UNIDADE dois A EUROPA MODERNA EM FORMAÇÃO
Você estudará nesta Unidade:
O Renascimento
O Humanismo
A Reforma protestante
A Contrarreforma
A arte renascentista
O absolutismo
O mercantilismo
Respostas e comentários
Apresentação
Esta Unidade, “A Europa moderna em formação”, relaciona-se às seguintes Unidades Temáticas da Bê êne cê cê do 7º ano: O mundo moderno e a conexão entre sociedades africanas, americanas e europeias; Humanismos, Renascimentos e o Novo Mundo; A organização do poder e as dinâmicas do mundo colonial americano; e Lógicas comerciais e mercantis da modernidade.
Em consonância com a Competência Geral da Educação Básica número 1, a Unidade propicia ao estudante utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social e cultural para entender e explicar a realidade.
Além disso, em algumas atividades, tanto nesta Unidade como em outros momentos ao longo deste volume, os estudantes podem compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de fórma crítica, o que propicia o desenvolvimento da Competência Geral da Educação Básica número5.
Os conteúdos trabalhados também permitem desenvolver as Competências Específicas do Componente Curricular História número1, número 2, número 6 e número 7 e levar os estudantes a: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais reticências (1), Compreender a historicidade no tempo e no espaço reticências (2), Compreender e problematizar os conceitos e procedimentos norteadores da produção historiográfica (6) e reticências avaliar e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de modo crítico reticências (7).
No final da Idade Média, novas práticas e mentalidades se tornaram cada vez mais presentes na sociedade europeia. O feudalismo estava em crise e um novo grupo social surgia: a burguesia.
Esse período de transformações políticas, econômicas e sociais tomou fórma nos séculos catorze e quinze. Essas transformações se consolidaram e se integraram a uma nova visão de mundo.
Os artistas e os intelectuais da época procuravam se diferenciar do pensamento e da cultura medievais. Para isso, passaram a buscar inspiração na Antiguidade clássica, considerada por eles um período de grandes realizações. Era o início do movimento que ficou conhecido como Renascimento.
Como será que as transformações que ocorreram na Europa ocidental nos séculos catorze e quinze originaram um novo modo de pensar e de ver o mundo? Como esse novo modo de pensar se manifestou no campo das artes, no das ciências e no da religião? O que você sabe sobre esse assunto?
Respostas e comentários
Nesta Unidade
O individualismo, o hedonismo, a busca de explicações racionais para os fenômenos da natureza e a valorização da ação do ser humano são características que marcaram o pensamento ocidental a partir do início dos tempos modernos.
Uma nova visão sobre o ser humano, o mundo e a religião estava se formando e expressou-se particularmente em dois movimentos: a Reforma protestante e o Renascimento.
Essa revolução na mentalidade europeia amparou-se e foi impulsionada pelos interesses e pelas expectativas dos novos atores sociais que surgiram com o desenvolvimento comercial e urbano, como o mercador, o banqueiro, o artesão profissional urbano, o príncipe poderoso e o intelectual desvinculado da Igreja.
Foi nesse contexto de transformações que os Estados modernos se formaram e se fortaleceram no Ocidente europeu. Todas essas mudanças prepararam a Europa para o desenvolvimento da sociedade capitalista.
Objetos de conhecimento trabalhados na Unidade
• A construção da ideia de modernidade e seus impactos na concepção de História.
• A ideia de “Novo Mundo” ante o Mundo Antigo: permanências e rupturas de saberes e práticas na emergência do Mundo Moderno.
• Humanismos: uma nova visão de ser humano e de mundo.
• Renascimentos artísticos e culturais.
• Reformas religiosas: a cristandade fragmentada.
• A formação e o funcionamento das monarquias europeias: a lógica da centralização política e os conflitos na Europa.
• As lógicas mercantis e o domínio europeu sobre os mares e o contraponto oriental.
• A emergência do capitalismo.
CAPÍTULO 3 O RENASCIMENTO
Na Europa da Idade Média, quem cuidava das escolas e das universidades era a Igreja católica. Para os membros do clero, havia um único caminho de compreensão da vida: o da fé e da religião. Assim, defendiam uma visão teocêntrica, segundo a qual a vida deveria ser guiada pela crença na vontade de Deus, que era considerado o centro do Universo. Mesmo os pensadores de uma corrente filosófica chamada de Escolástica, que procuraram conciliar a fé e a razão, defendiam que a verdade absoluta estava na palavra de Deus revelada nas Escrituras.
Contudo, essa fórma de contemplar o mundo já não correspondia às transformações que estavam em curso na Europa desde o século onze, como a urbanização, a intensificação do comércio e o surgimento de um novo grupo social, a burguesia, que enriquecia graças às atividades comerciais. Nesse contexto, foram surgindo ideias que pretendiam renovar os estudos tradicionais por meio da valorização de outras áreas do conhecimento, como História, Filosofia, Literatura, Retórica e Matemática.
Surgia na península Itálica, em fins do século catorze e início do quinze, um movimento intelectual e cultural que expressava o novo modo de pensar que se desenvolvia na Europa, e que ficou conhecido como Renascimento.
Respostas e comentários
Sobre o Capítulo
Retome com os estudantes as visões de mundo e os valores que predominaram durante o período medieval. Pergunte por que o movimento intelectual que surgiu nas ricas cidades italianas e se desenvolveu entre os séculos catorze e dezesseis foi chamado de Renascimento. Por que os artistas e intelectuais renascentistas utilizavam esse termo para definir suas produções? O que eles pretendiam fazer “nascer de novo”? Para a compreensão do Renascimento como movimento de renovação cultural, é importante retomar as transformações ocorridas na Baixa Idade Média, assim como a diferença entre o modo de viver na cidade e no campo e as respectivas diferenças de valores e atitudes diante do mundo e da fé.
Nesse contexto, podemos relacionar o Humanismo, a arte, a literatura e a ciência renascentistas com a mentalidade urbana e comercial, laica e burguesa, que começou a se desenvolver na Baixa Idade Média. Na época do Renascimento, formaram-se as bases do pensamento moderno, que atingiu sua fase madura com a revolução científica e o iluminismo nos séculos dezessete e dezoito. Lembrando que o mundo contemporâneo é herdeiro dessas tradições, é interessante estabelecer, sempre que possível, relações entre os valores, a cultura e as práticas sociais do período estudado com os do tempo presente.
Este conteúdo possibilita ainda o trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.
Observação
A abordagem do conteúdo desta página permite iniciar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo
ê éfe zero sete agá ih zero um: Explicar o significado de “modernidade” e suas lógicas de inclusão e exclusão, com base em uma concepção europeia.
ê éfe zero sete agá ih zero quatro: Identificar as principais características dos Humanismos e dos Renascimentos e analisar seus significados.
Uma nova visão de mundo
O termo “Renascimento” era utilizado pelos próprios artistas da época para definir suas obras em contraposição à produção artística medieval.
Contudo, é importante notar que a visão de mundo divulgada pelos renascentistas contribuiu para a consolidação da ideia de que a Idade Média foi um período de atraso, um milênio de trevas durante o qual o conhecimento da Antiguidade clássica teria “desaparecido”.
Essa concepção a respeito da Idade Média é equivocada, pois a cultura greco-romana continuou presente ao longo da Idade Média, na Literatura, nas teorias políticas, na Educação, na Filosofia etcétera. Além disso, a Idade Média foi uma época marcada por importantes estudos, invenções e uma produção artística intensa.
Outro problema decorrente dessa nova visão de mundo divulgada pelos renascentistas é acreditar que qualquer expressão cultural possa surgir fóra de seu tempo. Ainda que os renascentistas desejassem fazer “renascer” a cultura greco-romana, eles criaram um estilo artístico que expressava algo novo, refletindo os indivíduos e a sociedade do final da Idade Média.
Esses artistas eram pessoas de seu tempo, ou seja, viviam em um mundo em que as ideias religiosas do cristianismo ainda tinham muita fôrça, enquanto novos valores se desenvolviam rapidamente. Uma das concepções que começou a ser construída nessa época foi a de modernidade. Porém a passagem para o "novo mundo", o mundo moderno, tinha como centro a história da Europa e desconsiderava os processos históricos e culturais vivenciados por diversos povos.
PROENÇA, Graça. Descobrindo a história da arte. São Paulo: Ática, 2019. Nesta obra é possível encontrar um vasto panorama da história da arte, incluindo informações e imagens de obras de artistas do Renascimento.
Respostas e comentários
Orientações
Comente com os estudantes que os renascentistas queriam fazer “nascer de novo” a Antiguidade clássica, considerada por eles uma época de grande esplendor. De acôrdo com essa ideia, a cultura greco-romana teria desaparecido na Idade Média, vista como um período de obscurantismo, de fanatismo religioso e de atraso cultural. Hoje se sabe que a Idade Média não foi um período de estagnação e que os artistas renascentistas produziram uma expressão artística em consonância com o seu tempo.
Estimule os estudantes a refletirem sobre a concepção de renascimento histórico e artístico e de criação de um novo mundo divulgada pelos renascentistas. Discuta com eles que essa visão tinha como base uma noção da história europeia, dividida em um passado considerado obscurantista e um presente relacionado ao novo, à concepção de modernidade que começava a ser construída. É interessante também conduzir uma reflexão com os estudantes sobre o início da construção da ideia de modernidade nesse período do Renascimento, que teve como referência a história da Europa. Se desejar, você pode indagá-los, por exemplo, se outras culturas e povos que não passaram pela Idade Média e o Renascimento podem estar integrados ao processo de passagem para a modernidade. Para aprofundar a abordagem do tema, você pode propor ainda uma pesquisa sobre o conceito de modernidade.
Comente que a península Itálica foi berço do Renascimento devido, também, ao fato de ter sido séde do Império Romano do Ocidente. Muitas obras, documentos e monumentos do período clássico foram preservados na região.
Incentive os estudantes a observar a pintura A nau dos loucos, de . A obra foi produzida em um período de profundas crises e transformações na Europa. É possível observar alguns costumes e valores da sociedade medieval representados de maneira alegórica na cena, como a devassidão, a cobiça, a trapaça e os pecados praticados por diversos grupos sociais. A maneira como o pintor apresenta esses elementos evidencia a sua crítica à sociedade europeia da época. iêrônimus bós
Observação
A abordagem sobre os novos valores e concepção dos renascentistas pode ser uma boa oportunidade para desenvolver a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero um e aspectos da habilidade . ê éfe zero sete agá ih zero quatro
O Humanismo
O período de grandes transformações pelo qual passava a Europa propiciou o desenvolvimento do Humanismo, movimento intelectual do Renascimento que surgiu nos centros urbanos mais prósperos da península Itálica. O Humanismo voltava-se para a busca do conhecimento sobre o ser humano e a natureza por meio da investigação, da observação e da crítica, valorizando a razão e o raciocínio lógico.
Os humanistas questionavam a submissão das pessoas e também a devoção religiosa como centro da existência e a vida contemplativa, que eram características da época medieval. O movimento buscava, então, apoiar uma postura mais ativa, inventiva, observadora e capaz de usufruir do seu mundo e de seu tempo.
Assim, em substituição à visão teocêntrica, os humanistas defendiam o antropocentrismo, que colocava o ser humano no centro do Universo. O homem, no lugar de Deus, deveria ser a medida de todas as coisas.
Vale considerar, no entanto, que os humanistas não eram ateus, embora defendessem a busca da verdade por meio da investigação e da reflexão racional.
Observe, por exemplo, como o poeta inglês Uíliam Xêiquispíer, em sua famosa obra Hamlet, expressou essa nova visão sobre o ser humano:
Que obra-prima, o homem! Quão nobre pela razão! Quão infinito pelas faculdades! Como é significativo e admirável na fórma e nos movimentos!
Nos atos quão semelhante aos anjos! Na apreensão como se aproxima aos deuses, adorno do mundo, modêlo das criaturas!
Xêiquispíer, Uílliam. A trágica história de Hamlet. [ sem local]: Ridendo Castígat Mores, 2000. E-book.
Respostas e comentários
Orientações
Inicialmente, o termo “humanista” era aplicado apenas aos reformadores educacionais, mas, aos poucos, também passou a denominar professores e estudantes, cientistas e clérigos, artistas e poetas que acreditavam no ser humano e em sua capacidade criadora.
Comente com os estudantes que, além do antropocentrismo e do racionalismo, o Humanismo estava associado a outros valores burgueses que floresciam na época, como o otimismo (pensamento positivo e aberto em relação ao novo) e o individualismo (afirmação da liberdade do indivíduo em relação à sociedade).
Observação
O conteúdo abordado nesta página sobre o Renascimento e o Humanismo propicia o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Sugestão para o estudante:
A MEGERA domada. Direção: Franco Zefiréli. Estados Unidos/Itália, 1967. Duração: 122 minutos
É possível conhecer um pouco mais a obra desse famoso dramaturgo, Uíliam Xêiquispíer, assistindo à montagem do cineasta Franco Zefiréli da comédia A megera domada.
O espírito científico
Os estudiosos renascentistas buscavam explicar o mundo por meio da observação e da experimentação, do cálculo, do método e do rigor científico, contribuindo para o desenvolvimento do que chamamos de pensamento moderno. Com base nessas concepções, realizaram muitas descobertas e inovações técnicas. Nos campos da Matemática, da Física e da Astronomia, destacaram-se:
• Nicolau Copérnico (1473-1543): astrônomo polonês, contestou a teoria geocêntrica, elaborada pelo grego Ptolomeu e reafirmada pela Igreja católica, segundo a qual a Terra era o centro do Universo. No lugar, defendeu a teoria heliocêntrica, de acôrdo com a qual o Sol era o centro de tudo, e a Terra e os demais planetas giravam em tôrno dele.
(1571-1630): astrônomo e matemático alemão, dedicou-se à observação do planeta Marte e descobriu que os planetas descrevem órbitas elípticas em vez de circulares, como se acreditava até então. Também elaborou as leis sobre o movimento dos planetas.
• Galileu Galilei (1564-1642): astrônomo, matemático e filósofo italiano, aperfeiçoou a luneta, instrumento que lhe permitiu descobrir as luas de Júpiter, os anéis de Saturno, as fases de Vênus e as dimensões da Via Láctea e do sistema solar. Por meio de suas observações, confirmou a teoria heliocêntrica elaborada por Copérnico.
Ler a gravura
• Esta imagem representa a teoria geocêntrica ou a teoria heliocêntrica? Explique.
De olho na Medicina
A Medicina desenvolveu-se bastante nos séculos quinze e dezesseis. O químico e médico suíço-alemão Paracelso, por exemplo, propôs a cura da sífilis pelo mercúrio. O médico espanhol Miguel Servet descobriu o funcionamento da pequena circulação sanguínea, mostrando que o sangue é levado aos pulmões para ser oxigenado, retornando depois ao coração. Já o inglês uíliãm rárvei descobriu o funcionamento da grande circulação sanguínea e afirmou que o coração funciona como uma bomba para manter o fluxo sanguíneo.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Transcrição do áudio
[LOCUTOR]:Carta do cardeal Roberto Belarmino
[LOCUTORA]: O movimento humanista e o Renascimento promoveram inovações científicas muito importantes na Europa entre os séculos XVI e XVII. Uma dessas inovações foi a teoria heliocêntrica do universo, defendida por Galileu Galilei. Essa nova visão provocou duras reações de membros da Igreja, por acreditarem que o teocentrismo seria uma verdade inquestionável da religião cristã. Na carta escrita pelo religioso Roberto Belarmino no século XVII, cuja leitura de alguns trechos você ouvirá a seguir, o problema da oposição da Igreja às ideias humanistas e à postura de Galileu é abordado.
[LOCUTOR 2]: Roberto Belarmino a Paulo Antônio Foscarini. Roma, 12 de abril de 1615. Ao Mui Reverendo Padre Mestre Frei Paulo Antônio Foscarini, Provincial dos Carmelitas da Província da Calábria meu Mui Reverendo Padre, li com prazer a carta em italiano e o escrito em latim que Vossa Paternidade me enviou. Agradeço-lhe por uma e outro e confesso que estão ambos cheios de engenho e de doutrina.
Primeiro. Digo que me parece que Vossa Paternidade e o Senhor Galileu ajam prudentemente, contentando-se em falar por suposição e não de modo absoluto, como eu sempre cri que tenha falado Copérnico. Porque dizer que, suposto que a Terra se move e o Sol está parado, salvam-se todas as aparências melhor do que com a afirmação dos excêntricos e epiciclos, está mencionado muitíssimo bem e não há perigo algum. Isto basta para o matemático. Mas querer afirmar que realmente o Sol está no centro do mundo e gira apenas sobre si mesmo sem correr do Oriente ao Ocidente e que a Terra está no Terceiro Céu e gira com suma velocidade em volta do Sol é coisa muito perigosa não só de irritar todos os filósofos e teólogos escolásticos, mas também de prejudicar a Santa Fé ao tornar falsas as Sagradas Escrituras.
Segundo. Digo que, como o senhor sabe, o Concílio proíbe explicar as Escrituras contra o consenso comum dos Santos Padres. Se Vossa Paternidade quiser ler, não digo apenas os Santos Padres, mas os comentários modernos sobre o Gênesis, sobre os Salmos, sobre o Eclesiastes, sobre Josué, verá que todos concordam em explicar literalmente que o Sol está no céu e gira em torno da Terra com suma velocidade e que a Terra está muitíssimo distante do céu e está imóvel no centro do mundo. Considere agora o senhor, com sua prudência, se a Igreja pode tolerar que se dê às Escrituras um sentido contrário aos Santos Padres e a todos os expositores gregos e latinos. Nem se pode responder que esta não é matéria de Fé, porque, se não é matéria de Fé por parte do objeto, é matéria de Fé por parte de quem fala. Assim, seria herético quem dissesse que Abraão não teve dois filhos e Jacó doze, como quem dissesse que Cristo não nasceu de uma virgem, porque um e outro o diz o Espírito Santo pela boca dos Profetas e Apóstolos.
Terceiro. Digo que, se houvesse verdadeira demonstração de que o Sol esteja no centro do mundo e a Terra no Terceiro Céu e de que o Sol não circunda a Terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso proceder com muita atenção na explicação das Escrituras que parecem contrárias e dizer, antes, que não as entendemos, do que dizer que é falso aquilo que se demonstra. Mas não crerei que há tal demonstração até que me seja mostrada. Nem é o mesmo demonstrar que, suposto que o Sol esteja no centro e a Terra no céu, salvam as aparências, e demonstrar que na verdade o Sol esteja no centro e a Terra no céu. Porque a primeira demonstração creio que possa haver, mas da segunda tenho dúvida muitíssimo grande e, em caso de dúvida, não se deve abandonar a Escritura Sagrada, explicada pelos Santos Padres.
Com o que saúdo afetuosamente Vossa Paternidade e peço a Deus que lhe conceda toda a satisfação.
Respostas e comentários
Orientações
Na época do Renascimento, formaram-se as bases do pensamento moderno, que atingiu sua fase madura com a revolução científica e o iluminismo nos séculos dezessete e dezoito. Lembrando que o mundo contemporâneo é herdeiro dessas tradições, é interessante estabelecer, sempre que possível, relações entre os valores, a cultura e as práticas sociais e religiosas do período estudado com os do tempo presente.
Após o estudo das características do Humanismo, sugerimos que discuta com os estudantes qual seria a visão de mundo que mais se aproxima daquela predominante em nossa sociedade: o teocentrismo medieval ou o Humanismo renascentista? A valorização da razão, do indivíduo, do ser humano e de suas ações, a busca de explicações naturais (leis naturais) para os fenômenos da natureza e a ciência experimental são características da cultura do Renascimento que os estudantes reconhecerão, com facilidade, em nossos tempos.
Além disso, é importante destacar que o conteúdo desta página possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Ciência e Tecnologia.
Observação
O conteúdo abordado nesta página permite, mais uma vez, o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro e aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero um.
Atividade complementar
Sugerimos que o estudo do conteúdo desta página seja ampliado com uma aula que integre conhecimentos de História e Física. Para isso, os professores das duas áreas podem montar uma aula expositiva, incluindo algumas demonstrações para que os estudantes compreendam a importância da teoria heliocêntrica, entre outros avanços científicos da época do Renascimento.
Integrar conhecimentos
História e Ciências
A vida de Galileu
O texto a seguir apresenta um diálogo fictício entre Galileu Galilei e seu aluno e amigo Andrea, em que o cientista explica de maneira experimental a teoria heliocêntrica. Trata-se de uma adaptação da peça A vida de Galileu, escrita pelo poeta e dramaturgo alemão bértold Brécht entre 1938 e 1939.
Galileu – Veja o que eu trouxe para você, ali atrás dos mapas astronômicos.
Andrea – O que é isso?
Galileu – É uma esfera armilar; mostra como as estrelas se movem à volta da Terra, segundo a opinião dos antigos.
Andrea – E como é?
Galileu – Vamos investigar, e começar pelo começo: a descrição.
Andrea – No meio tem uma esfera pequena.
Galileu – É a Terra.
Andrea – A bola embaixo é a Lua, é o que está escrito. Mais em cima é o Sol.
Galileu – E agora faça mover o Sol.
Andrea (movendo as esferas) – É bonito. Mas nós estamos fechados lá no meio.
Galileu – É, foi o que eu também senti, quando vi essa coisa pela primeira vez. Há dois mil anos a humanidade acredita que o Sol e as estrelas do céu giram em tôrno dela. Pois onde a fé teve mil anos de assento, sentou-se agora a dúvida. Todo mundo diz: é, está nos livros – mas nós queremos ver com nossos olhos.
Galileu – Você acabou entendendo o que eu lhe expliquei ontem?
Andrea – O quê? Aquela história do Copérnico e da rotação?
Galileu – É.
Andrea – Não. Por que o senhor quer que eu entenda? É muito difícil!
Andrea – eu vejo que o Sol de tarde não está onde estava de manhã. Quer dizer que ele não pode estar parado! Nunca e jamais!
Galileu – Você vê! O que é que você vê? Você não vê nada! Você arregala os olhos e arregalar os olhos não é ver. (Galileu põe uma bacia de ferro no centro do quarto.) Bem, isto é o Sol. Sente-se aí. (Andrea se senta na única cadeira; Galileu está de pé, atrás dele.) Onde está o Sol, à direita ou à esquerda?
Andrea – À esquerda.
Galileu – Como fazer para ele passar para a direita?
Respostas e comentários
Orientações
O texto escolhido para leitura nesta seção reproduz um diálogo travado entre Galileu e Andrea, extraído de uma adaptação da peça A vida de Galileu, de bértold Brécht. Nesse trecho, Galileu demonstra para Andrea sua tese: é a Terra que se move em tôrno do Sol, e não o contrário, como se acreditava até então. Com base no diálogo, é possível identificar as características do pensamento científico que se desenvolvia na época: a investigação, a experimentação e a importância da observação e da descrição dos fenômenos naturais.
A última questão propõe uma atividade que pode ser desenvolvida de modo interdisciplinar com a área de Ciências, em que o estudante deverá desenvolver outra maneira de demonstrar a ideia de Galileu.
O conteúdo desta página possibilita, novamente, o trabalho com o tema contemporâneo Ciência e Tecnologia.
Observação
O trabalho com esta seção oferece uma oportunidade para ampliar a abordagem da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Sugestões para o estudante:
GUERRA, Andreia . Galileu e o nascimento da ciência moderna. nona edição. São Paulo: Atual, 2019.
A obra apresenta os impactos das ideias de Galileu e a sua importância na constituição da ciência moderna.
s. Galileu Galilei. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
O livro procura elucidar como os conhecimentos da ciência moderna nos campos da Matemática, Física e Astronomia se tornaram o que são graças à difusão das teorias revolucionárias do cientista Galileu Galilei.
Andrea – O senhor carrega a bacia para a direita, claro.
Galileu – E não tem outro jeito? (Levanta Andrea e a cadeira do chão, faz meia-volta com ele). Agora, onde é que o Sol está?
Andrea – À direita.
Galileu – E ele se moveu?
Andrea – Ele, não.
Galileu – O que é que se moveu?
Andrea – Eu.
Galileu (berrando) – Errado! A cadeira!
Andrea – Mas eu com ela!
Galileu – Claro. A cadeira é a Terra. Você está em cima dela. Esta aqui é a Terra; seus pés estão sobre ela Você entendeu isto?
Andrea – Sim.
LISBOA FILHO, Paulo N.; LAVARDA, Francisco C. Galileu. [Adaptado da obra de] . [ sem local, sem nome], [2012]. Disponível em: https://oeds.link/PZKw18. Acesso em: 3 . 2022. fevereiro
- Você acabou de ler um texto teatral. Que elementos do texto confirmam essa afirmação? Reescreva em seu caderno a alternativa correta.
- Presença de um narrador e texto organizado cronologicamente.
- Presença de personagens e texto em fórma de diálogo.
- Linguagem formal e exposição de informações de modo objetivo.
- Galileu Galilei afirma que “há dois mil anos a humanidade acredita que o Sol e as estrelas do céu giram em tôrno dela [a Terra]”. Essa afirmação diz respeito a qual teoria? Ela foi defendida por quem?
- Que teoria Galileu está tentando explicar a seu aluno Andrea?
- As palavras de Galileu apresentam algumas das principais características do Humanismo. Quais são elas? Justifique com passagens do texto.
- Galileu expõe uma teoria a Andrea por meio de um experimento, feito com uma cadeira e uma bacia de ferro. Forme um grupo com seus colegas e, juntos, pensem em outra fórma de explicar essa teoria. Em seguida, apresentem o resultado para a turma.
Respostas e comentários
Sugestão para o professor:
Náis, Atle. Galileu Galilei: um revolucionário e seu tempo. Rio de Janeiro: zarrár, 2015.
Nessa biografia de Galileu Galilei, o autor procura desvendar os momentos mais importantes da formação desse cientista que revolucionou seu tempo e influenciou o pensamento moderno. O livro foi ganhador de prêmio da Noruega de melhor livro de não ficção.
Respostas
1. b.
2. A afirmação de Galileu Galilei diz respeito à teoria geocêntrica, defendida por Ptolomeu e reafirmada pela Igreja católica.
3. Galileu tenta explicar a teoria heliocêntrica de Copérnico, que defendeu a ideia de que a Terra e os demais planetas giram em tôrno do Sol.
4. Podemos identificar diversas características humanistas nas palavras de Galileu, como a busca do conhecimento por meio da pesquisa, da observação e da crítica, o experimentalismo, o raciocínio lógico e o otimismo. São exemplos dos valores humanistas de Galileu todos os questionamentos feitos a Andrea e as frases “Vamos investigar, e começar pelo começo: a descrição”; “E agora faça mover o Sol”; “Pois onde a fé teve mil anos de assento, sentou-se agora a dúvida. Todo mundo diz: é, está nos livros – mas nós queremos ver com nossos olhos”; “Você vê! O que é que você vê? Você não vê nada! Você arregala os olhos e arregalar os olhos não é ver” e “E não tem outro jeito?”.
5. Atividade em grupo. O objetivo desta atividade é fazer com que os estudantes se coloquem no lugar de um cientista humanista, nesse caso, Galileu Galilei, e procurem diferentes caminhos para representar a teoria heliocêntrica. Além de reforçar alguns assuntos estudados nesta Unidade, a atividade também é uma boa oportunidade para incentivar a criatividade e a autonomia dos estudantes e mostrar a eles que existem diversas fórmas para se apresentar um mesmo tema. É importante que, no final da atividade, os estudantes apontem quais foram as dificuldades encontradas para explicar a teoria heliocêntrica.
Observação
As atividades propostas nesta seção possibilitam o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
A difusão de novas ideias
Até a primeira metade do século quinze, os livros eram manuscritos (ou seja, escritos ou copiados à mão, geralmente por monges copistas), mas eles não eram acessíveis a grande parte da população. O fato de serem manuscritos acabava por limitar e encarecer a sua produção. Além disso, grande parte dos livros ficava guardada nas bibliotecas de mosteiros, o que dificultava a difusão do conhecimento.
Essa situação começou a se modificar em 1450, quando o alemão Iorranes Gutembergue desenvolveu, a partir de um modêlo chinês, a prensa de caracteres móveis feitos de chumbo. A prensa era uma máquina que comprimia, em uma superfície, os tipos alfabéticos, que eram embebidos em tinta e, assim, formavam um texto. O invento permitiu agilizar a reprodução de livros em grandes quantidades, barateando os custos e permitindo difundir as ideias humanistas para várias regiões da Europa. Vale ressaltar, porém, que o uso da prensa somente se tornou hegemônico no século dezenove, com a produção industrial de livros.
Perseguições e redes de apôio
Apesar de todas essas inovações, a criação e a difusão de novas fórmas de pensar foram tarefas difíceis nesse período. Isso porque muitas dessas ideias, como a teoria heliocêntrica, eram consideradas subversivas em relação à doutrina da Igreja.
Ao questionar as “verdades” estabelecidas, muitos pensadores e cientistas foram excomungados, perseguidos, torturados e, até mesmo, condenados à morte. Giordano Bruno e Miguel servêt, por exemplo, foram queimados vivos pela Inquisição; Galileu foi repreendido pela Igreja e teve de negar suas descobertas para escapar da condenação à fogueira.
Mas, mesmo com a censura da Igreja, as novas ideias continuaram a florescer. Entre os pensadores renascentistas, estabeleceu-se uma rede de apôio, de troca de ideias, de descobertas, de formação de discípulos e de incremento do ambiente universitário.
Respostas e comentários
Orientações
Outro importante fator que contribuiu para a divulgação do Humanismo foi o surgimento das academias e dos liceus laicos. Até o século , as universidades, controladas pela Igreja, mantinham o método de estudo da Idade Média, a Escolástica, baseado na memorização de algumas obras. As academias e os liceus laicos criados com o Renascimento enfatizavam o estudo do grego e do latim e desenvolviam um conhecimento reflexivo e crítico.
Se achar interessante, comente com os estudantes que a invenção da prensa de caracteres móveis, que permitiu a impressão de obras em larga escala, teve algumas consequências importantes, como o aumento da variedade e da quantidade de obras disponíveis no mercado e o barateamento dos custos de fabricação de um livro. Mas, para que isso ocorresse, foi necessário o desenvolvimento de tintas que não borrassem e de papéis resistentes ao processo de impressão.
A imprensa e as academias foram importantes marcos de desenvolvimento do Humanismo e esses dois processos estão intimamente vinculados. A figura social do cientista é indissociável do capitalismo, bem como a indústria da informação é indissociável da cultura de massas. Assim, há quem sustente que vivemos numa sociedade do conhecimento e da informação.
Observação
O conteúdo abordado nesta página permite a ampliação do desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Sugestão para o estudante:
SILVEIRA, Evanildo da. Quem foi Giordano Bruno, o místico “visionário” queimado na fogueira há 418 anos. bê bê cê, 16 fevereiro. 2018. Disponível em: https://oeds.link/Ut8d3a. Acesso em: 22 fevereiro. 2022.
O artigo aborda a perseguição ao padre e filósofo Giordano Bruno, que, antes mesmo de Galileu, já havia afirmado que a Terra gira em tôrno do Sol. Por essa razão, foi condenado à morte e queimado vivo em praça pública pela Inquisição.
A arte do Renascimento
Como você pôde perceber, o pensamento humanista teve importantes expressões nas mais diversas áreas do conhecimento, como nos estudos de Astronomia de Galileu e de Copérnico, na Literatura de Xêiquispíer, na Química e na Medicina de Paracelso, entre outras. Contudo, foi principalmente nas artes visuais produzidas no Renascimento que o humanismo manifestou o potencial sensível do ser humano e sua capacidade de representar o mundo.
A península Itálica foi o berço desse movimento e também o local onde ele atingiu o esplendor. A riqueza proveniente das atividades comerciais e bancárias permitiu a formação de uma burguesia próspera e orgulhosa do seu poder, que passou a financiar o trabalho de pintores, escultores e arquitetos.
Ao atuar como mecenas, ou seja, como protetores e patrocinadores dos artistas, esses ricos burgueses tinham um duplo objetivo: exibir sua riqueza e seu prestígio e imortalizar sua figura.
A pintura mitológica
A obra Baco e Ariadne, do italiano Ticiano Vetiéli, é considerada a obra-prima da pintura mitológica do Renascimento. Ela mostra Baco (ao centro), deus do vinho, encontrando Ariadne (à esquerda), filha do rei de Creta e sua futura noiva.
No lado direito da pintura, observamos também a figura mítica de Laocoonte lutando contra uma serpente. Sacerdote de Troia, Laocoonte tentou convencer os troianos a recusar o cavalo de madeira oferecido como presente pelos gregos. Como castigo, os deuses gregos enviaram serpentes marinhas, que mataram Laocoonte e seus filhos.
. Xêiquispíer, Uílliam Romeu e Julieta. São Paulo: Moderna, 2016. Essa obra conta uma história de amor envolvendo dois jovens de famílias rivais que viviam na cidade de Verona: Romeu, filho dos Montéquio, e Julieta, herdeira dos Capuleto.
Respostas e comentários
Orientações
Durante o estudo das artes visuais no Renascimento, os estudantes poderão identificar as características desse movimento cultural. Recomendamos que oriente a turma a fazer uma observação cuidadosa das obras reproduzidas nesta Unidade, observando, principalmente, os temas (a referência aos mitos e aos autores da Antiguidade greco-romana), a representação do espaço (com o uso da técnica da perspectiva) e a representação da natureza e das figuras humanas (realismo e naturalismo). Outras reflexões importantes podem ser feitas a respeito do mecenato, como expressão de prestígio dos poderosos da época; da valorização do trabalho dos artistas, que passaram a assinar suas obras e se distanciaram das guildas medievais; e da generalização da prática do retrato, que exalta, ao mesmo tempo, a individualidade humana e o status social das pessoas retratadas.
A princípio, as obras de arte eram encomendadas; mais tarde, os artistas passaram a produzi-las livremente e a vendê-las em seus ateliês. Para eles, ser patrocinado era uma maneira de sobreviver de seu ofício, dedicar-se a novas experimentações técnicas e, de certa maneira, alcançar a imortalidade em suas obras, muitas vezes vistas como expressão de genialidade. Por isso, muitos artistas passaram a pintar a si mesmos em obras denominadas autorretratos e as assinavam para que ficassem associadas a eles para a posteridade.
Observação
O conteúdo abordado nesta página apresenta, novamente, a possibilidade de desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Sugestão para o professor:
Bãrke, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia de Bolso, 2010.
Nesse livro, o historiador Píter Burc procura revelar, por meio de suas reflexões e minuciosa pesquisa, as mudanças no cotidiano e no campo da cultura popular que foram decisivas para a consolidação de novas práticas na passagem para a modernidade.
Inovações da arte renascentista
Os artistas renascentistas inspiraram-se nos valores humanistas e, dessa fórma, passaram a destacar em suas obras a natureza, os animais e, principalmente, o ser humano. A mitologia e os personagens bíblicos, que mostram a síntese da religiosidade cristã com a cultura pagã greco-romana, eram temas que apareciam muito em suas obras.
Para os renascentistas, a função principal da obra de arte era recriar a realidade e a natureza, proporcionando prazer ao observador por meio da beleza e da perfeição na representação das fórmas. Para isso, introduziram a paisagem e desenvolveram estudos para reproduzir a expressividade das figuras humanas. Os avanços técnicos da arte renascentista foram obtidos graças aos estudos de Matemática, Física, Geometria e Óptica. Dessa fórma, o artista passou a assumir, progressivamente, o papel de “cientista das artes”.
A valorização do mundo terreno e natural também levou os artistas do Renascimento a retomar, na edificação de palácios e igrejas, as linhas retas, as colunas e os arcos, características das construções greco-romanas.
Universalismo
A aliança entre humanismo e ciência definiu uma característica geral do Renascimento: o universalismo, que tinha como base a visão de que o ser humano deveria desenvolver todas as áreas do saber, assumindo a atitude de um sábio capaz de se posicionar ativamente em um mundo dinâmico e em transformação.
Respostas e comentários
Texto complementar
O historiador brasileiro Nicolau SEVITCHENCO escreve sobre a nova concepção no campo das artes que surgiu no período renascentista. Acompanhe no texto a seguir.
Conforme verificamos, a nova camada burguesa, pretendendo impor-se socialmente, precisava combater a cultura medieval, no interior da qual ela aparecia somente como uma porção inferior e sem importância da população. Era, pois, necessário construir uma nova imagem da sociedade na qual ela, a burguesia, ocupasse o centro e não as margens do corpo social. reticências
Esses financiadores de uma nova cultura – burguesia, príncipes e monarcas – eram chamados mecenas, isto é, protetores das artes. Seu objetivo não era somente a autopromoção, mas também a propaganda e difusão de novos hábitos, valores e comportamentos. Mais do que sua imagem, que podia ou não aparecer nas obras, o que elas deveriam veicular era uma visão racional, dinâmica, progressista, otimista e opulenta do mundo e da sociedade. Uma visão na qual o modo de vida e os valores da burguesia e do poder centralizado aparecessem como única fórma de vida e conjunto de crenças mais satisfatório para todas as pessoas. reticências
A produção artística, portanto, acaba se tornando um dos focos principais desse confronto. As atividades e os campos de reflexão que mais preocupavam os pensadores renascentistas aparecem condensados nas artes plásticas: a filosofia, a religião, a história, a arte, a técnica e a ciência. reticências A arte renascentista é uma arte de pesquisa, de invenções, inovações e aperfeiçoamentos técnicos.
SEVITCHENCO, Nicolau. O renascimento. vigésima oitava edição. São Paulo: Atual, 2004. página 24-25.
Observação
O trabalho com o conteúdo desta página oferece, mais uma vez, uma ótima oportunidade de ampliação do desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Sugestão para o professor:
Broudel, Fernan. O modêlo italiano. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Nesta obra, fernã brôdél investiga os antecedentes do Renascimento, analisando as condições sociais que deram impulso ao movimento e identificando suas influências na história da Itália e do mundo.
A pintura renascentista
Na pintura, os renascentistas desenvolveram diversas técnicas inovadoras para atingir a beleza, o realismo e a perfeição. A composição em pirâmide, por exemplo, foi utilizada para transmitir harmonia e equilíbrio e para direcionar o olhar do observador. Ao destacar a paisagem em suas obras, os artistas empregaram a técnica da perspectiva, que criava a sensação de profundidade e volume ao representar os objetos em uma superfície plana. O aumento ou a diminuição do tamanho do objeto representado transmitia a ilusão de estar mais próximo ou mais distante do observador, conferindo à pintura uma realidade tridimensional.
Outra inovação foi a técnica de luz e sombra, que permitiu o uso das cores, dos tons e dos meios-tons para representar cenas, emoções e movimentos.
Ler a pintura
Vários artistas renascentistas se destacaram e são admirados até os dias de hoje. Um deles é Sandro Botitcheli, que entendia a arte como representação espiritual, religiosa e simbólica e dedicou-se aos nus e aos temas religiosos e mitológicos, além de pintar quadros e retratos encomendados por famílias burguesas.
Observe a seguir uma de suas obras.
1. Que características do Renascimento você consegue identificar na pintura de ? Botitcheli
2. Que impressões essa pintura provoca em você?
Respostas e comentários
Orientações
Peça aos estudantes que comparem a obra de Botitcheli, reproduzida nesta página, com a pintura Baco e Ariadne, produzida por Ticiano e analisada anteriormente neste Capítulo. Peça a eles que observem qual das duas obras parece mais realista. A respeito do critério de imitação do real, pergunte aos estudantes qual das pinturas, na opinião deles, representa com mais naturalidade as fórmas e os movimentos humanos, a paisagem natural e as vestimentas.
Na pintura de Botitcheli, percebemos que o artista se preocupou em dar movimentos delicados aos personagens, em compor proporções perfeitas e em recriar o ideal de beleza do mundo clássico. Essa pintura também exalta a natureza e a mitologia grega, e apresenta exemplos das técnicas da perspectiva e de luz e sombra, que dão volume, profundidade, movimento e expressão aos personagens representados. Estimule os estudantes a expor suas impressões sobre a obra, apontando, por exemplo, o tipo de sentimentos que ela desperta: alegria, tristeza, saudade, emoção etcétera.
Respostas
Ler a pintura: 1. Podemos identificar na pintura as seguintes características da arte renascentista: profundidade; figuras humanas que se assemelham ao real; uso de luz e sombra.
2. Resposta pessoal.
Observação
O conteúdo desta página permite a ampliação do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Sugestões complementares referentes ao Capítulo:
Brótom, Diéruí. O bazar do Renascimento: da Róta da seda a Miquelângelo. São Paulo: Grua, 2009.
A obra analisa diversos aspectos ligados à história do Renascimento (e dos Renascimentos) na Europa: o Humanismo; o papel da religião no movimento; aspectos da arte e da arquitetura; as viagens e os descobrimentos que mudaram a visão de mundo dos europeus, entre muitos outros pontos relevantes.
Borcar, Dieicób. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.
Publicada originalmente no século dezenove, esta é uma obra fundamental para a compreensão do Renascimento na Itália.
Outros expoentes do Renascimento
Entre os expoentes da arte renascentista na península Itálica, além de Botticelli, destacamos:
- Leonardo da vinti (1452-1519): considerado o maior exemplo do homem universal, foi pintor, escultor, matemático, arquiteto, engenheiro e inventor. Por meio da dissecação de cadáveres, realizou diversos desenhos anatômicos. Entre suas invenções, que quase nunca saíam do papel por não haver tecnologia disponível na época para a sua concretização, estão o salva-vidas, o paraquedas, a bicicleta e o protótipo de helicóptero.
- Miquelângelo Buonaróti (1475-1564): entre suas obras, destacam-se os afrescos no teto da Capela Sistina, no Vaticano, que contam a história bíblica da criação do mundo. Também teve imensa expressividade na escultura.
- Rafael Sãnzio (1483-1520): conhecido como o “pintor das Madonas” pela série de representações que fez da Virgem Maria com o Menino Jesus.
fóra da península Itálica, destacaram-se El Greco (1541-1614), pintor e escultor de origem grega radicado na Espanha; o pintor flamengo iân van êiqui ( cêrca de 1390-1441), cuja obra foi marcada pelos detalhes e pelo uso de cores vivas; e os alemães Albrechi Durrár (1471-1528) e Rans Rúlbaim (1498-1543).
TUFANO, Douglas. Leonardo da vinti e sua época. São Paulo: Moderna, 2019. Com linguagem atraente para os jovens leitores, esse livro apresenta a vida e a obra de Leonardo da . vinti
Respostas e comentários
Orientações
Na sua pintura mais famosa, Mona Lisa, Da vinti utilizou a técnica do sfumato, que consiste em fundir diversas cores e não desenhar os contornos com clareza, como se vê principalmente nos cantos da boca e dos olhos da personagem.
Na época em que Leonardo da vinti viveu, a dissecação de corpos humanos era proibida pela Igreja. Por isso, todo estudo sobre o corpo humano e suas funções era feito com base no estudo do corpo dos animais. Preocupado em recriar, na arte, a natureza do ser humano, Da vinti realizou vários estudos de anatomia humana. No entanto, devido à proibição desses estudos, vários desenhos de anatomia feitos por ele só foram publicados séculos depois.
Texto complementar
O texto a seguir trata da relação entre arte e ciência na produção de Leonardo da vinti.
reticências Leonardo [juntou] a arte com a ciência. Ao mesmo tempo que usava sua capacidade de artista para representar as descobertas científicas, ele aplicava seu conhecimento científico no aperfeiçoamento de sua arte. Seu conhecimento de anatomia ajudou-o a representar melhor as figuras humanas e animais; ele utilizou sua compreensão da óptica para melhorar o emprêgo da sombra, contraste e perspectiva, e baseou-se em seus estudos como geógrafo e geólogo para conferir exatidão e realismo às suas paisagens.
Uáiti, Máicol . Leonardo: o primeiro cientista. Rio de Janeiro: Record, 2002 ponto página 23.
Observação
A exploração do conteúdo desta página permite, mais uma vez, ampliar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Integrar conhecimentos
História e Arte
A cultura greco-romana na arte renascentista
O triunfo de Galateia, obra do pintor renascentista Rafael Sãnzio, representa uma cena da mitologia grega, na qual Galateia, ninfa dos mares, foge das investidas amorosas do ciclope Polifemo. A obra foi encomendada por um rico banqueiro italiano, Agostino Quídi, para decorar sua residência em Roma.
- Após observar as imagens, responda às questões a seguir.
- Que elementos míticos da Grécia Antiga você identifica nessa pintura?
- Cite exemplos do realismo renascentista presentes na pintura.
- Que conhecimento foi utilizado por Rafael para criar proporções equilibradas e simetria na obra?
- De que maneira Rafael harmonizou os diferentes elementos da pintura?
- Como as mulheres foram representadas nessa pintura? O ideal de beleza do corpo feminino representado por Rafael é semelhante ao de nossa sociedade, nos dias atuais? Por quê?
Respostas e comentários
Orientações
A análise da pintura O triunfo de Galateia permite que o estudante desenvolva suas habilidades na leitura de obras de arte e aprofunde seus conhecimentos sobre a pintura renascentista. É importante destacar que a pintura proposta para análise revela a afirmação de um novo grupo social, a burguesia urbana, visto que a obra foi encomendada por um banqueiro para decorar sua casa. Além disso, ela está vinculada à mentalidade laica (o tema da obra não é religioso) e ao novo papel dos artistas na sociedade (categoria que se desvincula dos artesãos medievais).
O conteúdo desta seção possibilita, ainda, o trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.
Observação
O trabalho proposto nesta seção e nas atividades possibilita ampliar o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.
Respostas
1. a) A figura de Galateia, as ninfas e o Tritão são elementos da mitologia grega.
b) O realismo está presente na representação detalhada das fórmas humanas das ninfas, do Tritão e dos cupidos e na figura do cavalo no canto esquerdo da imagem.
c) A geometria. A disposição espacial dos elementos da imagem, tendo como figura central Galateia, apresenta proporções equilibradas que mostram a expressão do diálogo entre a ciência e a arte renascentista.
d) Uma característica desta obra que confere harmonia ao conjunto da composição é a escolha das cores: o contraste do vermelho forte do manto que cobre a personagem central e os tons claros de azul e verde utilizados no céu e no mar ao fundo. Além disso, o recurso à simetria dos elementos da imagem também tem essa função. As direções para onde estão apontadas as flechas dos anjos, por exemplo, definem as linhas pelas quais se traçam simetrias, tendo como referencial a figura central de Galateia.
2. Resposta pessoal. As noções de beleza estão intrinsecamente relacionadas a aspectos culturais e sociais, geográficos, históricos etcétera. Pode-se dizer que, na pintura de Rafael, a mulher bela foi representada com traços simétricos, rosto delicado, ombros e quadris largos, seios pequenos, corpo volumoso e cabelos longos. Os estudantes devem perceber que, atualmente, também existe um ideal ou padrão de beleza, tanto feminina quanto masculina, que é divulgado constantemente nos meios de comunicação em massa.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Por que os artistas e os intelectuais renascentistas utilizaram o termo “Renascimento” para definir suas produções? Por que esse conceito é polêmico?
- A ideia dos renascentistas de criação de um "novo mundo" contribuiu para a construção da concepção de modernidade. Essa visão que começava a se desenvolver considerava os processos históricos de diversos povos?
- Hamlet é uma das mais importantes obras do dramaturgo inglês Uíliam Xêiquispíer. Em diversos momentos da obra, Hamlet, o personagem principal, reflete sobre a existência humana. Em um dos monólogos mais célebres da peça, o personagem pronuncia o famoso trecho “Ser ou não ser, eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias?” (Hamlet. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 2014. página 249). Considerando as informações apresentadas nesse enunciado e o que você estudou nesta Unidade, responda.
- O que você entendeu ao ler esse trecho de Hamlet?
- Que relação pode ser estabelecida entre o trecho e os valores do Renascimento?
- Observe a charge para responder às questões.
- O que Galileu e o papa representariam nessa charge?
- Relacione o pensamento de Galileu representado nessa charge ao contexto cultural, científico e religioso dos séculos quinze e dezesseis.
- Que instrumento criado pela Igreja católica pode ser associado ao pensamento do papa nessa charge?
- Os e-readers, aparelhos de leitura de livros digitais, e os tablets, computadores em fórma de prancheta e com tela sensível ao toque, começaram a se popularizar por volta de 2010. Com seus colegas, debata as questões a seguir.
- Você lê mais frequentemente textos impressos ou eletrônicos? Para você, quais são as vantagens e as desvantagens de cada um?
- Na sua opinião, qual revolução foi mais importante: a revolução impressa, atribuída à invenção da prensa de tipos móveis metálicos por Gutembergue, no século quinze, ou a revolução digital, que possibilitou a criação de livros digitais e de aparelhos leitores de mídias digitais? Por quê?
Respostas e comentários
Seção Atividades
Objetos de conhecimento
• A construção da ideia de modernidade e seus impactos na concepção de História.
• Humanismos: uma nova visão de ser humano e de mundo.
• Renascimentos artísticos e culturais.
Habilidades
São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:
• ê éfe zero sete agá ih zero um (atividades 1, 2)
• ê éfe zero sete agá ih zero quatro (atividades 2, 3, 4, 5)
Respostas
1. Porque queriam fazer “nascer de novo” a Antiguidade clássica. De acôrdo com essa ideia, a cultura greco-romana teria “desaparecido” na Idade Média, vista como um período de obscurantismo, atraso e fervor religioso. Hoje se sabe que a Idade Média não foi um período de estagnação.
2. Não. Os renascentistas procuraram romper com o passado medieval e acreditavam estar construindo um novo mundo. O ponto de partida desta concepção era a história e a cultura europeias, portanto os processos históricos vividos por outros povos foram desconsiderados da projeção de um novo mundo difundida pelos renascentistas.
3. a) Resposta pessoal. O trecho do texto mostra o dilema do personagem Hamlet diante das adversidades da vida.
b) Hamlet está inserido no típico movimento da filosofia humanista, que promovia a autonomia da razão humana. Em vez de pedir conselhos a Deus sobre os rumos de seu destino, a personagem indaga a si própria sobre a sua existência, dando vazão àsua individualidade.
4. a) Galileu representa o pensamento humanista e científico, e o papa, o pensamento da Igreja católica.
b) As teorias de Galileu são exemplos das transformações científicas e culturais ocorridas entre os séculos quinze e dezesseis, que valorizavam a capacidade de ação e de criação do ser humano.
c) O Tribunal do Santo Ofício, também chamado de Inquisição.
5. a) Respostas pessoais. Tanto o texto impresso quanto o eletrônico têm vantagens e desvantagens.
b) Estimule-os a perceber que ambas foram importantes em seus contextos históricos, pois ampliaram o acesso à leitura.
CAPÍTULO 4 A REFORMA PROTESTANTE E A CONTRAREFORMA
As transformações políticas, econômicas e sociais na Europa Ocidental e o novo modo de pensar e ver o mundo do homem moderno, que se manifestaram no campo das artes e no das ciências, também afetaram a religião.
Com o fortalecimento das monarquias nacionais, o poder papal passou a rivalizar com o poder dos reis. Assim, a Igreja, que antes ocupava um papel importante na política, começou a perder espaço nas decisões dos Estados. Além disso, os interesses da burguesia chocavam-se com o que a Igreja pregava, como a condenação do lucro e da usura (cobrança de juros abusivos ao conceder um empréstimo a alguém).
Para agravar a situação, o poder da Igreja católica foi abalado por uma série de críticas surgidas dentro da própria instituição. Isso porque, desde o final da Idade Média, a Igreja vinha se desviando de seus princípios e seus valores iniciais, usufruindo, por exemplo, do luxo, da riqueza e da ostentação. Além disso, boa parte do clero desrespeitava as regras religiosas, como o celibato, e tratava com descaso os cultos e os ritos religiosos.
Esse quadro de enfraquecimento do poder da Igreja católica e de críticas à instituição gerou um amplo movimento reformista que deu origem a novas igrejas cristãs: a Reforma protestante.
Respostas e comentários
Sobre o Capítulo
Este Capítulo pretende estimular a reflexão sobre as reformas religiosas e a fragmentação da cristandade no mundo ocidental. O tema e os conteúdos trabalhados ao longo dos textos e das atividades do Capítulo buscam levar o estudante a reconhecer como a Reforma protestante e a Contrarreforma expressaram o novo contexto europeu do final da Idade Média.
Orientações
Após introduzir o assunto sobre a Reforma protestante, comente com os estudantes que a Igreja católica sofreu um abalo profundo no advento da modernidade. A origem dessa crise tem várias dimensões: políticas (choque com as monarquias nacionais), sociais (ascensão da burguesia), ideológicas (Humanismo renascentista) e econômicas (expansão das atividades urbanas). Além disso, existia uma crise ética no interior da Igreja. O movimento reformista encontrou, assim, um cenário favorável para a difusão de suas ideias. Destaque para os estudantes as diferenças entre a doutrina católica e as ideias luteranas e calvinistas. Quanto à Igreja anglicana, é fundamental destacar o caráter essencialmente político da ruptura da monarquia inglesa com o catolicismo.
Observação
A abordagem proposta nesta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo
ê éfe zero sete agá ih zero cinco: Identificar e relacionar as vinculações entre as reformas religiosas e os processos culturais e sociais do período moderno na Europa e na América.
Sugestão para o estudante:
séfner, Fernando. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise. décima edição São Paulo: Atual, 2011.
Por meio dessa leitura, o estudante poderá conhecer documentos relacionados ao momento histórico da Reforma protestante e da Contrarreforma, acompanhar análises desse processo fundamental para a compreensão da sociedade moderna e refletir sobre ele de maneira crítica.
Lutero e o início da Reforma
O movimento protestante iniciou-se na Saxônia, região da atual Alemanha, e foi dirigido pelo monge Martinho Lutero. Em 1517, ao saber da venda de indulgências autorizada pelo papa Leão décimo com o objetivo de arrecadar fundos para a reconstrução da Basílica de São Pedro, Lutero resolveu se manifestar publicamente. Em um encontro de eruditos religiosos da cidade de Wittenberg, o monge teria apresentado suas 95 teses, nas quais denunciava a venda de indulgências e criticava o comportamento do clero e do papa.
Depois disso, seguiram-se debates teológicos entre Lutero e sábios da Igreja, os quais refutaram (ou seja, rejeitaram) todas as teses. Em 1520, três anos após o início da crise, uma bula papal foi enviada a Lutero ameaçando-o de excomunhão caso não se retratasse; o monge, porém, não só manteve suas críticas, como queimou a bula papal em praça pública. O ato simbolizou a ruptura de Lutero com a Igreja e iniciou a Reforma protestante.
A doutrina luterana
A doutrina luterana foi formalizada no documento intitulado Confissão de Auguisbúrgo, de 1530. Nele, Lutero afirmou que a salvação era obtida pela fé; rejeitou a hierarquia eclesiástica; estabeleceu que todo crente é livre para interpretar a Bíblia, sem necessitar da mediação de sacerdotes da Igreja; aboliu o celibato dos padres e os sacramentos, mantendo apenas o batismo e a eucaristia; e determinou a substituição do latim pelo idioma nacional nos cultos religiosos.
Muitos apoiaram a nova doutrina. A nobreza viu nela a oportunidade de tornar-se independente da autoridade da Igreja católica e de confiscar suas terras e seus bens. Já os camponeses viram na nova doutrina a possibilidade de se livrar dos tributos devidos ao clero.
Por que protestantes?
Em 1529, o imperador romano-germânico Carlos quinto, que governava uma região que hoje faz parte da Alemanha, convocou uma reunião com os nobres locais para reafirmar que Lutero não cumpria as leis da Igreja católica. Por isso, além de ser escomungado, Lutero foi expulso do império.
No entanto, um grupo de nobres que apoiavam o monge protestou contra a declaração de Carlos quinto. Em decorrência desse episódio, mais tarde, os seguidores de Lutero passaram a ser chamados de protestantes.
Respostas e comentários
Orientações
As críticas ao domínio da Igreja católica criaram um ambiente favorável ao desenvolvimento de novas interpretações da Bíblia.
Procure estimular a reflexão dos estudantes sobre os questionamentos dos dogmas e das práticas da Igreja católica que surgiram nesse período. Retome com eles a relação com o contexto histórico de crise da cultura medieval e do feudalismo, já na fase final da Idade Média, e o início do Renascimento, período estudado no Capítulo anterior, assim como o surgimento do pensamento humanista, antropocêntrico, que foram favoráveis a esse clima de renovação da religiosidade cristã.
É importante também levar os estudantes a refletir sobre a relação entre esta nova fórma de pensar o cristianismo e os novos grupos sociais que surgiram no final da Idade Média, como a burguesia, os comerciantes e artesãos, com seu modo de vida urbano. A contradição entre a condenação do lucro, da ganância e da riqueza e as práticas da Igreja, como a cobrança de indulgências, geraram muitas críticas, principalmente das camadas burguesas.
A Reforma protestante veio, nesse sentido, dar uma interpretação diferente de alguns dos princípios bíblicos e legitimar as atividades humanas relacionadas ao comércio, ao acúmulo de riquezas, ao livre-arbítrio e à capacidade de cada indivíduo interpretar os preceitos de Deus.
Observação
A abordagem desta página contribui para o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
Sugestão para o professor:
Crístofer, Dóssom. A divisão da cristandade: da Reforma protestante à era do iluminismo. São Paulo: É Realizações, 2014.
Abordando o enfraquecimento da unidade medieval, o Renascimento e as reformas religiosas, bem como os antecedentes da Revolução Francesa, o autor traça um panorama sobre mudanças culturais e na percepção de mundo no ocidente entre os séculos dezesseis e dezoito.
Integrar conhecimentos
História e Arte
A arte do luteranismo
O renascentista Lucas cránar, o Velho, nascido na Baviera, região da atual Alemanha, é considerado o pintor oficial da doutrina luterana. Amigo de Martinho Lutero, cránar expressava em suas obras as ideias luteranas com base na reinterpretação de temas tradicionalmente católicos.
Na pintura a seguir, por exemplo, o artista representou a ideia de salvação pela fé, defendida por Lutero. Ao centro, podemos ver um homem nu sendo orientado por dois profetas. À esquerda, notamos um homem morto e, no canto mais ao fundo, Adão e Eva com o fruto proibido. As duas situações representam o pecado e a morte. No lado esquerdo superior, observamos Moisés recebendo de Deus os Dez Mandamentos. À direita, em contrapartida, observamos Jesus Cristo morto na cruz e, ao lado, a representação de sua ressurreição.
- Os elementos que compõem a pintura de Lucas cránar foram representados em um único plano? Por quê? Qual é o nome dessa técnica típica da arte renascentista?
- Quais outras características da arte renascentista estão presentes nessa pintura?
- Como a ideia luterana de salvação pela fé foi representada nessa pintura?
- De acôrdo com a doutrina luterana, a única fonte da verdade é a Bíblia, e não a tradição ensinada pela Igreja. Que elementos da pintura mostram a importância do livro sagrado para o luteranismo?
Respostas e comentários
Respostas
1. Não. A pintura tem vários planos: o primeiro deles apresenta o homem nu e os dois profetas; o segundo, o homem morto e Jesus ressuscitado; o terceiro, Adão e Eva comendo o fruto proibido, Moisés recebendo os Dez Mandamentos, Jesus crucificado e a Virgem orando; e, por último, o quarto, mostra a paisagem ao fundo. O que está mais distante do primeiro plano tem dimensões menores. Essa técnica se chama perspectiva.
2. O uso da técnica de luz e sombra, a representação naturalista da paisagem e dos personagens e a preocupação em detalhar os movimentos e as expressões das pessoas.
3. Segundo Lutero, o ser humano é salvo por meio da fé e da graça de Deus, e não pelas obras que pratica, como afirma a Igreja católica. Essa ideia está presente na pintura justamente na divisão das cenas. Lucas cránar mostra, à esquerda, a ideia de que o ser humano não alcança a salvação pela lei, isto é, os Dez Mandamentos, mas pela fé e pela graça de Deus, como podemos observar no cenário à direita. Essa composição apresenta a ideia de que Deus julga e condena, não de fórma vingativa, para provocar medo, mas misericordiosa, concedendo a salvação também àqueles que não merecem, mas creem nele.
4. A pintura apresenta uma concepção da doutrina luterana por meio de algumas passagens da Bíblia, a saber: Moisés recebendo os Dez Mandamentos e Adão e Eva comendo o fruto proibido (ambos à esquerda); e a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo (ambos à direita). Isso mostra a importância dada à Bíblia pelo luteranismo.
O conteúdo desta seção aborda o tema contemporâneo Diversidade cultural.
Observação
Esta seção possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
Texto complementar
O texto a seguir conta um pouco sobre a relação entre o pintor Lucas cránar e o teólogo Martinho Lutero.
Em 1520, Martinho Lutero tornou-se padrinho de Anna, filha de cránar. Em 1525, Lutero escolheu o amigo como seu representante para pedir a mão de Catarina de Bora em casamento; o mais importante de tudo: Lucas cránar identificava-se cada vez mais com o novo movimento evangélico. Essa transformação interior fica especialmente clara nos seu quadros sobre temas bíblicos. Outro de seus trabalhos importantes era o preparo gráfico dos livros e panfletos de Lutero. reticências
Mórgner, Cristóf ( edição.). Tinta, teses, temperamentos: seguindo os passos de Martinho Lutero. Curitiba: Esperança, 2017. página 42.
Os seguidores de Calvino
Com a ajuda da prensa de Gutembergue, as ideias de Lutero se difundiram rapidamente pela Europa e abriram caminho para novos movimentos reformadores. O francês João Calvino, por exemplo, foi perseguido na França, no século dezesseis, por converter-se ao protestantismo, refugiando-se em Genebra, na Suíça.
Aos poucos, Calvino se distanciou do luteranismo, criando uma doutrina religiosa baseada na ideia da predestinação absoluta. Segundo Calvino, Deus já havia escolhido, desde o princípio, os indivíduos abençoados com a vida eterna e os condenados à perdição. Os bens materiais e a riqueza deviam ser vistos como bondades concedidas por Deus aos seres humanos.
Após a morte de Calvino, seus seguidores fizeram reinterpretações da doutrina da predestinação. A riqueza e a prosperidade passaram a ser vistas como sinais da graça divina, e não apenas como generosidades de Deus. Isso explica por que o calvinismo obteve grande apôio da burguesia e estimulou seus adeptos a se esforçar para progredir economicamente.
A Igreja anglicana
A Reforma anglicana ocorreu na Inglaterra no começo do século dezesseis, em um momento em que o Estado era forte e centralizado e a Igreja católica era tida como uma rival de seus interesses. A ruptura religiosa foi conduzida pelo rei Henrique oitavo e teve caráter essencialmente político.
O pretexto para o rompimento com a Igreja veio de uma questão pessoal do rei. Como de seu casamento com Catarina de Aragão não havia nascido nenhum herdeiro, o rei solicitou a anulação ao papa, para que pudesse se casar com a cortesã Ana Bolena. O pedido foi negado, mas, mesmo assim, Henrique oitavo separou-se de Catarina e casou-se com Ana Bolena. Diante disso, foi excomungado pelo papa.
Em resposta, Henrique oitavo decretou, em 1513, o Ato de Supremacia, pelo qual se tornou o chefe da Igreja na Inglaterra, com total apôio do Parlamento.
Respostas e comentários
Orientações
A partir da Suíça, o calvinismo ganhou adeptos na França, onde foram chamados de huguenotes; na Escócia, receberam o nome de presbiterianos; e na Inglaterra, de puritanos. Quanto à Igreja anglicana, é fundamental destacar o caráter essencialmente político da ruptura da monarquia inglesa com o catolicismo.
Entre os protestantes, a leitura dos textos sagrados é muito valorizada como condição para a preservação da fé. Por isso, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e, nos lugares da Europa onde predominaram as igrejas reformadas, os fiéis eram incentivados a aprender a ler, o que, muitas vezes, era feito no próprio templo, após os cultos religiosos e sob a orientação do pastor ou de pessoas letradas da comunidade. Como resultado dessas práticas, nos países em que a maioria da população aderiu ao protestantismo, como a Alemanha, o analfabetismo foi erradicado mais cedo. Contrastando com essa situação, nos países católicos, a interpretação do texto sagrado permaneceu sob o monopólio do clero, e a língua latina continuou sendo usada nos rituais.
Neste momento, sugerimos também iniciar com os estudantes uma análise para identificar algumas diferenças entre a doutrina católica e as ideias luteranas e calvinistas.
Observação
O conteúdo desta página apresenta uma ótima oportunidade para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
Texto complementar
Leia o trecho a seguir sobre a importância da difusão dos livros e da popularização da leitura no período das reformas.
reticências a difusão em larga escala de um novo Córpus de textos cristãos modifica profundamente a relação dos fiéis com a cultura escrita. São estabelecidas novas partilhas que bem pouco respeitam a divisão historiográfica clássica entre protestantismo e catolicismo. reticências
reticências Todas as igrejas se esforçam para transformar os cristãos em leitores reticências.
, cabálo ; , cartiê . Rogê História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, 2002. volume 1. página. 26-35.
A Contrarreforma
O luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo produziram uma cisão definitiva na cristandade ocidental, que se dividiu em cristãos católicos e cristãos protestantes. Com isso, a intolerância religiosa e o radicalismo cresceram, e as perseguições e as guerras religiosas se estenderam por, pelo menos, um século. A Igreja católica reagiu às críticas dos reformadores e criou um movimento denominado Contrarreforma ou Reforma católica.
Para compreender esse período histórico, é importante perceber que a Igreja católica não estava indiferente aos seus problemas internos e não foi necessariamente o movimento protestante que a fez rever sua conduta. Entre os pensadores, os juristas e os devotos católicos, também havia a percepção de que a Igreja estava se desviando de seu rumo original e precisava de mudanças.
No entanto, a Reforma protestante, a expansão das novas igrejas pela Europa e a perda de adeptos pressionaram o catolicismo a iniciar seu movimento de renovação. Assim, no século , décimo sexto sob a liderança dos papas Paulo , terceiro Paulo , Pio quarto quinto e Xisto , quinto a Igreja católica iniciou um processo de moralização e reestruturação interna.
Entendendo a Contrarreforma
A chamada Contrarreforma deve ser compreendida como uma reação da Igreja católica ao avanço do protestantismo pelo continente europeu. Também é importante destacar que a Contrarreforma foi feita por meio de diversas ações, como a catequização (evangelização dos fiéis), a reativação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e a proibição de circulação de determinados livros. Algumas dessas ações foram debatidas já durante o Concílio de Trento, como acompanharemos adiante.
A intolerância religiosa
Na época das reformas religiosas, no interior de cada país, as pessoas eram obrigadas a seguir a religião do rei, o que propiciava o aumento da intolerância e das guerras religiosas. Atualmente, os conflitos religiosos ainda fazem milhares de vítimas em diversas partes do mundo, como na Nigéria e na Indonésia, onde existem disputas entre muçulmanos e cristãos; na Síria e no Iraque, entre muçulmanos xiitas e muçulmanos sunitas; na Índia, entre seguidores do hinduísmo e do islã; no Afeganistão e no Sudão, entre muçulmanos e não muçulmanos.
Respostas e comentários
Orientações
O estudo da Contrarreforma apresenta significado especial, dada sua importância para a compreensão da história dos países ibéricos e da colonização portuguesa e espanhola na América, onde as Coroas e a Igreja atuaram em conjunto. Aproveitar a oportunidade para debater com os estudantes o tema da intolerância religiosa, presente nos conflitos europeus do período e na atualidade, conforme sugerido no boxe desta página.
O tema da Reforma protestante permite discutir a questão da diversidade religiosa e alguns conflitos políticos atuais que também se relacionam à intolerância religiosa, como as disputas entre judeus e árabes palestinos no Oriente Médio, ou entre hindus e muçulmanos, na região da Caxemira etcétera. A discussão possibilita a percepção de como a tolerância favorece a convivência democrática.
Observação
A abordagem do conteúdo desta página permite novamente ampliar o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
Atividade complementar
Organize uma roda de conversa em sala de aula sobre o seguinte tema: Quais são as principais diferenças entre seguir uma religião na época das reformas religiosas e nos dias de hoje?
É importante que os estudantes compreendam que, nos países democráticos atuais, seguir determinada religião é uma escolha, apesar de todas as influências na vida de uma pessoa que a levam a escolher uma igreja ou uma religião ou a não seguir nenhuma. No texto do boxe intitulado “A intolerância religiosa”, por exemplo, fica claro que, no período em que ocorreram as reformas religiosas, não era possível escolher livremente uma religião ou uma igreja. Não havia a ideia de liberdade ou tolerância religiosa. Esse princípio surgiu mais tarde, com a filosofia iluminista, a independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa.
Instrumentos da Contrarreforma
Para iniciar a Reforma católica, em 1545, o papa Paulo terceiro convocou um concílioglossário na cidade italiana de Trento, cujos trabalhos se estenderam até 1563. O Concílio de Trento, como ficou conhecido, reafirmou os dogmas e os ritos católicos, como a salvação pela fé e pelas boas obras; a presença de Cristo na eucaristia; a autoridade e a infalibilidade do papa; a hierarquia eclesiástica; o celibato do clero; a devoção aos santos e à Virgem; os sete sacramentos (batismo, eucaristia, crisma, matrimônio, ordem, penitência e extrema-unção); e o emprêgo do latim na Bíblia e na realização de missas.
O concílio também determinou a criação de seminários para a formação do clero e a elaboração do catecismo, um resumo da doutrina católica para ser usado na evangelização dos fiéis, principalmente de jovens e crianças. Em Trento, a Igreja também condenou a venda de indulgências e de cargos eclesiásticos. O Concílio de Trento acabou reafirmando a divisão da comunidade cristã, abrindo uma acirrada disputa entre católicos e protestantes em busca de adeptos na Europa e em outros continentes.
Respostas e comentários
Orientações
Após o trabalho com os conteúdos desta página, procure conversar com os estudantes sobre a fórma como a Igreja católica reagiu à Reforma protestante.
Comente com os estudantes que, em meados do século dezesseis, a cristandade na Europa estava dividida em várias igrejas. Dentro de cada país as pessoas eram obrigadas a seguir a religião do rei. Por exemplo, nas regiões da Alemanha em que o luteranismo havia sido adotado, os católicos foram perseguidos. Na Espanha, a Inquisição perseguiu protestantes, judeus, cristãos-novos e muçulmanos.
Explique aos estudantes que a extrema-unção era o sacramento por meio do qual o sacerdote conferia ao cristão, na hora da morte, uma graça especial. Hoje, é chamado de unção dos enfermos e pode ser administrado mais de uma vez em caso de enfermidade grave ou velhice.
Texto complementar
Acompanhe a seguir o trecho de uma tese sobre o Concílio de Trento e o contexto da Contrarreforma.
No contexto histórico, o desenrolar da Reforma protestante e sua expansão na Europa levaram a uma tentativa de fortalecer as bases do Cristianismo romano nos reinos que haviam resistido às investidas do protestantismo, como França, Espanha, Portugal, Itália. Conforme nos refere o historiador José Eduardo Franco reticências, a Companhia de Jesus procurou levar o mais longe possível o seu esfôrço utópico de universalização do cristianismo, num ambiente de militância proselitista, impulsionada pela Contra-Reforma, consagrada no concílio de Trento (1543-1563).
SANTOS, Fernanda. A Companhia de Jesus e o Concílio de Trento: aspectos pedagógicos da contra-reforma. Tempos e Espaços em Educação, São Critóvão, Sergipe, volume 7, número 12, janeiro a abril 2014. página 209.
Observação
O conteúdo desta página possibilita, novamente, o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
O Tribunal do Santo Ofício
Para garantir que os fiéis seguissem à risca suas determinações, o Concílio de Trento ordenou a reorganização do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, criado em 1231 com o objetivo de vigiar, julgar e punir os acusados de heresiaglossário . Além de protestantes, judeus, cristãos-novos, muitos cientistas e pensadores foram perseguidos pela Inquisição. Os acusados de crimes contra a fé católica eram punidos até mesmo com a morte, e alguns eram queimados em fogueiras. O Tribunal também era responsável pela elaboração do Índice de Livros Proibidos, o índequis, que consistia em uma lista de livros censurados pela Igreja por serem considerados prejudiciais à fé católica.
A tarefa de expandir o catolicismo e conquistar novos adeptos foi reforçada com a criação da Companhia de Jesus, em 1534, pelo militar espanhol Inácio de Loyola. Os jesuítas, como ficaram conhecidos, consideravam-se “soldados de Cristo”. Eles seguiam uma disciplina rígida e tinham a missão de combater o avanço do protestantismo por meio da reafirmação da fé católica, da criação de escolas religiosas e, principalmente, da conversão de fiéis. Além da Europa, a ação dos jesuítas voltou-se para a Ásia, a África e a América.
MUSEU da história da Inquisição. Disponível em: https://oeds.link/SXIHbE. Acesso em: 3 fevereiro 2022. Localizado em Belo Horizonte (), o museu resgata a história da Inquisição e da presença de judeus e cristãos-novos na América portuguesa. O Minas Gerais site oferece uma visita virtual às instalações do museu.
Respostas e comentários
Orientações
É interessante chamar a atenção dos estudantes para a atuação da Companhia de Jesus, que tinha como objetivo a difusão do catolicismo para outras regiões além da Europa e a conquista de novos fiéis. Neste momento, procure despertar a curiosidade deles para a atuação da Companhia de Jesus em diversas colônias, como na América portuguesa, assunto que será abordado mais adiante, na Unidade sete.
No século dezesseis, muitos judeus e cristãos-novos fugiram de Portugal, espalhando-se pela Europa, principalmente nos Países Baixos, ou se instalando em terras da colônia portuguesa da América, onde a fiscalização era menor. O progresso econômico da colônia e as denúncias sobre práticas judaicas aumentaram o interesse da Inquisição pela América portuguesa. O primeiro visitador da Inquisição esteve na colônia em 1591, permanecendo nos territórios que atualmente correspondem ao estado da Bahia e de Pernambuco até 1595. Entretanto, casos de inquisições existiram até o século dezoito, passando também por áreas dos atuais estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Maranhão, Sergipe, Goiás, entre outros. As acusações mais frequentes foram de prática do judaísmo, heresia, feitiçaria e bigamia.
Observação
O conteúdo desta página favorece a ampliação do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
Atividade complementar
Sugerimos a visita a uma igreja católica, protestante ou a uma mesquita, para que os estudantes observem sua arquitetura e decoração e façam uma entrevista com um dos representantes da religião na instituição. É recomendável visitar o local antes. Os estudantes podem conversar sobre a edificação com um dos representantes da religião na instituição, perguntando, por exemplo, se os elementos arquitetônicos estão integrados com a postura recomendada para os fiéis no interior do templo. Nas entrevistas, os estudantes podem questionar também sobre o papel dos elementos arquitetônicos nos rituais, como a fórma e o tamanho da edificação, os materiais, as cores, as pinturas, as esculturas, o mobiliário etcétera. Após esse trabalho de campo, proponha aos estudantes que sistematizem os dados coletados. O trabalho e a pesquisa propostos nesta atividade incentivam as práticas de entrevistas, construção e uso de questionários e observação, tomada de nota e construção de relatórios.
A Contrarreforma na arte: o Barroco
A arte barroca nasceu na península Itálica, no final do século dezesseis, e difundiu-se por diversos países católicos da Europa, como Portugal, Espanha e França, e, posteriormente, pela América. Esse estilo artístico predominou na arquitetura de igrejas e capelas, de palácios e prédios administrativos, bem como na pintura, na música e na literatura.
Produzida geralmente sob encomenda da Igreja católica, a arte barroca tinha como objetivo educar pelo olhar, convencer e envolver emocionalmente o observador. Opondo-se ao realismo da arte renascentista, o Barroco utilizou-se da exuberância, da dramaticidade, da exaltação dos sentimentos, da religiosidade e do misticismo, produzindo obras rebuscadas, repletas de detalhes e elementos decorativos que procuravam despertar nos fiéis o fervor religioso.
Por essas características, o Barroco também pode ser visto como um instrumento da Contrarreforma, utilizado para atrair fiéis.
Leia a seguir o que o historiador de arte érnést gombrit fala sobre o assunto:
Quanto mais os protestantes pregavam contra a ostentação nas igrejas, mais se empenhava a Igreja Católica Romana em recrutar o poder do artista. reticências O mundo católico descobrira que a arte podia servir à religião de um modo que superava a simples tarefa que lhe fôra atribuída nos começos da Idade Média – a de ensinar a doutrina a pessoas que não sabiam ler. Agora, poderia persuadir e converter mesmo aqueles que talvez tivessem lido demais. Arquitetos, pintores e escultores foram convocados para transformar igrejas em exibições grandiosas cujo esplendor e glória quase nos corta a respiração.
Gombrit, Érnést Rans Iosef. A história da arte. décima sexta edição. Rio de Janeiro: éle tê cê, 1999. página 436-437.
Respostas e comentários
Orientações
É importante destacar as características do Barroco europeu, o contexto em que esse tipo de arte nasceu e sua principal função. Para que os estudantes entendam melhor o Barroco, peça a eles que comparem a pintura de Aníbale Carrati, reproduzida nesta página, com as do Renascimento, apresentadas no Capítulo 3, nesta Unidade.
Observação
O conteúdo desta página permite aprofundar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.
Sugestão para o estudante:
BUENO, Luciana Estevan Barone. Linguagem das artes visuais. Curitiba: , 2008.
O livro contempla aspectos importantes das linguagens imagéticas e plásticas. Dessa fórma, favorece o contato dos estudantes com diferentes tipos de documentos, linguagens e conteúdos, estimulando sua capacidade de interpretação e análise histórica.
Sugestões complementares referentes ao Capítulo:
Baumgarner, Milrei. A Igreja no Ocidente: das origens às Reformas no século . dezesseis segunda edição São Paulo: Edições 70, 2015.
Esta obra analisa a trajetória da Igreja católica no Ocidente, desde os primórdios da cristandade no Império Romano até as transformações pelas quais a instituição passaria no século dezesseis, com as reformas.
Marxal, Piter. Reforma protestante: uma breve introdução. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême Pocket, 2018.
Nesta obra, Piter Marxal analisa o desenvolvimento da Reforma Protestante, recuperando os embates teológicos presentes na origem do conflito e identificando suas influências na política, na filosofia e na arte da Idade Moderna.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
1. Leia, a seguir, uma das teses formuladas por Martinho Lutero e responda: qual é o tema tratado nessa tese? De que modo essa tese se posiciona em relação às práticas da Igreja católica no século dezesseis?
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.
LUTERO, Martinho. 95 teses de Lutero. [ sem local]: Portal Luteranos, [ Década de dois mil e dez]. Disponível em: https://oeds.link/n69xDM. Acesso em: 3 fevereiro. 2022.
- Elabore uma síntese dos principais fundamentos da doutrina luterana.
- Estabeleça a diferença, no que diz respeito à salvação dos seres humanos, entre a doutrina calvinista, a luterana e a católica.
- Sobre o Ato de Supremacia, aprovado pelo Parlamento inglês, responda:
- Em que contexto europeu esse decreto inglês foi aprovado?
- Qual foi a principal decisão aprovada com esse decreto?
- Atualmente, existe tolerância religiosa? Debata essa questão com seus colegas. Não se esqueça de escutá-los com atenção, procurando refletir sobre os argumentos apresentados.
- Forme um grupo com os colegas para pesquisar as correntes do protestantismo mais presentes atualmente no Brasil. Procurem informar-se sobre as características da sua doutrina, as celebrações religiosas e as diferenças entre elas. Se for possível, entrevistem conhecidos que sejam adeptos de uma dessas igrejas e complementem a pesquisa com as informações obtidas.
7. Observe a gravura a seguir e responda à questão.
• Que diferenças entre protestantes e católicos foram destacadas na gravura?
Respostas e comentários
Seção Atividades
Objeto de conhecimento
• Reformas religiosas: a cristandade fragmentada.
Habilidade
São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:
• ê éfe zero sete agá ih zero cinco (atividades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7)
Respostas
1. A tese trata das indulgências. Lutero afirma a maneira cautelosa com que acreditava que a Igreja deveria tratar a questão das indulgências.
2. A doutrina luterana pregava a salvação pela fé, a livre interpretação da Bíblia, sem necessitar da mediação de sacerdotes da Igreja; opunha-se à hierarquia eclesiástica, negava a necessidade do celibato dos padres e dos sacramentos, mantendo apenas o batismo e a eucaristia, e determinava a substituição do latim pelo idioma nacional nos cultos religiosos.
3. O calvinismo estabelece o princípio da predestinação absoluta, de que a salvação não depende do esfôrço dos homens; o luteranismo, por sua vez, afirma que a salvação é dada pela fé; já para a doutrina católica, a salvação é obtida pela fé e pelas boas ações.
4. a) O Ato de Supremacia foi aprovado em um momento em que o govêrno na Inglaterra era forte e centralizado e que considerava o poder da Igreja católica como uma ameaça aos seus interesses.
b) Com o decreto, o rei passou a ser o chefe supremo da Igreja na Inglaterra e podia reprimir e reformar a estrutura da Igreja.
5. Atividade de debate. Espera-se que os estudantes percebam que, embora haja mais tolerância religiosa no presente, muitos conflitos atuais ainda têm origem na intolerância.
6. Os resultados do trabalho devem ser compartilhados pelos grupos com a turma toda. A pesquisa proposta nesta atividade incentiva o trabalho com entrevistas e análise de mídias sociais.
7. Guiórgui Pínquis valorizou os ensinamentos protestantes em detrimento dos católicos. Na gravura, podemos perceber que o pastor luterano está com vestes mais simples, folheando a Bíblia para transmitir as mensagens contidas nela. O sacerdote católico, por sua vez, está com vestimentas mais detalhadas e pregando sem a Bíblia em um púlpito ricamente decorado. Além disso, o fato de ele ser corpulento e rechonchudo indica uma crítica aos vícios do clero, nesse caso, a gula. Por fim, alguns católicos seguram terços nas mãos, indicando que oram à Virgem Maria. Esse culto é negado pelos protestantes.
CAPÍTULO 5 O ESTADO ABSOLUTISTA E O MERCANTILISMO
Na Europa Ocidental, que vivera uma série de transformações sociais, políticas e econômicas, especialmente nos séculos quinze e dezesseis, a burguesia enriquecida desejava implementar reformas para impulsionar o comércio.
O transporte de mercadorias de uma cidade para outra, por exemplo, obrigava os comerciantes a cruzar vários feudos. Cada um deles estava sob a autoridade de um senhor feudal, que estipulava suas leis e taxações. Dificuldades como essas levaram a burguesia a apoiar a centralização do poder nas mãos de um rei, que poderia unificar a moeda, as leis e os impostos e estabelecer um sistema de pesos e medidas único, facilitando as trocas comerciais.
Muitos nobres também apoiavam a centralização do poder nas mãos de um rei. Esses nobres, geralmente enfraquecidos com as Cruzadas e com as fugas de servos para as cidades, desejavam se aliar aos reis em troca de benefícios e privilégios.
O processo de centralização do poder real foi longo e também sofreu resistências, principalmente da Igreja católica e da maior parte dos senhores feudais. Apesar desses entraves, os reis conseguiram impor sua autoridade sobre os habitantes de um território e consolidar os chamados Estados modernos.
Respostas e comentários
Sobre o Capítulo
Este Capítulo aborda o processo de centralização política ocorrido a partir do século onze, as principais noções e teorias a respeito do absolutismo e as características do mercantilismo.
O processo de centralização política ocorrido em diversas regiões europeias, iniciado no século onze, contribuiu para o posterior desenvolvimento da expansão ultramarina e do colonialismo europeu a partir do século dezesseis, tema abordado na Unidade quatro. Para o caso da península Ibérica, é importante frisar a relação entre a Reconquista e o processo de formação do Estado nacional. Já para o caso inglês, é importante ressaltar a elaboração da Carta Magna, documento que regulava as relações entre o soberano e a burguesia, o clero e a nobreza. Sugerimos trabalhar com os estudantes as noções de centralização e descentralização política, destacando as diferenças entre as relações de poder no feudalismo (baseadas em laços de dependência pessoal) e os poderes instituídos nos Estados modernos.
O pensador João de sálsbãrri, que viveu no século doze, dizia que o Estado era “um corpo do qual o rei era a cabeça, o Senado, o coração, os juízes e governadores de províncias, os olhos, ouvidos e língua, os guerreiros, as mãos, os arrecadadores de impostos e fiscais, o ventre e o intestino, os camponeses, os pés”. Segundo o historiador Hilário Franco Júnior., o termo “Estado” começou a ganhar o sentido que tem atualmente, isto é, de corpo político submetido a um govêrno e a leis comuns, apenas em meados do século treze, tornando-se mais usual a partir de fins do século . quinze
Observação
O conteúdo apresentado nesta página permite dar início ao desenvolvimento do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero sete.
Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo
ê éfe zero sete agá ih zero sete: Descrever os processos de formação e consolidação das monarquias e suas principais características com vistas à compreensão das razões da centralização política.
ê éfe zero sete agá ih um três: Caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo atlântico.
ê éfe zero sete agá ih um sete: Discutir as razões da passagem do mercantilismo para o capitalismo.
A centralização monárquica
A partir do século doze, várias regiões da Europa tinham iniciado o processo de centralização do poder real e de formação dos Estados modernos. Essa mudança estava relacionada a um conjunto de transformações sociais, econômicas e culturais que ocorriam no período, como a intensificação do comércio e o crescimento das cidades, o questionamento do poder da Igreja católica, a difusão das ideias humanistas e o fortalecimento da autoridade do rei.
A partir do século quinze, os monarcas criaram mecanismos para a consolidação do seu poder e a possibilidade de exercê-lo sobre vastas regiões.
As crises econômicas, a baixa produção de alimentos, a fome e as guerras que atingiram algumas regiões da Europa também contribuíram para a centralização monárquica, que era considerada uma fórma de combater esses problemas e assegurar a estabilidade.
Os reis criaram leis, impostos e moedas de circulação nacional, passaram a fiscalizar as estradas e constituíram uma burocracia formada por funcionários administrativos encarregados de fazer valer as decisões do soberano em todo o reino. A organização e o contrôle do comércio, do sistema educacional e da justiça também ficaram a cargo do Estado. Além disso, os reis formaram exércitos permanentes e profissionais, subordinados à autoridade da Coroa.
Respostas e comentários
Orientações
Retome com os estudantes alguns conhecimentos e aspectos estudados anteriormente sobre o período medieval. Comente com eles que, durante a Idade Média, as estruturas políticas estavam baseadas principalmente no exercício pessoal do poder. Além disso, senhores feudais, reis, príncipes e governantes das comunas eram ligados uns aos outros por relações de dependência pessoal. Esses homens também disputavam entre si os poderes locais. Esses poderes consistiam no monopólio da utilização de armas, no exercício da justiça e na cobrança de tributos, taxas e obrigações. Por isso dizemos que o poder estava fragmentado. Mas havia também poderes universalistas, como o do papa e o do imperador. Esses homens tinham domínios de terra mais extensos e também dependiam de homens de confiança para representá-los em cada região. A formação dos Estados modernos processou-se quando essas relações de poder se transformaram. O poder local foi ganhando uma estrutura mais estável, com cargos e funcionários, e não mais apenas com homens de confiança. Os territórios dos domínios reais e das comunas foram se consolidando e, sobre a população que neles habitava, os governantes cobravam impostos e exerciam o poder militar. Assim, o Estado nascia como uma organização pública independente da pessoa do rei ou de um governante em particular.
Observação
Por meio do estudo do conteúdo apresentado nesta página, será possível aos estudantes desenvolver a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero sete.
Texto complementar
O historiador péry énderson descreve o processo de formação dos Estados monárquicos:
As alterações nas fórmas de exploração feudal sobrevindas no final da época medieval estavam, naturalmente, longe de serem insignificantes. Na verdade, foram precisamente essas mudanças que modificaram as fórmas do Estado. Essencialmente, o absolutismo era apenas isto: um aparelho de dominação feudal recolocado e reforçado, destinado a sujeitar as massas camponesas à sua posição social tradicional reticências. Em outras palavras, o Estado absolutista reticências era a nova carapaça política de uma nobreza atemorizada.
Énderson, Péri. Linhagens do Estado absolutista. terceira edição São Paulo: Brasiliense, 1995. página 18.
O absolutismo
A centralização do poder atingiu seu ápice nos séculos dezesseis e dezessete com o absolutismo. O regime absolutista caracterizou-se pela grande concentração do poder político nas mãos dos reis, em uma época em que o comércio se expandia e a burguesia acumulava riqueza. Muitos dos antigos direitos feudais que favoreciam os senhores locais e a nobreza perderam validade.
A eclosão da Reforma protestante também contribuiu para o fortalecimento do poder dos reis. A divisão do cristianismo enfraqueceu o poder do papa. Nos países católicos, a Igreja foi colocada sob a autoridade dos reis. Alguns teóricos do período defenderam a centralização política do Estado absolutista como fórma de constituir uma sociedade forte e poderosa.
Ler a pintura
O rei Luís catorze, conhecido como o Rei-Sol, é um dos mais representativos monarcas absolutos. Seu reinado, que durou 72 anos (de 1643 a 1715), foi marcado pela ostentação e por rituais que envolviam vestes, objetos de luxo e uma grande côrte. Para muitos historiadores, as demonstrações de riqueza, a grandeza, a glória e o prestígio propagandeados pelo rei e sua côrte serviam para garantir a estabilidade do reino e a legitimação do poder real.
• Em grupos, observem cuidadosamente a imagem a seguir e respondam:
a) Como o rei Luís catorze foi representado nesta pintura?
b) Que elementos da pintura revelam a autoridade do monarca?
Respostas e comentários
Orientações
Proponha aos estudantes que reflitam sobre o significado da centralização política e a formação do Estado moderno neste período de transição da Baixa Idade Média para a modernidade.
A natureza do Estado absolutista é um tema muito polêmico entre os historiadores. Eles discutem se o regime absolutista surgiu para defender os interesses da nobreza, da burguesia ou para conciliar os interesses das duas classes sociais. Os marxistas costumam defender a ideia de que o absolutismo surgiu no momento em que desapareceu a servidão, que era a base de sustentação do modo de produção feudal na Europa, e a formação do Estado moderno significou o equilíbrio de fôrças entre a burguesia e a nobreza.
Alguns historiadores acreditam, no entanto, que o fim da servidão não foi acompanhado pelo desaparecimento das relações feudais no campo. Segundo péry énderson, o Estado absolutista representou, nesse momento, um instrumento de dominação feudal pôsto em funcionamento para a manutenção da fórma tradicional de exploração das massas camponesas.
Observação
O conteúdo abordado nesta página contribui para a ampliação do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero sete.
Respostas
Ler a pintura: a) O rei Luís catorze ocupa o centro da pintura. Ao seu redor, encontram-se vários membros da Academia Real de Ciências, representados em posição de submissão a ele.
b) O monarca está cercado por livros, mapas e globos terrestres, símbolos de cultura e riqueza no século dezessete. Esses elementos demonstram a importância do soberano e a submissão das ciências aos interesses do monarca.
Teóricos do absolutismo
Na Europa ocidental, o poder absoluto dos reis contrariava uma longa tradição de poderes locais, exercidos pelos senhores em cada feudo. Era necessário, então, legitimar o poder dos reis e justificá-lo pela razão e pela fé. Essa tarefa ficou a cargo de intelectuais importantes, como Tômas Róbese jáque bossuê.
- Tômas Róbes (1588-1679): filósofo inglês, rróbis afirma em sua principal obra, Leviatã, que só um Estado forte seria capaz de limitar a liberdade individual, impedindo a “guerra de todos contra todos”. O indivíduo deveria dar plenos poderes ao Estado, renunciando à sua liberdade a fim de proteger a própria vida. Hobbes defendia o poder absoluto do Estado, mas não necessariamente o do rei. Para ele, a autoridade poderia ser representada por um monarca ou por uma assembleia, desde que o poder fosse exercido sem contestação por parte dos súditos.
- jáque bossuê (1627-1704): bispo e teólogo francês, bossuê foi um dos mais importantes intelectuais da côrte de Luís catorze, o mais absolutista dos reis da França. Em seu livro Política tirada da Sagrada Escritura, bossuê desenvolveu a doutrina do direito divino dos reis, segundo a qual o poder do soberano expressava a vontade de Deus, sendo, portanto, incontestável e ilimitado. Como o poder monárquico era tido como sagrado, qualquer rebelião contra ele era considerada criminosa.
Respostas e comentários
Orientações
Comente com os estudantes que, apesar de o absolutismo ter sido uma fórma de govêrno específica da Europa da Idade Moderna, o apóstolo Paulo, do século um, e Agostinho de Hipona, que viveu de 354 a 430, defendiam a existência de governos fortes.
Outros pensadores colaboraram com formulações teóricas sobre a estrutura do Estado moderno. Embora não defendesse especificamente o absolutismo, o italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu a defesa da centralização do poder e é considerado o pai da moderna teoria política. Em seu livro mais famoso, O príncipe, o autor aconselha os governantes de sua época como realizar uma boa administração e manter o poder do Estado.
Observação
O conteúdo abordado nesta página possibilita, mais uma vez, o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero sete.
Sugestão para o professor:
budâ, Jan. Seis Livros da República. São Paulo: Icone, 2017. volume 1.
O livro de um dos teóricos do absolutismo é uma leitura recomendada para compreender mais profundamente a formação do Estado moderno e as mudanças importantes que ocorriam na Europa nos séculos dezesseis e dezessete, como na fórma de pensar, de fazer política e nas práticas econômicas.
Diferentes fórmas de pensar o absolutismo
É possível perceber uma diferença no pensamento dos dois teóricos vistos anteriormente ( Tômas Róbes e ): jáque bossuê
- , por um lado, defendia o absolutismo com base na razão, no argumento de que era necessário garantir a segurança dos indivíduos. rróbis
- Por outro lado, o bispo bossuê fundamentava sua defesa do absolutismo no direito divino dos reis, ou seja, na religião.
Ao estudar esse tema nas aulas de História, é comum vermos que a defesa do absolutismo com base no direito divino dos reis é considerada a fórma mais “clássica” de absolutismo. Contudo, como acabamos de notar ao comparar as ideias de rróbis e bossuê, diferentes teorias a respeito do poder absoluto dos reis coexistiram em um mesmo período, em diferentes reinos.
Diferentes absolutismos
Hoje, historiadores consideram que o absolutismo poderia variar de região para região, como mostra o trecho a seguir.
reticências o absolutismo apresentava variações regionais que o poderiam fazer mais ou menos centralizado. Há diferentes absolutismos, cada qual com suas particularidades, como é o caso da Espanha, da Inglaterra e da Rússia. reticências
Hoje é comum que o absolutismo francês seja tomado como modêlo clássico, Luís catorze, como o maior soberano absolutista, e a teoria do direito divino dos reis generalizada para todas as monarquias absolutas. No entanto, essa teoria não foi aceita e defendida por todas as monarquias. Em países como a Espanha, apesar do caráter religioso dos soberanos, a legitimação do poder foi feita mais por princípios legais do que religiosos. reticências
Já na Inglaterra, o Parlamento muito cedo diminuiu o poder dos monarcas. reticências
Assim, vemos que o absolutismo assumiu diferentes fórmas dependendo do Estado onde foi aplicado. As justificativas jurídicas ou teológicas tinham em comum o fato de que foram construídas para explicar o poder centralizado do rei.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Absolutismo. In: SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. segunda edição. São Paulo: Contexto, 2009. página 8-9.
Respostas e comentários
Orientações
Estimule os estudantes a refletirem sobre as diferentes concepções dos dois principais teóricos do absolutismo em relação ao poder dos monarcas. Essas diferentes maneiras de definir as monarquias tinham efeitos concretos na organização do Estado e na vida da população? Peça a eles que discutam coletivamente e formulem hipóteses sobre o assunto.
Observação
O conteúdo abordado nesta página permite a ampliação do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero sete.
Texto complementar
Leia no trecho a seguir a concepção do pensador Tômas Róbes sobre os seres humanos e a sociedade.
reticências a condição do homem reticências é uma condição de guerra de todos contra todos reticências. Portanto, enquanto perdurar este direito de cada homem a todas as coisas, não poderá haver para nenhum homem reticências a segurança de viver todo o tempo que reticências a natureza permite aos homens viver. reticências
Desta lei fundamental de natureza, mediante a qual se ordena a todos os homens que procurem a paz, deriva esta segunda lei: que um homem concorde, quando outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo.
Róbes, Tômas. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 2004. página 113-114.
Sugestão para o estudante:
O ABSOLUTISMO: a ascensão de Luís catorze. Direção: Roberto Rossellini. França, 1966. Duração: 94 minutos.
O filme possibilita um mergulho nos primeiros anos do reinado de Luís catorze (1643-1715), conhecido como Rei Sol, segundo a visão do mestre do neorrealismo italiano, Roberto Rossellini.
O mercantilismo
Observe, na pintura reproduzida a seguir, a vestimenta das pessoas, repleta de adornos e requinte. Manter a abundância e ostentação das côrtes europeias, assim como sustentar os funcionários que cuidavam da administração do reino e equipar as tropas que protegiam o território, tinha um custo muito alto.
Como sustentar tudo isso? A solução encontrada por muitas monarquias para enriquecer o reino foi adotar um conjunto de práticas que recebeu o nome de mercantilismo. Conheça algumas delas:
- Metalismo: a riqueza de um reino era medida pela quantidade de metais nobres que ele possuía. Por essa razão, muitos governos evitavam a saída de ouro e prata dos cofres do Estado.
- Balança comercial favorável: os governos criavam medidas protecionistas para encarecer os produtos importados e reduzir sua entrada no reino. Diminuindo as importações e aumentando as exportações, a balança comercial ficaria positiva.
- Estímulo às manufaturas locais: os governos estimulavam a produção de bens manufaturados, como tecidos e ferramentas. Esses produtos abasteciam o mercado interno, geravam impostos e podiam ser exportados, rendendo mais moedas para a Coroa.
Respostas e comentários
Orientações
Introduza algumas informações e indagações sobre a relação entre as práticas econômicas mercantilistas e as fórmas de exploração das colônias americanas pelas monarquias europeias iniciadas nesse período, tema que será abordado com maior detalhamento ao longo deste Capítulo.
Se houver possibilidade, chame a atenção dos estudantes para as duas crianças representadas na pintura reproduzida na página. Eles se vestem e se comportam como pequenos adultos, o que revela uma ideia de infância muito diferente da que existe nos dias de hoje. Destaque também a divisão entre homens e mulheres no baile. Com exceção dos que se preparam para a dança, os demais homens e mulheres da cena estão em grupos separados.
Texto complementar
Leia a seguir como o historiador Francisco Falcon explica a incorporação das práticas mercantilistas pelos Estados absolutistas recém-formados.
As práticas mercantilistas assumiram então duas fórmas principais: o monopolismo de exportação e o monetarismo ou bulionismo. A primeira correspondeu ao transplante, para o âmbito do Estado absolutista, de muitas das práticas político-econômicas comuns às cidades medievais caracterizadas, em conjunto, pelas preocupações monopolistas e protecionistas cuja expressão mais típica é o empório medieval. Concretamente, essa política aparece sob a fórma de contrôle pelo Estado de todo o fluxo do comércio exterior, fiscalizando-o, regulamentando-o, limitando-o. Não raro, como foi o caso ibérico, sobretudo o espanhol, tende-se a estabelecer um Pôrto único para o comércio ultramarino, ou pelo menos limita-se a alguns portos o privilégio do comércio exterior. reticências
Já a segunda das fórmas acima indicadas está diretamente ligada às consequências imediatas da descoberta do Novo Mundo: o afluxo dos metais preciosos e o início da exploração colonial.
FALCON, Francisco. Mercantilismo e transição. oitava edição. São Paulo: Brasiliense, 1987. página 83.
Observação
O conteúdo desta página oferece uma ótima oportunidade para dar início ao trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.
A acumulação de riquezas
As práticas mercantilistas foram utilizadas pelos reinos europeus para acumular riquezas. Um traço comum a todos os reinos foi a interferência do Estado na economia por meio de incentivos, tributação (impostos e taxas) e contrôle monopolistaglossário do comércio.
Entre os séculos quinze e , na Europa, a aliança entre os Estados e as burguesias impulsionou o investimento nas grandes viagens marítimas. Vários governos europeus passaram a organizar expedições para explorar os mares e conquistar colônias na África, na Ásia e na América, em busca de riquezas e produtos de alto valor para serem comercializados no mercado europeu, como dezoito especiariasglossário e metais preciosos. Assim, a acumulação de capitaisglossário foi garantida por meio de saques nas regiões conquistadas, que permitiram a transferência de imensos tesouros para a Europa. A pirataria também teve papel importante nesse processo.
As conquistas territoriais e a ampliação das relações comerciais permitiram a concentração de riquezas pelos europeus. A produção colonial de mercadorias muito cobiçadas e de alto valor na Europa, como o açúcar, o cacau, o algodão, o ouro e a prata, foi possível com a utilização do trabalho compulsórioglossário de indígenas e africanos.
Além disso, as monarquias europeias intensificaram a produção de manufaturas, que também passaram a ser vendidas em suas colônias, o que aumentava seus lucros. Dessa fórma, algumas monarquias se transformaram em grandes potências econômicas mundiais.
Respostas e comentários
Orientações
Converse com os estudantes sobre a expansão colonial e informe a eles que as conquistas territoriais favoreceram a interligação dos mercados mundiais e o fortalecimento da economia europeia.
Entre os séculos quinze e dezoito, a aliança entre os Estados monárquicos e as burguesias europeias impulsionou o investimento em marinhas mercantes, nas grandes viagens marítimas. Essas práticas estão intimamente relacionadas ao desenvolvimento do capitalismo, ao acúmulo de riquezas transferidas dos territórios coloniais para a Europa. Além disso, é importante ressaltar o papel fundamental da produção colonial e do comércio escravista, altamente lucrativos para as economias das metrópoles.
A expansão colonial permitiu também a intensificação da produção de manufaturas na Europa e o crescimento econômico das monarquias europeias. Algumas delas se tornaram grandes potências mundiais nesse período.
É importante salientar para os estudantes que eles irão estudar mais adiante, neste volume, como o mercantilismo afetou as relações econômicas que as monarquias europeias estabeleciam com suas colônias, entre elas, a América portuguesa.
Observação
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Texto complementar
Para entender as relações entre mercantilismo e as colônias europeias na América, leia o trecho a seguir.
A prosperidade dos Estados modernos deveu-se em grande parte ao mercantilismo reticências.
A peça capital do mercantilismo era o Pacto Colonial, sistema que não apenas regulamentava as relações entre as potências colonizadoras entre si e entre estas e as colônias, como ordenava em todos os mares a atividade econômica, política, militar e as disposições jurídicas.
MACHADO, Luiz Toledo. Formação do Brasil e unidade nacional. São Paulo: 1980. página 31.
Diferentes caminhos
Os reinos europeus seguiram diferentes caminhos no processo de acumulação de riquezas. Portugal e Espanha deram maior ênfase ao metalismo. No século dezesseis, a Espanha extraiu uma grande quantidade de ouro e prata das suas colônias na América. Portugal encontrou minas de ouro no Brasil no final do século dezessete.
Já a Holanda investiu na integração do comércio externo e nos empréstimos ao setor manufatureiro, por exemplo, para a produção do açúcar. A França, em busca de uma balança de comércio favorável, estabeleceu incentivos às exportações, restrições às importações e estímulo à produção de manufaturas de luxo.
A Inglaterra, além de garantir uma balança de comércio favorável e a produção interna de manufaturas, promoveu os cercamentos das terras, o que induziu a migração em massa de trabalhadores do campo para as cidades.
A Inglaterra combinou diferentes métodos de acumulação de capitais e superou os demais países europeus, preparando o caminho de transição do mercantilismo para o capitalismo industrial, no século dezoito.
Os cercamentos
Os “cercamentos” foram decretos do govêrno inglês que permitiram aos grandes proprietários rurais cercar e se apoderar das terras comunais, que eram utilizadas pelos camponeses para a produção agrícola. Nessas terras, foram criadas ovelhas, das quais era retirada a lã, utilizada como matéria-prima na indústria têxtil.
Esse processo, que deixou os camponeses sem ter onde plantar para a sua sobrevivência e obrigou-os a abandonar o campo, foi criticado na obra mais famosa do humanista Tômas Morus (1478-1535). Leia o trecho a seguir.
De fato, a todos os pontos do reino, onde se recolhe a lã mais fina e mais preciosa, acorrem, em disputa do terreno, os nobres, os ricos e até santos abades. reticênciasEles subtraem vastos tratos de terra à agricultura e os convertem em pastagens; abatem as casas, as aldeias, deixando apenas o templo para servir de estábulo para os carneiros. Transformam em desertos os lugares mais povoados e mais cultivados.
reticências honestos cultivadores são expulsos de suas casas, uns pela fraude, outros pela violência . E e reticênciasstas famílias mais numerosas do que ricas (porque a agricultura tem necessidade de muitos braços) emigram campos em fóra, maridos e mulheres, viúvas e órfãos, pais e mães com seus filhinhos.
mórus, tômas. A Utopia. [ sem local]: Ridendo Castígat Mores, 2011. ibúk.
Respostas e comentários
Orientações
Após o trabalho com os conteúdos desta página, comente com os estudantes que, no período da expansão marítima europeia, a Inglaterra foi um dos países que praticou a pirataria. A pilhagem de navios espanhóis carregados de ouro e prata, retirados da América, enriqueceu a côrte inglesa.
Converse com os estudantes sobre o impacto dos cercamentos de terra e como a expulsão dos camponeses das terras comunais e produtivas impulsionou a transição do feudalismo para o capitalismo. As terras antes usadas para a subsistência foram transformadas em propriedades privadas de exploração exclusiva. Os cercamentos de terra na Inglaterra se prolongaram do século dezesseis ao século dezoito. A condição de vida dos camponeses foi profundamente modificada. Sem terras para produzir, eles foram obrigados a vender sua fôrça de trabalho para poder sobreviver, passando da condição de servos para a de assalariados.
Observação
O conteúdo abordado nesta página possibilita a ampliação do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih um três e dar início ao desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih um sete.
Texto complementar
Sobre os cercamentos de terra na Inglaterra, leia o trecho a seguir.
O processo de cercamento inglês seguiu em ritmo irregular durante muitos séculos; seu ápice ocorreu no final do século dezoito e início do século dezenove. Quando terminou, algo como 10 mil acres de terra, quase metade da terra arável da Inglaterra, estava “cercada” – no início da era Tudor, pela conversão mais ou menos arbitrária dos “comuns” à criação de ovelhas; no final do período, pela obrigatória consolidação de pedaços de terra em porções maiores adequadas ao uso comercial reticências.
; Raielbroner, Róbert Él . Mílberg, Uílham A construção da sociedade econômica. São Paulo: Bookman, 2008. página 67.
Em debate
Mercantilismo como transição para o capitalismo ou capitalismo comercial?
Frases como “tempo é dinheiro” e “tudo é mercadoria” traduzem um tipo de sociedade chamado de capitalista. A sociedade capitalista caracteriza-se pela propriedade privada dos bens e dos meios de produção, pela produção em massa voltada para o mercado, pela existência de trabalhadores que precisam vender sua fôrça de trabalho em troca de um salário para sobreviver e pela busca do lucro.
O capitalismo começou a se desenvolver no interior do feudalismo, quando este entrava em declínio. Na concepção de alguns historiadores, o mercantilismo é um conjunto de práticas relacionadas a esse processo de transição.
Para o historiador Francisco Falcon, o mercantilismo é uma época específica, com estruturas políticas, econômicas e sociais que não são mais feudais nem propriamente capitalistas. A acumulação de capital pelos Estados modernos europeus nesse período teria possibilitado a posterior consolidação das relações capitalistas. Para aprofundar esse tema, leia o texto a seguir e realize as atividades propostas.
Vivemos hoje, mais do que nunca, mergulhados num mundo de “ismos”, tanto políticos quanto econômicos, a tal ponto que eles se tornaram elementos necessários a nossa própria maneira de pensar e sentir a realidade que nos cérca. É com eles que classificamos, rotulamos e, acima de tudo, aceitamos ou criticamos a realidade contemporânea. O mercantilismo é, num certo sentido, um desses ismos reticências.
Do nosso próprio ponto de vista acreditamos que o mercantilismo deve ser entendido como o conjunto de ideias e práticas econômicas que caracterizam a história econômica europeia e, principalmente, a política econômica dos Estados modernos europeus durante o período situado entre os séculos quinze/ dezesseis e dezoito.
Nesse sentido, entendemos que a definição de Mauricio Dób “o mercantilismo foi essencialmente a política econômica de uma era de acumulação primitivaglossário ” é, ainda, bastante esclarecedora, se entendermos essa acumulação primitiva como a acumulação prévia reticências, ou seja, um período anterior à existência da produção capitalista propriamente dita enquanto fórma ou modo de produçãoglossário dominante, reticências durante o qual diversas fórmas de acumulação de capital, não capitalistas por definição, tiveram lugar.
FALCON, Francisco. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense, 1996. página 8-12.
- De acôrdo com o texto, o que é o mercantilismo?
- Segundo o historiador, por que a época mercantilista foi um período de transição?
- Com base no texto e no estudo do Capítulo, explique como as práticas mercantilistas colaboraram para a acumulação primitiva de capitais.
Respostas e comentários
Orientações
Esta seção procura estimular a reflexão do estudante sobre as transformações profundas que ocorreram na Europa entre os séculos quinze e dezoito, e que alteraram definitivamente as relações econômicas entre os mercados estabelecidos em diversas regiões do mundo. As práticas que se configuraram nesse período de transição possibilitaram a passagem para o capitalismo, bem como a estruturação das sociedades modernas e a mundialização da economia. Desse modo, esta seção possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Educação financeira.
Observação
A reflexão proposta nesta seção possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um sete.
Respostas
1. Segundo o texto, o mercantilismo deve ser entendido como o conjunto de ideias e práticas econômicas que caracterizaram a economia europeia e, principalmente, a política econômica dos Estados modernos europeus durante o período situado entre os séculos / quinze dezesseis e . dezoito
2. Para o historiador Francisco Falcon, o mercantilismo é uma época específica na qual as estruturas econômicas, sociais e políticas não são mais feudais nem podem ser chamadas especificamente de capitalistas. Falcon acredita que o mercantilismo foi uma época de acumulação primitiva de capitais, anterior à existência da produção capitalista.
3. Segundo o texto, as práticas mercantilistas promoveram diversas fórmas de acumulação de capital pelos Estados modernos europeus. Assim, a acumulação deriquezas nesse período se deu por meio da ampliação do comércio e dos monopólios comerciais, da tributação, dos saques e da exploração colonial.
Sugestões complementares referentes ao Capítulo:
Énderson, Péri. Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo: Unésp, 2016.
A obra de péry énderson analisa o desenvolvimento dos Estados absolutistas no início da Idade Moderna, avaliando as diferentes trajetórias em cada reino e considerando que as raízes desse processo estão no feudalismo da Idade Média.
FELIPE, Luis Miguel. O nascimento da política moderna: Maquiavel, Utopia, Reforma. Brasília: ú êne bê, 2007.
A obra analisa aspectos da política e do estabelecimento de Estados absolutistas na Europa da Idade Moderna.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- No caderno, numere as frases a seguir para que, ao serem encadeadas, formem um texto contínuo e coerente.
- O bispo jáque bossuê, ao contrário, defendia o poder absoluto dos reis com base em explicações religiosas.
- Os teóricos do poder absoluto dos reis utilizaram a razão e a fé para justificar a autoridade monárquica.
- A centralização do poder real ocorreu em um contexto de empobrecimento da aristocracia e de perda do poder pelo papa em decorrência da Reforma protestante.
- Em vários países da Europa, o crescente fortalecimento do poder dos reis foi o início do processo que originou o absolutismo.
- O filósofo Tômas Róbes, um dos mais importantes defensores do absolutismo, pregava a necessidade de uma monarquia forte para controlar a agressividade humana e impedir a luta de todos contra todos.
- Segundo ele, o poder do rei tinha origem divina; logo, era inquestionável.
- A frase “O Estado sou eu” é tradicionalmente atribuída ao rei francês Luís catorze. Qual era o sentido dessa afirmação?
- Elabore uma frase que sintetize cada uma das práticas mercantilistas listadas a seguir.
- Balança comercial favorável.
- Metalismo.
- Incentivo à produção interna.
- Qual grupo social se aliou aos reis e apoiou a centralização política? Quais eram os interesses envolvidos nessa aliança?
- Como a política econômica mercantilista contribuiu para o fortalecimento das monarquias europeias e a passagem para o capitalismo?
- Explique a relação entre o mercantilismo e o avanço territorial das monarquias europeias em diversas regiões do mundo.
- O texto a seguir aborda o processo de transição da Idade Média para a consolidação dos Estados modernos. Com um colega, leia e identifique as principais transformações mencionadas pelo autor. Depois, ainda em dupla, respondam às questões:
reticências é impossível duvidar que o Estado, tendo fôrça para fazê-lo, não tomasse, pouco a pouco, o caminho do mercantilismo. Essa palavra não se pode empregar aqui sem amplas restrições. Mas, por estranho que seja, ainda, aos governos do fim do século catorze e princípios do quinze, o conceito de uma economia nacional, o certo é que a sua conduta revela o desejo de proteger a indústria e o comércio dos seus súditos contra a concorrência externa, e mesmo, em alguns casos, de introduzir, na região, novas fórmas de atividade. Inspiraram-se, a esse respeito, no exemplo das cidades. Sua política é, no fundo, unicamente, uma política urbana estendida até os limites do Estado. Da política urbana conserva o caráter essencial: o protecionismo. Inicia-se a evolução que, por fim, rompendo com o internacionalismo medieval, impregnara os Estados de um particularismo tão exclusivo como o foi o das cidades durante os séculos.
. Pirrêne, Enrí História econômica e social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou, 1982. página 216-217.
- Quais aspectos citados no texto evidenciam que ainda no final do século catorze surgiram práticas que culminariam mais tarde na centralização política do absolutismo e no mercantilismo?
- Como o autor caracteriza a política urbana desse período?
Respostas e comentários
Seção Atividades
Objetos de conhecimento
• A formação e o funcionamento das monarquias europeias: a lógica da centralização política e os conflitos na Europa.
• As lógicas mercantis e o domínio europeu sobre os mares e o contraponto Oriental.
• A emergência do capitalismo.
Habilidades
São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:
• ê éfe zero sete agá ih zero sete (atividades 1, 2, 4, 7)
• ê éfe zero sete agá ih um três (atividades 3, 5, 6, 7)
• ê éfe zero sete agá ih um sete (atividade 5)
Respostas
1. a) 6; b) 3; c) 1; d) 2; e) 4; f) 5.
2. A frase expressa o poder político absoluto, o máximo de centralização política representada na autoridade exclusiva do governante.
3. a) Princípio da política mercantilista que consistia na adoção de medidas protecionistas para garantir o superávit comercial, ou seja, a entrada maior que a saída de metais preciosos no país.
b) O metalismo baseava-se na prática de acúmulo de metais preciosos para garantir a riqueza de um reino.
c) A teoria econômica mercantilista incentivava a produção interna de manufaturas que abasteciam os mercados locais e podiam ser exportadas, gerando impostos e lucros para os Estados monárquicos.
4. A burguesia comercial se aliou aos reis porque pretendia driblar os tributos e as variadas moedas cunhadas em cada feudo, o que prejudicava seus negócios. Dessa fórma, esse grupo social aprovou a centralização política e econômica nas mãos do rei, que unificou a moeda e a justiça, o que favoreceu a expansão de suas atividades.
5. O mercantilismo contribuiu para o fortalecimento e o enriquecimento das monarquias europeias, que se tornaram grandes potências, assim como para a ampliação do comércio mundial.
6. A expansão das relações comerciais e o avanço territorial dos Estados e da burguesia europeia em vários continentes, como Ásia, África e América, estimularam também o investimento nas grandes marinhas mercantes, nas viagens marítimas e na conquista colonial.
7. a) A proteção do Estado à indústria e ao comércio local contra a concorrência externa, assim como a introdução de novas atividades.
b) A política urbana desse período se caracterizava pelo protecionismo, que rompeu com o internacionalismo medieval e impulsionou o processo que, mais tarde, consolidaria o conceito de economia nacional.
Para refletir
Como se deu a construção da ideia de “modernidade” e de ciência moderna?
Você já percebeu que os estudos da História são resultado de uma construção? Essa construção tem como base o trabalho dos historiadores e as questões que eles consideram importantes, de acôrdo com as experiências de seu tempo. Assim, é interessante perceber que os estudiosos fazem escolhas: eles escolhem o que vão analisar e, mais importante, como vão analisar determinado evento ou uma questão específica.
No trabalho com a chamada Idade Moderna não é diferente. O que está em jôgo quando pensamos na ideia de modernidade? Vamos pensar mais sobre essa ideia, construída ao longo do tempo? Para começar, leia uma definição de modernidade no contexto da História que estudamos nesta Unidade:
Os homens do século dezesseis julgavam estar vivendo em um mundo novo (moderno), embora o passado greco-romano devesse ser respeitado na construção desse novo mundo e do novo homem, liberto do “obscurantismo” medieval. reticências
Podemos definir a modernidade como um conjunto amplo de modificações nas estruturas sociais do Ocidente, a partir de um processo longo de racionalização da vida. Nesse sentido, como afirma [o historiador] Jaques Le Gófi, modernidade é um conceito estritamente vinculado ao pensamento ocidental, sendo um processo de racionalização que atinge as esferas da economia, da política e da cultura. reticências
reticências No plano cultural, aos poucos ocorreu o desencantamento do mundo: o mundo moderno só poderia ser entendido pela razão, sem necessitar recorrer a mitos, às lendas, ao temor, à superstição.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Modernidade. In: SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. segunda edição São Paulo: Contexto, 2009. página 297-298.
- Como os autores definem a modernidade?
- Retome os conteúdos estudados nesta Unidade e escreva um pequeno parágrafo relacionando a ideia de modernidade exposta nesse trecho à formação dos Estados modernos, ao Renascimento, à Reforma protestante e ao mercantilismo.
Você também percebeu, ao longo dos estudos nesta Unidade, que a modernidade e o racionalismo contribuíram para a valorização da ciência moderna, certo? E não foi só isso: o pensamento racional e os métodos científicos possibilitaram também a consolidação da História como disciplina científica.
Assim, os estudos históricos passaram a ser organizados em uma periodização criada por intelectuais franceses no século dezenove. Essa periodização, utilizada ainda na atualidade, segue uma lógica que coloca a Europa e o Ocidente como centro propulsor da evolução humana.
Para saber mais sobre esse assunto, leia o texto a seguir, do historiador jeãn chenô.
Respostas e comentários
Seção Para refletir
Em consonância com a Competência Geral da Educação Básica número 1, esta seção propicia ao estudante utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social e cultural para entender e explicar a realidade, além de colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
O trabalho aqui proposto também permite o desenvolvimento das Competências Específicas do Componente Curricular História número2 e número 6, levando os estudantes a: Compreender a historicidade no tempo e no espaço, relacionando acontecimentos e processos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais, bem como problematizar os significados das lógicas de organização cronológica (2), e Compreender e problematizar os conceitos e procedimentos norteadores da produção historiográfica (3).
A seção discute o tema da ciência moderna vista como conhecimento que permite o encontro com a “verdade” e também como ícone de nossa civilização ocidental. Além disso, os textos apresentados exploram o momento histórico em que essa valorização da ciência moderna começou e quais seriam as origens do conceito de modernidade. Vale destacar, também, que esta seção possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Ciência e Tecnologia.
Habilidade
ê éfe zero sete agá ih zero um: Explicar o significado de “modernidade” e suas lógicas de inclusão e exclusão, com base em uma concepção europeia.
Respostas
1. No trecho, a modernidade é definida como um projeto de construção de um novo mundo, que rompia com o “obscurantismo” medieval. Está relacionada a um conjunto de mudanças nas estruturas sociais do Ocidente, um processo que envolve a racionalização de diversas esferas da vida, como a economia, a política e a cultura.
2. Espera-se que os estudantes reconheçam que as transformações do Renascimento, da Reforma protestante, do Estado absolutista e do mercantilismo apresentaram-se num contexto marcado pelo processo de racionalização e que contribuíram para a construção do conceito de modernidade e do pensamento ocidental a partir desse período.
O quadripartismo [periodização da História em Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea] tem como resultado privilegiar o papel do Ocidente na história do mundo e reduzir quantitativa e qualitativamente o lugar dos povos não europeus na evolução universal. reticênciasOs marcos escolhidos não têm significado algum para a imensa maioria da humanidade: fim do Império Romano, queda de Bizâncio.
chenô jeãn. Devemos fazer tábula rasa do passado? Sobre a história e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995. página 95.
- Segundo jeãn chenô, a periodização da História utilizada atualmente tem consequências? Explique.
- Considerando os dois textos, responda:
• Você acha que é possível dizer que a ideia de modernidade está ligada ao Ocidente e, mais especificamente, às transformações na Europa entre os séculos quinze e ? dezoito
Agora, para refletir sobre como a construção da ideia de modernidade desconsidera o ponto de vista de muitos povos, leia a seguir o trecho de um artigo.
A começar com o Renascimento e culminando [no século dezoito], os europeus passaram a se ver como sendo o centro do mundo e o clímax da evolução humana. Não apenas criaram uma geografia em que se localizam no centro e os outros povos reticências na periferia, mas também inventaram uma história em que se situam no presente de uma linha do tempo que evolui de um estado da natureza a um estado racional, civilizado, e os demais povos, embora contemporâneos, são situados no passado, são primitivizados.
[Nessa ideia de modernidade], os não europeus, “não ocidentais” são totalmente excluídos do diálogo, sequer são considerados reticências.
Minhôlo, Válter D.; SOUZA PINTO, Júlio Roberto de. A modernidade é de fato universal? Reemergência, desocidentalização e opção decolonial. tchívitas, volume 15, número 3, página 381-402, julho/ setembro 2015. página 386-387. Disponível em: https://oeds.link/1SLTcs. Acesso em: 3 fevereiro 2022.
5. Considerando o trecho do artigo que você acabou de ler, a ilustração do artesão chinês e sua legenda, responda: será que a ideia de modernidade pode tornar pouco visíveis as contribuições históricas e culturais dos diversos povos que não viviam no continente europeu?
Respostas e comentários
Questões para autoavaliação
Nesta Unidade, as questões sugeridas para autoavaliação – e que podem ser utilizadas, a seu critério, para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estudantes – são:
1. Quais eram os valores do Renascimento?
2. Em que medida os artistas do Renascimento inovaram em suas obras?
3. De que maneira a Reforma protestante expressou o contexto europeu do final da Idade Média?
4. Como a Igreja católica reagiu à Reforma protestante?
5. Quais foram as principais características do absolutismo?
6. Como as práticas mercantilistas possibilitaram o acúmulo de riquezas pelos Estados modernos europeus?
Respostas
3. Sim, para chênô, essa periodização tem como resultado privilegiar o papel do Ocidente na história do mundo. Além disso, ele indica que essa periodização reduz quantitativa e qualitativamente o lugar dos povos não europeus nos processos e nos eventos mundiais.
4. É esperado que os estudantes respondam que sim, que a ideia de modernidade está bastante ligada ao Ocidente e, especialmente, às transformações ocorridas na Europa entre os séculos quinze e dezoito.
5. É possível dizer que sim, que as contribuições no campo da cultura, dos saberes, das técnicas, da ciência e o próprio estudo dos processos históricos que tomam a Europa como centro ganham destaque até os dias de hoje em grande parte dos discursos e explicações difundidas no Ocidente, deixando encobertos e pouco conhecidos os diversos conhecimentos, experiências, contribuições e culturas dos povos não europeus.
Glossário
- Concílio
- Reunião do alto clero católico convocada para decidir questões da doutrina da Igreja, dos costumes e da disciplina eclesiástica.
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- Heresia
- Pensamento ou conduta que contrariam a doutrina estabelecida pela Igreja. Entre as práticas consideradas heréticas pela Igreja, estavam a feitiçaria e os ritos pagãos.
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- Monopolista
- Na época mercantilista, exploração exclusiva, sem concorrência, do comércio de mercadorias ou manufaturas.
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- Especiaria
- Nome dado ao conjunto de temperos que os europeus traziam do Oriente, como açúcar, cravo, canela, gengibre e pimenta.
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- Capital
- Em economia, é qualquer bem econômico que pode ser utilizado na produção e aquisição de outros bens ou serviços, como recursos monetários, fábricas e equipamentos.
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- Trabalho compulsório
- Trabalho forçado, imposto a uma pessoa.
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- Acumulação primitiva
- Fase preparatória de acumulação de riquezas que antecedeu a constituição do modo de produção capitalista.
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- Modo de produção
- Reúne as fôrças produtivas (meios de produção e fôrça de trabalho) e as relações sociais e técnicas de produção.
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