UNIDADE dois O ILUMINISMO, A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS E A REVOLUÇÃO francesa
Conhecimento, progresso, liberdade, igualdade entre as pessoas e oposição ao clero eram alguns dos valôres defendidos pelo Iluminismo, movimento iniciado na Europa no século dezoito.
As ideias iluministas estiveram presentes em movimentos que provocaram grandes transformações políticas e sociais, como a Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos e as independências das colônias da América ibérica.
O que você já sabe sobre o Iluminismo? Qual é a relação entre as ideias iluministas, como igualdade e liberdade, e o desejo das colônias americanas de se tornarem independentes das metrópoles?
Você estudará nesta Unidade:
As principais características do Iluminismo e do liberalismo econômico
O que foi o despotismo esclarecido
Como as ideias iluministas influenciaram a independência dos Estados Unidos
O contexto em que ocorreu a Revolução Francesa e a maneira como aconteceu esse processo
Como a Revolução Francesa transformou as relações sociais na França e influenciou outras sociedades em todo o planeta
CAPÍTULO 4 O ILUMINISMO E A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
No século dezoito, a sociedade europeia do Antigo Regime era profundamente desigual e hierarquizada. O clero e a nobreza eram os grupos dominantes. Eles eram donos das maiores propriedades de terra e estavam isentos de muitos impostos. A maior parte da população era formada basicamente por burgueses, trabalhadores urbanos e camponeses. Esses grupos não tinham acesso aos privilégios da nobreza nem a postos de comando e pagavam altos impostos.
Além disso, a sociedade era dividida em estamentos (camadas). Os indivíduos praticamente não tinham nenhuma possibilidade de transitar entre os diferentes estamentos. Desse modo, a sociedade europeia dessa época era uma sociedade estamental, na qual a origem, mais do que a renda, determinava a posição social do indivíduo.
Nesse período, formou-se na Europa um movimento de intelectuais conhecido como Iluminismo. Os iluministas defendiam a igualdade e a autonomia dos seres humanos e eram contrários aos privilégios da nobreza. Neste Capítulo, você vai ver que, além de influenciar grandes parcelas da população europeia, essas ideias inspiraram os habitantes de diversas colônias na América, como os Estados Unidos, que passaram a lutar por sua independência.
O pensamento iluminista
Ao longo do século dezoito, o Iluminismo, também conhecido como Ilustração, caracterizou-se como um movimento de crítica ao Antigo Regime. Os pensadores iluministas, intelectuais de diversas áreas do conhecimento, eram contrários à influência política e cultural da Igreja, aos privilégios da nobreza, à servidão no campo, aos monopólios comerciais e à censura.
Eles defendiam a igualdade entre os seres humanos, ou seja, que ninguém deveria ter privilégios em razão de sua origem familiar ou social. Defendiam, também, que as leis deveriam ser determinadas com base na razão humana, sem recorrer a justificativas religiosas ou à tradição. Consideravam, ainda, que o estabelecimento de um contrato social, um acôrdo realizado entre os cidadãos e o Estado, garantiria a propriedade e a convivência pacífica entre as pessoas.
Iluminismo
O termo “iluminismo” originou-se da ideia de que, na Idade Média, a Europa teria vivido um período de trevas, resultado do contrôle da Igreja sobre a sociedade. Na visão dos iluministas, só a razão poderia direcionar a história humana para o caminho da luz.
Mudanças políticas, sociais e econômicas
Essas novas ideias abalaram o Antigo Regime. A princípio, os ideais iluministas influenciaram profundamente as Revoluções Inglesas do século dezessete e, depois, impulsionaram a Revolução Industrial. Contudo, foi na França que a influência da sociedade pelos ideais iluministas atingiu seu auge, com a Revolução Francesa.
O Iluminismo provocou mudanças políticas e econômicas. Sua influência também se estendeu para a educação, a cultura, a arte e a moral da época. Além disso, os ideais iluministas inspirariam movimentos de independência em muitas colônias da América, como ocorreu nos Estados Unidos, bem como a Conjuração Mineira, no Brasil. Ainda hoje, esses princípios são evocados por diversos movimentos sociais.
Os filósofos das Luzes
Segundo os pensadores iluministas, a razão deveria ser o instrumento utilizado pelo ser humano para compreender o mundo, em detrimento do misticismo e da superstição.
Conheça, a seguir, alguns filósofos que colaboraram para o desenvolvimento do Iluminismo e algumas de suas ideias.
- O inglês Djón lóqui defendia que todo ser humano tem direitos naturais, como a liberdade, a felicidade e a prosperidade, que deveriam ser garantidos pelos governos. Estes deveriam nascer de um pacto entre os indivíduos e a sociedade, que aceitaria ser governada para superar os conflitos. Os governantes poderiam ser destituídos caso não correspondessem aos interesses comuns.
- O francês Montesquiê defendia a liberdade dos indivíduos, que deveria ser assegurada por um conjunto de leis, e a existência de três poderes independentes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
- O suíço voltér criticava o absolutismo e a Igreja católica. Defendia a liberdade de expressão como meio de livrar o povo da superstição e da ignorância.
- O francês Russô afirmava que o poder pertence ao povo e que, portanto, todo govêrno deveria estar submetido à vontade soberana do povo. Também acreditava que o ser humano, naturalmente bom, é desvirtuado pela sociedade.
Uma iniciativa criada por pensadores franceses, a Enciclopédia, organizada por Diderrô e Jan Dalembér, foi um dos principais empreendimentos dos iluministas. Produzida por intelectuais, editores e ilustradores, a obra reunia, de fórma resumida, todo o saber ocidental existente até o momento, expondo os avanços técnicos e científicos do século dezoito e contrapondo-se às ideias religiosas.
SOUZA, Maria das Graças de; NASCIMENTO, Milton Meira do. Iluminismo: a revolução das luzes. São Paulo: Grupo Almedina, 2020. A obra, dirigida a estudantes de todos os níveis de ensino e ao público em geral, apresenta as principais características do Iluminismo e da produção de conhecimentos no século . dezoito
Documento
A divisão de poderes
Montesquiê afirmava que só o poder é capaz de frear o poder, o que o inspirou a elaborar sua teoria da separação dos poderes. Leia a seguir sobre como ocorre essa separação.
De que fórma seria possível impedir a tirania?
Existem três espécies de govêrno: o republicano, o monárquico e o despótico reticências. Suponho três definições, ou melhor, três fatos: “o govêrno republicano é aquele no qual o povo em seu conjunto, ou apenas uma parte do povo, possui o poder soberano; o monárquico, aquele onde um só governa, mas através de leis fixas e estabelecidas; reticências no despótico, um só, sem lei e sem regra, impõe tudo por fôrça de sua vontade e de seus caprichos”. reticências
Para que não se possa abusar do poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o poder limite o poder. reticências
Existem em cada Estado três tipos de poder: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes e o poder executivo daqueles que dependem do direito civil.
Com o primeiro, o príncipe ou o magistrado cria leis por um tempo ou para sempre e corrige ou anula aquelas que foram feitas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, instaura a segurança, previne invasões. Com o terceiro, ele castiga os crimes, ou julga as querelas entre os particulares. reticências
Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura, o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não existe liberdade; porque se pode temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado crie leis tirânicas para executá-las tiranicamente.
Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não for separado do poder legislativo e do executivo. Se estivesse unido ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse unido ao poder executivo, o juiz poderia ter a fôrça de um opressor.
Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes reticências.
Montesquiê. O espírito das leis [1748]. São Paulo: Martins Fontes, 1996. página 19, 166-168.
- O livro O espírito das leis foi publicado pela primeira vez em 1748, quando a França era governada por um déspota. No trecho reproduzido, de que maneira Montesquiê critica a organização social e política da França no período? Como seria possível evitar os abusos de poder?
- Segundo Montesquiê, quantos tipos de poder deveriam existir nos Estados? Quais são eles? Que papéis cada um desempenha?
- Em que situação a liberdade do indivíduo é anulada pelo Estado? Justifique.
- Muitos Estados nacionais estão organizados com base na divisão de poderes. Pesquise quais são os princípios fundamentais que norteiam o govêrno democrático no Brasil, presentes na Constituição Federal de 1988. Depois, escreva em seu caderno um texto sobre como esses princípios estão relacionados ao texto.
O liberalismo econômico
Na sociedade feudal, o poder político era fundamentado no direito divino, isto é, havia a ideia de que o poder do rei era concedido por Deus. Os iluministas se opuseram a essa concepção de poder; eles afirmavam que o poder político deveria originar-se do consentimento de cada cidadão. Foi a partir dessa ideia que os pensadores iluministas inspiraram o liberalismo, um conjunto de ideias políticas e econômicas contrárias à intervenção do Estado na economia.
No campo da economia, as ideias liberais tiveram como principal representante o pensador Adam Ismíf, nascido na Escócia. Em sua obra Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, publicada em 1776 e que se tornou a base do pensamento econômico liberal, Ismíf criticou os fundamentos do mercantilismo — modêlo econômico que prevaleceu na organização social feudal.
Os mercantilistas acreditavam que a riqueza existente no mundo não poderia ser ampliada. Por isso, era importante acumulá-la o máximo possível. Assim, os Estados mercantilistas acumulavam o metal, que era considerado símbolo de riqueza. Já para o liberalismo econômico, o trabalho é a verdadeira fonte geradora de riqueza. Assim, a riqueza consistiria na capacidade de trabalhar, aperfeiçoar a produção e gerar cada vez mais investimentos e lucros. Isso seria possível, segundo os defensores do liberalismo, com o fim da intervenção estatal na economia e com o mercado orientado pela lei da oferta e da procura.
A concepção de Adam Ismíf sobre o ser humano
Adam Ismíf desenvolveu sua teoria econômica com base na visão filosófica que tinha a respeito do ser humano. Em sua obra Teoria dos sentimentos morais (1759), Ismíf expôs a ideia de que todo ser humano, por natureza, preocupa-se primeiro consigo próprio. Esse “egoísmo” dos seres humanos, porém, deveria ser controlado para garantir a convivência em sociedade. A capacidade de autocontrole, segundo Ismíf, provém de um interesse natural do indivíduo pelo outro, por sua felicidade e seu sofrimento. Dessa fórma, mesmo sendo naturalmente egoísta, todo ser humano sente prazer com a felicidade do outro. Há, portanto, um sentimento de solidariedade, que Ismíf chamou de simpatia. Segundo o filósofo, esse dom natural de autodomínio garantiria a ordem social, dispensando, assim, o contrôle direto do Estado sobre a sociedade. A concepção de Adam Ismíf sobre o ser humano legitima, portanto, a doutrina econômica conhecida como liberalismo.
, . Conversando sobre Economia com a minha filha. São Paulo: Planeta do Brasil, 2015.
O autor deste livro foi ministro das Finanças da Grécia e, em uma “conversa” com sua filha, explica os fundamentos do modêlo de economia que surgiu com o liberalismo.
Luzes na educação
Os iluministas combatiam o ensino privado e religioso. Defendiam que a educação elementar deveria ser obrigatória, dirigida pelo Estado e gratuita. Propunham uma educação laica (não religiosa), na qual o currículo escolar não estivesse submetido aos princípios de nenhuma crença religiosa. Para esses pensadores, a instrução escolar deveria ser orientada para o estudo das ciências, dos ofícios e das técnicas, preparando os estudantes para o trabalho.
Os princípios liberais da educação foram implantados na Europa ao longo dos séculos dezoito e dezenove. No entanto, apesar de o Iluminismo defender a extensão do ensino a todos os cidadãos, prevaleceu a divisão entre uma escola voltada para os burgueses e outra voltada para o povo.
Além disso, é possível considerar que
reticências são os Iluministas, de fato, que delineiam uma renovação dos [objetivos] da educação, bem como dos métodos e depois das instituições, em primeiro lugar da escola, que deve reorganizar-se sobre bases estatais e segundo finalidades civis, devendo promover programas de estudo radicalmente novos, funcionais para a formação do homem moderno (mais livre, mais ativo, mais responsável na sociedade) e nutridos de “espírito burguês” (utilitário e científico).
CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: Editora da Unésp, 1999. página 336.
No Brasil, o modêlo liberal de educação foi progressivamente reafirmado pelas legislações republicanas do século vinte, que estabeleceram o caráter laico e universal do ensino e a necessidade de preparar os jovens para o trabalho.
Educação e autonomia
Os iluministas também consideravam que a autonomia era parte importante da educação. Podemos entender a autonomia como a capacidade de cada um de guiar-se por sua própria razão, de fórma crítica e reflexiva. De modo geral, autonomia pode ser considerada como o “pensar por si mesmo”, um valor importante para a filosofia do Iluminismo.
Ler a gravura
• Você identifica mais semelhanças ou mais diferenças entre a sala de aula representada na gravura e a da sua escola? Quais são as semelhanças? E quais são as diferenças?
Literatura iluminista
Alguns dos principais pensadores iluministas recorreram a textos ficcionais para desenvolver e divulgar suas ideias. voltér, por exemplo, escreveu uma divertidíssima história de ficção, intitulada Cândido ou o otimismo (1759), em que satirizou aqueles que acreditavam que as ações divinas eram favoráveis aos homens ou que havia uma ordem universal prévia, harmoniosa e regrada pela justiça de Deus.
Russô também recorreu à ficção para transmitir suas principais ideias. No romance Emílio ou da educação (1757), descreveu as características da boa educação, que, segundo o autor, seria capaz de impedir que uma criança se tornasse um adulto mau. Acompanhe um trecho dessa obra.
Nascemos fracos, precisamos de fôrça; nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer, e de que precisamos adultos, é-nos dado pela educação. reticências
O desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e o ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas.
Cada um de nós é portanto formado por três espécies de mestres. O aluno em quem as diversas lições desses mestres se contrariam é mal-educado e nunca estará de acôrdo consigo mesmo reticências.
, Russô . Emílio ou da educação. 2. edição São Paulo: , 1973. Difél página 10-11.
Ler o texto
- Segundo Russô, quais são os três mestres que formam o ser humano?
- Russô defendia que a educação não se limitava ao ambiente da escola ou a determinada instituição. Explique essa afirmação com base nesse trecho da obra Emílio ou da educação.
O despotismo esclarecido
Na segunda metade do século dezoito, inspirados pelo Iluminismo e pelas ideias liberais, diversos monarcas europeus estabeleceram medidas para modernizar seus Estados. No entanto, isso não significou maior liberdade e participação política do povo. O objetivo desses monarcas era promover reformas que tornassem a administração do reino mais eficiente e, ao mesmo tempo, preservassem a ordem social e o absolutismo.
Esses monarcas ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos. Entre eles, estavam a rainha Catarina segunda, da Rússia, e os reis Gustavo terceiro, da Suécia, José primeiro, de Portugal, Frederico segundo, da Prússia, José segundo, da Áustria, e Carlos terceiro, da Espanha. Carlos terceiro fortaleceu o contrôle administrativo e fiscal sobre as colônias espanholas na América, expulsou os jesuítas desses territórios e instituiu novos impostos e novas divisões governamentais, como o Vice-Reino do Rio da Prata. Esperava, assim, dinamizar a dependente economia metropolitana.
Os salões literários
Os chamados salões literários, realizados principalmente em Paris, na França, eram lugares de conversas e debates entre intelectuais e desempenharam um papel importante na vida cultural do século dezoito e na disseminação de valôres e ideias iluministas.
O salão de Madame Jufrán, por exemplo, teve duração longa: esteve em atividade de 1749 a 1777. É importante notar que a própria Jufrán subsidiava alguns intelectuais, em especial os enciclopedistas.
Estados Unidos: independência
No século dezoito, as ideias iluministas inspiraram a população de algumas colônias na América a lutar pela própria independência. Um exemplo dessa influência é o caso das treze colônias, que depois passaram a integrar o território dos Estados Unidos.
Inicialmente, o contrôle da Inglaterra sobre as treze colônias da América do Norte não era rigoroso, no entanto, ao longo do tempo, essa situação se modificou. No século dezessete, a criação das Leis de Comércio e Navegação estabeleceu a cobrança de novos impostos que deveriam ser pagos pelos habitantes das colônias.
Depois, os altos custos que o govêrno da Inglaterra teve com a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), travada contra a França pelo domínio do comércio colonial na América do Norte, provocaram o aumento dos tributos cobrados dos habitantes das treze colônias.
A primeira medida para aumentar a arrecadação de impostos, então, foi a Lei do Açúcar (ou Lei da Receita), de 1764, que impunha o pagamento de tarifas alfandegárias sobre diversos produtos importados, como melaço, vinho, café, sêda e linho.
No ano seguinte, foi promulgada a Lei do Selo, que instituiu um novo tributo para a impressão de documentos legais e textos impressos, como jornais e livros.
, dêividsson . Uma breve história dos Estados Unidos. Pôrto Alegre: , 2016. Escrito por um historiador, o livro apresenta os principais momentos e personagens da história dos Estados Unidos, do século Ele e Pê ême dezessete ao século . vinte e um
KARNAL, Leandro . êti áli História dos Estados Unidos: das origens ao século . São Paulo: Contexto, 2007. A obra apresenta a história dos Estados Unidos, com linguagem acessível e atraente. Os textos abordam desde a colonização inglesa na América, passando pela relação entre colonizadores e povos indígenas, pelo processo de independência, pelas lutas de afrodescendentes por mais direitos e pelo fim do racismo, até chegar aos dias atuais. vinte e um
Os colonos reagem
A cobrança de impostos agravou o descontentamento dos colonos. Depois, em 1773, o Parlamento inglês concedeu o monopólio do comércio de chá à Companhia das Índias Orientais, sediada na Inglaterra. Com isso, essa empresa passaria a distribuir o produto nas colônias da América. A medida, conhecida como Lei do Chá, afetava os interesses dos colonos, que até então comercializavam o produto no mercado interno.
Como resposta à nova lei, alguns colonos disfarçados de indígenas lançaram ao mar o carregamento de chá de três navios ingleses no Pôrto de Boston. Esse acontecimento ficou conhecido como Boston Tea Party (em português, Festa do Chá de Boston).
O govêrno inglês reagiu ao ataque dos navios por meio do decreto de uma série de medidas, que ficaram conhecidas como Leis Intoleráveis, que aumentaram o contrôle, inclusive militar, sobre as colônias.
Indignados, os líderes das colônias determinaram o boicote aos produtos ingleses. Apropriando-se dos ideais iluministas, principalmente do pensamento do filósofo inglês Djón Lóque, que defendia o direito da população de lutar contra um Estado opressor, os colonos deram início a um movimento de resistência contra a Inglaterra.
É importante ressaltar que a independência não era um consenso entre as treze colônias. Alguns grupos sociais das colônias do sul, por exemplo, tinham receio de que a separação desencadeasse revoltas internas, principalmente dos escravizados, que poderiam se apropriar da ideia de liberdade e lutar pelo fim da escravidão.
A Declaração de Independência
A guerra de independência começou em março de 1775. Em maio do mesmo ano, representantes das colônias decidiram pelo rompimento das treze colônias com a Inglaterra, e uma comissão, dirigida por Tômas Jefferson, encarregou-se de redigir a Declaração de Independência. O documento, inspirado nos princípios do Iluminismo, foi aprovado em 4 de julho de 1776 e proclamou o direito das colônias à liberdade. Veja, a seguir, suas ideias principais:
- Todos os homens foram criados iguais.
- Todos têm direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade.
- Sempre que uma fórma de govêrno anular esses objetivos, o povo pode alterá-la ou instituir um novo govêrno.
- As colônias unidas são estados livres e independentes.
Participação política para poucos
A Inglaterra reconheceu a independência dos Estados Unidos apenas em 1783. Com a independência, surgiu uma nova organização política no país, baseada nos princípios liberais do Iluminismo: a república moderna. Nessa fórma de govêrno, as decisões dos cidadãos para conduzir a nação eram consideradas soberanas.
Entretanto, apesar da mudança na fórma de govêrno, muitos estadunidenses permaneceram sem direito à participação política no país, pois não eram considerados cidadãos. A escravidão foi mantida quase cem anos após a independência, os indígenas continuaram sendo perseguidos e expulsos de suas terras e as mulheres conquistaram o direito ao voto apenas no século vinte.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Alguns princípios do Iluminismo opunham-se à sociedade do Antigo Regime. Explique as contradições entre as ideias iluministas e a sociedade europeia do século dezoito.
- Sintetize o que foi o liberalismo econômico.
- Era comum, entre os filósofos iluministas, recorrer à ideia de liberdade para elaborar suas teorias. Eles pregavam a liberdade em relação a quê? Responda referindo-se à liberdade nas esferas individual e social.
- Leia o trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos para responder às questões.
Consideramos estas verdades evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens reticências.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Declaração de Independência, de 4 de julho de 1776. Acervo da Biblioteca do Congresso, Divisão de Impressos e Fotografias, Washington, D.C.
- Quais são os direitos inalienáveis do homem segundo esse documento?
- Quem é responsável por assegurá-los?
5. Leia o texto seguinte, sobre a situação dos escravizados após a independência dos Estados Unidos, e responda às questões.
Para os negros escravos, [a independência] foi um ato que em si nada representou. reticências nem à Inglaterra (que dependia do trabalho escravo em áreas como a Jamaica) nem aos colonos – os sulinos em particular – interessava que a guerra de independência se transformasse numa guerra social entre escravos e latifundiários, o que de fato não ocorreu. reticências
reticências Tanto o aumento da produção do algodão quanto o do tabaco fizeram crescer a demanda por mão de obra e, consequentemente, por escravos negros nessas regiões [Geórgia e Carolina do Sul]. Nesse momento, a Virgínia, além do tabaco, passou a fornecer um novo produto para o sul: escravos vindos da África.
FERNANDES, Luiz Estevam; MORAIS, Marcus Vinicius de. Os Estados Unidos da América no século dezenove. In: KARNAL, Leandro . êti áli História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2007. página95, 106.
- O que a independência dos Estados Unidos representou para os escravizados africanos? Por quê?
- Qual foi o impacto social gerado pela produção de algodão e tabaco nos Estados Unidos?
6. Após a independência, estabeleceu-se forte debate entre as ex-colônias da América do Norte: os novos estados deveriam ser autônomos ou deveria haver um poder centralizado e forte acima deles? O texto a seguir trata desse assunto.
A instituição de um govêrno central forte encontrava fortes resistências, uma vez que ia contra aquilo que os colonos lutaram nas Guerras de emancipação. reticências
Se os norte-americanos não queriam um govêrno central forte, a pulverização dos poderes locais os expunha a uma situação arriscada frente o Império inglês ao norte (Canadá) e ao Império Espanhol ao sul (Vice-Reinado da Nova Espanha que se estendia de onde é hoje América Central até a Califórnia).
Em 1787 reticências foi promovida uma Convenção na qual delegados dos 13 estados foram convidados à capital do país reticências. [Eles] saíram da Convenção com a proposta de uma República central forte regida por uma Constituição.
JUNQUEIRA, méri âne. Estados Unidos da América: formação do Estado Nacional. Amplác. Disponível em: https://oeds.link/DIzXIh. Acesso em: 17 fevereiro 2022.
- Por que havia resistência à adoção de um govêrno centralizador nos Estados Unidos?
- A fragmentação do país expunha-o a quais riscos?
- A Constituição proposta em 1787 estabeleceu que fórma de govêrno? Como pode ser caracterizada?
CAPÍTULO 5 A REVOLUÇÃO FRANCESA
No final do século dezoito, a França contava com aproximadamente 25 milhões de habitantes. A população dividia-se em três ordens ou estados: o primeiro estado, composto do clero; o segundo estado, formado pela nobreza; e o terceiro estado, que reunia todas as pessoas que não pertenciam aos dois primeiros estados.
O primeiro e o segundo estado, juntos, representavam 3% da população. Pagavam poucos impostos e tinham acesso aos principais cargos da administração pública.
O terceiro estado, formado por 97% da população, incluía a grande burguesia, que vivia um momento de franca expansão comercial, os pequenos comerciantes locais, os profissionais liberais, os artesãos e os demais trabalhadores urbanos e rurais.
Pelas proporções, é possível notar que as desigualdades sociais na França eram profundas. Mesmo no interior de cada estado, havia diferenças claras. No primeiro estado, o baixo clero não desfrutava das mesmas condições de vida do alto clero. O terceiro estado reunia tanto a grande burguesia (economicamente ascendente, mas com pequena influência política) quanto os milhões de trabalhadores urbanos e rurais, que viviam à beira da miséria.
Às vésperas da revolução
Entre o século dezesseis e meados do século dezoito, a França passou por um período de grande prosperidade econômica. Houve aumento das atividades comerciais e crescimento da produção com a expansão das manufaturas. Esse cenário beneficiava a burguesia comercial e financeira, que, embora buscasse ampliar sua influência política, não via o absolutismo e os privilégios dos nobres como ameaças efetivas aos seus interesses.
No final do século dezoito, no entanto, a França enfrentou uma grave crise econômica. Uma sequência de safras agrícolas ruins trouxe três efeitos principais: a alta geral dos preços, principalmente dos cereais; a fome, que atingiu a população pobre do campo e da cidade; e a queda na arrecadação dos impostos pelo govêrno.
Para agravar as dificuldades, a França aliou-se às treze colônias da América na guerra de independência contra a Inglaterra, o que gerou mais despesas para o tesouro francês.
Diante da crise, o rei Luís dezesseis aumentou os impostos, piorando a vida dos setores populares e enfurecendo a burguesia, que criticava os altos gastos do Estado. A dívida pública crescia rapidamente e os recursos empregados para sustentar a nobreza ampliavam a crise econômica no país.
É importante lembrar que, na França, no século dezoito, as ideias iluministas, como o princípio da liberdade dos indivíduos e da igualdade humana, assim como da igualdade política e jurídica, circulavam na França por meio de livros, jornais e panfletos. Essas ideias tornavam-se cada vez mais populares.
Ler a charge
• Observe a charge com atenção. Explique, com base em seus conhecimentos, de que maneira o artista representou cada um dos três estados que caracterizavam a sociedade francesa no século . dezoito
A convocação dos Estados Gerais
Diante da recusa do Parlamento em aprovar a reforma fiscal, Luís dezesseis convocou os Estados Gerais, uma grande assembleia com representantes dos três estados que formavam a sociedade francesa. A última reunião havia ocorrido mais de 170 anos antes.
Na assembleia, reunida a partir de 5 de maio de 1789, o monarca, o clero e a nobreza não estavam a abrir mão de seus privilégios. Assim, defendiam a contagem dos votos por estado, e não individualmente. Como o terceiro estado era mais numeroso, na votação individual o clero e a nobreza seriam derrotados. Já na votação por estado, o terceiro sempre perderia, pois o primeiro e o segundo votariam juntos.
O terceiro estado não aceitou o sistema de votação proposto; retirou-se da reunião, proclamou-se em Assembleia Nacional e passou a defender a elaboração de uma Constituição para o país.
O rei, com medo da reação popular, aceitou a proposta da nova Constituição. Em julho de 1789, os Estados Gerais ganharam o nome de Assembleia Nacional Constituinte. Luís dezesseis apresentou um programa de govêrno em que aceitava a monarquia constitucional e abolia privilégios fiscais. O projeto, no entanto, mantinha a cobrança do dízimo pela Igreja católica e os privilégios do clero e da nobreza.
Nesse contexto, diversos boatos circulavam pela França, anunciando que a aristocracia, aliada ao rei, pretendia dar um golpe e encerrar os Estados Gerais. A falsa notícia alarmou ainda mais os setores pobres, que passaram a protestar de fórma mais constante e violenta. A insatisfação se generalizou.
O processo revolucionário
Os protestos nas ruas acompanharam a convocação e o fracasso da reunião dos Estados Gerais. Entre os dias 13 e 14 de julho de 1789, Paris assistiu a uma série de manifestações e revoltas, que foram chamadas de “jornadas populares”. Distúrbios nos mercados, saques nos armazéns e ataques às alfândegas municipais expressavam a mobilização revolucionária e a insatisfação da população diante da escassez de alimentos.
O ápice das revoltas ocorreu no dia 14 de julho, quando os parisienses tomaram a Bastilha, que era uma prisão e, também, um arsenal militar, o maior símbolo do absolutismo francês. A revolução começava sem uma liderança definida.
A monarquia constitucional
Em agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte aboliu o dízimo eclesiástico e todas as obrigações feudais impostas aos camponeses. Em seguida, aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estabeleceu a igualdade de todos perante a lei e determinou que a liberdade, a propriedade privada, a segurança e a resistência a qualquer tipo de opressão eram direitos naturais, inalienáveis e sagrados.
Em setembro de 1791, os deputados aprovaram uma Constituição para a França, que estabeleceu, entre outras resoluções:
- o poder do monarca subordinado à Constituição e dividido em três instituições básicas e independentes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário;
- o voto censitário, ou seja, só podiam votar os cidadãos que tinham determinada renda;
- a manutenção da escravidão nas colônias francesas, como o Haiti;
- a extinção das restrições mercantilistas e feudais, favorecendo o livre-comércio.
As medidas aprovadas demonstraram o domínio da grande burguesia nessa primeira fase da revolução.
Nasce a república francesa
Os limites das mudanças promovidas pela Assembleia Nacional Constituinte eram visíveis para grande parte do povo, que continuava descontente. As reivindicações populares relativas à justiça social e econômica não foram atendidas.
De um lado, os camponeses e as camadas populares de Paris, chamadas sans-culottes, defendiam mudanças mais radicais, como o sufrágio universal masculinoglossário e a instituição da república. Do outro lado, muitos clérigos e nobres se preparavam para retomar o poder. Grande parte deles refugiou-se em países vizinhos, de onde conspirava contra o novo govêrno. Em junho de 1791, o rei e sua família tentaram fugir da França, mas foram capturados e levados de volta a Paris.
Em abril de 1792, a França entrou em guerra com a Áustria e a Prússia, que temiam a propagação da revolução. O rei e os contrarrevolucionários incentivaram a guerra, pois acreditavam que a França seria derrotada e que, dessa fórma, eles poderiam restaurar o Antigo Regime. Diante disso, a população passou a acusar o rei e os monarquistas de traição. No dia 10 de agosto de 1792, os sans-culottes, armados, tomaram o Palácio das Tulherias, residência da família real. O rei foi destituído e preso.
A Assembleia Legislativa foi dissolvida e novas eleições foram realizadas, com base no sufrágio universal masculino. Formou-se uma nova assembleia, denominada Convenção Nacional. O povo foi chamado a defender a revolução. Um exército popular derrotou os invasores e os partidários internos do Antigo Regime. Nesse clima de vitória, ocorreu a proclamação da república.
sans culótes
Os sans culótes representavam os grupos urbanos radicais, principalmente de Paris. Socialmente, eram formados por grupos diversificados, como artesãos, operários e lojistas.
O nome é uma referência aos trajes que eles usavam: calças compridas de tecido grosso e listrado, em vez das calças curtas (culottes) presas na altura do joelho, que eram moda entre nobres e burgueses.
, . Gerrár A Revolução Francesa passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2015. Com textos e ilustrações interessantes e atraentes, a obra explica todo o processo da Revolução Francesa, iniciada em 1789. O poder dos reis, o papel dos burgueses na revolução, a resistência da nobreza e do clero à perda de privilégios e o surgimento de uma república na França são os principais pontos abordados.
A Convenção Nacional e os grupos políticos
Entre 1792 e 1795, a França foi governada pela Convenção Nacional, em uma espécie de regime republicano, no interior do qual havia grandes divergências. Os grupos que atuavam e disputavam espaço político representavam camadas sociais e interesses distintos:
- Jacobinos: representavam a pequena burguesia e a classe média de Paris. Influenciados pelas ideias do filósofo Russô, defendiam uma sociedade igualitária. Junto aos girondinos, eram denominados “esquerda”, pois sentavam-se à esquerda da mesa diretora no plenário da Assembleia Constituinte. Seu principal líder foi Rubespiér.
- Girondinos: republicanos moderados, representavam os interesses da burguesia comercial e de nobres liberais.
- Planície ou pântano: grupo mais numeroso, que tendia às posições políticas de centro e opunha-se ao setor mais radical. Eram denominados “centro”, pois sentavam-se no meio, em frente à mesa diretora no plenário da Assembleia Constituinte. O nome do grupo faz referência às posições políticas vacilantes ou “movediças”.
- Cordeliers: ligados aos sans-culottes, eram republicanos e defendiam mudanças mais profundas na sociedade, como a reforma agrária e o fim da propriedade privada. Seus principais líderes eram Danton e marrá.
- Monarquistas constitucionais ou feuillants: defendiam a monarquia e posições políticas mais moderadas. Não desejavam novos avanços nas reformas. Eram denominados “direita” por se sentarem à direita da mesa diretora no plenário da Assembleia Constituinte.
Os jacobinos defendiam mudanças mais radicais, que ampliassem os direitos do povo. As propostas jacobinas contrariavam as posições moderadas dos girondinos, mais preocupados em manter as conquistas burguesas feitas até aquele momento.
Os rumos da revolução
Por pressão dos jacobinos e da população de Paris, em janeiro de 1793, o rei Luís dezesseis foi julgado, acusado de traição e executado na guilhotina. Nove meses depois, a rainha, Maria Antonieta, também foi guilhotinada. A medida provocou a reação dos países defensores do Antigo Regime, que formaram uma coligação para derrotar a França.
No interior da Convenção, jacobinos e girondinos divergiam quanto aos rumos e às decisões que deviam tomar. Aos poucos, a influência dos jacobinos cresceu, e as principais lideranças girondinas foram presas.
Em abril de 1793, a Convenção criou o Comitê de Salvação Pública, órgão responsável pela segurança interna da França. O comitê reorganizou o Exército e derrotou a coligação estrangeira. Internamente, líderes jacobinos, como Rubespiér, combateram os seus opositores, prendendo-os e executando-os. Esse período da revolução ficou conhecido como Terror.
A guilhotina
A guilhotina foi aperfeiçoada e sugerida como método de execução pelo médico guiotân, no final de 1789. Antes de sua adoção, os nobres condenados à morte eram executados rapidamente, com a degola, mas os plebeus eram submetidos a fórmas mais lentas e dolorosas, como a roda, a forca ou o esquartejamento. Com a guilhotina, todos morreriam da mesma maneira.
, . michél A Revolução Francesa: 1789-1799. São Paulo: Editora da , 2019. Com base em pesquisas históricas, a obra pretende fazer uma análise da Revolução Francesa, considerando novas perspectivas e novos questionamentos, especialmente a respeito dos sujeitos que tomaram parte no processo. Unésp
FRONTEIRAS NO TEMPO. Episódio 32: A Revolução Francesa. 2 agosto 2018. Podcast. Disponível em: https://oeds.link/gD45Po. Acesso em: 2 maio 2022. Realizado por historiadores, o podcast discorre sobre diversos temas relacionados à construção do conhecimento histórico. O episódio sobre a Revolução Francesa aborda as diversas motivações do movimento e os sujeitos que dela participaram.
O Terror
Estima-se que, entre setembro de 1793 e julho de 1794, mais de trezentas mil pessoas foram presas e cêrca de 17 mil foram executadas na guilhotina. O órgão responsável pela condenação daqueles considerados traidores da pátria era o Tribunal Revolucionário. Por meio desse órgão, o Comitê executou, a princípio, grupos monarquistas, girondinos e moderados. Em um segundo momento, essa prática se estendeu a vários grupos, mesmo aqueles mais próximos aos jacobinos. Líderes populares, como Danton, por exemplo, foram executados. Com as perseguições, os jacobinos perderam o apôio de vários grupos, incluindo os sans-culottes.
No entanto, o govêrno jacobino não pode ser lembrado apenas pela repressão. Os jacobinos tomaram medidas que concretizaram o ideal iluminista de liberdade e igualdade perante a lei. A república jacobina aboliu a escravidão nas colônias francesas, aprovou o sufrágio universal masculino, confiscou terras da nobreza emigrada e as distribuiu entre os camponeses pobres.
Rubespiér, o Incorruptível
maquissimiliâ de Rubespiér nasceu na pequena cidade de Arras, na França, em 1758, e foi um advogado de pouca projeção até o advento da Revolução Francesa. Impulsionado pela luta dos sans-culottes, chegou ao poder máximo da França revolucionária em 1793.
Rubespiér foi o principal líder dos jacobinos. Era ao mesmo tempo amado, odiado, temido e respeitado. Em 1794, acusado de tirania, foi preso e guilhotinado em uma praça pública de Paris, sob os aplausos da mesma multidão que o levara ao poder. Por sua vida austera e seu desprêzo pelo dinheiro, foi chamado de “o Incorruptível”.
Nos vários discursos que realizou perante a Convenção Nacional, entre 1792 e 1794, principalmente sobre política, há muitas ideias e denúncias que, séculos mais tarde, serviriam de base para a elaboração da Constituição de diversas sociedades contemporâneas.
A caminho do fim
A radicalização do processo revolucionário assustou a burguesia. Os setores burgueses mais ricos desejavam acabar com as execuções, o congelamento dos preços e a mobilização popular para administrar seus negócios com tranquilidade.
Em 27 de julho de 1794 — 9 de Termidor no calendário da revoluçãoglossário —, os girondinos articularam um golpe que expulsou os jacobinos da Convenção. Assim, a ala moderada da burguesia reassumiu o poder.
O novo govêrno perseguiu, prendeu e executou os jacobinos, incluindo seu líder, Rubespiér, dissolveu os clubes políticos e eliminou as prisões arbitrárias. Os presos foram liberados e as execuções sumárias foram abolidas.
Em 1795, foi eleito o Diretório, govêrno formado por cinco deputados, e uma nova Constituição foi elaborada. Por meio dela, restabeleceu-se o voto censitário e consagrou-se a liberdade econômica.
O govêrno do Diretório, no entanto, foi incapaz de garantir a estabilidade desejada pela burguesia. A moeda francesa estava desvalorizada, a desorganização na cobrança de impostos esvaziou os cofres públicos e a inflação não parava de crescer. Além disso, os antigos monarquistas e os partidários dos jacobinos ameaçavam o govêrno estabelecido com levantes sociais constantemente.
Com base na ideia de que apenas um govêrno forte restabeleceria a ordem, a grande burguesia apoiou um golpe para que o jovem general Napoleão Bonaparte assumisse o poder. Assim, em 10 de novembro de 1799 — 18 de Brumário no calendário da revolução —, o Diretório foi extinto e iniciou‑se o Consulado. Começava, assim, uma nova fase na história política da França — um império comandado por Napoleão.
Palavras da revolução
Uma das consequências mais importantes da revolução foi a decisão de romper radicalmente com o passado. A linguagem foi um dos terrenos em que essa mudança se percebeu com mais clareza. As palavras que se identificavam com o Antigo Regime viraram tabus e foram substituídas por outras, afinadas com a nova era.
Dessa fórma, os advogados passaram a ser “homens das leis”, e os impostos passaram a ser chamados de “contribuições”. Ao dirigir-se a um desconhecido, não se dizia “senhor”, mas “cidadão”. Ruas e praças mudaram seus velhos nomes para outros, como Lei, Liberdade ou Justiça. A Praça Luís quinze, por exemplo, passou a se chamar Praça da Revolução e, mais tarde, Concórdia.
O mais importante veículo de divulgação das novas palavras foram os jornais, vendidos nas ruas e nas reuniões públicas. Para se ter uma ideia, na década de 1780, não havia 20 jornais circulando na França; entre 1789 e 1792, apareceram cêrca de 500, dirigidos pelos clubes políticos que se difundiram na época.
A Revolução Francesa: símbolos universais
A tomada da Bastilha, o barrete frígio (espécie de gorro vermelho, que se tornou símbolo da liberdade), a bandeira tricolor e a Marselhesa (que se tornou hino nacional da França) foram os principais símbolos criados pelos franceses em sua luta contra o Antigo Regime.
Os ecos revolucionários de 1789 atingiram, em pouco tempo, todo o planeta. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade converteram-se em símbolos e princípios universais dos movimentos contra a tirania.
Em debate
As mulheres-soldados
Você sabia que muitas mulheres participaram ativamente da Revolução Francesa? Algumas, inclusive, chegaram a se alistar voluntariamente no Exército e a vestir-se como homens para lutar na guerra contra a Áustria e a Prússia.
A participação militar feminina, porém, não significou a conquista de direitos.
“Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra como um bravo!”, declarou Marrí-Anriéte Zantráie em carta ao imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821). Indignada por lhe recusarem pensão de ex-combatente do exército “porque era mulher”, ela lembrou que, quando fez sete campanhas do [rio] Reno como ajudante de campo, o que importava era o cumprimento do dever, e não o sexo de quem o desempenhava. reticências quando a França declarou guerra à Áustria, voluntárias se alistaram no exército para lutar ao lado dos homens contra as forças da coalizão austro-prussiana que ameaçava invadir o país.
Não se conhece o número exato de mulheres-soldados durante o período revolucionário francês (1789-1799) reticências. Quase todas vinham de meios sociais modestos. Eram filhas de camponeses e artesãos reticências. A maioria era muito jovem, como Ana Quatro-Vinténs, que se alistou aos 13 anos, e aos 16 servia na artilharia montada.
Em debate
As irmãs Fernig, com 17 e 22 anos, foram exceções: eram nobres, e combateram vestidas de homem no Exército do general Dimorriê (1739-1823), na fronteira da atual Bélgica. fóra da batalha, passeavam com roupas de mulher e carabina ao ombro. Tornaram-se heroínas nacionais. Quando sua casa foi arrasada pelos “ferozes austríacos”, o govêrno da Convenção Nacional (1792-1795) propôs que a reconstrução ficasse por conta da República. reticências
Há registros da boa acolhida das mulheres-soldados por parte dos companheiros de armas. O capitão Dibuá e sua mulher combateram juntos no 7º Batalhão de Paris. Ao ser ferido, sua espôsa foi designada vice-capitã pelos outros soldados. reticências
O discurso da defesa dos homens livres contra os tiranos da Europa atraiu as cidadãs mais destemidas, que aliavam o sentimento patriótico ao gôsto pela aventura. Era uma fórma de integração oficiosaglossário à cidadania. , de 17 anos, declarou que se alistara pelo desejo ardente de combater os tiranos e compartilhar da glória de fulminá-los. Outras foram à guerra para acompanhar os maridos, amantes e irmãos, e acabaram lutando ao lado deles, unindo o sacrifício pela pátria ao devotamento conjugal e familiar. Rêine Chapí reticências
As mulheres-soldados foram até certo ponto aceitas porque tinham moral elevada, dignidade e bons costumes; eram combatentes, e não libertinasglossário . Embora a violência não seja normalmente associada à mulher, na guerra elas matavam “os escravos dos tiranos”, prestando um serviço à nação . reticências
MORIN, Tania Machado. Revolução Francesa e feminina. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, número 63, 8 dezembro 2010.
- As mulheres-soldados receberam os mesmos benefícios que os homens após a Revolução Francesa? Explique.
- Qual era a origem social das mulheres-soldados? Para elas, o que significava participar da Revolução Francesa?
O cotidiano na França revolucionária
Quando a revolução começou na França, em 1789, estima-se que a cidade de Paris, com cêrca de 700 mil habitantes, era a terceira maior cidade do mundo, atrás apenas de Pequim e de Londres. Em Paris, o avanço da mancha urbana se percebia na expansão das construções e no prolongamento das ruas, que seguiam em direção ao campo.
A paisagem urbana de Paris do século dezoito revelava as diferenças entre a vida dos ricos e a dos pobres: no tipo de moradia, na alimentação, na maneira de viver das crianças, no vestuário e nas normas de conduta social.
As moradias populares de Paris
A maior parte da população assalariada de Paris vivia em casas de aluguel. As camadas populares costumavam habitar em bairros antigos nos andares mais altos dos prédios, onde os aluguéis eram menores. Era comum uma família inteira morar em um único cômodo, quase sem nenhum mobiliário.
Ao longo do século dezoito, cresceu o número de pensões, habitações temporárias que recebiam pobres recém-chegados a Paris, pessoas sem trabalho fixo ou criados que abandonavam a casa do senhor.
Às vésperas da revolução, o preço dos aluguéis era duas vezes maior que no início do século. Para a maioria dos trabalhadores, o alto custo da moradia significava atrasar os pagamentos, endividar-se para garantir o dinheiro do aluguel ou, como se tornou comum, mudar-se às escondidas.
A família francesa
O respeito e a preservação da família foram temas recorrentes no discurso dos revolucionários. Muitas pessoas reivindicavam trabalho e comida acessível para o sustento de suas famílias e celebravam as boas relações familiares. Nesse momento, surgiu uma nova percepção do lugar e do papel das crianças na sociedade. Elas passaram a ser vistas como expressão do novo e da esperança.
Os revolucionários, inspirados pelo ideal de fraternidade, consideravam o conjunto da sociedade uma grande família, que deveria agir de maneira coesa, visando ao bem público e coletivo e evitando o privilégio de determinados grupos em detrimento de outros.
As mulheres na França revolucionária
Você já viu que as mulheres tiveram participação ativa em protestos e reuniões durante a revolução. Depois, muitas delas passaram a reivindicar direitos civis e cidadania política. Mais de 60 associações femininas foram criadas com esse objetivo.
Em 1791, a líder marrí gúze, conhecida como Olamp de Gúge, publicou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, que reivindicava igualdade entre homens e mulheres em relação à educação, à justiça, ao voto, entre outros.
Olamp de Gúge foi guilhotinada em 1793. Nesse mesmo ano, as mulheres foram impedidas de assistir às sessões do Parlamento. Mesmo assim, elas continuaram atuando nos cafés, nos salões e na imprensa.
A legislação estabelecida durante a Revolução Francesa garantiu alguns direitos às mulheres, como o divórcio; porém negou a inclusão delas na vida pública. Dessa fórma, as mulheres eram proibidas, por exemplo, de ocupar cargos públicos.
Crianças pobres de Paris
Em Paris, no final do século dezoito, as crianças pobres não tinham direitos e sofriam diversas privações. Muitas eram abandonadas pelos seus pais ou fugiam para viver nas ruas; outras começavam a trabalhar desde cedo. No entanto, apesar das adversidades, a criança pobre parisiense desse período encontrava meios de sobreviver e se divertir em meio à multidão.
Claro, durante o dia elas povoam as escolas; claro, elas se acotovelam nas ruas e nos cais. Os delegados de polícia temem suas brincadeiras de mau gôsto; elas enlameiam os transeuntes, penduram caçarolas no rabo dos cachorros e dos gatos, guerreiam com frutas podres, torrões de terra reticências. reticências bronzeiam-se ao sol nos meios-dias de julho sobre as areias do rio reticências. Outros trabalham muito cedo com os pais, com um tio, na casa de um mestre vizinho onde a família os colocou como aprendizes. reticências
Com seus pais, partilham alegrias e dores, vão às festas, aprendem os seus papéis, a autoridade dos homens, a docilidade das mulheres, o senso do trabalho e aquela atitude crítica que caracteriza o povo. À luz da lareira eles sonham com a independência, os lazeres e o bem-estar, e podem aprender suas letras e seus algarismos reticências. É ali também que o grande momento da refeição reúne todos à volta da mesa familiar.
Róche, Daniel. O povo de Paris: ensaio sobre a cultura popular no século dezoito. São Paulo: êduspi, 2004. página 317-320.
Algumas heranças da revolução
Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, defendidos durante a Revolução Francesa, repensados à luz dos problemas do presente, continuam inspirando muitos movimentos sociais da atualidade. É possível identificá-los na luta de imigrantes que vivem na Europa ocidental atual — como ciganos, europeus do Leste, africanos, latino‑americanos e muçulmanos de países diversos — contra a discriminação e por igualdade jurídica, liberdade, trabalho, alimentação e moradia dignas nos países onde escolheram viver.
Atualmente, nos Estados Unidos e na América Latina, afrodescendentes e indígenas reagem a séculos de dominação e marginalidade e levantam bandeiras semelhantes às que os franceses ergueram em 1789.
No mundo inteiro, mulheres, homossexuais, crianças, adolescentes e idosos enfrentam condições adversas, reagem a privilégios de outros grupos e buscam seu espaço e a efetivação de seus direitos. Nada disso, evidentemente, foi criado pela Revolução Francesa, mas a experiência que os franceses viveram na luta por uma sociedade mais justa e igualitária marcou a história, e é até hoje revisitada e apropriada por diversos movimentos sociais.
A tomada da Bastilha na memória popular
O dia 14 de julho, data da queda da Bastilha, que foi tomada pelos revolucionários franceses, passou a ser comemorado na França em 1880, em uma iniciativa do govêrno da terceira República para construir a memória coletiva da nação francesa.
Como o acontecimento de 14 de julho de 1789 foi considerado violento pelos parlamentares, decidiu-se, então, homenagear o dia 14 de julho de 1790. Nessa data, ocorreu em Paris a Festa da Federação, promovida pelo rei Luís dezesseis para festejar a união nacional.
Embora oficialmente o 14 de Julho celebre a união nacional, na memória coletiva ele está associado à queda da Bastilha, data que representa o fim do absolutismo no país. É esse acontecimento histórico que faz do 14 de Julho o dia mais importante do calendário cívico da França.
Integrar conhecimentos
História e Arte
A arte da revolução
O pintor francês Jáque Reatí se especializou no gênero da pintura histórica. Suas obras mesclavam mensagens políticas com símbolos e representações da revolução, revelando que o sonho e os ideais revolucionários estavam no comando de seu processo criativo.
- Qual é o nome da pintura de Jáque Reatí reproduzida anteriormente? Em que momento histórico da França o artista criou essa obra?
- Quais símbolos da Revolução Francesa foram representados na pintura de Jáque Reatí?
- Repare que dois homens com vestes simples foram representados no canto direito da pintura. Que grupo social da França eles representariam? A posição deles na tela transmite alguma mensagem? Se sim, qual?
- Qual seria a função do anjo iluminado na cena? Relacione-o à ideia de liberdade.
- Essa pintura apresenta uma imagem positiva ou negativa da Revolução Francesa? Por quê?
Atividades
Faça as atividades no caderno.
1. Em seu caderno, redija um texto utilizando os termos do quadro a seguir.
- Durante a Convenção Nacional, a França estava dividida em diferentes grupos políticos.
- Estabeleça diferenças entre a posição política dos jacobinos e a dos girondinos.
- Quem eram os cordeliers? A que grupo social eles estavam ligados?
- A palavra que mais ganhou notoriedade na França depois de 1789 foi “revolução”. Até então, esse termo era usado nos estudos astronômicos e se referia aos movimentos variados dos astros. Após a Revolução Francesa, os dicionários incluíram o sentido que os participantes das jornadas revolucionárias empregavam para a palavra: transformação profunda e violenta na vida de uma sociedade. Por que o processo ocorrido na França ficou conhecido como Revolução Francesa? Justifique.
- As ideias iluministas inspiraram a Revolução Francesa, que foi marcada por muitas agitações e manifestações de rua. Você se lembra de alguma manifestação que tenha ocorrido recentemente? Se sim, qual? O que ela reivindicava?
- Leia o que escreveu o historiador Geórge Lefévre sobre o caráter social da Revolução Francesa.
Uma revolução complexa
reticências A revolução é um fato complexo, reticências não há uma revolução, mas várias. reticências
Nenhum historiador reticências ignorou a sublevação dos camponeses e as reformas agrárias da revolução. Eles continuaram, porém, a ver na ação camponesa uma repercussão da revólta da cidade e especialmente da jornada de 14 de julho, como se os camponeses tivessem obedecido ao apelo dos burgueses, a caracterizá-la como exclusivamente dirigida contra a feudalidade e o poder real, de pleno e perfeito acôrdo, portanto, com a burguesia reticências.
Todas essas conclusões tendem invariavelmente a manter o aspecto homogêneo e majestoso da revolução e a vê-la apenas como a revolução do terceiro estado reticências É importante demonstrar reticências que há, no entanto, uma revolução camponesa, possuidora de autonomia própria quanto à sua origem, processos, crises e tendências reticências Autônoma sobretudo por tendências anticapitalistas.
, Lefévre [1932]. Apud: , Alice. Gerrár A Revolução Francesa. 2. edição São Paulo: Perspectiva, 1999. página 117.
- Por que, para Lefévre, a Revolução Francesa foi um fato complexo?
- Que grande divergência o autor expressa em relação aos historiadores da Revolução Francesa?
- Segundo Lefévre, os camponeses e a burguesia tinham os mesmos interesses? Justifique.
- O que o texto demonstra sobre os estudos realizados no campo da História?
6. Leia o texto e responda às questões.
Várias revoluções em uma
reticências A revolução reticências se dividia numa série de fases, decorrentes das diferentes fórmas de atuação dos grupos sociais, guiados por objetivos e concepções diversas sobre os problemas econômico-sociais e o modo de resolvê-los.
, ; , . Às armas, cidadãos!: a França revolucionária (1789-1799). São Paulo: Atual, 1995. página 10.
- Quais foram as fases políticas da revolução?
- Segundo o texto, por que a Revolução Francesa teve diferentes fases?
- Cite duas questões que foram alvo de divergências entre os grupos políticos na França revolucionária e a posição que defendiam.
7. Leia o texto a seguir sobre a Revolução Francesa, escrito pelo historiador francês michél vovéil.
reticências a importância da ruptura revolucionária se deve ao trabalho realizado em profundidade e em tão pouco tempo. Num mundo que inventa no calor da ação a política no sentido moderno do termo, são proclamados novos valôres e assentadas as bases do Estado liberal, cujo modêlo serviria de referência não só na continuidade da história francesa até os dias atuais, mas no mundo todo. Fala-se, hoje, em redescobrir a história política da Revolução Francesa – como se algum dia ela tivesse sido esquecida. Sem entrar num debate inútil, daremos ao político, mediante a análise das estruturas do novo Estado, a importância que lhe cabe, tanto na escala da França quanto na do mundo.
Mas, para isso, convém não esquecer o que fórma a trama da vida dos homens, o que dá surgimento às revoluções: em suas causas remotas ou imediatas, como nos confrontos que formam sua trama, a Revolução Francesa é uma imensa subversão local reticências e a afirmação de novas relações de classe.
, michél. A Revolução Francesa: 1789-1799. São Paulo: Unésp Digital, 2019. E-book.
• Na sua opinião, os ideais da Revolução Francesa de igualdade, liberdade e fraternidade tornaram-se valôres universais? Por quê? Escreva um texto em seu caderno expondo e justificando seus argumentos.
8. Durante a Revolução Francesa, foi instituído o calendário da revolução, que reorganizou a contagem do tempo na sociedade francesa daquele período. Além do calendário, outros aspectos da vida cotidiana sofreram mudanças, como a adoção do sistema de medidas métrico decimal.
• Em duplas, pesquisem (em livros, em revistas, em jornais e na internet) e discutam:
- Qual teria sido a importância de estabelecer um novo sistema de medidas durante o período revolucionário?
- Por que, na opinião de vocês, o sistema de medidas foi mantido após o fim da Revolução Francesa, enquanto o calendário deixou de ser utilizado?
- Essas mudanças foram propostas com a intenção de serem mais racionais. Por quê? Como essa intenção pode ser relacionada ao Iluminismo?
Para refletir
Quais são as heranças do Iluminismo e do liberalismo no mundo de hoje?
Nesta Unidade, você conheceu alguns dos filósofos ligados ao Iluminismo. Percebeu, também, que o Iluminismo impulsionou a busca por novas fórmas de organização política, social e econômica e que, naquele contexto, surgiram as ideias do liberalismo.
Mas será que tudo isso faz parte somente do passado? Será possível dizer que as ideias iluministas e os valôres liberais chegaram, em certa medida, até os nossos dias?
Os pensadores iluministas defendiam a liberdade de pensamento, a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de expressão reticências Essas ideias soam bastante familiares, não é mesmo? As noções de liberdade e justiça social, a valorização da ciência e do conhecimento e a ideia de que todos os seres humanos são iguais perante a lei nasceram no século dezoito, com o Iluminismo, e fazem parte, com algumas mudanças e adaptações, de nossa realidade, de nosso cotidiano.
Há influências iluministas que podem ser vistas até hoje na área da educação, por exemplo. O progresso científico e a valorização do conhecimento eram importantes para muitos pensadores iluministas, e muitos deles defendiam a universalização do ensino, ou seja, a ideia de que todos deveriam ter acesso à educação, como é possível notar no trecho a seguir:
O movimento pela escola laica garantida pelo Estado vinha sendo discutido em vários países da Europa [no século dezoito] embalado pelas Luzes e pela Enciclopédia reticências. A educação pública estatal e civil aparecia assim como a chave mestra da vida social, objetivando formar um sujeito humano civilizado, ativo reticências.
MARQUES, Vera Regina Beltrão. As luzes na educação e o homem novo. In: TRICHES, Ivo José; DEMETERCO, Solange Menezes da Silva; MARQUES, Vera Regina Beltrão. Fundamentos da educação. Curitiba: Iésde, 2009. página 40.
No Brasil, essas ideias estão presentes há tempos e aparecem consagradas na Constituição Federal de 1988, que consolida o ensino obrigatório como dever do Estado e da sociedade.
Também há influências iluministas, em certa medida, na nossa organização política. O trecho a seguir fala um pouco mais sobre isso:
Na França, Montesquiê, voltér, Russô, Diderrô, cada um com seu estilo, fizeram ressoar a voz da filosofia. Contra a intolerância religiosa e em defesa das liberdades, contra o arbítrio do absolutismo e em defesa de um regime político em que os cidadãos, protegidos por uma Constituição, participam da administração do Estado.
, . michél A Revolução Francesa explicada à minha neta. São Paulo: Editora da , 2007. Unésp página 17.
1. No texto de michél vovéil que você acabou de ler, há um elemento político específico que surgiu no contexto do Iluminismo e sobrevive (com adaptações) nos nossos dias. Que elemento é esse?
As ideias do liberalismo acompanharam o Iluminismo, trazendo elementos importantes para a política e a economia. Os liberais do século dezoito defendiam, entre outros elementos, a não intervenção do Estado na economia, a propriedade privada e a livre-iniciativa. Para muitos estudiosos, essas ideias, em grande parte, estão presentes hoje em dia nas agendas de governantes que realizam a privatização de empresas estatais e de movimentos que defendem a diminuição do Estado, por exemplo. As ideias do liberalismo também podem ser vistas na política de hoje, uma vez que moldaram os conceitos de cidadania e direitos civis, sendo a base para regimes democráticos.
- Reúna-se com um colega para fazer uma pesquisa mais ampla sobre os aspectos do liberalismo que influenciam os rumos da política e da economia da atualidade. Anotem as principais descobertas no caderno.
- Nesta seção, você viu que muitas ideias enraizadas em nosso dia a dia e consideradas corriqueiras se originaram, de fórma geral, no contexto do Iluminismo. Agora, escreva um pequeno texto para responder: Quais são as heranças do Iluminismo e do liberalismo no mundo de hoje?
Glossário
- Sufrágio universal masculino
- Processo eleitoral do qual podiam participar todos os representantes do sexo masculino.
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- Calendário da revolução
- Aprovado em 1792 pela Convenção, o novo calendário dividia o ano em 12 meses de 30 dias, que tinham nomes relacionados às estações do ano e às atividades agrícolas. O Termidor (que significa calor) se estendia, com pequenas variações, de 19 de julho até 17 de agosto, auge do verão europeu; o Brumário (cujo nome se relaciona a bruma, névoa) durava de 22 de outubro a 20 de novembro.
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- Oficioso
- Que não tem caráter oficial.
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- Libertino
- De conduta imoral, indisciplinada.
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