UNIDADE quatro  A CONQUISTA E A RESISTÊNCIA NA AMÉRICA

Ilustração. Página vertical, de fundo branco. No topo, em letras de forma, escrito com tinta preta, o texto: 'Armada de Capitães Ano de 507.' Logo abaixo, sete caravelas ilustradas na página: duas no topo, três no centro, e duas na parte inferior. Acima das embarcações, em letra de mão escrita com tinta preta, o nome do capitão de cada uma das embarcações. As caravelas são bastante semelhantes entre si: embarcações com um casco de madeira em forma de meia lua na cor marrom; um mastro vertical, mais alto, no centro da embarcação; um mastro mais baixo na proa e outro ainda menor na popa, além de um mastro menor e inclinado diagonalmente se projetando para fora da embarcação (gurupés). Cada uma das embarcações ilustradas tem um número diferente de velas içadas; há embarcações com três velas grandes içadas, uma no mastro mais alto, outra no mastro na proa, outra no gurupés. Outras caravelas tem velas grandes e velas pequenas içadas, algumas com as três velas grandes e uma pequena, outras com três velas grandes e duas pequenas. Em todos os casos são usadas velas redondas, ou seja, velas de formato quadrado. Elas são de cor bege, têm listras verticais finas e, no centro, uma cruz na cor vermelha. Nos mastros de todas elas, há feixes de cordas atados, presos no alto dos mastros e no convés das embarcações formando linhas diagonais. A segunda caravela da primeira linha tem, no topo do mastro mais alto, uma bandeira branca com cinco bolinhas vermelhas; a primeira caravela da terceira linha tem uma bandeira igual; a embarcação ao lado dela tem uma bandeira de fundo vermelho com bolinhas pretas no topo do mastro mais alto. As demais caravelas não tem bandeiras em seus mastros.
Ilustração das Caravelas que faziam parte da frota comandada por Vasco da Gama, em 1502, publicada em livro de Lisuarte de Abreu. cêrca de 1565. Tinta sobre papel (detalhe), 28 por 19 centímetros. Biblioteca e Museu Morgan, Nova York, Estados Unidos.
Respostas e comentários

Apresentação

Esta Unidade, intitulada “A conquista e a resistência na América”, relaciona-se às seguintes Unidades Temáticas da Bê êne cê cê do 7º ano: O mundo moderno e a conexão entre sociedades africanas, americanas e europeias; Humanismos, Renascimentos e o Novo Mundo; A organização do poder e as dinâmicas do mundo colonial americano.

Em consonância com as Competênciais Gerais da Educação Básica número 7 e número 10, esta Unidade pretende propiciar ao estudante a argumentação com base em informações confiáveis, para formular ideias que respeitem e promovam a consciência socioambiental, bem como a tomada de ações pessoais e coletivas com responsabilidade. Além disso, de acôrdo com as Competências Específicas do Componente Curricular História número1, número 4 e número5, os conteúdos trabalhados buscam levar os estudantes a: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo (1), Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico(4) e Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço (5).

Gravura preto e branco. Sobre um fundo branco, gravado na cor preta, em primeiro plano, vista parcial do convés de uma embarcação com quatro pessoas em pé: duas à esquerda, em nível mais baixo, perto do mastro central da embarcação, outras duas, à direita, em nível mais alto, perto de outro mastro, na proa.  Os homens estão vestidos com gorros e boinas sobre a cabeça, casacos de mangas compridas com pregas nos quadris presos por cintos atados em torna da cintura deles, calças justas e sapatos. À direita, em frente a embarcação, há um homem em pé, voltado para à esquerda. Ele usa um chapéu de abas, um casaco comprido até os joelhos, calças justas e botas de cano alto. Segura uma corda com três nós com suas duas mãos. A corda atravessa verticalmente o canto direito da gravura. Em segundo plano, à esquerda, no alto, uma embarcação afundando em alto mar. Há apenas um um homem no convés, visto da cintura para cima, usando uma boina. Somente a popa da embarcação está acima da linha da água. No alto da gravura, atrás dessa embarcação, próxima ao mastro da embarcação em primeiro plano, há a figura de um rosto humano, soprando, e nuvens. Todo o fundo da gravura é marcado por linhas verticais
Ilustração publicada em 1562 na obra Historia de gentíbus septantrionalíbus, de Olaus Magnus. Os povos europeus dedicaram-se intensamente à prática da navegação no século dezesseis. Biblioteca da Universidade Cornell, Ítaca, Estados Unidos.

Na Unidade dois, estudamos que, a partir do século quinze, vários Estados da Europa passaram a dispor grandes investimentos em estudos científicos nas mais diversas áreas. Tais estudos propiciaram uma série de inovações técnicas nos mais variados setores, como o marítimo.

O desenvolvimento de embarcações mais velozes e resistentes, além de instrumentos de navegação mais precisos, por exemplo, possibilitou a exploração de regiões até então desconhecidas pelos europeus.

Foi nesse contexto que os europeus chegaram à América e, a partir de então, a maior parte dos territórios do continente americano se tornou colônia dos reinos europeus.

Os impactos da exploração territorial na América foram profundos, e podem ser percebidos e sentidos até os dias de hoje.

Entre outros fatores, essa exploração envolveu a dominação, o massacre e a escravização dos povos nativos.

Você sabe qual foi o impacto desse processo nos modos de vida dos habitantes do continente americano? Ou como os povos indígenas resistiram à dominação europeia? Nesta Unidade, você vai conhecer um pouco mais sobre esses assuntos.

Você estudará nesta Unidade:

O processo de expansão marítima europeia

As viagens marítimas portuguesas e espanholas

A conquista da América pelos portugueses e pelos espanhóis

O impacto da dominação e da colonização europeia para os indígenas

A resistência indígena

Respostas e comentários

Nesta Unidade

A partir do final do século quinze, com a expansão marítima, a história da Europa e a da América se encontraram e se conectaram. A conquista e a colonização da América são temas que suscitam o debate a respeito de assuntos de grande relevância, como a violência, o preconceito e o etnocentrismo envolvidos no processo de dominação. A expansão ultramarina europeia colocou em contato alguns povos que antes não se conheciam, novidade que impactou fortemente o imaginário europeu da época moderna. Desde então, duas questões são debatidas em vários campos das ciências humanas: a da alteridade, ou seja, o reconhecimento do outro (em suas múltiplas dimensões), e a das várias fórmas de violência praticadas pelos europeus para assegurar a conquista dos povos do Novo Mundo.

Levante os conhecimentos prévios dos estudantes sobre a expansão marítima europeia perguntando se eles imaginam qual foi a sua importância para a história da humanidade, que tipo de tecnologia estava disponível, se havia interesses religiosos, quais eram as dificuldades da realização desses projetos, que nações estavam envolvidas, quais eram as motivações dessas viagens e os resultados que elas tiveram.

Objetos de conhecimento trabalhados na Unidade

A construção da ideia de modernidade e seus impactos na concepção de História.

A ideia de “Novo Mundo” ante o Mundo Antigo: permanências e rupturas de saberes e práticas na emergência do mundo moderno.

As descobertas científicas e a expansão marítima.

A conquista da América e as fórmas de organização política dos indígenas e europeus: conflitos, dominação e conciliação.

CAPÍTULO 8  EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA

Hoje, se alguém perguntar onde fica a China, o Peru e a África do Sul, você saberia responder e localizar esses países facilmente em um mapa-múndi, não é mesmo? No entanto, esse conhecimento geográfico nem sempre existiu! Ele é fruto de longos anos de estudos e de viagens exploratórias, realizadas por diversos povos, dentre eles os europeus no século quinze.

Até o séculocatorze, os europeus tinham um conhecimento geográfico bem diferente daquele da atualidade: eles conheciam, basicamente, a Europa e as proximidades do Mediterrâneo, como o norte da África e regiões da Ásia. Além disso, existia o medo do desconhecido. Contavam-se histórias de que o oceano Atlântico abrigava monstros marinhos e as terras distantes eram habitadas por seres assustadores.

Apesar dessas narrativas, no início do século quinze, os europeus partiram para viagens marítimas à procura de terras até então desconhecidas por eles. Vamos entender melhor como isso aconteceu?

Gravura. Ocupando os cinco sextos inferiores da imagem, o mar, em azul, com cerca de quinze seres de tamanhos diversos e coloridos, além de duas embarcações. No topo da gravura, ocupando um sexto da imagem, na parte superior, uma faixa de terra, coberta de vegetação, com seis espécies de animais terrestres e dois homens, um em cada ponta. Um, à esquerda, em um trenó azul e dourado puxado por um animal com grandes chifres em forma de galho; outro à direita, tentando afugentar um grupo de serpentes verdes usando um bastão longo de madeira. No canto esquerdo inferior, um monte de terra coberto de grama verde, com uma árvore pequena com frutos cor de laranja. Cada um dos animais é assinalado por uma letra. No mar, ocupando a parte inferior da gravura, um grande ser com cauda de peixe comprida, a ponta da cauda em laranja e vermelho; com patas dianteiras com as de um réptil, curtas, coberto por escamas de cor lilás, expelindo água por um orifício no topo de sua cabeça, com um olhar irritado e grandes dentes afiados para fora da boca aberta contornada de amarelo. Está assinalado com a letra 'A'. Acima dessa figura, em tamanho menor, há diversos outros seres marinhos e fantásticos, de diferentes cores. À esquerda, uma lagosta vermelha  e gigantesca, marcada com a letra 'M', segura um homem de blusa azul e calça amarela com uma de suas patas. À direita, um ser de cor azul clara com pintinhas escuras e marcado com a letra 'N' agarra uma lagosta vermelha com suas pata e crava seus dentes afiados nela. Acima, uma figura em formato de cobra, com o corpo gigantesco, verde escuro, coberto por escamas está enrolada em uma embarcação à vela feita de madeira, marcada com a letra 'C', atacando-a. No centro, uma criatura com pescoço e crina similares aos de um cavalo e com cara de felino, com dentes afiados e língua para fora, voltada para a esquerda, marcada pela letra 'B',  expele água por dois orifícios no topo de sua cabeça e está prestes a atacar uma embarcação à vela à esquerda dela, com diversas pessoas à bordo, que lançam barris de madeira ao mar. Abaixo dessa criatura, uma figura de formas humanas, nua, parece nadar. No canto esquerdo, também destacada pela letra 'A', outra criatura verde, com escamas e dentes afiados, também está voltada no sentido da embarcação e dos barris. No alto da proa dessa embarcação, um homem em pé aponta uma arma de fogo na direção dela. À direita, destacadas com a letra 'D', duas criaturas semelhantes a grandes peixes, uma, no alto, com presas grandes próximas à boca, cauda e barbatanas vermelhas. Outra, logo abaixo, com grandes bigodes como os de um leão marinho, tem apenas uma presa ao lado da boca, cauda bifurcada laranja e amarela e círculos amarelos com pontas vermelhas ao redor do corpo de cor cinza. Na faixa superior da gravura, sobre o solo com vegetação verde, há diversos animais quadrúpedes. À esquerda, um homem de camisa rosa e calças amarelas está sobre um trenó, puxado por um animal similar a um alce, com galhada sobre a cabeça, marcado com a letra 'P'. À direita dele, um grupo de animais de pelagem marrom semelhantes à doninhas marcado com a letra 'G'; no centro, preso entre o tronco de duas árvores, um animal quadrúpede de pelagem cinza, marcado com a letra 'E' . À direita dele, dois quadrúpedes marrons com três chifres sobre suas cabeças, marcados com a letra 'F', ; à direita, um animal parecido com uma onça pintada, marcado com a letra 'O' e, à direita, um homem de cabelos castanhos, em pé, vestido com camisa amarela e calça cinza segurando um bastão nas mãos, de frente para duas serpentes verdes enroladas sobre o próprio corpo marcadas com a letra 'Q'.
MAGNUS, Olaus. Maravilhas do mar e animais estranhos. 1544. 34por 28centímetros. Biblioteca Pública de Nova Gales do Sul, Sydney, Austrália. Nessa imagem, publicada na obra Carta marina, são representados os animais monstruosos que habitavam os oceanos, segundo o imaginário europeu da época.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Este Capítulo trata da expansão marítima europeia, abordando os riscos, reais e imaginários, que cercaram tais empreendimentos. Estimule os estudantes a refletir sobre os impactos da ampliação do conhecimento geográfico e do expansionismo dos europeus a partir do século quinze. Ao fim do estudo do Capítulo, retome algumas questões e os pontos de vista levantados.

Se desejar, informe aos estudantes que, entre os monstros do imaginário europeu do início do século quinze, estavam os dragões, as serpentes gigantes, os cinocéfalos (seres com cabeça de cão e corpo de homem), os blemos (humanos com olhos, nariz e boca no peito) e os cefalópodes (seres que têm uma perna com um pé gigante).

Observação

O conteúdo abordado nesta página oferece uma boa oportunidade para dar início ao trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero sete agá ih zero dois: Identificar conexões e interações entre as sociedades do Novo Mundo, da Europa, da África e da Ásia no contexto das navegações e indicar a complexidade e as interações que ocorrem nos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.

ê éfe zero sete agá ih zero seis: Comparar as navegações no Atlântico e no Pacífico entre os séculoscatorze e dezesseis.

Texto complementar

O trecho a seguir fala sobre o “Novo Mundo”:

Depois de ser visitado por um punhado de navegantes, o Novo Mundo acabou por insinuar-se na consciência de um público bem mais amplo. reticências As impressões de viagem que coloriam o relato daqueles aventureiros vindos de tão longe não demoraram a desencadear um tortuoso processo de vulgarização. As novas terras que hoje chamamos “América” passaram assim a ser traduzidas em categorias, perspectivas, estereótipos, classificações, generalizações.

GOMES, Plínio Freire. Volta ao mundo por ouvir-dizer: Redes de informação e a cultura geográfica do Renascimento. Anais do Museu Paulista, São Paulo, volume 17, número1,página 114, janeiro até junho 2009.

Mares nunca antes navegados

Vamos, agora, conhecer um pouco mais sobre o contexto que impulsionou a exploração dos mares até então desconhecidos pelos europeus.

Com as Cruzadas, nos séculos onze a treze, os europeus passaram a consumir mercadorias orientais, como especiarias e produtos de luxo (porcelanas, cristais e seda, entre outros). As rótas de comércio do Mediterrâneo eram controladas por mercadores árabes, venezianos e genoveses, que cobravam preços altos pelos produtos. Em 1453, a cidade de Constantinopla foi conquistada pelos turcos otomanos. O contrôle turco do Mediterrâneo impulsionou a busca de novas rótas para o Oriente e as viagens oceânicas europeias.

No entanto, outros fatores contribuíram para que os europeus iniciassem as Grandes Navegações: as minas de metais preciosos europeias estavam esgotadas; portanto, era necessário obter ouro e prata em outras regiões; o crescimento das cidades e a intensificação da produção de manufaturas exigiam a ampliação dos mercados consumidores de produtos europeus. As práticas mercantilistas também estimularam a expansão marítima, afinal a conquista de novas áreas de comércio era fundamental para manter uma balança comercial favorável nos reinos.

Desenho. Sob um céu azul, em alto mar, também de cor azul, há uma grande embarcação à vela feita de madeira com um casco na cor cinza com diversos canhões em amarelo claro. A embarcação têm quatro mastros: um vertical, curto, sobre o castelo de popa que é mais elevado em relação ao convés; outro, o mais alto, vertical, no centro da embarcação, com duas pessoas na gávea, uma espécie de cesto no alto do mastro; outro, menor, vertical, sobre o castelo de proa da embarcação e o quarto, na proa da embarcação, inclinado, estendendo-se para além do casco da embarcação. Cada um dos mastros verticais tem, ao seu redor, feixes de cordas pretas entrelaçadas presas ao topo do mastro, formando uma espécie de escada. Em cada um dos mastros verticais há uma vela branca, grande, em formato retangular. As três estão içadas e infladas pelo vento, formando curvas. No mastro inclinado, o gurupés, há uma grande vela branca de formato triangular. Dois homens, um de traje verde e outro de traje vermelho estão na gávea, no mastro principal observando os arredores; o homem de traje vermelho aponta para a direita com o braço esquerdo. Há um homem de blusa vermelha e calça verde que sobe pelo mastro central.
Côler, Rairônemes. La Santa Trinidad. cêrca de 1560. Desenho colorido à mão. O galeão da Santa Trinidad era um navio a vela com quatro mastros. Biblioteca Britânica, Londres, Inglaterra.
Fotografia. Uma moeda redonda na cor prata com figuras em relevo. Na parte superior, há uma coroa e, na parte inferior, um brasão. Entre a borda e o relevo do brasão, inscrições em latim.
O ouro e a prata constituíam as maiores riquezas das nações europeias no período mercantilista. Com eles eram cunhadas as moedas usadas nas transações comerciais. Moeda de prata do rei Filipesegundo, da Espanha, também conhecida como o Real de a ôtcho, de 1597.
Respostas e comentários

Orientações

O papel dos Estados europeus foi fundamental no movimento de expansão marítima da Era Moderna e para a conquista e a colonização do Novo Mundo. A centralização do poder é fator comumente apontado como fundamental para explicar o pioneirismo português na expansão europeia. Com relação à política mercantilista, ela se caracteriza pela intervenção do Estado nas atividades econômicas e, neste aspecto, vários paralelos podem ser estabelecidos com as discussões contemporâneas sobre esse tema.

Comente com os estudantes que a tomada da cidade de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 29 de maio de 1453, foi o acontecimento escolhido por historiadores europeus do século dezenove para marcar, na Europa, o início do que eles chamaram de Idade Moderna ou Modernidade. Segundo esses pesquisadores, a tomada de Constantinopla marcou o fim da hegemonia do Oriente e do Mediterrâneo no comércio intercontinental. De acôrdo com esses historiadores europeus, a exploração do Atlântico impulsionou o desenvolvimento de uma nova era, caracterizada pelo absolutismo, pelo mercantilismo e pela colonização da América.

A periodização que estabelece o início da Idade Moderna é uma convenção criada para fins didáticos, estabelecida pelos historiadores como era de transição entre a Idade Média e a Idade Contempo­rânea. As pessoas que viveram naquela época não a caracterizavam como Modernidade. Há historiadores que recusaram essa periodização por ela ter como centro a história da Europa; outros estabelecem marcos temporais diferentes para o início da Modernidade, como a conquista de Ceuta, em 1415, a chegada de Vasco da Gama às Índias, em 1498, ou a chegada de Colombo à América, em 1492. O impor­tante é que os estudantes compreendam que se trata de um modêlo teórico.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Portugal conquista os mares

Movidos por interesses comerciais e religiosos, os portugueses e os espanhóis foram pioneiros nas chamadas Grandes Navegações. Em Portugal, a centralização monárquica se iniciou já no século doze. Nos séculos seguintes, com o desenvolvimento do comércio, especialmente o marítimo, houve intensificação da pesca, da agricultura e da produção artesanal em Portugal.

A posição geográfica de Portugal possibilitou o surgimento de importantes centros comerciais, como os portos de Lisboa e da cidade do Pôrto. O comércio marítimo aumentou cada vez mais, rendendo lucros aos comerciantes e à Coroa portuguesa. Além disso, as técnicas de navegação portuguesa foram sendo aperfeiçoadas.

No século catorze, ocorreu a Revolução de Avis (1383-1385), quando dom João, conhecido como o mestre de Avis, foi proclamado rei de Portugal. Aliando-se à burguesia mercantil, ele decidiu conquistar novas áreas de comércio e consolidar seu reinado. As ambições de dom João para o reino, aliadas à aliança com a burguesia, impulsionaram ainda mais o comércio marítimo português.

Inovação náutica

O aperfeiçoamento das caravelas pelos portugueses revolucionou a tecnologia náutica. Uma típica caravela portuguesa tinha de 20 a 30 metros de comprimento e utilizava as chamadas velas latinas, com dois ou três mastros. Canhões também foram colocados no casco, para a defesa e o ataque. Com isso, elas ficaram mais seguras, velozes e com o dobro de capacidade de carga. Não eram necessários grandes investimentos para a fabricação e a manutenção das caravelas. Por isso, muitos comerciantes e reis financiavam viagens com essas embarcações.

Navegando em direção às Índias

Os portugueses iniciaram as navegações marítimas com a exploração de novas rótas em direção às Índias (nome dado pelos europeus às terras do Oriente), onde eles poderiam adquirir especiarias e outros artigos orientais, a preços mais baixos, e depois revendê-los na Europa.

Em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, cidade localizada no norte da África e dominada, à época, pelos muçulmanos. O local era um importante entreposto comercial e ponto estratégico para controlar as rótas comerciais do Mediterrâneo. Além disso, Portugal pretendia expandir a fé cristã na região.

Fotografia. Vista do alto de especiarias diversas sobre uma mesa de tampo de madeira em vasilhas de cor bege e de tamanhos e formatos diferentes (quadrado, redondo, largo ou comprido). Eles contêm especiarias em grãos, em pó, em formato de estrela e há também folhas secas e ramos de formatos diversos sobre a mesa. Entre as especiarias, se destacam: canela em pau, cravo-da-índia,  cardamomo, anis estrelado, pimenta rosa, pimenta do reino preta, pimenta do reino branca, raízes de cúrcuma, alecrim, entre outras.
Especiarias em fotografia atual. Seu comércio gerou muitas riquezas aos países europeus, principalmente entre os séculosquinze e dezessete.
Respostas e comentários

Orientações

No século catorze, os portos lusitanos já haviam adquirido um papel importante no comércio de especiarias e artigos de luxo trazidos do Oriente. Além dos portugueses, também participavam desse comércio venezianos, genoveses, florentinos e flamengos, que formavam um poderoso grupo mercantil. Apesar dos lucros obtidos nesse comércio, os maiores beneficiados eram os árabes e os italianos. Os árabes controlavam as caravanas que levavam, pelo deserto, produtos do Oriente até os portos do Mediterrâneo. Genoveses e venezianos monopolizavam a distribuição desses produtos pela Europa e a Róta do Mar Mediterrâneo. A disputa pelo contrôle do comércio das especiarias levou os portugueses a explorar novas rótas marítimas para o Oriente.

Comente com os estudantes que, além das razões econômicas, movidas pelos princípios mercantilistas, havia o ideal de expandir a fé cristã.

Se achar interessante, mencione para os estudantes que o infante dom Henrique, o Navegador, terceiro filho do rei dom Joãoum, reuniu geógrafos, cartógrafos, matemáticos, astrônomos, navegadores e construtores de embarcações para desenvolver instrumentos náuticos, desenhar mapas e realizar estudos de navegação baseados em relatos de viagens de marinheiros.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Atividade complementar

Proponha aos estudantes uma pesquisa sobre algumas especiarias, como pimenta-do-reino, noz-moscada, gengibre, açafrão etcétera Uma sugestão é dividir a turma em grupos e cada equipe ficar responsável por uma especiaria. Os estudantes devem pesquisar a origem do produto, as características (cor, tamanho, odor, sabor), sua utilidade e principais países produtores. Complemente a atividade com informações sobre a produção de especiarias no Brasil. Por exemplo, atualmente, os estados do Pará e do Espírito Santo são os maiores produtores nacionais de pimenta-do-reino; o município de Mara Rosa, em Goiás, é considerado a capital nacional do açafrão etcétera. Sugerimos o uso da internet na pesquisa, sob sua supervisão, para que os estudantes possam se familiarizar, cada vez mais, com a utilização dessa ferramenta no cotidiano escolar. A pesquisa proposta nesta atividade propicia as práticas de análise de mídias sociais e observação, tomada de nota e construção de relatórios.

Os portugueses chegam às terras do atual Brasil

Entre 1487 e 1488, o navegador português Bartolomeu Dias comandou uma expedição que contornou o sul do continente africano, mais tarde conhecido como Cabo da Boa Esperança. Dez anos depois, Vasco da Gama realizou o mesmo percurso e alcançou finalmente Calicute, na Índia, importante região fornecedora de especiarias. Os lucros obtidos com essa viagem foram reinvestidos em outras expedições, que tornaram Portugal o maior centro europeu do comércio de especiarias do século dezesseis.

Com a intenção de fixar entrepostos comerciais em Calicute, garantir o comércio de especiarias com o Oriente e expandir o cristianismo, a Coroa portuguesa organizou uma expedição comandada por Pedro Álvares Cabral. A armada partiu de Lisboa em 9 de março de 1500. Entretanto, quando atingiu o noroeste da África, a frota desviou-se de sua Róta original e acabou ancorando no sul do atual estado da Bahia, no dia 22 de abril. As terras foram chamadas de Ilha de Vera Cruz e, mais tarde, de Terra de Santa Cruz. Alguns historiadores acreditam que o desvio não foi um acidente, mas uma decisão, pois Cabral estaria à procura de novas terras, já descritas por outros navegadores. Ao explorar riquezas em diferentes territórios, os portugueses cumpriam um importante objetivo da política mercantilista: obter artigos de grande valor no comércio europeu.

Pintura. À esquerda, em uma praia com areia de cor bege, há dezenas de homens, mulheres e crianças indígenas, seminus e de cabelos escuros, alguns com penas sobre a cabeça e pintura corporal em vermelho, diante de rochas escuras e árvores em verde. A maioria dos homens segura lanças nas mãos. À direita, mar de água em azul claro, com caravelas ao fundo, diversas dessas embarcações com as velas brancas içadas, com o símbolo de uma cruz em vermelho. À frente, em primeiro plano, na parte rasa da praia, uma embarcação menor, de madeira, movida a remo, com homens vestidos com roupas de diversas cores, alguns deles com trajes de mangas bufantes, calça justa e chapéu sobre a cabeça. Um desses homens usa uma armadura cinza e está em pé e à frente dessa embarcação. Ao fundo, um homem em pé na beira da praia, de roupas longas vermelhas e chapéu da mesma cor. Perto dele, há um soldado de armadura cinza e uma bandeira branca com cruz fincada no solo. Atras desses homens há um outro, agachado, que mexe em um baú com a tampa aberta. Esse trio está diante de um grupo de indígenas que olha para eles com curiosidade ou surpresa. No alto, o céu em azul claro e nuvens brancas.
SILVA, Oscar Pereira da. Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Pôrto Seguro em 1500. 1922. Óleo sobre tela, 190 por 333centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Ícone. Sugestão de livro.

TORERO, José Roberto; PIMENTA, Marcus Aurelius. Nuno descobre o Brasil. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2016. Nessa história, Nuno, um garoto português que vivia em Lisboa em 1500, embarca em uma das esquadras comandadas por Pedro Álvares Cabral e chega às terras do atual Brasil, onde descobre uma nova cultura e novos costumes.

Respostas e comentários

Orientações

É importante discutir com os estudantes o significado da chegada dos portugueses ao continente americano, assim como as diferentes interpretações historiográficas que foram feitas ao longo do tempo sobre o acontecimento e os processos dele decorrentes. Comente com os estudantes que muitos historiadores questionam o uso do termo “descobrimento” para tratar da chegada dos portugueses ao Brasil ou dos europeus à América. Eles argumentam que essa expressão implica a ideia de que as diversas populações que ali viviam só passaram a ter existência após a chegada dos europeus. A América, contudo, não era “terra de ninguém”, mas um território habitado por cêrca de 50 milhões de pessoas à época da chegada dos europeus ao continente. Estimule os estudantes a refletir sobre a atitude dos portugueses e dos europeus de tomarem posse das terras desconhecidas e de procurarem expandir seus domínios territoriais.

Se desejar, informe aos estudantes que, depois de estabelecerem colônias na África e chegarem à Índia e à América, os navegadores portugueses prosseguiram em suas viagens marítimas e chegaram ao Extremo Oriente. Aportaram em Goa, Cantão, Ihas Molucas, Macau e Japão, onde se estabeleceram em 1557.

Observação

O conteúdo abordado nesta página oferece uma oportunidade para ampliar o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões para o estudante:

BARROSO, Ivo. A carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Sesi, 2017.

O livro traz o texto integral da carta do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, narrando a expedição de Pedro Álvares Cabral quando ocorreu o “achamento” do Brasil. 

AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A magia das especiarias. quarta edição São Paulo: Atual, 2019.

O livro traz textos envolventes sobre o contexto da expansão marítima e as conquistas portuguesas entre os séculos quinze e dezesseis. Com uma leitura prazerosa e observação de imagens, o estudante poderá aprender ainda mais sobre o significado histórico do expansionismo europeu.

As viagens marítimas espanholas

Após a centralização do Estado espanhol, concretizada com o casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, em 1476, e a expulsão definitiva dos árabes muçulmanos da península Ibérica, em 1492, a Espanha teve condições de iniciar suas viagens marítimas.

Assim, a Espanha se tornava o segundo Estado europeu a se lançar nos projetos ultramarinos. As viagens espanholas tiveram início em 1492, quando a Coroa financiou a expedição comandada pelo navegante genovês Cristóvão Colombo rumo ao Oriente.

Inspirado pelo espírito renascentista, Colombo se interessava pelos inventos e pelas descobertas científicas e era também um estudioso das navegações. Por ser um defensor dos estudos de acôrdo com os quais a Terra era redonda, e não plana, ele acreditava que seria possível alcançar as Índias navegando em direção ao oeste.

Com esse pensamento, em outubro de 1492, Colombo chegou à ilha de Guanahani, no Caribe, por ele batizada de San Salvador (provavelmente, atual Bahamas). Daí em diante, Colombo alcançou Cuba e São Domingos (atual Haiti e República Dominicana, respectivamente). O navegador, no entanto, achava que tinha chegado às Índias. Por isso, chamou os habitantes da região de índios.

Colombo fez outras três viagens à América, mas morreu acreditando que tinha chegado às Índias. Foi o navegador florentino Américo Vespúcio, após realizar três viagens à América, que apresentou a hipótese de que as terras encontradas estavam separadas da Ásia, ou seja, formavam outro continente.

Grandes navegações portuguesas e espanholas (SÉCULOS quinze E dezesseis)

Mapa. Grandes navegações portuguesas e espanholas. Séculos 15 e 16. Mapa-múndi com rotas marítimas traçadas com setas coloridas. O território de Portugal está destacado em verde. Há destaque para as cidades de Porto Seguro, Lisboa, Constantinopla, Goa, Calicute e Macau. No hemisfério ocidental, uma linha vertical pontilhada na cor preta atravessando a Groenlândia e a América do Sul indica: 'Linha de Tordesilhas (1494). O mapa identifica a Groenlândia, a América do Norte, a Terra Nova, no extremo leste da América do Norte, as ilhas de Cuba e de Hispaniola, a América do Sul;  o Estreito de Magalhães, a Europa; a África (com destaque para a região de Angola e para a Ilha de Madagascar); o Cabo da Boa Esperança, a Ásia, a Arábia, a Índia, a China, o Japão, as Ilhas Filipinas, as Ilhas Molucas e a Oceania. Seis localidades estão assinaladas no mapa com indicações de datas: Porto Seguro (1500), Cabo da Boa Esperança (1487), Arábia (1503); Índia, (1498); China, (1513) e Japão (1543). Um seta  vermelha indica: 'Viagem de Bartolomeu Dias (1487-1488)'. Uma seta verde indica: 'Viagem de Vasco da Gama (1497-1498)'. Uma seta cor de rosa indica: 'Viagem de Pedro Álvares Cabral (1500)'. Uma seta pontilhada vermelha indica: 'Cristóvão Colombo (primeira viagem – 1492-1493)'. Uma linha pontilhada azul indica: 'Fernão de Magalhães (1519-1521)' . Uma seta pontilhada verde indica: 'Américo Vespúcio (1499-1502)'. Destacada por uma seta vermelha, a viagem de Bartolomeu Dias realizada entre 1487 e 1488 partiu de Lisboa, em Portugal, na Península Ibérica, na Europa, contornou a costa oeste da África passando pela região de Angola, e atingiu o Cabo da Boa Esperança, no sul do continente africano, onde está destacada a data: 1487. Destacada por uma seta verde, a viagem de Vasco da Gama realizada entre 1497 e1498 partiu de Lisboa, em Portugal, na Península Ibérica, na Europa, e percorreu o Oceano Atlântico no sentido sul, distanciando-se da costa africana. Contornou o Cabo da Boa Esperança, no sul da África, atravessou o Canal de Moçambique, aportou em três pontos da costa oriental africana (voltada para o Oceano Índico), até atingir o sul da Índia, na Ásia, onde estão destacadas as cidades de Goa e Calicute e a data: 1498. Destacada por uma seta rosa, a viagem de Pedro Álvares Cabral realizada em 1500 partiu de Lisboa, em Portugal, na Península Ibérica, na Europa, atravessou o Oceano Atlântico no sentido sul e, depois, sudoeste, atingiu Porto Seguro, na América do Sul, e ali aportou em 1500. De Porto Seguro, partiu de volta ao Atlântico e, atravessando o Oceano Atlântico no sentido leste, contornou o Cabo da Boa Esperança, no sul da África, atravessou o Canal de Moçambique, aportou na costa oriental africana voltada para o Oceano Índico e atingiu o sul da Índia, na Ásia. Destacada por uma seta pontilhada vermelha, a primeira viagem de Cristóvão Colombo realizada entre 1492 e 1493 partiu do sul da Espanha, na Península Ibérica, na Europa, atravessou o Oceano Atlântico no sentido oeste, cruzando a linha de Tordesilhas, e navegando até a Ilha de Hispaniola, na região das Antilhas, na América. Depois de Aportar nas Antilhas, retornou ao Atlântico e navegou no rumo leste até a Península Ibérica, na Europa. Destacada por uma linha pontilhada azul, a expedição de Fernão de Magalhães realizada entre 1519 e 1521 partiu do sul da Espanha, na Península Ibérica, na Europa. Atravessou o Oceano Atlântico, contornando a costa noroeste da África e navegando para Sudoeste e Atingindo a América do Sul. Aportou em três pontos da costa da América do Sul (na região que hoje corresponde ao estado do Rio de Janeiro, na região da foz do Rio da Prata, próximo ao local em que hoje se localiza a cidade de Buenos Aires e na região da Península Valdés, na Patagônia Argentina), ultrapassando a Linha de Tordesilhas. No sul da América do Sul, Magalhães rumou para o oeste, atravessando o Estreito de Magalhães no extremo sul da América do Sul, e navegou no rumo oeste, pelo Oceano Pacífico, até atingir as Ilhas Filipinas, na Ásia. Daí, a expedição navegou pelo Oceano Índico, passou pelo sul da Ilha de Madagascar, contornou o Cabo da Boa Esperança, na África, e navegou rumo norte pelo Atlântico, contornando a costa noroeste da África até chegar na Península Ibérica, na Europa. Destacada por uma seta pontilhada verde, a viagem de Américo Vespúcio realizada entre 1499 e 1502 partiu do sul da Espanha, na Península Ibérica, na Europa, atravessando o Atlântico no sentido leste; contornou o litoral norte da América do Sul, além da Linha de Tordesilhas, na região que hoje corresponde ao litoral da Venezuela e ao da Colômbia. Partindo do sul da Espanha, Vespúcio também viajou pelo Atlântico tomando o rumo sul, atravessando a Linha do Equador e contornando a costa da América do Sul até a região da foz do Rio da Prata. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 2.505 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: ATLAS histórico. São Paulo: Enciclopédia Britânica, 1997. p. 88; Reiô Dión Ar Idade das explorações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. página 54.

Respostas e comentários

Orientações

Sugerimos fazer um estudo comparativo da expansão portuguesa e da espanhola, que apresentaram muitos pontos em comum, mas tinham suas especificidades. Colombo, comerciante e navegador natural da cidade italiana de Gênova, já havia tentado, sem sucesso, convencer o rei português a financiar sua viagem às Índias por uma Róta que seguisse em direção ao Ocidente.

No mapa “Grandes Navegações portuguesas e espanholas (séculos quinze e dezesseis)” foram representadas as duas primeiras viagens de Américo Vespúcio. A terceira viagem (1503-1504) partiu de Lisboa, com escala nas Ilhas Canárias, nas ilhas de Cabo Verde e em Fernando de Noronha, e chegou à Baía de Todos os Santos e depois a Cabo Frio, no atual estado de Rio de Janeiro.

Em 1499, os irmãos Pinzón chegaram ao rio Amazonas, depois de alcançarem a costa da atual Guiana. Ruán de Solis percorreu a costa de Honduras. Alonso Orrêda e Ruán de la Cosa reconheceram as terras que hoje correspondem à Venezuela. Outros navegadores aportaram em vários pontos do mar das Antilhas (Caribe) e do norte da América do Sul. Vasco Balboa fez a primeira travessia do Istmo do Panamá. Depois de uma longa e sofrida caminhada em meio à mata fechada, sua expedição visualizou a costa do oceano Pacífico.

Observação

O conteúdo apresentado nesta página oferece uma oportunidade para iniciar o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero seis e ampliar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Percursos e objetivos

No século dezesseis, os espanhóis contornaram o sul do continente americano e alcançaram o oceano Pacífico. Em 1513, o navegador Vasco núnhes de Balboa atravessou o istmo do Panamá e foi o primeiro europeu a avistar esse oceano. Em 1519, Fernão de Magalhães, em sua viagem pela parte sul do oceano Atlântico e da América, encontrou uma passagem por um estreito, que recebeu seu nome (estreito de Magalhães), por meio do qual atingiu o Pacífico.

A expedição do navegador Fernão de Magalhães, ao aportar nas ilhas Filipinas, estabeleceu diversos acordos com as autoridades locais, com o objetivo de participar da rica rede de comércio que havia nessa região com a China, desde o século dez.

Durante a viagem, Magalhães foi morto por um nativo e Sebastião Elcano assumiu o comando da frota, navegou pelo oceano Índico e novamente pelo Atlântico, e retornou à Espanha em 1522, após quase três anos de viagem. A expedição completou a primeira volta ao mundo por via marítima, comprovando a esfericidade da Terra.

Em 1543, Ruy Lopes de Villalobos, a pedido do rei espanhol, voltou às Filipinas para reconhecer o território. Mais tarde, em 1571, uma esquadra viajou ao arquipélago com o objetivo de transformá-lo em um domínio espanhol.

A partir do séculodezesseis, portugueses, espanhóis e, posteriormente, holandeses chegaram às ilhas da Indonésia e lutaram entre si para monopolizar o comércio local de especiarias com os chineses e indianos. Nessa época, as Ilhas Molucas eram as únicas produtoras de cravo e noz-moscada, mercadorias que atingiam preços elevadíssimos na Europa.

A expedição de Fernão de Magalhães (1519-1522)

Mapa. A expedição de Fernão de Magalhães (1519-1522). Mapa-múndi com uma rota marítima traçadas com uma seta vermelha. O território da Espanha está destacado em laranja. Há destaque para: a América do Norte, a América Central, a América do Sul, a Patagônia, a Baía de San Julián, a Europa, a Espanha, a África, a Ásia e a Oceania.  Uma seta de cor vermelha indica: 'Rota de Fernão de Magalhães'. Há datas de partida e de chegada em diferentes localidades. A expedição de Fernão de Magalhães partiu em 20 de setembro de 1519 da região de São Lucas, no sul da Espanha. Navegou pelo Oceano Atlântico no rumo sul, cruzou a Linha do Equador,  contornou a costa da América do Sul, atingindo a baía de San Julian, na costa da atual Argentina, em primeiro de novembro de 1520. Atravessou o Estreito de Magalhães, no extremo sul da América do Sul, na região da Patagônia, atingindo o Oceano Pacífico por onde navegou até chegar à Ilha dos Ladrões, atuais Ilhas Marianas na região da Micronésia, na Oceania, em 6 de março de 1521. Seguiu para as Ilhas Mactán, nas Filipinas, onde Fernão de Magalhães foi morto em 27 de abril de 1521. Sob o comando de Sebastião Elcano, a expedição rumou para as Ilhas Molucas, navegou pelo Oceano Índico, passando ao sul da Ilha de Madagascar, contornou o sul da África na região do Cabo da Boa Esperança e navegou pelo Atlântico rumo ao norte. A expedição retornou à Espanha em 7 de setembro de 1522. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 2830 quilômetros.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991.página 54.

Respostas e comentários

Orientações

É importante destacar que os portugueses começaram a construir seu império colonial a partir da exploração do Atlântico e que os espanhóis se lançaram na exploração dos oceanos Pacífico e Índico. Assim como a expedição realizada por Colombo, o navegador espanhol Fernão de Magalhães pretendia chegar ao Oriente navegando em direção ao Ocidente, buscando, no entanto, atravessar a parte sul do oceano Atlântico, alcançando, assim, o Pacífico. Essa foi a primeira expedição a contornar o sul do continente americano e a completar uma circum-navegação, comprovando a esfericidade do planeta Terra. Navegadores ingleses, franceses e holandeses, no século dezesseis, também procuraram caminhos marítimos que levassem ao Oriente, seguindo pelo norte da América.

Converse com os estudantes sobre a importância dos relatos de cartógrafos e viajantes para o conhecimento geográfico que os europeus construíram ao longo do tempo, essencial na realização de suas expedições marítimas. Marco Polo, por exemplo, filho de comerciantes venezianos, viajou em 1271 para o Oriente. A viagem durou 22 anos. Ao retornar a Veneza, Marco Polo ingressou na Marinha como suboficial. Contudo, caiu prisioneiro dos genoveses, contra os quais os venezianos estavam em guerra. Na prisão, relatou sua viagem a um escritor de novelas de cavalaria, Rustiquélo, que publicou o relato que ouvira. O livro tornou Marco Polo famoso e inspirou Colombo e vários outros exploradores.

Observação

O conteúdo apresentado nesta página possibilita aprofundar o trabalho com as habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois e ê éfe zero sete agá ih zero seis.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão complementar referente ao Capítulo:

TENGARRINHA, José (organizador). História de Portugal. Bauru; São Paulo: Unésp, 2001.

Coletânea que reúne textos de historiadores brasileiros e portugueses, organizada por José Tengarrinha. Os textos abordam desde a formação da nacionalidade portuguesa no período medieval até o processo de colonização do território que mais tarde compreenderia o Brasil.

O Tratado de Tordesilhas

Ao iniciar as expedições marítimas, a Espanha passou a rivalizar com os portugueses, e as duas coroas se envolveram em disputas pela posse das terras ultramarinas. Assim, em 1493, o papa Alexandre sexto apresentou a Bula Inter-Coetera, que propunha a divisão dos territórios. Os espanhóis ficariam com as terras encontradas por Colombo e deveriam reconhecer a soberania portuguesa sobre as ilhas da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde. Porém, o rei português dom João segundonão aceitou o acôrdo.

Para solucionar o conflito, os representantes de Portugal e Espanha, a convite do papa, reuniram-se novamente e assinaram um documento chamado Tratado de Tordesilhas, em julho de 1494. O acôrdo estabeleceu uma linha imaginária que passaria trezentas e setenta léguas (.2500 quilômetros) a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras descobertas ou por descobrir situadas a oeste dessa linha ficavam com a Espanha e as localizadas a Léste pertenciam a Portugal.

A vida em alto-mar

Você já imaginou quais eram os perigos e as dificuldades que os navegadores enfrentavam em suas viagens? Em geral, participavam das expedições um comandante e alguns oficiais auxiliares, soldados, religiosos, marinheiros, artesãos e um médico.

A alimentação era composta, basicamente, de biscoitos, carne salgada, peixe seco, lentilhas, arroz, passas, mel e vinho. Os alimentos frescos estragavam com facilidade. Mortes por fome ou doenças podiam encurtar as viagens. Doenças como tifo, coqueluche e sarampo atingiam os tripulantes. Era muito comum que os tripulantes adquirissem escorbuto, ou “mal das gengivas”, uma doença grave, causada pela falta de vitamina C presente em alimentos frescos. O primeiro sintoma era o inchaço da gengiva, depois a perda dos dentes e por fim a putrefação da carne. Os naufrágios também eram frequentes. Uma das regiões mais temidas no Atlântico era o extremo sul da África, batizado inicialmente de Cabo das Tormentas.

Pintura. Vista geral de local aberto em alto mar. Sob um céu azul escuro com estrelas de cor dourada, sobre o mar azul claro, há três embarcações à vela, feitas de madeira. Elas estão dispostas em formato triangular: uma no centro e no topo da imagem, uma no canto inferior esquerdo e uma no canto inferior direito. Cada uma das três embarcações tem apenas um mastro om uma vela branca retangular içada, todas elas infladas pelo vento. Na embarcação no canto esquerdo, há dois homens no convés. Um de blusa de azul, gorro vermelho e calça vermelha, está em pé, na popa,, virado de costas e manipula um astrolábio: um objeto redondo com uma borda dourada. No centro da embarcação, junto ao mastro, um homem de blusa vermelha visto de costas, manuseia as cordas que içam as velas. À direita, perto de uma praia com areia de cor bege, três pessoas em uma embarcação remam. Um homem veste roupa vermelha, o outro, roupa verde e, o último, veste uma blusa azul. Na popa dessa embarcação, há uma bandeira quadrada e vermelha hasteada. A embarcação no alto e no centro da pintura não está tripulada Na popa, há uma bandeira quadrada, de fundo branco com uma listra horizontal preta hasteada.
MESTRE DE Bucicô. Navegadores usando um astrolábio no oceano Índico. cêrca de 1410-1412. Têmpera sobre papel (detalhe), 42 por 29,8 centímetros. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Ícone. Sugestão de livro.

RAMOS, Fabio Pestana. Por mares nunca dantes navegados: a aventura dos descobrimentos. segunda edição. São Paulo: Editora Contexto, 2008.Nesse livro, é possível conhecer as aventuras e as dificuldades vivenciadas pelos navegadores portugueses na época da expansão marítima europeia.

Respostas e comentários

Orientações

A chegada de Cabral à América é posterior ao estabelecimento do Tratado de Tordesilhas. Portanto, uma questão que pode ser considerada é a possibilidade de a expedição de Cabral também ter como missão assegurar o território do Novo Mundo destinado aos portugueses pelo Tratado de Tordesilhas. O que se pode afirmar é que a Coroa portuguesa estava estabelecendo seu domínio sobre a parte que lhe era destinada no tratado, sem conhecer o tamanho das terras de que estava tomando posse. Esses novos territórios funcionariam como postos de abastecimento e escala para as viagens de Portugal até as Índias.

Converse com os estudantes sobre o tamanho variável da tripulação que participava das grandes viagens marítimas. A expedição de Vasco da Gama, por exemplo, reuniu aproximadamente 170 homens, número muito inferior à de Pedro Álvares Cabral. Por ter finalidade militar, que era a conquista das Índias, a expedição de Cabral foi a maior armada organizada no Ocidente até então, constituídade dez naus, três caravelas, dezenas de canhões e cêrca de .1500 homens.

Na seção Atividades há uma questão com mapa representando a divisão das terras proposta na Bula Inter-Coetera e no Tratado de Tordesilhas.

Observação

O conteúdo abordado nesta página permite ampliar o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Texto complementar

Patricia síd analisa os significados das cerimônias de posse das terras americanas realizadas por portugueses no texto a seguir.

Em 1537, Pedro Nunes, cosmógrafo real do rei Dom João terceiro, declarou que os portugueses haviam descoberto muitas coisas novas. reticênciasMais do que as terras, as águas e as pessoas, escreveu ele, os portugueses tinham encontrado “um novo céu e novas estrelas”. Para Nunes, descobrir céus anteriormente desconhecidos dos europeus reticências significava um novo conhecimento astronômicoreticências.

síd, Patricia. Cerimônias de posse na conquista europeia do Novo Mundo (1492-1640). São Paulo: Unésp, 1999.página143-145.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Geografia

Mapa-múndi de Valdissimíler

O mapa-múndi reproduzido a seguir foi elaborado em 1507 por estudiosos dirigidos pelo cartógrafo alemão MÁRTIN VALDISSÍMILER. Produzido com base nas descrições feitas pelo na-vegador Américo Vespúcio e em conhecimentos de cartografia disponíveis na época, o mapa é considerado a certidão de nascimento da América.

Nesse mapa, pela primeira vez o continente americano foi representado separado da Ásia. Também foi a primeira vez que o nome “América” apareceu em um mapa.

Mapa histórico. Mapa-múndi com bordas decoradas com diversos adornos. No topo, no centro, há um outro mapa em tamanho menor, com bordas arredondadas amarelas. Ao lado dele, há duas figuras: à esquerda, um homem de cabelos cobertos por um tecido de cor bege em torno da cabeça e barba longa grisalha, com uma blusa de mangas compridas vermelha com a gola de cor laranja, segura nas mãos um sextante, objeto com um formato de um quarto de círculo na cor branca.  Acima dele uma faixa om texto em latim ilegível na reprodução. Uma seta verde apresenta o seguinte texto, fora do mapa: 'Retrato do grego Ptolomeu (90 a 168), considerado o maior astrônomo da Antiguidade'. À direita do pequeno mapa, há outro homem. Esse usa um chapéu sem abas vermelho com a barra bege sobre a cabeça. Os cabelos são brancos, longos até os ombros. Usa uma barba comprida também branca. Veste uma blusa de mangas compridas vermelhas e uma túnica verde sobre ela. Com as duas mãos, ele segura um grande compasso dourado.   Uma seta verde apresenta o seguinte texto, fora do mapa: ' Retrato de Américo Vespúcio. As descrições geográficas desse navegador, feitas em suas viagens, contribuíram para a elaboração do mapa'. No mapa principal, maior, os continentes estão dispostos da maneira como estamos acostumados atualmente. A Europa no centro e no alto, no ocidente, a África ao sul da Europa, a Ásia  e a Oceania a leste, no Oriente, e a América a oeste, no Ocidente). A oeste da América, o Oceano Pacífico. Há linhas verticais e longitudinais, meridianos e paralelos. A Austrália, a Groenlândia e os polos não estão representados. A partir da Península Itálica, uma seta verde apresenta o seguinte texto, fora do mapa: 'É o primeiro mapa a apresentar o hemisfério ocidental semelhante à forma como o conhecemos hoje'. A representação da América porém, é bastante diferente: aparece como um continente estreito, muito menor do que o modo como é representado hoje. A África é representada em quase toda a sua extensão. No sul da África,  uma seta verde apresenta o seguinte texto, fora do mapa: 'O Cabo da Boa Esperança é apresentado de maneira arredondada'. A Oceania é representada como um conjunto de pequenas ilhas. A Ásia é representada como o maior continente, com uma península a leste muito maior que a representação dos mapas-múndi atuais. O subcontinente indiano está representado em tamanho menor. Na Europa, estão representadas as penínsulas: Ibérica, Itálica e Escandinava, o Mar Mediterrâneo, a a Turquia e o Mar Negro e o Oceano Glacial Ártico. A Europa, a Ásia  e a Costa da África têm grande número de detalhes e informações, como nomes de localidades, rios e montanhas. No centro da África e na América, há apenas algumas informações. Na América elas de concentram na costa ocidental. Os oceanos estão representados com a cor azul e, os continentes, em bege claro, com muitas informações em textos e ilustrações ilegíveis nessa reprodução. Nos cantos do mapa, há inscrições em preto emolduradas por uma borda de cor azul.
  1. Quem são os dois personagens representados no mapa? Por que eles foram homenageados?
  2. Por que o mapa de Valdissimíler é um marco para a história da cartografia? Que novidades ele apresenta?
  3. Compare o mapa de Valdissimíler com um mapa-múndi atual. Quais são as principais semelhanças e diferenças?
  4. Observe os quatro continentes representados no mapa. Como o fato de a América possuir menos detalhes que os demais pode ser explicado?
Respostas e comentários

Orientações

Comente com os estudantes que a cartografia teve um avanço significativo no final da Idade Média com a contribuição de astrônomos e cartógrafos do mundo islâmico e com o incentivo das monarquias europeias envolvidas nas Grandes Navegações, como a portuguesa.

Observação

O conteúdo proposto nesta seção, no texto e nas atividades possibilita ampliar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Respostas

1. Os dois personagens representados no mapa são o astrônomo e geógrafo Ptolomeu (90-168) e o navegador Américo Vespúcio (1454-1512). Ptolomeu foi homenageado em razão de sua valiosa contribuição para o desenvolvimento da cartografia; já Vespúcio, graças aos relatórios de suas viagens exploratórias que auxiliaram na produção do referido mapa.

2. O mapa de Valdissimíler, de 1507, é considerado um marco para a história da cartografia graças à sua precisão para a época e à sua aproximação com os mapas atuais. Na circunstância de sua confecção, foram apresentadas três grandes novidades: o nome “América” para o quarto continente encontrado pelos europeus; a massa de água a oeste do novo continente, antecipando a descoberta do oceano Pacífico; e a representação do novo continente pela primeira vez separado da Ásia.

3. Entre as principais semelhanças podemos destacar que ambos os mapas apresentam meridianos e linhas longitudinais e mostram de maneira análoga os continentes europeu, africano e asiático, além da presença de algumas ilhas, atualmente denominadas Oceania e Japão. Por fim, mencionamos a representação da América separada da Ásia e sua costa oeste banhada por uma massa de água. As principais diferenças entre o mapa de Valdissimíler e um mapa-múndi atual referem-se ao contraste da dimensão do continente americano e à ausência de territórios como a Austrália, a Groenlândia e os polos Sul e Norte. Destacamos também as diferenças tecnológicas empregadas na elaboração dos mapas, que possibilitam representar os detalhes com maior precisão.

4. O mapa de Valdissimíler foi elaborado com base no conhecimento de projeções cartográficas anteriores e nos diários dos exploradores viajantes, especialmente Américo Vespúcio. O fato de a América ter sido representada com menos precisão se explica pelo pouco conhecimento que se tinha na época a respeito de um continente recém-encontrado pelos europeus e pela ausência de tecnologias que garantissem uma representação cartográfica mais precisa.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Que fatores levaram portugueses e espanhóis a serem pioneiros nas expedições ultramarinas europeias?
  2. Analise o texto a seguir. Depois, reúna-se com um colega e, em dupla, respondam às questões.

Os portugueses e os espanhóis tiveram precursores reticências na conquista dos oceanos Atlântico e Pacífico, mas os esforços desses aventureiros notáveis não alteraram o curso da história do mundo. reticências

Somente depois de os portugueses terem contornado a costa ocidental da África, dobrado o Cabo da Boa Esperança, atravessado o oceano Índico e de terem se fixado nas Ilhas das Especiarias da Indonésia e na costa do mar do sul da China; somente depois de os espanhóis terem atingido o mesmo objetivo através da Patagônia, do oceano Pacífico e das Filipinas é que então, só então, teve início a ligação marítima regular e duradoura entre os quatro continentes.

Bóquisser, Chárles . O império marítimo português, 1415-1825. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. página 31-33.

  1. Por que, para o autor, as viagens portuguesas e espanholas se diferenciaram das de seus antecessores?
  2. O que significa dizer que as viagens portuguesas e espanholas estabeleceram “uma ligação marítima regular e duradoura entre os quatro continentes”?

3. O mapa a seguir representa as duas propostas de divisão das terras ultramarinas entre Portugal e Espanha, no final do século quinze.

Divisão das terras ultramarinas entre Portugal e Espanha (1493-1494)

Mapa. Divisão das terras ultramarinas entre Portugal e Espanha (1493-1494). Mapa representando, em amarelo, partes da América, da África, Europa e Ásia.  Destaque para as Ilhas dos Açores, o Cabo Bojador, Cabo Verde o Cabo da Boa esperança. A leste do Meridiano de Greenwich há duas linhas verticais, uma verde e outra cor de rosa. Na legenda, a linha rosa indica: 'Bula Inter-Coetera';  a linha verde, indica: 'Tratado de Tordesilhas'. O território de Portugal está destacado em verde. O território da Espanha está destacado em rosa. Representada por uma linha rosa, a Bula Inter-Coetera atravessa o mapa verticalmente oeste das ilhas dos Açores e de Cabo Verde. Atravessando o leste da Groenlândia e parte do nordeste do território que hoje corresponde ao Brasil. O leste da Groenlândia, uma parte do nordeste da América do Sul, a África e a Ásia ficariam sobre a influência de Portugal; à Espanha, caberia praticamente todo o continente americano. Representado por uma linha verde, a linha do Tratado de Tordesilhas atravessa o mapa verticalmente, a oeste das ilhas do Açores e de Cabo Verde. Atravessando o oeste da Groenlândia, e, na América do Sul, atravessa a região de Belém e da Ilha de Marajó. Com essa divisão, um território maior da Groenlândia, do leste do território da América do Sul, além de África e da Ásia pertenceriam a Portugal; à Espanha, caberia boa parte da América. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 2.115 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí jórj. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 239.

  1. Qual das duas propostas de divisão de terras foi a primeira? O que cada uma delas estabelecia?
  2. Que mudança houve na segunda proposta que convenceu Portugal a aceitar o acôrdo? Considerando que essa negociação ocorreu seis anos antes da chegada de Cabral ao atual Brasil, que hipótese podemos levantar sobre os interesses portugueses nessa divisão?
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objetos de conhecimento

A ideia de “Novo Mundo” ante o Mundo Antigo: permanências e rupturas de saberes e práticas na emergência do mundo moderno.

As descobertas científicas e a expansão marítima.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero sete agá ih zero dois (atividades 1, 2, 3)

ê éfe zero sete agá ih zero seis (atividade 2)

Respostas

1. O principal fator que explica o pioneirismo dessas duas nações na expansão ultramarina é a centralização política precoce, principalmente de Portugal. Os recursos antes utilizados no combate aos muçulmanos que viviam na península foram deslocados para outras atividades, como a pesca e o comércio de longa distância, que ajudaram não só a custear as despesas desses Estados, mas também a desenvolver as artes náuticas nos dois reinos. Com essas condições reunidas, Portugal e Espanha puderam lançar-se à aventura marítima.

2. a) Segundo o autor, as viagens portuguesas e espanholas alteraram o curso da história do mundo ao estabelecerem uma ligação marítima regular e duradoura entre os quatro continentes por meio da navegação nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.

b) Antes das viagens oceânicas promovidas pelos países ibéricos, os contatos entre os continentes, embora existissem (à exceção da América e da Oceania), não eram sistemáticos. A partir do séculoquinze, com o processo de expansão marítima europeia e de colonização de diversos territórios, teve início a criação de um mercado mundial, acompanhado de uma integração cultural que alterou a história de todos os povos.

3. a) A primeira proposta foi a Bula Inter-Coetera, de 1493, representada no mapa pela cor rosa. Nessa proposta de divisão, a linha de separação das terras portuguesas e espanholas passaria 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Pela segunda proposta, estabelecida no Tratado de Tordesilhas, em verde no mapa, ampliou-se o limite de 100 léguas paratrezentas e setenta léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde.

b) Portugal se sentiu penalizado na primeira proposta de divisão porque ela entregava à Espanha quase a totalidade das terras ultramarinas. Na segunda proposta, como houve ampliação da área que caberia a Portugal de 100 léguas para trezentas e setenta léguas, as duas coroas chegaram a um acôrdo e assinaram o tratado. As pressões portuguesas pela ampliação do limite de divisão das terras podem indicar que a Coroa lusa já tivesse conhecimento da existência das terras que hoje formam o Brasil.

CAPÍTULO 9  ESPANHÓIS NA AMÉRICA

As primeiras expedições espanholas que alcançaram o continente que viria a ser chamado de América não renderam à Espanha os lucros esperados, pois não foram encontradas as tão almejadas riquezas. Contudo, a repercussão da viagem de Colombo, que em 1492 aportou no continente até então desconhecido pelos europeus, estimulou novas expedições. As viagens que se seguiram, entre os séculos quinze e dezesseis, percorreram diferentes pontos do continente, possibilitando aos espanhóis dimensionar a extensão do território e vislumbrar a existência de riquezas como ouro e prata.

A dominação territorial foi acompanhada por ações violentas que visavam submeter os povos nativos ao contrôle espanhol e extrair a maior quantidade de riquezas possível. Esse processo, no entanto, fez eclodir diversas fórmas de resistência dos povos indígenas da América, que você vai conhecer um pouco mais ao longo deste Capítulo.

Pintura. Vista ampla de uma cidade construída em uma espécie de ilha no centro de um lago. Em primeiro plano, no centro da imagem, uma extensa ponte que divide a parte inferior da imagem ao meio; à esquerda e à direita da ponte, águas claras azuis. Ao fundo, três pontes atravessando águas azuis e, mais ao fundo, morros em tons de cinza e azul. No centro, há construções de cor marrom ena ilha no centro do lago. No canto inferior esquerdo, sobre as águas azuis, as margem do lago com vegetação baixa e verde, há homens indígenas em barcos de madeira marrom escura. Eles têm adornos nos braços, no peito e nos cabelos, vestem saiotes brancos e vermelhos e carregam armas como arco e flecha e lanças, além de bandeiras quadriculadas em vermelho e dourado. Uma embarcação espanhola está desse mesmo lado da ponte com soldados espanhóis usando armaduras e escudos redondos voltados para as embarcações indígenas. A ponte e a cidade, no centro da imagem, e duas das pontes no fundo da pintura estão tomadas por centenas de soldados indígenas e espanhóis em confronto. No canto inferior direito, em primeiro plano na pintura, há soldados espanhóis montados à cavalo, usando armaduras de metal e carregando espadas de metal, lanças e bandeiras de cor vermelha. Na parte inferior da imagem, no centro, há uma pequena tarja branca com o texto, originalmente em espanhol, 'Conquista do México por Cortés'.
A conquista de Tenochtitlán, pintura da série Conquista do México. 1521. Óleo sobre tela. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Os estudantes já tomaram contato com a sociedade, a economia e a cultura de alguns povos pré-colombianos, e com as razões pelas quais espanhóis e portugueses participaram das Grandes Navegações. Neste Capítulo, eles compreenderão os primeiros efeitos da chegada dos espanhóis à América. O Capítulo possibilita refletir sobre o sentido do projeto de sociedade, de exploração de riquezas e do trabalho tanto para os povos que viviam na América antes da chegada dos europeus quanto para os conquistadores, mostrando como foi radical a mudança promovida pelos europeus no continente. Procure, na abertura do Capítulo, solicitar aos estudantes que reflitam sobre os interesses que mobilizaram os espanhóis na colonização da América.

O estudo sobre os primeiros contatos entre indígenas e europeus na América é uma oportunidade para trabalhar com os estudantes o reconhecimento, a aceitação e a valorização da diversidade como expressão da riqueza cultural da humanidade. Podemos considerar o estranhamento vivenciado pelos indígenas no encontro com os europeus. Para estes últimos, que estavam acostumados a impor sua cultura e a considerar a sua sociedade como o centro do desenvolvimento da humanidade, os indígenas representariam o “exótico”, o “pitoresco”, o não “civilizado”.

Observação

O conteúdo abordado nesta página oferece uma boa oportunidade para dar início ao trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero sete agá ih zero oito: Descrever as formas de organização das sociedades americanas no tempo da conquista com vistas à compreensão dos mecanismos de alianças, confrontos e resistências.

ê éfe zero sete agá ih zero nove: Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações ameríndias e identificar as formas de resistência.

A conquista do Caribe

A chegada dos espanhóis à região do Caribeglossário , em 12 de outubro de 1492, marca um dos eventos mais conhecidos da história: a chamada “descoberta” da América pelo navegante Cristóvão Colombo.

Contudo, vale ressaltar que Colombo e seus marinheiros não chegaram a um lugar desabitado ou onde as populações estivessem esperando para serem descobertas. A região do Caribe, assim como o extenso território americano, era habitada por diversas populações indígenas que tinham os próprios modos de vida, crenças, costumes e conhecimentos.

Como estamos estudando, a chegada dos europeus à América foi impulsionada por vários fatores, entre eles a busca por rótas alternativas para chegar ao Oriente. Desse modo, os europeus poderiam obter as valiosas especiarias diretamente da fonte produtora, as Índias.

No entanto, conforme as expedições foram percorrendo o continente americano, os conquistadores espanhóis tomaram conhecimento da existência de grandes jazidas minerais, e o continente se transformou no alvo principal da política mercantilista da Espanha.

Caribe (SÉCULO dezessete)

Mapa. Caribe. Século 17. Mapa representando a região das Antilhas, com ilhas destacadas em cores distintas. Estão destacadas: Cuba, Jamaica, a Ilha de Hispaniola, dividida entre Haiti e São Domingos, Porto Rico, as Ilhas da Bahamas, de Guadalupe, Martinica, Barbados, Aruba, Curaçao e Cayman. Destacadas em roxo, as 'Possessões inglesas' englobam as Ilhas das Bahamas, Jamaica e Barbados. Destacadas em amarelo, as 'Possessões holandesas' englobam as ilhas de Aruba e Curaçao. Destacadas em verde, as 'Possessões francesas' englobam o Haiti, Martinica e  Guadalupe. Destacadas em rosa, as 'Possessões espanholas' englobam Cuba, São Domingos e Porto Rico. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 240 quilômetros.

Fonte: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas: história do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. página 13.

Ícone. Sugestão de livro.

Bôden míler, Celina; PRANDO, Fabiana. Contos encantados da América Latina. São Paulo: Moderna, 2018. Esse livro é formado por uma coletânea de 18 contos que reúnem a tradição oral dos mais diversos países da América Latina. Os contos estão relacionados com lendas e mitologias da cultura indígena e com as influências culturais da colonização espanhola.

Respostas e comentários

Orientações

Nas páginas iniciais deste Capítulo, consideramos interessante retomar os conhecimentos dos estudantes sobre os interesses dos europeus na exploração marítima, a procura de rótas para o Oriente e a disputa pelo contrôle do comércio de especiarias. Estimule os estudantes a relembrar a importância dos metais preciosos na política mercantilista praticada pelas monarquias europeias recém-constituídas nesse período. As características da política mercantilista praticada em especial pelo reino da Espanha poderão contribuir para que os estudantes estabeleçam relações com o processo de expansão marítima e de constituição de domínios coloniais na América.

Solicite aos estudantes que observem e identifiquem no mapa “Caribe (século dezessete)” as possessões espanholas, holandesas, inglesas e francesas no Caribe no século dezessete.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o professor:

Ô Gôrman, Edmundo. A invenção da América: reflexão a respeito da estrutura histórica do novo mundo e do sentido do seu devir. São Paulo: Unésp, 2008.

O autor procura tecer uma análise historiográfica sobre o continente americano a partir da desconstrução da ideia de “descobrimento” da América pelos europeus, apresentando, assim, de maneira crítica, uma interpretação do que seria a sua “invenção” inaugurada no processo de conquista territorial.

No início, as alianças

Os povos tainos, população predominante em várias ilhas do Caribe, estabeleceram, inicialmente, alianças com os espanhóis. Entretanto, é importante ressaltar que os acordos que os indígenas faziam com os europeus eram movidos por interesses específicos e, muitas vezes, diferentes das intenções europeias.

No caso dos tainos, provavelmente, a aliança com os espanhóis estava relacionada ao contexto de expansão dos povos caraíbas ou caribes, indígenas inimigos que estavam ampliando seus domínios e ameaçando a soberania taina sobre seu próprio território. Dessa fórma, a aliança com os espanhóis significou o fortalecimento na luta contra os inimigos caraíbas.

No fim, o extermínio

A aliança dos tainos com os espanhóis teve curta duração. Com a convivência, eles perceberam que os europeus, além de obter recursos naturais, pretendiam dominar os territórios. Assim, as relações iniciais, baseadas na troca de mercadorias, como ouro, pérolas, esmeraldas e madeira, foram se tornando mais impositivas, com a adoção de diferentes fórmas de trabalho compulsório.

A exploração do trabalho, somada aos surtos de doenças, como sarampo, varíola e gripe, trazidas pelos colonizadores e contra as quais os indígenas não possuíam imunidade, desencadearam um processo brutal de declínio demográfico da população nativa, que chegou, em algumas ilhas, a desaparecer. Nas Antilhas, havia pelo menos 200 mil indígenas no começo do século dezesseis; cêrca de meio século depois, eles não passavam de 15 mil.

Gravura. À esquerda, mar em cor azul sobre o qual há três embarcações à vela. À direita, praia com a costa em verde, com dois grupo de homens indígenas e três grupos de homens brancos. Em primeiro plano, no centro e à esquerda, na parte inferior da gravura, o encontro entre um grupo de três homens brancos e dezenas de indígenas. À esquerda, frente do grupo, um homem branco com um traje vermelho de mangas bufantes, calças justas, colete dourado, sapatos vermelhos, chapéu com plumas sobre a cabeça, a mão esquerda erguida à frente segurando uma lança fina, com a outra mão na cintura, em pose altiva e confiante. Atrás dele, dois homens de capacete metálico sobre a cabeça, blusa de mangas compridas, bufantes, amarelas, saiote em azul e vermelho, calças justas vermelhas e sapatos vermelhos. Todos eles carregam espadas presas às suas cinturas. Diante deles, há uma dezena de homens indígenas que vestem apenas tangas brancas e estão descalços. Eles seguram objetos de ouro em suas mãos, como caixas, taças e colares, oferecendo-as aos brancos. Alguns homens estão hesitantes: um deles recua  as costas para trás, os demais conversam entre si. À esquerda, na beira da praia, três homens brancos vestidos com armaduras de metal protegendo o peito fincam uma grande cruz de madeira sobre a terra.  À direita, em segundo plano,  um grupo de homens indígenas corre para a direita, um deles tem as mãos erguidas para o alto. Na praia, atrás deles, há um grupo de homens brancos vestidos com armaduras metálicas protegendo o peito, blusas amarelas de mangas bufantes amarelas e calças justas de cor vermelha.  Eles carregam lanças compridas apoiadas em seus ombros. Atrás deles, uma embarcação à vela, feita de madeira, com homens brancos de calças vermelhas no convés, desembarcando da embarcação maior para um bote de madeira menor. No mar, ao fundo, há outras duas embarcações grandes com velas brancas e vermelhas. No alto, o céu em azul e nuvens em amarelo.
BRY, Theodore de. O desembarque de Cristóvão Colombo na América (1492). 1594. Gravura, 18,6 por 19,6 centímetros. Coleção particular.

Ler a gravura

• Quais são os dois povos representados nessa obra? Que atitude ou postura cada um deles expressa? Procure explicar por que o artista retratou o encontro entre os dois povos dessa fórma.

Respostas e comentários

Orientações

Os espanhóis chegaram à América, impuseram seu domínio e passaram a explorá-la. As terras encontradas demoraram a ser conhecidas pelo conquistador, mas as armas que os europeus traziam possibilitaram o contrôlede vastas regiões e a submissão dos povos que aqui viviam. Muitos nativos resistiram, mas outros ficaram do lado dos conquistadores e colaboraram para que a conquista se efetivasse.

É importante destacar para os estudantes que, apesar de alguns povos nativos da América terem se aliado aos conquistadores espanhóis, isso não significa que eles fossem dóceis, inocentes e hospitaleiros, como tradicionalmente se imagina. Essas populações buscavam se unir aos europeus para vencer as disputas com outros povos nativos que os dominavam.

Outro aspecto importante, que pode ser destacado,é que as populações nativas, praticamente dizimadas no período inicial da colonização, foram substituídas em diversas regiões por africanos escravizados, principalmente a partir do final do século dezessete, quando a agroindústria açucareira desenvolvida nas Antilhas se transformou em um grande negócio para os colonizadores.

Resposta

Ler a gravura: Os espanhóis, no centro e à esquerda da imagem, foram representados vestidos, com postura de confiança e autoridade. Eles exibem suas lanças e espadas e fincam uma cruz na nova terra, simbolizando a tomada do território e a imposição da sua cultura. Os indígenas foram representados à direita. Alguns, em primeiro plano, parecem oferecer alguns objetos aos espanhóis. Outros, ao fundo, parecem fugir assustados dos navios e dos homens que se aproximam da costa. O artista procurou destacar o ponto de vista dos europeus sobre a conquista do Novo Mundo.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero oito e a ampliação do desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

A destruição do Império Asteca

Ainda no Caribe, os espanhóis ouviram falar de uma sociedade imperial muito rica estabelecida na parte continental da América (no planalto central do México). Era o Império Asteca, formado por uma rede de alianças que envolvia três capitais políticas: as cidades de tescôco, de Tlacopan e de Tenochtitlán, a capital do império.

A aliança entre esses centros urbanos integrava um domínio político e tributário sobre diversos grupos étnico-territoriais, denominados altépet. A dominação asteca imposta a esses povos gerava uma situação de descontentamento. Essa divisão entre os grupos indígenas foi notada e habilmente manipulada pelos espanhóis.

Quando o conquistador espanhol hernãn cortês chegou com seus homens à capital asteca, em fevereiro de 1519, conheceu Malinche, a jovem indígena que foi sua intérprete e possibilitou a aliança dos espanhóis com o povo de tlaquiscála, inimigo dos astecas.

Em novembro daquele ano, os espanhóis chegaram a Tenochtitlán e foram recebidos pacificamente por Montezuma, o imperador asteca. O primeiro conflito de que se tem notícia entre espanhóis e astecas ocorreu em maio de 1520, quando os conquistadores invadiram um templo e mataram dezenas de indígenas.

Ilustração. Sobre fundo de cor bege, à esquerda, dispostos verticalmente, um grupo de homens enfileirados, com os corpos voltados para a direita, segurando lanças finas e vermelhas na posição vertical e escudos redondos de cor cinza ou vermelha. A maioria deles usa capacete sobre cabeça, roupas em tons de marrom e vermelho ou armaduras de cor cinza, além de botas de cabo alto. Na parte inferior à esquerda, próximo à esse grupo, há dois cavalos comendo, um come  uma planta verde, outro bolinha de cor amarela sobre o chão. No centro, há duas pessoas à frente do grupo, uma ao lado da outra, um homem sentado sobre uma cadeira cor de rosa, usado chapéu branco, Casaco e calças pretas, botas de cano alto marrons. Ao lado dele, em pé, há uma mulher de cabelos pretos e compridos, usando um poncho comprido  vermelho e rosa quadriculado, com saia longa de cor bege. Ambos apontam para frente com o dedo indicador, na direção de três pessoas, uma ao lado da outra, em uma linha horizontal na parte direita da imagem. Essas pessoas vestem mantos compridos sobre suas costas e um tecido branco e vermelho amarrado em torno da cintura e da pelve. Eles calçam sandálias baixas, abertas e vermelhas. O primeiro homem, na ponta esquerda,  tem cabelos pretos e longos, uma tira vermelha ao redor de sua cabeça, seu manto é de cor vermelha e ele está com as mãos estendidas para frente; outro homem, no centro do grupo, tem cabelos pretos,na altura da nuca, com uma franja sobre a testa. Veste um manto branco com as bordas vermelhas e segura bastão  vermelho com uma escultura representando uma cabeça na ponta do bastão. À direita deles, um homem de cabelos pretos até a nuca com uma franja sobre a testa, vestido com um manto de fundo branco quadriculado em rosa. Ele segura um cesto nas mãos com objetos redondos de cor branca dentro dele.  Abaixo desse grupo e à frente dos cavalos, há cinco cestos de cor amarela contendo pequenos círculos de cor branca, além de quatro aves pequenas de cor cinza. Na parte superior esquerda, uma moita verde e o nome, escrito com tinta preta: 'Xaltelolco'.
Representação do conquistador espanhol hernãn cortês, sua intérprete Malinche e astecas, do Códice tlaquiscála; cópia de 1632. Tinta sobre papel. Museu Histórico Nacional, Cidade do México.

Como explicar a derrota asteca?

Os espanhóis contaram com o apôio de vários povos inimigos dos astecas, e utilizaram cavalos, armas de fogo e couraças de ferro nos combates. A disseminação da varíola é considerada outro fator para a derrota asteca, já que essa doença provocou muitas mortes entre aquela população. Além disso, a associação que Montezuma teria feito entre o colonizador espanhol cortés e o deus asteca Ket zol kooah tol, aliada à crença de que a chegada dos espanhóis concretizava maus presságios, explicaria o temor diante dos invasores e a demora em reagir à ameaça espanhola.

Respostas e comentários

Orientações

Recomendamos discutir com os estudantes os fatores que levaram à vitória dos espanhóis, que, afinal, estavam em desvantagem numérica e enfrentaram um império com exército poderoso e organizado, como o dos astecas. Mais do que a vantagem militar representada pelo uso de cavalos e de armas de fogo, foi fundamental a política de alianças com alguns grupos nativos. Após a conquista, as doenças trazidas pelos europeus e a imposição de fórmas de trabalho compulsório contribuíram para o verdadeiro desastre demográfico que ocorreu logo nas primeiras décadas do século dezesseiscom as populações nativas da América. Apesar disso, a cultura indígena sobreviveu e ainda hoje sua presença é marcante em muitos países da América Latina, sendo os próprios indígenas protagonistas de importantes movimentos políticos e sociais.

Comente com os estudantes que cêrca de dez anos antes da chegada dos espanhóis, Malinche foi cap­turada como escrava pelos tabascos, povo do grupo maia, e passou a viver entre eles. Num dos primeiros contatos desses nativos com os europeus, foi dada de presente ao conquistador hernãn cortês, com quem passou a viver e teve um filho. Malinche sabia maia e náuatle, língua dos astecas. Na convivência com seus novos senhores, a nativa aprendeu espanhol e serviu aos conquistadores como informante e intérprete. Ainda hoje os mexicanos usam a expressão “malinchista” como sinônimo de aceitação do domínio estrangeiro. Para alguns his­toriadores, porém, Malinche agiu como muitos outros nativos. Diante da dominação asteca, os espanhóis foram vistos como libertadores.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero oito e a ampliação do desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

A tomada de Tenochtitlán

Derrotados na primeira tentativa de tomar a capital asteca, os espanhóis se refugiaram em tlaquiscála, onde instalaram a base de suas operações. A queda definitiva de Tenochtitlán só ocorreu em agosto de 1521, após meses de combates.

O sistema de alianças que os espanhóis selaram durante o conflito foi decisivo para o desfecho, tanto que, ao terminar a guerra, enquanto os espanhóis tinham o apôio de cêrcade cinquenta altépet, os astecas eram apoiados por apenas três.

Como podemos perceber, a tomada de Tenochtitlán não se tratou da vitória dos espanhóis sobre os indígenas, mas da vitória de diversos grupos étnicos que, aliados aos espanhóis, derrotaram um inimigo em comum: os astecas. Os povos nativos coligados aos espanhóis não podiam imaginar que a queda dos astecas era apenas o primeiro grande ato de uma história de destruição que arrastaria depois suas cidades e suas fórmas de organização social.

Ilustração. Sobre um fundo amarelo claro, formando uma linha horizontal no centro da imagem, um grupo de três homens indígenas, oito soldados brancos e um homem e uma mulher à frente do grupo, à direita. Eles estão sobre uma estrada sinuosa de solo cinza com formas arredondadas na cor preta. À esquerda, há três homens indígenas de cabelos pretos na altura da nuca, com o torso e as pernas nus, usando um cordão ao redor da cintura com um tecido retangular com listras brancas, vermelhas e pretas sobre o quadril, descalços, carregando em suas costas cestos cilíndricos amarrados por cordas presas à parte inferior dos cestos e apoiadas nas testas dos homens. Um caminha sobre a estrada cinza e preta. Os outros dois fora dela, e carregam objetos circulares de cor cinza em seus cestos. Todos eles estão com as costas curvadas e olhando para baixo. Aos pés do que caminha sobre a estrada há manchas vermelhas. No centro, os soldados usam armaduras de cor cinza, elmos da mesma cor sobre a cabeça, saiotes com listras verticais em vermelho e cinza, calças justas de cor vermelha. Seguram escudos redondos de cor bege e bastões vermelhos com lanças metálicas na ponta. No centro da imagem, um soldado segura uma grande bandeira vermelha  com a  ilustração de um pássaro branco. A bandeira ocupa a parte superior da imagem. Perto de um soldado, no centro da ilustração, há um cavalo selado de pelagem cinza e crina preta, e um homem de cabelos curtos de cor preta,  blusa vermelha de mangas compridas, colete amarelo, culote marrom, meias longas vermelhas e chapéu bege com a borda amarela. À frente do grupo de soldados, à direita, há um homem loiro de cabelos curtos e cacheados, barba comprida loira, vestido com uma armadura cinza e dourada,  culote bufante de listras vermelhas, meias longas brancas e sapatos pretos. Ele carrega seu capacete metálico com uma das mãos. À direita, ao lado dele, uma mulher de cabelos castanhos presos com fitas vermelhas, vestida com um poncho comprido, branco, com grafismos vermelhos. No canto inferior da imagem, a marca de um carimbo de cor azul.
Representação da entrada de cortés em Uitsilán, publicada no Codex Ascatitlán. Século dezesseis.

Ler o texto

Os espanhóis queimarão os livros dos mexicanos para apagar a religião deles; destruirão os monumentos, para fazer desaparecer qualquer lembrança de uma grandeza antiga. Mas, cem anos antes, durante o reinado de Itscôat, os próprios astecas tinham destruído todos os livros antigos [de seus inimigos], para poderem escrever a história a seu modo.

todoróv, Zisvêtâm. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1999.página 71.

Que comparação o autor Zisvêtâm Todoróviestabeleceu entre os espanhóis e os astecas?

Respostas e comentários

Orientações

Com o auxílio de cêrca de 400 homens, 17 cavalos, dez canhões e poucas armas, cortés conseguiu, com relativa facilidade, dominar o Império Asteca, o maior da Mesoamérica, que contava com um exército estimado em 500 mil homens. Como isso foi possível? Estimule os estudantes a formular hipóteses e a refletir sobre esse momento histórico.

Se desejar, comente alguns pontos que influenciaram a vitória espanhola e a conquista do território asteca. Um deles é que, para os astecas, a guerra devia seguir regras tradicionais e visava obter prisioneiros para o sacrifício. Para os espanhóis, a guerra tinha de ser total, para destruir o modo de vida do inimigo. As alianças com os povos locais também favoreceram os espanhóis. Além disso, os indígenas não tinham proteção natural contra doenças como varíola, tuberculose e gripe, trazidas pelos europeus; por isso, grande parte dos astecas adoeceu e morreu em decorrência das epidemias, o que facilitou a conquista. Outro fator decisivo que contribuiu para a vitória espanhola foram as crenças dos astecas. Antes da chegada dos espanhóis, os astecas presenciaram fenômenos que os lançaram em um clima de terror religioso: fogo, raios e aves assombraram a cidade de Tenochtitlán. Para eles, qualquer acontecimento que saísse do comum anunciava algo ruim. Além disso, eles acreditavam que o deus Quetzalcóatl retornaria à cidade. Assim, para os nativos, a chegada dos espanhóis era a concretização dos presságios, e cortés, cuja aparência física era semelhante à imagem que tinham de Quetzalcóatl, era o próprio deus.

Resposta

Ler o texto: Zisvêtâm Todoróvi apresenta a ideia de que, assim como os espanhóis subjugaram os astecas e tentaram apagar sua história, os astecas haviam feito o mesmo cem anos antes com outros povos indígenas da região.

Observação

O conteúdo desta página possibilita ampliar o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

As ideias de Bartolomê de Las Casas

Bartolomê de Las Casas participou de expedições espanholas à América como explorador e depois como missionário, quando se tornou um frade dominicano. Entre as obras que escreveu, está a Brevíssima relação da destruição das Índias Ocidentais ou O paraíso destruído, publicada em 1542.

A obra de Bartolomê de Las Casas é até hoje analisada por historiadores. Leia, a seguir, dois trechos escritos por ele.

Trecho 1

Na ilha Espanhola que foi a primeira, como se disse, a que chegaram os espanhóis, começaram as grandes matanças e perdas de gente, tendo os espanhóis começado a tomar as mulheres e filhos dos índios para deles servir-sereticências. Depois de muitos outros abusos, violências e tormentos a que os submetiam, os índios começaram a perceber que esses homens não podiam ter descido do céu.

LAS CASAS, Frei Bartolomê de. O paraíso destruído. Pôrto Alegre: Ele e Pê ême, 2001. página32-34.

Trecho 2

As Índias foram descobertas no ano de mil quatrocentos e noventa e dois. Foram povoadas por cristãos espanhóis no ano seguinte. reticências A razão pela qual os cristãos mataram e destruíram tantas, tais e tão infinito número de almas foi somente para ter, como seu fim último, o ouro e encher-se de riquezas em muitos breves dias reticências.

LAS CASAS, Frei Bartolomê de. Único modo de atrair todos os povos à verdadeira religião. São Paulo: Paulus, 2010. página 495-498.

Pintura. Dois homens são representados no centro dessa pintura, que é emoldurada por um arco bege e dourado adornado com motivos florais diversos em tons coloridos de azul, amarelo, laranja, vermelho claro e escuro. Um dos homens, está sentado sobre uma cadeira diante de uma escrivaninha. O outro, está em pé, com um dos braços apoiado sobre o encosto da cadeira em que se senta o outro homem. Eles estão voltados para a direita. À frente deles, à direita, há uma janela em arco, revelando uma paisagem: um céu azul, e dois coqueiros entrelaçados, com algumas pessoas ao redor dos coqueiros. O homens olham para fora, por meio dessa janela. Eles estão em uma sala de paredes cor de areia, com a parte inferior da parede na cor vermelha. O homem sentado é branco, calvo, tem cabelos curtos e grisalhos nas laterias da cabeça, usa um cavanhaque longo e veste uma roupa de mangas compridas de cor preta com gola branca. Ele tem uma caneta de pluma na cor branca na mão direita. Está sentado sobre uma cadeira de madeira dourada, com estofado vermelho. A mão esquerda dele repousa sobre uma folha branca que está sobre uma espécie de escrivaninha de madeira. Sobre o encosto da cadeira dele, há um casaco preto apoiado. Atrás da cadeira, em pé, um homem mais jovem, indígena, com cabelos castanhos curtos, sem barba e com o torso nu. Ele tem apenas um pano de cor verde sobre o ombro e duas plumas adornando sua cabeça. Um de seus braços está flexionado à frente do corpo, apoiado sobre seu torso; o outro, está apoiado no encosto da cadeira, sobre o casaco preto.
BRUMIDI, Constantino. Bartolomê de Las Casas. 1876. Óleo sobre gesso. Capitólio dos Estados Unidos, Washington, dê cê
  1. Segundo o trecho 1, de que fórma agiam os espanhóis que chegaram à América no contexto da conquista?
  2. No trecho 2, Las Casas expõe a razão pela qual os cristãos mataram e destruíram tantas almas na América. Segundo o religioso, qual seria o motivo dessa violência?
  3. Alguns historiadores dizem que Las Casas chegou a ser muito malvisto por colonizadores e autoridades espanholas. Por que isso teria acontecido?
  4. Observe a imagem de Las Casas. Como o missionário foi representado nessa obra?
Respostas e comentários

Respostas

1. Segundo o Trecho 1, os espanhóis agiam com extrema crueldade na América, matando a população indígena local e explorando seu trabalho.

2. Segundo o Trecho 2, os espanhóis cometeram enormes atrocidades contra os indígenas porque desejavam se apropriar do ouro encontrado no continente americano.

3. Essa é uma pergunta ampla, que serve como uma questão de fechamento para a análise dos documentos escritos, uma vez que ela exige que os estudantes reflitam sobre todas as questões elaboradas até aqui nesta seção. De modo geral, Las Casas pode ter sido ideologicamente “perseguido” em razão das denúncias que fazia em suas obras, que feriam os interesses econômicos dos colonizadores espanhóis e da Coroa espanhola como um todo. Sobre o tom de denúncia dos textos de Las Casas, leia o seguinte trecho e, se desejar, mostre-o aos estudantes: “O texto [‘Brevíssima Relação da Destruição das Índias Ocidentais’], publicado em 1542, teve o caráter de denúncia e, numa linguagem trágica, causou transtornos e agitação da Coroa Espanhola. A narrativa [de Las Casas] esteve, antes do texto escrito, nos púlpitos e nas audiências da côrte. Talvez por isso, Carlos quinto convocou um conselho e editou as Leis Novas (1542-1543), substituindo as Leis de Burgos (1512). O ponto central das Leis Novas era a proibição de novas encomiendas, a retirada das que estavam sob a responsabilidade do clero, a proibição da servidão indígena, mesmo em situação de guerra, já que estes eram livres. Nas Índias, a reação às leis foi a pior possível, e Las Casas foi visto como o responsável pela edição dessa legislação, que feria os interesses dos colonizadores reticências”. FREITAS NETO, José Alves de. Bartolomê de Las Casas: a narrativa trágica, o amor cristão e a memória americana. São Paulo: Annablume, 2003.página 49.

4. Na obra, Las Casas foi representado sentado, escrevendo, com uma pena em uma das mãos. A seu lado, há um indígena. Os dois foram representados “olhando” para a vista da janela, numa tentativa, talvez, de mostrar que ambos compartilham as mesmas reflexões e preocupações naquele momento. O fato de ter sido representado com uma pena em uma das mãos valoriza a obra escrita de Las Casas.

Observação

O trabalho proposto nesta seção, no texto e nas atividades permite aprofundar o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

A destruição do Império Inca

Os domínios do Império Inca se espalhavam por regiões dos atuais Peru, Equador, Bolívia, Argentina e Chile. Reunindo diferentes grupos e culturas indígenas, distribuídos em um vasto território, o império mantinha-se, principalmente, por meio de acordos com lideranças e da cobrança de impostos.

A configuração de estados com características imperiais gerou conflitos pelo trono. Foi o que aconteceu no século dezesseis, na sucessão de Ruaina Capaqui. Seus filhos, Atarrualpa e Uáscar, disputavam violentamente o poder quando os espanhóis chegaram à região, em 1532.

Os europeus, sob o comando de Francisco Pizarro, aproveitaram-se da situação. Assassinaram Uáscar, culparam Atarrualpa pela morte do irmão e o condenaram à morte, não sem antes cobrar uma quantia exorbitante em ouro e prata como resgate.

Com o apôio de povos indígenas rebelados contra a dominação inca, os espanhóis tomaram a cidade de Cuzco (capital inca) e de Quito. Em 1535, Pizarro fundou a cidade de Lima, futura capital dos domínios espanhóis nos Andes Centrais.

A conquista espanhola desintegrou profundamente as estruturas sociais, culturais e religiosas da civilização inca, como podemos acompanhar no texto a seguir:

O resultado do conflito não dependeu apenas da fôrça dos oponentes: a partir da perspectiva dos derrotados, a invasão europeia também continha uma dimensão religiosa, e mesmo cósmica. Saques, massacres, incêndios: os índios estavam vivendo o fim de um mundo; a derrota significava que os deuses tradicionais haviam perdido seu poder sobrenatural.

Uatitél, Natán . Os índios e a conquista espanhola. ín: Betell, Leslie (organizador). História da América Latina: América Latina Colonial. segunda edição São Paulo: Edusp; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. volumeumpágina 199.

Fotografia. Vista geral de uma praça com uma construção de dois andares, amarela, protegida por grades, ao fundo. A praça tem o chão cinza, há pessoas em pé e sentadas em bancos, no centro e à direita. No canto direito, um poste de iluminação pública, comprido e de ferro na cor preta. formando uma fileira horizontal no centro da imagem, palmeiras altas de folhas verdes. Em segundo plano, uma grande construção que ocupa todo o centro da imagem em uma linha horizontal, com a fachada de cor amarela clara,  janelas em forma de arco, elementos decorativos esculpidos na fachada e dois andares. No centro da construção, há uma bandeira branca e vermelha hasteada. Na parte superior da fotografia, o céu nublado coberto por nuvens na cor cinza.
Plaça Maior, em Lima, Peru. Fundada pelos conquistadores espanhóis, a cidade preserva ainda hoje diversas edificações do período colonial. Fotografia de 2020.
Respostas e comentários

Orientações

Comente com os estudantes que o espanhol Francisco Pizarro, quando chegou à região do Peru, em 1532, encontrou o Império Inca mergulhado em grave agitação política. A morte do Sapa Inca capác e de seu herdeiro direto, ambos vitimados pela varíola, desencadeou uma disputa pelo poder entre outros dois filhos do imperador, Atarrualpa e Uáscar. O conflito acabou convertendo-se em uma guerra civil, que dividiu o povo e provocou morte e destruição. Aproveitando-se da situação, Pizarro, com 180 homens e 27 cavalos, dirigiu-se à cidade de Cajamarca. Ali, por meio de uma cilada, teria aprisionado Atarrualpa, o imperador inca. Ele contava com cêrca de 80 mil soldados e uma guarda pessoal de 5 mil guerreiros. A superioridade numérica dos incas não foi suficiente para vencer o grupo de Pizarro, que contava com canhões e armas de fogo. Atarrualpa foi feito prisioneiro e 6 mil incas morreram, sem mortes do lado espanhol. Em seguida, as cidades de Cuzco (capital do império) e Quito foram tomadas, mesmo após a enorme quantidade de ouro e prata entregue aos invasores como pagamento de resgate do imperador. Em 1535, Pizarro fundou a cidade de Lima, que a metrópole espanhola transformou depois em capital do Vice-Reinado do Peru.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero oito e a ampliação do desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o estudante:

RESTAL, Matiu. Sete mitos da conquista espanhola. São Paulo: Civilização Brasileira, 2006.

O livro procura aprofundar a visão do leitor a respeito de algumas interpretações que se tornaram bastante difundidas sobre a conquista espanhola na América e a relação dos povos nativos com os conquistadores europeus.

A resistência indígena

Muitos povos indígenas resistiram à dominação espanhola durante décadas. Na região de Vilcabamba, ao lado de Cuzco, o líder inca Manco Capac e seus seguidores organizaram sucessivos movimentos de resistência ao domínio espanhol até 1572. A última luta de resistência indígena foi dirigida em Vilcabamba pelo líder inca Tupac Amaru. Ele reuniucêrca de 40 mil indígenas para combater a cobrança de tributos, pagos aos espanhóis na fórma de trabalho nas minas de prata. Capturado pelo inimigo, o líder inca foi decapitado na praça central de Cuzco, para servir de exemplo à população.

Outro importante movimento de resistência surgiu em Huamanga e espalhou-se pela região norte do atual Peru. Entre 1564 e 1567, mais de 8 mil indígenas chamanes repudiaram o domínio espanhol e todos os objetos e crenças trazidos pelos europeus. O movimento chamado de Taqui Ongo, ou a “enfermidade da dança”, baseava-se em tradições inseridas no contexto colonial. Os indígenas acreditavam que era preciso dançar constantemente para que as divindades andinas despertassem e vencessem o deus cristão, restabelecendo a ordem anterior. O movimento, porém, foi violentamente reprimido.

No atual Chile, os indígenas araucanos, também conhecidos como Mapúche, encabeçaram uma longa resistência aos espanhóis. Em sua luta contra os conquistadores, eles aperfeiçoaram suas armas e incorporaram o uso dos cavalos: uma prática dos espanhóis. A resistência Mapúche teve seu momento de maior explosão entre 1550 e 1696; depois disso, os enfrentamentos com os espanhóis passaram a ser esporádicos, predominando entre eles acordos comerciais e negociações de fronteira.

Pintura. Em um local aberto, à frente, o solo coberto de grama verde; árvores à esquerda e à direita; ao fundo um curso de água azul e, ao fundo, montanhas altas na cor branca, cobertas de gelo. No centro, em destaque, em pé sobre a grama verde, um homem de cabelos pretos e longos com duas plumas sobre sua cabeça: uma vermelha e outra preta. Ele está com o torso  e as pernas nus, tem um manto vermelho sobre as costas, veste um cinto largo com franjas longas na cor preta, sobre seu quadril usa um colar com um grande pingente cinza, uma faixa bordada com bordas vermelhas cruzando seu torso. Ele olha para cima e maneira altiva e, com a mão esquerda, segura uma haste com uma bandeira vermelha com um losango azul de bordas amarelas. Atrás dele, há um cavalo de pelagem e crina de cor preta  com uma das patas elevadas  e a cabeça inclinada em uma posição elegante. O homem segura as rédeas desse cavalo com sua outra mão. À esquerda, visto de costas, um homem nu, usando um pequeno chapéu sem abas azul e vermelho sobre sua cabeça e seus cabelos pretos e longos. Com a mão esquerda, ele segura as rédeas de um cavalo branco. Atrás desse cavalo há um outro, na cor marrom, montado por um homem com capa longa preta com ornamentos bordados em amarelo claro e o torso nu. Ao lado deles, mais ao centro da pintura, uma mulher ajoelhada aponta o dedo indicador para cima. Ela tem cabelos pretos e longos e usa  vestes longas com listras verticais vermelhas, amarelas e pretas. Com seu braço direito, ela abraça uma criança de cabelos longos pretos, vista de costas, nua, que segura uma corneta, e também olha para cima. À direta, há um cavalo branco deitado sobre a grama e um outro, marrom, empinado, sem sela, com um homem agarrado à seu pescoço, tentando montá-lo. Ao redor deles, há outros homens, uns perto de um canhão de ferro, examinando a peça. Um deles coloca munição dentro do canhão. Outro, atrás do canhão segura uma lança; outro com um capacete metálico observa a cena, e um tenta auxiliar o homem que tenta montar o cavalo marrom. No solo, diante desse grupo há espadas, armas de fogo de cano longo e um capacete cinza.
Subercasô, Pedro. O jovem Lautaro. Século dezenove. Óleo sobre tela. A obra representa Lautaro, importante líder da resistência Mapúche. Acervo do Comandante em Chefe do Exército do Chile.
Ícone. Sugestão de site.

POVOS Indígenas no Brasil. Disponível em: https://oeds.link/zrZGlw. Acesso em: 10 fevereiro2022. Enciclopédia sobre os povos indígenas do Brasil, com informações acerca de línguas, costumes, modos de vida, iniciativas, direitos etcétera de diferentes grupos. Produzida pelo Instituto Socioambiental (Ísa).

Respostas e comentários

Orientações

Os chamanes acreditavam que a chegada dos espanhóis aos Andes havia provocado o pachacuti, isto é, a inversão da ordem do mundo. O caminho para trazer de volta a ordem natural era repudiar todas as crenças, os costumes e os objetos que tivessem relação com o modo de vida do conquistador. Ao fazer isso, as divindades andinas venceriam o deus cristão e expulsariam os espanhóis.

Comente com os estudantes que, apesar da resistência indígena, a população nativa da América diminuiu drasticamente. Quando cortés chegou ao México,cêrca de 25 milhões de indígenas viviam na região. Em 1568, esse número já havia caído para menos de 3 milhões. No Peru, onde viviam aproximadamente 9 milhões de nativos, restava, em 1570, apenas 1,3 milhão.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita o aprofundamento do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

Gúti, Guilhérmo. Viajantes do maravilhoso. O novo mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

Com base em relatos de Colombo, Cabeça de Vaca e Rans Stáden, o autor analisa com erudição e elegância a aventura dos viajantes e navegadores dos séculos quinze e dezesseis.

Todoróvi, Zisvêtâm. A conquista da América. A questão do outro. quinta edição. São Paulo: dáblio ême éfe Martins Fontes, 2019.

Nesta obra, todoróv aborda a história da descoberta e da conquista da América, trabalhando a complexa questão do “outro” no contexto do encontro e do choque de culturas.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Nos atuais Haiti, Cuba e Jamaica, a maioria da população é formada por afrodescendentes, sendo as pessoas de origem indígena um grupo muito pequeno. Por que esse fenômeno ocorre nessas ilhas do Caribe?
  2. Com um colega, observe a charge, que trata da colonização espanhola na América, e responda às questões.
Charge. Em um local aberto, sob um céu azul com nuvens brancas, com aves pretos sobrevoando, o solo cor de areia, com arbustos em verdes ao fundo. À esquerda, um homem indígena, baixo, de cabelos pretos até os ombros, torso nu,  três penas brancas e vermelhas sobre sua cabeça, um tecido marrom amarrado a um cordão em sua cintura cobrindo a parte frontal e posterior do quadril, descalço. Ele está apontando o dedo indicador para o homem branco à frente dele. À direita, de frente para o homem indígena, um homem branco, alto, de nariz comprido, barba longa e cabelos castanhos, boca aberta e expressão agressiva, usando um chapéu alto, de abas, na cor cinza, uma blusa de mangas compridas vermelha com punho dourado, culote bufante com listras verticais azuis e cor de rosa, meias longas, brancas, até os joelhos e sapatos pretos. Segurando, na mão esquerda, uma espada, erguida para cima. A mão direita, estendida para o alto. O homem branco com um balão de fala: 'TRAZEMOS CULTURA, EDUCAÇÃO E PROGRESSO!'. O homem indígena com um balão de fala: 'E PARA QUE A ESPADA, SENHOR'?
Catalán, Victor Hugo. “Trazemos cultura, educação e progresso!”; “E para que a espada, Senhor?”. 2010. Charge.
  1. Qual grupo social das colônias espanholas é representado por cada um dos personagens? Que momento histórico é representado na charge?
  2. O que o comportamento do europeu ao encontrar-se com o indígena americano revela?
  3. Imaginem a continuação do diálogo entre os dois personagens e se coloquem no lugar deles. Cada um de vocês deve criar argumentos para defender as ideias e os interesses de um dos grupos representados.

d. Apresentem seus argumentos para os colegas e, ao final das exposições, realizem um debate para escolher os argumentos mais convincentes.

3. Leia o texto com atenção e responda às questões.

Ao ler a história do México, não podemos evitar a pergunta: por que os índios não resistem mais [aos espanhóis]? Será que não se dão conta das ambições colonizadoras de cortés? A resposta desloca a pergunta: os índios das regiões atravessadas por cortés no início não ficam muito impressionados com suas intenções colonizadoras, porque esses índios já foram conquistados e colonizados – pelos astecas. O México de então não é um estado homogêneo, e sim um conglomerado de populações subjugadas pelos astecas, que ocupam o topo da pirâmide. Desse modo, longe de encarnar o mal absoluto, cortés frequentemente aparecerá como um mal menor, como um libertador, mantidas as proporções, que permite acabar com uma tirania particularmente detestável, porque muito mais próxima.

Sensibilizados como estamos aos danos causados pelo colonialismo europeu, temos dificuldade em compreender por que os índios não se revoltam imediatamente, enquanto é tempo, contra os espanhóis. reticências

Todoróvi, Zisvêtâm. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1999.página 69.

  1. Explique por que os indígenas não se impressionaram com as intenções colonizadoras de cortés.
  2. Segundo o texto, que povo foi mais prejudicado com a chegada dos espanhóis? Por quê?
  3. cortés e Francisco Pizarro adotaram estratégias semelhantes para dominar os astecas e os incas, respectivamente. Explique essa afirmativa.
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objeto de conhecimento

A conquista da América e as formas de organização política dos indígenas e europeus: conflitos, dominação e conciliação.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero sete agá ih zero oito (atividades 2, 3)

ê éfe zero sete agá ih zero nove (atividades 1, 2, 3)

Respostas

1. As populações nativas, praticamente dizimadas no período inicial da colonização, foram substituídas por africanos escravizados, principalmente a partir do final do século dezessete, quando a agroindústria açucareira desenvolvida nas ilhas do Caribe se transformou em um grande negócio para os colonizadores.

2. a) O homem de chapéu representa a elite espanhola, e o homem com penas na cabeça, um indígena da América. O encontro dos dois representa a chegada dos espanhóis ao continente americano no final do século quinze.

b) O europeu tem gestos agressivos e um discurso falsamente amistoso. O espanhol demonstra acreditar que as tradições de sua cultura são superiores às da cultura do indígena.

c) e d) Atividade de debate é uma oportunidade para estimular o raciocínio lógico e a criação de argumentos em situações de conflito. Procure indagar os estudantes e fazê-los refletir sobre a ideia de “superioridade” de um povo em relação a outro em vários momentos históricos, visão que foi utilizada como argumento para a invasão e a colonização europeia na América.

3. a) De acôrdo com o texto, os indígenas não se impressionaram com os invasores espanhóis porque, anteriormente, eles já haviam sido conquistados e colonizados pelos astecas.

b) Segundo o texto, os astecas foram os que mais sofreram com a chegada dos conquistadores, porque a presença dos europeus libertou vários povos indígenas que se encontravam, até então, dominados pelos astecas.

c) hernãn cortês e Francisco Pizarro aliaram-se aos inimigos dos astecas e dos incas, respectivamente. Pizarro, ao chegar ao Peru, encontrou também uma situação política interna deteriorada, em razão da disputa pelo poder entre dois irmãos.

CAPÍTULO 10  PORTUGUESES NA AMÉRICA

Multiculturalismo.

Quando os portugueses chegaram às terras que viriam a ser chamadas de Brasil, encontraram povos com cultura, costumes, organização social e línguas totalmente diferentes dos que conheciam na Europa, na África e no Oriente. Calcula-se que, em 1500, entre 3 milhões e 5 milhões de nativos habitassem o território brasileiro, distribuídos em mais de mil povos.

Segundo a classificação feita por estudiosos, as línguas mais faladas pelos indígenas do Brasil podem ser agrupadas em quatro troncos linguísticos: Tupi, Macro-jê, Aruaque e Caraíba.

Por estarem distribuídos ao longo da costa brasileira, os povos Tupi foram os que tiveram mais contato com os portugueses. Praticavam a agricultura de subsistência, cultivando mandioca, milho, inhame, abóbora, batata-doce, entre outros alimentos. Coletavam frutos, caçavam e pescavam. Com troncos de árvores, ossos, fibras vegetais, barro e madeira, confeccionavam diferentes artigos, como canoas, arcos e flechas, redes, cestos, vasos e urnas funerárias. Possuíam conhecimentos a respeito da prática da pintura corporal. Praticavam também a arte plumária, sendo responsáveis pela produção de belíssimos adornos feitos de penas e plumas de pássaros.

Fotografia. Uma menina indígena, de cabelos pretos, lisos e longos, com franja, usando regata azul com bolinhas brancas, sentada de frente para uma carteira escolar cinza. Atrás dela, o encosto da ceira na cor azul. Ela usa pulseiras no punho direito e um relógio digital preto no punho esquerdo. Ela está escrevendo com um lápis sobre uma folha branca, com o cotovelo direito apoiado sobre um caderno cuja capa tem listras horizontais cor de rosa e brancas. Ao fundo, vista parcial de outras carteiras escolares.
As leis do Brasil, hoje, garantem que as crianças indígenas possam ter aulas na língua de seu povo, para preservar sua cultura e suas tradições. Estudante Kamayurá em escola indígena no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. Fotografia de 2018.
Ícone. Sugestão de site.

BRASIL 500 anos – I. Disponível em: https://oeds.link/bWAtsn. Acesso em: 10 fevereiro 2022. Linha do tempo que mostra alguns marcos da chegada dos portugueses ao território que hoje compreende o Brasil.

Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Neste Capítulo os estudantes irão conhecer os povos indígenas que habitavam o Brasil na época em que os portugueses aqui chegaram e como estavam organizados, quais eram seus costumes e suas visões de mundo. Sugerimos destacar a diversidade cultural, evitando visões simplistas ou generalizantes sobre o modo de vida desses povos. É igualmente importante ressaltar que a conquista e a colonização das Américas tiveram significados bem diferentes para os europeus e para os povos indígenas. Por isso sugerimos que os estudantes problematizem conceitos muito arraigados, como explicações históricas como “descobrimento” e “índio”, observando os diferentes pressupostos de cada um deles.

Orientações

Explique aos estudantes que a maior parte das línguas indígenas se origina de quatro troncos principais: Tupi, Macro-jê, Aruaque e Caraíba. Algumas línguas, porém, como a dos Ticunas, não pertencem a nenhum dos quatro troncos. Por sua vez, a língua portuguesa, oficial no Brasil, incorporou inúmeras palavras de origem tupi.

Nos livros desta coleção, os nomes dos povos indígenas foram escritos de acôrdo com a grafia adotada pelo Instituto Socioambiental e as resoluções da “Convenção para a Grafia dos Nomes Tribais”, estabelecida em 1953.

Além disso, é importante destacar que o conteúdo deste Capítulo possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Educação para a valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Observação

O conteúdo desta página apresenta uma ótima oportunidade de aprofundamento do trabalho com as habilidades ê éfe zero sete agá ih zero oito e ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero sete agá ih zero um: Explicar o significado de “modernidade” e suas lógicas de inclusão e exclusão, com base em uma concepção europeia.

ê éfe zero sete agá ih zero oito: Descrever as formas de organização das sociedades americanas no tempo da conquista com vistas à compreensão dos mecanismos de alianças, confrontos e resistências.

ê éfe zero sete agá ih zero nove: Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações ameríndias e identificar as formas de resistência.

Primeiros contatos entre indígenas e portugueses

Os Tupi chamavam o Brasil de Pindorama, que, na sua língua, significa “terra das palmeiras”. Tanto esse grupo como a maior parte dos povos indígenas que habitavam o Brasil na época da chegada dos portugueses viviam em aldeias. As moradias podiam estar organizadas em círculo ou em fileiras. Porém, em algumas aldeias, havia apenas uma grande casa comum.

As aldeias estabeleciam entre si laços de solidariedade. Entretanto, havia guerras constantes entre grupos diferentes. Muitas vezes, os conflitos ocorriam quando um povo queria afirmar sua superioridade sobre outro.

Além disso, os indígenas não tinham um Estado organizado. Entre os Tupi, por exemplo, não existia um poder centralizado, exercido por um rei ou alguém com o poder de dar ordens aos demais. Reunidos em uma espécie de conselho, os líderes, chamados principais, decidiam em conjunto o destino da aldeia. Os membros mais corajosos eram os primeiros a serem ouvidos.

Os povos indígenas no Brasil em 1500

Mapa. Os povos indígenas no Brasil em 1500. Mapa representando parte da América do Sul, com foco no território que hoje corresponde ao Brasil. O território está dividido em áreas destacadas por diferentes cores. As Fronteiras atuais do Brasil estão representadas por meio de uma linha de cor cinza. Em amarelo: Tupi-guarani. Localizados na região em torno do rios Tapajós e Xingu, parte da região que hoje corresponde aos estados do Pará e do Amazonas; também localizados na região da bacia dos rios Paraná e Tietê, parte da região que hoje corresponde aos estados de Paraná e São Paulo. Ocupando também grande parte do litoral, desde a região que hoje corresponde aos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas Sergipe, parte do litoral da Bahia  e do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, até parte do litoral do Rio Grande do Sul, na região da Lagoa dos Patos. Também estavam localizados entre os rios Araguaia e Parnaíba, na região que hoje corresponde ao Maranhão, e ao longo da margem leste do Rio São Francisco. Em laranja: Jê. Localizados na região entre o rio Araguaia e margem oeste do Rio São Francisco, Desde a região que hoje corresponde o centro e o sul do Maranhão, no limite norte, até a região em que o Rio Tietê se encontra com o Rio Paraná, no limite sul do território. Em verde escuro: Aruaque. Localizados na Ilha de Marajó, na margem leste do Rio Oiapoque, a nordeste do Rio Branco, na região em torno do Rio Madeira, na região em torno do Rio Solimões, entre os rios Juruá e Purus, entre a nascente do Rio Teles Pires e o Rio Paraguai e  em parte do curso do Rio Paraguai. Em verde-claro: Caraíba. Localizados no norte da região que hoje corresponde aos estados do Amazonas e do Pará, entre os rios Jari, Branco e Amazonas, na margem norte do Rio Negro, entre o Rio Negro e o Rio Urariquera, próximos à foz do Rio Xingu e em torno da Ilha de Marajó. Localizados também em um território a noroeste do Rio São Francisco. Em roxo: Cariri. Localizados ao norte e ao sul do trecho Rio São Francisco localizado entre os atuais estados de Pernambuco e Bahia. Território que se estende desde a região do Cariri, que hoje compreende o estado do Ceará, até a região da Baía de Todos os Santos, que hoje corresponde ao estado da Bahia. Em marrom claro: Pano. Localizados ao sul do Rio Solimões e na região entre os rios Juruá e Purus no território que hoje corresponde a parte do estado do Amazonas e ao Acre. Em rosa: Tucano. Localizados entre os rios Negro, Solimões e Japurá na região que hoje corresponde ao estado do Amazonas. Em vermelho: Charrua. Localizados entre o Rio Uruguai e a Lagoa Mirim, no território que hoje corresponde ao Rio Grande do Sul. Em marrom escuro: Localizados na região em torno do Rio Araguaia, na região da nascente do Rio Paraguai, entre os rios Madeira, Mamoré e Guaporé e Juruena, em um território a leste do Rio São Francisco que se estende desde o sul da Bahia de Todos os Santos até o norte do Rio Paraíba do Sul e um território entre os rios Tietê e Iguaçu. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 500 quilômetros.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Fundação de Assistência ao Estudante. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 12.

Organização das famílias indígenas

Muitas sociedades indígenas eram matrilineares, o que significa que a criança, ao nascer, recebia um nome que a ligava à família de sua mãe. Em outros casos, o parentesco podia ser patrilinear, ou seja, estabelecido a partir do pai.

Os casamentos, em geral, aconteciam entre membros da mesma aldeia e, em certos grupos, os guerreiros tinham direito a ter mais de uma esposa. Outro costume bem marcado em muitos povos era o ritual do couvade, que consistia no resguardo do pai após o nascimento da criança. Nesse período, o pai não podia trabalhar e devia se alimentar de fórma moderada. Essa prática demonstrava a importância do papel paterno no desenvolvimento da criança. Durante um ano e meio, mães e filhos não se separavam.

Ícone. Sugestão de vídeo.

CARAMURU: a invenção do Brasil. Direção: Guel Arraes. Brasil, 2001. Duração: 88 minutosO filme apresenta as aventuras do jovem português Diogo, que chega às terras do atual Brasil em 1500.

Respostas e comentários

Orientações

Peça aos estudantes que observem com atenção o mapa “Os povos indígenas no Brasil em 1500”. Converse com eles sobre a grande diversidade de povos que estavam distribuídos por todo o território que hoje corresponde ao Brasil, na época em que os portugueses chegaram com a finalidade de conquistar e extrair riquezas da terra. Atualmente, as terras ocupadas por indígenas e reconhecidas oficialmente são bastante circunscritas. Discuta com eles também a concepção de riqueza dos europeus, tão diferente da visão de mundo dos indígenas, que não almejavam a acumulação de bens e que produziam coletivamente para a sua sobrevivência, estabelecendo com a terra e com a natureza uma relação que se voltava para o sagrado e se misturava aos seus mitos e sua religiosidade.

Comente com os estudantes que, em geral, o trabalho na aldeia era dividido conforme o sexo e a idade. As mulheres semeavam, plantavam e cuidavam da colheita; fabricavam farinhas, especialmente de mandioca, fiavam e teciam, além de cuidarem das crianças. Os homens eram responsáveis pela caça, pesca, construção de moradias, fabricação de canoas e armas e pelo córte da lenha. Também derrubavam, queimavam e limpavam a mata, preparando-a para o plantio.

Observação

O conteúdo abordado nesta página oferece novamente uma oportunidade de aprofundamento do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Atividade complementar

Sugerimos como atividade complementar a exibição do filme Caramuru: a invenção do Brasil, indicado aos estudantes nesta página. Oriente-os a refletir sobre alguns pontos da representação cinematográfica, lembrando que se trata de uma interpretação do passado feita a partir do olhar do cineasta no tempo presente. Chame a atenção deles para alguns detalhes do filme e estimule-os a falar de suas impressões. É importante que os estudantes deem atenção especial para as primeiras relações que se estabelecem entre portugueses e indígenas, e como o filme expressa a visão eurocêntrica dos conquistadores. A atividade proposta propicia a prática de estudo de recepção.

A guerra na cultura Tupi

A guerra era um valor central da cultura Tupi, servindo, principalmente, para vingar parentes mortos pelo inimigo. O ritual da antropofagia estava associado à guerra. Nesse grande evento, realizado na aldeia, o inimigo capturado no conflito era morto e devorado em uma festa ritual. Esse era um destino digno na vida de um guerreiro: para os Tupi, os mortos em guerra iam para uma espécie de paraíso, onde estavam seus ancestrais.

Gravura. Vista do alto de um local aberto com com o solo coberto de verde. No centro, há quatro moradias dispostas em formato de losango. As moradias são alongadas têm o telhado arredondado na cor bege e portas altas em forma de arco. No pátio formado no centro das moradias, há cinco mulheres com longos cabelos presos em tranças; estão nuas, correndo com os braços para cima.  Há duas crianças junto à elas, também correndo. Ao redor das moradias há uma paliçada, uma espécie de cerca de hastes verticais vermelhas que formam um círculo em torno das moradias. Entre a cerca vermelha e as moradias, voltados para fora, há dezenas de homens indígenas, nus, com os cabelos raspados, atirando com arco e flecha. No centro da gravura, dentro dessa área cercada há quatro hastes de madeira fincadas no solo, no topo de cada uma delas há um crânio humano. Em torno da cerca vermelha, voltados para as moradias, há dezenas de homens indígenas com cocares de penas coloridas azuis e amarelas sobre a cabeça e com penas nas cores vermelha, amarela e azul atadas em cintos vermelhos afixados em suas cinturas e cobrindo seus quadris. Armados com arcos e flechas, eles apontam suas flechas para os homens. mulheres e crianças dentro do território cercado. No canto inferior direito da gravura, seis  canoas de madeira vistas parcialmente.
DE BRY, Theodore. Ataque Tupiniquim a uma aldeia Tupinambá. 1592. Gravura de cobre (detalhe), 33 por 24,5 centímetros. Arquivo Histórico da Marinha Francesa, Vincennes, França.

Índio ou indígena?

O indígena Daniel Munduruku fala sobre o uso correto do termo “indígena”:

reticências [o termo índio] não é uma definição, é um apelido, e apelido é o que se dá para quem parece ser diferente de nós ou ter alguma deficiência que achamos que não temos.reticências

Por outro lado o termo indígena significa “aquele que pertence ao lugar”, “originário”, “original do lugar”. Se pode notar, assim, que é muito mais interessante reportar-se a alguém que vem de um povo ancestral pelo termo indígena que índio.

MUNDURUKU, Daniel. Usando a palavra certa para doutor não reclamar. Blog Daniel Munduruku. Disponível em: https://oeds.link/SQsfJX. Acesso em: 10 fevereiro 2022.

Respostas e comentários

Orientações

Cada povo indígena tinha crenças e rituais religiosos próprios. Entretanto, todos acreditavam nas fôrças da natureza e nos espíritos dos antepassados, para os quais realizavam cerimônias de oferenda e festas. O responsável por transmitir as tradições religiosas e ensinar os rituais aos habitantes do grupo era o pajé.

Após a leitura do boxe “Índio ou indígena?”, pergunte aos estudantes se eles concordam com a visão de Daniel Munduruku e por quê. Estimule-os a perceber o ponto de vista de um indígena ao posicionar-se e narrar sua história sob sua própria perspectiva. Incentive-os também a refletir sobre essa questão polêmica.

Observação

O conteúdo abordado nesta página oferece mais uma ótima oportunidade de aprofundamento do trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero oito.

Ícone. Sugestão de vídeo.

Sugestão para o estudante:

Rans Stáden. Direção: Luiz Alberto Pereira. Brasil, 1999. Duração: 92 minutos.

O filme apresenta a saga do aventureiro alemão Rans Stáden, que, após enfrentar um naufrágio, aporta na costa do litoral sul da América portuguesa no século dezesseise vive por alguns anos na colônia. O aventureiro registrou suas experiências na América portuguesa e seus escritos são documentos importantes desse período.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

O contato com o “outro”

Quando os indígenas viram as caravelas de Cabral aportando, eles provavelmente sentiram grande estranhamento. O que eles teriam pensado ao ver homens barbados, com aqueles trajes, vindos do mar em uma embarcação muito diferente das canoas que eles conheciam?

A surpresa dos portugueses também deve ter sido grande. Chamou a atenção deles a fauna e a flora locais, assim como a aparência dos indígenas. Leia um trecho do relato que o escrivão português Pero Vaz de Caminha escreveu sobre o primeiro encontro entre indígenas e portugueses, em 1500.

Andavam ali muitos deles, ou quase a maior parte. Todos traziam aqueles bicos de osso nos beiços; e alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau que pareciam espelhos de borracha. Alguns traziam três daqueles bicos, a saber, um na metade e outros dois nos cabos. Outros andavam aí esquartejados de cores, a saber, deles a metade da sua própria cor e a metade de tintura negra, [à] maneira de azulada, e outros quartejados de escaques.

Entre eles ali andavam três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduasglossário reticências.

Ali por então não houve mais fala nem entendimento com eles, por ser a barbariaglossário deles tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenamos-lhes [para] que se fossem. Assim o fizeram e passaram-se além do rio.

Carta de Pero Vaz de Caminha a el rei Dom Manuel [1o de maio de 1500]. Educação Pública. Disponível em: https://oeds.link/J24lE2. Acesso em: 10fevereiro 2022.

É possível dizer que, nesse relato, Caminha faz um julgamento dos indígenas expressando alguma ideia de superioridade dos europeus? Por quê?

Pintura. Vista de uma praia. À esquerda, local com vegetação verde, árvores altas de folhas verdes com cipós e, olhando para o mar, dezenas de mulheres, crianças e homens indígenas de cabelos pretos, nus e, alguns deles, usando adornos feitos de penas coloridas. À direita, perto da praia com areia bege e algumas rochas, há um grupo menos de homens e mulheres indígenas, alguns sentados sobre as rochas, todos eles vistos de costas. Sobre a sobre areia, vindos do mar, dezenas de homens brancos aglomerados. Eles usam roupas coloridas e de mangas compridas botas de canos longo, seguram lanças de metal e, um deles, segura uma bandeira branca com uma cruz vermelha. Sobre as águas da praia, ancorados, dois botes de madeira. Mais ao fundo, sobre o mar, quatro embarcações  à vela. Elas são feitas de madeira marrom e tem velas brancas com cruzes vermelhas grandes no centro. No alto, o céu em azul e nuvens brancas.
GAMEIRO, Roque. O desembarque dos portugueses no Brasil ao ser descoberto por Pedro Álvares Cabral em 1500. cêrca de 1900. Litogravura, 28 por 42 centímetros. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Respostas e comentários

Orientações

Oriente os estudantes a identificar no texto do escrivão Pero Vaz de Caminha a maneira como ele se coloca em relação aos indígenas, como os vê e como os descreve, identificando alguns adjetivos usados por ele e a maneira como constrói seu relato. Peça a eles que reparem também na descrição feita das mulheres indígenas. É possível dizer que o relato do português apresenta uma visão de curiosidade, mas que coloca a cultura indígena como exótica e menos civilizada se comparada à cultura europeia? A carta escrita por Caminha demonstra a tendência eurocêntrica na maneira como descreve tanto os homens como as mulheres indígenas, que seriam vistos como os “outros”, isto é, os povos não europeus, no caso, nativos de uma terra que almejavam conquistar e submeter. É possível destacar ainda que o escrivão demonstra perceber os indígenas como ingênuos e menos racionais do que os europeus. É um olhar de quem analisa de fóra e se coloca com superioridade. Por isso, é notável a maneira como ele constrói o relato da carta endereçada ao rei de Portugal.

Observação

O conteúdo proposto nesta seção, no texto e na atividade permite aprofundar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove. Além disso, ao identificar e analisar a tendência eurocêntrica na descrição que Caminha faz dos indígenas, que seriam vistos como os “outros”, ou seja, povos “não europeus”, os estudantes podem ser incentivados a desenvolver aspectos importantes da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero um.

Resposta

Quando Caminha diz que não houve mais fala nem entendimento entre eles, caracterizando-os como bárbaros, ele mostra espanto e ar de superioridade em relação ao costume do outro, como se fossem estranhos e selvagens. A descrição feita por Caminha da aparência e dos costumes dos indígenas também demonstra certo estranhamento por terem hábitos tão diferentes dos europeus.

O valioso pau-brasil

Os exploradores portugueses não encontraram ouro nem pedras preciosas em suas primeiras incursões à América. Por essa razão, a Coroa procurou garantir seus domínios no Oriente, principalmente as lucrativas rótas de comércio nas Índias.

No entanto, nas primeiras expedições à América, os portugueses encontraram uma árvore nativa da qual se extraía uma tinta vermelha, muito cobiçada na Europa para tingir tecidos e pintar manuscritos. Era o pau-brasil, o primeiro produto a despertar o interesse comercial dos portugueses em terras brasileiras. A árvore crescia na Mata Atlântica, especialmente no litoral sul do atual estado da Bahia. Por sua madeira ser muito dura e resistente, também foi utilizada nas obras de construção civil e naval.

A Coroa portuguesa logo declarou o monopólio real sobre a exploração do produto. Assim, a madeira só poderia ser extraída e comercializada com autorização régia e o pagamento de tributos a Portugal.

Na floresta, a madeira era explorada no regime de escambo. Por meio dele, os indígenas cortavam a madeira e a carregavam até os navios em troca de diferentes produtos, como peças de tecido, contas coloridas, canivetes, facas e espelhos.

A intensa exploração de pau-brasil devastou a espécie. Hoje, ela está ameaçada de extinção, como outras espécies nativas da Mata Atlântica.

Fotografia. Vista de baixo para cima de uma árvore imensa com o tronco em tons de marrom, com raízes grossas sobre solo marrom, ramos finos na parte superior, folhas miúdas de cor verde no alto. As copas de outras árvores  aparecem em torno dessa árvore central.
Detalhe de árvore pau-brasil centenária, localizada em Itamaraju Bahia . Fotografia de 2021.

América portuguesa ou Brasil?

O termo “Brasil” tem origem no comércio do pau-brasil. No período colonial, porém, não existia, entre os colonos, um sentimento de nacionalidade, e o território era bem menor. Por isso, muitos historiadores questionam a expressão “Brasil colônia”. Para eles, a expressão “América portuguesa” é mais apropriada.

Respostas e comentários

Orientações

O texto aborda as fórmas de exploração praticadas pelos portugueses na fase inicial da conquista territorial e os impactos que essas ações tiveram no ambiente, com a devastação da Mata Atlântica. A intensa extração do pau-brasil e a derrubada de outras árvores para a prática da agricultura, como foi o caso da monocultura da cana, implantada posteriormente, provocaram a devastação de grandes áreas da Mata Atlântica. O pau-brasil, consequentemente, foi quase extinto, restando na atualidade apenas poucos exemplares dessa espécie. Por situar-se próximo de grandes aglomerados urbanos, a Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais ameaçados de extinção.

Comente com os estudantes que o Brasil inicialmente foi chamado de Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz. A expressão Terra do Brasil teve origem no comércio da árvore chamada de pau-brasil, assim nomeada por causa da sua coloração vermelha que parecia uma brasa. A expressão que prevaleceu para se referir ao território conquistado e depois ao país que se formou foi a que remetia à valiosa madeira que os portugueses exploraram intensamente no litoral da América portuguesa no início da colonização.

Observação

O conteúdo abordado nesta página permite aprofundar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Atividade complementar

Se possível, proponha aos estudantes uma atividade complementar integrando História e Geografia. Reunindo conceitos e conhecimentos desses dois componentes curriculares, eles devem organizar uma pesquisa em grupo sobre os efeitos da devastação da Mata Atlântica que se iniciou no período da colonização portuguesa e que afeta o ambiente e a vida das pessoas na atualidade. Além da pesquisa, os estudantes devem propor ações preventivas e medidas que visem contornar os efeitos da degradação da Mata Atlântica. O resultado do trabalho poderá ser exposto para a turma oralmente ou então por meio da produção de mural e cartazes. A atividade favorece o desenvolvimento da consciência ambiental e da cidadania, além de constituir uma boa oportunidade para o trabalho de pesquisa envolvendo análise de mídias sociais, revisão bibliográfica e observação, tomada de nota e construção de relatórios.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

Mapa Terra Brasilis

Observe novamente o "Mapa-múndi de Valdissimíler", reproduzido no Capítulo. Ele expressa o conhecimento que os europeus tinham de Geografia e das diferentes regiões do mundo na época em que foi produzido. Por essa razão, os registros cartográficos são fontes para o estudo da História.

O mapa que você analisará a seguir chama-se Terra Brasilis, elaborado por volta de 1519 pelos cartógrafos portugueses Lopo Homem, Pedro Reinel e Jorge Reinel. Mapas como este eram produzidos com base em descrições feitas nas viagens de exploração dos territórios.

Mapa histórico. Pergaminho na horizontal. Sobre um fundo amarelado, à esquerda, a representação de parte da costa do território que hoje corresponde ao Brasil, cheia de inscrições em preto, vermelho e verde. No interior do território, ilustrações representando árvores, aves azuis e vermelhas e verde, macacos e homens e mulheres indígenas usando cocares, adornos e trajes feitos de penas. Alguns deles, seguram arco e flecha. Outros estão nus e cortam e carregam pedaços de troncos de árvores, com muito esforço. Abaixo, uma mulher indígena está sentada no chão, voltada para o mar com as mãos sobre o solo. À direita, o Oceano Atlântico com sete embarcações à vela, com velas brancas içadas e infladas pelo vento com uma cruz vermelha no centro. Perto delas, bandeiras pequenas de bordas vermelhas, fundo azul detalhes dourados. O mapa é cortado horizontalmente por  paralelos e há rosas do ventos ornamentas nas cores dourado, azul e vermelho. No canto superior esquerdo um retângulo com texto originalmente em latim. No canto inferior esquerdo, sobre o território, uma tarja vermelha com o texto em amarelo: 'Terra Brasilis'.
HOMEM, Lopo; REINEL, Pedro; REINEL, Jorge. Terra Brasilis. cêrca de1519. Manuscrito iluminado sobre pergaminho, 42 por 59 centímetros. Biblioteca Nacional da França, Paris.
  1. Descreva como os indígenas foram representados pelos portugueses nesse mapa.
  2. O mapa Terra Brasilis foi encomendado pelo rei português dom Joãoterceiro para ser dado de presente ao rei Francisco primeiro, da França. Qual seria o interesse do rei português ao encomendar esse mapa?
  3. Que diferenças você percebe entre os mapas atuais e esse mapa do século dezesseis? Se necessário, consulte um atlas atual para responder.
  4. Volte ao "Mapa-múndi de Valdissimíler". Note que ele foi produzido no ano de 1507, ou seja, antes do Terra Brasilis. É possível observar alguma diferença e/ou semelhança na representação do território que atualmente corresponde ao Brasil nos dois mapas? Explique.
Respostas e comentários

Orientações

No canto superior esquerdo do mapa, aparece uma moldura com um texto, em latim, informando que a Terra Brasilis era habitada por uma “gente selvagem e crudelíssima”, de cor “um tanto escura”, que se alimenta de carne humana. Sugerimos apresentar essa informação aos estudantes como mais um exemplo de como os mapas, em especial na Idade Moderna, foram usados na disseminação de um pensamento e uma visão de mundo elaborados com base em uma concepção europeia, que excluía outros povos, considerados “diferentes” e até mesmo “inferiores”. Dessa fórma, os estudantes podem ser incentivados a trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero um.

Observação

O conteúdo proposto nesta seção, no texto e nas atividades permite ampliar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Respostas

1. Parte dos indígenas foi representada com trajes feitos de penas, usando cocar e segurando arco e flecha. A outra parte está nua, carregando troncos de pau-brasil com bastante esfôrço. Podemos ver, também, que o tom da pele deles é marrom-avermelhado. Além disso, na parte inferior do mapa, podemos observar um indígena fazendo uma reverência à terra ou ao mar.

2. Um presente como esse pode ser interpretado como manifestação da vaidade do rei dom João terceiro e do seu desejo de afirmar o poderio português diante da França. Em uma época de fortalecimento das monarquias nacionais, a rivalidade entre os Estados europeus era grande e a possessão de terras ultramarinas representava a maior grandeza que uma nação poderia exibir diante das concorrentes.

3. Diferentemente deste mapa do século dezesseis, atualmente os mapas não são desenhados nem tão ornamentados. São elaborados em computadores, têm detalhes e, geralmente, apresentam as informações separadas para melhor visualização (mapas hidrográfico, climático, de relêvo, entre outros). Além disso, hoje em dia é possível obter mapas por meio de imagens de satélites.

4. O território que atualmente corresponde ao Brasil está representado no mapa de 1507 aparentemente com menos curvas e, consequentemente, com uma faixa continental menos larga, o que nos faz pensar que, provavelmente, nessa época os europeus não tinham uma visão muito precisa da extensão continental. A costa do Brasil no mapa de 1519 foi representada de maneira detalhada e apresenta semelhanças com os mapas que conhecemos hoje. Apesar das diferenças, no entanto, ambos os mapas consideram que o território representado se trata de um novo continente, separado da Ásia e que foi denominado América.

Formas de resistência indígena

No início da colonização portuguesa na América, as relações entre portugueses e indígenas foram pacíficas. Por meio dessa convivência, os europeus aprenderam com os nativos, por exemplo, a se orientar nas matas e a fabricar canoas com um tronco de árvore. O milho, a mandioca e outros produtos da dieta indígena foram incorporados à alimentação portuguesa e à cultura que se formaria no Brasil.

Porém, as tensões tornaram-se inevitáveis quando os portugueses começaram a escravizar os nativos, obrigando-os a abandonar suas aldeias e a trabalhar nas lavouras. A guerra dos conquistadores contra os nativos que resistiam à dominação, conhecida como guerra justa, tornou-se uma prática frequente. Assim, no século dezessete, uma parcela da população nativa já tinha sido dizimada pelos portugueses.

A resistência indígena se intensificou no processo de colonização. As fugas, as guerras contra os colonizadores, os ataques contra vilas e a defesa das aldeias tornaram-se práticas comuns entre os indígenas. Também ocorriam muitos casos de suicídio quando os indígenas não conseguiam escapar da escravização. Outra fórma usual de sabotagem ao projeto de dominação foi a aliança que alguns povos faziam com outros invasores europeus, que ameaçavam a hegemonia portuguesa no território.

Ao longo dos séculos, os indígenas tiveram de enfrentar a violência da dominação, a invasão de suas terras, a imposição de outra cultura. Até os dias de hoje, a resistência acontece com a reafirmação da identidade dos diversos povos indígenas, na luta pela preservação e pelo reconhecimento de suas culturas.

Fotografia. Quatro homens indígenas vistos da cintura para cima, usando máscaras de proteção sobre o rosto tampando o nariz e a boca. O homem à esquerda usa uma máscara vermelha, um cocar de penas curtas vermelhas sobre a cabeça, tem o corpo pintado com grafismos em cor preta. Usa um par de óculos escuros no rosto, colar fino de miçangas vermelhas e azuis bracelete de contas cor de laranja, e carrega um bastão de madeira vermelha apoiado sobre o ombro direito. Ao lado dele, no centro, há dois homens com o corpo pintado com grafismos em preto e, no rosto, em vermelho. Sobre a cabeça, ambos usam cocares de penas amarelas, com detalhes em vermelho e preto. Eles também seguram bastões de madeira apoiados sobre o ombro direito. Um deles, à esquerda usa braceletes de miçangas amarelas no punhos e de contas azuis nos braços. Os dois usam colares feitos de miçangas brancas com fios longos sobre o torso até o umbigo. Um, à esquerda usa máscara preta, outro, à direita, usa máscara verde. À  esquerda, um homem usando um cocar de penas em tons de verde sobre a cabeça. Ele tem parte do torso pintada de preto e usa um colar de miçangas nas cores branca e preta. Tem os braços soltos para baixo. Ao fundo parede de um edifício em tons de amarelo e o céu em azul e sem nuvens.
Manifestação contra projeto de mineração indevida em Terras Indígenas. O protesto foi realizado durante a pandemia da covid-19, na Câmara dos Deputados, em Brasília, Distrito Federal. Fotografia de 2021.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR]: A aventura de Hans Staden

[LOCUTORA]: Olá! Você já parou para pensar no quanto devem ter sido complicados os primeiros anos de colonização? Como será que europeus e indígenas se comunicavam? Será que eles se entendiam? Até hoje, não é fácil compreender como se deu esse momento da história, sobretudo em seus primeiros 50 anos. Até porque são raros os documentos que tratam desse assunto.

Como eram poucos os europeus que sabiam escrever e que conheciam o território brasileiro, eles tinham dificuldades para explicar sua localização. E como os povos indígenas não possuíam escrita, até hoje é difícil compreender como viviam.  A maior parte do que conhecemos sobre aquele período foi escrito por pessoas que tinham ouvido relatos de acontecimentos passados.

Sabemos que aqui viviam milhares de povos, organizados cada qual com a sua cultura. De tempos em tempos, muitos desses povos se deslocavam para regiões mais férteis, o que acabava gerando conflitos entre eles. As guerras eram muito importantes para os indígenas e assim os povos que tinham os melhores guerreiros ocupavam as melhores terras.

Quando os europeus chegaram em 1500, os povos Tupi ocupavam as terras do litoral desde o Nordeste até o Sudeste, e, por isso, foram eles os primeiros a estabelecer contato com os colonizadores.

Sabemos também que muitas vezes o que motivou os europeus a se aventurarem por terras tão distantes era a promessa de possíveis riquezas. Por isso, apesar de os portugueses e espanhóis terem dividido só entre eles as terras e os mares por onde navegavam, outros europeus se infiltravam no território americano e lutavam para ter acesso às suas riquezas.

De qualquer forma, por algum motivo desconhecido, os Tupiniquim se aliaram aos portugueses, ajudando-os a sobreviver no território e oferecendo a eles produtos que desejavam, como pau-brasil, animais silvestres e pimentas, em troca de objetos que não existiam por aqui, como facas, espelhos, machados de ferro e anzóis. E a mesma relação se estabeleceu entre os Tupinambá e os franceses.

Bem, como eu estava dizendo antes, temos poucos documentos sobre essa fase da nossa história, mas eles existem. Dos raros registros escritos, um é especialmente interessante: o livro Duas viagens ao Brasil, escrito em 1557 pelo alemão Hans Staden, que esteve duas vezes no Brasil.

Apesar de ser alemão, ele veio para cá, pela primeira vez, em um navio português, e, na segunda, em um navio espanhol.

A primeira viagem, que teve início em 1547 e durou quase um ano, foi para Pernambuco. Já a segunda viagem durou de 1549 até 1555.

A embarcação em que Hans Staden se encontrava passou por inúmeros problemas e acabou naufragando próximo à região de Itanhaém, no litoral paulista. De lá, os sobreviventes, entre eles Hans Staden, foram a pé até São Vicente, mais ou menos 50 quilômetros de distância. Lá, o alemão se aliou aos portugueses e foi nomeado, em 1553, “Artilheiro de Bertioga”, uma região do litoral onde havia inúmeras guerras entre os europeus e os povos indígenas Tupiniquim e Tupinambá.

Um dia, no início de 1555, Hans Staden resolveu sair da fortificação para procurar seu indígena escravizado que ainda não havia voltado da caça. Durante a busca, ele foi capturado por alguns Tupinambá e levado, ferido e chorando.

Foram três dias até chegar à região denominada por ele de Uwattibi, hoje cidade de Ubatuba, no litoral paulista.

Em seus registros, Hans Staden conta que conviveu com os Tupinambá por nove meses, até ser resgatado por um navio francês. Segundo o alemão, os Tupinambá achavam que ele era português, mas ele, por mais que tentasse, não conseguia provar o contrário. Essa situação nos ajuda a imaginar como era difícil a comunicação entre europeus e os nativos nessa época.

Em seu livro, Hans Staden narra, ainda, conflitos entre os povos indígenas e entre indígenas e europeus. Ele conheceu um dos mais importantes líderes indígenas da história brasileira: o Tupinambá conhecido como Cunhambebe, que liderou guerras contra os portugueses.

A obra também descreve, com grande riqueza de detalhes, um pouco do cotidiano dos Tupinambá: sua alimentação, seus rituais, a organização da sociedade, as guerras, e muito mais.

Uma dica: leia Hans Staden. [TOM ENFÁTICO] Em um primeiro momento, pode parecer difícil, por causa das palavras antigas. Mas assim que você se acostumar com a linguagem, tenho certeza de que vai se interessar muito pelas aventuras desse alemão em terras brasileiras. Além disso, passará a conhecer melhor a história do nosso país. [TOM ENFÁTICO]

Até a próxima.

Respostas e comentários

Orientações

O conteúdo abordado nesta página favorece a discussão sobre a diversidade de povos e culturas indígenas que os portugueses encontraram na época da conquista. É um bom momento para fazer uma interseção com o presente e discutir o tema das Terras Indígenas e as fórmas de violência que são cometidas contra esses povos nos dias atuais. Um dos argumentos mais comuns para justificar a atual invasão das Terras Indígenas é o de que eles, sendo poucos, não precisariam de uma área tão ampla. Esse argumento não leva em conta o modo de vida das sociedades indígenas, que se deslocam de tempos em tempos de um local para outro, a fim de possibilitar a renovação da caça e do solo. Tal argumento desconsidera também o valor simbólico da terra para os indígenas e quanto a proximidade com sociedades não indígenas coloca em risco a sobrevivência de todo o grupo.

Comente com os estudantes que os portugueses chamaram de “guerra justa” toda guerra empreendida contra povos indígenas considerados inimigos. Essas guerras foram utilizadas para legitimar a escravidão, tornando legalmente cativos os indígenas capturados nos conflitos.

Observação

O conteúdo abordado nesta página permite, novamente, aprofundar o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o professor:

Clástre, Piérre. A sociedade contra o Estado. São Paulo: , 2017.

Uma obra fundamental para a compreensão da antropologia política e, por extensão, das sociedades indígenas da América do Sul.

Resistência Tupinambá

Os Tupinambá habitavam uma extensa área do litoral brasileiro no século dezesseis. Contra as tentativas de escravização empreendidas pelos portugueses, organizaram uma associação das populações situadas entre as atuais cidades de Cabo Frio (Rio de Janeiro) e São Vicente (São Paulo). Essa associação ficou conhecida como Confederação dos Tamoios. Os Tupinambá se aliaram aos franceses, que, entre 1555 e 1567, formaram uma colônia na Baía de Guanabara, desrespeitando as determinações do Tratado de Tordesilhas.

A Confederação dos Tamoios foi liderada pelo chefe tupinambá Cunhambebe. Devido ao grande poder ofensivo da Confederação, os padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta foram chamados para mediar um acôrdo de paz. Depois de muita negociação, os padres obtiveram a chamada Paz de Iperoig, mas os combates continuaram. No final, os Tupinambá foram massacrados, e os franceses foram expulsos do território.

Segundo os antropólogos e pesquisadores Beatriz Perrone-Moisés e Renato Istútman, as principais fontes para entendermos a complexidade da chamada Confederação dos Tamoios são portuguesas (na fórma de documentos, cartas e crônicas escritas, em maior parte, por Manuel da Nóbrega e José de Anchieta). Por isso, é necessário atenção ao examinar essas fontes, pois elas expressam um ponto de vista unilateral. Além disso, é importante notar que:

Dos próprios Tamoio não possuímos descrição alguma dos eventos que os tornaram famosos. Como os demais grupos tupi da costa, foram varridos do litoral para dar lugar à expansão da colonização portuguesa e, em meados do século dezessete, já não havia notícia de grupos tupi ao longo da costa de que antes eram senhores. Seu depoimento está dissolvido no discurso de missionários e viajantes. Como poderíamos compreender o que para eles significariam tais alianças e oposições políticas, tais confederações? reticências

Imortalizada pela historiografia, a confederação dos Tamoio não foi a única a ser assim designada. Lê-se, por exemplo, que com a derrota na Guanabara, franceses e indígenas teriam fugido para a região de Cabo Frio, onde teriam se organizado mais uma vez, para serem massacrados alguns anos depois. No Maranhão, meio século mais tarde, o grande evento Tamoio como que se repete: aldeias tupi, aliadas aos franceses, opõem-se a aldeias tupi, aliadas dos portugueses. Identificam-se, em cada um desses blocos, líderes que se ampliam, se magnificam, inclusive (e sobretudo) mediante dádivas e casamentos com oficiais franceses. reticências

PERRONE-MOISÉS, Beatriz; Istútman, Renato. Notícias de uma certa confederação Tamoio. Mana, Rio de Janeiro, volume 16, número 2, página 401-433, outubro2010.página403, 408.

Gravura em preto e bege. Visto da cintura para cima, um homem musculoso olha para à esquerda, e segura com a mão direita uma haste fina e comprida, com a ponta arredondada. Sobre a cabeça, usa um cocar de penas. Em volta do pescoço, um colar com miçangas e um grande pingente. Perto da cintura, nas costas, plumas.
Têvet, André. Cunhambebe. 1584. Gravura. Biblioteca dión cárter bráun, próvidens, Estados Unidos.
Ícone. Sugestão de livro.

MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio. São Paulo: Callis, 2019. Essa obra foi escrita pelo indígena Daniel Munduruku e apresenta um panorama dos povos indígenas no Brasil, com textos repletos de informações interessantes.

Respostas e comentários

Orientações

Quando os europeus chegaram ao continente americano, no final do século quinze, os tupis dividiam-se em Tupinambás, Caetés, Potiguares e outros, totalizando uma população de aproximadamente 1 milhão de pessoas. Em menos de cem anos, esses indígenas foram reduzidos de fórma drástica, em parte devido à ferocidade do conquistador.

É interessante destacar que a cultura tupi baseava-se na guerra, que servia, sobretudo, para vingar os parentes mortos pelos inimigos, e em vários mitos, como o da existência de uma “terra sem males”.

Observação

O conteúdo abordado nesta página apresenta mais uma oportunidade de trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Texto complementar

O texto a seguir analisa os relatos do viajante francês Jãn dê lêrri e o modo como ele constrói a imagem dos povos indígenas.

Se por um lado, não havia como considerar os índios civilizados, já que este conceito estava intimamente relacionado à vida urbana, poderiam – a partir de algumas observações – ser vistos como dotados de traços de humanidade. Algumas considerações feitas por lerrí sinalizam para a aceitação parcial da condição humana dos indígenas por alguns europeus e, particularmente, de parte deste grupo de franceses.

Fléqui, Eliane Cristina; MACHADO JÚNIOR, Cláudio de Sá. Emoções em jôgo: sensibilidades e experiências de convívio intercultural (Brasil, séculos 16 e 17). Minêmi– Revista de Humanidades, volume5, número10, página 6-7, 12 julho. 2010.

Ícone. Sugestão de site.

Sugestão para o estudante:

ÍNDIO Educa. Disponível em: https://oeds.link/67HttS. Acesso em: 25 fevereiro. 2022.

Nesse site, o estudante poderá conhecer um pouco mais sobre a vida cotidiana, a cultura e os rituais dos povos indígenas, além de compreender como vivem, como se organizam, o que pensam sobre seu passado, sua história e sobre diversos assuntos do presente.

Resistência Guaicuru

Os Guaicuru eram grupos indígenas que, para escapar da colonização espanhola, migraram da região norte do atual Paraguai para a região dos atuais estados de Mato Grosso do Sul e Goiás. Os Guaicuru eram grandes guerreiros e, por influência dos colonizadores, adotaram o uso de cavalos em seus ataques.

Em 1791, o Tratado de Paz e Amizade foi firmado entre esses povos e a Coroa portuguesa. Por esse acôrdo, os Guaicuru passavam a colaborar com os portugueses na sua luta contra os espanhóis em algumas regiões.

Pintura. Em um local aberto, com solo de cor bege, com vegetação verde e morros ao fundo. No centro, em primeiro plano, sete cavalos marrons com crinas de cor preta, galopando para à direita. Os cavalos estão usando cabrestos, não estão com selas. Têm os olhos arregalados e as bocas abertas. Pendurados na lateral de dois desses cavalos em galope, segurando-os pelas crinas, há dois homens indígenas, vistos de costas, com o corpo inclinado, uma das pernas sobre o dorso do cavalo a outra perna na barriga do animal, uma mão segurando a crina do cavalo, a outra solta para o solo segurando uma lança feita de madeira. Eles têm cabelos pretos e curtos, estão com o torso nu, vestidos com saiotes de cor branca, descalços. usam braceletes com listras pretas, brancas e vermelhas. Sobre as costas, têm faixas com listras nas mesmas cores. Em segundo plano, vista geral de morros e, à direita, outros homens montados à cavalo. Eles usam saiotes brancos e estão com os braços para o alto, segurando lanças em meio à fumaça. No alto, céu azul e nuvens brancas.
Debrê, Jan-Batiste. Carga de cavalaria Guaicuru. 1822. Aquarela sobre papel, 16,8 por 25,8 centímetros. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.

Os indígenas Guaicuru no imaginário brasileiro

Hoje, estudiosos consideram que os Guaicuru tiveram presença marcante no imaginário brasileiro ao longo do tempo.

A importância dos índios Guaicuru e de grupos sociais que estabeleciam relações de aliança/guerra com eles, especialmente os Guana, é ilustrada pelo lugar de destaque que os “índios cavaleiros” ocuparam no imaginário do Brasil Império, sobretudo no final do século dezoito e na primeira metade do século dezenove. Presença que se verifica no registro iconográfico realizado por pintores como Jãn Batiste Dêbret, que retratou os índios Guaicuru em alguns de seus quadros mais conhecidos.

reticências A produção contínua de informações iconográficas e textuais mostra exatamente o lugar que os índios Guaicuru ocupavam no imaginário da sociedade colonial e imperial brasileira da primeira metade do século dezenove: uma posição tão destacada que as imagens desses índios circulavam desde as côrtes brasileiras até as academias de Artes e Ciências europeias. Isto principalmente em razão da sua capacidade guerreira e da sua habilidade política.

FERREIRA, Andrey Cordeiro. Conquista colonial, resistência indígena e formação do Estado-Nacional: os índios Guaicuru e Guana no Mato Grosso dos séculosdezoito-dezenove. Revista de Antropologia, São Paulo, volume 52, número1, página 97-136, 2009. página 99.

Respostas e comentários

Orientações

Outro exemplo de resistên­cia indígena no período co­lonial foi a chamada Guerra dos Bárbaros, que ocorreu no século dezoito, na atual região do Nordeste.

Observação

O conteúdo abordado nesta página trabalha, novamente, com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Texto complementar

Leia o texto a seguir e conheça um pouco mais sobre as dinâmicas dos conflitos entre indígenas e portugueses:

A Guerra dos Bárbaros foi um conflito entre vários grupos indígenas do grupo linguístico macro-jê unidos naquela que ficou conhecida como Confederação Cariri e as fôrças colonizadoras portuguesas na América. Este conflito durou mais de meio século e foi responsável pelo completo extermínio de algumas tribos indígenas e pelo completo desmantelamento das demais envolvidas. Representou a conquista do sertão nordestino brasileiro para o domínio português e o seu uso efetivo na criação de gado, de fundamental importância para a subsistência da sociedade açucareira. Para a consolidação desta conquista foram manejados efetivos de caráter militar de todo o nordeste brasileiro, além da ajuda de contigentes expressivos de outras regiões. Foram formadas alianças com tribos tupis que permitiram multiplicar o efetivo da fôrça de ataque portuguesa.

DIAS, Leonardo Guimarães Vaz. A Guerra dos Bárbaros: manifestações das fôrças colonizadoras e da resistência nativa na América Portuguesa. Revista Eletrônica de História do Brasil, Juiz de fóra, volume 5, número 1, página5, setembro 2002.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Nesta obra, Alencastro considera que a colonização portuguesa criou um espaço econômico e social no Atlântico Sul, constituído por uma zona de produção escravista e uma zona de reprodução de escravos.

BOTELHO, Angela Vianna; REIS, Liana Maria. Dicionário histórico Brasil: Colônia e Império. sexta edição. São Paulo: Autêntica, 2007.

Dicionário histórico, que apresenta muitos termos e expressões relacionados à história do Brasil entre os séculos dezesseis e dezenove.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Qual povo indígena teve mais contato com os portugueses no período inicial da conquista do território?
  2. A pintura corporal é uma das principais características das sociedades indígenas. Ela pode ter inúmeros significados: pode ser apenas uma expressão da beleza, como também um símbolo ritualístico de preparação para a guerra ou para a caça, uma fórma de proteger o corpo contra maus espíritos, um ornamento para cerimônias, entre outras possibilidades. Além disso, os desenhos geométricos e os motivos estilizados de plantas ou de animais identificam o grupo ao qual o indivíduo pertence, bem como seu sexo, sua idade e seu status na comunidade. Atualmente, em nossa sociedade, é muito comum as pessoas pintarem seu rosto com maquiagem, tingirem seus cabelos ou fazerem tatuagens no corpo. Quais podem ser os significados desses costumes? Seriam os mesmos que os dos povos indígenas? Converse com seus colegas sobre o assunto.
  3. Descreva alguns aspectos da organização social dos Tupi na época da conquista portuguesa do território que atualmente fórma o Brasil.
  4. Qual foi o primeiro produto explorado pelos portugueses em sua colônia da América?
  5. O português Pero de Magalhães Gândavo (1540-1579) residiu por algum tempo na América portuguesa no século dezesseis e escreveu o livro Tratado da Terra do Brasil, publicado em 1576. O documento histórico revela algumas especificidades da visão europeia sobre os indígenas. Leia a seguir um trecho. Depois, reúna-se com um colega e respondam às questões.

Não há como digo entre eles nenhum Rei, nem Justiça, somente em cada aldeia tem um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por fôrça; morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar; não serve doutra cousa se não de ir com eles à guerra, e conselhá-los como se hão de haver na peleja, mas não castiga seus erros nem manda sobre eles cousa alguma contra sua vontade. Este principal tem três, quatro mulheres, a primeira tem em mais conta, e faz dela mais caso que das outras. Isto tem por estado e por honra. Não adoram cousa alguma nem têm para si que há na outra vida glória para os bons, e pena para os maus, tudo cuidam que se acaba nesta e que as almas fenecem com os corpos, e assim vivem bestialmente sem ter conta, nem pêso, nem medida.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Senado Federal, 2008. página 66.

  1. Como o autor caracteriza a organização social dos indígenas?
  2. Como Pero de Magalhães Gândavo descreve as crenças dos indígenas?
  3. Vocês acreditam que a descrição que Gândavo faz das crenças e dos costumes indígenas corresponde à visão que os indígenas têm da própria cultura? Será que realmente os indígenas “não adoram coisa alguma”, como diz o autor?
  4. Identifiquem no texto um adjetivo utilizado por Gândavo para caracterizar o modo de vida dos indígenas.
  5. Na opinião de vocês, a fórma como Gândavo descreve os indígenas demonstra que ele respeita a diversidade cultural, as crenças e os modos de vida desses povos, tão diferentes dos costumes europeus?
  1. Cite algumas estratégias de resistência indígena à dominação europeia utilizadas ao longo do tempo pelos povos nativos.
  2. O que foi a Confederação dos Tamoios?
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objeto de conhecimento

A conquista da América e as f de organização política dos indígenas e europeus: conflitos, dominação e conciliação.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero sete agá ih zero um (atividade 5)

ê éfe zero sete agá ih zero oito (atividades 2, 3)

ê éfe zero sete agá ih zero nove (atividades 1, 4, 5, 6, 7)

Respostas

1. Os povos Tupi.

2. O uso de maquiagem e tintas nos cabelos está ligado à estética e a padrões de beleza estabelecidos pela sociedade. As tatuagens também podem ter essa função, mas podem ser ainda uma fórma de deixar registrado um momento marcante da vida de uma pessoa ou algo em que ela acredita. Esses diversos tipos de pintura têm funções diferentes das pinturas corporais indígenas, uma tradição que se manifesta de diferentes fórmas entre os povos indígenas.

3. Os Tupi não tinham um Estado ou um poder centralizado. Eles viviam em aldeias, que podiam ser organizadas em círculos ou em fileiras. As aldeias estabeleciam vínculos de solidariedade entre si, mas muitas vezes havia disputas.

4. A madeira do pau-brasil.

5. a) Segundo Gândavo, os indígenas não tinham rei nem poder centralizado e outras instituições de contrôle.

b) Conforme Gândavo, os indígenas não acreditavam em vida após a morte nem na glória para os bons e na pena para os maus.

c) Espera-se que o estudante reflita sobre o ponto de vista do europeu que permeia o relato. Desta fórma, as descrições sobre os costumes e as crenças indígenas não correspondem ao modo como os próprios nativos as veem. Esses povos acreditam em muitas coisas, o que pode ser visto nos mitos, por exemplo.

d) Gândavo utiliza a expressão “bestialmente” para se referir ao modo de vida dos indígenas.

e) A fórma como ele descreve os indígenas demonstra que o autor enxerga a cultura europeia como superior e os costumes e as crenças desses povos, tão diferentes dos seus, como sinais de sua ignorância e selvageria.

6. Os indígenas praticavam frequentemente como estratégias de resistência as fugas, as guerras contra os colonizadores, os ataques contra vilas, a defesa das aldeiasetcétera.

7. A Confederação dos Tamoios foi uma associação de indígenas Tupinambás que habitavam uma extensa área do litoral brasileiro no séculodezesseis. Contra as tentativas de escravização empreendidas pelos portugueses, os indígenas se organizaram e se aliaram aos franceses.

Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Multiculturalismo.

Qual é a relação entre o conceito de modernidade e o eurocentrismo?

Você já parou para pensar sobre a origem do conceito de modernidade? Quais são os marcos estabelecidos para sua periodização, as mudanças históricas e o ponto de vista que norteiam sua explicação?

A historiografia tradicionalmente localiza a Idade Moderna no ano de 1453, quando ocorreu a queda de Constantinopla. De acôrdo com essa visão, o acontecimento marcou o fim da hegemonia do Oriente e do Mediterrâneo no comércio intercontinental, enquanto a exploração do Atlântico impulsionou o desenvolvimento de uma nova era, relacionada ao mercantilismo, ao absolutismo, à ampliação das relações comerciais entre diversas regiões do mundo e ao desenvolvimento das bases para a consolidação do capitalismo.

Alguns estudiosos fazem ainda uma análise crítica da ideia de modernidade, identificando-a à visão eurocêntrica, que se baseia no pressuposto de que a Europa seria o centro das transformações que direcionariam a história da humanidade.

Hoje, heranças desses processos iniciados no século quinze ainda podem ser vistas, influenciando até mesmo decisões políticas e territoriais no continente americano. Reportagens que tratam de conflitos vivenciados pelos povos indígenas atualmente, nos diversos países da América do Sul, podem servir como exemplo dessas heranças.

O Chile atual é um caso a ser destacado: no país, conflitos entre o govêrno e os povos indígenas ocorrem há décadas, sempre com perdas significativas para a cidadania e a soberania dos indígenas. Os Mapúche, etnia que se manteve autônoma e livre até o século dezenove, constituem o principal povo indígena a fazer reivindicações.

Fotografia. Em uma rua cinza, mulheres carregam uma grande bandeira com três listras horizontais: uma azul, uma verde (no centro) e uma vermelho, com bordas pretas e um símbolo circular amarelo no centro, com  linhas em vermelho em formato uma cruz e  de círculos. À esquerda, em primeiro plano uma mulher com os cabelos pretos cobertos por um lenço preto, Vestida com blusa de mangas compridas azul e um vestido de alças preto, segura uma das pontas dessa grande bandeira com a mão esquerda e, com a direita, segura uma haste laranja com a mesma bandeira em tamanho menor, vista parcialmente. Ao fundo, há outras mulheres em manifestação e outras bandeiras.
Protesto de indígenas Mapúche no aniversário de morte de jovem indígena assassinado por policiais chilenos, em Santiago, no Chile. Fotografia de 2020.
Respostas e comentários

Seção Para refletir

Em consonância com as Competênciais Gerais da Educação Básica número 7 e número 10, esta seção propicia ao estudante Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta e também Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

O trabalho aqui proposto também permite que o estudante desenvolva as Competências Específicas de História número1, número 4 enúmero5, de modo que possa Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (1), Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (4) e Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes populações (5).

Além disso, é importante destacar que o conteúdo desta seção possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.

Habilidades

ê éfe zero sete agá ih zero um: Explicar o significado de “modernidade” e suas lógicas de inclusão e exclusão, com base em uma concepção europeia.

ê éfe zero sete agá ih zero nove: Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações ameríndias e identificar as formas de resistência.

A demarcação de territórios, o direito à soberania e o ensino da cultura Mapúche nas escolas chilenas estão entre os principais pedidos dos povos Mapúche no Chile.

Em 2022, os conflitos entre os Mapúche e o govêrno chileno pareceram caminhar para uma nova direção, com a expectativa de definição de um estado plurinacional no Chile. Saiba mais sobre esse assunto na reportagem a seguir e aproveite para refletir: por que as culturas desses povos foram consideradas pelos europeus “primitivas” e contrárias à ideia de modernidade?

Chile: aprovada a proposta de um estado plurinacional

reticências

Na reunião da Comissão de Sistemas Políticos da Convenção Constitucional do Chile, os deputados constituintes aprovaram reticências propostas que podem mudar a cara do país, seguindo a linha do que já definiram a Bolívia e o Equador. A primeira delas é definir o Estado chileno como um Estado Plurinacional e Intercultural, incorporando assim a ideia de que os povos originários têm direito à livre determinação. Representantes Mapúche, Aymara e Rapa Nui celebraram a proposta, que é uma luta de décadas.

TAVARES, Elaine. Chile: aprovada a proposta de um estado plurinacional. Iêla, ú éfe ésse cê, Florianópolis, 28 janeiro2022. Disponível em: https://oeds.link/UjbHZs. Acesso em: 10 fevereiro 2022.

Fotografia. Em primeiro plano,  vista do busto para cima,  uma mulher de cabelos pretos coberto por um gorro de cor preta com pequenos pontos brilhantes metálicos. Veste uma blusa de mangas compridas na cor azul, faixa branca sobre o pescoço, máscara cirúrgica de cor azul tampando o nariz e boca. Usa brincos e colares e anéis metálicos. Ela está com o braço erguido e com o punho fechado. Em segundo plano, vista parcial de outras pessoas, próximas umas das outras.
Elisa Loncon, professora, linguista e ativista Mapúche, foi eleita em 2021 para presidir o órgão responsável por redigir a nova constituição do Chile, em convenção realizada durante a pandemia de covid-19, na cidade de Santigo.
  1. Quais são as principais reivindicações dos povos Mapúche, na atualidade?
  2. A reportagem fala sobre a criação de um Estado Plurinacional e Intercultural no Chile. Quais seriam os pontos positivos de um Estado como esse para os povos indígenas? Se necessário, faça uma pesquisa na internet para responder, sob supervisão do professor.
  3. Agora, reúna-se em grupo. Vocês vão atuar como jornalistas, elaborando uma matéria que relacione o processo de colonização com os conflitos vivenciados pelos povos indígenas da América atualmente. A matéria deve abordar, de maneira crítica, o conceito de modernidade, o longo processo de dominação europeia e a dificuldade de construir uma sociedade que respeite a diversidade e a autonomia dos povos indígenas nos dias de hoje. Para escrever a matéria, retomem os conhecimentos construídos até aqui, neste volume, e façam pesquisas na internet, em órgãos oficiais e em sáites de reportagem. Se possível, compartilhem a matéria escrita por vocês com a comunidade escolar e com os familiares, por meio de blóguis ou no sáite da escola, por exemplo.
Respostas e comentários

Questões para autoavaliação

Nesta Unidade, as questões sugeridas para autoavaliação – e que podem ser utilizadas, a seu critério, para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estudantes – são as seguintes:

1. Que fatores contribuíram para o pioneirismo português e espanhol nas Grandes Navegações?

2. Quais eram os principais interesses dos europeus na expansão marítima?

3. Qual foi o impacto da conquista territorial do continente americano para os povos nativos?

4. Quais foram as estratégias utilizadas pelos europeus no processo de conquista territorial e de dominação dos povos indígenas da América?

5. Como os povos nativos da América resistiram ao longo do tempo à dominação europeia?

Respostas

1. A demarcação de territórios, o direito à soberania e o ensino da cultura Mapúche nas escolas.

2. A criação de um Estado Plurinacional e Intercultural no Chile atende a alguns dos anseios do povo Mapúche, que vivia de fórma autônoma e livre até o século dezenove e que reivindica sua soberania. Dessa fórma, o Estado incorpora oficialmente a noção de que muitos povos constituem o ambiente cultural, social e territorial do Chile, cada um tendo suas próprias especificidades e necessidades, tendo, portanto, direito à autodeterminação e autonomia em suas decisões.

3. Os estudantes devem elaborar um texto reflexivo reunindo o conhecimento construído ao longo dos estudos desta Unidade, expondo sua visão crítica sobre o conceito de modernidade, o longo processo de colonização e a dificuldade de construir uma sociedade que respeite a diversidade e a autonomia dos povos indígenas na atualidade. Espera-se que eles estabeleçam relações entre a dominação europeia e a invisibilidade imposta às culturas indígenas. Estimule os estudantes a compartilharem os resultados da pesquisa e a produção de suas reportagens com o restante da turma, com a comunidade escolar e com os familiares, por meio de blóguis ou sáite da escola. Caso não existam, é uma boa oportunidade de criar um veículo digital em ambiente escolar, envolvendo os estudantes na apropriação de ferramentas digitais de maneira educativa. A pesquisa proposta nesta atividade trabalha com análise de mídias sociais, revisão bibliográfica e observação, tomada de nota e construção de relatórios.

Glossário

Caribe
Região formada por inúmeras ilhas na América Central. Também é chamada de Antilhas.
Voltar para o texto
Espádua
Ombro.
Voltar para o texto
Barbaria
Relativo a bárbaro, selvagem, estranho.
Voltar para o texto