UNIDADE quatro A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E O PRIMEIRO REINADO
Quando o príncipe Dom Pedro declarou o Brasil independente da metrópole, em 7 de setembro de 1822, o país nascia no ritmo da continuidade. Apesar de ter havido muitas lutas pela conquista da emancipação política, a Independência do Brasil foi marcada por um ato de decisão do Príncipe Regente Dom Pedro. Portugal, no entanto, só reconheceu a Independência após longas batalhas, que se estenderam por mais três anos, sendo oficializada em 1825. Ao contrário das outras ex-colônias do continente americano, que adotaram a república como fórma de govêrno logo após a independência, o Brasil manteve a monarquia.
Se a independência, de um lado, trazia mudanças e apontava para novos rumos, de outro sinalizava permanências que explicam, em parte, algumas questões econômicas e sociais do Brasil atual.
Você sabe dizer que mudanças e permanências são essas? Será que o Brasil conquistou a plena autonomia política em relação aos antigos representantes da metrópole logo após a independência? Qual foi o significado da coroação do príncipe português como imperador do novo país independente?
Você estudará nesta Unidade:
A crise do sistema colonial no Brasil
A vinda da família real para o Brasil
A proclamação da Independência
O Primeiro Reinado – crise econômica e política
A Constituição de 1824
CAPÍTULO 8 A CRISE DO SISTEMA COLONIAL NO BRASIL
A situação de Portugal no contexto internacional do século dezoito era delicada. Pioneiros no processo de colonização da América, ao lado da Espanha, os portugueses passaram a enfrentar a concorrência de potências em ascensão, como Holanda, França e Inglaterra.
Os problemas econômicos de Portugal levaram a Coroa a impor uma política de aperto fiscal, por meio das medidas adotadas pelo marquês de Pombal, ministro do rei Dom José . Entre os colonos, a insatisfação com a metrópole só aumentava, gerando uma grande instabilidade nas relações com Portugal e um ambiente propício para o início da crise do sistema colonial. primeiro
Na América portuguesa, os primeiros movimentos que propuseram uma ruptura com a metrópole tiveram em comum os fatos de terem alcance somente regional e de terem sido inspirados pelas ideias iluministas e pela independência dos Estados Unidos. Deles, participaram diferentes grupos sociais: em Minas Gerais, setores privilegiados da capitania; na Bahia, principalmente grupos populares, incluindo pessoas escravizadas.
A crise portuguesa se aprofunda
A rivalidade entre potências europeias, como Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra, caracterizou todo o século dezoito, com destaque para a disputa entre a França e a Inglaterra. Enquanto os ingleses conquistavam vantagens no mundo ultramarino, os franceses exerciam influência sobre outras monarquias europeias, como a Espanha.
Enquanto foi possível, a Coroa portuguesa se manteve neutra nesses conflitos. Porém, pressionada desde a metade do século dezessete, vinha se aproximando da Inglaterra e assinando tratados comerciais que beneficiavam a nação britânica.
A dependência da economia portuguesa em relação à Inglaterra se aprofundou com a assinatura do Tratado de Methuen, em 1703. O acôrdo estabelecia o fim de qualquer restrição à entrada de vinhos portugueses na Inglaterra e de tecidos ingleses em Portugal; em outras palavras, o tratado abria aos mercados português e inglês a circulação desses produtos.
O Tratado de Methuen foi prejudicial para a economia portuguesa porque o volume de tecidos importados por Portugal era muito superior à quantidade de vinhos importada pela Inglaterra. O resultado dos vários tratados desiguais firmados entre os dois países foi o crescente deficit comercial do reino português.
Além disso, no século dezoito, a Inglaterra passava pelo processo de industrialização e desejava expandir a liberdade de comércio entre várias regiões do mundo para ampliar o consumo de seus produtos, conquistando novos mercados. A América portuguesa e outras colônias eram vistas como potenciais mercados consumidores almejados pela Coroa inglesa. Contudo, o pacto colonial tornou-se um grande obstáculo para o reino britânico, pois proibia as relações comerciais das colônias com outras nações que não fossem a metrópole. A resposta da Coroa portuguesa foi reforçar ainda mais o contrôle sobre sua colônia americana, proibindo o comércio com outras nações. As poucas manufaturas de teci dos que existiam no Brasil foram fechadas em 1785, só restando as que produziam tecidos grossos de algodão, destinados à vestimenta dos escravizados. A intenção era enquadrar a colônia nas regras rígidas do pacto colonial.
Tentativas de superação da crise
A partir da segunda metade do século dezoito, com a queda na produção aurífera em Minas Gerais, os problemas econômicos do govêrno português agravaram-se. Diante disso, um conjunto de medidas foi tomado pelo ministro do rei, o marquês de Pombal, visando reforçar o contrôle sobre a colônia, gerar mais recursos para os cofres do reino e superar a crise. Entre as medidas, estavam as seguintes:
- a criação das Casas de Inspeção do Tabaco e do Açúcar, em 1751, para solucionar dificuldades na exportação desses produtos;
- a criação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, em 1755, e da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, em 1759, para reforçar o monopólio comercial português;
- a proibição da escravização de indígenas na América portuguesa a partir de um decreto oficial de 1758, medida que impulsionou o lucrativo tráfico de escravizados africanos;
- a expulsão dos jesuítas de Portugal e de seus domínios coloniais, em 1759, com o intuito de reforçar a centralização político-administrativa;
- a criação do Real Erário, em 1761, com a tarefa de garantir a cobrança do quinto e combater a sonegação e o contrabando;
- a transferência, de Salvador para o Rio de Janeiro, da séde do govêrno do Brasil, em 1763.
As medidas pombalinas, contudo, não foram suficientes para impedir a crise do domínio colonial português na América.
Projeto para os indígenas
Pombal elaborou também um projeto de integração dos indígenas à sociedade colonial. Seu intuito era, no entanto, transformá-los em vassalos do rei, como os demais colonos. Por isso, criticou severamente o confinamento dos indígenas em missões e determinou a criação de povoados nesses locais. Entre outras medidas, houve o incentivo ao casamento entre indígenas e colonos e a obrigatoriedade do uso da língua portuguesa. Dessa fórma, podemos dizer que Pombal iniciou uma política de integração tutelada dos indígenas à sociedade colonial. Essa política teve, em diversos aspectos, continuidade após a independência do país. O Estado então passou a se responsabilizar diretamente pelos indígenas, controlando sua participação na sociedade e condicionando-a à aceitação dos costumes não indígenas. Os grupos resistentes à transformação de suas culturas tradicionais foram silenciados e tratados como sujeitos sem direitos. De fórma geral, os indígenas foram tratados pelo Estado como incapazes de tomar decisões sobre seus próprios rumos ou opinar sobre os destinos da sociedade.
A Conjuração Mineira
A exploração aurífera em Minas Gerais havia gerado uma rica elite urbana, formada em grande parte por contratadores, homens de prestígio que recebiam da Coroa o direito de cobrar os impostos da população mineira. Entretanto, com o progressivo esgotamento das minas, a partir dos anos 1760, os contratadores se viram em grandes dificuldades.
A queda na produção aurífera levou à redução dos tributos recolhidos pelos contratadores e à diminuição da parte destinada aos cofres da Coroa. Em 1789, as dívidas dos contratadores com a Coroa somavam 1 milhão de réis.
Em 1788, chegou à região das Minas Gerais o novo governador da capitania, o visconde de Barbacena. Sua tarefa era cumprir a lei da derrama, que obrigava o pagamento de 100 arrobas de ouro anuais para a Coroa portuguesa.
Quando foi anunciado que a cobrança dos impostos atrasados seria feita em 1789, acompanhada de uma ampla investigação sobre o contrabando na região, destacados membros da elite econômica e intelectual de Minas Gerais passaram a se reunir em Vila Rica e a planejar um movimento contra o domínio colonial, que ficou conhecido como Conjuraçãoglossário Mineira.
Entre os chamados conspiradores estavam os padres José Rolim e Carlos Toledo e Melo; contratadores endividados, como João Rodrigues de Macedo, Joaquim Silvério dos Reis e Domingos de Abreu Vieira; os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa; e o alferesglossário Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, por também exercer funções de dentista. Muitos deles eram influenciados pela independência dos Estados Unidos (1776) e pelos ideais iluministas de liberdade e igualdade.
Outras conjurações
Você sabia que, antes da Conjuração Mineira, outras revóltas ocorreram na região das Minas? As primeiras delas ocorreram em Curvelo (1760-1763), Mariana (1768) e Sabará (1775). O objetivo dessas revóltas, porém, não era romper com Portugal, mas mostrar a insatisfação dos colonos com a expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses e com outras medidas tomadas por Pombal. Mesmo assim, essas revóltas já expressavam o desgaste do govêrno da Coroa portuguesa na América.
DINIZ, André. A Inconfidência Mineira. São Paulo: Escala Educacional, 2008. No formato de história em quadrinhos, o livro apresenta as principais passagens do movimento que ficou conhecido como Conjuração Mineira.
A revólta que não se concretizou
Entre os principais objetivos dos conspiradores, na Conjuração Mineira, estava o de proclamar uma república em Minas Gerais, esperando por um apôio posterior das capitanias de São Paulo e do Rio de Janeiro. Alguns deles eram contrários à escravidão, mas a maioria era dona de escravizados e, por isso, defendia sua continuidade. Os conjurados também propunham o perdão de todas as dívidas com a Fazenda Real; o incentivo à instalação de manufaturas na capitania de Minas Gerais; a liberação do Distrito Diamantino para todos os mineiros; e a fundação de uma universidade em Vila Rica.
Os conjurados decidiram que o levante deveria ocorrer no mesmo dia em que a derrama fosse aplicada. Porém, em março de 1789, Joaquim Silvério dos Reis, um dos contratadores mais endividados da capitania, delatou os companheiros em troca do perdão de suas dívidas com a Coroa. Com isso, todos os revoltosos foram presos e enviados para o Rio de Janeiro. O movimento, portanto, não chegou a se realizar.
Por ordem de . Dona Maria primeira, rainha de Portugal, em 1790 iniciou-se o processo contra os conjurados, que durou até 1792. Ao todo, 34 réus foram acusados de inconfidência, ou seja, de infidelidade à monarquia portuguesa; desse total, onze foram condenados à morte. Dez deles, porém, tiveram suas penas substituídas pelo exílio perpétuo na África.
Somente Tiradentes foi executado em uma cerimônia pública no Rio de Janeiro. Em 21 de abril de 1792, o alferes foi enforcado, e seu corpo, esquartejado. Seus restos mortais foram expostos em postes das cidades mineiras. O ritual teve um objetivo de fôrça simbólica: mostrar à população o destino de quem se rebelava contra a Coroa.
A Conjuração Mineira não se concretizou, mas o movimento permitiu que um novo horizonte político fosse vislumbrado para a colônia.
Em debate
Tiradentes: a construção de um mito
Estudando História, podemos compreender muitos acontecimentos do nosso presente. Quer um exemplo? Por que será que Tiradentes é, hoje, considerado um herói brasileiro? Por que será que existe até mesmo um feriado nacional para celebrá-lo no dia 21 de abril?
Muitos historiadores já se ocuparam desse tema e encontraram respostas para essas questões. Atualmente, a maior parte deles concorda que o mito sobre o heroísmo de Tiradentes foi, na realidade, construído em um momento muito específico da história brasileira.
Para saber mais, leia os trechos de dois textos a seguir.
Texto 1
reticências nunca a construção histórica esteve tão presente em nossa nação como na transição da Monarquia para a República [em 1889]. Nesse momento, o poder político sentiu necessidade da criação de valôres republicanos na consciência popular reticências.
Dentre os vários símbolos criados pela República, alguns tiveram a aceitação pelo público, como é o caso do maior símbolo nacional, reticências Tiradentes.
Balaróti, Carlos Roberto. A construção do mito de Tiradentes: de mártir republicano a herói cívico na atualidade. Antíteses, Londrina, volume 2, número 3, janeiro/ junho 2009. página 202.
Texto 2
Na figura de Tiradentes todos podiam identificar-se, ele operava a unidade mística dos cidadãos, o sentimento de participação, de união em torno de um ideal, fosse ele a liberdade, a independência ou a república. Era o totem cívico. Não antagonizava ninguém, não dividia as pessoas e as classes sociais, não dividia o país, não separava o presente do futuro.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. página 68.
- De acôrdo com o texto 1, em que momento da trajetória brasileira é possível identificar uma intensa construção histórica promovida pelo poder político? O que Tiradentes teve a ver com esse momento?
- O texto 2 traz algumas pistas para entendermos por que Tiradentes, uma figura do século dezoito, foi escolhido para ser um “herói nacional”. Identifique essas pistas e explique-as.
A Conjuração Baiana
Em fins do século dezoito, as guerras de independência do Haiti prejudicaram a produção do açúcar haitiano, o que fez aumentar a procura pelo açúcar brasileiro. Consequentemente, os preços do açúcar subiram, o que levou muitos proprietários da Bahia a ampliar o cultivo de cana-de-açúcar e a reduzir as plantações de gêneros alimentícios. Salvador havia deixado de ser capital e sua produção de açúcar havia diminuído significativamente.
A redução das plantações de gêneros alimentícios na Bahia teve como consequência o aumento dos preços. Grande parte da população começou a enfrentar a fome, o que criou um ambiente propício para a revólta. A divulgação de ideias iluministas e de notícias sobre a Revolução Francesa também serviu de combustível para o projeto revolucionário.
Também conhecido como Conjuração dos Alfaiates, o movimento baiano teve caráter popular. Contou com a participação de pequenos comerciantes, soldados, artesãos, alfaiates, negros libertos e escravizados, além de alguns homens brancos mais abastados.
O primeiro ato da conjuração ocorreu em agosto de 1798, quando alguns locais públicos de Salvador amanheceram cobertos de cartazes, chamando o povo à revolução. Vários deles atacavam a administração portuguesa, reivindicavam melhores remunerações aos soldados e denunciavam a corrupção das autoridades.
O movimento foi rapidamente contido. Com a ajuda de delatores, as investigações levaram os principais envolvidos à prisão. Os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas do Amorin e os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino foram condenados à morte e executados em 1799.
Documento
Boletins sediciosos da Conjuração Baiana
Na manhã do dia 12 de agosto de 1798, apareceram na cidade de Salvador diversos manuscritos, colados em variados pontos da cidade, como na Igreja da Sé (atual Praça da Sé) e na Praça do Palácio (atual Praça Tomé de Souza). Esses manuscritos expressavam os anseios e objetivos dos organizadores da Conjuração Baiana. Chamados de “panfletos”, “papéis sediciososglossário ” ou “boletins sediciosos”, eles são documentos importantes para a compreensão daquele movimento. Leia a seguir trechos desses boletins:
Trecho 1
A liberdade consiste no estado feliz, no estado livre do abatimento: a liberdade é a doçura da vida reticências.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da sedição intentada na Bahia em 1798 (“A Conspiração dos Alfaiates”). São Paulo: Pioneira, 1975. página 24.
Trecho 2
Cada um soldado é cidadão, mormenteglossário os homens pardos e pretos que vivem escornadosglossário e abandonados, todos serão iguais, não haverá diferença; só haverá liberdade, igualdade e fraternidade.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da sedição intentada na Bahia em 1798 (“A Conspiração dos Alfaiates”). São Paulo: Pioneira, 1975. página 32.
Trecho 3
Portanto faz saber, e dá ao preloglossário que se acham as medidas tomadas para o socorro Estrangeiro, e progresso do comércio de açúcar, tabaco e pau-brasil e todos os mais gêneros do negócio, e mais víveres, contanto que aqui virão todos os estrangeiros tendo Pôrto aberto, mormente a Nação Francesa.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da sedição intentada na Bahia em 1798 (“A Conspiração dos Alfaiates”). São Paulo: Pioneira, 1975. página 30.
- De acôrdo com o trecho 1, como os revoltosos viam a liberdade?
- Releia o trecho 2 e identifique alguns elementos que mostram a influência dos ideais da Revolução Francesa na Conjuração Baiana. Quem são os sujeitos sociais destacados neste trecho como cidadãos?
- No trecho 3, as expressões “o progresso do comércio” e “ Pôrto aberto” referem-se a um aspecto específico da ideia de liberdade, que também se origina dos ideais da Revolução Francesa. A que aspecto da liberdade os revoltosos estão se referindo? Como você chegou a essa conclusão?
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Sobre a era pombalina, faça o que se pede.
- Qual era o projeto do marquês de Pombal para os indígenas da América portuguesa.
- Como é possível definir a noção de integração tutelada dos indígenas à sociedade colonial iniciada por Pombal? Essa política teve continuidade após a independência do Brasil? Explique.
- Em um artigo escrito em 1989 para as comemorações dos 200 anos da Conjuração Mineira, o historiador britânico quênef máquissuel expôs sua visão sobre alguns aspectos dessa revólta. No trecho a seguir, que características da Conjuração Mineira o autor sintetizou?
A revólta planejada não se materializara, mas isto não escondia o fato de que um importante segmento do grupo social em que o govêrno metropolitano devia confiar reticências, em uma das mais importantes, populosas, ricas e estrategicamente bem situadas capitanias brasileiras, tinha tido o atrevimento de pensar que podia viver sem Portugal: amparados no exemplo dos norte-americanos e nas teorias políticas correntes, os colonos haviam questionado o que devia ser inquestionável.
máquissuél, Quênef. Conjuração Mineira: novos aspectos. Estudos Avançados, São Paulo, volume 3, número 6, página 24, maio/ agosto 1989.
3. Observe a reprodução do painel Tiradentes, de Cândido Portinari, dividido em duas partes. O painel representa a narrativa da Conjuração Mineira em dois momentos.
- Com base em seus conhecimentos e na observação das imagens, procure explicar como o artista diferenciou esses dois episódios.
- Por que, na representação do segundo episódio, é difícil distinguir o personagem central das demais figuras humanas? Por que os postes estão presentes em diversos pontos da obra?
CAPÍTULO 9 BRASIL INDEPENDENTE
Fugindo dos exércitos franceses de Napoleão Bonaparte e escoltada pela esquadra inglesa, a côrte portuguesa mudou-se para o Brasil no século dezenove. Esse acontecimento transformou os rumos da antiga colônia, elevando o Brasil à séde da Monarquia portuguesa e acelerando o ritmo da independência política, que aconteceria em alguns anos. Além disso, a transferência da côrte portuguesa impulsionou a urbanização e o investimento em diversas instituições culturais no Rio de Janeiro, alterando a vida cotidiana nessa cidade e as relações com outras localidades.
Quando a família real veio viver no Brasil, em 1808, o filho mais velho de Dom João sexto, Pedro, era apenas uma criança. Primeiro na linha sucessória, tudo indicava que o futuro lhe reservava o trono de Portugal.
Pouco mais de dez anos depois, contudo, uma sucessão de fatos daria rumos inesperados à vida do príncipe herdeiro e o levaria a proclamar a Independência do Brasil, tornar-se imperador e enfrentar crises gravíssimas entre os brasileiros e a Coroa portuguesa.
Como se desenrolou o processo político que resultou, em 1822, na independência do Brasil? Quais foram os antecedentes desse evento? Como o país se organizou após a independência? Esses assuntos são tratados neste Capítulo.
A vinda da família real para o Brasil
No início do século dezenove, a Europa vivia uma grave crise política e militar. De um lado, o exército francês de Napoleão Bonaparte dominava o continente. De outro, a Inglaterra, com sua armada, era a senhora dos mares. No meio desses dois gigantes, estava Portugal, economicamente pobre, apesar de suas inúmeras colônias.
Quando o imperador francês decretou o Bloqueio Continental, assunto tratado na Unidade anterior, o govêrno luso viu-se em um dilema. Por um lado, submeter-se ao bloqueio e romper com o govêrno da Inglaterra significava expor as colônias portuguesas ao poderio naval inglês. Por outro, desacatar a ordem de Napoleão resultaria na invasão de Portugal pelas tropas francesas.
A intenção de transferir a côrte portuguesa para o Brasil não era nova; ela já tinha sido cogitada em várias ocasiões desde o século dezessete. Diante das pressões daquele momento, a mudança foi vista como a melhor opção por Dom João e alguns de seus ministros, porque isso evitaria o conflito militar direto com a França, garantiria a segurança da família real e impediria a invasão do Brasil pela Inglaterra.
Em outubro de 1807, os governos de Inglaterra e Portugal negociaram a transferência da família real para o Brasil, que seria escoltada pela esquadra inglesa em troca de vantagens comerciais. No dia 29 de novembro, a família real, acompanhada de aproximadamente 10 mil pessoas, partiu do Pôrto de Belém, em Lisboa, com destino ao Brasil. Nos navios, seguiu também grande quantidade de joias, louças, mapas, livros, arquivos oficiais e moedas.
Ler a pintura
• Que local é representado na obra de arte a seguir? Por que essas pessoas estão reunidas? Quem é o personagem principal da imagem?
Em terras brasileiras
No dia 24 de janeiro de 1808, a nau que conduzia o príncipe regenteglossário Dom João e a rainha . Dona Maria primeiro, bem como parte da comitiva real, atracou no Pôrto da cidade de Salvador. Pela primeira vez, uma família real europeia pisava em solo americano. Dias depois, Dom João assinou o decreto que abria os portos brasileiros ao comércio com as nações amigas.
Ao abrir os portos brasileiros, o príncipe cumpria o acôrdo feito com o govêrno da Inglaterra. Os ingleses haviam se comprometido a escoltar a côrte para o Brasil em troca do fim das restrições comerciais a seus produtos. Para completar essa aliança, em 1810, Dom João assinou o Tratado de Comércio e Navegação, que concedia tarifas privilegiadas às exportações inglesas.
A abertura dos portos decorreu também do fato de o território português encontrar-se ocupado pelas tropas francesas. Dessa , os portugueses não teriam como abastecer o Brasil com produtos europeus nem como exportar os produtos coloniais pelos portos portugueses. Assim, a carta régia de 1808 autorizou a entrada no Brasil de produtos transportados em navios portugueses ou de nações amigas de Portugal. O mesmo valia para produtos que deixassem a colônia. fórma
Para o Brasil, a abertura dos portos significou o término da exclusividade comercial com a metrópole.
De colônia a séde da monarquia portuguesa
Em 8 de março de 1808, a família real chegou ao Rio de Janeiro. Ao som dos sinos e dos tiros de canhão, autoridades da América portuguesa receberam os ilustres visitantes, diante dos olhos curiosos da multidão que acompanhava os festejos.
Aos poucos, a colônia transformou-se em séde da administração portuguesa. Repartições que cuidavam das finanças, do comércio, da agricultura e de outros serviços foram transferidas para a cidade do Rio de Janeiro.
Inovações na cidade da côrte
A família real trouxe para o Rio de Janeiro o modo de vida europeu. A preocupação em mudar a imagem da séde da côrte levou o govêrno a tomar uma série de medidas que transformaram a aparência e o cotidiano da cidade.
Córregos foram canalizados, ruas passaram a ter iluminação e aterros e estradas foram construídos. Em 1808, criaram‑se a Imprensa Régia, o Real Horto (atual Jardim Botânico) e o Banco do Brasil. Em 1810, foi fundada a Real Biblioteca (atual Biblioteca Nacional). Mais adiante, em 1816, chegava ao Brasil a Missão Artística Francesa, formada, entre outros artistas, por Nicola Antuen Tounê e Jãn Batiste Dêbret.
Tornaram-se comuns eventos como bailes, óperas e jantares aristocráticos, bem como o “beija-mão”, cerimônia típica de monarquias europeias absolutistas em que o rei ouvia queixas dos súditos e podia conceder a eles benefícios e favores.
A cidade do Rio de Janeiro passou por um rápido crescimento urbano nesse período, mas, em contraste com o luxo da côrte, as condições de vida da maior parte da população eram precárias. Não existia sistema de esgôto e de coleta do lixo; por isso, o mau cheiro e as doenças faziam parte do cotidiano da cidade. Faltavam alimentos, água potável e moradia. Os mais atingidos eram os escravizados e os libertos, que moravam geralmente em cortiços.
A circulação de periódicos
A Imprensa Régia publicava obras literárias. Publicou, também, o primeiro periódico editado no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, que tinha caráter oficial.
Além da Gazeta, circularam também O Patriota (1813-1814), Idade do Ouro no Brasil (1811) e periódicos portugueses editados em Londres, como o Correio Braziliense, que emitia artigos de opinião, trechos e comentários de obras políticas e notícias sobre a Europa e a América espanhola.
Uma nova dignidade ao Brasil
Com a derrota napoleônica, as potências europeias reunidas no Congresso de Viena (1814-1815) determinaram que as monarquias destituídas por Napoleão retornassem ao poder. Desse modo, Dom João deveria regressar a Portugal para assumir o trono. Porém a família real já estava devidamente instalada no Brasil, e Dom João, assim como muitos de seus súditos vindos com a côrte, não tinha a intenção de voltar tão cedo a Portugal. A solução encontrada pelo príncipe foi elevar sua colônia americana, em dezembro de 1815, à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarvesglossário .
Essa mudança oficializava a nova organização da monarquia portuguesa perante as demais nações europeias e o fim da divisão metrópole-colônia, já superada na prática pela abertura dos portos, em 1808. A medida reforçou ainda a importância do espaço americano no conjunto do Império Português e deu uma nova dignidade política ao Brasil. A decisão de Dom João de permanecer no Brasil também revelava um temor: seu retôrno a Portugal poderia levar à desintegração do Império Português.
O enraizamento de interesses
A transferência da família real para o Brasil teve um significado importante para as relações entre Portugal e Brasil e para a elite que vivia aqui. O eixo econômico, até então centrado em Portugal, transferiu-se para a América, processo denominado interiorização da metrópole.
A proximidade da figura do rei criou nas elites expectativas quanto à concessão de favores e atribuições de honrarias e títulos de nobreza, situação que Dom João utilizou para obter o apôio financeiro das elites do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.
O Centro-Sul tornou-se a principal área econômica do Brasil. A transferência da família real redefiniu hierarquias entre as províncias do Brasil. Isso significou a concessão de benefícios especiais ao Rio de Janeiro e o aumento de impostos em outras regiões para custear a instalação da côrte portuguesa.
, Lilia Chuárquis ; SPACCA, João. Mórits Dom João carioca: a côrte portuguesa chega ao Brasil (1808-1821). São Paulo: Companhia das Letras, 2007. O livro, no formato de história em quadrinhos, apresenta aspectos da chegada da família real ao Brasil, em 1808.
A Revolução Pernambucana
O Nordeste, que principalmente entre os séculos dezesseis e dezessete desfrutou de riqueza e prestígio trazidos pela economia açucareira, enfrentava uma situação crítica no início do século dezenove. Nesse período, a região passava por uma grave crise econômica, causada principalmente pelo declínio das lavouras de exportação. Além disso, a população estava descontente com o contrôle que os portugueses exerciam sobre o comércio e os altos cargos administrativos e com a sobrecarga de impostos cobrados pela Coroa.
A combinação desses fatores deu origem à Revolução Pernambucana de 1817. Padres, artesãos, militares, juízes, proprietários de terra e outros setores sociais tomaram o govêrno de Recife e proclamaram a República. O movimento instalou um govêrno provisório, inspirado no Diretório da Revolução Francesa, e propôs a elaboração de uma Constituição que expressasse a defesa dos princípios do liberalismo, da liberdade de imprensa, da soberania popular e da tolerância religiosa. Porém não havia unidade entre os revoltosos: os pobres queriam conquistar a igualdade, enquanto as elites buscavam a autonomia política.
O movimento expandiu-se para outras capitanias, como Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Porém, após pouco mais de dois meses, o govêrno do Rio de Janeiro, com o apôio da Bahia, retomou o contrôle do Recife e reprimiu com violência os revoltosos. Apesar da derrota, a Revolução Pernambucana representou um duro golpe à monarquia portuguesa.
A volta de Dom João sexto a Portugal
Com a vinda da família real para o Brasil, as tropas francesas assumiram o contrôle de Portugal. O domínio francês, porém, teve curta duração. Em setembro de 1808, os franceses foram vencidos por uma coligação luso-britânica e foram expulsos do território. Um conselho chefiado pelo general inglês Uilian assumiu o govêrno de Portugal, situação que causava grande descontentamento aos portugueses, principalmente entre os comerciantes. Muitos questionavam a insistência de Dom João em permanecer no Brasil e se queixavam dos prejuízos que a abertura dos portos brasileiros, em 1808, havia causado à economia portuguesa.
Esse cenário contribuiu para a eclosão da Revolução Liberal de 1820. O movimento começou na cidade do Pôrto e, depois, se espalhou pelas cidades mais importantes do reino. Os rebeldes exigiam a volta do rei a Lisboa e uma Constituição liberal para o país.
No comando da situação, os revolucionários convocaram eleições para formar as côrtes, o Parlamento português. Lideradas por uma maioria de deputados portugueses, as côrtes aprovaram uma série de medidas que demonstravam a intenção de recolonizar o Brasil, como a restrição de sua liberdade administrativa e comercial e o restabelecimento dos monopólios e privilégios portugueses.
As pressões das côrtes forçaram Dom João a voltar a Portugal. Mas, para garantir a permanência da família no govêrno brasileiro, ele deixou seu filho, Dom Pedro, como príncipe regente do Brasil.
TORERO, José Roberto; PIMENTA, Marcus Aurelius. Entre raios e caranguejos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2016. A vinda da família real para o Brasil é contada no livro, de maneira bem‑humorada, por Dom Pedro, que se tornaria príncipe regente.
A Proclamação da Independência
A maior parte da elite brasileira, formada principalmente por grandes proprietários de terra, apoiava a ideia de que Dom Pedro governasse o Brasil. Um monarca português garantiria as liberdades conquistadas a partir de 1808 e evitaria uma mobilização social pela independência. As elites do Brasil temiam uma rebelião escrava, como a do Haiti.
As pressões das côrtes, porém, levaram a elite brasileira a admitir a ideia da independência. Percebendo o objetivo dos brasileiros, as côrtes exigiram o retôrno de DomPedro a Portugal. A decisão do príncipe regente, anunciada no dia 9 de janeiro de 1822, foi permanecer no Brasil. Esse episódio ficou conhecido como “Dia do Fico”.
As relações entre as côrtes e o Brasil se deterioravam a cada dia. Em uma viagem a São Paulo, Dom Pedro recebeu notícias de que as côrtes haviam reduzido seu poder como príncipe regente. Na carta, o ministro do Conselho de Estado, José Bonifácio de Andrada e Silva, insistia para que Dom Pedro rompesse com Portugal. Assim, no dia 7 de setembro de 1822, Dom Pedro proclamou a independência do Brasil e, em outubro, foi aclamado imperador.
As elites se aproximaram de Dom Pedro para evitar a participação popular na luta pela independência e garantir seus privilégios. Portanto, o Brasil que nasceu da independência era um país monárquico e escravista.
Gire o seu dispositivo para a posição vertical
Grupos políticos no processo de independência |
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Partido Português |
Composto de ricos comerciantes portugueses. Aprovava a política das Cortes de recolonizar o Brasil. |
Partido Brasileiro |
Formado por fazendeiros, altos funcionários e ricos comerciantes. Defendia a independência e uma monarquia chefiada por D. Pedro. |
Liberais radicais |
Eram membros das camadas médias urbanas. Defendiam a ruptura com Portugal, a instalação de uma república e o fim da escravidão. |
Ler a pintura
O grito do Ipiranga
O famoso quadro Independência ou morte, também conhecido como O grito do Ipiranga, do pintor paraibano Pedro Américo, foi encomendado pelo govêrno imperial e pela comissão de construção do Monumento do Ipiranga.
A pintura, datada de 1888, representa de fórma idealizada a proclamação da Independência do Brasil.
Veja, a seguir, algumas curiosidades sobre essa pintura.
- Segundo o próprio Pedro Américo, o homem com seu carro de bois (à esquerda na imagem) foi introduzido para dar côr à pintura e criar uma paisagem em que a serenidade foi abalada pelo grandioso acontecimento.
- Testemunhas do episódio afirmaram que Dom Pedro e sua guarda montavam burros, e não cavalos, e que os uniformes mais simples dos soldados teriam sido substituídos, na pintura, por trajes de gala.
- A distância entre o Riacho do Ipiranga e a colina onde está Dom Pedro era, na realidade, bem maior do que a representada. O artista aproximou esses lugares para indicar o local onde foi declarada a Independência.
- A casa que aparece à direita na imagem não existia na época da independência, tendo sido construída por volta de 1884. Ficava no final do Caminho do Mar, estrada que ligava São Paulo a Santos e era muito utilizada por tropeiros.
- O homem com o carro de bois poderia representar que grupo social? Ele representaria algum aspecto do Brasil? Qual?
- A posição em que Dom Pedro aparece na pintura teria que finalidade? Explique, indicando elementos da pintura.
- Que visão sobre a independência do Brasil a obra quer transmitir? Justifique.
- Com base na análise da obra, responda: Por que podemos dizer que essa pintura é uma construção simbólica do real? Por que ela não pode ser vista como o retrato da realidade?
Atividades
Faça as atividades no caderno.
1. Leia o texto a seguir, escrito pelo historiador Jurandir Malerba, e responda ao que se pede.
Quanto a afirmar que a chegada da côrte protelou a independência, eu diria que sim e que não. Sim, porque a chegada do rei ao Brasil abriu para o lado mais forte da contenda (as classes superiores brasileiras) a possibilidade de vislumbrar saída menos traumática que a ruptura. Não, porque a vinda da côrte significou um passo decisivo, do qual não haveria como retroceder. De um modo ou de outro, pela conciliação ou pela ruptura, estava lançada a pedra fundamental da independência.
MALERBA, Jurandir. Esboço crítico da recente historiografia sobre a independência do Brasil ( cêrca de 1980-2002). In: A independência brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: éfe gê vê, 2006. página 33.
• Sobre que evento o historiador está refletindo em seu texto? Para ele, esse evento colaborou para protelar (ou seja, adiar) a independência do Brasil? A que conclusões o historiador chega a respeito desse tema?
- Como a transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro contribuiu para a eclosão da Revolução Pernambucana de 1817?
- Podemos dizer que a Revolução Pernambucana absorveu influências de processos ocorridos na Europa? Quais? Dê exemplos.
- Você estudou que a independência de diversos países da América aconteceu por meio de conflitos e guerras. A pintura a seguir, feita por Georgina de Albuquerque, representa uma sessão do Conselho de Estado, cinco dias antes da proclamação da Independência. Ela expressa algum tipo de conflito? Que hipóteses você consegue elaborar, ao observar a obra, para explicar a fórma como se deu o processo de independência do Brasil? Pode-se afirmar que esse processo contou com a participação da população, incluindo indígenas e negros?
CAPÍTULO 10 O PRIMEIRO REINADO
Uma vez proclamada a Independência, o govêrno brasileiro recém-instalado precisava vencer a resistência interna, obter o reconhecimento internacional e elaborar uma Constituição para o país. O príncipe português Dom Pedro foi aclamado imperador após um acôrdo político com as elites, mas haviam outros interesses divergentes em jôgo que entraram em disputa.
Dessa fórma, a independência do Brasil foi resultado de um longo processo, que, ao contrário do que poderíamos pensar, não foi algo totalmente pacífico: após os eventos de 1822, o govêrno central passou a enfrentar alguns movimentos de resistência interna. As tropas leais à Coroa portuguesa, e, portanto, contrárias à independência, tiveram de ser vencidas e expulsas em várias províncias. Esses conflitos só terminaram em 1823. E depois disso? Quais teriam sido os passos necessários para a formação do Brasil independente? Como ocorreu a formação do Estado nacional?
Nem todos queriam a independência
Logo após a independência, Dom Pedro enfrentou uma grande resistência interna. Nas províncias do Pará, Maranhão, Piauí e Ceará, além de parte da Bahia e da Província Cisplatina, militares e altos funcionários portugueses se opuseram à independência do Brasil, aliando-se às côrtes.
No município de Campo Maior, no Piauí, por exemplo, ocorreu a Batalha do Jenipapo, em 13 de março de 1823 — data que se tornou um marco na história desse estado. Na luta, piauienses apoiados por maranhenses e cearenses combateram as tropas portuguesas, comandadas pelo governador João José da Cunha Fidié.
O movimento teve forte caráter popular, mas as tropas do governador João Fidié venceram o conflito e fizeram cêrca de 500 prisioneiros. Porém, após a batalha, um grupo de sertanejos invadiu o acampamento militar dos portugueses e apreendeu armamentos, munições e dinheiro. Além disso, muitos soldados desertaram. Assim, João Fidié se viu obrigado a retirar-se do Piauí e seguir para o Maranhão, onde foi preso e mandado de volta a Portugal.
Na Bahia, a guerra contra as tropas portuguesas contou com o apôio de oficiais ingleses. As batalhas contra as fôrças portuguesas tiveram ampla participação popular. Nesse conflito, destacou-se Maria Quitéria, que se vestiu de soldado e se alistou voluntariamente no exército brasileiro.
O conflito terminou em 2 de julho de 1823, com a vitória das fôrças inglesas e imperiais. E essa data passou a ser comemorada como o Dia da Independência da Bahia.
No Maranhão e no Pará, a vitória do Império também contou com a participação de fôrças inglesas. No Pará, cêrca de 250 rebeldes, entre civis e soldados, morreram asfixiados em um navio. A unidade territorial do Império foi definida apenas no final de 1823, quando a resistência das províncias foi vencida.
A assembleia Constituinte de 1823
Além dos conflitos internos, em 1823 também ocorreram eleições para a Assembleia Constituinte. Essa Assembleia tinha por objetivo elaborar a primeira Constituição do Brasil, tarefa essencial na construção do novo Estado. Instalada em maio, ela reunia advogados, padres, funcionários públicos – civis e militares – e, principalmente, proprietários rurais.
Os constituintes estavam divididos em duas correntes distintas: os partidários do imperador, que defendiam um govêrno centralizado e forte, capaz de derrotar as tendências separatistas que se verificavam no comêço do Império, e os adversários do imperador, que propunham limites para a autoridade de Dom Pedro primeiro.
As divergências entre as duas correntes principais chegaram ao fim com a dissolução da Assembleia Constituinte pelas tropas de Dom Pedro primeiro, em novembro de 1823, na chamada Noite da Agonia.
O reconhecimento internacional
Se, no plano interno, a consolidação da independência foi difícil, no plano externo, o reconhecimento só aconteceu três anos após o Grito do Ipiranga. Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil, em 1824. Mesmo assim, o novo Estado precisava do aval de Portugal para ser reconhecido pelas potências europeias.
Depois de várias negociações diplomáticas, em 1825, com a assinatura do Tratado de Paz e Aliança, a independência brasileira foi finalmente reconhecida. Entre outras obrigações, o Brasil concordava em indenizar a antiga metrópole com a elevada quantia de 2 milhões de libras esterlinas, fornecida por um empréstimo inglês. Depois de Portugal, a Inglaterra, a França, a Áustria e as demais potências europeias reconheceram o Brasil como um novo Estado independente na América do Sul.
A Constituição de 1824
Dissolvida a Assembleia Constituinte, Dom Pedro primeiro encomendou um novo projeto constitucional, outorgado por ele em 1824. A primeira Constituição do Brasil conciliava os interesses da elite com o autoritarismo do imperador. Veja as principais resoluções da lei:
- Divisão dos poderes em Executivo, Legislativo, Judiciário (ou Judicial, como estabelecido na Constituição de 1824) e Moderador. Este último era exclusivo do imperador e lhe garantia o direito de intervir nos demais poderes.
- Garantia do direito à propriedade das terras, dos escravizados e dos demais bens adquiridos pelas elites durante o período colonial.
- Estabelecimento do catolicismo como religião oficial do Império.
- Voto indireto e censitário. Os eleitores escolhiam, nas eleições primárias, o colégio encarregado de eleger os deputados. Além disso, exigia-se do cidadão uma renda mínima para votar ou candidatar-se à Câmara e ao Senado.
A lei também dividiu o território brasileiro em províncias, governadas por um presidente nomeado pelo imperador. Estabeleceu ainda o princípio da tolerância religiosa e a educação primária gratuita.
Quem era cidadão em 1824?
A Constituição de 1824 considerava cidadãos aqueles que nasciam no Brasil, mesmo com pai estrangeiro; os filhos de pai brasileiro e os ilegítimos de mãe brasileira, nascidos em outro país, mas que viviam no Brasil; os filhos de pai brasileiro que estivessem em outro país a serviço do Império; todos os nascidos em Portugal e em suas possessões que continuaram residindo no Brasil a partir da independência; e os estrangeiros naturalizados. Os libertos nascidos no Brasil também eram considerados cidadãos, mas com direitos restritos.
Os indígenas na Constituição
Em 1823, o estadista José Bonifácio apresentou à Assembleia um projeto que propunha, basicamente, uma futura integração social dos indígenas por meio da educação, do trabalho, dos casamentos mistos e do convívio com o homem branco. Segundo Bonifácio, esse processo deveria ser conduzido pelo Estado.
A questão indígena ficou excluída da Constituição de 1824. Assim, os indígenas não foram considerados cidadãos, nem brasileiros, ficando, portanto, fóra dos planos políticos e sociais do país.
As disputas políticas no Primeiro Reinado
O Primeiro Reinado foi um período politicamente conturbado, no qual persistiram os conflitos entre o imperador e as elites.
Após conquistarem seu objetivo principal, ou seja, libertar a colônia da metrópole, as elites queriam garantir que o contrôle da nação permanecesse em suas mãos.
Como vimos, os debates mais decisivos e os conflitos mais graves ocorreram nas discussões sobre os limites da autoridade de Dom Pedro primeiro durante a Assembleia Constituinte de 1823.
Conflitos entre as elites
Na Câmara dos Deputados, as divergências entre as próprias elites se tornaram cada vez mais evidentes. Os embates giravam em torno da organização do sistema educacional, da legislação agrária, da abolição do tráfico de escravizados, da liberdade de imprensa e de religião, da organização de conselhos provinciais e municipais, entre outros pontos.
A partir de 1826, os deputados se dividiram em dois grupos opostos, um liberal e outro conservador. Os liberais defendiam um sistema de educação livre do contrôle religioso, apoiavam a liberdade de cultos, favoreciam a descentralização e a autonomia das províncias e dos municípios. Os conservadores se opunham a essas ideias.
Apesar de ser possível diferenciar liberais de conservadores no plano das ideias, na prática política nem sempre havia coerência entre ideais e atitudes. José Bonifácio, por exemplo, era liberal em relação aos problemas sociais e econômicos, mas conservador quanto à organização política.
A formação do Estado nacional
No processo de formação do Estado nacional brasileiro, diversos projetos surgiram em várias regiões da antiga colônia portuguesa.
As elites regionais, as camadas médias urbanas e as camadas populares não tinham as mesmas ideias a respeito da organização do novo país nem a mesma representação de pátria, de identidade nacional ou de nação.
Uma grande parte da população era composta de pessoas escravizadas, que não se sentiam pertencentes àquela sociedade nem eram tratadas como cidadãs. Em algumas regiões, como no norte do território, os indígenas compunham uma uma grande população, mas não existia identificação desses grupos com um ideal nacional. Além disso, muitas de suas terras foram usurpadas, e essa sociedade que começou a ser construída no processo de colonização e que se delineava com a república não representava os anseios e os modos de vida dos indígenas. Isso sem contar que as províncias do norte mantinham poucas relações comerciais com as províncias centrais do Rio de Janeiro e de São Paulo, menos ainda com as do sul do Império.
As classes populares assustavam as elites, por isso os grupos dominantes defendiam um Estado antidemocrático. Assim, a definição da ideia de nação resultou das disputas de poder entre as elites e as camadas médias de um lado e, de outro, as camadas populares.
MUSEU Histórico Nacional. Disponível em: https://oeds.link/5FaoId. Acesso em: 21 fevereiro 2022. O museu, localizado na cidade do Rio de Janeiro, é uma das mais importantes instituições a preservar documentos, objetos e obras de arte que contam a história do Brasil.
POR dentro da cripta imperial. Disponível em: https://oeds.link/wgev6o. Acesso em: 21 fevereiro 2022. O infográfico apresenta informações sobre a cripta imperial, parte do complexo localizado no Monumento à Independência do Brasil. Na cripta estão depositados os despojos da imperatriz Leopoldina, de Dom Pedro primeiroe de . Dona Amélia (segunda imperatriz do Brasil).
Nova revólta em Pernambuco
A dissolução da Assembleia Constituinte de 1823 e a tendência centralizadora da Constituição de 1824 desagradaram as lideranças da província de Pernambuco, onde havia um forte sentimento antiportuguês e favorável à República. A difusão das ideias liberais e republicanas na província tinha como principais representantes o médico e ativista político Cipriano Barata e o Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, conhecido popularmente como Frei Caneca, um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817.
Em seu periódico Sentinela da Liberdade, Cipriano defendia a liberdade de imprensa e um sistema de govêrno liberal e federativo para o país. Por suas posições políticas, foi preso em 1823 e libertado somente em 1830. Mesmo não participando diretamente da revólta de 1824, Cipriano continuou, na prisão, a alimentar o movimento com as ideias liberais que eram publicadas em seu jornal. Já Frei Caneca, através das páginas de seu periódico, o Tífis Pernambucano, denunciava o autoritarismo do govêrno imperial, propagava os ideais republicanos e conclamava o povo ao conflito.
O estopim para a revólta foi a nomeação, por parte do govêrno imperial, de um novo presidente para a província de Pernambuco. Em julho de 1824, os revoltosos proclamaram a Confederação do Equador, propondo a formação de uma república independente. Houve adesão do Rio Grande do Norte, do Ceará, do Piauí e da Paraíba.
O govêrno imperial reprimiu violentamente o movimento: os principais líderes foram presos, e nove deles foram condenados à morte. Frei Caneca, figura central do movimento, foi executado.
PAINEL Frei Caneca.Disponível em: https://oeds.link/T0a4cv. Acesso em: 21 fevereiro 2022. No site, é possível visualizar diversas fotografias que mostram o Painel Frei Caneca, obra do artista Cícero Dias, de 1982.
A crise econômica e política
Depois da independência, o Brasil continuou sendo um país agrário-exportador, muito dependente da variação de preços dos produtos primários no mercado internacional. Além disso, o custo da independência tinha sido elevado, tanto em razão das despesas militares como da pesada indenização exigida pelo govêrno português.
Endividado, o govêrno de Dom Pedro primeiro adotou uma política econômica desastrosa. Emitiu mais moedas do que podia, causando o aumento do custo de vida e a falência, em 1829, do Banco do Brasil. O curto reinado de D. Pedro I também foi marcado por conflitos com os brasileiros.
A abdicação de Dom Pedro primeiro
Em abril de 1831, já não era possível controlar as manifestações de protesto. Na capital e nas províncias, associações oposicionistas e até membros do alto-comando do exército pediam a derrubada do govêrno.
Dom Pedro primeiro, dividido entre os compromissos do govêrno do Brasil e as lealdades devidas a Portugal, custou a tomar uma decisão. A pressão vinda de Lisboa era intensa, pois os liberais portugueses, desde 1830, insistiam no retôrno do imperador.
Isolado politicamente e abandonado pelos militares, em 7 de abril de 1831, Dom Pedro primeiro abdicou do trono do Brasil e partiu para a Europa. A Coroa foi passada a seu filho, o brasileiro Pedro de Alcântara, então com 5 anos de idade. A renúncia do imperador significou a vitória das elites brasileiras e a ruptura definitiva com Portugal.
A guerra pela Província Cisplatina
Durante o govêrno de João Dom , a Banda Oriental (atual Uruguai), na Bacia do Prata, foi incorporada ao Brasil com o nome de Província Cisplatina. O sexto contrôle da região era motivo de conflitos entre portugueses e espanhóis desde o século dezoito e tornou-se um problema também para o govêrno de Dom Pedro . primeiro
Em 1825, rebeldes da Província Cisplatina declararam a ruptura com o Brasil e a incorporação daquela região às Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina). Foi o início de uma guerra entre o Brasil e o govêrno de Buenos Aires, que trouxe perdas humanas e custos financeiros para ambos. A guerra terminou em 1828 com a independência da Província Cisplatina, que passou a se chamar República Oriental do Uruguai.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Em 1824, Dom Pedro primeiro outorgou a primeira Constituição do Brasil, a única do Império.
- Por que podemos afirmar que a Constituição de 1824 mesclava características liberais com artigos conservadores aplicados à organização do Estado brasileiro?
- O artigo 6 da Constituição estabelecia que eram cidadãos brasileiros “os que no Brasil tiverem nascido, quer sejam ingênuos [filhos de escravizados], ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua nação”. Disponível em: https://oeds.link/iGpnKQ. Acesso em: 28 abril 2022. Nesse texto, a lei admitia a prática da escravidão? Explique.
- O estopim para a Confederação do Equador foi a nomeação de um novo presidente da província de Pernambuco pelo govêrno imperial. O que propunham os confederados? Quais foram as regiões que apoiaram a revólta?
- Jãn Batiste Dêbret chegou ao Brasil em 1816. Como pintor da côrte portuguesa, o artista representou diversos eventos oficiais do , além da população do Império, seus costumes e a paisagem da cidade do Rio de Janeiro. Parte de seu trabalho foi reunida na obra govêrno Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, publicada entre 1834 e 1839. Sob orientação do professor, reúna-se com um colega. Observem a gravura e respondam às questões.
- Que grupo social foi representado nesta gravura? Como vocês chegaram a essa conclusão?
- O cenário representado parece ser urbano ou rural? Por quê?
- Que frutas aparecem na imagem? Qual seria a intenção de Debret ao representá-las?
- Ainda em duplas, observem novamente a gravura Encontro de índios com viajantes europeus, feita por Rugendas no século dezenove e reproduzida anteriormente neste Capítulo. Em 1827, quando a obra começou a ser elaborada (foi concluída em 1835), o Brasil vivia o Primeiro Reinado. Na gravura estão representados os três principais grupos étnicos que formaram o povo brasileiro. Agora, façam o que se pede.
- Reflitam sobre esta afirmação: A independência brasileira não piorou nem melhorou as condições de vida dos negros e dos indígenas.
- Respondam: Que explicações podem ser dadas para justificar a permanência dessa situação? Como essas condições podem ser observadas na imagem?
Para refletir
A política indigenista brasileira do século , após a independência, respeitava os costumes e as tradições dos povos indígenas? dezenove
Você já estudou a independência política do Brasil, que ocorreu em 1822. Agora, seus conhecimentos possibilitam que você reflita sobre a construção da nação brasileira após a independência e compreenda o papel reservado aos indígenas em toda essa história.
Para começar, é importante entender o significado de “política indigenista”: a expressão se refere, de modo geral, às políticas (projetos, ações, leis etcétera) feitas por um govêrno em relação aos povos indígenas de um país.
Os indígenas e o Estado
Atualmente, o significado do termo “política indigenista” se ampliou. Há organizações não governamentais, instituições religiosas, universidades e grupos de pesquisadores que trabalham com os povos indígenas e participam de ações que integram a política indigenista.
No século dezenove, essas ações eram de responsabilidade exclusiva do govêrno. De modo geral, políticos e intelectuais consideravam os indígenas seres inferiores aos brancos. Estavam de acôrdo com o projeto político de submetê-los ao Estado, de incorporar suas terras e de transformá-los em eficientes trabalhadores do Império.
Nesse processo,
valôres caros aos índios, como vida comunitária e reciprocidade, eram vistos como negativos e obstáculos ao progresso.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na História do Brasil no século dezenove: da invisibilidade ao protagonismo. Revista História Hoje, São Paulo, volume 1, número 2, 2012. página 30.
Que iniciativas o Estado brasileiro, no século dezenove, passou a tomar para submeter os povos indígenas? Algo semelhante àquilo que a Coroa portuguesa fazia no período colonial: impunha a eles os hábitos e costumes europeus.
Primeiro, classificava os indígenas como mansos ou hostis. Para cada grupo, empregava procedimentos específicos. Para os mansos e aliados, reservavam-se a civilização e a catequese. Para os demais, bravos e rebeldes, as guerras justas e a escravização.
Para os indígenas do sertão, propunha-se a integração à sociedade dos não indígenas. Isso poderia se dar por meio das missões. Para os indígenas aldeadosglossário , estabelecia-se a rápida assimilação: a extinção das aldeias e a anexação de suas terras coletivas não tardavam a ocorrer.
Resistir é preciso
Apesar do completo desrespeito à cultura indígena, muitos povos resistiam: os grupos aldeados, por exemplo, encaminhavam petições ao govêrno mostrando que permaneciam nas aldeias, reivindicando direitos coletivos e afirmando sua identidade indígena.
Mudanças efetivas vieram com a Constituição de 1988. O direito dos indígenas às terras tradicionalmente habitadas por eles foi formalizado. Reconheceu-se também a importância da terra e de seus recursos para a preservação física e cultural desses povos. A partir de então, a política indigenista brasileira começou a mudar.
A Constituição de 1988 determina que o govêrno brasileiro tem a tarefa de demarcar todas as terras indígenas. Contudo, o processo é muito lento e enfrenta a resistência de latifundiários, madeireiros e mineradores, entre outros.
Um novo estudo mostra que os interesses da mineração na Amazônia brasileira representam uma ameaça iminente a diversos grupos indígenas da região. “Terras indígenas com grupos isolados estão ameaçadas por mais de .3600 pedidos de mineração até o momento”, informaram os autores.
MINERAÇÃO na Amazônia ameaça dezenas de grupos indígenas não contatados. Notícias da floresta. Ecoa uól, 25 janeiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/KnkQbC. Acesso em: 20 fevereiro 2022.
- Com base no que você leu, explique:
- O que a política indigenista brasileira do século dezenove previa para os povos indígenas?
- Algo mudou na política indigenista brasileira a partir de 1988?
- A política indigenista brasileira do século dezenove, adotada após a independência, respeitava os costumes e as tradições dos povos indígenas? Explique sua opinião.
Glossário
- Conjuração
- Sublevação contra uma autoridade estabelecida.
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- Alferes
- Oficial de baixa patente.
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- Sedicioso
- Aquele que se revólta contra a autoridade; insubordinado; revoltoso.
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- Mormente
- Principalmente; em primeiro lugar.
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- Escornado
- Exausto. No contexto, tratado com
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- Prelo
- Pequena máquina de impressão tipográfica. A expressão “no prelo” significa que um material está prestes a ser publicado.
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- Príncipe regente
- Membro da realeza que comanda um país, mas não é o monarca. Dom João tornou-se príncipe regente em 1792, mas só foi aclamado rei em 1818, dois anos após a morte da rainha, sua mãe.
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- Algarves
- Referência ao título que a família real portuguesa utilizou a partir do século treze, no processo de expulsão dos muçulmanos da península Ibérica.
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- Aldeado
- Refere-se aos povos indígenas que viviam nas aldeias criadas para incorporar os indígenas aliados dos portugueses à ordem colonial. Nelas, eles se misturaram com diferentes grupos étnicos e foram catequizados. Além disso, reelaboraram suas culturas, relações sociais e até suas identidades, pois passaram a se identificar como indígenas aldeados e súditos cristãos do rei.
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