UNIDADE sete A EXPANSÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA

Pintura. Vista de um local aberto com solo arenoso em bege, de frente para um rio de água de cor verde, à esquerda, com canoas de madeira atracadas, com pequenas bandeiras verdes com losangos amarelos. Sobre a proa de uma das embarcações, um homem em pé, de bermuda em cinza e chapéu de abas largas. Ao fundo, as margens do rio, vegetação e montanhas. À esquerda, sobre o solo arenoso, vários homens sentados no chão e outros em pé, perto de caixas e pacotes de cor bege. No centro, há cinco homens em pé, próximos uns dos outros, formando um círculo e conversando. Um deles veste um casaco de cor amarela, calça marrom e é visto de costas; outro, à frente dele, é loiro, com casaco e calça em azul. À frente, uma mulher e um homem diante de uma pequena fogueira. Pendurados em uma armação retangular feita com galhos, há dois caldeirões redondos de cor preta pendurados por uma alça na haste de madeira na horizontal. De frente para o fogo, uma mulher curvada de vestido longo de cor laranja, avental branco e pequeno chapéu amarelo sobre a cabeça. Ela mexe o alimento dentro de uma das panelas. À frente dela, um homem sentado no chão à frente do fogo com regata branca e calça azul limpa um peixe. Mais à esquerda, há outros homens sentados, perto uns dos outros, e, em segundo plano, perto de uma tenda de cor branca, um grupo  de homens em pé, de roupa clara e chapéu bege sobre a cabeça. No alto, o céu em azul claro e nuvens brancas.
SILVA, Oscar Pereira da. Encontro de monções no sertão. 1920. Óleo sobre tela, 95 por 172 centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Pintura. Em primeiro plano, em um rio extenso em tons de azul claro, sobre as águas, uma canoa estreita e comprida, feita de madeira, com uma pequena cabine de teto de palha da popa e carregada de pacotes de cor bege. Na popa, à esquerda, atrás da cabine, dois homens de blusa branca e bermuda em bege, com chapéu da mesma cor. Perto deles, uma bandeira hasteada de cor verde com um losango no meio de cor amarela. Na proa da embarcação, cinco homens negros, em pé, usando blusa de mangas compridas e calça bege. Três deles estão segurando remos de madeira na vertical, e dois deles têm os remos com a ponta imersa no rio. Em segundo plano, a margem do rio com outras canoas estreitas e longas atracadas. No centro, uma casa de paredes bege e telhado triangular marrom.  Ao fundo, morro de cor marrom com vegetação e árvores com folhas verdes. Mais ao fundo, na parte superior do morro, construções baixas, umas ao lado das outras, entre elas uma casa baixa de paredes amarelas a à direita, uma construção mais alta, com duas torres na vertical e um telhado marrom. Na parte superior, o céu azul claro e nuvens brancas.
SILVA, Oscar Pereira da. Partida de Pôrto Feliz. Século vinte. Óleo sobre tela, 110 por 140,5 centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Respostas e comentários

Apresentação

Esta Unidade, “A expansão da América portuguesa”, relaciona-se às seguintes Unidades Temáticas da Bê êne cê cê do 7º ano: A organização do poder e as dinâmicas do mundo colonial americano e Lógicas comerciais e mercantis da modernidade.

Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1,norte. 8 enúmero 9, esta Unidade, em diversos momentos, procura estimular os estudantes a utilizar os conhecimentos construídos sobre o mundo físico, social e cultural para explicar a realidade, bem como compreender a diversidade humana e exercitar a empatia e o diálogo, promovendo o respeito ao outro.

Os conteúdos trabalhados nesta Unidade (no texto principal, nas seções e nas atividades propostas) também buscam levar os estudantes a desenvolver as Competências Específicas do Componente Curricular História número 1, número 3, número4 enúmero5: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo reticências (1), Elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em relação a documentos, interpretações e contextos históricos específicos reticências (3), Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico reticências (4) e Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes populações (5).

Pintura. Dentro de um local fechado, escuro, em tons de marrom, à esquerda, muitas pessoas indígenas, homens, mulheres e crianças em pé, de cabelos pretos. Eles estão pintados de maneira disforme com os contornos imprecisos, destacando-se tons de amarelo na pintura. Um deles está de joelhos, olhando para baixo. Ao fundo, um homem indígena sentado no chão. À direita, um homem branco de roupa religiosa semelhante à dos monges, faz a sua pregação. Ele é calvo, com pouco cabelo nas têmporas e logo acima da nuca, usa uma túnica comprida até os pés de cor marrom, está com o corpo virado para a esquerda, na direção do grupo de pessoas indígenas e está com a mão direita estendida para frente. Com a outra mão se apoia em um livro aberto. O livro está sobre um tipo de pedestal.  À direita, dois homens brancos com roupas de religiosos sentados, perto de um móvel de madeira.  No alto, à direita, sobre dois candelabros, há duas velas brancas acesas.
BERNARDELLI, Henrique. Missionários ensinando os índios. Séculosdezenove-vinte. Óleo sobre tela, 60 por47centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Ao longo dos séculos dezesseis e dezessete, houve uma significativa expansão do território colonial da América portuguesa. Os domínios dos colonizadores, que até então estavam concentrados no litoral, começaram a se deslocar para o interior. A configuração do atual território brasileiro é resultado do processo de expansão iniciado nesse período. Contribuíram para isso a diversificação das atividades econômicas e a realização de expedições conhecidas como bandeiras.

Porém, a expansão territorial impactou na vida dos povos indígenas, que desde o início da colonização foram obrigados a se refugiar em locais mais distantes do litoral. A violência contra eles e o avanço sobre suas terras prosseguiram ao longo dos séculos seguintes.

Você imagina como era, entre os séculos dezesseis e dezessete, adentrar os caminhos do interior do imenso território que hoje fórma o Brasil? Como os colonos fizeram para transpor as matas fechadas e os rios ainda pouco conhecidos sem o auxílio dos povos nativos?

Você estudará nesta Unidade:

O impacto das ações missionárias jesuíticas para os indígenas

A expansão da ocupação e dos limites territoriais da América portuguesa

O papel dos bandeirantes na integração territorial da colônia

A violência dos bandeirantes contra os indígenas

A crise econômica da metrópole portuguesa

As revóltas coloniais

Respostas e comentários

Nesta Unidade

Nesta Unidade, os estudantes terão a oportunidade de conhecer algumas das atividades que promoveram a ampliação dos domínios da Coroa portuguesa na América e a incorporação de quase todo o território que corresponde ao Brasil atual. Para desenvolver o estudo é interessante retomar alguns processos históricos abordados anteriormente e que são fundamentais para compreender a expansão territorial na América portuguesa: a União Ibérica, a Restauração, a expulsão dos holandeses, a organização das missões, assim como a relação entre o agravamento da crise portuguesa e o reforço do contrôle colonial, cujo resultado mais evidente foi a eclosão de revóltas como a de Beckman e a de Filipe dos Santos. Com base no tema da expansão colonial, são apresentados alguns tópicos que possibilitam perceber de maneira muito clara as mútuas influências entre a colônia e a metrópole, ou entre a América e a Europa, e o dinamismo de outras atividades econômicas paralelas à agricultura de exportação, como o bandeirismo paulista, a ação dos jesuítas e a pecuária.

Os conteúdos desenvolvidos nesta Unidade estabelecem alguns fundamentos essenciais para compreender a importância que a atividade mineradora (estudada na Unidade seguinte) terá na colônia, acompanhada de uma política metropolitana de rígido contrôle sobre a população. O arrocho fiscal imposto pela Coroa portuguesa explica as sucessivas revóltas coloniais, que, no final do século dezoito, colocarão em xeque o domínio metropolitano. Especial atenção deve ser dada à difícil situação política e econômica enfrentada por Portugal após a Restauração.

Objetos de conhecimento trabalhados na Unidade

A conquista da América e as fórmas de organização política dos indígenas e europeus: conflitos, dominação e conciliação.

Resistências indígenas, invasões e expansão na América portuguesa.

As lógicas mercantis e o domínio europeu sobre os mares e o contraponto Oriental.

CAPÍTULO 16 OS JESUÍTAS NA AMÉRICA PORTUGUESA

A ordem religiosa dos jesuítas foi um importante instrumento para a expansão do Império Português e da Igreja católica na América.

A Companhia de Jesus, criada em 1534 por um grupo de estudantes liderado por Inácio de loióla, obteve reconhecimento oficial do papa em 1540. Desde então, os jesuítas se engajaram no projeto colonizador, desenvolvendo ações missionárias com as populações nativas da Ásia, da África e da América.

Liderados pelo padre Manuel da Nóbrega, os primeiros jesuítas chegaram à América portuguesa em 1549 com a comitiva de Tomé de Sousa, governador-geral do Brasil. Eles tinham a missão de catequizar as populações indígenas e os filhos dos colonizadores. Estabeleceram-se, inicialmente, no litoral da capitania da Bahia, na vila de São Vicente e em áreas do atual estado do Rio de Janeiro, onde fundaram colégios que eram mantidos com os recursos da Coroa e tinham como principais objetivos a educação dos colonos e a formação de novos padres.

Pintura. Vista geral de um local aberto com chão de terra, um caminho de terra batida ladeado por grama verde e pedras de com cinza em algumas partes do caminho. No centro, à direita, uma igreja de dois andares, com paredes brancas, duas portas em arco na cor verde, no primeiro andar, janelas em forma de arco de cor verde. Sobre o centro da construção, na linha do telhado, uma pequena cruz. À direita, uma torre de três andares com um sino de cor dourada. Acima, uma pequena cúpula redonda encimada por uma cruz pequena. No centro, à esquerda, uma construção grande com dois pavimentos, de paredes cor de laranja e telhado de cor marrom, sobre o qual há uma pequena cruz marrom. No local, há três portas e na parte superior e janelas. À direita, vista parcial de outras construções baixas. Em segundo plano, outras construções de telhado marrom e um local com água, onde há uma embarcação atracada, (atrás da construção cor de laranja), cercado por morros altos. Na parte superior, o céu azul claro e nuvens brancas.
CALIXTO, Benedito. Matriz de Santos. Século dezoito. Óleo sobre tela, 45 por 70 centímetros. Pinacoteca Benedito Calixto, Santos. À esquerda, está representado o Colégio Jesuíta de Santos, construído no final do século dezesseis.
Respostas e comentários

Orientações

O Capítulo aborda a presença dos jesuítas na colônia, as características e os objetivos do trabalho missionário, o papel da educação jesuíta na conversão dos indígenas e o impacto que as atividades e a vida cotidiana nos aldeamentos tiveram para esses povos. A instalação de aldeamentos jesuítas colaborou ainda para a ocupação territorial da América portuguesa. Engajados no processo colonizador português, os jesuítas vieram ao Brasil para se dedicar à conversão da população indígena à fé católica, por meio da catequese, também exercendo um importante papel na educação dos colonos. Nesse estudo, é importante discutir o papel da evangelização e da vida nos aldeamentos no processo de dominação e imposição da cultura europeia aos indígenas.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero sete agá ih zero nove:Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações ameríndias e identificar as fórmas de resistência.

ê éfe zero sete agá ih um zero: Analisar, com base em documentos históricos, diferentes interpretações sobre as dinâmicas das sociedades americanas no período colonial.

ê éfe zero sete agá ih um um: Analisar a formação histórico-geográfica do território da América portuguesa por meio de mapas históricos.

ê éfe zero sete agá ih um dois: Identificar a distribuição territorial da população brasileira em diferentes épocas, considerando a diversidade étnico-racial e étnico-cultural (indígena, africana, europeia e asiática).

Observação

O trabalho com o conteúdo desta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

A catequização dos indígenas

Os jesuítas desenvolveram um intenso esfôrço de catequização dos indígenas da colônia. Por meio, principalmente, do teatro e da música, eles ensinavam os sacramentos católicos para esses povos.

Nesse trabalho evangelizador, destacou-se o padre José de Anchieta, missionário que chegou à América portuguesa em 1553, aos 19 anos de idade. Na década de 1570, ele compôs várias peças religiosas que eram representadas nas aldeias por meio de músicas e cantos. As encenações eram feitas sobretudo por crianças indígenas, que, segundo Anchieta, seriam as responsáveis pelo êxito missionário.

Pintura. Retrato de orientação vertical. Um homem visto dos joelhos para cima. Ele é branco, tem cabelos grisalhos penteados para trás, sobrancelhas grisalhas, nariz e lábios finos, com algumas rugas perto dos lábios e sobrancelhas. Ele está com o corpo virado para a esquerda, com o olhar para baixo. Ele veste uma blusa branca de gola alta por baixo de uma túnica longa, de mangas compridas de cor azul. No pescoço, leva uma cruz grande de cor dourada. Tem um relógio dourado preso à uma corrente em sua cintura. Ele segura na mão direita um livro de capa em azul. Na mão esquerda, segura uma haste fina na vertical. Em segundo plano, local uma praia:  vegetação verde clara rasteira,  areia clara e o mar azul com ondas suaves. À esquerda, morros e, no céu azul claro, pássaros e sobrevoando a praia. No alto o céu azul e nuvens grandes nas  cores branco e cinza.
CALIXTO, Benedito. Retrato do padre José de Anchieta. 1902. Óleo sobre tela, 140,5 por 101 centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Os aldeamentos jesuítas

Para converter os povos nativos ao catolicismo, os jesuítas iniciaram, em várias partes da colônia, a organização de aldeamentos autossuficientes chamados missões ou reduções. Nesses aldeamentos, os jesuítas procuravam convencer os indígenas a adotar o modo de vida cristão e a adoração a um só deus, deixando de lado a nudez, o politeísmo, as práticas poligâmicas, enfim, seus costumes ancestrais.

Os jesuítas expandiram as missões para o sertão, atingindo, no norte da colônia, os atuais estados do Ceará, do Pará e do Maranhão. Na região da capitania de São Vicente (depois nomeada São Paulo), dos rios Paraguai, Paraná e Uruguai (região conhecida como Bacia do Prata) e ao longo do rio Amazonas foram estabelecidos muitos aldeamentos, alguns dos quais chegavam a reunir milhares de indígenas.

Nas missões, os indígenas eram submetidos a uma rígida disciplina de oração e trabalho. Eles praticavam o artesanato, a agricultura, a caça, a pecuária e a coleta e, nos aldeamentos situados na região amazônica, também exploravam as “drogas do sertão”. Como aprenderam a técnica da metalurgia, em alguns aldeamentos começaram a produzir artefatos de metal, como anzóis e facas. Além disso, nas oficinas das missões, fabricavam instrumentos musicais, adornos e esculturas para as residências e as igrejas.

Respostas e comentários

Orientações

Retome com os estudantes que o surgimento da Companhia de Jesus está inserido no contexto da Contrarreforma. Seu objetivo era conter o avanço dos protestantes e estender a influência da Igreja católica no mundo. Seu fundador foi o espanhol Inácio de loióla, apoiado por um grupo de estudantes, a maior parte de origem espanhola. Após ferir-se numa batalha, Loyola instruiu-se em matéria religiosa e converteu-se totalmente à vida cristã e espiritual.

A Companhia de Jesus passou a atuar em Portugal a partir de 1540, ano em que foi reconhecida oficialmente como ordem religiosa pelo papa. Imediatamente, os jesuítas se engajaram no processo colonizador português, como missionários evangelizadores das populações nativas dos territórios coloniais. No início, os membros da Companhia de Jesus eram pregadores itinerantes. Eles viajavam muito para difundir o Evangelho, assumindo a condição de peregrinos ou apóstolos. Mais tarde reconheceram as vantagens em desenvolver um trabalho missionário no mesmo local por um período mais longo. A educação foi um dos instrumentos fundamentais da pregação da Companhia de Jesus. Muitos colégios foram construídos na Europa e na América para cristianizar os povos e formá-los na doutrina católica. Ao longo deste Capítulo, em diversos momentos, é possível desenvolver, entre outras, a habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero, relacionada à análise de documentos históricos e de diferentes interpretações sobre as dinâmicas das sociedades americanas no período colonial.

Observação

O trabalho com o conteúdo desta página possibilita o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove e ê éfe zero sete agá ih um dois.

O impacto para os indígenas

A colonização portuguesa e a ação missionária dos jesuítas causaram profundos impactos aos povos indígenas. Os missionários impunham aos indígenas um modo de vida cristão e condenavam suas práticas e crenças religiosas. Além disso, a catequização abalava a estrutura social e cultural desses povos por meio de diversos mecanismos, como o da desvalorização do papel dos pajés e de seus costumes, assim como o da substituição de suas moradias e atividades cotidianas. Por isso, os indígenas buscaram resistir às imposições dos colonizadores e manter suas formas de organização e tradições.

Os aldeamentos jesuítas, por outro lado, serviam de proteção aos indígenas contra os exploradores interessados em escravizá-los. No entanto, a permanência dos nativos nas missões gerava o risco do contato com doenças trazidas pelos europeus, até então desconhecidas na América. A proximidade com os europeus no dia a dia e o agrupamento de indígenas de várias aldeias dentro das missões tornavam o risco de contágio ainda maior. Na capitania da Bahia, entre 1562 e 1563, por exemplo, cêrca de 30 mil indígenas aldeados morreram vítimas da varíola.

Gravura. Um local aberto com vegetação rasteira de cor verde. À frente, cinco mulheres de cabelos longos pretos, nuas. Elas estão agachadas. Duas delas estão com as mãos sobre o rosto e outra com as duas mãos sobre a cabeça. Outras duas, à esquerda, estão uma de frente para a outra, cada uma com as mãos sobre os ombros da outra, com suas as testas encostadas. Ao fundo, à esquerda, um homem nu deitado em uma rede de cor cinza estampada com linhas azuis e vermelhas. Ele está com os olhos fechados e a boca aberta. À frente dele, outro homem nu, em pé, segura na mão direita um objeto arredondado vermelho encimado por penas de cor branca. À direita, dois homens nus carregam um outro homem de olhos fechados, desfalecido, enrolado sobre um pano de cor cinza com linhas azuis e vermelhas, como a rede de dormir à esquerda. Ao lado deles, à direita, uma mulher nua, agachada, com as mãos sobre o rosto. Em segundo plano, uma moradia arredondada feita de palha de cor bege, de três portas em forma de arco.
DE BRY, Theodore. Jeppipo Uású, o chefe da tribo, e muitos de seus parentes ficam muito doentes. 1593. Gravura. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos. A contaminação por doenças trazidas pelos colonizadores europeus, como gripe e varíola, causaram a morte de milhares de indígenas.

Resistências

Um exemplo de resistência indígena foi o movimento Santidade do Jaguaripe, que ocorreu na Bahia, no final do século dezesseis. O movimento foi liderado por um pajé tupinambá que, com o objetivo de revigorar as crenças do seu povo, criou uma cerimônia religiosa que reunia elementos da mitologia tupinambá e do cristianismo. Ele dizia ser o verdadeiro “papa” e a reencarnação de Tamandaré, um ancestral tupinambá. O movimento foi desmantelado pela Coroa portuguesa.

Respostas e comentários

Texto complementar

Conheça mais sobre a revolta de Santidade do Jaguaripe no texto a seguir:

A mais importante dessas “santidades” ocorreu em Jaguaripe, ao sul do Recôncavo Baiano, liderada por um índio que fugira do aldeamento inaciano de Tinharé, nos Ilhéus. Chamava-se Antônio, nome de batismo, mas dizia ser Tamandaré, ancestral mítico dos Tupinambá, reticências E os índios entremeavam bailes e embriaguez de tabaco – a erva santa, como a chamaram os portugueses – com guerras e fugas, desafiando a escravidão e a catequese.

A história da Santidade do Jaguaripe é ainda mais extraordinária, pois o mesmo caraíba, ex-catecúmeno que se dizia Tamandaré, afirmava também ser o verdadeiro papa, nomeava bispos e sacristãos, sagrava índios com o nome de santos, são Luiz, são Paulo, e tinha por principal esposa uma índia chamada “Santa Maria Mãe de Deus”. reticências Cerimônias de batismo com fumaça de tabaco ou com “os santos óleos”; bailes tribais e orações com rosários feitos de sementes de frutas; confissões em cadeiras de “um pau só” com coletivo a um só tempo cristão e indígena.

VAINFAS, Ronaldo; SOUZA, Juliana Beatriz de. Brasil de todos os santos. segunda edição. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2002.página 18-19.

Ícone. Sugestão de site.

Sugestão para o professor:

A VIOLÊNCIA DAS EPIDEMIAS ENTRE POVOS INDÍGENAS. [Locução de]: Fernanda Bombardi e Luma Prado. [sem local]: Temporal, 30 setembro. 2020. Podcast. Episódio número 9. Disponível em: https://oeds.link/ckAXkE. Acesso em: 14 abril. 2022.

O póde kést discute a violência das epidemias entre os povos indígenas ao longo do processo de colonização da América.

Observação

É interessante observar, como mostra o texto citado sobre a revolta de Santidade do Jaguaripe, que, apesar do esfôrço catequizador de impor a cultura europeia e cristã aos indígenas, havia uma dupla influência exercida entre colonizador e colonizados, que escapava do contrôle absoluto da formação de mentalidades. Assim, podemos afirmar que o catolicismo e a cultura que se constituíam na sociedade colonial receberam fortes influências indígenas. Contudo, logicamente, essas relações eram permeadas por condições desiguais, contradições, confrontos e resistências. O conteúdo desta página oferece condições para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Os conflitos entre jesuítas e colonos

Na América portuguesa, houve inúmeros conflitos entre jesuítas e colonos pelo contrôle das populações indígenas. Enquanto os colonos visavam explorar a mão de obra indígena por meio da escravização, os jesuítas buscavam convertê-los ao cristianismo e transformá-los em “bons cristãos”. As missões jesuítas instaladas em diversas regiões contribuíram para a expansão territorial da colônia.

A grande presença de indígenas no norte da colônia atraiu muitos missionários, principalmente franciscanos e jesuítas. A exploração das “drogas do sertão” na região representou grandes possibilidades comerciais. Além disso, a catequização dos indígenas era vista pela Coroa portuguesa como uma fórma de garantir a posse da região por meio da “pacificação” de grupos hostis, que se tornariam aliados na luta contra outros invasores, como ingleses, franceses e holandeses.

Em 1653, colonos no atual Pará, temendo que os jesuítas impedissem a escravização dos nativos, pressionaram para que eles não fossem aceitos na região. No atual Maranhão, o conflito entre jesuítas e colonos provocou a expulsão dos religiosos em 1654, durante a Revolta de Beckman (como estudaremos mais adiante, no Capítulo 18). Em 1686, os jesuítas puderam voltar, mas os conflitos perduraram até a expulsão definitiva, em 1759.

Na atual região Sudeste a disputa entre jesuítas e colonos também foi acirrada. Entre 1639 e 1640, as violentas reações dos colonos nas atuais cidades de Rio de Janeiro, Santos e São Paulo culminaram com a expulsão dos jesuítas, que só retornaram em 1653.

AMÉRICA PORTUGUESA (século dezoito): PRESENÇA DA IGREJA CATÓLICA

Mapa. América portuguesa. Século 18. Presença da Igreja católica. Mapa representando parte da América do Sul com foco no território que hoje corresponde ao Brasil. Uma parte do território está destacada na cor laranja. Há ícones e cidades destacados por todo o território. Na, legenda,  em laranja, 'Áreas povoadas. (Século 18)'.  O território povoado por europeus compreendia todo o litoral do território que hoje corresponde ao Brasil e grande parte da região que hoje corresponde ao Nordeste, exceto por uma área entre os territórios que hoje compreendem o Maranhão e o Pará. Engloba também parte do Centro-oeste, exceto por áreas que hoje compreendem o território do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul; engloba todo o território que hoje corresponde  à Região Sudeste; e a maior parte do litoral do território que hoje compreende a Região Sul do Brasil, exceto por territórios no sul do Paraná, e no interior de santa Catarina e Rio Grande do Sul. Incluía também a Colônia do Sacramento, na foz do Rio da Prata, na região que hoje corresponde ao Uruguai. Estendia-se, no norte, pelas margens do Rio Amazonas (até a região que hoje compreende a Colômbia) e, a sudeste desse rio, pelas margens dos rios Guaporé e Paraguai. No extremo norte, com um pequeno núcleo em torno da região que hoje compreende Roraima, próximo à cidade de Boa Vista. Uma linha de cor cinza, indica, 'Fronteiras atuais do país'. Um ícone com uma construção retangular, longa e telhado preto, indica, 'Principais fortificações'. Localizadas na região próxima à Boa Vista, no território que hoje corresponde ao estado de Roraima, com duas fortificações na região amazônica que hoje compreende a fronteira com a Colômbia, três fortificação ao longo do curso do Rio Amazonas, (uma delas em Manaus), Uma  em Belém, outra entre Belém e Cametá, uma em São Luís, uma em Fortaleza, uma na região de Natal, uma em Olinda, uma em Recife, uma em Salvador, uma ao norte de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma em São Vicente, uma ao sul de São Paulo, uma às margens do Rio Paraná, uma em Porto Alegre e uma ao sul da Lagoa Mirim, território que hoje corresponde ao Uruguai. Além disso, havia duas fortificações  na porção oriental do Rio Guaporé e uma às margens do Rio Paraguai, a sudoeste de Aquidauana. Uma cruz branca contornada de preto, indica, 'Presença católica estabelecida'. Localizada na Ilha de Marajó, em Oeiras, a oeste de Recife, a oeste de Salvador e a leste do rio São Francisco, em Diamantina, em Vila Boa (Goiás), em Vila Real (Cuiabá), no atual estado do Espírito Santo e no oeste do atual estado de São Paulo. Uma cruz branca sobre uma esfera violeta, indica, 'Colégio de jesuítas'. Localizados em praticamente toda a costa brasileira, da Ilha de Marajó, no Norte, até o norte de Desterro (hoje Florianópolis). Havia colégios em: Belém, São Luís, Recife, Salvador, São Sebastião do Rio de Janeiro, São Paulo, São Vicente e na região que hoje corresponde ao estado do Espírito Santo. Missões: Uma cruz roxa, indica, missões 'Jesuíticas'.  Localizadas ao longo do Rio Amazonas (em Manaus, Belém e Cametá e outras localidades), perto de São Luís, de Fortaleza, de Recife,  São Cristóvão, ao norte de Salvador e em algumas áreas do sertão em torno do Rio São Francisco. Uma cruz verde, indica, missões de 'Outras ordens'. Localizadas ao longo do Rio Amazonas, e nas regiões de Olinda, Recife e São Cristóvão, além de São Sebastião do Rio de Janeiro, litoral de São Paulo e ao sul de Desterro. No canto direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 425 quilômetros.

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 105.

Respostas e comentários

Orientações

Os projetos de colonos e jesuítas eram muito diferentes e não se complementavam. Os jesuítas tentaram proteger os indígenas da escravidão, enquanto os colonos desejavam explorar a sua mão de obra por meio da escravização. A legislação da Coroa portuguesa não era clara em relação à escravidão indígena e refletia essa tensão em tôrno dos conflitos entre as posições de jesuítas e colonos. A partir de 1570, foram criadas leis que proibiam a escravização de indígenas, porém, nessas leis, havia exceções. Em caso de “guerras justas”, que eram guerras defensivas dos colonos contra aldeias hostis ou punições pela prática de antropofagia, podia-se escravizar os nativos.

É importante orientar os estudantes na observação do mapa reproduzido nesta página. Estimule-os a refletir sobre a ocupação do território colonial e como as missões jesuíticas contribuíram para a expansão da dominação portuguesa. Incentive-os ainda a retomar alguns conteúdos já estudados na Unidade cinco deste volume, lembrando que as primeiras atividades desenvolvidas pelos colonizadores (extração de pau-brasil, cultivo de cana e produção de açúcar), a partir do século dezesseis, estavam concentradas na faixa litorânea, onde foi fundada a maioria das cidades e vilas da época (com exceção de São Paulo e Santo André, na capitania de São Vicente).

Observação

O conteúdo e o mapa desta página propiciam o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois, relacionada à compreensão da distribuição da população no território colonial.

A Colônia de Sacramento

Preocupada com a manutenção de sua colônia americana, a Coroa portuguesa buscou ampliar suas fronteiras, principalmente no sul, onde os conflitos com os espanhóis eram frequentes. Assim, em 1680, foi fundada a Colônia de Sacramento (atual cidade de Colônia, no Uruguai).

A fundação da Colônia de Sacramento representou uma ameaça ao monopólio espanhol na região platina. Por isso, a região foi intensamente disputada entre portugueses e espanhóis, levando as duas Coroas a assinarem vários tratados com o intuito de definir a posse desse território.

Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri. Por esse acôrdo, a Colônia de Sacramento passou ao domínio espanhol. Em contrapartida, Portugal assegurou a posse das terras na Amazônia e na região dos Sete Povos das Missões, no atual estado do Rio Grande do Sul. Contudo, os jesuítas espanhóis e os indígenas guarani que viviam em Sete Povos das Missões se recusaram a abandonar a área. Assim, entre 1754 e 1756, a região foi palco da chamada Guerra Guaranítica, que terminou com a derrota dos indígenas e de seus aliados jesuítas.

Com a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata em 1816, a região retornou ao domínio espanhol. Mas logo depois houve uma invasão comandada por um general português que procurou restabelecer o domínio territorial. Em 1821, a região é nomeada Província Cisplatina e anexada oficialmente ao território português. Entre 1825 e 1828, desencadeou-se a Guerra Cisplatina, pelo contrôle da região, que resultou em sua independência e na formação da República Oriental do Uruguai.

Mapa histórico. Com bordas de cor amarela, esse mapa do século 18 apresenta limites políticos com contornos coloridos em tons de amarelo, verde, rosa, laranja e azul-claro. Há nomes de lugares, cidades e linhas azuis representando rios volumosos. Na parte inferior direita, o título originalmente em francês: 'Mapa do Brasil Meridional'. Na divisão apresentada nesse mapa, no canto superior direito, contornado em amarelo, o sul da Bahia, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro; contornado em verde, Mato Grosso e São Paulo; ao sul, território em vermelho, em indicação precisa do nome; ao sul, em verde, o governo de Buenos Aires; a oeste, em amarelo, a província de Córdoba; ao norte da Província de Córdoba,  em vermelho, a província de Tucumán; ao norte de Tucumán, em amarelo, 'Governo de Santa Cruz de La Sierra'; Ao sul de 'Santa Cruz da La Sierra', em laranja, o Chaco, ou Yapizlaga.
Bône, Rigobér. Mapa do Brasil meridional: do sul da Bahia ao Rio da Prata. 1780. 20,8 por 31,6 centímetros. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. O mapa mostra uma parte da América do Sul onde se localizava a Colônia de Sacramento, próxima ao rio da Prata. Essa região foi palco de intensas disputas territoriais entre Portugal e Espanha.
Respostas e comentários

Orientações

A região onde foi fundada a Colônia de Sacramento era importante economicamente para a Coroa portuguesa devido ao contrabando de metais preciosos feito por portugueses e ingleses na foz do Rio da Prata.

Texto complementar

O texto a seguir traz informações relevantes sobre a Colônia de Sacramento:

reticências A Guerra da Sucessão Espanhola colocaria Portugal e Espanha em campos opostos na Europa, resultando na irrupção das hostilidades no Prata e no abandono da Colônia aos castelhanos em 1705. A guerra terminou com a assinatura dos tratados de utréchiti, nos quais Felipe quinto teve de fazer várias concessões a fim de obter o reconhecimento das nações europeias à ascensão dos burbôm ao trono espanhol. O tratado de paz com Portugal, assinado em 1715, assegurou aos portugueses a devolução do território da Colônia de Sacramento. A partir de então, a Coroa portuguesa iniciou uma verdadeira política de povoamento na região, enviando sessenta casais da província de Trás-os-Montes, em 1718, para dar início à agricultura e desenvolver a criação de gado, assim como garantir uma guarnição militar permanente. As constantes deserções dos soldados que serviam em Sacramento levaram o Conselho Ultramarino a defender o envio de casais, argumentando que “à experiência de tantos desertores será melhor que vão casais porque não é tão fácil largarem suas mulheres e filhos e irem viver em reino estranho”. reticências

POSSAMAI, Paulo César. De núcleo de povoamento à praça de guerra: a Colônia do Sacramento de 1735 a 1777. Topoi, Rio de Janeiro, volume 11, número21, página 23-24, julho a dezembro. 2010.

Observação

Este momento oferece uma boa oportunidade para trabalhar a leitura do mapa histórico reproduzido na página e desenvolver as habilidades ê éfe zero sete agá ih um um e ê éfe zero sete agá ih um dois com os estudantes.

A educação jesuítica no Brasil colônia

A Companhia de Jesus utilizou o ensino em sua tarefa missionária de “salvação das almas”. Em 1551, o jesuíta Inácio de Loyola, em uma carta endereçada a toda a Companhia, recomendou a criação de colégios nos locais em que os jesuítas estivessem estabelecidos. A partir de então, as escolas elementares e os colégios se difundiram pela colônia.

Os primeiros colégios jesuítas eram pequenas construções muito simples, frequentados principalmente por filhos de colonos e, em menor escala, por indígenas e órfãos. O ensino nos colégios jesuítas procurava seguir o padrão das escolas de Portugal. Os padres priorizavam a formação humanista, que abrangia conhecimentos nas áreas de gramática, retórica, música e poesia. Também eram oferecidos estudos de ciências, exercícios físicos e aulas de comportamento social. O principal objetivo era formar “bons cristãos”.

Os padres ensinavam durante dez horas por dia: cinco horas no período da manhã e cinco à tarde. As lições eram dadas em latim. Aos sábados, os estudantes participavam das chamadas sabatinas, uma avaliação do que foi aprendido ao longo da semana.

Já a educação indígena era realizada nas missões. Para possibilitar a catequese, os jesuítas realizavam encenações, aprendiam as línguas nativas e elaboravam dicionários e gramáticas dos idiomas indígenas para melhor se comunicar com os nativos. José de Anchieta, por exemplo, além de ter elaborado várias peças que eram encenadas nos aldeamentos, escreveu a primeira gramática da língua tupi.

Ilustração. Em um local aberto, com árvores ao fundo de troncos finos de cor marrom e folhas verdes. No centro, um homem branco em pé, de cabelos e barba grisalhos, com chapéu preto sem abas sobre a cabeça e vestido com uma túnica longa preta. A túnica tem mangas compridas e chega até os pés. Na cintura, ele usa um cinto marrom, com um cordão pendente e, no pescoço, usa um colar amarelo com um grande crucifixo no peito. Ele está com o braço direito e o dedo indicador para cima.
À esquerda e à direita dele há dois homens indígenas ajoelhados. O homem à esquerda tem cabelos pretos, lisos e curtos, usa um cocar de penas coloridas e um saiote de penas coloridas (azuis e vermelhas). Está com os braços cruzados, usa brincos de com argola dourada na orelha e um bracelete dourado. À direita, o outro homem indígena tem cabelos pretos e curtos, usa um bracelete amarelo e um saiote de penas de cor vermelha. Ambos estão descalços. 
No alto, entre as árvores, o céu azul claro.
Legrênd, Charles . Padre Antônio Vieira pregando aos índios. cêrca de1841. Ilustração, 30centímetros de altura. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, Portugal. Antônio Vieira foi um dos mais conhecidos padres jesuítas que atuaram na América portuguesa. Ele deixou uma vasta obra escrita, composta principalmente de cartas e sermões.
Respostas e comentários

Orientações

É interessante destacar com os estudantes que, na ilustração de Charles Legrênd, o padre Antônio Vieira está representado em conformidade com uma ideologia da colonização, em posição de superioridade com relação aos indígenas, que se ajoelham para receber seus ensinamentos religiosos.

Texto complementar

Durante os três primeiros séculos da presença europeia nas Américas, o intenso contato entre europeus e indígenas levou a mudanças nas línguas faladas tanto pelos nativos quanto pelos colonizadores, resultando nas chamadas “línguas gerais”.

No Brasil, a denominação “língua geral” passou a ser usada para designar “as línguas de origem indígena faladas por toda a população originada no cruzamento de europeus e índios tupi-guarani” Nesse contexto, podemos considerar a formação de duas línguas gerais na América portuguesa: uma, a LGP [Língua Geral Paulista], na região de São Paulo e outra, a LGA [Língua Geral Amazônica], na região dos atuais estados do Maranhão e Pará. Pode-se considerar, ainda, no atual território brasileiro, a formação de uma terceira língua geral, o Guarani.

LEITE, Fabiana Raquel. A Língua Geral Paulista e o “Vocabulário Elementar da Língua Geral Brasílica”. 2013. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013. página 6.

Observação

O trabalho com o conteúdo desta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

Obra fundamental na historiografia brasileira. O autor aborda a história da lenta ocupação territorial da América portuguesa promovida pelos bandeirantes.

KOSHIBA, Luiz. O índio e a conquista portuguesa. quinta edição São Paulo: Atual, 2019.

A obra tem como objetivo examinar os embates entre a cultura indígena e a europeia no processo de colonização da América portuguesa.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Quais eram os objetivos e as características da atuação da Companhia de Jesus na América portuguesa? Pode-se dizer que a Coroa apoiava a ação dos jesuítas? E os colonos?
  2. Como as missões jesuítas contribuíram para a expansão territorial da América portuguesa?
  3. Leia a seguir um trecho escrito pelo padre jesuíta José de Anchieta em que descreve o trabalho missionário de conversão e educação dos indígenas. Depois, responda às questões:

Temos uma grande escola de meninos índios, bem instruídos em leitura, escrita e em bons costumes, os quais abominam os usos dos seus progenitores. reticências

Ocupamo-nos aqui em doutrinar este povo, não tanto por este, mas pelo fruto que esperamos de outros, para os quais temos aqui abertas as portas.

ANCHIETA, José de. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933. página79.

  1. Como o padre jesuíta José de Anchieta descreve os indígenas da escola de meninos?
  2. Identifique alguns ensinamentos transmitidos pelos padres aos indígenas e qual seria a função da ação missionária jesuíta segundo José de Anchieta.
  1. Cite algumas fórmas de resistência indígena ao longo da colonização portuguesa.
  2. Compare os mapas a seguir e depois responda às questões. No mapa 1 é possível observar os territórios coloniais das Américas portuguesa e espanhola em 1765; no mapa 2, parte dos territórios que constituem os países da América do Sul na atualidade.
Mapa 1. Mapa histórico em sépia. Mapa representando parte da América do Sul. A porção oriental da América do Sul está representada em tons de marrom. A leste, há um território em bege (na mesma cor do fundo) onde está escrito: 'Brazil. A área da Bacia Amazônica, o litoral e a atual região Centro-Oeste do Brasil estão pintados de rosa claro e há diversas linhas finas com textos e nomes de lugares. Na parte inferior do mapa há um mapa menor, em detalhe, representando a região da Patagônia em tons de marrom-escuro. Os contornos territoriais são diferentes dos contornos atuais do Brasil. As regiões que hoje correspondem à Roraima, ao Amapá, às Guianas, ao Suriname, à Venezuela e a maior parte da Colômbia não estão representadas. A costa leste da região que hoje corresponde ao Brasil é bem definida, desde Macapá, no norte, até a Lagoa Mirim, no território que hoje compreende o Rio Grande do Sul, mas as fronteiras no oeste do território são bastante indefinidas, formando apenas uma curva em 's' que se estende desde o Rio Amazonas até o Paraguai. Boa parte da região que hoje compreende o Estado do Amazonas, ao sul do Rio Madeira, não está definida como nos mapas atuais. A maior parte da  região que hoje corresponde ao Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, interior da Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul também não está atribuída ao território denominado como 'Brazil'.
Tirión, Isác . Mapa do Vice-Reino do Peru, do Chile, Paraguai e Outros Países Espanhóis: bem como do Brasil e Outras Posses de Portugal na América do Sul. 1765. Mapa, 36 por 40centímetros. Fundação da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Mapa 2. Mapa sem título. Mapa representando parte da divisão política atual da América do Sul. Na legenda: um ponto pequeno ao redor outro círculo simboliza: Capital. O mapa apresenta os limites políticos de alguns países da América do Sul. As regiões que hoje correspondem à Roraima, ao Amapá, às Guianas, ao Suriname, à Venezuela e a maior parte da Colômbia não estão representadas. Em amarelo, o Brasil, com capital em Brasília; em roxo, parte da Colômbia; em rosa, o Equador, com capital em Quito;  em verde claro, o Peru, com capital em Lima; em roxo, a Bolívia, com capital em La Paz e Sucre; em verde, o Paraguai, com capital em Assunção; em laranja a Argentina, com capital em Buenos Aires; em rosa, o Uruguai, com capital em Montevidéu; em rosa, o Chile, com capital em Santiago. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 895 quilômetros. Em relação ao Mapa 1, o território atual do Brasil, se estende, no norte, mais para o oeste na região da Amazônia, e o mesmo o ocorre no sul, considerando as fronteiras com o Paraguai, a Argentina e o Uruguai.

Fonte: FERREIRA, Graça Maria L. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 75.

  1. Os limites territoriais ao sul do Brasil mudaram de 1765 aos dias de hoje?
  2. Podemos dizer que o Brasil ampliou ou diminuiu sua extensão territorial de 1765 até a atualidade?
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objetos de conhecimento

A conquista da América e as fórmas de organização política dos indígenas e europeus: conflitos, dominação e conciliação.

Resistências indígenas, invasões e expansão na América portuguesa.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero sete agá ih zero nove (atividades 1, 2, 3, 4)

ê éfe zero sete agá ih um zero (atividade 3)

ê éfe zero sete agá ih um um (atividade 5)

ê éfe zero sete agá ih um dois (atividade 2)

Respostas

1. A Companhia de Jesus na América tinha como principais objetivos educar os colonos e converter os indígenas ao cristianismo. Com apôio da Coroa portuguesa, os jesuítas criaram escolas e colégios para a educação dos colonos e fundaram missões para a conversão dos indígenas. Diversos conflitos entre jesuítas e colonos ocorreram na América portuguesa, em especial pelo contrôle sobre as populações indígenas. Contudo, é importante lembrar que as missões jesuítas instaladas em diversas regiões contribuíram para a expansão territorial da colônia.

2. Os jesuítas estabeleceram aldeamentos na Floresta Amazônica e na Bacia do Prata. Em ambas as regiões, a Companhia ultrapassou os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas.

3. a) O padre José de Anchieta descreve os meninos indígenas como bem instruídos na leitura e na escrita e com bons costumes. O padre também aponta que esses meninos abominavam os hábitos indígenas dos seus progenitores; sendo assim, eles seriam vistos como bem educados por terem assimilado a cultura europeia em detrimento da cultura indígena.

b) Leitura, escrita e bons costumes. Segundo Anchieta, a educação das crianças indígenas cumpria a função de preparar futuras gerações de indígenas para a completa assimilação da cultura cristã e europeia.

4. É esperado que os estudantes compreendam que existiram muitas fórmas de resistência dos indígenas em relação ao domínio colonial. Além disso, muitos indígenas optavam, diante da possibilidade de escravização, por se deslocar para outras áreas da colônia.

5. a) É esperado que os estudantes digam que os limites territoriais na região ao sul do Brasil mudaram ao longo do tempo.

b) É possível dizer que a extensão territorial aumentou ao longo do tempo.

CAPÍTULO 17  A EXPANSÃO para o interior

A partir do final do século dezesseis e do início do século dezessete, as atividades realizadas na colônia começaram a se diversificar, impulsionando a ocupação de áreas mais distantes do litoral. Com isso, os limites territoriais da América portuguesa avançaram cada vez mais em direção ao continente, superando a demarcação do Tratado de Tordesilhas.

A pecuária, que se desenvolveu, a princípio, no interior da atual região Nordeste, passou a ser realizada também ao sul da colônia, contribuindo para a consolidação de um mercado interno de abastecimento das vilas e das cidades coloniais e para a expansão da ocupação do território.

Os bandeirantes também tiveram um papel importante na expansão do território colonial. Eles descobriram passagens, abriram caminhos, reconheceram e exploraram recursos naturais, adentrando regiões distantes e até então desconhecidas pelos colonos.

De início, as expedições, chamadas bandeiras de apresamento, tinham como objetivo a captura de indígenas para trabalharem como escravos nas lavouras paulistas. Muitos nativos foram mortos em conflitos e em decorrência das árduas condições que lhes eram impostas. Depois, expedições que utilizavam trajetos fluviais, chamadas de monções, começaram a ser organizadas para explorar as riquezas do território, entre outras finalidades. Por meio dessas expedições os bandeirantes chegaram a descobrir ouro na região onde atualmente está localizado o estado de Mato Grosso.

Gravura. Vista de local aberto em meio à floresta, com muitas árvores altas de troncos marrons e folhas verdes e diferentes espécies vegetais. Dois grupos se opõem nessa imagem No centro e à esquerda, homens majoritariamente brancos, com chapéus de abas amarelos, vestidos com blusas de mangas compridas coloridas (rosa e azul) calças cinza ou bege, e uma faixa branca cruzando o peito. Eles tem armas de cano longo com baionetas nas mãos. À direita, homens, mulheres e crianças indígenas nus, de cabelos lisos e pretos. Alguns homens portam arcos e flechas. À esquerda, um homem de blusa laranja está agachado atrás de uma barricada de folhas de palmeiras verdes e aponta uma arma de cano longo para frente. Atrás dele, há outros dois homens em pé, um segurando uma baioneta. À frente deles, uma mulher indígena caída no solo, nua, de cabelos pretos e longos com uma criança nua  tentando reanimá-la. À direita dela, um homem com calça listrada amarela, está caindo para trás, atingido por lança fina na barriga. No solo, um homem indígena, nu, de cabelos pretos está no chão segurando uma lança cuja outra ponta é segurada por um por outro homem, branco, de blusa azul e chapéu amarelo. Mais à direita, perto de árvores, dois homens indígenas e uma mulher indígena segurando uma menina no colo. Eles estão nus, tem cabelos pretos e lisos. Em segundo plano, entre a vegetação, uma mulher indígena com os braços para cima, nua, e, à direita, um homem indígena de costas, nu, de cabelos pretos. De frente para eles, um homem branco com cabelos e barba pretos, com chapéu amarelo e blusa cor de rosa está com uma lança nas mãos.
Rugendás Iôrram Morrítis. Guerrilha, ou Combates com índios. cêrca de 1835. Litografia, 20,1 por 26,2 centímetros. Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. Ao longo dos séculos da colonização na América portuguesa, a violência contra os indígenas persistiu. Milhares foram mortos nas chamadas bandeiras de apresamento.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Os conteúdos trabalhados neste Capítulo possibilitam levantar hipóteses sobre aspectos da vida na colônia (meios de transporte, facilidades ou dificuldades de deslocamento e sobrevivência nos sertões), bem como uma discussão inicial sobre o conceito de “fronteira”, comparando o presente (em que as fronteiras políticas entre os Estados nacionais estão, em geral, claramente demarcadas) e o passado colonial na América do Sul (quando enormes extensões de terras foram divididas entre duas coroas ibéricas por meio do Tratado de Tordesilhas).

Habilidades trabalhadas ao longo do Capítulo

ê éfe zero sete agá ih zero nove: Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações ameríndias e identificar as fórmas de resistência.

ê éfe zero sete agá ih um zero: Analisar, com base em documentos históricos, diferentes interpretações sobre as dinâmicas das sociedades americanas no período colonial.

ê éfe zero sete agá ih um dois: Identificar a distribuição territorial da população brasileira em diferentes épocas, considerando a diversidade étnico-racial e étnico-cultural (indígena, africana, europeia e asiática).

Orientações

Comente com os estudantes que a expansão colonial acarretou grandes mudanças na paisagem da América portuguesa. Essa questão pode suscitar um debate sobre a crescente ampliação das fronteiras agrícolas atuais e as preocupações ambientais vigentes, demonstrando como interesses distintos geram conflitos.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove.

A pecuária

Inicialmente, o gado era criado perto dos engenhos de açúcar. Para não comprometer as terras destinadas à grande lavoura de açúcar no litoral, a Coroa incentivou o deslocamento do gado para o interior.

O gado do sertão nordestino espalhou-se pela região do rio São Francisco até as terras dos atuais estados da Paraíba, do Rio Grande do Norte, do Ceará, do Piauí e do Maranhão. Ele era criado solto, em grandes extensões de terra, por trabalhadores livres remunerados (que podiam ser indígenas, mestiços ou escravizados libertos).

No século dezoito, as criações de gado da região passaram a abastecer todo o litoral nordestino. Os rebanhos percorriam longas distâncias, das fazendas até as feiras, onde eram comercializados. Ao final do trajeto, que incluía áreas com escassez de água e comida, o gado chegava magro e fornecia pouca carne.

A pecuária no sul da colônia

Até o século dezessete, o sul da colônia era habitado por povos indígenas, e os limites entre as Américas portuguesa e espanhola eram mal definidos. Nessa região, o gado também era criado solto e ocupava grandes extensões de terra. Aos poucos, a pecuária foi sendo organizada no interior das fazendas.

A criação de bois voltava-se, sobretudo, para a produção de couro. No final do século dezoito, desenvolveu-se também a produção de charque (carne salgada e sêca ao sol) e depois a criação de cavalos e mulas. Os animais eram utilizados para o transporte de pessoas e mercadorias e comercializados em outras regiões da colônia. A criação de animais possibilitou consolidar um próspero mercado em diversas localidades e a ocupação do sul da América portuguesa.

A expansão da pecuária (séculos dezesseis-dezoito)

Mapa. A expansão da pecuária. Séculos 16 a 18. Mapa representando parte da América do Sul com destaque para o território que hoje corresponde ao Brasil. Há territórios destacados em diferentes cores e ícones no território. Na legenda, um ícone de cabeça de boi de cor preta, corresponde a 'Século 16'. Nesse período, a pecuária era praticada a oeste da cidade da Paraíba, a oeste das cidades de Olinda e Recife, na porção leste do Rio São Francisco, a oeste de Salvador e ao sul da cidade de Sorocaba. Território pintado de cor de rosa, corresponde a 'Século 17'. Nesse período a pecuária passou a ser praticada também a leste do Rio Uruguai, a sudoeste da cidade de Laguna, em Curitiba, em uma região mais ampla ao redor de Sorocaba, chegando até a cidade de São Paulo. Passou a ser praticada também ao longo do curso do Rio São Francisco e ao longo do curso do Rio Parnaíba, além de expandir-se nas regiões do sertão em que já era praticada no século 16. Território pintado de verde claro corresponde a 'Século 18'. Nesse período, a atividade pecuária passou a ser praticada também no noroeste e no sudoeste do atual território do Rio Grande do Sul, a longo do Rio Uruguai, a oeste e a norte de Laguna, ao norte e a oeste de Curitiba, ao norte de São Paulo, , ao sul do Rio Grande, ao longo do curso dos rios Taquari e Cuiabá, ao sul da Vila Boa de Goiás, em todo o curso do Rio São Francisco, a oeste do rio Parnaíba, a oeste de Belém, na Ilha de Marajó, e na porção nordeste do atual estado de Roraima. Ícones de cabeça de boi vistas de lado na cor vermelha correspondem a 'Feiras de gado'. As feiras de gado ocorriam em Sorocaba, a noroeste de Salvador, e a oeste de Olinda. Ícones de cabeças de boi vistas de lado na cor laranja correspondem a 'Centros de indústria de carnes'. Os centros de indústria de carnes localizavam-se na porção norte do Rio Parnaíba, a oeste de Fortaleza e no sul do território que hoje corresponde ao Rio Grande do Sul. Uma linha cinza corresponde a 'Limites do Brasil atual'. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 440 quilômetros.

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 102.

Respostas e comentários

Orientações

Segundo Roberto sáimonsen, o gado bovino chegou ao Brasil por volta de 1535, em áreas do atual estado da Bahia. Outros estudiosos, porém, afirmam que o gado foi introduzido no Brasil com a expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, em 1533, na região de São Vicente, onde também foi instalado o primeiro engenho de açúcar na colônia.

O crescimento da indústria açucareira fomentou a criação de gado. No entanto, o aumento dos rebanhos passou a ser um problema para o cultivo da cana, pois o gado ocupava o espaço que poderia ser utilizado para a ampliação da lavoura, e, frequentemente, animais invadiam as plantações desprotegidas, causando danos e prejuízos. Para resolver a situação, por meio da Carta Régia de 1701, a Coroa portuguesa proibiu a criação de gado a menos de 10 léguas (cêrca de 60 quilômetros) da costa.

Caio Prado Júnior argumenta que a dispersão das criações de gado para o interior do Nordeste foi favorecida pelas condições climáticas e fisiográficas da região. A escassez de chuvas e a vegetação da Caatinga impulsionaram os criadores a procurar rios perenes, em busca de condições mais favoráveis à pecuária.

Organize com os estudantes uma leitura atenta do mapa “A expansão da pecuária (séculos dezesseis a dezoito)”, destacando as áreas sucessivamente ocupadas pela criação de gado no período colonial, o papel dos rios para a pecuária na Região Nordeste e a presença mais numerosa de cidades no litoral. Sugerimos localizar também as feiras de gado e destacar sua importância para a criação de um mercado interno na colônia.

Observações

As reflexões desta página e o trabalho com o mapa auxiliarão mais uma vez no desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois.

Bandeiras e monções

Assim como a pecuária e as missões jesuíticas, o movimento das bandeiras e das monções cumpriu importante papel na expansão das fronteiras e na ocupação do interior da América portuguesa.

Muitas cidades do nosso país, como Sumidouro (Minas Gerais), Sabará (Minas Gerais), Cuiabá (Mato Grosso) e Camapuã (Mato Grosso do Sul), surgiram em decorrência das bandeiras e das monções. Naturais de São Paulo os bandeirantes partiam em direção ao interior da colônia através de longas trilhas abertas nas matas e por meio de rios navegáveis, como o Tietê.

As principais atividades desenvolvidas na vila de São Paulo até o século dezessete eram a criação de animais e a agricultura voltada para o mercado interno. Os paulistas cultivavam fundamentalmente o trigo, mas também se dedicavam às lavouras de cana, milho, algodão, feijão e mandioca. Quase todo o trabalho era executado por indígenas escravizados.

Com o principal objetivo de suprir a constante falta de mão de obra nas lavouras, os paulistas começaram a organizar expedições rumo ao interior da colônia a fim de capturar indígenas para serem comercializados como escravos. Em suas incursões, também buscavam metais e pedras preciosas; mas, até o final do século dezessete, a captura de indígenas foi o interesse central dos paulistas.

Nas expedições de apresamento, os colonos, seguindo um costume dos indígenas Tupi, erguiam uma bandeira em sinal de guerra. Por isso, os integrantes dessas expedições foram chamados bandeirantes. As bandeiras de apresamento, como ficaram conhecidas, eram organizadas e financiadas principalmente por particulares, mas algumas também obtiveram recursos da Coroa portuguesa.

Pintura. Em um local com vegetação densa, atravessando um rio com águas até as canelas, um grupo de bandeirantes, no centro e ao fundo da pintura. À frente, sobre o solo coberto de folhas secas de cor marrom-claro, dois bandeirantes deitados de bruços com blusas brancas de mangas compridas, calças escuras, meias pretas e sapatos marrom. Eles estão com os rostos voltados para o rio, à direita e ao fundo da pintura. Ambos estão tomando água.  À esquerda, um homem indígena sentado, com cabelos pretos, colar laranja, adereços de penas vermelhas nas pernas e a mão direita sobre o rosto. Mais ao fundo, um homem indígena em pé, de cabelos pretos lisos e longos, o torso nu, colar branco, cocar de penas vermelhas e um tecido de cor branca sobre a pelve. Entre esses dois indígenas, há equipamentos no chão. Em segundo plano, o curso no rio, entre margens de pedras, andando no rio, à frente de um grupo, há um homem branco em pé. Este tem chapéu bege e casaco de mangas compridas da mesma cor e segura um bastão na vertical.
BERNARDELLI, Henrique. Os bandeirantes. 1889. Óleo sobre tela, 400 por 290 centímetros. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Ícone. Sugestão de livro.

RIBEIRO, Regina Helena de A.; LOCONTE, Wanderley. Bandeirantes. São Paulo: Saraiva, 2014. Com base na história fictícia de um jovem de quatorze anos que vivia na vila de São Paulo de Piratininga do séculodezessete, o livro fala sobre as bandeiras e as ações dos bandeirantes.

Respostas e comentários

Orientações

Sugerimos destacar que inicialmente os objetivos econômicos que nortearam a ocupação da capitania de São Vicente, assim como do Nordeste, estiveram voltados para as atividades que atendiam ao mercado externo. No entanto, a grande distância em relação aos portos europeus e a presença da serra do Mar na região da Capitania de São Vicente, que limitava a implantação das lavouras de cana-de-açúcar, foram fatores que impulsionaram os colonos a explorar o interior do território.

Comente com os estudantes que, por causa da experiência dos paulistas com as bandeiras de apresamento, os bandeirantes foram contratados para destruir quilombos e combater indígenas que atacavam áreas ocupadas por colonos no Nordeste. Estas últimas, chamadas “guerras justas”, tornavam legal a escravização dos nativos. Agrupamentos inteiros foram dizimados em áreas que hoje correspondem aos atuais estados da Bahia, do Piauí, do Maranhão e do Ceará entre 1658 e 1679. Muitos desses paulistas acabaram fixando-se no Nordeste, onde passaram a viver principalmente da pecuária.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove e ê éfe zero sete agá ih um dois.

Rumo ao interior da colônia

A quantidade de pessoas que compunham as bandeiras podia variar de algumas dezenas até milhares de homens. Em geral, o grupo que compunha uma bandeira era formado por indígenas escravizados liderados por descendentes de portugueses ou mestiços, filhos de colonos e indígenas.

Ao longo das viagens, os bandeirantes carregavam mantimentos para alguns meses. As condições, no entanto, eram precárias. Muitas vezes, eles abriam clareiras nas matas para cultivar roças, além de complementar a alimentação com a caça, a pesca e a coleta de vegetais.

O alvo principal das bandeiras paulistas eram as missões jesuíticas, onde havia grande concentração de nativos. Alguns historiadores acreditam que os bandeirantes preferiam capturar indígenas que viviam nas missões porque eles já estariam habituados ao regime de trabalho estabelecido pelos jesuítas, voltado para a produção de excedentes. Outros defendem que o principal alvo dos paulistas eram os indígenas guarani, que viviam nas missões ou nas aldeias, porque eram eficientes agricultores.

Os ataques contra as missões provocaram diversos conflitos entre colonos e jesuítas. De um lado, os jesuítas, contrários à escravização dos indígenas, acusavam os colonos de prejudicar o trabalho de evangelização dos nativos. De outro, os colonos responsabilizavam os jesuítas pela falta de mão de obra na lavoura, acusando-os de utilizar o trabalho dos indígenas em suas propriedades e privá-los desse benefício.

Expedições bandeirantes (1550-1720)

Mapa. Expedições bandeirantes (1550 a 1720). Mapa representando parte do leste da América do Sul. O território não tem fronteiras demarcadas e está todo na cor amarela. Há indicações de rios, rotas de expedições e ícones. 
Na legenda, uma cruz vermelha indica, ‘Missões portuguesas’. As missões portuguesas localizavam-se principalmente ao longo dos rios da Bacia Amazônica, sobretudo os rios Amazonas, Negro e Madeira, além da região de Belém, do Rio Xingu, da Ilha de Marajó, da região em torno de São Luís e de Natal.  
Uma cruz verde indica, ‘Missões espanholas’. As missões espanholas localizavam-se principalmente no sul dos territórios que hoje corresponde ao Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, ao longo do curso dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, Iguaçu, onde se localizavam as Missões do Guaíra, as Missões do Paraguai (ao norte de Assunção), o Sertão dos Patos (a oeste de Laguna) e as Missões do Tape, a leste do rio Uruguai, Outras missões espanholas localizavam-se próximas ao rio Guaporé.   
Uma seta pontilhada verde indica, ‘Expedições de apresamento dos Guarani por mar (1550-1635)’. As expedições de apresamento dos Guarani por mar partiam de Santos em direção a Laguna.
Setas vermelhas indicam, ‘Expedições de apresamento dos Guarani por terra (1585 a 1635)’. As expedições de apresamento dos Guarani por terra partiam de São Paulo em direção às Missões do Tape, para o Sertão dos Patos e em direção às missões espanholas ao norte do Rio Iguaçu.
Setas roxas indicam, ‘Expedições de apresamento de outros grupos indígenas (pós 1640)’.  As expedições de apresamento de outros grupos indígenas seguiam o curso dos rios Tietê e Pardo, até a região próxima a Cuiabá; dos rios Paraíba, Paranaíba e São Francisco, em direção ao norte; dos rios Guaporé, Purus e Madeira, atingindo a região em torno do Rio Amazonas até chegar à Ilha de Marajó.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 445 quilômetros.

Fonte: MONTEIRO, Djón Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. página 13.

Ler o mapa

De que fórma as bandeiras contribuíram para a expansão do território da América portuguesa? Explique, identificando os caminhos das expedições de apresamento de indígenas representadas no mapa.

Respostas e comentários

Observação

A busca por indígenas, principalmente nas missões, fez com que os bandeirantes adentrassem cada vez mais o interior da América portuguesa. No mapa reproduzido nesta página, podemos observar que as expedições partiam da vila de São Paulo em direção ao sul, ao centro-oeste e ao norte da colônia, ultrapassando a linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.

Resposta

Ler o mapa: Alguns grupos de indígenas buscavam reagir ao apresamento pelos bandeirantes, guerreando ou fugindo para locais cada vez mais distantes da vila de São Paulo. Em meados do século dezessete, a busca constante por indígenas e metais preciosos levou os bandeirantes paulistas a alcançar as terras que hoje correspondem aos estados de Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso e Amazonas. Dessa fórma, as bandeiras contribuíram para a interiorização e expansão do território da América portuguesa.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove, ê éfe zero sete agá ih um zero e ê éfe zero sete agá ih um dois.

O movimento das monções

No início do século dezoito, as viagens dos bandeirantes, que antes ocorriam principalmente a pé, passaram a ser realizadas por caminhos fluviais. A palavra “monção”, de origem árabe, que significa vento ou época do ano favorável à navegação, foi utilizada para nomear essas viagens porque as cheias ou as vazantes dos rios definiam a melhor época para que elas acontecessem.

As monções podiam ser organizadas com fins comerciais, científicos, exploratórios ou militares, mas todas elas utilizavam as bacias dos rios Paraná e Paraguai para atingir os sertões. As expedições partiam de Araritaguaba (hoje o município paulista de Pôrto Feliz) e, em canoas, desciam pelo rio Tietê até atingir o rio Paraná. De lá, alcançavam o rio Cuiabá, terminando a viagem na Vila do Bom Jesus do Cuiabá (atual Cuiabá, capital de Mato Grosso), região onde foram descobertas minas de ouro.

As frotas, no período de auge das minas de Mato Grosso, chegavam a reunir entre trezentas e quatrocentas canoas. Elas transportavam mantimentos, artigos de luxo, armas, munições, tecidos, instrumentos agrícolas e escravizados africanos, que eram vendidos em pequenos núcleos urbanos, nos povoados e nas vilas do interior. Na viagem de volta, as embarcações traziam principalmente ouro e peles.

Ao penetrar no sertão, as monções, assim como as bandeiras, contribuíram para o surgimento de pousos e vilarejos ao longo do caminho, locais que serviam para o descanso e o abastecimento dos exploradores paulistas.

Pintura. Vista de local aberto à beira de um rio. Há dezenas de pessoas de frente para as margens do rio, onde há pessoas em pé sobre canoas estreitas e longas. 
À esquerda, em primeiro plano, na margem do rio, há um menino negro de cabelos pretos e curtos, com camisa branca e calça bege. Ele está com o corpo inclinado, levantando um baú de cor marrom. Atrás dele, há uma mulher de vestido vermelho e mangas brancas, ajoelhada com um bebê de roupinha branca no colo. 
À direita dela, há uma mulher com os cabelos cobertos por um véu azul sentada. Atrás delas, sobre as águas, há cerca de dez embarcações tripuladas com homens de diferentes idades. Na primeira delas, no centro da imagem, há um homem de lenço vermelho sobre a cabeça, camisa branca e calça clara. Ele está de pé na proa, puxando o cabo que mantém a canoa atracada.
Na margem do rio, à direita, há pessoas aglomeradas, homens e mulheres de roupas longas. Algumas mulheres usam véus cobrindo a cabeça. Há um padre rezando e segurando um livro em suas mãos. Há uma mulher ajoelhada no chão, atrás dele, e um menino à esquerda do padre. 
À direita, em primeiro plano, há um mulher de véu branco e roupa verde. Ela tem um menino no colo. Ao lado dela, há um homem branco, grisalho, visto de costas. Ele está ajoelhado no chão. Ao fundo, vegetação e copas de árvores.
JÚNIOR, Almeida. Partida da monção. 1897. Óleo sobre tela, 6,4por 3,9métros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Respostas e comentários

Orientações

Se possível, faça um estudo comparativo entre as expedições bandeirantes e as monções, destacando a época em que ocorreram, os objetivos das viagens e os meios de transporte utilizados. O estudo comparativo de aspectos do dia a dia das expedições rumo ao interior da América portuguesa oferece ao estudante um panorama mais detalhado da vida na colônia, retomando a questão levantada na abertura da Unidade sobre as dificuldades de locomoção com os recursos disponíveis na época.

Consideramos importante que os estudantes compreendam as razões dos conflitos entre os jesuítas e os colonos a respeito da escravização dos indígenas e a forte influência indígena na formação da cultura colonial, especialmente na Região Centro-Sul.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita, novamente, o desenvolvimento de aspectos importantes das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove, ê éfe zero sete agá ih um zero e ê éfe zero sete agá ih um dois.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

Os bandeirantes na pintura histórica do Brasil

Alguns artistas do final do século dezenove e do início do século vinte representaram os bandeirantes como homens bem trajados, imponentes e de traços europeus. O objetivo era transformá-los em heróis do estado de São Paulo e do Brasil, enaltecendo sua bravura e capacidade de liderança como corajosos desbravadores.

Alguns historiadores, no entanto, apontam outras características dos bandeirantes. Segundo eles, esses exploradores eram descendentes de portugueses ou indígenas, sendo muitos deles mestiços, andavam frequentemente descalços, tinham aparência maltratada por causa da fome e foram grandes protagonistas da dizimação das populações nativas do Brasil. Qual pode ter sido, então, o interesse envolvido na exaltação dos bandeirantes?

Entre o final do século dezenove e o começo do século vinte, a atividade cafeeira promoveu o crescimento urbano e a industrialização de São Paulo. Tendo o estado como centro da modernização, da urbanização e do crescimento econômico no Brasil, buscou-se consolidar a imagem do povo paulista como naturalmente forte e vencedor, por meio de sua fusão com o mito do desbravador bandeirante.

Pintura. Em um local aberto, arborizado, com um morro ao fundo, o retrato de dois homens vistos dos joelhos para cima. À frente, à esquerda, um homem branco de olhos claros, cabelos curtos brancos e barba longa branca, bigode marrom, chapéu marrom, vestido com camisa de botões de mangas compridas cinza com o punho branco. Sobre o ombro esquerdo dele, há um manto de cor preta por fora e vermelha por dentro. Ele veste uma calça marrom e usa botas em marrons até os joelhos. Em  cinto, na sua cintura estão presas uma pistola e um facão. Ele segura na mão direita a ponta de uma arma de cano longo apoiada no chão. Sua postura é altiva e imponente. Atrás dele, à direita, um outro homem branco de cabelos lisos, longos até o queixo e pretos, bigode preto, chapéu de cor bege sobre a cabeça, casaco comprido cinza, gola e punhos brancos, proteção de metal sobre os ombros, calça bege e botas de cano longo na cor marrom. Ele também tem um cinto marrom na cintura no qual está presa uma espada.
CALIXTO, Benedito. Domingos Jorge Velho. 1903. Óleo sobre tela, 158por 120 centímetros. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo. A imagem representa, no primeiro plano, o bandeirante paulista que comandou a destruição do Quilombo dos Palmares.
  1. Observe a pintura intitulada Domingos Jorge Velho. A obra, feita por Benedito Calixto, é contemporânea às expedições bandeirantes?
  2. Que impressões a pintura nos transmite sobre os bandeirantes? Qual seria o objetivo do artista ao representar os bandeirantes dessa fórma?
  3. Por que nessa época buscou-se caracterizar os bandeirantes como desbravadores representantes do povo de São Paulo?
  4. Você conhece monumentos e obras públicas que homenageiam os bandeirantes? Se sim, cite exemplos. De que maneira é possível relacionar essas homenagens à pintura de Benedito Calixto?
Respostas e comentários

Orientações

A construção da memória oficial de São Paulo, elaborada pela elite paulista a partir do final do século dezenove, cristalizou uma visão gloriosa e idealizada dos bandeirantes. Nessa visão, eles foram representados como bravos conquistadores, que conseguiram, com coragem e determinação, superar a pobreza da vila de São Paulo de Piratininga e construir a grandeza territorial do que viria a ser o Brasil. Nesse estudo, é importante problematizar o tema e discutir o papel dos bandeirantes na escravização do indígena.

Respostas

1. Não. Essa pintura foi produzida em 1903, muito tempo depois da época das bandeiras paulistas.

2. A interpretação é livre, mas é importante que o estudante saiba fundamentá-la. Sugestão: Os bandeirantes são representados bem-vestidos e com postura imponente. O objetivo do artista, ao construir essa representação, era atribuir a esses homens virtudes como coragem, determinação e capacidade de vencer as dificuldades do meio.

3. Ao fazer isso, a história de São Paulo fica associada ao empreendedorismo desses homens e adquire um caráter épico, com a exaltação da contribuição do povo paulista na construção do território brasileiro. Os bandeirantes se distanciam de sua condição humana e se transformam em heróis da epopeia paulista e brasileira.

4. Resposta pessoal. Essa questão tem como objetivo levar o estudante a relacionar o que ele aprendeu sobre os bandeirantes com o que restou de sua memória na atualidade, sobretudo para incentivar a reflexão a respeito da construção dos heróis nacionais brasileiros. Em algumas cidades brasileiras há monumentos famosos que homenageiam os bandeirantes. Na cidade de São Paulo, por exemplo, há o Monumento às Bandeiras, de vitor brêchêrê, e a estátua de Manuel da Borba Gato, de Júlio Guerra. Há também muitas rodovias brasileiras cujos nomes homenageiam os bandeirantes, como a Rodovia Raposo Tavares, a Rodovia Anhanguera, a Rodovia Fernão Dias e a Rodovia dos Bandeirantes.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página constitui uma ótima oportunidade para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove e ê éfe zero sete agá ih um zero.

Multiculturalismo.

Assimilação de conhecimentos indígenas

Os exploradores paulistas, das bandeiras ou das monções, garantiram sua sobrevivência pondo em prática muitos conhecimentos transmitidos pelos indígenas. Aprenderam com eles os caminhos e as particularidades das matas brasileiras, a reconhecer a aproximação de animais perigosos, entre outros saberes. A experiência dos nativos também foi usada para localizar água potável e aproveitar o líquido extraído de plantas suculentas, como o umbuzeiro e os cipós.

Além disso, nas guerras e nas caçadas promovidas no sertão, os paulistas fizeram uso do arco e da flecha indígenas, muitas vezes mais eficientes que os arcabuzes e as escopetas europeias, que enferrujavam com a umidade e eram de difícil manejo e transporte. Desenhos feitos por indígenas do curso completo de alguns rios e de seus afluentes serviram de orientação para expedições científicas estrangeiras, revelando que os indígenas tinham grande habilidade cartográfica e conhecimento minucioso da topografiaglossário local.

Nas expedições fluviais (monções), os paulistas assimilaram a técnica indígena de construir canoas com o tronco de uma única árvore, em geral peroba ou ximbaúva, mais duráveis e resistentes. Também adotaram o sistema indígena de navegação, em que um dos tripulantes remava sempre de pé, tradição comum em praticamente toda a América pré-colombiana. A dieta indígena também foi assimilada pelos colonos paulistas. O consumo de milho foi muito importante. Dos grãos, obtinha-se a farinha de milho, base para o preparo de biscoitos e bolos, entre outros alimentos.

Fotografia. Em um local com piso de cimento de cor cinza e uma lateral aberta, por onde entra luz natural, há uma embarcação feita de madeira, de cor marrom, de formato cilíndrico, estreita, com aberturas na parte superior, frontal e traseira. À frente dela, à direita, há âncoras de ferro, apoiadas sobre o chão e dispostas na vertical.
As técnicas de fabricação e manejo das canoas usadas nas monções eram inspiradas em conhecimentos tradicionais indígenas. As madeiras utilizadas geralmente eram a peroba e a ximbaúva, encontradas nas proximidades do rio Tietê. Na fotografia, embarcação conhecida como batelão utilizada pelos bandeirantes, pertencente ao acervo do Parque das Monções, em Pôrto Feliz, São Paulo. Fotografia de 2010.
Ícone. Sugestão de vídeo.

REPÚBLICA Guarani. Direção: Sílvio Béc. Brasil, 1981. Duração: 100 minutos. O documentário reconstrói por meio de depoimentos de pesquisadores a história dos indígenas guarani.

Respostas e comentários

Texto complementar

No trecho a seguir, Djón Manuel Monteiro trata da organização de expedições de apresamento dos indígenas.

Encarando o desafio das incertezas do sertão, os paulistas começaram a favorecer pequenas expedições – armações, na linguagem da época –, organizadas para atender a demandas específicas por mão de obra. Portanto, ao contrário das grandes bandeiras, cuja função essencial residia na reprodução dafôrça coletiva de trabalho no planalto, estas novas expedições serviam sobretudo para a reprodução das próprias unidades de produção. Embarcando em viagens para o interior, muitos jovens redigiram ou ditaram seus testamentos, manifestando a necessidade de penetrar no sertão para “buscar remédio para minha pobreza”. reticências

Ao longo do séculodezessete, evidentemente, o “remédio” tão procurado era o cativo indígena, a posse a partir da qual o jovem colono se situava na sociedade luso-brasileira, pois esta oferecia um ponto de partida para as atividades produtivas, bem como uma fonte de renda.

MONTEIRO, Djón Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página 85-87.

Orientações

O conteúdo desta página constitui um momento propício para o trabalho com o tema contemporâneo Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita o desenvolvimento de aspectos das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove e ê éfe zero sete agá ih um dois.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

FIGUEIREDO, Luciano. Mulher e família na América portuguesa. São Paulo: Atual, 2004.

Com base em pesquisas realizadas por historiadores nos últimos anos, essa obra procura demonstrar como a família e a mulher estiveram presentes nos primeiros tempos de colonização da América portuguesa.

SAMARA, Eni de Mesquita. Família, mulheres e povoamento: São Paulo, século dezessete. Bauru: êdúsqui, 2010.

A obra apresenta a vasta pesquisa sobre a condição das mulheres e das famílias em São Paulo, no século dezessete, realizada por Eni de Mesquita Samara.

Cidadania e Civismo.

O “ressurgimento” dos indígenas no Brasil

Desde a chegada dos portugueses ao território que constituiria o Brasil até a década de 1970, as populações indígenas do país foram reduzidas drasticamente ao ponto de algumas desaparecerem. Contudo, essa situação, felizmente, começou a mudar no final do século passado.

Até os anos 1960, acreditava-se que os povos indígenas do Brasil seriam extintos. No entanto, contrariando esse prognóstico, muitas comunidades reapareceram e passaram a reivindicar o reconhecimento de sua etnia e o direito à terra.

Na década de 1980, a redução da mortalidade infantil e o crescimento da taxa de fecundidade entre os indígenas foi essencial para a mudança desse quadro negativo. Além disso, nas últimas décadas, houve aumento do número de pessoas que se declaram indígenas e de grupos reconhecidos pelo Estado brasileiro como povos indígenas. Ocultar a identidade indígena era um modo de evitar o preconceito, mas diversos grupos, que até então tinham ignorado ou deixado de assumir sua identidade, passaram a reafirmá-la, recuperando ou recriando suas tradições.

Conquista de direitos

A Constituição de 1988 reconheceu a organização social, os costumes, as línguas, as crenças e as tradições dos indígenas brasileiros. Também garantiu a esses povos o direito às terras que tradicionalmente ocupam. Com isso, criou-se um ambiente favorável ao reconhecimento da multietnicidade e multiculturalidade do nosso país.

População indígena no Brasil entre 1500 e 2010 (em mil)

Gráfico de barras. População indígena no Brasil entre 1500 e 2010 (em milhares). Legenda: Em marrom: População indígena. Em preto: Considera-se indígena. No eixo vertical o número da população indígena. No eixo horizontal, os séculos de 1500 a 2000, e as datas específicas dos dados. Ano de 1500: População indígena: 3 milhões Ano de 1650:  População indígena: 700 mil. Ano de 1825:  População indígena: 360 mil. Ano de 1957:  População indígena: 70 mil Ano de 1980: População indígena: 210 mil Ano de 1991: População indígena: 294 mil Ano 2000:  População indígena: 734 mil Ano de 2010: População indígena: 818 mil  e  População que considera-se indígena: 79 mil.

Elaborado com base em dados obtidos em: BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Fundação Nacional do Índio. Índios do Brasil: quem são. Brasília, Distrito Federal: Funai, 12 novembro 2013. Disponível em: https://oeds.link/fEBrUH. Acesso em: 2 fevereiro. 2022.

Ler o gráfico

• Observe o gráfico “População indígena no Brasil entre 1500 e 2010” e responda, em seu caderno, às questões a seguir.

  1. Repare que, entre 1500 e 1650, as populações indígenas diminuíram. Explique esse dado.
  2. Em que período as populações indígenas começaram a “ressurgir”? Que fatores explicariam esse acontecimento?
Respostas e comentários

Orientações

Quantos indígenas habitavam o território do Brasil em 1500? As estimativas variam entre 2 milhões e 5 milhões de indivíduos. Contudo, não existem dados seguros sobre o extermínio demográfico causado pelo avanço da colonização europeia. Apesar disso, desde as duas últimas décadas do séculovinte, verifica-se um crescimento significativo da população indígena.

Esse conteúdo possibilita o trabalho com o tema contemporâneo Educação em Direitos Humanos.

Resposta

Ler o gráfico: 1. a) Entre os séculos dezesseis e dezessete, muitos povos indígenas do Brasil foram dizimados devido, principalmente, aos conflitos travados com os europeus, às doenças trazidas pelos conquistadores, para as quais os nativos não eram imunes, e à escravização. Esses fatores explicariam o grande decréscimo das populações indígenas entre 1500 e 1650.

b) As populações indígenas começaram a “ressurgir” a partir do final dos anos 1950. Muitos fatores explicam esse acontecimento. Além da redução da mortalidade infantil e do aumento das taxas de fecundidade entre os indígenas, mudanças que contribuíram para o crescimento dessas populações, o fato de muitas pessoas se autodeclararem indígenas, algumas delas identificadas com povos considerados extintos, também foi essencial para esse processo de “ressurgimento”. Além disso, o reconhecimento da organização social e das tradições indígenas, bem como a garantia de direitos a esses povos na Constituição de 1988, foram fundamentais para incentivar os indígenas a lutarem pelo reconhecimento de suas etnias e de seus territórios.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita a reflexão sobre os impactos da colonização para os vários povos indígenas, ampliando o desenvolvimento de aspectos das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove e ê éfe zero sete agá ih um dois.

Etnogênese no Brasil

O processo de surgimento ou aumento de um grupo étnico é chamado de etnogênese e se difere do etnocídio, que é a extinção de uma etniaglossário .

Os contextos em que diversos povos indígenas ressurgiram no território brasileiro são bastante distintos, pois expressam as histórias específicas de resistência de cada um deles ao longo do tempo.

Os Náua, por exemplo, são um desses povos. Em 1999, o govêrno notificou os grupos indígenas que viviam na Serra do Divisor, no Acre, que seriam transferidos para outro local próximo em decorrência da criação de um parque nacional. O grupo que se denominou Náua, povo considerado extinto, se recusou a sair do local e reivindicou o reconhecimento de sua etnia e de sua terra. Em 2003, após um acôrdo entre o govêrno e os indígenas, a etnia Náua foi finalmente reconhecida.

Outro exemplo foi o reconhecimento de um grupo de camponeses descendente dos Kalankó, que habitam o Alagoas e que tiveram sua etnia reconhecida na década de 1980. Entre os séculos dezesseis e dezenove, no Nordeste (assim como em outras regiões do país), muitos povos indígenas foram dizimados ou deslocados para longe de suas terras. Somente a partir dos anos 1930, grupos da região voltaram a se declarar indígenas.

Os Charrua, que ocupavam parte dos atuais territórios do estado do Rio Grande do Sul, do Uruguai e da Argentina, tinham sido considerados extintos. Contudo, em 2007, uma comunidade indígena na cidade de Pôrto Alegre se declarou descendente dos Charrua e conseguiu o reconhecimento do Estado brasileiro como etnia indígena remanescente.

Comunidades indígenas “ressurgidas” entre 1990 e 2014

Mapa. Comunidades indígena ressurgidas entre 1990 e 2014. Mapa representando a divisão regional do Brasil. Em verde escuro, Região Norte: 33 comunidades. Em amarelo, Região Nordeste, 45 comunidades. Em verde claro, Região Centro-Oeste, 5 comunidades. Em azul, Região Sudeste, 6 comunidades. Em rosa, Região Sul, 2 comunidades. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 500 quilômetros. Ao lado do mapa, gráfico de barras. 'Etnias 'ressurgidas' entre 1990 e 2014'. Por Unidade da Federação. Em verde: Acre: 3. Amazonas: 2. Pará: 16. Roraima: 9. Rondônia: 1. Tocantins: 2. Em amarelo: Alagoas: 7. Bahia: 9. Ceará: 13. Pernambuco: 4. Piauí: 3. Rio Grande do Norte: 6. Maranhão: 3. Em rosa : Paraná: 1. Rio Grande do Sul: 1. Em azul claro : Minas Gerais: 5. Espírito Santo: 1. Em verde-claro : Goiás: 1. Mato Grosso do Sul: 2. Mato Grosso: 2. Total : 91 etnias 'ressurgidas'

Elaborado com base em dados obtidos em: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2010 Características gerais dos indígenas: resultados do universo. Rio de Janeiro: í bê gê É, 2012. Disponível em: https://oeds.link/F1SVxa. Acesso em: 2 fevereiro 2022.

Respostas e comentários

Orientações

Se desejar, comente com os estudantes que, segundo o Conselho Indigenista Missionário (sími), atualmente existem noventa e uma etnias indígenas “ressurgidas” no Brasil. Elas estão concentradas principalmente na região Nordeste, que reúne 45 do total desses povos. O Norte apresenta 33 etnias “ressurgidas”, seguido do Sudeste (6), do Centro-Oeste (5) e do Sul .

Ao explorar com os estudantes esses conteúdos, vale lembrar que os dados demográficos para o período colonial, e mesmo para o século dezenove, representam estimativas e aproximações, já que não existiam as metodologias de pesquisa e estatística empregadas na atualidade e vários grupos indígenas permaneceram isolados (e, portanto, ignorados) até meados do século vinte.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita, novamente, o desenvolvimento de aspectos das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove e ê éfe zero sete agá ih um dois.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Como a pecuária contribuiu para a expansão territorial da América portuguesa?
  2. Sobre as bandeiras e monções, responda.
    1. Quais eram os principais objetivos das expedições bandeirantes em direção ao interior do território?
    2. Por que era comum a escravização de indígenas na vila de São Paulo até o final do séculodezessete?
    3. Que motivos levaram os bandeirantes a ter predileção por capturar indígenas que viviam em missões jesuítas? Explique.
  3. No séculodezessete, um padre francês registrou, em uma aldeia no Maranhão, o discurso de um chefe indígena tupinambá chamado Momboré-uaçu, que questionava a atuação dos portugueses. Leia o relato a seguir com um colega e depois respondam às questões.

Vi a chegada dos peró [portugueses] em Pernambuco e Potiúreticências. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que nossos companheiros de Pernambuco reputavam grandemente honroso. Mais tarde, disseram que nos devíamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e edificarem cidades para morarem conosco. E assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só nação. Depois, começaram a dizer que não podiam tomar as raparigas sem mais aquela, que Deus somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar sem que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários paí [padres]. Mandaram vir os paí; e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os nossos e a batizá-los. Mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí podiam viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. E, assim, se viram os nossos constrangidos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos com os escravos capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda a nação; e com tal tirania e crueldade a trataram, que os que ficaram livres foram, como nós, forçados a deixar a região.

Dábevile, Clúde. História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. Tradução Sérgio Miliê. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1945. página115.

  1. Como Momboré uaçú descreve a atuação inicial dos portugueses em Pernambuco?
  2. Segundo o relato, como os portugueses começaram a agir mais tarde em relação aos indígenas?
  3. Como os indígenas reagiram à tirania e à crueldade dos colonizadores?
  1. Observe novamente o mapa “Comunidades indígenas 'ressurgidas' entre 1990 e 2014” reproduzido no Capítulo. Quais estados concentraram o maior número de etnias indígenas ressurgidas?
  2. Leia o texto a seguir e responda às questões.

A maior concentração do povoamento é na faixa costeira; mas esta mesmo largamente dispersa. O que havia eram núcleos de maior ou menor importância distribuídos desde a foz do rio Amazonas até os confins do Rio Grande do Sul. reticênciasTrês daqueles núcleos são de grande importância: concentram-se em tôrno de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. Dois outros seguem num segundo plano: Pará e Maranhão.

Para o interior, a irregularidade do povoamento é muito maior. O que encontramos são apenas manchas demográficas, largamente dispersas e distribuídas, à primeira vista, sem regra alguma. No Extremo-Norte (na Amazônia), vimos o povoamento infiltrar-se ao longo dos cursos dágua numa ocupação linear e rala. No sertão nordestino são as fazendas de gado que concentram a população nas regiões de maiores recursos naturais, em particular da água, tão escassa neste território semiárido. Finalmente para o sul, o povoamento quase desaparece no planalto interior para ir reaparecer no Extremo-Sul onde se localizam as estâncias de gado do Rio Grande.

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1971.página 101-102.

  1. Para o autor, quais eram os núcleos com maior concentração de povoamento no Brasil colonial?
  2. Quais núcleos de povoamento eram mais irregulares e dispersos?
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objetos de conhecimento

A conquista da América e as fórmas de organização política dos indígenas e europeus: conflitos, dominação e conciliação.

Resistências indígenas, invasões e expansão na América portuguesa.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero sete agá ih zero nove (atividades 2, 3)

ê éfe zero sete agá ih um zero (atividades 3, 5)

ê éfe zero sete agá ih um dois (atividades 1, 2, 4, 5)

Respostas

1. A atividade da pecuária fornecia alimentos para os colonos e animais para o transporte de carga e de pessoas. O gado também era utilizado como fôrça motriz na lavoura e nos engenhos.

2. a) Os principais objetivos eram a captura de indígenas para o trabalho forçado e a busca por metais preciosos.

b) Os moradores da vila de São Paulo não tinham recursos para adquirir africanos escravizados; por isso, os colonos paulistas optaram pela mão de obra indígena.

c) Os indígenas aldeados nas missões jesuíticas estavam mais habituados aos valores católicos e disciplinados por meio do regime de trabalho estabelecido pelos jesuítas.

3. a) No início, os portugueses pretendiam explorar as riquezas do local, sem fixar moradia.

b) Os portugueses passaram a dizer aos indígenas que era necessário construir fortalezas, para se defenderem, e edificarem cidades para sua moradia. Além disso, os portugueses passaram a exigir a escravização indígena e procuraram impor a religião católica aos povos nativos.

c) Segundo o relato, muitos indígenas abandonaram a região.

4. Elas se concentram principalmente nos estados das regiões Nordeste e Norte.

5. a) Os principais núcleos concentravam-se na faixa costeira, fundamentalmente em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro.

b) Os núcleos de povoamento mais irregulares e dispersos se concentraram ao norte, ao longo dos cursos dágua; no sertão nordestino, em função da atividade de criação de gado; e ao sul, em tôrno das estâncias de gado do Rio Grande.

CAPÍTULO 18  A CRISE NO IMPÉRIO E AS REBELIÕES NA COLÔNIA

Na segunda metade do século dezessete, uma crise econômica afetou diversos países da Europa e, de maneira bastante intensa, Portugal.

A economia portuguesa dependia basicamente do comércio dos produtos procedentes de suas colônias. Porém, o preço do açúcar estava em queda no mercado europeu desde o final do século dezesseis. Expulsos do Brasil em 1654, os holandeses impulsionaram sua agroindústria açucareira instalada no Caribe, que passou a concorrer com o açúcar produzido na América portuguesa. Assim, o preço do açúcar caiu ainda mais e a principal fonte de renda da metrópole deixou de ser tão lucrativa.

Esses fatores contribuíram para que a Coroa portuguesa aumentasse o contrôle sobre todas as atividades econômicas coloniais. Além disso, os portugueses promoveram reformas institucionais e criaram órgãos de fiscalização do comércio e das atividades de exploração das riquezas da colônia. As ações geraram um clima de tensão entre os colonos, bem como insatisfações e revóltas.

Desenho em sépia. Vista geral de uma cidade. No plano inferior, ao centro, um pórtico de entrada em formato de um arco, em dois andares. Perto dele, pessoas em pé à esquerda, fora dos muros que envolvem o paço, e à direita, já dentro do paço, uma carruagem sendo levada por dois animais  e um homem à cavalo. Ao fundo, um pátio amplo com muitas pessoas em pé e outras sobre cavalos. À esquerda, borda de um rio com embarcações à vela vistas parcialmente. Mais ao fundo, construções grandes de três a quatro andares. Na ponta da esquerda, uma cúpula no alto de formato arredondado. À direita, ao fundo, uma torre, uma catedral e outras construções.
Paço da Ribeira. 1783. Reprodução de desenho de 1740. Museu de Lisboa, Portugal. O Paço da Ribeira, em Lisboa, Portugal, serviu como residência oficial dos monarcas portugueses entre os séculos dezesseis e dezoito, aproximadamente. Sua construção teve início em 1498. Era ali que ocorriam as cerimônias de aclamação dos monarcas portugueses e a maior parte das decisões do govêrno de Portugal, especialmente em relação às suas colônias na América.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Este Capítulo trata da crise econômica enfrentada por Portugal no século dezessete, que acabou impulsionando as medidas de contrôle colonial adotadas na América portuguesa, e das rebeliões na América portuguesa naquele período. Vale a pena retomar temas já estudados na Unidade seis deste volume, como o domínio holandês no Nordeste, a Restauração e a expulsão dos batavos da colônia em 1654. Sugerimos também comparar a Revolta do Maneta, a Revolta de Beckman e a Guerra dos Mascates e associá-las aos interesses locais no extenso império colonial português, que tentava sair de sua crise implementando medidas mais rígidas em relação à fiscalização e ao contrôle dos territórios no ultramar. Além disso, esses conflitos ocorridos na colônia entre os séculos dezessete e dezoito também evidenciavam o problema da mão de obra e o choque de interesses entre os colonizadores e a Igreja católica com relação aos indígenas.

Habilidades trabalhadas ao longo do Capítulo

ê éfe zero sete agá ih um zero: Analisar, com base em documentos históricos, diferentes interpretações sobre as dinâmicas das sociedades americanas no período colonial.

ê éfe zero sete agá ih um três: Caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo atlântico.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita o desenvolvimento inicial de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

Orientações

As riquezas vindas do império ultramarino português não resultaram em uma economia interna forte e estruturada. Muitos fatores explicam a fragilidade da economia portuguesa no século dezessete, como os gastos com a importação de gêneros alimentícios, como os cereais; um Estado dispendioso, que se endividava para manter uma numerosa burocracia; uma nobreza parasitária; e a falta de trabalhadores qualificados, como construtores de navios e artesãos.

A América portuguesa no fim do século dezessete

Em razão dos problemas financeiros enfrentados em Portugal, algumas medidas decretadas na América portuguesa afetaram a vida da população da colônia, como o aumento dos impostos, dos preços das mercadorias que eram trazidas da Europa e das taxas sobre os produtos que eram comercializados. Assim, no final do século dezessete e início do dezoito, as relações entre metrópole e colonos foram marcadas pela intensificação dos conflitos e pelas chamadas revóltas nativistas.

Esses movimentos de resistência expunham contradições entre os interesses dos representantes da metrópole e os dos colonos. Mas não existia entre os rebeldes uma consciência de ser “brasileiro”, pois ainda não havia sido consolidada uma ideia de identidade nacional ou um desejo de romper com Portugal. Os rebeldes se identificavam com os interesses dos grupos locais.

Segundo as historiadoras Lilia M. Chuárquis e Heloísa M. istárlin, diante das manifestações dos colonos, a Coroa portuguesa criou um vocabulário especial para designar o tipo de revolta e as punições específicas para cada caso:

No vocabulário da época, o emprêgo do termo “insurreição” designava uma população em cólera e com objetivos concretos e imediatos, à qual por vezes se uniam escravos. “Sedição” era a palavra para definir um ajuntamento de dez ou mais colonos armados que tinham a intenção deliberada de perturbar a ordem pública. Quando esse agrupamento chegava a mobilizar 30 mil pessoas, a coisa mudava de figura: estava instaurada a “rebelião”, um tipo perigosíssimo de evento em que havia ameaça de anarquia ou de guerra civil.reticências A nomenclatura podia variar, mas a natureza dos ajuntamentos era sempre política.

Chuárquis, Lilia M.; istárlin, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.página 133.

Pintura. Vista geral de local aberto. Na base da pintura, água do mar em azul, com ondas batendo forte sobre um muro  de pedras em tons de amarelo e marrom. Nas águas, canoas pequenas de madeira, cada uma com uma ou duas pessoas. Em uma delas, há um homem em pé, de costas, com blusa de mangas compridas vermelha e calça azul. À direita, uma canoa com duas pessoas, sentadas. Na ponta à direita, escadaria para embarque e desembarque. Em terra firme,uma praça ampla, e à direita, uma construção de pedra similar à do muro. Perto dessa construção, aglomeração de pessoas, mulheres e homens negros e mais à esquerda, perto do muro, alguns homens brancos, com chapéu sobre a cabeça. Em segundo plano, praça aberta, como um pátio onde há pessoas a cavalo se deslocando para a esquerda. Mais ao fundo, à esquerda, uma construção de três andares de paredes brancas de telhado de cor marrom avermelhada., o Paço imperial. No centro, três construções brancas similares a igrejas, com cruzes na parte superior. À direita, uma outra construção de paredes em branco e telhado marrom. Na parte superior, céu azul e nuvens brancas.
BÉREt, Víctor; Istáimem, Iôrram Iacób. Largo do Paço. 1834. Água-tinta colorida à mão, 23 por 30 centímetros. Coleção Brasiliana Itaú, São Paulo. O Largo do Paço, na área central da cidade do Rio de Janeiro, foi um importante local de desembarque de escravizados e mercadorias. No final do século dezessete, a Coroa portuguesa elevou os preços dos produtos manufaturados que desembarcavam na colônia.
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Texto complementar

O historiador Fernando Novais explica a seguir alguns aspectos relacionados à dependência da economia da metrópole da transferência de recursos da colônia para Portugal, principalmente através do exclusivo metropolitano.

À medida que se manifestava a defasagem econômica de Portugal em relação aos centros mais desenvolvidos da economia europeia, a questão tendia naturalmente a se agravar. Já em 1676, discutindo concessões ao comércio estrangeiro no Brasil, uma consulta do Conselho Ultramarino chamava a atenção para que “se houvesse de permitir que os navios estrangeiros vão fazer negócio aos portos das nossas conquistas, sem nenhuma dúvida se acabaria o pouco comércio que tínhamos porque nem lá haviam de ter nenhuma conta os nossos gêneros, nem aqui haviam de ter saída os nossos açúcares e tudo se perderia e o pior era que as mesmas conquistas se haviam de vir a perder porque a sua fertilidade havia de despertar a ambição das nações e a fraqueza dos nossos presídios há de facilitar o seu atrevimento. Logo, a mantença do exclusivo era vital; mas, atente-se bem a que não se afirma que o desatamento do laço exclusivista implicasse na dissolução da colônia como tal, mas sim que tal enfraquecimento prejudicaria a economia da metrópole, e no pior dos casos a colônia transitaria para outra metrópole, isto é, passaria a ser colônia de outra potência.

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1979. página 175.

Observação

É fundamental salientar para os estudantes que diante da crise econômica algumas medidas foram tomadas pelo govêrno português para intensificar o monopólio comercial, a intensificação da transferência de riquezas da colônia para a metrópole, garantindo assim os lucros da nação europeia. Ao trabalhar essa questão será possível desenvolver com os estudantes a habilidade ê éfe zero sete agá ih um três, que busca “caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo atlântico”.

A crise econômica do Império Português

Durante o século dezessete, a América portuguesa se expandiu para além das fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas (1494). No entanto, a ampliação dos domínios territoriais portugueses na América não significou o seu crescimento econômico. A grave crise que atingia a Europa, especialmente Portugal, tornou a metrópole cada vez mais dependente de sua colônia americana.

A crise que atingia Portugal estava diretamente relacionada à União Ibérica, que, como você estudou no Capítulo 15 deste volume, corresponde ao período em que Portugal e suas colônias estiveram subordinados à Coroa espanhola (de 1580 a 1640). Nesse período, Inglaterra e Holanda, inimigas da Espanha, atacaram muitas colônias portuguesas. Com isso, áreas importantes do Império Português na América foram perdidas e os territórios mantidos passaram a não proporcionar os mesmos lucros do passado. Fundamentalmente o que causou um grande déficit na balança comercial de Portugal foi a queda dos preços do açúcar e do tabaco.

Para agravar a situação, entre 1642 e 1661, a Coroa portuguesa foi pressionada a assinar tratados que concediam à Coroa inglesa vantagens comerciais como compensação pelo auxílio prestado na Guerra de Restauração, empreendida contra a Espanha, que pôs fim à União Ibérica. Com isso, os navios ingleses foram autorizados, a partir de então, a negociar nas colônias de Portugal, competindo diretamente com os comerciantes portugueses.

Gravura. Local aberto com chão de terra, pouca vegetação rasteira verde. No centro, uma moenda, aparelho de madeira, com duas hastes de madeira acopladas em dois bois, fazendo o aparelho rodar em torno de um eixo central. Perto de cada animal, um homem negro, guiando-o. No centro, três cilindros e ao lado deles, duas pessoas negras em pé, passando feixes de cana-de-açúcar pelos cilindros. Aos pés deles, um feixe de cana-de-açúcar no chão. Na base da gravura e ao centro, um homem trabalhando diante de um recipiente arredondado, bege, contendo um líquido amarelado. No canto inferior direito e esquerdo, dois grandes recipientes de cor azul. À esquerda, de frente para um barril, um homem negro e outro branco, observam o conteúdo do recipiente. À direita, perto do recipiente, três homens brancos, com chapéu grande sobre a cabeça, com capas grandes azuis e marrom.
Representação de escravizados africanos trabalhando em engenho de açúcar nas Antilhas holandesas. Século dezessete. Gravura, 10,4 por 16,5centímetros. Coleção particular. Expulsos do Brasil em 1654, os holandeses impulsionaram sua agroindústria açucareira nas Antilhas.
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Orientações

A assinatura de tratados comerciais com a Inglaterra, prejudiciais aos interesses portugueses, era a compensação imposta pela Coroa britânica pelo auxílio prestado a Portugal na guerra de Restauração, contra a Espanha, que pôs fim à União Ibérica. Com isso, a Inglaterra oferecia proteção política em troca de vantagens no comércio colonial.

Texto complementar

Sobre os conflitos e as disputas entre as nações europeias pelo domínio do comércio atlântico, leia o texto do historiador Evaldo Cabral de Mello:

Restaurado o domínio português no Nordeste, o conflito entre Portugal e os Países Baixos transferiu-se sobretudo para o campo diplomático, onde entroncou-se com as origens do predomínio britânico no Reino. reticências

A reação britânica não se fez esperar. À missão portuguesa incumbida de reatar as relações, os ingleses solicitaram o que posteriormente se designará por cláusula da nação mais favorecida, isto é, a extensão a seus nacionais dos favores consentidos aos neerlandeses. Os representantes de dom João quarto assentiram no artigo do tratado de Londres (29/01/1642) que previa negociações futuras sobre o emprêgo de navios ingleses no Brasil e sobre o comércio inglês na costa africana, onde o acôrdo reconheceu os direitos de que os súditos britânicos já gozavam ao tempo do domínio espanhol. reticências

reticências O problema vivido por Portugal ao longo da guerra com a Espanha podia ser encapsulado na interrogação: como preservar a independência, tendo em vista que a riqueza nacional dependia da segurança das comunicações com o Atlântico sul? Não podendo garanti-las, cumpria-lhe aliar-se a uma das grandes potências marítimas. reticências

MELLO, Evaldo Cabral de. O negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste (1641-1669). Rio de Janeiro: Tóp bucs, 1998.página 177-178.

Observação

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O aumento do contrôle metropolitano

Para garantir os lucros com o comércio de seus principais produtos agrícolas, a Coroa portuguesa promoveu uma série de reformas administrativas e a reorganização da exploração econômica na América, como o aumento do monopólio metropolitano, o que afetou diretamente os colonos.

Em 1642, foi criado o Conselho Ultramarino, órgão encarregado de ampliar o contrôlesobre os domínios coloniais. Com isso, produtos que antes eram comercializados livremente, como o tabaco, passaram a ser monopólio da Coroa.

Outras instituições criadas por Portugal foram a Companhia Geral de Comércio do Brasil (1649), que obteve o monopólio do comércio, principalmente, do vinho, do azeite, da farinha e do bacalhau, em regiões ao norte e ao sul da colônia; e a Companhia de Comércio do Estado do Maranhão (1682), encarregada de abastecer os proprietários do Maranhão com escravizados africanos. A companhia também tinha o monopólio de alguns produtos comercializados na região, como trigo, bacalhau e vinho.

Além disso, em 1696, foi decretado o fim da autonomia das Câmaras Municipais, que passaram a ser dirigidas pelos juízes de fóra, agentes diretos do rei. A Coroa incentivou ainda as manufaturas em Portugal e estimulou a organização de expedições em busca de metais e pedras preciosas na colônia.

Todas essas iniciativas revelavam o esfôrço do govêrno português para intensificar o contrôle de seu império ultramarino e, especialmente, de seus domínios americanos, na esperança de solucionar os graves problemas econômicos do reino.

Pintura. Vista do alto de um local com construções de dois pavimentos no centro,  à esquerda e à direita, paredes de cor branca, com inúmeras janelas retangulares, algumas com balcão. No centro, uma rua larga de cor marrom. Na rua, um homem branco de cabelos castanhos traje azul e chapéu em azul, montado sobre um cavalo. Atrás dele, uma pessoa negra, com um tecido branco em trono da cintura e, na mão esquerda, uma haste de madeira. À direita, um homem branco, de blusa de mangas compridas branca, calça da mesma cor e colete laranja, com uma bengala na mão esquerda e com a outra apontando para frente, onde há um grupo de adultos e crianças negras. Ao fundo, muitos grupos de pessoas negras, sentadas sobre o chão. algumas delas são observadas por pessoas brancas, vestidas com trajes europeus e chapéus pretos sobre as cabeças. Nos balcões das casas, algumas pessoas brancas observam a rua.
Váguena, . Mercado de escravos em Recife. cêrca de 1637. Aquarela. Museu de Gravuras e Desenhos, Berlim, Alemanha. Recife foi palco de um importante conflito no começo do século dezoito, que resultou em sua elevação a séde da capitania de Pernambuco.
Respostas e comentários

Orientações

Comente com os estudantes que, para driblar a crise econômica, a Coroa incentivou ainda as manufaturas em Portugal. Além disso, é interessante relembrar com eles que foi fundada a Colônia de Sacramento (1680), no território que atualmente pertence ao Uruguai, para facilitar o acesso à prata da América espanhola. Nesse sentido, a metrópole portuguesa estimulou também a organização de expedições para descobrir metais e pedras preciosas na colônia, que, no entanto, só seriam encontradas no final do século dezessete, na região de Minas Gerais (tema que será estudado na Unidade oito deste volume).

Observação

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O exclusivo metropolitano

O modêlo de política imperial das metrópoles, desde o século quinze, baseava-se no mercantilismo, isto é, no acúmulo de metais preciosos e na apropriação de riquezas dos domínios coloniais para aumentar o tesouro e o poder das Coroas europeias. O Pacto Colonial, ou “exclusivo metropolitano”, foi um instrumento da transferência sistemática das riquezas das colônias para os Estados europeus. Esse sistema proibia todo tipo de produção manufatureira nas colônias, até mesmo a publicação de livros ou jornais. Dessa fórma, as colônias eram obrigadas a comprar os manufaturados da metrópole.

Com a intensificação do contrôle português e a elevação dos preços dos produtos estrangeiros, o acesso a eles ficou mais difícil para a maioria da população – até mesmo o sal, que era um produto essencial para a conservação e o preparo dos alimentos, se tornou um artigo de luxo. Algumas revóltas eclodiram em decorrência da elevação do preço dessa mercadoria, como a Revolta do Sal, em 1710, na região da atual cidade de Santos.

Em 1703, os acordos entre Portugal e Inglaterra levaram à assinatura do Tratado de Methuen, que abriu uma brecha no sistema do Pacto Colonial. Em troca de proteção militar, Portugal concedeu à Inglaterra vantagens no comércio de suas manufaturas. Os portugueses venderiam vinho aos ingleses, que por sua vez forneceriam seus produtos têxteis, inclusive para a América portuguesa. Esse acôrdo possibilitou ao govêrno da Inglaterra ampliar enormemente os mercados consumidores de seus tecidos, entre outros produtos, e acumular grande volume de capitais, que puderam ser investidos posteriormente na mecanização de suas indústrias. A Inglaterra tornou-se, então, a maior potência europeia.

Gravura em preto e branco. No alto mar, em primeiro plano, inúmeras embarcações à vela, feitas de madeira, e dois pequenos botes de madeira, tripulados, movidos a remo, vistos de costas. À esquerda, uma embarcação maior, à vela, tripulada. Em segundo plano, na costa, uma praça aberta, grande com pessoas caminhando e uma cidade com construções, algumas delas sobre colinas. No alto, o céu e nuvens esparsas.
Vista de Lisboa, capital de Portugal. Século dezoito. Gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris. Estudiosos consideram que o Tratado de Methuen foi desfavorável aos portugueses, que se viram cada vez mais dependentes das importações da Inglaterra.
Respostas e comentários

Texto complementar

Em relação aos fatos que envolveram a Revolta do Sal, em 1710, na vila de Santos, o historiador Djón Manuel Monteiro escreveu:

No final de outubro de 1710, o poderoso proprietário de terras e de escravos Bartolomeu Fernandes de Faria saiu da sua fazenda Angola, próximo a Jacareí, e desceu a Serra do Mar, acompanhado por cêrca de 200 índios administrados e escravos africanos, fortemente armados. Ao chegar na vila de Santos, este paulista mandou arrombar os locais onde o sal do monopólio estava armazenado, levando este valioso gênero de volta para a Serra Acima, onde teria sido repartido entre os consumidores tão carentes do produto. Rápido e fulminante, o assalto não encontrou nenhuma resistência, apesar do recente refôrço da guarnição local que, paradoxalmente, estava sendo custeado por um imposto sobre a venda do sal. Se a guarnição tinha a tarefa específica de defender a praça contra eventuais visitas de corsários e outros aventureiros estrangeiros – pesadelo que se concretizou, brevemente, na invasão do Rio de Janeiro comandado por Diuguí Truán –, o invasor interno mostrava-se uma ameaça muito mais perigosa.

MONTEIRO, Djón Manuel. Sal, justiça social e autoridade régia: São Paulo no início do século dezoito. Tempo, Niterói, número 8, página1, agosto 1999.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página possibilita, novamente, o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o professor:

FIGUEIREDO, Luciano. Rebeliões no Brasil colônia. Rio de Janeiro: zarrár, 2005.

Essa obra propõe uma revisão das leituras tradicionais sobre as rebeliões organizadas no Brasil, mostrando como aquelas lutas contribuíram para o surgimento de uma nova identidade colonial.

Os colonos reagem ao contrôle comercial

Diante das manifestações que ocorriam na colônia, o govêrno português passou a temer a desintegração da América portuguesa. Entretanto, nenhuma dessas revóltas propunha a ruptura com Portugal ou questionava a condição colonial.

Em 1640, ocorreu na capitania do Rio de Janeiro um motim em consequência da decisão do papa de declarar livres todos os indígenas da América. No ano seguinte, em São Paulo, onde grande parte da mão de obra era de origem indígena e submetida ao trabalho escravo, os jesuítas se esforçaram para aplicar a decisão papal e acabaram sendo expulsos da vila pela população local, retornando apenas em 1653.

Na mesma época, a população das capitanias do Rio de Janeiro e de São Paulo protestou contra o aumento dos impostos. Essas reações não foram as únicas registradas no período. Em outras regiões, as revóltas envolveram as elites locais e expressavam disputas internas pelo poder.

Pintura. Vista geral de local aberto com chão de terra. No centro, à frente de uma igreja de cor clara com a torre do sino à direita, um homem loiro de barba comprida e bigode, com vestes cor de rosa está em pé. Ele é conduzido por um grupo de homens com vestes de cor preta, uns ajoelhados e outros em pé, dois deles com o braço direito levantado. À esquerda, na praça diante da igreja, há pessoas vistas de costas, uma delas, de blusa de mangas compridas, calça e botas, segura uma espada na mão direita.
Há um homem de costas, de cabelos castanhos, com blusa vermelha, calça marrom e botas de cano alto marrom. Na ponta esquerda, uma mulher com véu branco sobre a cabeça, vestido de mangas bufantes e resto do vestido em amarelo e verde. 
À direta, há outras pessoas, sobretudo homens. Um deles, de armadura de metal, segura uma lança na vertical e, mais ao fundo, há homens e mulheres em pé, observando o homem que sai da igreja. Na parte superior da imagem, o céu azul claro com nuvens brancas.
SILVA, Oscar Pereira da. A renúncia de ser rei Aclamação de Amador Bueno. 1931. Óleo sobre tela, 65 por 87 centímetros. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo. A reação ocorrida em São Paulo, em 1641, desafiou o domínio monárquico português ao aclamar o fazendeiro Amador Bueno como “rei” da capitania de São Paulo.
A Revolta de Bécman (1684-1685)

A falta de mão de obra tornou-se um problema para os colonos do Maranhão. Eles não podiam escravizar os indígenas, pois a prática foi duramente combatida pelos jesuítas e proibida em 1680. Além disso, alguns produtos que eram monopólio da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão não chegavam à região, e os preços das mercadorias vindas da metrópole aumentavam constantemente.

Em decorrência dessa situação, em 1684, eclodiu uma revolta liderada pelos irmãos e senhores de engenho Manuel e tômas béquiman, com o apôio dos proprietários de terra. Os revoltosos ocuparam o depósito da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão, prenderam os jesuítas, depuseram o governador e nomearam Manuel Bécman o chefe do novo govêrno.

O movimento foi sufocado pelas fôrças da Coroa. Em novembro de 1685, o líder Manuel Bécman e seu parceiro Jorge Sampaio foram executados; e os outros envolvidos, presos ou condenados ao degredo (exílio imposto aos criminosos).

Respostas e comentários

Orientações

É importante destacar que as revóltas que ocorreram na colônia nos séculos dezessete e dezoito tinham motivação local e circunstancial, ou seja, não havia um sentimento de unidade nacional. Comente com os estudantes que os revoltosos questionavam aspectos da administração metropolitana, porém não reivindicavam a ruptura com Portugal. Além das revóltas citadas, muitas outras eclodiram em várias regiões da colônia, como nas atuais regiões de São Paulo e do Nordeste.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página incentivam a reflexão sobre as revóltas organizadas na colônia ao longo do século dezessete, promovendo discussões sobre a dinâmica das sociedades americanas em face do domínio colonial. Isso possibilita o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero.

A Revolta do Maneta (1711)

Disputas entre França e Inglaterra levaram os franceses a atacar Portugal, principal aliado dos ingleses, invadindo sua colônia americana. Os franceses chegaram ao Rio de Janeiro e, para não atacar a cidade, exigiram uma quantia exorbitante em dinheiro, açúcar e bois. Temendo os ataques franceses à colônia, a população da capital, Salvador, reivindicou a organização de uma tropa para combater os franceses. A Coroa decidiu transferir os custos da ação para os colonos, aumentando os impostos sobre o comércio do sal e sobre a compra de escravizados africanos. Insatisfeitos, populares de Salvador, sob a liderança do comerciante João Figueiredo da Costa (conhecido como Maneta), iniciaram o levante. Os revoltosos conseguiram a suspensão temporária dos tributos pagos à Coroa, além da redução do preço do sal. No entanto, as principais lideranças foram punidas com açoite e confisco dos bens.

Ícone. Sugestão de site.

PétquéstHistória rréchitégui (cerquilha, sustenido)22: os Motins do Maneta: série revóltas do Brasil. [Roteiro e locução: Felipe Camargo]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 30 abril 2021. Podcast. Disponível em: https://oeds.link/e5hQj6. Acesso em: 9 abril. 2022. No podcast, produzido por estudantes do programa de História da Universidade Federal Fluminense, é possível acompanhar uma análise sobre a Revolta do Maneta.

A Guerra dos Mascates (1710-1711)

No início do século dezoito, Recife era um importante centro econômico da capitania de Pernambuco, mas não tinha o título de vila. Os comerciantes que lá moravam ficavam submetidos às decisões tomadas pelos fazendeiros da vizinha Olinda.

Insatisfeitos com a situação, os comerciantes de Recife, chamados de mascates, começaram a exigir participação no govêrno local. Em 1710, por ordem real, Recife foi elevado à categoria de vila.

Afrontados com tal medida, os senhores de engenho de Olinda proclamaram uma revolta armada e marcharam em direção a Recife, dando início ao conflito que posteriormente ficou conhecido como Guerra dos Mascates. Seguiu-se uma série de enfrentamentos, com o apôio das tropas da Coroa, que culminaram na vitória dos mascates e na elevação de Recife a séde da capitania de Pernambuco, em 1711.

Pintura. Vista de um  local aberto. Em primeiro plano, uma construção como um galpão de formato retangular com as laterais abertas, sustentado por vigas de madeira, coberto por um telhado de telhas de cor vermelha e, no centro do galpão, uma moenda movida com uma engrenagem redonda disposta na horizontal, acoplada a uma outra, menor, na vertical. À frente dessa construção, há um grupo de homens negros em pé, vistos de costas, trabalhando: um deles usa camisa branca, colete escuro e calça curta bege e outro, blusa azul e calça branca.  Ao lado deles, um grande cesto cor de palha. À esquerda, em frente à construção uma pilha de caules amarelos de cana-de-açúcar colhida e cinco homens em pé, fora da estrutura. À direita, ao fundo, no alto de um morro, mais elevado que o restante dos itens representados, uma casa de dois anadares com paredes de cor bege, telhado coberto por telhas cor de terracota, uma varanda no primeiro andar, portas e janelas retangulares.  à esquerda dessa casa, outra construção, menor, com uma pequena cruz  no alto do telhado, como uma capela. Entre as construções, algumas palmeiras. À esquerda, ao fundo, uma planície coberta de vegetação. No alto, o céu iluminado.
Pôst, Frens. Engenho. 1661. Óleo sobre madeira (detalhe). 45,7 por 71,3 centímetros. Instituto Ricardo brenãn, Recife.

Ler a pintura

• Nesta pintura, o artista holandês frãns pôst representou construções e personagens que integravam o cotidiano de um engenho do Nordeste no Brasil colonial. Quais construções e personagens você identifica?

Respostas e comentários

Orientações

Explique aos estudantes que, embora as tensões com a França tenham servido como pano de fundo para a Revolta do Maneta, foi o aumento dos impostos sobre o sal e sobre a compra de escravizados que desencadeou o levante.

Segundo o Dicionário do Brasil colonial (1500-1808), organizado por Ronaldo Vainfas, o conflito travado entre a nobreza de Olinda e os mercadores portugueses de Recife só recebeu o nome “mascate” no século dezenove, em razão de uma novela escrita por José de Alencar, chamada Guerra dos Mascates (1870). Até então, o movimento era conhecido como “sedição” ou “alterações em Pernambuco”.

Resposta

Ler a pintura: Na imagem, o artista representou a capela e a casa-grande, no alto, e algumas instalações da fábrica do açúcar, em primeiro plano. Entre elas aparecem a moenda e a roda-dágua, equipamento que aproveitava afôrça da água para moer a cana. Quanto aos personagens, foram representados trabalhadores, provavelmente negros escravizados, e alguns homens brancos. Ao trabalhar a leitura dessa pintura será possível desenvolver com os estudantes parte da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero.

Observação

O trabalho com os conteúdos desta página incentiva a reflexão sobre revóltas organizadas na colônia, desta vez ao longo do século dezoito, promovendo novamente algumas discussões sobre a dinâmica das sociedades americanas em vista do domínio colonial. Isso possibilita o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

Bóquisser, Chárles R. O império marítimo português (1415-1825). São Paulo: Edições 70, 2011.

Nesta obra, charles bóquiser aborda a evolução do império marítimo português desde as primeiras viagens durante as chamadas Grandes Navegações, no início do século quinze, até meados do séculodezenove.

FRAGOSO, João. Na trama das redes: política e negócios no Império Português, séculos dezessete-dezoito. São Paulo: Civilização Brasileira, 2010.

A obra apresenta uma série de artigos que tratam da formação da monarquia portuguesa e, posteriormente, do próprio Império Português.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Multiculturalismo.

O Estado do Grão-Pará e o Estado do Brasil

Em 1621, com a criação do Estado do Grão-Pará e Maranhão, cuja capital era São Luís, a América portuguesa passou a ter duas unidades administrativas. A outra unidade administrativa, chamada de Estado do Brasil, tinha sua capital em Salvador. É provável que o objetivo dessa divisão fosse incrementar as atividades econômicas e a defesa militar da área, que hoje corresponde a parte das regiões Norte e Nordeste. Somente no século dezenove, o Estado do Grão-Pará e Maranhão foi integrado ao Estado do Brasil.

O tamanho do território do Estado do Grão-Pará e Maranhão variou ao longo do tempo; em sua máxima extensão, abarcou parte do território dos atuais estados de Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima.

A região era produtora de uma ampla variedade de produtos, como arroz, cacau, café, algodão, cravo, canela, urucum e castanha, ao contrário de outras áreas da América portuguesa, que estavam organizadas em grandes propriedades agrícolas monocultoras.

Muitas manifestações culturais se desenvolveram no Estado do Grão-Pará e Maranhão. Um exemplo é o carimbó, um ritmo musical com influências indígenas e africanas, disseminado a partir do século dezesseis. Por ser uma manifestação ainda muito viva e que integra a identidade dos habitantes do atual estado do Pará e do baixo Amazonas, em especial de Santarém, o carimbó recebeu, em 2014, o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil.

O termo “carimbó” designa o instrumento musical denominado curimbó, tambor feito de um tronco internamente escavado, onde em uma das extremidades é colocado couro curtido. A palavra carimbó ou korimbó, inclusive, seria fruto da união de duas palavras de origem tupi, curi (madeira, pau oco) e imbó (furado, escavado). reticências

reticências

O tocador do instrumento senta-se em cima do curimbó e, com as mãos, “bate” o tambor com a marcação rítmica característica da manifestação. reticências

FUSCALDO, Bruna Muriel Huertas. O carimbó: cultura tradicional paraense, patrimônio imaterial do Brasil. Funárti. Revista cê pê cê, São Paulo, número 18,página 81-105, dezembro 2014/abril. 2015. página 83-84.

  1. Por que o carimbó foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil?
  2. Quais são as influências culturais do carimbó?
  3. A palavra “carimbó” relaciona-se com o uso de um objeto que tem papel de destaque nessa manifestação cultural. Explique.
Fotografia. Vista de um lugar aberto com chão de terra. Em segundo plano, árvores de  folhas verdes e à direita, uma casa de madeira branca com  telhado coberto por telhas de cor marrom. Em uma linha horizontal, em primeiro plano, sobre o chão de terra um grupo de meninas e de meninos, em pé, dançando. As meninas tem cabelos compridos castanhos, saia rodada até os tornozelos estampadas com o fundo vermelho  flores azuis. Vestem blusas brancas de ombro a ombro e estão em movimento, rodando suas saias. Os meninos usam chapéu de palha na cor bege sobre a cabeça, camisetas e bermudas.  No alto, o céu nublado.
Jovens dançando carimbó na comunidade quilombola de Mangabeira, no município de Mocajuba, no Pará. Fotografia de 2020.
Respostas e comentários

Orientações

O carimbó é uma manifestação cultural que influencia diversos artistas e grupos musicais populares da atualidade. A lambada, o zúqui e o próprio tecnobrega também possuem, reconhecidamente, influência do carimbó. Considerando essa temática, destacamos que o conteúdo desta seção aborda, mais uma vez, o tema contemporâneo Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Respostas

1. Porque o carimbó é uma manifestação importante da identidade cultural paraense e reúne diversas tradições dos povos que habitaram a região do Pará e amazônica.

2. O carimbó reúne tradições indígenas, africanas e portuguesas.

3. A palavra “carimbó” tem origem na língua indígena, na expressão “curimbó”, que significa pau oco que produz som. Os tambores feitos com troncos de árvores fornecem a base rítmica da dança, por isso o instrumento musical percussivo tem papel de destaque no carimbó.

Observação 

O trabalho com os conteúdos desta página incentivam a reflexão sobre manifestações culturais na América portuguesa e suas origens, possibilitando o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Leia o trecho de um documento redigido pelo Conselho Ultramarino em 1712 e enviado ao rei de Portugal, informando o motim deflagrado na colônia, que ficou conhecido como Revolta do Maneta, na Bahia.

Vendo-se neste Conselho a carta inclusa do governador e capitão geral do Estado do Brasil, reticências em que dá conta a Vossa Majestade que poucos dias depois de haver tomado posse daquele govêrno, se alterara o povo daquela praça da Bahia tumultuosamente, com a notícia das novas imposições que Vossa Majestade mandava impor de novo, não querendo aceitar as dos dez por cento das fazendas que fossem deste Reino, nem os seis mil réis em cada escravo que fosse por negócio, para as minas, e da mesma maneira o acrescentamento do preço do sal que Vossa Majestade permitira ao contratador dele reticências.

PARECER do Conselho Ultramarino. In: DOCUMENTOS Históricos: Consultas do Conselho Ultramarino, Rio de Janeiro, Bahia (1721-1725), Pernambuco e outras capitanias (1712-1716). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1952.volume 96.página 41-42.

  1. Quais foram os motivos da revolta popular citados no texto?
  2. De acôrdo com o que você estudou no Capítulo e suas reflexões após a leitura do texto citado, qual era a função do Conselho Ultramarino criado pela Coroa portuguesa?

2. O texto a seguir analisa a situação da economia portuguesa no final do século dezessete. Leia e responda às questões.

A economia portuguesa dependia sobretudo da reexportação do açúcar e tabaco brasileiros, e da exportação dos produtos portugueses – sal, vinhos e frutas – para pagar as importações de cereais, tecidos e outros produtos manufaturados. O valor dessas exportações nunca foi suficiente para pagar o das importações; e a situação da balança de pagamentos portuguesa tornou-se cada vez mais crítica com o aparecimento da produção açucareira das Índias Orientais inglesas e francesas [Antilhas] que começou a competir com a brasileira, mais antiga.

Bóquisser, Chárles . O império marítimo português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 1994. página 155.

  1. Segundo o texto, quais eram os principais produtos exportados e importados por Portugal?
  2. Por que a metrópole não conseguia equilibrar sua balança comercial? O que contribuiu para o agravamento dessa situação?
  1. A Revolta de Bécman e a Guerra dos Mascates tiveram como objetivo questionar o domínio colonial português no Brasil? Explique.
  2. Leia o texto a seguir, sobre a Revolta de Beckman. Depois, reunidos em grupos, respondam às questões propostas.

Bequimão contra o monopólio. Em um trecho das sátiras atribuídas a Gregório de Mattos, a situação da carestia colonial diante do regime de comércio aparece com a contundência habitual. Da Bahia, o poeta se interroga: se a frota portuguesa “não traz nada/ Por que razão leva tudo?/ reticências frota com a tripa cheia,/ e povo com pança !”.

Mas foi no Maranhão, com pouco humor e muita violência, que um dos primeiros ensaios da resistência ao monopólio das companhias de comércio foi escrito. reticências

reticências

O protesto armado explodiu na madrugada de 24 de fevereiro de 1648, com planos de, numa só tacada, expulsar os assentistas e os jesuítas e depor o governador e capitão-mor. Os amotinados seguiam “pelas principais ruas, batendo em todas as portas, e agregando a si, bem ou mal armados, os moradores”, segundo o historiador João Francisco Lisboa. Com o apôio da infantaria e dos estudantes, “meninos das escolas”, trancafiaram os jesuítas em seu Colégio, deixando-os sob vigia, e tomaram a “casa do estanco”, prédio que armazenava os gêneros sob monopólio.

FIGUEIREDO, Luciano. Rebeliões no Brasil colônia. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2005. página 50-51.

  1. Qual é a crítica contida nos versos do poeta Gregório de Mattos (1636-1696)?
  2. Segundo o autor do texto, a revolta no Maranhão eclodiu como um episódio de resistência ao monopólio da Companhia de Comércio na região. Explique os motivos da revolta dos colonos em relação ao órgão criado pela Coroa portuguesa.
  3. Por que os revoltosos do Maranhão se voltaram contra os padres jesuítas?
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objeto de conhecimento

As lógicas mercantis e o domínio europeu sobre os mares e o contraponto Oriental.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero sete agá ih um zero (atividades 1, 3, 4)

ê éfe zero sete agá ih um três (atividades 1, 2, 4)

Respostas

1. a) Os motivos que levaram a população da Bahia a se rebelar, dando início à Revolta do Maneta, foram as imposições feitas pela Coroa portuguesa, como a do aumento dos impostos cobrados sobre os escravizados e do preço do sal.

b) O Conselho Ultramarino era um órgão encarregado de ampliar o contrôle sobre os domínios coloniais. Com a criação desse órgão, produtos que antes eram comercializados livremente, como o tabaco, passaram a ser monopólio da Coroa de Portugal.

2. a) Portugal importava cereais, tecidos e outros produtos manufaturados. Exportava sal, vinhos e frutas produzidos em Portugal e reexportava os produtos da sua colônia.

b) A metrópole não conseguia equilibrar sua balança comercial porque os valores recebidos pelas importações não eram suficientes para pagar os gastos com as importações, o que se agravou com a concorrência da produção açucareira das Índias Orientais inglesas e francesas (Antilhas).

3. Não. No Maranhão, os revoltosos questionavam o monopólio da Companhia do Comércio do Maranhão e a influência dos jesuítas. Em Pernambuco, as camadas dominantes de Olinda e de Recife lutavam pelo contrôledo poder político local. Entretanto, nenhum dos movimentos propôs a ruptura com Portugal.

4. a) O poeta critica de fórma sarcástica a ação dos portugueses, que levam tudo com suas frotas, deixando o povo de barriga vazia. Os versos sintetizam a atuação das companhias de comércio que detinham o monopólio das atividades comerciais, mas prejudicavam o consumo e o abastecimento interno com a elevação dos preços, causando uma grave carestia.

b) É esperado que os estudantes compreendam que alguns produtos que eram monopólio da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão acabavam nem mesmo chegando à região. Além disso, com a criação desse órgão, os preços das mercadorias vindas da metrópole aumentavam constantemente.

c) No Maranhão, a falta de mão de obra era um problema. Contudo, os colonos não podiam escravizar os indígenas, pois a prática foi duramente combatida pelos jesuítas e proibida em 1680.

Ícone. Ilustração do globo terrestre circundado por uma linha amarela, simulando a trajetória da Lua em torno do planeta, indicando a seção Ser no mundo.

Ser no mundo

Multiculturalismo. Cidadania e Civismo.

A educação indígena nos dias atuais

Você estudou nesta Unidade alguns aspectos relacionados à catequização dos indígenas e à educação jesuíta estabelecida nos colégios e nas missões. Refletiu também sobre os impactos desse processo na vida, nos costumes e nas tradições indígenas.

Ao longo do tempo, muita coisa mudou. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que a educação indígena deveria ser reconhecida e estimulada. Assim, começou a ser desenvolvida uma política educacional diferenciada para os povos indígenas, com escolas em cada comunidade que possibilitam o ensino bilíngue, do português e das línguas indígenas maternas. As crianças indígenas, dessa fórma, podem estudar conteúdos comuns às escolas não indígenas, porém com um currículo específico, que inclui a cultura, os valores e a história do seu povo.

Na Terra Indígena Guarani Tenondé Porã, no bairro de Parelheiros, na cidade de São Paulo, por exemplo, há duas escolas indígenas: uma municipal, que atende crianças de 0 a 6 anos, e outra estadual de ensino Fundamental e Médio. Nessas escolas, os estudantes têm aulas de guarani e de língua portuguesa e estudam o currículo oficial de maneira integrada à cultura e às práticas de seu povo.

Leia, a seguir, o depoimento de um indígena do Parque Indígena do Xingu sobre a sua visão de educação, registrado no começo da década de 1990:

Festa de antigamente, história de antigamente, nós nunca vamos esquecer. A escola mesmo deve ajudar nisso aí, ensinando as crianças a escrever as histórias, porque os velhos vão morrendo e vão levando as histórias. Criançada, rapaziada, conta histórias e a gente escreve, faz livro, lê para as crianças. Aí aprende mais e usa aquilo que já aprendeu; para não esquecer.

SUYÁ, Itoni apud bitêncur, CirceMaria Fernandes; SILVA, Adriane Costa da. Perspectivas históricas da educação indígena no Brasil. In: PRADO, Maria Ligia Coelho; VIDAL, Diana Gonçalves. À margem dos 500 anos: reflexões irreverentes. São Paulo: êduspi, 2002. página 69.

Fotografia. Dentro de uma sala de aula com paredes feitas de tábuas de madeira branca, três meninas indígenas, de cabelos longos, lisos e pretos, com franja sobre a testa e um menino indígena de cabelos pretos, lisos e curtos estão sentados diante de carteiras escolares. As meninas usam camiseta de cor branca com detalhes em azul. O menino está com o torso nu. Sobre as carteiras livros abertos e folhas de papel, nas quais escrevem. A menina no centro da imagem, olha para anotações de uma folha. Ao lado desta, à direita, em pé, um homem indígena de cabelos pretos lisos e curtos, vestido com camiseta branca com detalhes em azul e bermuda vermelha. Ele segura uma folha com a mão esquerda e com a direita aponta para as anotações sobre a carteira da menino no centro. Ele está com a cabeça reclinada olhando para as anotações, assim como as três meninas, olhando suas anotações. Apenas o menino olha para o lado.
Escola indígena Kalapalo, localizada no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. Fotografia de 2018.
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Seção Ser no mundo

Em consonância com a Competência Geral da Educação Básicanúmero 9, esta seção incentiva os estudantes a exercitar a empatia e o diálogo, promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

O trabalho aqui proposto também possibilita o desenvolvimento das Competências Específicas do Componente Curricular História número1 e número 4, fazendo com que o estudante possa Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (1) e Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (4).

Além disso, destacamos que o conteúdo desta seção aborda, mais uma vez, o tema contemporâneo Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras. Aqui também encontra-se uma boa oportunidade para trabalhar o tema contemporâneo Educação em Direitos Humanos.

Habilidade

ê éfe zero sete agá ih zero nove: Analisar os diferen­tes impactos da conquista eu­ropeia da América para as po­pulações ameríndias e identi­ficar as fórmas de resistência.

Uma novidade bastante positiva dos dias atuais é que muitos jovens indígenas conseguem dar continuidade a seus estudos e ingressam em universidades. Na década de 2010, o número de indígenas no Ensino Superior (ou seja, em universidades e faculdades) cresceu 695%, de acôrdo com informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inépi). O acesso dos jovens indígenas ao Ensino Superior pode transformar e enriquecer a realidade indígena e a relação entre indígenas e não indígenas.

Atualmente muitos jovens indígenas têm procurado a formação universitária em diversas áreas como fórma de participar e intervir nas decisões e nos debates públicos da sociedade, defendendo seus direitos e suas culturas. Muitos exemplos podem ser citados, como é o caso de Chikinha Paresi, do povo Paresi. Formada em História, ela desenvolveu seu mestrado em Educação e doutorado em Antropologia Social. Também atua na construção de políticas públicas de educação escolar indígena. Leia o texto a seguir sobre sua trajetória.

Chikinha Paresi orientou sua militância ao campo da educação escolar indígena, como professora e como gestora de políticas públicas. Tornou-se uma das principais referências nacionais na construção de novos paradigmas da educação indígena “específica, diferenciada, bilíngue e intercultural”reticências

Com essa trajetória acumulada, a sua tese de doutorado no Museu Nacional aborda os novos desafios das escolas indígenas diante de um panorama onde houve avanços inquestionáveis na formação de professores indígenas, no protagonismo indígena na gestão e administração escolar, nas dinâmicas do ensino na língua e da construção curricular, bem como nos processos diferenciados de ensino e aprendizagem.

APARICIO, Miguel. Indígenas que subvertem a velha divisão entre antropólogos e nativos. Nexo: políticas públicas, 12 julho 2021. Disponível em: https://oeds.link/RQrS0o. Acesso em: 9 fevereiro 2022.

  1. Em linhas gerais, como é o currículo de uma escola indígena? Por que as escolas indígenas têm um currículo específico?
  2. Na sua opinião, por que a educação escolar indígena é importante?
  3. De acôrdo com o texto citado sobre a atuação de Chikinha Paresi, em que sentido o protagonismo indígena é importante na construção das escolas indígenas?
Fotografia. Retrato de uma mulher indígena vista da cintura para cima, com o corpo voltado para a direita. De cabelos longos e pretos, ela usa uma blusa regata de cor branca, está com o braço  flexionado, segurando nas mãos um objeto com inúmeras sementes esféricas cortadas ao meio de cor marrom que forma uma espécie de cacho. Sobre a cabeça, usa um cocar grande de penas coloridas de cor verde com as pontas em verde claro e, no centro, três penas grandes vermelhas. Ela olha para cima e sorri. Ao fundo, local de mata densa, de folhas verdes.
Márcia Uáina Kambeba é poeta e cursou Geografia na Universidade do Estado do Amazonas () e fez mestrado na Universidade Federal do Amazonas (ufãm). Fotografia de 2021.
Respostas e comentários

Respostas

1. Nas escolas de comunidades indígenas, as crianças estudam tanto componentes curriculares tradicionais, ensinados nas escolas não indígenas, quanto conteúdos específicos, relacionados à história e à cultura de seu povo. Os estudantes indígenas têm, por exemplo, aulas de língua portuguesa e de guarani, configurando um ensino bilíngue. Além disso, as escolas têm um currículo específico para contemplar o universo cultural indígena.

2. É esperado que os estudantes considerem a importância da educação indígena, que representa uma ferramenta que esses povos têm para participar e intervir nas decisões e nos debates públicos da sociedade, defendendo seus direitos e suas culturas.

3. Para Chikinha Paresi, uma das facetas do protagonismo indígena na educação está na gestão e administração escolar, que devem ser feitas pelos próprios povos indígenas. Desse modo, as dinâmicas do ensino na língua e da construção curricular, bem como processos diferenciados de ensino e aprendizagem das escolas indígenas, podem ser realizadas levando em consideração as ideias, as necessidades, as trajetórias e as culturas dos próprios indígenas.

Questões para autoavaliação

Nesta Unidade do livro, as questões sugeridas para autoavaliação – e que podem ser utilizadas, a seu critério, para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estudantes – são:

1. De que maneira os jesuítas realizaram a cristianização dos nativos na América?

2. Como a pecuária contribuiu para a expansão das fronteiras da América portuguesa?

3. Como bandeirantes e monçoeiros contribuíram para a expansão da América portuguesa?

4. O que explica as dificuldades econômicas do reino português a partir de meados do século dezessete?

5. Como os colonos reagiram em relação ao aumento da cobrança de impostos e do contrôle econômico português na colônia?

Glossário

Topografia
Descrição exata e pormenorizada de um terreno, de uma região, com todos os seus acidentes geográficos.
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Etnia
Etnia indígena é uma comunidade que se identifica como diferente da sociedade nacional, que tem afinidades linguísticas, culturais e sociais e descende das sociedades pré-coloniais.
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