UNIDADEum REVOLUÇÕES NA INGLATERRA

Fotografia. Vista geral de local aberto em ambiente urbano. Destaque para o Palácio de Westminster ocupando o centro e a parte superior da imagem. No canto inferior esquerdo, há um rio, visto parcialmente. Às margens desse rio, um píer para embarcações, com cobertura e assentos. Atrás do píer, uma calçada com pedestres correndo e caminhado, ladeada por árvores altas de folhas verdes e tronco marrom. Mais ao fundo, o Palácio de Westminster, construção de estilo gótico, de base retangular com dois andares e torres de formato quadrado nas laterais, fachada de cor bege feita de pedra, com esculturas e telhado de cor cinza.  Por toda a fachada do palácio, há fileiras horizontais de janelas dispostas lado a lado. 
Em segundo plano, em destaque nessa fotografia vertical, duas torres mais altas que as demais, em bege. Na torre da direita, a mais alta,  há um relógio redondo de fundo branco ponteiros e números em preto, marca a hora: por volta de sete e trinta. 
Na torre da esquerda, mais baixa, quatro pequenas cúpulas arredondadas estão em cada uma das pontas do quadrado formado no topo da torre. Há também uma cúpula arredondada mais alta no centro do topo da torre e uma haste fina desponta do centro dela. Nessa haste está hasteada a bandeira do Reino Unido, vista de lado.
O Palácio de Westminster foi construído no século dezenove e é a séde do Parlamento do Reino Unido. Considerado Patrimônio Mundial da Humanidade, abriga o famoso relógio Big Ben em uma de suas tôrres. Está localizado à beira do rio Tâmisa, em Londres, na Inglaterra. Fotografia de 2020.

Você estudará nesta Unidade:

As revoluções inglesas

O pioneirismo inglês na Revolução Industrial

As mudanças sociais decorrentes da industrialização

Os impactos da Revolução Industrial no mundo

Fotografia. Vista um local fechado com paredes ornadas com retângulos dispostos na vertical formando longas fileiras, cada um dos retângulos contendo figuras em alto relevo dourado, entre as quais, os leões do Brasão de Armas da Inglaterra e frisos florais. À esquerda e à direita, duas colunas estreitas, também douradas e com figuras em alto relevo.  Em cada uma das colunas, uma escultura dourada representando um anjo de longas asas. No centro, entre as colunas douradas, há um trono dourado ornamentado com pedras e de estofado vermelho.  O trono está em um patamar mais elevado, o chão coberto por um tapete vermelho, com flores brancas e leões dourados estampados à esquerda e no centro e à direita, somente vermelho, sem estampas. Sentada no trono, uma mulher idosa de cabelos curtos e brancos, olhos claros, usando óculos, brincos e colares de pérolas, com um chapéu de abas azul claro com penas e detalhes dourados; vestida com um casaco longo de botões fechados azul claro, saia abaixo dos joelhos de fundo branco com estampa de flores, usando luvas brancas e sapatos pretos.  À direita, uma mesa com toalha de veludo vermelho com bordados dourados com um papel branco sobre ela.  Nas extremidades da imagem, há dois homens.  Um deles, à esquerda, está em pé. Ele tem cabelos castanhos e curtos, usa uma casaca militar vermelha com bordados dourados, calça e sapatos pretos, máscara de proteção preta sobre o rosto, segura uma espada na posição vertical com uma das mãos, a outra mão estendida ao longo do corpo. À frente dele há uma mesa pequena de madeira entalhada com uma almofada vermelha sobre a qual há uma coroa prateada incrustada com pedras brilhantes. À direita, em um patamar mais baixo, um homem sentado sobre uma cadeira com detalhes esculpidos em dourado. Ele tem os cabelos grisalhos e curtos, os olhos claros, usa uma máscara de proteção preta sobre o rosto e está vestido com uma camisa branca, gravata cinza e terno preto.
A rainha Elizabeth II (1926-2022), então chefe de Estado do Reino Unido, em cerimônia de abertura do Parlamento, em maio de 2021, no Palácio de Westminster. Elizabeth II foi coroada em 1953, após a morte de seu pai, o rei Jorge IV, e teve o reinado mais longo da história do Reino Unido.
Fotografia. Dentro de uma sala de paredes de cor verde-água com boiserie em branco, há uma lareira branca, poltronas de cor bege, um sofá em bege claro, um tapete marrom e bege, espelhos de molduras douradas, abajures, porta-retratos com fotografias e vasos com arranjos de flores. No centro da sala, duas pessoas, uma de frente para a outra, estão com as mãos  atrás do corpo, entrelaçadas atrás do quadril e sorriem.  À esquerda, um homem alto, loiro de cabelos curtos, visto de lado, que usa camisa branca, terno  azul escuro, gravata azul e sapatos pretos.  À direita, uma mulher idosa de cabelos curtos e brancos, usando brincos e colares de pérolas,  um conjunto de saia e blusa de mangas compridas azul claro e sapatos pretos.  Ao fundo, um quadro de paisagem campestre na horizontal e, sobre a lareira, um espelho de moldura dourada. Na prateleira sobre a lareira, há um relógio ao centro, ladeado por dois vasos e duas estátuas representando aves.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Dionsan, se reúne com a rainha Elizabeth segunda no Palácio de Buckingham, em Londres, na Inglaterra, durante a pandemia da covíd-19, em 2021. De acôrdo com o protocolo político oficial da Inglaterra, o primeiro-ministro, ao tomar posse, é designado pela rainha para constituir um novo govêrno.

A monarquia parlamentar foi instituída na Inglaterra no final do século dezessete, após a Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa. Com isso, o poder do monarca foi limitado pelo Parlamento e a influência política da burguesia sobre o govêrno se ampliou. Os burgueses ganharam mais liberdade para expandir suas atividades econômicas e esse cenário criou condições para que a Revolução Industrial ocorresse na Inglaterra.

Você sabia que a monarquia parlamentar ainda é a fórma de govêrno na Inglaterra? Quais são o papel da rainha e o do primeiro­‑ministro em uma monarquia parlamentar?

CAPÍTULO 1  AS REVOLUÇÕES POLÍTICAS

Entre os séculos dezesseis e dezessete, a Inglaterra se afirmava como uma grande potência política e econômica mundial. Diversos fatores contribuíram para o desenvolvimento da economia inglesa, entre eles a expansão do comércio marítimo e da indústria naval, a conquista de territórios e a concentração de riquezas. Esses fatores foram responsáveis por impulsionar o pioneirismo industrial inglês, que acelerou o ritmo de produção e ampliou o comércio. Houve ainda, nesse período, o aumento da produção de carvão mineral, que possibilitou o fornecimento de combustível para as indústrias nascentes.

No plano político também ocorreram mudanças importantes na Inglaterra. As estruturas remanescentes da velha ordem feudal foram derrubadas por movimentos revolucionários, que instauraram um novo regime de poder. As relações entre a população e a monarquia inglesa começaram a se alterar profundamente, criando um ambiente propício para outras fórmas de organização da sociedade.

Esse conjunto de transformações favoreceu o fortalecimento econômico e político inglês, com o acúmulo de capitais, que puderam ser investidos no desenvolvimento industrial, e com a nova configuração das bases de poder do Estado, que possibilitou estruturar o que ficou conhecido como sistema capitalista.

Pintura. Vista parcial de um local fechado. Ao fundo, grandes janelas gradeadas. As paredes, à direita e à esquerda, têm a cor bege acinzentado. No centro, há uma mesa com toalha vermelha, uma enorme chave dourada na horizontal e um livro atrás dela. Diversas pessoas estão ao redor da mesa. À direita, um homem aponta com dedo indicador da mão direita para essa imensa chave dourada sobre a mesa. Ele tem cabelos longos, cacheados e escuros e está vestido com uma camisa de gola branca e mangas longas bufantes, uma faixa diagonal de cor bege sobre o torso, uma capa bege sobre as costas, calça vermelha curta com barra de renda, meias longas brancas e botas de cano alto marrons. Sobre a cabeça, usa um chapéu preto de abas. Ele segura  um bastão marrom na vertical, apoiado no chão. À esquerda, no outro lado da mesa, um homem com o corpo flexionado para a direita, de capacete redondo de metal cinza escuro, blusa de mangas longas bege, calça vermelha com bordados dourados, meias longas brancas e sapatos marrons. Ele segura a grande chave dourada sobre a mesa com as duas mãos, para a qual o homem da direita aponta.  Ao fundo, outras dezenas de homens, uns com chapéu preto sobre a cabeça, de casaco e calça e, à direita, a maioria dos homens com armaduras de metal prateado e lanças de pontas finas com as pontas para o alto.  Atrás da mesa, há dois homens sentados, ambos de cabelos longos e escuros, traje preto de mangas compridas com grandes golas brancas. Os dois usam pequenos chapéus pretos sem abas sobre suas cabeças. Um deles, à direita, tem uma mão no peito e parece assustado. Mais atrás, há homem inclinado na diagonal, como se tentasse se afastar da cena central da pintura. Ele está de lado, sobre a lateral do assento em que se encontram os dois homens de cabelos longos. Ele tem cabelos escuros, cacheados até os ombros, chapéu preto na cabeça, camisa preta de gola branca, casaco e calça escuros. Ele segura com a mão direita um pergaminho enrolado na vertical e está com a mão esquerda espalmada para frente.  Atrás dele, colunas de cor cinza e uma parede ao fundo em cinza escuro, além de um encosto em verde, para um assento que abrigaria para uma única pessoa, mas onde há três: os dois homens sentados e esse homem inclinado, mais alto que os demais. À esquerda em primeiro plano, visto de lado, um homem de cabelos escuros, chapéu preto, traje marrom de punhos e golas brancos, com o corpo flexionado para a direita, as duas mãos estendidas para frente com as palmas para frente com um gesto de quem pede para que algo pare.
uést, Benjamin. crómuél dissolvendo o grande Parlamento. 1782. Óleo sobre tela, 153 por 214,6 centímetros. Museu de Arte de MontclairNew Jersey, Estados Unidos. crómuél liderou a derrota da monarquia na Inglaterra. Ele estabeleceu a república e abriu o caminho do poder para a burguesia, que promoveu mudanças radicais no país.

Os monarcas absolutistas

O governante mais emblemático do absolutismo inglês foi o rei Henrique oitavo, que rompeu com a Igreja católica e fundou a Igreja anglicana. Ele fazia parte da dinastia túdor, cujos monarcas governaram a Inglaterra entre 1485 e 1603.

Após se tornar chefe supremo da Igreja da Inglaterra, em 1534, Henrique oitavo confiscou as terras e os bens da Igreja católica. As terras confiscadas foram doadas ou vendidas, resultando no aumento dos recursos financeiros da Coroa e, ao mesmo tempo, da quantidade de terras disponíveis para a agricultura e para a criação de animais. A maioria dos novos proprietários dessas terras era composta de membros da pequena nobreza (conhecida como gentry), que pretendiam ampliar a produção agrícola e a criação de ovelhas, responsável por fornecer lã para a fabricação de tecidos. Com o aumento da produtividade, foi possível ampliar os mercados consumidores internos e externos.

Foi durante o govêrno de Elizabeth primeira, filha de Henrique oitavo, que os ingleses conquistaram importantes colônias ultramarinas na América e na África, das quais obtinham, res­pectivamente, algodão e azeite. A conquista de novos territórios possibilitou a ampliação do mercado consumidor dos produtos ingleses. Com isso, as colônias nesses continentes se tornaram os principais consumidores dos produtos manufaturados ingleses, sobretudo tecidos. Além disso, as embar­cações inglesas intermediavam parte do tráfico de escravizados que ligava o conti­nente africano às colônias americanas, gerando grandes lucros para os comerciantes britânicos.

Fotografia.  Vista de uma estátua em um local aberto. A estátua está em um pedestal dentro de um arco de fundo azul esculpido em uma parede de pedra marrom. À esquerda e à direita, esculpidas na pedra, colunas verticais, em tons de marrom e partes em bege e cinza. A estátua representa uma mulher em pé, em tons de cor bege e partes em marrom. Ela tem uma coroa sobre a cabeça, cabelos curtos e cacheados, usa vestido longo de saia armada até os pés, um manto abotoado na frente do corpo com um broche ovalado, e golas volumosas com cilindros de tecido. À esquerda, ela segura um cetro na vertical, voltado para cima e, à direita, uma esfera na altura da cintura.
Elizabeth primeira.cêrca de 1586. Estátua, 2 métros de altura. Fleet Street, Londres. Durante seu reinado, Elizabeth primeira impulsionou a indústria naval na Inglaterra.

A Revolução Puritana

Com o fim do reinado de Elizabeth primeira, que não havia deixado herdeiros, o trono foi entregue a Jaime primeiro, da dinastia Stuart, que governava a Escócia. Nesse período, os conflitos entre a monarquia e os grupos sociais que emergiam econômica e politicamente se intensificaram. Esses grupos emergentes eram formados pela burguesia e pela pequena nobreza, que ganhavam importância com a ampliação das relações comerciais e dos mercados consumidores dos produtos ingleses.

Com a expansão do comércio inglês, os preços subiam e a burguesia prosperava rapidamente; no entanto, os rendimentos da Coroa e da alta nobreza mantinham-se estagnados. Para ampliar os recursos do Estado, Jaime primeiro iniciou a cobrança de impostos sem a autorização do Parlamentoglossário e incentivou uma série de perseguições a católicos e calvinistas com o intuito de fortalecer a Igreja anglicana, da qual era o chefe supremo.

Essa política mostrou-se desastrosa: o Parlamento posicionou-se contra o govêrno do rei e a intolerância religiosa desagradou principalmente aos burgueses e às camadas mais baixas da sociedade. Mais tarde, Carlos primeiro, filho de Jaime primeiro, deu prosseguimento à política do pai. Assim, a oposição à política do rei se organizou e se expandiu.

Os membros do Parlamento passaram a exigir mudanças na sociedade, no Estado e nas leis. Contudo, Carlos primeiro se recusou a atender a essas reivindicações e, em 1642, iniciou-se uma guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Puritana. Durante a guerra, a população inglesa dividiu-se em dois grupos opostos:

  • Realistas: grupo formado por cavaleiros que apoiavam o rei. Eram grandes proprietários de terras e altos membros da Igreja anglicana.
  • Parlamentares: grupo que comandou a guerra contra o rei. Estava dividido em duas facções, a dos puritanosglossário (integrantes da pequena nobreza, burgueses e camponeses, favoráveis à fórma republicana de govêrno e conhecidos como cabeças-redondasglossário ) e a dos presbiterianos (membros da aristocracia e da grande burguesia mercantil, adeptos da monarquia constitucional).
Pintura. Retrato de orientação vertical representando um homem visto de corpo inteiro. No centro, um homem em pé, com o corpo voltado para a direita e uma das mãos sobre a cintura. Ele apoia o cotovelo do outro braço sobre uma espécie de mureta baixa, onde há dois objetos dourados: uma esfera dourada e uma coroa arredondada, com pedras preciosas incrustadas e uma cruz no topo.  Ele tem sobrancelhas grossas, cabelos até os ombros encaracolados e castanhos e bigode e cavanhaque castanho claro. Usa um traje longo azul feito de pelos, com detalhes dourados, mangas compridas acetinadas e detalhes em branco com pintinhas de cor preta, meias longas brancas,  sapatos brancos com um pequeno salto e fivelas imensas, redondas e douradas.. Sobre as costas, usa um manto longo de pelos de aspecto aveludado, com o forro branco com pintinhas pretas, abotoado no pescoço coberto de renda branca. Ele olha para frente, posando para o pintor.  o fundo, uma mureta baixa de cor cinza e uma coluna cinza à esquerda.  À direita, o céu com nuvens, à direita, uma cortina pesada vermelha com grandes bordados dourados.
VAN , . Retrato de Carlos primeiro em trajes reais. 1636. Óleo sobre tela, 248,3 por 153,6 centímetros. Castelo de Windsor, Windsor, Inglaterra.
A república de crómuél

O grupo dos parlamentares venceu a guerra iniciada com a Revolução Puritana. Óliver crómuél, membro da pequena nobreza e puritano que comandou o exército vencedor, assumiu o govêrno e proclamou a república na Inglaterra, em 1649. O rei Carlos primeiro foi preso, julgado pelo Parlamento e condenado à morte.

Durante o govêrno de Óliver Crom-uél, a economia inglesa ganhou novo estímulo com a aprovação dos Atos de Navegação. Com essa lei, as mercadorias negociadas com a Inglaterra só poderiam ser transportadas em navios ingleses ou nos navios das nações onde as mercadorias haviam sido produzidas. Essa medida fortaleceu a marinha mercante da Inglaterra, que se tornou a maior potência naval do mundo.

Internamente, o govêrno recém-instaurado enfrentou com violência os movimentos de oposição a sua política, além de dissolver o Parlamento e estabelecer uma ditadura hereditária. Então, em 1653, crómuél assumiu o título de “lorde protetor da Inglaterra”.

Após sua morte, em 1658, seu filho e herdeiro, Ricardo, assumiu o govêrno, mas teve dificuldade de manter a estabilidade política e administrativa do Estado inglês. Assim, iniciou-se outra disputa pelo poder. A burguesia, temendo uma nova guerra civil que colocasse em perigo os avanços econômicos conquistados, apoiou a restauração da monarquia em 1660.

Gravura. Cena de batalha em local aberto com chão de terra de cor bege, leve aclive à direita e vegetação rasteira no canto direito.  No centro, montado sobre cavalo branco,um homem de cabelos e bigode castanhos, de chapéu marrom co plumas, armadura de metal cinza claro e uma espécie de colar feito com uma fita azul e um pingente dourado e redondo. Sobre a cintura dele, há um pano vermelho, que se esparrama sobre a sela do cavalo. Na mão direita, ele segura uma espada, com a qual aponta para o fundo da pintura. À frente dele, à esquerda, há um homem de cabelos e bigode castanhos, de armadura metálica e capacete metálico cinza com plumas vermelhas  no topo, uma faixa de tecido vermelho na cintura. Ele aponta  para a esquerda com dedo indicador e está diante do cavalo branco, segurando as rédeas do animal.  Perto dele, outros homens de armadura metálica montados em cavalos brancos. À esquerda, sobre o chão, à frente da cena central, um homem caído sobre o solo, com uma espada na mão direita, usando armadura de metal cinza e faixa vermelha na cintura. Perto dele, também caído ao chão, um elmo de metal cinza. Em segundo plano à esquerda, em um plano mais baixo do relevo, outros homens de armadura guerreando com espadas de metal envoltos em fumaça de poeira em tons de branco e bege. No alto, à esquerda, o céu azul e à direita uma grande nuvem branca  e cinza.
PARROCEL, chárlis. Batalha de Naseby. 1727. Gravura. A batalha representada foi vencida por crómuél na guerra civil inglesa. Museu Nacional do Exército, Chelsea, Inglaterra.

A Revolução Gloriosa

Com a restauração monárquica, Carlos segundo (filho de Carlos primeiro) assumiu o trono inglês e comprometeu-se a se submeter ao Parlamento. Em 1685, foi substituído por seu irmão Jaime segundo, que era católico.

Nobres e burgueses temiam que o retorno do catolicismo implicasse a devolução das terras que a Reforma anglicana havia confiscado. Por isso, esses grupos se uniram para afastar Jaime segundo do poder e, em 1689, entregaram o trono ao protestante holandês Guilherme de órangi, casado com Maria Istíuart, filha de Jaime segundo. Sem condições de resistir à tomada do poder, Jaime segundo fugiu para a França, e a Revolução Gloriosa triunfou sem derramamento de sangue.

Antes de ser coroado, o novo governante se comprometeu a respeitar as decisões da Revolução Gloriosa, a Magna Carta e a Declaração de Direitos, documento de 1689 que assegurava, entre outros, o poder ao Parlamento.

Com a Revolução Gloriosa, a Inglaterra passou a ser uma monarquia parlamentar e a burguesia consolidou sua influência política. Medidas administrativas posteriores favoreceram o desenvolvimento capitalista no país: o estímulo ao livre-comércio, a modernização dos portos e a construção de estradas e navios. Por outro lado, as práticas econômicas baseadas no mercantilismo, que tanto auxiliaram a Inglaterra e outras nações europeias na acumulação de capitais, agora entravam em declínio. Esse momento marcou um novo período da história inglesa, com a mecanização de sua indústria têxtil e a formação de uma ampla rede de comércio mundial.

Gravura em preto e branco. Busto de mulher vista de frente, de cabelos longos escuros e encaracolados, olhos arredondados, nariz e lábios finos. Ela usa um colar sobre pescoço e um vestido com bordados e rendas que deixa seu colo nu.
Retrato da rainha Maria segunda da Inglaterra, de 1662 a 1694, esposa do rei Guilherme terceiro. 1890. Gravura. Publicada em The National and Domestic History of England, de Uílham Ábri.
Ilustração. No centro, dois tronos dourados de estofado vermelho. Em cada um deles, uma pessoa sentada. À esquerda, uma mulher de cabelos encaracolados longos e castanhos,  com uma coroa dourada e vermelha sobre a cabeça, vestido de mangas compridas azul claro, cinto dourado na cintura e manto branco com pintinhas pretas sobre os ombros e as costas. Parte do manto está sobre sua perna esquerda. Ela segura na mão direita um cetro dourado na vertical e está com a cabeça voltada para o centro da ilustração. Os pés dela estão sobre uma almofada bege, na horizontal, sobre o chão de tom vermelho.  À direita, um homem sentado sobre um trono. Ele tem cabelos encaracolados, longos e castanhos, Uma coroa dourada e vermelha sobre a cabeça. Usa um traje comprido vermelho, composto de blusa e calça, e um manto vermelho com as bordas brancas com pintinhas pretas. O manto está sobre os ombros e costas dele. Ele usa meias longas até os joelhos. e também tem os pés repousados sobre uma almofada bege. Segura um cetro longo e dourado com a mão direita.  Nas laterais, há dois grupos de pessoas ladeando o casal. À esquerda e à direita, ao lado deles, dois soldados seguram lanças douradas dispostas na vertical e usam trajes de mangas compridas com saiote  azul com detalhes em vermelho, meias longas brancas, sapatos pretos e chapéu preto com fitas vermelhas À esquerda, o grupo que está ao lado da mulher é composto por duas mulheres loiras usando véus sobre os cabelos e vestidos longos, um em azul claro e o outro cor de rosa.  À direita,  o grupo que está ao lado do homem é composto por dois homens:  um de cabelos encaracolados, vestido com casaca comprida cinza, calça cinza, meias longas brancas, chapéu na mão e sapatos cinza. Atrás dele, um outro homem, esse loiro de cabelo encaracolado e longo, visto apenas parcialmente.  Atrás dos tronos, estrutura retangular em vermelha com borda dourada. No canto inferior direito, em letras pretas as iniciais: "I" e "D".
Ilustração representando Maria Istíuart e Guilherme de órangi governando a Inglaterra após a Revolução Gloriosa, entre os protestantes. Século dezessete.
Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

A Declaração de Direitos

A Declaração de Direitos, ou Bill of Rights, foi um conjunto de leis formulado na Inglaterra em 1689, após a deposição do rei Jaime segundo pela Revolução Gloriosa. A Declaração reduziu o poder do rei, estabelecendo a monarquia parlamentar em lugar da monarquia absolutista. Como você deve saber, a monarquia absolutista era baseada no poder absoluto do rei e justificada pelo direito divino.

Leia, a seguir, alguns trechos da Declaração de Direitos:

reticências E portanto os ditos lordes espirituais e temporaisglossário , e os comunsglossário reticências, estando agora reunidos como plenos e livres representantes desta nação reticências, declaram reticências para reivindicar e garantir seus antigos direitos e liberdades:

1. Que é ilegal o pretendido poder de suspender leis, ou a execução de leis, pela autoridade real, sem o consentimento do Parlamento.

reticências

4. Que é ilegal a arrecadação de dinheiro para uso da Coroa, sob pretexto de prerrogativa, sem autorização do Parlamento, por um período de tempo maior, ou de maneira diferente daquela como é feita ou outorgada.

reticências

6. Que levantar e manter um exército permanente dentro do reino em tempo de paz é contra a lei, salvo com permissão do Parlamento.

reticências

8. Que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento.

9. Que a liberdade de expressão e debates ou procedimentos no Parlamento não devem ser impedidos ou questionados por qualquer tribunal ou local fóra do Parlamento.

reticências

13. E que os Parlamentos devem reunir-se com frequência para reparar todos os agravos, e para corrigir, reforçar e preservar as leis.

A DECLARAÇÃO Inglesa de Direitos (1689). In: Ixêi, Micheline R. (Organização.). Direitos Humanos: uma antologia. São Paulo: êduspi, 2013. página. 171-173.

  1. Após a leitura dos trechos da Declaração de Direitos, identifique:
    1. Em que período da história da Inglaterra ela foi escrita?
    2. Quem escreveu a Declaração e em nome de quem ela foi feita?
    3. Qual era o objetivo principal da Declaração? Justifique sua resposta, utilizando trechos do documento.
  2. Com base nesse documento, descreva em seu caderno o equilíbrio de fôrças políticas na monarquia parlamentar inglesa.

Mudanças na Inglaterra

Na Inglaterra, além das grandes propriedades senhoriais e das terras voltadas à produção para o mercado, havia as terras comuns, utilizadas de fórma coletiva. Ao longo do século dezesseis, essas terras passaram a ser cercadas por iniciativa de particulares, que pretendiam vendê-las ou utilizá-las para criar ovelhas e fornecer uma das principais matérias-primas da indústria têxtil: a lã.

Propriedades desse tipo espalharam-se por todo o território da Inglaterra. No comêço do século dezoito, o Parlamento criou uma série de medidas para regulamentar e acelerar o cercamento das terras comuns.

A maior parte dos camponeses foi expulsa de suas terras e teve de enfrentar o desemprego e a falta de moradia e alimentação. Muitos se deslocaram para as cidades, em busca de condições de sobrevivência.

A modernização da agricultura

A política de cercamentos resultou na modernização da agricultura inglesa. A introdução do sistema trienal de cultivo (o chamado sistema de três campos), que alternava o cultivo de cereais, tubérculos e gramíneas, possibilitou a disponibilidade de mais alimentos para as ovelhas, que, ao mesmo tempo, forneciam adubo natural e ajudavam a manter a fertilidade do solo.

Outras inovações do período foram o confinamento do gado e a aração profunda, que possibilitaram, respectivamente, o aumento do pêso dos animais e o melhor preparo da terra para o cultivo. No entanto, o custo dessas inovações era elevado e apenas os ricos proprietários puderam introduzi-las em suas terras.

Com as mudanças ocorridas nos campos ingleses, houve o aumento da produção agrícola, necessário para alimentar uma população em constante crescimento, sobretudo nas cidades. Novamente, muitos camponeses, sem condições de competir com a agricultura moderna das propriedades vizinhas, migraram para as cidades em busca de trabalho.

O sistema de três campos

Esquema ilustrado. O sistema de três campos. Ilustração de orientação vertical, com três campos representando o sistema trienal de cultivo. Na legenda:  Solo em verde-claro corresponde a "Gramíneas".  Solo com vegetação alta em bege corresponde a: "Cereais". Solo com vegetação verde escura e pontos vermelhos e bege corresponde a: "Batatas e beterrabas (tubérculos)".  No alto, Ano 1.  Um quadrado dividido em três faixas verticais. Da esquerda para à direita: Gramíneas (à esquerda), cereais (no centro) e batatas e beterrabas (à direita).  No centro, Ano 2. Um quadrado dividido em três faixas verticais. Da esquerda para à direita: Cereais (à esquerda), batatas e beterrabas (no centro) e gramíneas  (à direita).   Na parte inferior, Ano 3. Um quadrado dividido em três faixas verticais. Da esquerda para à direita: Batatas e beterrabas (à esquerda), gramíneas (no centro) e cereais(à direita).
Ícone. Sugestão de livro.

MENEGUELLO, Cristina; déca, Edgar Salvadori de. Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. São Paulo: Atual, 2019. A obra apresenta textos informativos e documentos históricos que abordam, entre outros aspectos, as diferenças entre a vida no campo e a vida na cidade na Inglaterra do século dezoito, bem como o cotidiano dos trabalhadores nas fábricas.

Abundância de carvão e ferro

Outro fator que possibilitou aos ingleses mecanizar a produção têxtil foi a facilidade de obter fontes de energia e matérias-primas básicas para o funcionamento das máquinas, como carvão mineral e ferro.

Até o século dezoito, os ingleses usavam o carvão vegetal, produzido a partir da queima da madeira, para aquecer os fornos no processo de obtenção do ferro. Porém as temperaturas atingidas por meio dessa técnica não eram suficientes para a produção de ferro de boa qualidade.

A partir de 1780, os ingleses passaram a utilizar o carvão mineral, que pode ser encontrado na superfície terrestre e tem poder calorífico superior ao do carvão vegetal. Com a descoberta dessa nova técnica, a fabricação de ferro triplicou na Inglaterra. O carvão mineral passou a ser utilizado como combustível para mover pequenas indústrias e na produção do ferro de alta resistência, matéria-prima essencial para construir máquinas, ferramentas e estradas de ferro.

O conjunto de inovações técnicas e as mudanças na fórma de organizar a produção transformaram a paisagem inglesa.

Pintura. Vista geral de local aberto. Nas parte inferior, a imagem é cortada horizontalmente por um curso de água corrente da direita para a esquerda da pintura, semelhante a um riacho, com uma pequena queda d'água no centro. Há vegetação baica nas margens do riacho.  Acima, no centro da pintura, uma fábrica com cinco chaminés altas de formato tubular na vertical de cor terracota, entre galpões altos de paredes amarelas e armações metálicas altas. Das chaminés, sai uma fumaça em tons de cinza e preto.  Na ponta da direita, sobre uma das estruturas de metal, há uma bandeira com listras horizontais brancas e azuis hasteada. No alto, o céu nublado, coberto de nuvens de cor cinza.  Às margens do riacho, no canto inferior esquerdo da pintura, há duas pessoas, que aparentam ser um menino e uma menina. Ele tem cabelos pretos e curtos e está sentado, usa camisa branca e casaco e calças pretos e, à direita dele, a menina está em pé, de touca branca, avental branco e vestido preto.  Mais ao fundo, à esquerda, em segundo plano, três pessoas adultas vistas de longe caminham para a esquerda.
Richárdsan, Tômas Máiols. Mina de carvão em Murton. 1841. Aquarela, 28 por 42,5 centímetros. Galeria de Arte Laing, Newcastle, Inglaterra. O artista representou a fumaça saindo das chaminés, provavelmente originada da queima de carvão.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Descreva os governos de Jaime primeiro e Carlos primeiro, destacando os conflitos entre o rei e o Parlamento na Inglaterra no século dezessete.
  2. Elabore uma cronologia dos principais acontecimentos políticos das revoluções Puritana e Gloriosa.
  3. No contexto da Revolução Puritana, quem eram os cavaleiros e os cabeças-redondas?
  4. Que mudanças a Revolução Gloriosa provocou na Inglaterra do ponto de vista da economia?
  5. Por que a política de cercamentos foi importante para a modernização da agricultura inglesa? Como a relação entre o campo e a cidade se estabeleceu nesse período? Explique.
  6. A partir da Revolução Gloriosa, a Inglaterra passou a ser uma monarquia parlamentar. Explique a diferença entre esse sistema de govêrno e a monarquia absolutista.
  7. Observe a imagem a seguir. Essa obra é intitulada Retrato da Armada e foi pintada no século dezesseis em comemoração à vitória inglesa sobre a poderosa marinha espanhola. Elizabeth primeira foi retratada usando um vestido bordado com pérolas e joias e segurando um globo terrestre. Atrás do ombro esquerdo da rainha, pode ser vista a Armada espanhola destruída.
Pintura. Retrato de formato quadrado. No centro, uma mulher sentada em trono estofado em vermelho. Ela é branca, tem olhos escuros, sobrancelhas apagadas e lábios alaranjados, tem a pele muito branca com as maçãs do rosto rosadas, cabelos loiros, cacheados presos ao redor da cabeça, encimados por um enfeite dourado com três pedras azuis incrustadas em ouro e pérolas ao redor de toda a cabeça, presas ao cabelo. além de uma grande pérola sobre a parte da frente da cabeça, acima da testa Ela usa um vestido com gola de rufos em renda branca, uma gola franzido de tecido rendado e plissado que forma um circulo em torno do pescoço. O vestido é volumoso, com corpete e saia armada pretos, com mangas bufantes acetinas de cor cinza  e com a parte de baixo da saia armada acetinada e de cor cinza. Todo ele coberto de bordados dourados em formato de pétalas de flores, com pérolas no centro das pétalas. A parte preta do vestido tem pérolas e laços cor de rosa. Ela usa seis longos colares de pérolas. A mulher tem a mão direita sobre uma esfera que representa o globo terrestre, que está sobre uma mesa com toalha verde, vista parcialmente.  No canto esquerdo, na altura do cotovelo direito da rainha, há uma coroa dourada e vermelha incrustada com pedras verdes e pérolas, que repousa sobre uma mesa com toalha vermelha com bordados dourados, vista parcialmente. No canto direito, parte do braço do trono com uma escultura dourada representando uma sereia: a parte superior do corpo, nua, de mulher, a inferior, coberta por escamas, em formato de cauda de peixe. A cabeça da rainha divide a pintura em duas partes, ao fundo. No canto superior esquerdo, um quadrado ladeado por colunas vermelhas e cortinas verdes com a imagem de embarcações a vela em um mar amarelado sob um céu azul.  No canto superior direito, um quadrado envolto por uma cortina verde revelando a imagem de embarcações à vela naufragando no oceano esverdeado, com o céu noturno, o fundo escurecido, em azul escuro.
Gauér, George. Retrato da Armada. cêrca de 1588. Óleo sobre painel, 110,5 por 127 centímetros. Woburn Abbey, Bedfordshire, Reino Unido. Essa obra foi feita após uma grande vitória naval da Inglaterra sobre a Armada espanhola.
  1. Em sua opinião, é possível considerar que esse retrato da rainha Elizabeth primeira foi feito para demonstrar fôrça e poder? Por quê? Justifique sua resposta com elementos da obra.
  2. Qual seria o significado da coroa ao lado da rainha? Considerando as informações deste Capítulo, por que Elizabeth primeira está tocando um globo terrestre com a mão direita?

CAPÍTULO 2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E AS MUDANÇAS NA SOCIEDADE

Computadores, aparelhos celulares, óculos, peças de roupa, sapatos, relógios, câmeras fotográficas, fones de ouvido... Você sabe dizer o que todos esses produtos têm em comum? Há, pelo menos, duas características: todos são produzidos por processos industriais e todos são mercadorias, ou seja, foram feitos para serem comercializados.

O surgimento das indústrias ocasionou uma das maiores transformações socioeconômicas da história, modificando profundamente, e em escala mundial, o ambiente e as relações de produção, os hábitos de consumo e a organização do trabalho. Esse processo iniciou-se com a Revolução Industrial na Inglaterra, em meados do século dezoito, e tem reflexos até os dias de hoje na sociedade globalizada.

Neste Capítulo, investigaremos as condições históricas que propiciaram o início da industrialização, bem como suas consequências tanto para os detentores dos meios de produção como para os trabalhadores.

Fotografia. Vista do alto para baixo. Sobre uma base de tábuas de madeira branca, vários objetos espalhados, da esquerda para a direita: um par de sapatos masculinos de cor marrom; uma miniatura de avião branca; um par de óculos escuros marrons sobre o teclado de um notebook visto parcialmente; um relógio de pulso, de ponteiros, marrom; três chaves de metal prateado; um cinto marrom enrolado; um caderno de espiral preta aberto em uma folha em branco sobre a qual há um lápis de cor marrom;  uma miniatura de um  globo terrestre; uma câmera fotográfica em cinza e preto; uma bússola analógica pequena, azul, de fundo preto; uma pulseira de couro trançado marrom; um celular branco sobre um passaporte de capa vermelha; fones de ouvido brancos e  um chapéu bege com uma faixa preta.
Diversos são os objetos que fazem parte do nosso dia a dia. Em geral, todos eles foram produzidos em indústrias que buscam atender às exigências de consumo de determinada época.

Do artesanato à maquinofatura

Antes do surgimento das fábricas, o artesanato era o principal modo de organização do processo produtivo. As mercadorias eram confeccionadas por artesãos, que dominavam todas as fases de produção: compravam a matéria-prima, fabricavam o produto e o vendiam. Além disso, tinham autonomia para determinar o tempo e o ritmo de seu trabalho.

Durante os séculos quinze e dezesseis, com o objetivo de acelerar a produção, homens de negócio se associaram aos artesãos, desenvolvendo o sistema doméstico. Nele, o artesão recebia a matéria-prima e se comprometia a produzir e a entregar a mercadoria em determinado prazo para o empresário, que ficava encarregado de vendê-la. Nesse sistema, o artesão ainda tinha contrôle sobre todo o processo de produção, mas deixava de ser responsável pela aquisição da matéria-prima e perdia o contato direto com o consumidor.

Na segunda metade do século dezessete, as manufaturas se expandiram. Nesse tipo de organização do trabalho, dezenas ou centenas de pessoas ficavam concentradas em um só espaço e trabalhavam, todos os dias, durante uma quantidade determinada de horas. Nesse momento, entrou em cena um novo personagem: o patrão, que mantinha funcionários encarregados de vigiar os trabalhadores.

Na manufatura, os trabalhadores não eram donos dos instrumentos de trabalho nem tinham contrôle sobre o ritmo da produção. Gradualmente, os trabalhadores foram perdendo o conhecimento sobre a totalidade do processo produtivo. Isso quer dizer que eles deixaram de conhecer todas as etapas de produção de determinada mercadoria, já que as tarefas foram divididas em etapas e cada pessoa executava apenas uma parte do processo de fabricação em troca de um salário fixo.

Gravura. Gravura de formato oval. Dentro de local fechado, de paredes e chão marrom, há quatro mulheres, uma criança e dois gatos.  À esquerda, uma mulher, de touca branca, vestido rosa e avental branca que lhe cobre os braços as pernas, está de frente para observador diante de uma roca de fiar em marrom claro e partes amareladas.  À direita e ao fundo, um caldeirão cinza, cuja alça é hasteada por um fio preto que vai até uma viga na horizontal. O caldeirão está sobre o fogo produzido por carvão. Dele, sai grande quantidade de fumaça branca. Ao lado do fogo, um menino de casaco azul e cabelos castanhos, está sentado, com as mãos espalmadas, aquecidas pelo fogo. Atrás dele, uma mulher em pé, com as costas flexionadas, de vestido rosa e touca branca, revira com uma colher branca o que está dentro do caldeirão.  Atrás dela, à direita, outra mulher, de perfil para o observador, usando vestido verde, touca branca e avental branco, trabalha em uma roca de fiar, manipulando o fio que sai do fuso.  À direita, em primeiro plano, outra mulher de vestido verde, essa sem touca e de cabelos longos, castalhos e presos para trás, enrola a linha utilizando, para isso, um carretel e uma estrutura hexagonal, com hastes no diâmetro e fios no perímetro. Perto dela, dois gatos marrons e partes em branco, um deitado e outro em pé estão brincando com um novelo. Na parte superior, teto com vigas de madeira na horizontal nas quais estão estendidos alguns tecidos brancos e prateleira à direita com louça e pratos. Também à direita, uma pequena janela retangular de vidraça transparente por onde entre luz.
Rínquis, Uílham. Mulheres trabalhando em manufatura de linho. 1791. Gravura colorizada, 38,3 por 44,7 centímetros. Museu Victoria e Albert, Londres, Inglaterra. Nas manufaturas, os trabalhadores passaram a ficar concentrados em um só local, e cada pessoa era responsável por uma parte do processo de produção.
A mecanização da indústria

Na segunda metade do século dezoito, com a Revolução Industrial, a manufatura foi substituída pela maquinofatura. Os motores a vapor, aperfeiçoados por djêimes uót em 1769, começaram a mover as máquinas, aumentando a velocidade da produção e a qualidade dos produtos. As principais tarefas do trabalhador passaram a ser alimentar a máquina, controlar sua velocidade e cuidar de sua manutenção.

A busca por lucros levou os industriais a investir na melhoria técnica da produção e no uso de novas fontes de energia. O tear mecânico (1785) deu início à mecanização da tecelagem e à aplicação do motor a vapor na indústria têxtil. A invenção do barco a vapor (1787) e a inauguração da primeira ferrovia (1825) possibilitaram o transporte de um volume maior de mercadorias.

O avanço tecnológico acelerou o ritmo da vida e do trabalho, que deixou de ser determinado pelo tempo da natureza e do corpo e passou a acompanhar o tempo da máquina. O trabalho do ser humano tornou-se dependente da tecnologia industrial, e a eficiência passou a ser medida pelo menor tempo gasto na produção. Em outras palavras, o tempo passou a valer dinheiro.

O trabalho nas fábricas

A concentração dos trabalhadores em um mesmo espaço, a divisão de tarefas, o fim da autonomia do artesão e o surgimento do patrão foram as mudanças fundamentais que marcaram o advento das fábricas.

Pintura. Vista geral de estação de trem encoberta por um telhado triangular com vigas de ferro e muita fumaça em cinza, azul e branco. Na parte inferior, trilhos sobre o chão de cor marrom. à esquerda e à direita, duas locomotivas pretas; uma à direita, com chaminé expelindo grande quantidade de fumaça para o alto. À frente, à direita, há um homem visto de costas, dos joelhos para cima, de cabelos castanhos, com quepe, casaco azul de mangas compridas e calça azul.  À esquerda e à direita, ao lado das locomotivas, pessoas em pé ao lado das vigas de metal que sustentam o teto da estação. Em segundo plano, vista parcial de prédios da cidade tampados por muita fumaça.
, Clôd. A estação Saint-Lazare. 1877. Óleo sobre tela, 80 por 98,0 centímetros. Museus de Arte de HarvardCambridge, Estados Unidos.

Uma nova sociedade

Além das mudanças no ritmo do trabalho e do cotidiano, na mentalidade e nos valôres, uma das transformações mais importantes produzidas pela indústria foi a configuração de uma nova sociedade. Duas novas classes sociais se consolidaram:

  • Burguesia: classe social formada pelos proprietários das fábricas, das máquinas, dos bancos, do comércio, das redes de transporte e das empresas agrícolas. O termo “burguesia” tem origem em “burgo”, aglomerado urbano da Idade Média, cujos habitantes se dedicavam ao comércio e ao artesanato. A partir do século dezoito, a burguesia impôs cada vez mais seu domínio sobre a sociedade.
  • Proletariado: classe social composta do operariado, que vive do salário que recebe. Como não tem meios para sobreviver por conta própria, o proletariado vende sua fôrça de trabalho para o patrão em troca de um salário. O salário, porém, paga apenas uma parte do tempo de trabalho do operário nas fábricas. O restante do tempo é apropriado pelo patrão.

As diferenças entre burgueses e proletários podiam ser percebidas na vida cotidiana das cidades. As áreas ricas ficavam, em geral, mais próximas do centro e recebiam mais atenção dos governantes. Já a população operária comprimia-se em bairros de ruas estreitas, mal iluminadas e sujas, com muitos mendigos e desempregados, como relatou o filósofo alemão fréderique ênguels:

Mas no que diz respeito à massa dos operários, o estado de miséria e insegurança é hoje tão grave quanto antes, senão mais grave. O East End de Londres é um pântano cada vez maior de miséria e desespero, de fome nos períodos de desemprego e de degradação física e moral quando há trabalho.

ênguels, Frídric. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010. página 354.

O trabalho das mulheres

Na época da Revolução Industrial, as mulheres eram submetidas ao ritmo de trabalho dos demais operários, mas recebiam salários menores. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (ó í tê), atualmente a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda é muito visível em diversos países. No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (pê nádi) mostram que, em 2020, as mulheres recebiam cêrca de 77% do salário pago aos homens.

Gravura. Vista geral de local amplo, fechado, com  mulheres de vestidos longos de saia rodada e manga três-quartos, algumas usando aventais brancos sobre as saias. Todas estão com os cabelos presos. A maioria delas está com o corpo de frente para teares mecânicos, máquinas compridas dispostas na horizontal em cinza. Ao fundo, à esquerda, vigas marrons sustentam um mezanino, um patamar mais elevado protegido com grades, com outras mulheres em pé. À direita, visto de lado, um homem em pé observa as mulheres trabalhando. Ele usa chapéu e terno em preto.
míus, . Sala de duplicação. 1851. Litografia colorizada. Coleção particular. A ilustração representa o trabalho das mulheres em uma indústria de tecidos.

O trabalhador no sistema industrial

A expansão das indústrias modificou muito o cotidiano dos trabalhadores. A questão do tempo, que, para eles, passou a ser regulado pelos horários de funcionamento das fábricas, é um exemplo disso. Nas áreas rurais, a medição do tempo estava relacionada aos ciclos da natureza e às tarefas diárias no campo. Já nas cidades, a disciplina passou a ser estabelecida pelo relógio.

Os relógios já existiam antes da Revolução Industrial, mas foi a necessidade de sincronizar o trabalho nas fábricas que ampliou seu uso e sua produção. Com eles, foi possível disciplinar os horários de entrada e saída dos trabalhadores, o intervalo de almoço e o tempo gasto para realizar as tarefas da produção. Fiscais e supervisores garantiam que os trabalhadores respeitassem os horários. Havia prêmios para os operários mais disciplinados e multas para os que descumprissem as normas.

A valorização do tempo, por meio do surgimento da ideia de um “tempo útil”, dedicado ao trabalho e ao ganho de dinheiro, colaborou para a configuração de uma nova moral, que justificava, inclusive, a perseguição policial aos desocupados.

Pintura. Um local aberto com o chão coberto por ladrilhos de pedra marrom. Ao fundo uma fábrica, com vários prédios revestidos de tijolos vermelhos e, à frente, formando uma linha horizontal na pintura, um grupo de mulheres próximas umas das outras.  Elas estão sentadas sobre uma mureta baixa de pedra, algumas estão apenas encostadas, uma está em pé diante da mureta e outras está em pé sobre a mureta. À esquerda, sentada sobre a mureta, uma mulher de lenço branco listrado sobre a cabeça, blusa branca, saia azul e avental branco lê um papel branco, com a cabeça voltada para ele. À frente dela, uma mulher de manto preto, cabelos pretos com uma flor vermelha, está reclinada para a frente e manuseia bules dispostos sobre o chão, segurando um deles pela alça. Há quatro bules no chão e uma cesta quadrada, com tampa. Atrás dela, sentada sobre a mureta, uma mulher loira com uma boina bege cobrindo os cabelos, usando um xale vermelho, olha para trás.  À direita dela, há uma mulher sentada sobre a mureta , com avental branco sobre um vestido amarelo, segurando um bule. Ela observa uma outra mulher, que, do outro lado da mureta, bebe um líquido segurando com suas duas mãos um prato fundo amarelo na frente de seu rosto.  Duas mulheres, à direita,  estão encostadas na mureta, de braços dados. Elas conversam e uma segura um bule e um cesto de palha retangular, como um cesto de piquenique. À direita delas, sentada, uma mulher com os cabelos cobertos por um lenço branco amarrado abaixo do queixo, bebe de uma xícara e tem um prato fundo azul em seu colo; outra, mais à direita, de costas, sentada sobre a mureta, com um xale vermelho nas costas, um vestido amarelo e uma touca preta cobrindo os cabelos tem um bule no colo, e olha para baixo, como se servisse um copo com o líquido do bule. Mais à direita, uma outra, em pé, sobre a mureta, vestida com blusa branca e saia longa azul, um avental branco amarrado à cintura, apoia-se sobre um poste de iluminação de rua, à direita, levando o avental branco até ele.  No centro, em pé, diante da mureta, há duas mulheres de costas para o observador, caminhando no sentido da esquerda para a direita da pintura. Elas estão abraçadas, lado a lado. Uma usa saia longa vermelha; a outra usa saia longa azul. Ao fundo, há outras mulheres, algumas em pé, outras sentadas.  Mais ao fundo, na parte central da pintura, um homem em pé, de costas, com chapéu alto preto e traje preto segura bastão com a mão esquerda, e observa o que ocorre no entorno.  Uma das mulheres está descalça, mas a maioria usa meias brancas e sapatos pretos. Algumas seguram bules.  Ao fundo, à esquerda, na fábrica, duas chaminés se erguem desde os telhados. Por ali sai uma fumaça cinza escura.  Dois postes de rua de iluminação completam a paisagem. No alto, o céu em tons de amarelo claro e cinza.
, . A hora do jantar em Wigan. 1874. Óleo sobre tela, 76,3 por 107 centímetros. Galeria de Arte de Manchester, Inglaterra. Essa obra representa trabalhadoras de uma tecelagem na cidade de Wigan, no norte da Inglaterra.

Ler a imagem

• Que elementos desta imagem nos mostram que as trabalhadoras estão em um momento de “descanso”? Repare na silhueta de um homem, no centro da tela. O que ele representa? A sua presença fornece pistas para entendermos a situação das trabalhadoras retratadas? Você acha que essa imagem apresenta uma visão idealizada da Revolução Industrial? Por quê?

Moradias precárias na cidade

E quanto à moradia dos trabalhadores? A maior parte das casas operárias se localizava próximo às fábricas e era construída pelos próprios empregadores e alugadas aos trabalhadores. Em geral, essas moradias abrigavam um grande número de pessoas, que, muitas vezes, se amontoavam para dormir. Não existia rede de esgoto. Os banheiros eram fossas, ficavam fóra das casas e exalavam um cheiro horrível. Em alguns bairros, havia um serviço de limpeza de fossas, cujos resíduos eram vendidos como esterco aos agricultores. Em outros bairros, os detritos eram jogados nas vias públicas e nos cursos de água.

A água era fornecida em bicas, poços e fontes públicas, nos quais havia longas filas para obter um balde do precioso líquido. As péssimas condições propiciaram o surgimento de surtos de diversas doenças, como a cólera e a tuberculose, que atingiam com frequência os trabalhadores e suas famílias.

Gravura em preto e branco. Vista do alto para baixo de um rua, com dezenas de pessoas nas calçadas e na rua. À esquerda e à direita, casas geminadas em dois pavimentos, diante das quais há pessoas em pé, próximas das portas e janelas. Próximos às portas, sapatos dispostos no chão. No centro, dezenas de crianças vistas de costas, algumas em pé e outras agachadas. À direita, duas delas estão sentadas no chão e, à esquerda, uma criança com o corpo inclinado para o chão, tem as mãos no chão. Perto dela, uma cabra vista de costas. Ao fundo, outras pessoas e crianças, e casas em tons escuros.
Dorrê, . Crianças nas ruas de Londres. 1872. Xilogravura, 19,8 por 24,5 centímetros. Museu Britânico, Londres, Inglaterra. A gravura retrata pessoas (na maior parte, crianças) e algumas moradias em Londres, no século dezenove.
Gravura em preto e branco. Vista geral de um túnel por onde passam dois trens, em sentidos opostos com os trilhos no centro. Na parte superior, o teto em formato semicircular, e luminárias redondas penduradas por fios pretos. À esquerda e à direita, nas plataformas elevadas em relação aos trilhos, centenas de pessoas em pé, com capacete sobre a cabeça, blusa de mangas compridas, calça e sapatos, com bolsas sobre as costas.  À direita, um banco, com dois homens sentados, vestidos da mesma maneira. Na parte superior direita, duas placas penduradas com texto em inglês, uma indicando a saída, outra com o texto 'Espere aqui para a terceira classe'.
Dorrê, ; , . O comboio de trabalhadores. 1872. Gravura em madeira. A gravura retrata trabalhadores aguardando trens a vapor pela manhã, em estação em Londres.
Meio Ambiente.

Os impactos ambientais da industrialização

No início da Revolução Industrial, havia a crença de que os recursos naturais eram infinitos e estavam a serviço do ser humano. Nesse momento, ainda não havia o conhecimento de que o consumo desenfreado de matérias-primas e o uso de combustíveis fósseis pudessem causar danos ambientais, em muitos casos irreversíveis, e alterações climáticas que afetariam a vida humana.

A atividade industrial de larga escala acarretou grandes impactos ambientais à Inglaterra. A instalação de fábricas levou à poluição das águas e do ar e à alteração do hábitat de muitas espécies.

Um exemplo disso é o caso das mariposas Bíston Betulária, na cidade de Manchester. A maioria dessas mariposas tinha coloração branca, o que possibilitava sua camuflagem nos troncos das árvores, que eram claras devido à presença de liquensglossário . Com o surgimento e a expansão das fábricas e o aumento da poluição do ar, os líquens desapareceram e os troncos das árvores tornaram-se escuros. As mariposas dessa espécie com coloração branca praticamente deixaram de existir, pois, como não podiam mais se camuflar nas árvores, eram facilmente identificadas pelos predadores.

Fotografia. Sobre um fundo branco, vista do alto de uma mariposa com par de asas abertas e corpo no centro, assas e corpo em tons de bege com várias manchas pretas. Na parte superior, um par de antenas em marrom escuro e duas formas similares a duas plumas cinzas pequenas na horizontal no topo da cabeça.
A mariposa da espécie Bíston Betulária passou a ter uma variação na coloração, tornando-se mais escura, devido aos impactos da poluição causada pela Revolução Industrial.
Gravura em preto e branco. Vista geral de local aberto em ambiente urbano. No canto inferior direto, há um rio, que corta diagonalmente p centro da gravura. Pelo rio, passam pequenas embarcações de madeira tripuladas. Acima, no centro da imagem, uma ponte em forma de arco, com a parte superior reta,  por onde passam homens à cavalo e um carro puxado por cavalos. No canto inferior esquerdo, perto do rio, homens e mulheres em pé levantando seus chapéus pretos para cima como quem comemora algo.  Em segundo plano, depois da ponte, local com uma  construção alta, com três entradas em forma de arco, cúpulas com pináculos afinados e   bandeiras hasteadas em cada um dos pináculos.  Mais ao fundo, uma torre  alta e outras construções mais baixas. No céu, nuvens em tons de branco.
Representação de vista do rio Irwell, em Manchester, na Inglaterra. cêrca de1853. Gravura, 11 por 8,85 centímetros. O rio Irwell encontra-se na fronteira entre as cidades de Manchester e Salford, na Inglaterra.
Meio Ambiente.
As agressões ao meio ambiente persistem

A construção de ferrovias e de novas fábricas acarretou a derrubada de grandes áreas de vegetação. Além disso, a população dos grandes centros industriais cresceu desordenadamente, causando muitos problemas urbanos, como o acúmulo de lixo e dejetos.

Atualmente, apesar de a superexploração dos recursos naturais persistir, o modêlo de produção implantado com a Revolução Industrial sofre inúmeras críticas, tanto por parte da sociedade como por parte de organizações e instituições dedicadas à preservação ambiental.

Para reduzir as agressões ao meio ambiente, estão sendo desenvolvidos novos métodos produtivos. Além disso, campanhas de estímulo ao consumo consciente dos recursos naturais, ao reúso e à reciclagem de materiais têm o objetivo de diminuir o consumo de recursos no dia a dia. Dessa fórma, procura-se garantir a qualidade de vida das populações atuais e o usufruto desses recursos pelas gerações futuras.

Gravura. Vista geral de local aberto, com vegetação verde, estrada de terra reta com trilhos, no centro, cortando a imagem diagonalmente. À esquerda, perto de uma árvore e de arbustos, duas mulheres e três crianças. Uma mulher de cabelos escuros, com chapéu bege, vestido de mangas longas preto e gola branca. Ao lado dela, uma mulher sentada, de blusa de mangas compridas bege e saia longa marrom. De frente para elas, dois meninos, um pé e outro sentado no chão, de camisa de mangas brancas, colete e chapéu preto e calça. À direita, sentando sobre a grama verde, um menino apoia o cotovelo esquerdo sobre a grama, e ergue o braço direito para o alto. Ele usa camisa branca e calça preta.  Mais ao fundo,  abaixo de onde estão essas pessoas, a estrada de ferro, por onde passa um trem de carga, com a locomotiva soltando fumaça branca e azulada.  Em segundo plano, do outro lado da estrada de ferro, construções baixas avermelhadas e em bege e telhados azulados, algumas com chaminés altas.  Em torno dessa área com as construções com chaminés, há morros cobertos de vegetação.   No alto, o céu em tons de azul, nuvens brancas e partes sobre a cidade com fumaça em marrom.
, . Vista de Wakefield na ferrovia Manchester-Leeds. 1845. Litografia. Museu Nacional Ferroviário, Nova York, Estados Unidos.

Ler a gravura

• Que elementos da paisagem representada nesta litografia (técnica de gravura em que a impressão da imagem é feita com uma matriz de pedra polida) estão associados à industrialização inglesa?

Ícone. Sugestão de vídeo.

daens: Um grito de justiça: o cotidiano e as lutas dos operários durante a Revolução Industrial. Direção: stein conix. Bélgica/França/Holanda, 1992. Duração: 138 minutos O filme se passa no final do século dezenove, em uma cidade do norte da Bélgica. A fábrica de tecidos local emprega muitos operários que trabalham em péssimas condições. Tudo muda com a chegada de um padre, que se solidariza com os trabalhadores.

Meio Ambiente.

O rio Tâmisa

O rio Tâmisa, situado no sul da Inglaterra e com aproximadamente 340 quilômetros de extensão, foi fortemente agredido pelos resíduos industriais e pelo esgoto doméstico da cidade de Londres. Contudo, graças a um programa de despoluição, o Tâmisa se tornou um dos rios mais limpos do mundo em área metropolitana. Mas como será que tudo isso aconteceu?

Ao longo dos séculos dezoito e dezenove, o Pôrto de Londres já era o mais movimentado do mundo. Muitas embarcações mercantes e barcos de pesca navegavam no rio Tâmisa e uma grande circulação de mercadorias acompanhava o desenvolvimento industrial e mercantil da Inglaterra.

Contudo, além dos resíduos das fábricas, todo o esgoto doméstico de Londres era despejado no Tâmisa. Para termos uma ideia, na década de 1850, mais de quatrocentas mil toneladas de esgoto eram jogadas por dia no rio, o que equivalia a 150 milhões de toneladas por ano. O rio Tâmisa, nessa época, foi considerado biologicamente morto e o odor de suas águas era insuportável.

A criação de redes de esgoto para atender toda a cidade de Londres ocorreu a partir da década de 1860. Posteriormente, em 1910, teve início um programa de dragagem do rio Tâmisa e de tratamento da água com adição de cloro. Esses foram passos importantes na recuperação do rio. Mais tarde, já na década de 1960, uma empresa estatal de saneamento iniciou o tratamento biológico do esgoto nas estações de Crossness e Beckton. Na década seguinte, os resultados já podiam ser vistos, com o reaparecimento de espécies de peixes no rio Tâmisa.

Atualmente, dados da Agência Ambiental da Inglaterra e do País de Gales revelam que cento e vinte e uma espécies de peixes e cêrca de quatrocentas espécies de organismos invertebrados vivem no rio Tâmisa. Apesar disso, ainda hoje, toneladas de lixo são retiradas do rio diariamente.

Fotografia. Vista do alto de ambiente urbano com um rio largo em tons de azul no centro. No centro do rio,  uma embarcação em tons de laranja, rebocando uma plataforma de carga de formato retangular. Ao fundo, uma ponte em tons de verde.  Ao redor, à esquerda e à direita do rio, prédios de diversos tamanhos e formatos, alguns espelhados.  Mais ao fundo, há torres mais altas, espelhadas em cinza azulado. No alto, o céu em azul claro e nuvens grandes em tons de branco e cinza.
Rio Tâmisa, em Londres, na Inglaterra. Fotografia de 2019.

A organização da classe operária

No início do século dezoito, os tecelões ingleses organizaram as primeiras associações trabalhistas. Os antigos artesãos, convertidos em trabalhadores assalariados das manufaturas, fundaram pequenos clubes com a intenção de obter aumento de salário. No entanto, as primeiras associações de trabalhadores organizadas e fortes surgiram apenas com o advento da grande indústria fabril. Por meio dessas organizações, os trabalhadores passaram a exigir melhores condições de trabalho.

Os “quebradores de máquinas”

Uma das primeiras fórmas de organização e resistência dos trabalhadores nas fábricas foi a ação dos chamados quebradores de máquinas. Alguns desses grupos se tornaram bastante conhecidos, como os da região de Lancashire, que atuaram entre 1778 e 1780, e os ludistas, que surgiram no princípio da década de 1810. Eles lutavam contra as longas jornadas e as péssimas condições de trabalho e defendiam a criação de leis trabalhistas e o fim das dispensas arbitrárias.

Os quebradores de máquinas invadiam as fábricas, em geral à noite, e destruíam os equipamentos e as máquinas. Eles foram reprimidos com violência.

Alguns historiadores consideram que os ludistas eram corajosos, mas ingênuos, pois atribuíam a origem de seus problemas às máquinas, e não aos proprietários delas. Para esses autores, os quebradores de máquinas não conseguiram perceber as mudanças profundas decorrentes da produção capitalista industrial.

Pesquisas mais recentes, no entanto, tendem a associar os ludistas a uma reação radical e consciente contra o sistema fabril. Segundo essa vertente, a principal intenção dos ludistas era mostrar que a fábrica não era a única nem a melhor fórma de organização do trabalho e da vida.

Caricatura. Sobre um chão de terra em nível mais elevado, um homem desproporcionalmente grande no centro da imagem, e abaixo dele, em nível mais baixo, pequenos homens, perto do pé esquerdo dele.  O homem no centro da imagem tem cabelos lisos castanhos e barba castanha, usa uma faixa fina e verde amarrada em torno da cabeça, veste um vestido longo de mangas curtas marrom de bolinhas pretas. Sob o vestido, usa uma blusa de mangas longas de cor marrom. Em uma de suas pernas, à esquerda, sobre os joelhos, a calça, uma meia com listras verticais azuis e brancas, uma meia marrom e sapatilha preta no pé. Na outra perna, à direita, a pele abaixo do joelho, a borda da meia com listras verticais azuis e brancas, uma meia marrom e nenhum sapato. Ele está com a cabeça voltada para a direita, olhando para os homens menores abaixo dele, e, com um dos braços  apontando para o alto e a direita.  Ele segura um bastão preto com uma esfera na parte superior.  Os homens pequenos ao redor dele estão vestidos com casaco, calça e chapéu preto. alguns erguem o chapéu para o alto.  Ao fundo, um local visto parcialmente em meio à chamas vermelhas, com fumaça subindo para o céu.  À esquerda, outros homens menores. Em segundo plano, morros. No alto, o céu com fumaça em tons de branco.
Publicada em revista inglesa, em 1812, esta caricatura representa néd lúd, um dos operários que lideraram o movimento dos quebradores de máquinas. O termo "ludista" tem origem no seu nome: Lud.

Ler a caricatura

foi representado usando um disfarce (no caso, roupas femininas). Por que os ludistas consideravam necessário usar disfarces em suas ações? Explique.

Ícone. Sugestão de livro.

TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 2019. O livro narra a Revolução Industrial por meio da história de dois personagens que vivem na cidade de Londres no comêço do século dezenove.

A hora dos sindicatos

Para combater a rotina extenuante e as péssimas condições de vida e de trabalho que enfrentavam, os operários começaram a se reunir em associações trabalhistas chamadas trade unions, ou sindicatos. O objetivo dessas associações era reunir os operários e organizar suas lutas para conquistar aumento de salário, redução das jornadas de trabalho, regulamentação das férias e do descanso semanal remunerado e limitação do trabalho infantil.

As associações trabalhistas na Inglaterra, no entanto, foram proibidas em 1799. Mesmo assim, muitas continuaram existindo clandestinamente. Em 1871, essas associações foram efetivamente legalizadas.

O cartismo

O cartismo nasceu em Londres, em 1838, quando uma associação de trabalhadores enviou ao Parlamento inglês a Carta do Povo (que deu origem ao nome “cartismo”). Nesse documento estavam reivindicações como o voto secreto, o sufrágio universal masculino e o direito dos operários a candidatar-se às cadeiras do Parlamento.

A petição recebeu mais de 1 milhão de assinaturas de trabalhadores. A recusa do Parlamento em aprovar a carta desencadeou uma onda de greves, manifestações e prisões. Por volta de 1840, o movimento apresentou outra peti­ção, mais radical que a primeira. Além das reivindi­cações iniciais, o documento exigia aumento de salário e redução da jornada de trabalho. A nova petição recebeu cêrca de 3,3 milhões de assinaturas.

Aos poucos, as lutas operárias surtiram efeito. As leis trabalhistas do século dezenove e do início do século vinte melhoraram as condições de trabalho nas fábricas e nas minas inglesas. Além disso, essas conquistas fortaleceram as lutas dos tra­balhadores de outros países.

Legislação trabalhista

Legislação trabalhista na Inglaterra

1833

Limitou o trabalho das crianças entre 9 e 13 anos a 8 horas diárias.

1871

Legalizou o direito de formar sindicatos.

1908

Instituiu os primeiros sistemas de seguro social.

1919

Estabeleceu a jornada de 8 horas diárias.

Elaborado com base em dados obtidos em: UK Parliament. Disponível em: https://oeds.link/tRLG06. Acesso em: 16 fev. 2022.

Gravura. Vista geral de local aberto e urbano, com uma rua no centro. Centenas de pessoas estão reunidas na rua, à esquerda e à direita. Ao centro, um espaço vazio, ocupado apenas por dois garotos que brincam com um círculo e gravetos. À esquerda, há homens montados à cavalo. À frente deles, duas fileiras com dezenas de homens levando sobre os ombros duas hastes horizontais paralelas, encimadas por uma estrutura em madeira vazada que contém papéis empilhados. Nessa estrutura, há inscrições em inglês; uma delas indica a palavra: 'Carta'. À frente desses homens, uma grande multidão, algumas pessoas carregando bandeiras coloridas hasteadas com texto ilegível na reprodução. Além de duas carruagens puxada por cavalos.  À direita, outra multidão de pessoas, homens, mulheres e crianças. Além de uma carruagem puxada por cavalos.  Ao fundo, prédios e árvores de folhas verdes. No alto, o céu azul e nuvens brancas espalhadas.
, Tômas. Representação da apresentação da petição cartista ao Parlamento, em 1842. Século dezenove. Gravura (detalhe). Biblioteca Britânica, Londres, Inglaterra.
Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

Cidadania e civismo

O trabalho das crianças

Nas primeiras fábricas de tecido inglesas, era muito comum que crianças trabalhassem por longas horas. Séra Cárpenter foi uma delas. Séra passou a viver e a trabalhar em uma tecelagem em Derbyshire quando tinha dez anos de idade. Muito tempo depois, em 23 de junho de 1849, deu este depoimento sobre sua experiência ao jornal The Ashton Chronicle.

Depoimento

Nossa refeição mais comum era bolo de aveia. Era pesado e grosseiro. Esse bolo era colocado em latas. Leite fervente e água eram misturados a ele. Esse era nosso café da manhã e nossa ceia. Nosso jantar era torta de batata com bacon cozido, um pouco aqui e um pouco lá, tão grosso de gordura que mal dava para comer, embora tivéssemos fome o suficiente para comer qualquer coisa. Chá, nunca vimos, nem manteiga. Comíamos queijo e pão preto uma vez ao ano. Só nos permitiam três refeições por dia, apesar de nos levantarmos às cinco da manhã e trabalharmos até as nove da noite.

reticências

Existia um contramestre chamado William ríus reticências. Ele veio até mim e me perguntou o que meu maquinário fazia parado. Eu disse que não sabia porque não tinha sido eu quem o havia parado reticências. ríus começou me batendo com uma vara, e reticências eu disse para ele que minha mãe ficaria sabendo disso. Então, ele saiu para buscar o mestre, que passou a lidar comigo. O mestre começou a me bater com um pau na cabeça até que ela ficasse repleta de caroços e de sangue. Minha cabeça ficou tão ruim que eu não consegui dormir por um longo tempo reticências.

Séra Cárpenter. SpartacusEducational. Disponível em: https://oeds.link/RuKAF9. Acesso em: 16 fevereiro 2022. (Tradução nossa).

  1. Quando Séra Cárpenter deu esse depoimento e para quem o fez?
  2. Quantas horas as crianças trabalhavam na fábrica por dia, segundo o depoimento?
  3. Você considera que a alimentação e as horas de descanso que as crianças tinham eram adequadas? Por quê?
  4. Uma situação como essa seria possível nos dias de hoje? Explique.
Ilustração. Dentro de um local fechado de paredes verdes e teto amarelo, janelas compridas na vertical, vigas em preto.  À esquerda, um tear mecânico que ocupam toda a porção esquerda da ilustração, de base marrom, sustentado por vigas pretas e constituído por estruturas em cinza por onde passam linhas finas brancas na vertical. Manipulando o tear, há duas mulheres com o corpo inclinado para frente, perto das linhas. Uma tem cabelos escuros, com vestido azul e marrom.  Diante delas, duas crianças em pé e uma deitada debaixo do tear. Dos meninos que estão em pé, um tem cabelos castanhos, usa blusa de mangas compridas azul, calça amarela e sapatos brancos. Ele é abraçado por um outro, que tem o rosto próximo ao seu ouvido, usando camisa branca e macacão marrom, descalço.  De frente para eles, à direita, uma mulher vista de costas, de cabelos escuros e presos, vestido de mangas curtas vermelho. Próximo dela, um homem visto parcialmente.  Em segundo plano, três homens formam uma roda de conversa. O que está de frente para o observador, usa casaca avermelhada, calça amarela e cartola preta. Ele segura com a mão direita uma haste em preto, cuja extremidade está em sobre a palma da outra mão.
HERVIEU, August. Crianças trabalhando em fábrica de tecidos de algodão. 1840. Ilustração. Publicada na obra The Life and Adventures of Michael Armstrong, the Factory Boy, da escritora inglesa Frances Trollope. Biblioteca Britânica, Londres, Inglaterra.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Copie o quadro a seguir em seu caderno. Com base em seus conhecimentos e nas informações vistas neste Capítulo, preencha-o com as características de cada fórma de trabalho listada.

Formas de trabalho

Características

Artesanato

Sistema doméstico

Manufatura

Maquinofatura

  1. Neste Capítulo, conhecemos um pouco do cotidiano dos operários nas chamadas cidades industriais. Agora, reúna-se com um colega para fazer as atividades a seguir.
    1. Durante a Revolução Industrial, as cidades industriais eram ocupadas de maneira igualitária por seus habitantes? Por quê?
    2. E nos dias de hoje, será que a ocupação das cidades reproduz as diferenças sociais? Citem exemplos para justificar sua resposta.
    3. O jeito de pensar a cidade mudou muito ao longo dos séculos. Em 2020, por exemplo, um órgão ligado à Organização das Nações Unidas lançou uma carta-manifesto, apresentando a necessidade de construirmos gestões mais inclusivas e sustentáveis para as cidades. Leia o texto a seguir e, com os colegas, pensem em uma ação que possa garantir ao menos uma melhoria na cidade em que vocês vivem.

[Em carta, o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (Ônu Ábitat)] defendeu a importância de garantir o direito à moradia adequada reticências, assim como abordar os impactos da exclusão socioeconômica e da segregação territorial reticências.

O documento defende ainda a implantação de políticas públicas reticências a partir de três grandes desafios para as futuras gestões municipais: o sanitário, com a ampliação das melhorias habitacionais e do acesso ao saneamento básico nos assentamentos precários, principalmente após a pandemia da covíd-19; o econômico, com a elaboração de um plano de desenvolvimento econômico solidário; e o democrático, por meio de uma gestão pública participativa, integrada e transversal.

Ônu Ábitatapoia manifesto que pede políticas urbanas para redução das desigualdades no Nações Unidas Brasil, 9 setembro 2020. Disponível em: https://oeds.link/47xfjU. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

3. Observe atentamente a tirinha a seguir para responder às questões.

Tirinha. História em três quadros.  A tirinha tem como personagens: um robô cinza com botão vermelho no centro do peito acoplado a um painel removível cinza, dois braços mecânicos, e as mãos com formato de chave de boca. Os pés são duas rodinhas e, no lugar das pernas, uma caixa cinza com um painel removível, em azul.  O segundo personagem é um homem calvo, de terno azul, gravata preta e camisa branca. O terceiro personagem é um homem de capacete e calça azul, e camiseta amarela, que só aparece no último quadro.  No primeiro quadrinho, o homem de terno, caminha para a esquerda, de olhos fechados, com um braço atrás das costas e a outra mão tocando as costas do robô, que está à esquerda, de costas para ele. O homem de terno com um balão de fala: 'IMPORTEI ROBÔ PARA A LINHA DE PRODUÇÃO!'.   No segundo quadrinho, o homem de terno azul está à esquerda, à frente do robô, à direita, com seus olhos fechados. Ele toca o botão vermelho do robô, que está de frente para o homem. Rindo, o homem de terno azul com um balão de fala: 'COM UM SIMPLES TOQUE NO BOTÃO, ELE ENTRA EM AÇÃO!'. E outro balão de fala: 'TORNANDO A MÃO DE OBRA HUMANA TOTALMENTE OBSOLETA!'.  No terceiro quadrinho, o homem de terno azul está à esquerda, com a língua de fora, com gotas de suor saindo da cabeça, e os olhos arregalados. O robô, no centro, com o braço mecânico esticado, prende o pescoço do homem, erguendo-o do chão. À direita, está o homem de capacete, lendo um pequeno livro em suas mãos. O homem de terno azul com um balão de fala: 'FAZ ALGUMA COISA, ANDA LOGO!!'. O homem de capacete com o balão de fala: 'CALMA! ESTOU LENDO O MANUAL!'.
BARBOSA, Gilmar. Robô para linha de produção. In: Cartuns & Humor: ócios do ofício. São Paulo: Escala, 2002.
  1. Identifique as personagens que aparecem na tirinha e o papel que elas representam.
  2. Qual é a crítica feita nessa tirinha? Justifique.
  3. A tentativa de substituir a mão de obra humana por máquinas gerou diversos conflitos ao longo da história. Cite um exemplo e explique-o.

CAPITULO 3  OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Há alguns anos, o diretor de marketing da séde brasileira de uma empresa de telefonia, ao falar sobre um modêlo de celular prestes a ser lançado, afirmou que, antes de tudo, era preciso criar nas pessoas o desejo de possuir esse produto.

Essa história ajuda a entender as transformações trazidas pela Revolução Industrial. Antes dela, um produto era lançado no mercado para responder a uma demanda. Depois da mecanização da produção, foi possível fabricar em quantidades tão grandes, com custos tão baixos, que as indústrias passaram a investir na criação de demandas, ou seja, já que não havia necessidade de tantos e tão diversos produtos, os fabricantes começaram a provocar nas pessoas o desejo pelas mercadorias.

Pintura. Vista da vitrine de uma loja a partir da rua. As silhuetas das figuras são levemente indefinidas. As pinceladas dão ao observador a impressão das formas, das cores e do jogo de luzes. Na calçada, na parte inferior da imagem, em tons de marrom, há três pessoas: à esquerda, um homem e uma mulher de braços dados, usando chapéus e casacos escuros, vistos de costas, estão de frente para a vitrine. À direita, há uma mulher caminhando pela calçada. Ela é vista de lado, com o corpo voltado para a esquerda. Tem cabelos longos e escuros e usa um casaco bege e um chapéu preto. A loja fica em uma esquina. A vitrine tem o formato quadrado e é cortada por esquadrias de metal preto formando uma cruz no centro. No alto da vitrine, no alto da pintura, há reflexos de luzes amareladas. Dentro da vitrine, há manequins com vestidos em tons de rosa claro, azul e vermelho. A parede da fachada da loja tem tons de marrom escuro.
Israéls, Isác. Vitrine. 1894. Óleo sobre tela, 59 por 64 centímetros. Museu Nacional da Holanda, Amsterdã, Holanda.

Circulação de povos, mercadorias e culturas

A mecanização da produção possibilitou uma multiplicação rápida e constante de mercadorias e serviços. Graças a invenções como os trens, os navios a vapor e o telégrafo, as distâncias do planeta foram encurtadas, o que possibilitou a integração da economia capitalista em todos os continentes. Com os novos meios de transporte e de comunicação, a circulação de mercadorias se expandiu vertiginosamente. Os fluxos de capital e de pessoas se aceleraram na mesma velocidade.

Se, por um lado, a industrialização impulsionou a economia da Inglaterra e, posteriormente, dos outros países que passaram por esse processo, por outro, ela causou a desorganização do processo produtivo em diversos locais. Antes da Revolução Industrial, a Índia era tradicionalmente a exportadora de tecidos para a Inglaterra. Com a industrialização, passou a fornecer apenas o algodão, que era a matéria-prima utilizada pelas tecelagens inglesas, e a importar o tecido industrializado, entre outros produtos. Como resultado, a maioria das tecelagens indianas faliu. A produção, em sua maioria artesanal e doméstica, foi incapaz de concorrer com os produtos industrializados ingleses.

Fotografia em preto e branco. Dentro de um local fechado com teto claro com vigas de metal na horizontal, e piso escuro, há cinco mulheres em pé, cada uma delas perto de uma máquina.  As máquinas tem formato circular, com grupos de feixes de fios brancos na parte inferior e engrenagens circulares na cor preta na parte superior.  À frente, em primeiro plano, à direita, perto de uma dessas  máquinas, uma mulher posa para a foto, olhando para a câmera. Ela tem cabelos escuros e curtos, usa um xale quadriculado sobre os ombros e veste uma saia longa preta.  Mais ao fundo, há outras mulheres olhando para frente posando para a foto diante das máquinas.  No centro da imagem, à frente de uma das máquinas, há uma mulher de cabelos escuros e presos, usando blusa preta, saia longa preta e um xale sobre os ombros. Ela está com as mãos na cintura e os cotovelos flexionados nas laterais do corpo. Atrás dela, há outra mulher vista apenas parcialmente. Ao fundo, há mais duas mulheres de trajes escuros e um homem de boina, bigode escuro e casaco branco, com as mãos na cintura e os cotovelos flexionados.  No canto esquerdo, há um rapaz de cabelos curtos visto de lado, vestido com uma camisa clara com as mangas dobradas e uma calça escura.
Trabalhadoras em uma tecelagem em Bradford, cidade no norte da Inglaterra, no final do século dezenove. Essa fábrica produzia, predominantemente, tecidos de lã. Os diversos tipos de tecido ingleses passaram a concorrer com os tecidos produzidos em outras partes do mundo.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Ciência e tecnologia
As ferrovias

As necessidades da indústria de carvão foram responsáveis, em grande parte, pelo desenvolvimento dos trens e das estradas de ferro. Era preciso encontrar meios eficientes para trazer grandes quantidades de carvão do fundo das minas até a superfície e, também, para levar o carvão até os pontos de embarque para comercialização.

Inicialmente, eram usados carros de mão sobre trilhos para trazer o carvão do fundo das minas e levá-lo até um canal ou rio. Mais tarde, foram construídas estradas de ferro para que vagões com maior capacidade de carga fossem puxados por cavalos. Em 1804, começou a funcionar a primeira locomotiva a vapor. A primeira linha férrea de mercadorias e passageiros foi a Liverpool-Manchester, inaugurada em 1830.

As vias férreas se expandiram rapidamente na Inglaterra e em vários outros países. Os trens passaram a transportar, além de mercadorias e passageiros, jornais, correspondências e todo tipo de carga. As viagens tornaram-se mais seguras e rápidas. O transporte ferroviário virou símbolo de progresso e velocidade e transformou as paisagens.

Ciência e tecnologia
Navios a vapor

O primeiro barco equipado com um motor a vapor foi criado pelo estadunidense Róbert Fúlton, em 1807, nos Estados Unidos. Essa invenção mostrou-se rentável e logo passou a ser empregada nas navegações fluvial e costeira.

Em 1819, o primeiro navio a vapor, chamado Savannah, cruzou o oceano Atlântico, entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Na década de 1860, as grandes companhias de navegação inglesas se desenvolveram e passaram a realizar viagens entre diferentes continentes, do Extremo Oriente às Américas.

A travessia regular dos oceanos foi iniciada pelos chamados navios postais a vapor. O transporte de correspondências era um negócio lucrativo para as companhias marítimas.

Cartaz. No centro, uma ilustração representando um grande navio à vapor em alto mar. O navio tem o costado de cor preta; uma parte do casco, na linha da água, é de cor vermelha. A embarcação tem dois mastros com cabos formando triângulos ao redor deles: um mastro na proa e outro na popa. Entre os dois mastros, no centro da embarcação, há uma chaminé por onde sai grande quantidade de fumaça preta, que se desloca para trás.  Na popa do navio, há uma bandeira com listras verticais nas cores azul, branca e vermelha. Também há bandeiras no topo de cada um dos mastros.  O mar tem ondas leves e cor azul escura.  Na parte superior da ilustração, o céu em azul claro, com muitas nuvens.  No alto do cartaz, há um texto em vermelho, originalmente em francês: 'Companhia de Navegação Mista. Argélia, Tunísia e Marrocos'. E em caracteres azuis, o texto: 'Transatlânticos. Correio francês'. Na parte inferior do cartaz, texto em caracteres de cor preta, ilegível na reprodução.
Cartaz de propaganda do início do século vinte divulgando viagens de Marselha para Argélia, Tunísia e Marrocos, em navio a vapor.
Telégrafo

A comunicação de longa distância sofreu uma grande reviravolta com a invenção do telégrafo. Ele foi criado no século dezoito e usava códigos para transmitir informações de um lugar para outro. O principal código utilizado pelos telégrafos foi o código Morse, que surgiu com a criação do telégrafo elétrico na década de 1830. A comunicação via telégrafo desenvolveu-se com a construção de cabos submarinos, que encurtaram as distâncias e, assim, integraram o mundo.

O telégrafo foi usado pelos capitalistas para ampliar e agilizar o comércio e a administração das empresas. Os governos o utilizaram para fins militares e para dar mais eficiência à administração do país. Já os cidadãos comuns se comunicavam com parentes em regiões distantes e viabilizavam negócios.

Os jornais diários também foram beneficiados pelo telégrafo. Eles passaram a difundir notícias do mundo inteiro, recolhendo informações de repórteres que enviavam textos por meio de telegramas.

Fotografia. Sobre um fundo preto, um objeto metálico dourado sobre uma base retangular de madeira marrom. Na ponta da esquerdado objeto, há quatro pequenos botões metálicos dourados e, no centro e à direita, uma estrutura metálica dourada na vertical com três molas de metal na vertical, ladeada por duas engrenagens redondas douradas afixadas à estrutura central por parafusos metálicos prateados.
Telégrafo criado pelo britânico chárlis em 1858. Museu da Ciência, Londres, Inglaterra.
Circulação de pessoas

Outro efeito da integração do mercado mundial foi o aumento da movimentação de pessoas e do contato entre culturas.

Durante o século dezenove, por diferentes motivos, milhões de europeus e asiáticos saíram de seus países fugindo de guerras ou buscando uma vida melhor. Mudaram-se tanto para países da Europa como para países de outros continentes, principalmente a América. Essa movimentação foi possível, em grande parte, em função do desenvolvimento dos meios de transporte. Por outro lado, as notícias sobre os lugares mais distantes circulavam e despertavam interesse e esperança nas pessoas.

Muitas situações podem ilustrar essa conjuntura. Entre elas, é possível mencionar, por exemplo, a descoberta de ouro no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que ocorreu em 1849. O aumento populacional na região provocado por essa descoberta fez surgir uma extensa rede de comércio que ligava regiões costeiras do oceano Pacífico. Se o ouro atraiu pessoas de diversos lugares, como mexicanos, chilenos e peruanos, também atraiu milhares de chineses que buscavam oportunidades na rede de comércio que abastecia os novos moradores da região.

Os chineses levaram consigo a larga experiência com o comércio e introduziram uma série de elementos culturais orientais no Ocidente. Dados estatísticos da época mostram o grande fluxo migratório de chineses para a Califórnia. Ao final do período, 25% dos habitantes não californianos do estado eram chineses.

Fotografia. Vista de uma rua em ambiente urbano.  A rua, no centro da imagem, é reta, asfaltada, tem tons de cinza escuro e carros estacionados à esquerda. No alto da rua, há fios pretos com luminárias vermelhas de formato oval pendurados horizontalmente.  Cada fio tem dez luminárias vermelhas iguais. Na calçada, à direita, pessoas vestidas com roupas de frio (casacos, blusas e gorros) caminham a pé.  À direita e à esquerda, há prédios baixos de paredes coloridas de tijolos cor de terracota, em tons marrom, bege e amarelo. Em cada lado da rua há postes de iluminação pública, com uma estrutura vertical de cor turquesa e luminárias de estilo oriental, verticais, com o topo como um pequeno telhado, de cor vermelha. À direita, na calçada, há árvores de folhas verdes e vasos redondos de cor preta com plantas verdes.  Há placas verticais cor de vinho, com escrita em caracteres chineses em branco, em um prédio, à direita.  E placas verticais de cor amarela, com escrita em caracteres chineses  vermelhos, em um prédio à esquerda. Outras placas semelhantes, em cores variadas estão nas fachadas das lojas, mais ao fundo. No alto, o céu em tons de azul claro, rosa e amarelo e com poucas nuvens.
Chinatown, hoje um bairro turístico em São Francisco, na Califórnia (Estados Unidos), era o lugar da cidade onde se concentravam os imigrantes chineses e é, até hoje, a maior comunidade chinesa fóra da China. Fotografia de 2021.
Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Geografia

A Revolução Industrial e o espaço geográfico

Ao longo da história, os seres humanos transformaram o espaço e modificaram de fórma impactante sua relação com a natureza.

O geógrafo Milton Santos considera três momentos para se referir ao meio geográfico: o “meio natural”, o “meio técnico” e o “meio técnico-científico-informacional”. Vamos compreender melhor a visão do autor?

Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza reticências suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida reticências.

Esse meio natural reticências era utilizado pelo homem sem grandes transformações. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza reticências.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição São Paulo: êduspi, 2008. página 235-236.

Esse cenário predominou até a Revolução Industrial, quando ocorreu uma transformação extensa e profunda na relação humana com a natureza. Com a produção de mercadorias em larga escala, a existência de meios de transporte mais eficientes e um amplo comércio internacional, surge o meio técnico, que:

reticências vê a emergência do espaço mecanizado. Os objetos que formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são culturais e técnicos, ao mesmo tempo. reticências

Os objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua própria razão reticências. Utilizando novos materiais e transgredindo a distância, o homem começa a fabricar um tempo novo reticências.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição São Paulo: êduspi, 2008. página 236-237.

Para o geógrafo, no momento atual vivemos no meio técnico-científico-informacional, em que a ciência, a tecnologia e a informação são utilizadas nas transformações do espaço geográfico.

Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. reticências

Da mesma fórma como participam da criação de novos processos vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais), a ciência e a tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da produção, da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu substrato.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição São Paulo: êduspi, 2008. página 237-238.

Após a leitura atenta dos trechos, responda:
  1. Qual é a relação entre a Revolução Industrial e o meio técnico, de acôrdo com os trechos anteriores?
  2. Ao definir “meio natural”, Milton Santos diz que “as técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza”. O que significa isso? Como a Revolução Industrial alterou essa relação?

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Explique por que a ferrovia se tornou um símbolo de progresso e velocidade no século dezenove.
  2. De que fórma os navios a vapor contribuíram para a comunicação entre as pessoas que viviam em diferentes continentes?
  3. Sob orientação do professor, reúnam-se em grupos. Leiam o texto a seguir e respondam ao que se pede.

Antes da existência da rede de telégrafo e, sobretudo, dos cabos submarinos, o papel de correspondente jornalístico restringia-se a isto: correspondiam-se. Escreviam cartas de onde estavam e que eram enviadas por navio, trem ou carruagem dos correios. As notícias podiam chegar com dias ou semanas de atraso e, assim, não eram os elementos mais instigantes dos jornais. Com o advento do telégrafo, tudo isso mudou. As notícias podiam ser instantâneas; por isso, precisavam ser apuradas e relatadas com a maior velocidade possível.

reticências A princípio, os proprietários de jornais viam o telégrafo com alguma reserva. Havia os que temiam que ele liquidasse seu negócio; outros receavam que ele facilitasse a emergência de novos concorrentes. Com o tempo, porém, a disponibilidade de notícias quase imediatas de lugares remotos ajudaria os jornais a ampliar sua base de leitores e a desempenhar novos papéis.

, Rogê. A ascensão da mídia: a história dos meios de comunicação de gilgaméch ao Google. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. página 198.

  1. Segundo o texto, como os jornalistas exerciam sua profissão antes da invenção do telégrafo?
  2. Por que os proprietários de jornais encaravam o telégrafo com reservas? Será que atitude semelhante pode acontecer com alguma invenção da atualidade? Expliquem.

4. Em 2019, os cêrca de 12 mil chineses que construíram, no século dezenove, a primeira linha férrea transcontinental na América do Norte tiveram seu trabalho reconhecido e homenageado pelo govêrno dos Estados Unidos. Seus descendentes participaram de uma cerimônia de homenagem.

Os trabalhadores ferroviários chineses foram quase esquecidos pela História. Agora eles estão recebendo o devido reconhecimento.

Já se passaram 150 anos desde que duas ferrovias foram unidas para formar a primeira Ferrovia Transcontinental [nos Estados Unidos]. Em uma cerimônia em Utah, os trabalhadores ferroviários chineses foram reconhecidos pelo papel fundamental que desempenharam em sua construção.

Zireic, Karen. Chinese railroad workers were almost written out of History. Now they’re getting their due. The New York Times, 14 maio 2019. Disponível em: https://oeds.link/jDmzjr. Acesso em: 16 fevereiro 2022. (Tradução nossa.)

  1. Qual é o assunto da notícia?
  2. A linha férrea a que se refere a notícia é conhecida como Pacific Railway. Ela foi construída por duas frentes de trabalhadores. Uma trabalhou a partir do estado de Utah, em direção à costa oeste, e outra a partir do estado da Califórnia, em direção à costa leste. Em 1869, os dois trechos foram unidos. A partir do que você estudou neste Capítulo, responda: em que frente os trabalhadores chineses atuaram? Explique.
Ícone. Ilustração do globo terrestre circundado por uma linha amarela, simulando a trajetória da Lua em torno do planeta, indicando a seção Ser no mundo.

Ser no mundo

Meio Ambiente.

Importando costumes

O desenvolvimento tecnológico que ocorreu na Europa durante a Revolução Industrial promoveu a circulação de mercadorias europeias nas mais diversas regiões do mundo. Com os produtos, exportavam-se também os hábitos de uso e os costumes europeus. Esse fato mostra que as ideias também circulam! 

Um exemplo desse processo são as peças de vestuário e os costumes que ditavam os rumos da moda. No Brasil, especialmente entre meados do século dezenove e o início do século vinte, após a Segunda Revolução Industrial, roupas femininas e masculinas eram profundamente influenciadas pela moda europeia. A elite brasileira, em geral, era o grupo social que mais consumia produtos, tendências e ideias da moda que surgiam nas ruas de Paris e Londres.

Mas será que o estilo dessas peças de vestuário, ora importadas diretamente da Europa pelos grandes magazines, como os da rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, ora reproduzidas por costureiras e confecções daqui, adequava-se às condições e aos costumes do Brasil?

Fotografia em preto e branco. Em uma calçada, duas mulheres, no centro da imagem, observam a vitrine de uma loja de vestidos.  Vistas de lado, as mulheres têm cabelos escuros e presos, usam chapéus com arranjos de flores e laços e trajam vestidos longos, acinturados, de mangas compridas.  Uma delas, à frente, usa um chapéu branco e um vestido branco com babados na parte superior e segura uma sombrinha preta, fina e fechada, em uma das mãos.  A outra mulher, atrás da primeira, usa um chapéu escuro e um vestido escuro com listras brancas horizontais na barra e listras brancas verticais do centro do vestido.  Na fachada da loja, a vitrine reflete um prédio com janelas em forma de arco do outro lado da rua. Dentro da vitrine, há dois manequins, um com um vestido branco, longo acinturado, peruca escura e luvas longas; outro com um conjunto de casaco e saia longa, chapéu e luvas.  Em branco, sobre o vidro da vitrine, o texto: 'Armazéns do Parc Royal' e 'Seção da Avenida'.  Na fachada da loja, dos dois lados da vitrine, há cartazes verticais de fundo preto com texto em branco, em português, visto parcialmente. À esquerda, o texto: 'do Parc Royal. Seção da Avenida. 130-132'. À direita, o texto: 'Senhoras. Oficina de Vestidos'.
Fotografia de Augusto Malta, feita aproximadamente em 1910, mostrando os artigos expostos na vitrine de uma loja no Largo de São Francisco, na cidade do Rio de Janeiro. Tanto os artigos da vitrine quanto os vestidos e acessórios usados pelas duas mulheres que observam a loja têm influência da moda europeia (caracterizada pelo uso de vestidos longos, chapéus e guarda-chuvas, por exemplo).

Entre o final do século dezenove e o comêço do século vinte, por exemplo, grande parte dos homens brasileiros da elite gostava de se vestir com:

reticências várias camadas de roupas de lã sob fraques de casimiras inglesas quentíssimas, com cores escuras e sombrias; ceroulas, coletes, camisa de manga comprida com colarinho alto e apertado, luvas, cartola e polainas. reticências

GORBÉRGUI, Marissa. Parc Royal: um magazine na modernidade carioca. 2013. Dissertação (Mestrado em História, Política e Bens Culturais) — Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2013. página 21.

  1. Que elementos do vestuário masculino citados no texto indicam a influência europeia?
  2. Com base no texto que você acabou de ler, será que os homens brasileiros que se vestiam à moda europeia entre os séculos dezenove e vinte se sentiam confortáveis? Por quê?

Hábitos globalizados

Por que certos povos utilizam produtos que não fazem sentido para sua realidade e sua cultura? Seria para exibir ao mundo uma aparência de requinte, de riqueza?

Essas são questões bastante complexas. O historiador Nicolau SEVITCHENCO nos dá algumas pistas para pensar sobre elas.

As pessoas são aquilo que consomem. O fundamental da comunicação o potencial de atrair e cativar já não está mais concentrado nas qualidades humanas da pessoa, mas na qualidade das mercadorias que ela ostenta reticências. Em outras palavras, sua visibilidade social e seu poder de sedução são reticências proporcionais ao seu poder de compra.

SEVITCHENCO, Nicolau. A corrida para o século vinte e um: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. página 64.

Na atualidade, com a globalização, muitos hábitos de consumo também se globalizaram. Existem lojas de redes mundiais de fast-food nos mais remotos rincões do planeta. Quanto ao vestuário, a produção é feita de fórma industrial na maior parte dos países, o que estabelece certa padronização nos estilos de se vestir, ao menos na moda do dia a dia.

Esse contexto se estende a outros produtos. É comum que as redes internacionais de lanchonetes, ao se instalar no Brasil, por exemplo, insiram produtos nacionais no cardápio, para agradar os consumidores locais e aproximar-se dos gostos e do paladar do brasileiro. O pão de queijo, o “pão na chapa” e a tapioca, por exemplo, aparecem no cardápio das redes em algumas regiões do país.

  1. Em seu caderno, escreva um parágrafo relacionando as ideias do historiador Nicolau SEVITCHENCO ao consumo de produtos e ideias “importados”. Você já viveu alguma experiência que se relacione a essa situação? Em caso afirmativo, descreva-a.
  2. Em sua opinião, os brasileiros de hoje consomem muitos produtos “importados” que influenciam nossos gostos e nossas preferências? Essa influência é negativa ou positiva? Em que condições o consumo desses produtos é consciente?

Glossário

Parlamento
O Parlamento inglês era composto, desde o século catorze, da Câmara dos Lordes, cujos membros eram nomeados pelo rei, e da Câmara dos Comuns, com representantes eleitos por moradores abastados das diversas regiões do reino.
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Puritano
Palavra utilizada para se referir aos calvinistas na Inglaterra.
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Cabeça-redonda
Membro do exército parlamentar, assim chamado devido ao córte redondo de cabelo, típico dos puritanos.
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Lordes espirituais e temporais
Pertencentes à Câmara dos Lordes do Parlamento, formada por arcebispos e bispos da Igreja anglicana (lordes espirituais) e membros da nobreza britânica (lordes temporais).
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Comuns
Refere-se à Câmara dos Comuns, uma das instituições do Parlamento inglês que reuniam a burguesia urbana e a pequena nobreza no século dezessete.
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Líquen
Organismo formado pela interação entre certos tipos de fungos e algas, muito sensível à poluição atmosférica.
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