo o autor, a história contada no livro é baseada em relatos de griôs.

Observação

Conversar com os estudantes sobre as características do Império do Mali é fundamental para o desenvolvimento do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

As cidades de Timbuctu e Dijenê

Localizadas às margens do rio Níger, as cidades de Timbuquitú (ou Tombuquitú) e Dijenê passaram a fazer parte do Império do Mali no século treze. Antes dessa data, porém, já eram grandes centros políticos e comerciais e controlavam a chegada dos produtos levados pelas caravanas do norte e do sul da África. Durante o govêrno do Mansa Musa, essas cidades foram transformadas em centros cosmopolitas. Artistas e letrados foram convocados para trabalhar em Dijenê e em Timbuquitú, e diversas mesquitas e prédios públicos foram construídos na região.

Sob o domínio do Império do Mali, a cidade de Timbuquitú se tornou um ponto de encontro de intelectuais e estudiosos que vinham de vários lugares do mundo árabe. A Universidade de Sankore, por exemplo, fundada por volta do século doze, formava com as universidades de J e de Sidi Iaia um importante complexo intelectual em Timbuquitú. Nessas instituições, ensinavam-se Lógica, Astronomia, caligrafia árabe, Matemática, História e os fundamentos do islã por meio da leitura e do estudo do Alcorão.

Timbuquitú, patrimônio mundial

Em 1988, a cidade de Timbuquitú foi declarada patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco). O processo de desertificação e o acúmulo de areia têm ameaçado muitas construções seculares, que correm risco de desaparecer. Diante desse cenário, a unêsco iniciou um programa para conservar e proteger essa cidade pré-colonial africana.

Fotografia. Vista de local aberto, na altura da rua. No centro, cercada por um muro de cerca de três metros de altura, há uma torre em formato piramidal de aproximadamente seis metros de altura, em cor de areia. À frente, uma rua por onde passam pessoas vestidas com túnicas longas na cores azul e vermelho. Ao fundo, postes e cabos de energia na horizontal. Acima, o céu em tons de azul e branco.
Mesquita de sancore, construída entre os séculosquinze e dezesseis em Timbuquitú, Mali. Fotografia de 2013.
Ícone. Sugestão de vídeo.

Tombuquitú: a cidade dos livros. Brasil, 2009. Duração: 10 minutos. Disponível em: https://oeds.link/C1JoeQ. Acesso em: 20 fevereiro. 2022. Vídeo produzido por professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro que traz abordagens sobre a história, a economia e a cultura em Timbuquitú.

Respostas e comentários

Orientações

Proponha aos estudantes retomar o mapa “Reinos e impérios do Sael (séculosdez a dezesseis)” e localizar as cidades de Timbuquitú e Dijenê. Depois, peça a eles que observem a fotografia da Mesquita de Sankore e reflitam sobre o tipo de conhecimento necessário para sua construção (os estudantes podem citar conhecimentos arquitetônicos e de engenharia, por exemplo).

Comente com os estudantes que o Império do Mali começou a perder fôrças no século catorze, enquanto um pequeno reino estabelecido desde o século oito nas margens do rio Níger, sôngai, passava a ganhar destaque. Submetido ao Império do Mali desde o século treze, o Reino de sôngai conquistou sua independência no final do século catorze e, aos poucos, transformou-se em um grande império. No séculodezesseis, quando atingiu sua máxima extensão, sôngai abrangia a região correspondente aos territórios atuais do Mali, Níger, Senegal, Guiné, Gâmbia e Burkina Faso. Timbuquitú era sua capital e centro cultural mais importante. Já no final do século dezesseis, em 1591, o ataque de um exército marroquino conseguiu derrotar as tropas do Império sôngai e estabelecer seu domínio em Timbuquitú.

Observação

Apreciar a arte e as técnicas produzidas por sociedades africanas contribui para o desenvolvimento do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Multiculturalismo.

A tradição oral

A tradição oral é muito importante para as sociedades africanas. Isso significa que a maior parte dos conhecimentos, das lendas e das histórias, entre outras manifestações culturais, é transmitida oralmente de geração em geração. Desse modo, as tradições orais, as técnicas e os rituais ligados à palavra, ao corpo e à musicalidade têm sido cada vez mais reconhecidos como práticas importantes para a preservação das memórias. Os mestres de uma tradição conhecem e preservam os saberes, os costumes, e as experiências adquiridos ao longo do tempo por uma sociedade. Por isso, são muito valorizados no grupo. Na África, os mestres da tradição oral mais conhecidos são chamados de griots.

As civilizações africanas, no Saara e ao sul do deserto, eram em grande parte civilizações da palavra falada, mesmo onde existia a escrita; como na África Ocidental a partir do século dezesseis, pois muito poucas pessoas sabiam escrever, ficando a escrita muitas vezes relegada a um plano secundário em relação às preocupações essenciais da sociedade. Seria um erro reduzir a civilização da palavra falada simplesmente a uma negativa, “ausência do escrever”, e perpetuar o desdém inato dos letrados pelos iletrados, que encontramos em tantos ditados, como no provérbio chinês: “A tinta mais fraca é preferível à mais forte palavra”. Isso demonstraria uma total ignorância da natureza dessas civilizações orais.

vansina,Ian. A tradição oral e sua metodologia. In: qui zêrbo, Joséf (edição). História geral da África: metodologia e pré-história da África. segunda edição. Brasília: unêsco, 2010. volume um página 139.

Fotografia. Retrato de uma mulher negra, vista do tronco para cima, usando um lenço estampado marrom e amarelo amarrado sobre a cabeça, cobrindo seus cabelos. Ela usa um par de brincos de argolas douradas e um colar com contas grandes em tons bege, amarelo e marrom em volta do pescoço. Está vestida com uma túnica com as mesmas estampas e cores do lenço e olha para frente, com um leve sorriso.
Contadora de histórias griô, em Mali. Fotografia de 2008.
  1. O historiador Ian vansina afirma que “seria um erro reduzir a civilização da palavra falada simplesmente a uma negativa, ‘ausência do escrever’”. Explique com suas palavras essa afirmação.
  2. Por que a palavra falada, tanto quanto a palavra escrita, pode ser considerada fonte histórica?
Respostas e comentários

Orientações

A seção trabalha com um importante aspecto da cultura e da transmissão de saberes das sociedades tradicionais africanas: a oralidade, que pode ser considerada um patrimônio vivo, pois se refere a tradições como perfórmances, rituais, festas, cosmologias e técnicas artesanais, que são transmitidas oralmente, de geração em geração. Essas práticas e percepções são consideradas patrimônio imaterial de um grupo que as reconhece como um bem cultural fundamental para sua identidade.

Além de promover a ampliação dos conhecimentos dos estudantes sobre os griots, o conteúdo apresentado na seção permite ampliar os conceitos de cultura e de fonte histórica ao contemplar as tradições orais. Constitui, também, uma fórma de fazer com que os estudantes reflitam sobre a tradição oral como veículo de preservação da memória e sobre a importância dos idosos como guardiões do patrimônio cultural imaterial.

Se desejar, realize uma atividade que integre a comunidade escolar, convidando um contador de histórias para apresentar uma narrativa ao grupo. Outra possibilidade seria propor aos estudantes que convidem um de seus familiares para contar uma história que vem sendo transmitida de uma geração à outra. Dessa maneira, os estudantes poderão perceber como suas histórias devem ser valorizadas e sentir-se reconhecidos no grupo.

O conteúdo desta seção também possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.

Observação

Ao destacar a importância da tradição oral na transmissão cultural e como fonte histórica, a proposta de trabalho apresentada nesta seção contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Respostas

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reflita sobre a importância da oralidade para a transmissão cultural nas sociedades tradicionais africanas.

2. A palavra falada, assim como a escrita, pode ser considerada uma fonte histórica que integra o patrimônio imaterial de um povo, suas memórias e seus saberes. Os relatos, por exemplo, são importantes fontes de estudo de experiências vividas, usos e costumes. Além disso, a palavra falada pode ser registrada por meio de gravações sonoras ou audiovisuais, fixando a narrativa para que diversas pessoas possam refletir sobre ela e analisá-la.

O comércio caravaneiro

O comércio era uma atividade essencial para o desenvolvimento do Reino de Gana e do Império do Mali. Como você imagina que esse comércio era realizado? Quais eram os principais produtos negociados pelos mercadores? De que regiões eles vinham? Como as caravanas de comércio vindas do norte chegavam aos reinos Saelianos?

Pode parecer estranho, mas o deserto do Saara, situado em uma extensa faixa de terra no norte da África, cumpriu um papel muito importante na integração dos povos da costa do Mediterrâneo, do Índico, do Atlântico e da região do Sael. Longe de ser um obstáculo, o grande deserto possibilitou o contato entre diversos povos, especialmente com a utilização do camelo como meio de transporte a partir do século três.

A forte resistência do camelo ao clima desértico, com sua capacidade de permanecer sem água por vários dias, tornou possível a travessia do Saara. Além disso, a carne e o leite do animal eram essenciais para a alimentação dos povos nômades que viviam no deserto, e seu pelo era usado para confeccionar tendas nas quais as caravanas paravam para descansar.

Garantidas a sobrevivência e a locomoção no deserto, os povos da região tiveram condições de praticar uma das atividades econômicas mais rentáveis da África durante vários séculos: o comércio caravaneiro, que ligava os entrepostos do Mediterrâneo às praças mercantis da região do Sael.

Fotografia. Vista de um local aberto, em uma paisagem desértica composta de areia em cor bege clara entremeada por tufos de vegetação fina e esparsa na cor verde. Em primeiro plano, cortando a imagem horizontalmente, uma fileira formada por quatro camelos e quatro homens. A fileira caminha no sentido da esquerda para a direita. À esquerda, há três camelos. No centro, há três homens. E à direita, um camelo e um homem. Os camelos à esquerda são de cor branca e bege, usam cabrestos e estão amarrados uns aos outros por cordas presas aos cabrestos. Sobre o dorso dos três camelos, há grandes pacotes cobertos por tecidos em tons de azul com estampas florais. À frente dos camelos, no centro da imagem, há três homens. Um deles, vestido com uma túnica até os joelhos de cor preta, puxa a corda presa ao cabresto do primeiro camelo da fila. Ao lado dele, há dois homens usando vestimentas parecidas de cor bege. Os três têm a cabeça e o rosto cobertos por tecidos nas cores preta e azul e calçam chinelos. À direita, à frente do grupo, há um homem puxando um camelo por uma corda amarrada ao cabresto. Esse homem é visto de costas e veste camiseta branca e calça preta. Ele usa chinelos e tem o cabelo, a cabeça e os ombros cobertos por um tecido de cor preta. Com uma das mãos, ele puxa a corda presa ao cabresto de um camelo branco cujo dorso está coberto por um tecido preto com uma grande rosa bege estampada. Com a outra mão ele segura um cajado. No alto, o céu de cor cinza.
Caravana de camelos no deserto do Saara, na Mauritânia. O comércio caravaneiro é praticado ainda hoje por grupos de tuaregues, povos nômades que vivem no deserto do Saara. Fotografia de 2020.
Ícone. Sugestão de livro.

: Contos do Baobá: 4 contos da África Ocidental. São Paulo: Global, 2017. Nessa obra, o autor brasileiro Maté reconta quatro narrativas da África que fazem parte do repertório dos griots, mestres da cultura oral africana

Respostas e comentários

Orientações

O deserto do Saara assumiu um importante papel na integração dos povos da região do Sael e do norte da África com mercadores vindos da Europa e do Oriente Médio por meio do comércio de produtos como ouro, sal e noz-de-cola.

Apesar da escassez de água e da elevada oscilação térmica ao longo do dia, o deserto do Saara não é um espaço sem vida. Muitas populações habitam essa vasta região e sobrevivem dos recursos que ela proporciona, tendo para isso desenvolvido práticas e conhecimentos que se adéquam às condições do ambiente, como o comércio caravaneiro de camelos.

É importante enfatizar o papel essencial do comércio caravaneiro para a integração de diferentes regiões da África. O tema também pode servir de ponto de partida para uma reflexão acerca da importância do comércio para a integração de diferentes regiões do planeta na atualidade, contribuindo para o intercâmbio de pessoas, ideias, mercadorias, culturas, línguasetcétera.

Observação

O estudo das práticas comerciais no norte da África e de seu papel na integração de diferentes regiões e continentes contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões para o estudante:

, . Homens da África. São Paulo: 2009.

O livro apresenta um panorama cultural da África Ocidental por meio de ilustrações, fotografias e narrativas curtas em que se destacam quatro personagens: o griot, o caçador, o príncipe e o ferreiro.

SISTO, Celso. Mãe África: mitos, lendas, fábulas e contos. São Paulo: Paulus, 2007.

O livro apresenta uma coletânea de histórias de diferentes tradições culturais e étnicas do continente africano.

Rotas do comércio transaariano e

O comércio transaariano ligava as várias praças mercantis às zonas de abastecimento, como as minas de sal do deserto do Saara, as regiões auríferas do l e as áreas de extração de pimenta e -de-cola das florestas tropicais.

Os terminais do comércio transaariano localizados ao norte eram formados pelos portos mediterrânicos da África do Norte, como os de Túnis, Cairo e Argel, e por grandes cidades, como , e Fez. Os terminais dessas rótas situados ao sul eram as cidades Saelianas de Audagôs, Ualata, Timbuquitú, Gao, Tadimecá e Agadés. Delas, os produtos levados pelas caravanas eram redistribuídos por redes de comércio da região do Sael.

As linhas comerciais Transaélianas tinham o sentido oeste, destacando-se nelas o transporte de pessoas e mercadorias realizado por meio dos rios Senegal, Níger e Gâmbia. Dessa fórma, as rótas transaariana e Transaéliana se integravam.

Muitos povos participavam dessa ampla rede mercantil. No deserto, predominavam os berberes, os tuaregues e os azanegues, os quais conduziam caravanas que utilizavam camelos como meio de transporte; nas zonas de florestas, os produtos eram transportados em canoas pelos rios e em caravanas de burros conduzidas pelos diulas, pelos haussás e pelos mandingas.

As rotas comerciais transaarianas (SÉCULO XIV)

Mapa. As rotas comerciais transaarianas. Século 14. Mapa representando o continente africano. Diferentes áreas estão destacadas por cores distintas e linhas pontilhadas indicam rotas comerciais. Ícones indicam fontes de ouro, sal e noz-de-cola. Em laranja escuro, a 'Zona climática equatorial' abrange parte da costa oeste da África, desde a região de Serra Leoa e do Golfo da Guiné, até a região do Rio Congo atingindo as proximidades dos Grandes Lagos no centro do continente. Estende-se também por grande parte da ilha de Madagascar. Em laranja médio, a 'Zona climática tropical' abrange territórios ao sul e ao norte da linha do Equador, desde a foz do Rio Gâmbia, no oeste da África, até o Chifre da África, no leste do continente, abrangendo as regiões da Etiópia, de Sidama e dos Grandes Lagos, no oeste do continente; do Congo, no leste do continente e do Reino do Zimbábue, no sudeste do continente. A costa leste da Ilha de Madagascar também está nessa zona climática. Em laranja claro, a 'Zona climática desértica' corresponde à região do Deserto do Saara, no norte do continente, desde a região ao norte do Rio Senegal, no oeste, até o litoral do Mar Vermelho, no leste, compreendendo as regiões do Egito e da Etiópia até o Golfo de Aden. Outra área desértica está situada no sudoeste do continente, na região que hoje corresponde à Namíbia e ao norte da África do Sul, na costa banhada pelo Oceano Atlântico, nas proximidades do Rio Orange. Destacado em amarelo claro, o 'Semiárido' africano abrange a região de Monomotapa e o sul da África, estendendo-se desde o litoral do Golfo de Benguela, no oeste africano, ao reino do Zimbábue, às margens do rio Zambeze, no leste. O semiárido também compreende a região do Sahel, desde a região que hoje compreende o Senegal, no oeste africano, até a Etiópia, no leste, estendendo-se pelas regiões de Gana, Hauçá, Darfur e Etiópia.  No norte da África, também há zonas climáticas de Semiárido, desde o litoral do território que hoje compreende a Mauritânia, no noroeste, até a foz do Rio Nilo, no norte do continente. Destacada em verde, a 'Zona climática do mediterrâneo' abrange uma pequena parte do litoral norte do continente, na região que hoje compreende o Marrocos, a Argélia e a Tunísia e, no sul do continente, o litoral sul da África do Sul. As pequenas zonas destacadas em lilás, que correspondem ao 'Frio de montanha', estão localizadas na região que hoje compreende a Etiópia e o Quênia; e a leste do Lago Vitória, no território que hoje compreende o Quênia e o norte da Tanzânia. Destacadas em linhas pontilhadas cor de rosa, as rotas comerciais transaarianas conectam as regiões do Sahel e do Mediterrâneo, cortando o Deserto do Saara e estendendo-se desde as cidades da zona climática Equatorial, como Ibo, Até a zona climática mediterrânea, atingindo as cidades de Fez, Argel e Túnis. Interligando, no oeste, as regiões de Gana, Akam e Hauçá, ao sul do deserto, com Tafilelt, Ifriqiya e Kairuan, ao norte do deserto; e, no leste, as regiões de Darfur, Etiópia e Sidama, ao sul do deserto, ao Egito, no norte. Nas rotas, são destacadas as cidades: de Gadam, Awdaghost, Walata, Timbuctu, Djenné, Tadmekka, Takedda, Gao, Agadés, Oyo, Ifé e Ibo; Sidjilmasa, Marrakech, Fez, Argel, Túnis, Trípoli e Cairo.  Destacado por uma linha marrom, os 'limites aproximados do Deserto do Saara' estendem-se do oeste africano, ao norte do Rio Senegal, até o leste do continente, na região que hoje compreende a Eritreia e o Sudão.  Destacados por uma linha verde, os 'limites aproximados da floresta' estão situados na divisa dos climas equatorial e tropical, iniciando-se na costa atlântica, nas proximidades de Futa Jalon e estendendo-se até o centro do continente, nas margens do Rio Ubanji, ao norte do Rio Congo, na região que hoje compreende a República Centro Africana e a República Democrática do Congo. Indicadas por ícones representando barras douradas, as maiores fontes de ouro estão situadas na região tropical, entre Futa Jalon e Oyo, ao sul de Djenné, e na região que hoje corresponde ao litoral da Costa do Marfim, ao sul de Akam. Indicadas por ícones representando triângulos brancos, as maiores fontes de sal abrangem, no oeste do continente, a região de Serra Leoa, Futa Jalon, Awill, Idjill, Teghazza e Taodeni; a região do Golfo do Benim, com destaque para as cidades de Oyo e Ifé; a região do Golfo da Guiné, com destaque para a cidade de Ibo, além de Bilma, ao norte do Lago Chade, no sul do Deserto do Saara. Indicadas por ícones representando formas ovais cor de rosa, as maiores fontes de noz-de-cola estão nos territórios entre Serra Leoa e Akam, na região que hoje compreende parte da Guiné, a Costa do Marfim e Gana. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 660 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: NIANE, Dibríl Tamsír. O Mali e a segunda expansão manden. In: NIANE, Dibríl Tamsír (edição). História geral da África. segunda edição Brasília: unêsco, 2010. volume quatro: África do século doze ao dezesseis. página173; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas geográfico escolar. quinta edição. Rio de Janeiro: í bê gê É, 2009. página58.

Respostas e comentários

Orientações

Oriente os estudantes na observação detalhada do mapa e na identificação dos diferentes climas e regiões do continente, dos principais produtos do Sael e da floresta tropical, e das rotas transaarianas que cruzavam o deserto do Saara. Estimule-os a refletir sobre como o comércio caravaneiro integrou diferentes regiões do continente africano.

Comente com os estudantes que o deserto ocupa aproximadamente 30% do continente africano. Ao contrário do que costumamos imaginar, o deserto é um espaço que, apesar da aridez e da falta de água, abriga muitas espécies vivas, tanto da fauna como da flora, e populações humanas. Os habitantes dos oásis, por exemplo, desenvolvem alguns cultivos em seu entôrno (como o de tâmaras). Esses cultivos, em geral, constituem verdadeiros muros vivos que impedem o avanço da areia.

Atividades complementares

Devido à grande importância do comércio caravaneiro para a interligação entre diversas regiões da África e inclusive de outros continentes, sugerimos que os estudantes realizem as seguintes atividades sobre esse tema:

1. Que povos praticavam o comércio transaariano e ? Que meios de transporte eles utilizavam?

Na região das florestas, o comércio era praticado por diulas, raussás e mandingas e os produtos eram transportados em caravanas de camelos e burros. Nos trechos de rios, as mercadorias eram conduzidas por canoeiros. No deserto, elas eram comercializadas por berberes, tuaregues e azanegues, que as transportavam em cáfilas.

2. O que eram as praças mercantis? Qual era a importância dessas áreas para o comércio caravaneiro?

Eram zonas que recebiam produtos extraídos em diferentes regiões da África. Os comerciantes dessas regiões recebiam o sal vindo das minas do deserto do Saara, o ouro do Sael, a pimenta e a noz-de-cola das florestas tropicais, por exemplo, e redistribuíam essas mercadorias entre as rótas de comércio existentes no período.

Observação

A análise da rede mercantil da porção norte do continente africano contempla a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Produtos do sul em direção ao norte

Observe, a seguir, os principais produtos transportados da região do Sael e das florestas em direção ao deserto do Saara e à costa do Mediterrâneo, no norte da África, de onde seguiam para a Europa e para a Ásia.

  • Ouro: esse metal era a base do sistema monetário do mundo islâmico e da Europa medieval. As minas de Bambuk, de Burê e dos estados akãs da Costa do Ouro (Gana), onde era extraído, representavam a principal fonte aurífera antes da chegada dos europeus à América.
  • Noz-de-cola: fruto utilizado pelas sociedades africanas tradicionais em cerimônias e rituais e para controlar o cansaço e a fome. A noz-de-cola foi amplamente adotada pelos povos islamizados por ser o único estimulante cujo consumo era recomendado pelas regras muçulmanas.
  • Pessoas escravizadas: trabalhavam nas salinas do Saara, nas sociedades islâmicas do norte da África e nos países europeus, sobretudo na península Ibérica muçulmana.

Além desses produtos, a região fornecia resinas, gomas, peles e couros, e produtos alimentícios, como sorgo, milho africano e milhete.

A noz-de-cola

A noz-de-cola, ainda hoje, é um importante produto de exportação de alguns países africanos. Contudo, no passado, as sementes da noz-de-cola eram utilizadas por povos da África Ocidental principalmente em rituais religiosos. Elas passaram a ser apreciadas também por mercadores árabes para suportar a fadiga e a fome nas longas viagens pelo deserto. Ao estabelecer seu domínio sobre a África, no século dezenove, os europeus perceberam seu poder estimulante e tonificante. Assim, surgiu a produção industrial de refrigerantes à base de cola. Atualmente, para baratear os custos da produção em larga escala, passaram a ser utilizados aromatizantes artificiais no lugar da noz-de-cola.

Fotografia. Imagem mostrando os braços de um trabalhador segurando nas mãos frutos de noz-de-cola em formato arredondado, alguns dos frutos são cor rosa e outros amarelo claro. Ao fundo, centenas de frutos no chão.
Um trabalhador segura sementes de noz-de-cola, em Aniama, Costa do Marfim. Fotografia de 2019.
Respostas e comentários

Orientações

Os estudantes podem estranhar a classificação do escravizado como produto ou mercadoria. Contudo, é justamente essa condição de mercadoria que caracteriza a mão de obra escrava. Sugerimos conversar com os estudantes a respeito desse conceito. Comente que a desumanização não está no fato de os livros de História classificarem as pessoas escravizadas como “mercadorias”, mas na própria prática escravista, que reduzia determinados seres humanos à condição de um bem, uma propriedade. No entanto, é fundamental frisar que o contexto do escravismo nesse período na África é muito distinto do escravismo moderno colocado em prática pelos europeus durante o processo de expansão territorial e econômica (e que sustentou a exploração e a produção de suas colônias). No caso do período pré-colonial no continente africano, devemos considerar que as pessoas escravizadas eram geralmente prisioneiras de guerra e que essa não foi a mão de obra que estruturou a produção econômica daquela sociedade. Nesse momento, sugerimos chamar a atenção dos estudantes para essas especificidades para que, mais adiante, eles possam desenvolver plenamente a habilidade ê éfe zero sete agá ih um cinco.

Observação

O estudo dos produtos africanos valorizados no comércio intercontinental contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o professor:

SERRANO, Carlos; Uálmen, Maurício. Memórias África: A temática africana na sala de aula. São Paulo: Cortez, 2007.

O livro apresenta a geografia, a história e a formação de diversas sociedades do continente africano, estabelecendo conexões com a questão do colonialismo, da escravidão e das relações entre a África e o Brasil na atualidade, entre outros temas.

Produtos do norte em direção ao sul

Conheça agora os produtos comercializados do norte do Saara e da costa do Mediterrâneo em direção às regiões das estepes, das savanas e das florestas ao sul.

  • Sal: produto essencial para a conservação dos alimentos nas áreas tropicais, o sal também servia de moeda nas trocas comerciais.
  • Produtos alimentícios: tâmaras, passas e raízes eram bastante apreciadas pelas comunidades islâmicas do Sael.
  • Burros e cavalos: inexistentes nas florestas tropicais devido à presença das moscas do sono, conhecidas como tsé-tsé, que atacavam a cavalaria dos reinos nas margens das áreas tropicais.
  • Artefatos de metal e manufaturados: utensílios de cobre, bronze e estanho, ferramentas, tecidos e adornos de metais e pedras preciosas vinham do Egito, do Oriente Médio e da Europa.

O sal

A seguir, o historiador britânico Mártin Méredif fala sobre o transporte do sal, extraído das salinas do Saara.

A principal mercadoria pela qual trocavam seu ouro era o sal que as caravanas de comerciantes adquiriam pelo caminho, nas minas do Saara. reticências A demanda pelo produto ali era insaciável. Blocos de sal eram passados adiante aos poucos, das caravanas de camelos para os burros, e levados até o limite do cinturão da mosca tsé-tsé, onde não se podia mais utilizar animais de carga. A partir de então, carregadores humanos o transportavam até a floresta tropical. Ao longo do caminho, o preço poderia aumentar até cem vezes.

Méredif, Mártin. O destino da África: cinco mil anos de riquezas, ganância e desafios. São Paulo: zarrár, 2017. E-book.

Fotografia. Vista de um local aberto. Em um deserto de solo arenoso de cor bege, oito camelos deitados um perto do outro e, ao lado deles, algumas placas retangulares de sal empilhadas. À direita, um homem agachado, vestido com camiseta preta e segurando uma correia verde ao lado de um camelo. No alto, o céu cinza.
Deserto de sal na depressão de Danakil, Etiópia. Fotografia de 2019.
Respostas e comentários

Texto complementar

Leia a seguir um trecho que explica a importância do sal no comércio caravaneiro.

SAL. Extraído de depósitos sedimentares nas regiões áridas ou obtido por evaporação de águas salgadas, o sal (cloreto de sódio), usado principalmente na conservação de alimentos, foi sempre riqueza fundamental e estratégica. Na África, escasso nas savanas e nas regiões de floresta, o sal era abundante principalmente em Tegaza, no Saara, e nas águas do Lago Chade. Assim, as unidades políticas que detinham o contrôle desses depósitos alimentavam sua economia principalmente fornecendo sal em troca de escravos, ouro, marfim, pimenta, noz-de-cola, alimentos, produtos manufaturados etcétera. O comércio do sal, então, contribuiu grandemente para a estruturação de impérios como os antigos Gana, Mali e Songai, por exemplo.

LOPES, Nei; MACEDO, José Rivair. Dicionário de História da África: séculos sete a dezesseis. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. E-book.

Observação

A análise das trocas comerciais entre distintas regiões do continente africano contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão complementar referente ao Capítulo:

SANTOS, Nadia Farias dos. Entre saberes e fazeres docentes: o ensino das relações étnico-raciais no cotidiano escolar. Curitiba: Appris, 2019.

A obra analisa o posicionamento de professores e estudantes acerca do ensino das relações étnico-raciais em sala de aula e aborda a importância desse ensino em nossos dias.

Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a seção Em debate.

Em debate

Os contatos intercontinentais

O comércio praticado pelos árabes e pelos povos nômades que entrecruzavam o deserto do Saara favoreceu uma ampla rede de contatos, que possibilitou aos mercadores realizar ligações entre o continente africano, o europeu e o asiático. Leia a seguir os textos de dois historiadores sobre essas relações intercontinentais.

Entre 1100 e 1500, a África foi um parceiro privilegiado nas relações intercontinentais do Velho Mundo. Tanto através do Mediterrâneo como através do oceano Índico, um comércio intenso, mais frequentemente intermediado pelos muçulmanos, ligava a Europa e a Ásia ao continente africano. reticências

O papel do Islã, tanto na difusão de ideias como no comércio, foi de extrema importância à época, como ilustram as viagens de Êbnú Battuta para a China e pela África oriental e ocidental. Nossos conhecimentos sobre as populações no período que ora tratamos muito devem aos trabalhos dos geógrafos, viajantes e historiadores muçulmanos.

nianê dibríl tamsír. Relações e intercâmbios entre as várias regiões. In: nianê dibríl tamsír editor. História geral da África: África do século doze ao dezesseis. 2. edição Brasília: Unesco, 2010. volumequatropágina 710.

Esse mundo muçulmano torna-se, assim, uma longa faixa de mobilidade, do Atlântico ao Pacífico, que unificou o Velho Mundo a partir do século sete. Por ter amalgamado a maior parte do mundo conhecido, ele controla as passagens entre as massas densamente povoadas da Europa, em sentido amplo, a África e o Extremo Oriente e vive dos lucros da intermediação que tal contrôle lhe faculta. Nada passa sem a sua permissão e tolerância, representando para toda essa massa terrestre, carente de uma ligação marítima central, o mesmo que a Europa será mais tarde à escala mundial: uma economia triunfante e, logo, uma civilização dominante.

BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de êbnú ráldúna e Êbnú Battuta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. página31.

Ilustração. Um homem de barba longa vestido com uma túnica de cor verde clara, cruzada à frente de seu corpo. Sobre a cabeça, usa um turbante cor de rosa.  A túnica tem mangas longas  o comprimento é abaixo da altura dos joelhos. Há uma faixa vermelha atada na cintura do homem e a barra da túnica tem um barrado vermelho. O homem usa uma grande capa de cor bege sobre as costas, comprida até os pés, e sapatos de cor marrom. Com a mão esquerda, ele segura um sabre preso em sua cintura.
Bêneti Leôn. Representação de Êbnú Battuta. 1878. Ilustração. Êbnú Battuta (1304-1368) foi um viajante nascido no atual Marrocos. Visitou localidades na Ásia, na África e na Europa. Considerando um atlas atual, é possível dizer que Ibn Battuta conheceu, em média, 44 países.
  1. As visões dos dois historiadores sobre as conexões intercontinentais da África são convergentes ou divergentes? Por quê?
  2. No primeiro texto, o autor afirma que a África foi um parceiro privilegiado nas relações com o Velho Mundo. A partir de quais pontos estratégicos era estabelecido o contato comercial com a Europa e a Ásia no continente africano?
  3. No segundo texto, qual é a comparação que a autora faz ao caracterizar o contrôle que os muçulmanos mantiveram das rótas que interligavam a maior parte do mundo conhecido pelos europeus até então: a África, o Oriente e a Europa?
Respostas e comentários

Orientações

Com base no estudo do comércio caravaneiro é possível estimular os estudantes a refletir sobre a importância do comércio para a integração de diferentes regiões do planeta na atualidade, contribuindo para o intercâmbio de pessoas, ideias, mercadorias, culturas, idiomas etcétera. O intercâmbio de produtos do continente africano com a Europa e a Ásia era realizado pelos árabes, que detiveram o contrôle comercial no mar Mediterrâneo até o século onze. Contudo, a partir do século doze, após as Cruzadas religiosas que promoveram a peregrinação de missionários cristãos à chamada Terra Santa, no Oriente Médio, os europeus conseguiram quebrar o monopólio comercial dos árabes no Mediterrâneo. O domínio dos europeus sobre o comércio no mar Mediterrâneo estimulou a navegação, o comércio e o crescimento das cidades europeias.

O comércio de especiarias vindas do Oriente era altamente rentável e visado pelos europeus. Ao longo do tempo, os europeus intensificaram o contato com artigos orientais e produtos africanos, como ouro e pessoas escravizadas. O desenvolvimento da navegação e o avanço dos europeus pelos mares e oceanos estimularam as conquistas territoriais, assim como ampliaram as relações culturais e econômicas entre diversas regiões do mundo.

Observação

A comparação das visões de dois historiadores sobre as conexões intercontinentais da África contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Respostas

1. As visões dos dois historiadores são convergentes, pois ambos ressaltam a importância da intermediação dos muçulmanos nas relações comerciais intercontinentais da África no período pré-colonial.

2. Ao norte do continente, pelo mar Mediterrâneo; ao Léste do continente, pelo oceano Índico.

3. A autora compara o contrôle territorial das passagens e das ligações marítimas pelos muçulmanos nesse período ao posterior domínio europeu, que será exercido em escala mundial.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Por que o Reino de Gana, um dos mais antigos da região do Sael, foi chamado pelos cronistas árabes de “terra do ouro”? Qual era a importância do ouro naquele contexto?
  2. Leia o relato de Abú Ubáide Albácri, geógrafo muçulmano que viveu no século onze. Com base nesse relato, pode-se dizer que a introdução do islã no Reino de Gana eliminou as tradições religiosas locais? Por quê?

“Ao redor da cidade do rei há choupanas abobadadas e bosques onde vivem os feiticeiros, homens encarregados de seus cultos religiosos. Ali se encontram também os ídolos e os túmulos dos reis. reticências

Quando o rei morre, constroem uma enorme abóbada de madeira no lugar do enterro. Então trazem-no em uma cama levemente coberta e colocam-no dentro da abóbada. A seu lado colocam seus ornamentos, suas armas, e os recipientes que ele usava para comer e beber. A serpente é a guardiã do Estado e vive em uma caverna que lhe é devotada. Quando o rei morre, seus possíveis sucessores se reúnem em uma assembleia, e a serpente é trazida para picar um deles com seu focinho. Essa pessoa é então chamada para ser o novo rei.”

COSTA, Ricardo. A expansão árabe na África e os impérios negros de Gana, Mali e Songai (séculos sete-. ín: Nixicáua, Taise F. C. História medieval: História dois. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. página 34-53.

Mapa histórico. Mapa representando o noroeste do continente africano, com fundo de cor bege. O mapa é atravessado por linhas retas na diagonal que se entrecruzam. Há textos, nomes de lugares e ilustrações variadas representando fortes e outras construções. No canto esquerdo do mapa, o oceano em azul e o detalhe de uma embarcação à vela tripulada. Na costa africana, à esquerda, o desenho de sete tendas brancas com listras verticais vermelhas e, na parte superior listras verticais azuis. No topo de cada tenda, um círculo dourado. No centro do mapa, um camelo cinza, montado por um homem branco com a cabeça, o pescoço e os ombros cobertos por um tecido branco, vestido com uma túnica longa e verde. Sobre o dorso do camelo, há um pano vermelho. O homem montado tem o corpo virado para a direita e segura um chicote de três pontas. À direita, uma ilustração representando um homem negro sentado em trono dourado com assento vermelho. Visto de frente, o homem está com o corpo virado para a esquerda. Ele usa uma coroa dourada, segura um cetro dourado em uma mão e, na outra, com o braço flexionado, segura um objeto redondo dourado em frente ao seu rosto. Ele veste uma túnica longa de cor verde e está descalço, com os pés cruzados um sobre o outro. Ao redor deles, territórios com ilustrações em tamanho pequeno indicando construções, como templos e fortes, e diversos textos, não legíveis nessa reprodução. No alto, na região que corresponde ao limite norte do deserto do Saara, há uma espécie de muralha desenhada em tons de amarelo.
CRESQUES, Êibrarram. Atlas catalão de Êibrarram Cresques. 1375. Ilustração (detalhe), 65 por 300 centímetros. O governante Mansa Musa, do Mali, está representado à direita. Ao lado dele, há os seguintes dizeres: “Este senhor negro é aquele muito melhor senhor dos negros de Guiné. Este rei é o mais rico e o mais nobre senhor de toda esta parte, com abundância de ouro na sua terra”. Biblioteca Nacional da França, Paris.
  1. Relacione o comércio caravaneiro com a expansão do islã entre os povos do l.
  2. Observe a imagem do Atlas catalão de Êibrarram Cresques, leia a legenda e responda às questões.
    1. Que informações sobre o Império do Mali podem ser obtidas pela observação dessa imagem?
    2. Que características do Mansa Musa são ressaltadas na fórma como ele é representado?
  3. Em dupla, façam um exercício de imaginação! Escolham uma situação estudada neste Capítulo (o comércio do ouro ou de sal no Reino de Gana ou no Império do Mali, a viagem de Mansa Musa a Meca, entre outras possibilidades) e escrevam uma narrativa sobre a situação escolhida, como se vocês fossem griots. O trabalho final deve ser apresentado ou cantado para o restante da turma.
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objeto de conhecimento

Saberes dos povos africanos e pré-colombianos expressos na cultura material e imaterial.

Habilidade

São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:

ê éfe zero sete agá ih zero três (atividades 1, 2, 3, 4, 5)

Respostas

1. O Reino de Gana foi chamado pelos cronistas árabes de “terra do ouro” por existirem ricas zonas auríferas na região. O ouro era trocado principalmente por sal, importante produto em toda a África, que era utilizado como moeda nas transações comerciais e para conservar determinados alimentos.

2. Não. Pelo texto de Albácri, pode-se dizer que muitas tradições africanas foram mantidas mesmo com a introdução do islã no Reino de Gana. Ele cita, por exemplo, a existência de feiticeiros que realizam cultos religiosos nos bosques e a cerimônia da picada da serpente para a escolha de um novo rei, elementos que não fazem parte da tradição islâmica.

3. As trocas comerciais realizadas entre os povos Saelianos e os mercadores muçulmanos do norte da África e da península Arábica foram fundamentais para o crescimento do islã na região do Sael. Sendo o islã uma religião universalista, que prega o esfôrço incessante por expandir a crença em Alá, o intercâmbio comercial era a oportunidade de estabelecer trocas culturais e divulgar a mensagem do profeta Maomé.

4. a) A imagem destaca a riqueza do Império do Mali, como a abundância de ouro em suas terras, e a presença de construções, de centros urbanos, comerciais etcétera.

b) Mansa Musa é representado como um rico e nobre senhor, o que revela a impressão que os ocidentais tinham da grandeza do Império do Mali.

5. Atividade em dupla. O objetivo é fazer com que os estudantes experimentem, de fórma lúdica, o trabalho de um griô e, ao mesmo tempo, retomem os conteúdos estudados sobre a história da África. Se necessário, incentive os estudantes a realizarem uma pequena pesquisa antes de elaborarem suas narrativas; é possível trabalhar, nesse momento, com a revisão bibliográfica, estimulando práticas de pesquisa entre a turma.

CAPÍTULO 2  POVOS IORUBÁS E BANTOS

Multiculturalismo.

O Brasil tem a segunda maior população negra do mundo, inferior apenas à da Nigéria, na África. Você já parou para pensar de quais regiões da África vieram os ancestrais dessa parte da nossa população? Que conhecimentos e costumes eles trouxeram para cá?

A partir do século dezesseis, muitos africanos foram trazidos forçadamente para o Brasil pelos portugueses na condição de escravos. Eles pertenciam a uma grande variedade de povos, que, no século dezenove, foi classificada em dois grandes grupos linguísticos: banto e iorubá. Esses povos vieram de regiões onde hoje se localizam Nigéria, Costa do Marfim, Camarões, Angola, Congo e Moçambique, entre outros países. Uma vez estabelecidos no Brasil, entraram em contato com os povos que aqui viviam, com imigrantes de outras regiões do mundo e também com pessoas de diferentes localidades do próprio continente africano, criando, juntos, uma cultura afro-brasileira.

Assim, estudar a história da África é essencial para compreendermos nossa história, uma vez que a identidade brasileira tem fortes marcas africanas.

IORUBÁS E BANTOS (SÉCULOS doze-dezesseis)

Mapa. Iorubás e bantos. Séculos 12 a 16. Mapa representando o continente africano. Algumas áreas estão destacadas em cores distintas. Outras, estão destacadas por círculos e setas coloridas. Em cor de rosa, 'Área de influência iorubá', que abrange a região noroeste da África ocidental, ao sul do Deserto do Saara, desde a costa Atlântica, na altura dos rios Senegal e Níger, até o centro do continente, na margem norte do Rio Ubanji. Com destaque para as cidades de Oyo, Ifé, Owu e Benin, na região do Golfo do Benim. Destacada por setas cor de rosa, 'Migrações dos povos bantos', partindo de um círculo a leste de Owu e do Benin, acompanhando, a leste, o curso dos rios Ubanji e Congo em direção ao centro do continente; e, ao Sul, ao longo da costa Atlântica e da área de influência banta até os limites dessa região que hoje corresponde à Angola. Em amarelo claro, 'Área de influência banta', que abrange toda a região central e sudeste da África, desde o sul do rio Ubanji, até o leste do Rio Orange, abrangendo a bacia dos rios Congo, Kasai, Zambeze, Limpopo e, ao sul, parte da região em torno do rio Orange. Destacada por linhas verdes, 'Provável região de origem dos iorubás', compreendendo círculos ao redor da cidade de Ifé e outro círculo nos arredores das cidades de Owu e Benin. Hachurado com linhas diagonais de cor cinza, 'Deserto do Saara', ocupando a maior parte do norte da África, abrangendo desde a costa oeste, banhada pelo Oceano Atlântico, até a costa leste, banhada pelo Mar Vermelho. Destaque para as cidades de Sidilmasa e Timbuctu. Ao norte do Deserto do Saara, destaque para as cidades de Marrakech, Ceuta, Argel e Bougie. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 755 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 48, 67, 92.

Gravura. Sobre um fundo de papel amarelado, retangular, de orientação vertical e cercado por margens pretas,  no centro, uma ilustração de um homem visto de frente, com a cabeça voltada para a direita, o olhar para o alto e a mão esquerda apoiada na cintura. Na mão direita, o homem segura um bastão nas cores vermelha e bege. Ele é negro, tem cabelos curtos e castanhos parcialmente cobertos por um chapéu sem abas dourado, decorado adornos vermelhos e com um longo véu de tecido vermelho na parte de trás da cabeça. Ele usa brincos e veste uma túnica branca de mangas curtas, com listras inclinadas azuis. Nas mangas e na barra da túnica, há detalhes de listras vermelhas. O homem tem uma espécie de lenço dourado ao redor do pescoço e do torso e usa um pano vermelho com franjas douradas amarrado na cintura. Da cintura para baixo, no lado direito, leva uma capa comprida azul, que está atada a sua cintura, em que também está presa uma espada dourada com detalhes vermelhos. O homem está descalço sobre a grama verde. Ao fundo, paisagem com montanhas. Na parte inferior da ilustração, originalmente em língua francesa, a inscrição em letras de forma, 'Rei do Congo'.
San Suvér, Jáque Grassê de. Rei do congo. cêrca de 1797. Gravura. Museu de Arte do Condado de Los Angeles, Estados Unidos. A região do Congo era habitada por povos de origem banta.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Este Capítulo traz textos e atividades que abordam a cultura dos povos iorubás e bantos, permitindo que os estudantes reconheçam algumas de suas características antes do contato com os europeus, desenvolvendo a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três. Além disso, o estudo dos povos bantos e iorubás tem significado especial, em decorrência de sua importância para a formação da cultura afro-brasileira. Sugerimos que investigue as ideias prévias dos estudantes a respeito das conexões entre a história da África e a do Brasil, a partir de seus estudos escolares ou de outras fontes de informação. Consideramos importante que os estudantes reflitam sobre a forte presença dos afrodescendentes na população do país e sejam capazes de reconhecer, na língua que falam e escrevem, nos hábitos alimentares, nos estilos musicais e em outros setores da vida social, as influências das diferentes culturas africanas que foram transplantadas para o Brasil (e posteriormente ressignificadas) durante os períodos colonial e imperial.

Este Capítulo possibilita ainda o trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.

Orientações

Peça aos estudantes que observem o mapa “Iorubás e bantos (séculos doze-dezesseis)” e identifiquem as áreas de influência dos povos iorubás e bantos, a provável região de origem dos iorubás e as rótas migratórias dos bantos. Sugerimos apresentar também um mapa da África atual para que os estudantes identifiquem a localização dos países africanos que correspondem às antigas áreas de influência dos bantos e iorubás.

Observação

A exploração dos conteúdos desta página contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo

ê éfe zero sete agá ih zero três: Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as fórmas de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.

Os reinos iorubás

Os iorubás constituem um grande grupo étnico-linguístico da África Ocidental, representando atualmente cêrca de 20% da população da Nigéria e parte da população do Togo, do Benin e de Serra Leoa. fóra da África, a cultura iorubá tem forte presença no Brasil e em Cuba.

Segundo pesquisas arqueológicas, os reinos iorubás, também chamados de nagôs, floresceram ao sul do rio Níger por volta do século nove, em uma antiga população que tinha como centro a cidade de Ifé (que significa “o que é vasto”). Contudo, segundo alguns estudiosos, as evidências mais antigas desse grupo remontam ao século quatro.

Os reinos iorubás estavam organizados em cidades-Estado independentes que mantinham relações comerciais entre si, como Ifé, ôio , Ouú, Benin e Ilá.

Para os iorubás, a cidade de Ifé tinha origem divina. Ifé também era uma referência política, pois todos os outros reinos iorubás estavam vinculados a ela. A cidade era um importante entreposto do comércio caravaneiro na África. Os mercadores paravam na cidade para descansar, reabastecer as caravanas e negociar produtos, como sal, contas de pedra, dendê, pimenta e pessoas escravizadas.

Fotografia. Vista de um local aberto, sob a copa de uma grande árvore de folhas verdes miúdas, com chão de terra marrom e, em destaque, no centro e em primeiro plano, três pessoas dançando. Elas estão vestidas com máscaras coloridas com faces humanas sobre suas cabeças e usam luvas e mantos coloridos e estampados cobrindo seus corpos da cabeça aos pés. Os mantos têm as cores azul, verde, amarelo, vermelho e outras, além de estampas de folhas e de peixes, entre outras. No alto da cabeça das pessoas que estão dançando, há figuras de animais, como aves e macacos comendo frutas. Sob os mantos essas pessoas usam meias longas e sapatos de pano nas cores preta e branca, além de guizos feitos de metal presos ao redor dos tornozelos. Em torno das figuras com essas vestes, há outras pessoas em trajes coloridos, a maioria delas homens e meninos, (há apenas uma menina à esquerda). Eles têm a cabeça descoberta e observam as figuras no centro. Alguns também estão dançando. Em segundo plano, à direita, uma grande árvore com tronco marrom e folhas pequenas verdes. À esquerda, duas casas baixas.  Ao fundo, o céu diurno em tons de branco.
Cerimônia Gueledé realizada em Quétón, no Benin. Nessa cerimônia, praticada também em países como Nigéria e Togo, são celebrados a sabedoria e o poder das mulheres nas sociedades iorubás. Fotografia de 2019.
Ícone. Sugestão de livro.

ANDRADE, Inaldete Pinheiro de. Uma aventura do velho Baobá. Rio de Janeiro: Pequena zarrár, 2022. O baobá é uma árvore vista como símbolo de resistência. Essa obra, que valoriza os saberes afro-brasileiros, conta a história de um velho baobá, nativo das savanas da África, que atravessa o oceano Atlântico para encontrar seus parentes no Brasil.

Respostas e comentários

Orientações

Comente com os estudantes que a África do Oeste ou Ocidental é uma região do continente africano que abrange muitos países, como Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Mali, Burkina Fasso, Guiné-Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Níger, Nigéria, Togo, Benin, Gana, Gabão e Camarões. A divisão territorial desses países está baseada nas antigas fronteiras coloniais e não leva em conta os povos e as línguas da região.

O poder político nas sociedades iorubás era representado pelo rei. Segundo os mitos, o primeiro rei iorubá foi Odudúa, uma das divindades primordiais iorubás, que se estabeleceu em Ifé. Nessa cidade-Estado, o rei era chamado Oni e visto como descendente direto de Odudúa. Na cidade-Estado de ôio , o rei, chamado Alafin, era descendente de Xangô, que, por sua vez, descendia de Odudúa. Existem raros relatos da existência de mulheres em cargos políticos e em funções religiosas. A maioria era ocupada por homens.

A importância de Ifé para o comércio caravaneiro possibilitou que os reinos iorubás estabelecessem trocas culturais com diversos grupos, como os egípcios, os núbios, os abissínios e os povos africanos convertidos ao islã.

Observação

O estudo de aspectos políticos e socioculturais dos reinos iorubás contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

Multiculturalismo.

Estatuetas e a arte dos iorubás

Os povos iorubás produziam estatuetas feitas de madeira, terracota, pedra, cerâmica, cobre, latão ou bronze. O uso de metais constitui uma evidência de que os iorubás conheciam técnicas de metalurgia.

O tema central da arte iorubá é o culto aos orixás e aos antepassados. Além disso, as figuras esculpidas que formam um par, geralmente um homem e uma mulher, são muito comuns nessa produção artística. Essas figuras são chamadas de edan.

Essas peças eram e continuam sendo usadas como uma espécie de amuleto para prever o futuro, curar doenças, afastar maus espíritos, julgar cidadãos, entre outras funções. Os edans geralmente são feitos de ligas de cobre (é comum aparecer nos livros sobre arte africana como “bronze”), um material muito resistente aos efeitos da umidade e do calor.

Fotografia. Sobre um fundo cinza, duas estátuas feitas de metal de cor marrom escura, com partes esverdeadas, representando duas figuras humanas conectadas por correntes presas em seus chapéus. Elas usam chapéus triangulares com um furo na ponta superior, por onde passa a corrente, e não têm cabelo. As figuras têm olhos avantajados, semicerrados, nariz grande e dois sinais em forma de traço sobre a testa. Suas cabeças são proporcionalmente grandes para o corpo e os ombros e seus braços e pernas são muito finos. Elas estão sentadas com as pernas flexionadas e têm os dois braços flexionados com as mãos sobre a parte frontal do corpo.
Representação de edan produzido por povos iorubás na Nigéria. Século dezenove. Cobre e ferro. Museu de Arte de clívilan, clívilan, Estados Unidos.
  1. Identifique o material utilizado para produzir o edan, o local e a data em que foi feito.
  2. Descreva o que você vê na imagem do edan. As figuras representadas são realistas ou não? Explique como você chegou à conclusão.
  3. Procure explicar, com suas palavras: qual era a função de peças como essas?
  4. O edan analisado por você pode ser considerado uma fonte histórica material dos iorubás? Por quê?
Respostas e comentários

Orientações

Os objetos da cultura material podem revelar muitos aspectos do modo de vida, das crenças e das práticas religiosas de um povo. Desse modo, o conteúdo desta seção constitui um ótimo momento para a continuidade do trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.

Respostas

1. Edan de cobre e ferro, produzido na Nigéria no século dezenove.

2. O edan apresenta duas pessoas sentadas, ligadas por uma corrente. Ambas possuem ornamentos em suas cabeças. Essas figuras não podem ser vistas como realistas, pois elas apresentam cabeças maiores que o restante do corpo, bem como braços e pernas finíssimos. Elas não apresentam proporção.

3. Os edans eram usados como amuletos para prever o futuro, curar doenças, afastar maus espíritos, julgar cidadãos, entre outras funções.

4. Sim. O edan pode ser considerado fonte histórica material dos iorubás, uma vez que os objetos produzidos por determinado povo podem fornecer pistas sobre seus conhecimentos, seu modo de vida, suas crenças e sua cultura.

Observação

A apreciação e a análise das expressões artísticas iorubás contribuem para o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

A diversidade dos povos bantos

O termo “banto” significa “povo” ou “os homens”. Ele é utilizado para designar cêrca de 400 grupos étnicos que falam línguas que têm uma origem comum. Provavelmente, o núcleo original dos povos bantos localizava-se na fronteira dos atuais Nigéria e Camarões por volta de 3 mil a 4 mil anos atrás. Por motivos ainda desconhecidos, eles começaram a migrar para o sul e o Léste da África. No século doze, já ocupavam áreas da África Central até o sul do continente.

Cada grupo banto possuía suas especificidades econômicas, políticas, sociais e culturais. No entanto, a prática agrícola era comum a todos os povos bantos. Nas savanas do Congo, por exemplo, o método das queimadas, empregado para limpar o terreno para a agricultura, combinado com o sistema de rodízio, foi predominante. Outros povos aproveitaram as inundações periódicas do rio Zambeze para desenvolver complexos sistemas de irrigação.

Na África Oriental, na região que se estendia do atual Quênia até Moçambique, os bantos cultivavam cereais, raízes e tubérculos, dominavam técnicas de metalurgia e criavam gado.

Os povos bantos mantinham contato com diferentes sociedades, como a dos cuxitas e a dos nilotas, e com os mercadores árabes vindos do norte. Com os africanos islamizados, por exemplo, aprenderam a utilizar atabaquesglossário e desenvolveram uma comunidade étnica com influências árabe e banta, a suaíliglossário ou swahili.

Gravura. Sobre um fundo branco, no centro, vista de frente, uma  mulher negra com o torso nu, em pé, usando, sobre a cabeça, um chapéu sem abas branco com adornos vermelhos e fitas vermelhas descendo da cabeça até a altura da cintura. Ela usa alguns colares de contas azuis ao redor do pescoço, um lenço amarelo cruzando o torso do ombro direito até a cintura e um lenço amarelo ao redor da cintura, amarrado com um laço logo abaixo do umbigo. Nos braços e punhos, ela usa fitas cor de rosa amarradas e, na parte inferior do corpo, veste uma saia azul com bolinhas na altura abaixo do joelho. Perto do ombro direito, ela leva uma planta com folhas de cor verde e frutos arredondados de cor rosa. Ela está descalça, em pé sobre o solo coberto de grama verde; há vegetação verde, com alguns arbustos à esquerda e à direita.
Representação de uma mulher do grupo linguístico banto. Século dezenove. Gravura. Biblioteca de Artes Decorativas, Paris, França.

Os povos bantos no Brasil

O maior grupo de africanos escravizados trazidos ao Brasil nos séculos dezesseis e dezessete tinha origem banta. Os povos bantos trabalharam nos canaviais da Bahia e de Pernambuco e nas plantações de cana e café de São Paulo e do Rio de Janeiro. Também trabalharam nas minas de ouro nas regiões dos atuais estados de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais.

A influência banta no português falado e escrito no Brasil é muito grande. Palavras como caçula, banda, sunga, tanga, quitanda, cachimbo, tutu, entre outras, são derivadas do quimbundo, do tronco linguístico banto.

Respostas e comentários

Orientações

Segundo o sociólogo Reginaldo Prandi, os bantos falam entre setecentase duas mil línguas e dialetos aparentados. Entre as principais línguas desse tronco, estão o ajauá, falado em regiões de Moçambique, Malauí e Zimbábue; o ganguela, na fronteira leste de Angola e oeste de Zâmbia; o iaco-cuango-casai, na República Democrática do Congo (antigo Zaire); o macua, em Moçambique; o quicongo, no Congo e em Angola; o quimbundo, em regiões da Angola; o quinguana, na República Democrática do Congo; o ronga, em Moçambique e Zimbábue; o suaíli, na Tanzânia, em Zanzibar e Moçambique; o suto, na África do Sul; o tonga, em Moçambique e Zimbábue; o umbundo, em Angola, abaixo do rio Quanza e na região de Benguela.

Texto complementar

Sobre a religião dos povos bantos e a relação que estabelecem com a ancestralidade, a historiadora Marina de Mello e Souza escreveu:

Nos sistemas de pensamento de povos da África Central, pertencentes ao tronco linguístico banto, o mundo se divide entre uma parte habitada pelos vivos e outra habitada pelos mortos, espíritos e entidades sobrenaturais. Era com essas fôrças que as pessoas buscavam orientação para lidar com os problemas. reticências

Na esfera do sobrenatural estavam os mortos, alguns elevados à condição de ancestrais, figuras em tôrno das quais alguns povos familiares se organizavam. Eles podiam ser líderes que haviam comandado migrações e fundado novas aldeias; podiam ter introduzido um novo saber, como cultivar uma planta, processar um alimento, uma bebida reticências.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. terceira edição São Paulo: Ática, 2019. página 44.

Observação

O trabalho com o conteúdo sobre a diversidade dos povos bantos possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

O Reino do Congo

O Reino do Congo, um dos mais importantes reinos bantos, situava-se em terras que hoje correspondem a Angola, Congo e República Democrática do Congo, países localizados na região da África Centro-Ocidental. Ele surgiu, provavelmente, entre os séculos treze e catorze e estava dividido em províncias e pequenas aldeias. O reino era controlado por um rei, chamado de mani congo (espírito superior), que utilizava objetos que simbolizavam seu poder e o diferenciavam do restante da população, como um chapéu, um tambor, um bracelete de cobre ou marfim e um trono. O rei também nomeava governadores (vindos das famílias aristocráticas) para auxiliá-lo na administração das províncias.

A capital do Reino do Congo era Mubanza Congo, uma praça forte, cercada de muralhas, e também um grande centro comercial. O comércio era a principal atividade econômica dos congoleses. Entre os produtos comercializados no reino, destacavam-se o sal marinho, os metais, os tecidos de fibra e o marfim. As transações comerciais eram feitas por meio do escambo ou com o uso do nzimbu, uma espécie de concha encontrada na ilha de Luanda que servia como moeda.

No Reino do Congo, as famílias aristocráticas, ligadas ao rei por laços de parentesco, cuidavam da administração das províncias. Essa elite era mantida pelos tributos cobrados pelos chefes das aldeias. A vida do rei, da sua côrte e da aristocracia contrastava com a pobreza dos camponeses e dos escravizados.

No século quinze, após os primeiros contatos com os portugueses, o rei do Congo se converteu ao catolicismo e foi batizado com o nome de Dom João. A capital do reino passou a se chamar São Salvador do Congo. Iniciava-se, dessa fórma, uma forte presença portuguesa no Reino do Congo.

A região do Reino do Congo (SÉCULO XVI)

Mapa. A região do reino do Congo. Século 16. Mapa representando o sul e o centro do continente africano. Um território está destacado em verde. Há nomes de regiões e hidrografia sinalizada. Em verde, em destaque, a 'Região do Reino do Congo', na costa oeste da África, entre o sul da foz do Rio Congo e a região ao norte do rio Kwanza, no território que hoje corresponde à Angola. Destaque para as cidades de M’Banza e Luanda. Ao sul do rio Kwanza, o Ndongo; ao norte do Congo, Loango Kakongo. Outros destaques: à leste do Reino do Congo, Kouba e Lunda; a noroeste do Lago Vitória, Kitara; a oeste do Lago Niassa, Maravi; ao sul do Lago Niassa, Lundu; e na região do Rio Zambeze, Monomotapa. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 450 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas historique mondial Paris: Larousse, 2003. página 216.

Ícone. Sugestão de vídeo.

ATLÂNTICO Negro: na Róta dos Orixás. Direção: Renato Barbieri. Brasil, 1998. Duração: 75 minutos. O documentário aborda as relações entre Brasil e África, tendo como foco a religiosidade.

Respostas e comentários

Atividade complementar

Antes de fechar o estudo desta Unidade, proponha aos estudantes que pesquisem algum aspecto da cultura africana na internet. A atividade permite que os estudantes possam explorar outros temas e informações relacionados aos diversos povos e culturas africanas, entrando em contato com fontes documentais e linguagens variadas, como objetos artesanais, máscaras, elementos gráficos, arquitetura, tecidos, mitos, músicas, imagens, fotografias, depoimentos, arquivos sonoros e audiovisuais, por exemplo. Peça aos estudantes que se organizem em grupos e escolham o tema de seu interesse. Sugira a pesquisa em alguns sáites confiáveis para que eles possam ter acesso a acervos ricos em informações. Alguns sáites interessantes para consulta são: Acervo África, https://oeds.link/TyllDD, que disponibiliza fotografias de diversos povos e localidades do continente africano; Museu Afro-Brasil, https://oeds.link/RG4cPy, onde é possível visualizar parte do acervo do museu; Laboratório de Estudos de História da África da Universidade Federal de Santa Catarina, https://oeds.link/69FVLc, que disponibiliza registros visuais e sonoros produzidos por artistas de diversos países africanos. Acessos em: 21 fevereiro 2022.

A pesquisa proposta nesta atividade complementar incentiva o trabalho com análise de mídias sociais, revisão bibliográfica e observação, tomada de nota e construção de relatórios.

Observação

O trabalho com o conteúdo sobre o Reino do Congo possibilita, mais uma vez, o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três.

Ícone. Sugestão de site.

Sugestão para o professor:

HISTÓRIA geral da África. Disponível em: https://oeds.link/g8ygWP. Acesso em: 21 fevereiro2022.

A coleção História geral da África, composta de oito volumes, traz textos de africanistas e historiadores africanos. Produzida com grande rigor historiográfico, a obra pretende revelar aspectos da cultura e organização social da África a partir de um ponto de vista africano.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. No português do Brasil, há muitas palavras originadas do quimbundo, uma das línguas bantas mais faladas na África. Observe algumas delas a seguir, com o nome original entre parênteses. Anote em seu caderno o significado das palavras que você conhece. Depois, consulte um dicionário e descubra o significado das demais palavras.

bobó (mbombo) — canjica (kanjika) — cabaça (kabása) — curinga (kuringa) —gingar (kujinga) — jiló (njilu)  maxixe (maxixi) — minhoca (nhoka) —moleque (muleke) — quibebe (kibembe) —quitanda (kitanda) — tutu (kitutu)

2 . O texto a seguir trata da Lei nº 10 639, de 2003, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas do Brasil (em todos os estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio).

reticências o movimento negro passou a exigir do sistema educacional formal o reconhecimento e a valorização da história dos descendentes de africanos e o respeito à diversidade, identificando na educação a possibilidade de se construir uma identidade negra positiva. É um esfôrço que visa não apenas mudar o branco, mas o próprio negro, por meio do fortalecimento de sua identidade étnica e autoestima.

MACHADO, Sátira. Perguntas frequentes sobre a Lei /. In: MACHADO, Sátira. Blog Criança e Negritude. Viamão, 8 janeiro 2003. Disponível em: https://oeds.link/mciMzQ. Acesso em: 25junho 2022.

  1. Explique a importância da Lei nº 10 639 para a sociedade brasileira como um todo.
  2. Retome os conhecimentos que você adquiriu neste Capítulo e identifique pelo menos três exemplos que contribuem para a construção de uma identidade negra positiva.

3. Como estudamos, os primeiros contatos entre o Reino do Congo e os portugueses ocorreram no século quinze. Leia mais sobre esse assunto no texto a seguir.

Quando os portugueses chegaram ao reino do Kongo [Congo] encontraram um sistema de mercados rotativos e uma moeda nacional (nizimbu) perfeitamente implantada em todo o território. Foi por isso bastante simples iniciar uma relação comercial com este povo.

Os primeiros produtos trocados foram essencialmente cobre e marfim, mas rapidamente os portugueses passariam aos escravos. Este interesse pela mão de obra escrava foi aumentando, criando uma demanda cada vez maior, fazendo com que se desenvolvesse uma rede de compra e venda de mão de obra escrava cada mais estruturada.

BARREIRA, João do Nascimento Marques. Rede de caminhos no Reino do Kongo. 2018. Dissertação (Mestrado em Arqueologia e Território) – Universidade de Coimbra, Portugal, 2018. volume um. página 20. Disponível em: https://oeds.link/wPCUPb. Acesso em: 2 fevereiro 2022.

  1. Segundo o texto, por que, para os portugueses, iniciar relações comerciais com o Reino do Congo foi algo simples?
  2. Qual era o nome da moeda utilizada no Reino do Congo?
  3. Que produtos eram adquiridos pelos portugueses no Reino do Congo a partir do século quinze?
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objeto de conhecimento

Saberes dos povos africanos e pré-colombianos expressos na cultura material e imaterial.

Habilidade

São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:

ê éfe zero sete agá ih zero três (atividades 1, 2, 3)

Respostas

1. Resposta pessoal. Para conhecer outras palavras de origem africana, sugerimos a consulta a BRANDÃO, Ana Paula (coordenação). Memória das palavras. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006. Disponível em: https://oeds.link/U34mdf. Acesso em: 21 fevereiro. 2022. A pesquisa proposta nesta atividade incentiva o trabalho com observação, tomada de nota e construção de relatórios.

2. a) A Lei nº 10 639 representou um grande avanço para o movimento negro, para os afrodescendentes, para a educação brasileira e a sociedade brasileira como um todo. Ela garantiu que a história e a cultura afro-brasileiras fizessem parte do currículo obrigatório das escolas, promovendo, assim, o respeito à diversidade, o reconhecimento e a valorização da cultura africana, da identidade negra e das inúmeras contribuições dos afrodescendentes na formação da nossa sociedade.

b) Resposta pessoal.

3. a) Quando os portugueses chegaram ao Reino do Congo, encontraram já implantados um mercado rotativo e moeda local. Por isso, foi relativamente fácil dar início às relações comerciais com esse povo.

b) O nome da moeda do Reino do Congo era nizimbu.

c) Os portugueses adquiriam, em um primeiro momento, cobre e marfim, depois passaram também a adquirir escravizados no Reino do Congo.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

, kabenguelê; GOMES, Nilma Lino. Negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2016.

Os autores, nesta obra, procuram reconstruir a história dos povos africanos no Brasil, valorizando diferentes aspectos de nossa identidade afro-brasileira.

SILVA, Alberto da Costa e. A África e os africanos na história e nos mitos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2021.

Nesta obra, Alberto da Costa e Silva traça um panorama da história do continente africano, reunindo e analisando fragmentos de histórias orais, transcrições de época e relatos de viajantes, estudiosos e linguistas.

Ícone. Ilustração do globo terrestre circundado por uma linha amarela, simulando a trajetória da Lua em torno do planeta, indicando a seção Ser no mundo.

Ser no mundo

Multiculturalismo.

Quilombolas brasileiros visitam a África

Nesta Unidade, você percebeu que conhecer a história e a cultura dos povos africanos é uma fórma de compreender a diversidade cultural brasileira. Os diferentes povos africanos trazidos ao Brasil na condição de escravos, entre os séculos dezesseis e dezenove, tiveram papel fundamental na formação de nossa sociedade.

Muitos escravizados de origem iorubá trazidos para o Brasil vieram da região onde hoje se localiza o Benin. Logo após a abolição da escravidão no Brasil, em 1888, alguns afrodescendentes brasileiros voltaram para a África, levando consigo diversas influências culturais brasileiras. Ao se estabelecerem no Benin, esses afrodescendentes regressados formaram comunidades e ficaram conhecidos como agudás.

E você sabia que aqui, no Brasil, a história dos agudás foi relembrada e valorizada no ano de 2011? Naquela ocasião, alguns membros da comunidade religiosa da Casa Fanti na cidade de São Luís, no Maranhão, viajaram ao Benin. Essa viagem foi parte de um projeto artístico chamado Pedra da Memória, que pretendia valorizar e expor manifestações culturais do Brasil e do Benin, mostrando o diálogo que ocorre entre esses dois países. O projeto deu origem a um livro, um documentário e exposições fotográficas.

Fotografia. Vista de local aberto. No centro, escadaria de cor marrom clara, vista de baixo para cima em toda sua extensão, com degraus largos e baixos, onde há um homem visto de costas, subindo, vestido com camisa de manga curta e calça estampada ambas de cor azul com detalhes em amarelo. À esquerda e à direita da escadaria, casas de paredes de cor de terracota com vigas em bege. À esquerda, uma escultura vista lateralmente, feita de ferro, com o formato de uma mulher segurando uma chave grande. Ao fundo, árvores com folhas  verdes. No alto, o céu azul claro sem nuvens.
Escadaria com arquitetura tradicional em Pôrto Novo, no Benin. Fotografia de 2019.

Pedra da Memória teve como proposta uma investigação estética entre os gêneros tradicionais cultivados no Brasil e no Benin (África Ocidental), revelando seus vínculos e particularidades. O projeto promoveu um diálogo entre a cultura dos dois países, ao levar às comunidades de culto vodun no Benin uma comitiva da Casa Fanti Axânti.

reticências

Esse contraponto, na outra margem, se evidencia na cultura dos Agudás, que hoje representam 10% da população do Benin. A influência brasileira lá é surpreendente e pouco conhecida. reticências

Respostas e comentários

Seção Ser no mundo

Em consonância com a Competência Geral da Educação Básica número3, esta seção propicia ao estudante a valorização e a fruição de manifestações culturais do Brasil e do Benin, favorecendo o reconhecimento da diversidade cultural e a comunicação entre diferentes povos do mundo.

Os conteúdos trabalhados nesta seção também buscam propiciar aos estudantes o desen­volvimento das Competências Específicas do Componente Curricu­lar História número 1, número 4 enúmero5, incentivando os jovens a Compreender acontecimentos históricos, re­lações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo (1); Identificar interpretações que expressem visões de dife­rentes sujeitos, culturas e po­vos com relação a um mesmo contexto histórico; Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levan­do em conta o respeito e a so­lidariedade com as diferentes populações.

Habilidade

ê éfe zero sete agá ih zero três: Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.

Orientações

A seção apresenta algumas conexões entre África e Brasil na atualidade, partindo de uma dupla perspectiva: a existência de comunidades formadas por africanos que foram trazidos ao Brasil como escravizados no período colonial e que após a abolição regressaram à África. Essa importante experiência, pouco divulgada e discutida entre nós, revela os laços estreitos entre Brasil e África na atualidade. Os agudá, como são chamados, são os africanos de origem iorubá e seus descendentes que regressaram ao Benin. Eles procuram preservar as influências culturais e históricas do período em que viveram no Brasil. Muitas manifestações culturais foram levadas por eles para a África, práticas específicas que surgiram do encontro multiétnico e multicultural entre povos africanos diversos que compartilharam experiências durante a época escravista no Brasil. O trabalho com esta seção propicia a abordagem do tema contemporâneo Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

O Brasil está presente na arquitetura, culinária, língua e diversos outros aspectos culturais do país africano. Cultivando há mais de um século, com impressionante dedicação, as tradições de seus antepassados como o Carnaval, a Festa do Senhor do Bonfim e a Burrinha (aparentada ao Bumba meu boi), os Agudás se consideram brasileiros, e invertem desconcertantemente nossa noção de ancestralidade.

PEDRA da Memória: diálogos Brasil Benin. Disponível em: https://oeds.link/Vv7nmO. Acesso em: 2 fevereiro 2022.

Fotografia. Em um local fechado de paredes de cor bege claro com janelas em forma de arco, dezenas de pessoas, a maioria mulheres, em pé, em uma fia formada num corredor entre cadeiras de madeira. Há também um homem em pé tirando fotografias (à esquerda) e outro, idoso, sentado sobre uma cadeira (à direita). À frente, três mulheres usando turbantes brancos, vestidas com blusas brancas (uma usa uma blusa de renda, as outras duas usam blusas brancas estampadas) e saia longa (uma com uma saia azul, as outras duas com saias brancas, todas elas com estampas de folhas amarelas, verdes e azuis). As mulheres usam colares ao redor do pescoço e brincos. Duas delas, à esquerda, usam faixas verdes cruzadas sobre o corpo. Nas faixas está escrito em amarelo: 'Nosso Senhor Do Bonfim'. A mulher, à esquerda, está à frente das demais. Ela olha para a câmera, usa óculos, está com os lábios abertos, sorrindo e cantando, e segura na mão esquerda, uma bacia redonda azul clara com duas garrafas de bebida dentro. Ao fundo, há outras mulheres com vestes semelhantes, mas com a cabeça descoberta. O fundo está desfocado.
Missa de agudás para o Nosso Senhor do Bonfim, em Pôrto Novo, no Benin, em 2011. Essa tradicional missa, realizada sempre no final do mês de janeiro, é celebrada nos mesmos moldes que a missa ao Nosso Senhor do Bonfim que ocorre em Salvador, na Bahia. Esse é mais um exemplo que mostra a presença da influência afro-brasileira no Benin.
Fotografia. Vista de local aberto, com uma construção em destaque, vista frontalmente, uma grande mesquita em um patamar mais elevado que a rua. Em tons de marrom (nas laterais) e amarelo (no centro), ela possui duas torres laterais e uma fachada elevada com um frontão em forma de triângulo. À frente, cinco portas de entrada, em forma de arco, acessíveis por uma escadaria lateral. As torres são simétricas, e possuem três pavimentos, cada um com uma pequena janela em formato de arco. Em primeiro plano, a rua onde há um homem caminhando e outras duas pessoas: uma em uma moto, outra em pé, ao lado da moto.  À esquerda e à direita, vista parcial de outras construções. No alto, o céu azul claro sem nuvens.
A Grande Mesquita de Pôrto Novo, em Benin, de estilo barroco, foi construída por retornados brasileiros, conhecidos como agudás. Fotografia de 2021.
  1. Considerando a viagem que os membros da comunidade religiosa do Maranhão fizeram ao Benin, elabore um texto sobre a importância da preservação da cultura africana para os afro-brasileiros.
  2. Os agudás são afro-brasileiros regressados ao Benin. Segundo o texto, quais foram as influências mais marcantes dessas comunidades no país africano? Cite também algumas das manifestações culturais afro-brasileiras praticadas até os dias de hoje no Benin.
  3. Na sua opinião, por que a relação que os agudás estabelecem com o Brasil e a cultura afro-brasileira é importante para a construção de suas memórias e identidades?
Respostas e comentários

Questões para autoavaliação

Ao final de cada Unidade deste livro, incluímos questões que podem ser sugeridas aos estudantes para que eles realizem uma autoavaliação sobre o que apreenderam ao estudar os conteúdos da Unidade. Eles podem respondê-las de fórma escrita, individualmente, ou podem conversar sobre elas em duplas ou em grupos, de maneira a incentivar a oralidade e a troca de ideias na sala de aula. As questões aqui apresentadas também podem ser utilizadas para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estudantes.

Nesta primeira Unidade do livro, as questões sugeridas são:

1. Quais são as principais características dos reinos de Gana e do Mali?

2. Como o comércio caravaneiro integrou diferentes regiões do continente africano?

3. Como foram estabelecidas as relações comerciais da África com outros continentes?

4. Quem eram e onde viviam os povos iorubás e bantos?

Respostas

1. Resposta pessoal. O estudante deve refletir sobre a importância da preservação e do reconhecimento da cultura africana pelos afro-brasileiros, o que fortalece não apenas a compreensão de sua história, como também seus vínculos identitários. A escravidão, a dominação colonial, o eurocentrismo e a exclusão social promoveram a marginalização dos negros. Assim, os afrodescendentes tiveram de construir seu sentimento de pertencimento em uma sociedade que, em grande medida, não valoriza suas experiências e sua cultura. Por essa razão, a memória e o conhecimento que os aproxima da África consolida a noção de pertencimento e valoriza suas identidades.

2. A influência brasileira no Benin, com a presença dos agudás, pode ser observada na arquitetura, na culinária e em diversos aspectos e diferentes manifestações culturais, como o Carnaval, a Festa do Senhor do Bonfim e a Burrinha (aparentada ao Bumba meu boi).

3. Os agudás se consideram brasileiros. Apesar de terem regressado ao país africano, eles buscam preservar a memória de sua experiência no Brasil. Durante o período da escravidão, diversos povos africanos vieram para o Brasil, construindo, assim, uma cultura afro-brasileira que se relaciona com a ancestralidade africana, sem, no entanto, negar as particularidades de sua experiência histórica.

Glossário

Goma
Seiva translúcida e viscosa produzida por algumas espécies de árvores.
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Âmbar
Resina fóssil de cor amarelada encontrada em solos aluviais. É utilizada na fabricação de objetos ornamentais, como joias.
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Atabaque
Instrumento de percussão usado em danças e cerimônias (religiosas ou profanas) africanas e afro-brasileiras.
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Suaíli
População que se desenvolveu nas ilhas e na costa oriental da África a partir do séculodoze. Tinha como principais atividades a agricultura, a pesca e o comércio. Por meio do comércio com os árabes, os suaílis converteram-se ao islã.
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