UNIDADEseis A ERA DO IMPERIALISMO

Fotografia. Vista de um local aberto com um rio no centro e à esquerda da imagem. À direita, em uma doca, pequenas embarcações de costado colorido (vermelho, azul, verde e branco) atracadas ao lado de uma mureta de cimento, contornando o rio. As águas do rio, escuras, refletem o céu e uma construção à direita. 
Acima do nível da mureta de cimento, formando um "L", ao redor do rio, à direita, uma edificação horizontal, um armazém grande, com cinco pavimentos, suspenso por colunas vermelhas e revestido de tijolos vermelhos. Nos pavimentos, há várias janelas pequenas em forma de arco com vidros e esquadrias pretas. 
Ao fundo, à esquerda, vista parcial de outros prédios em marrom e outro branco. No alto, o céu nublado com muitas nuvens de cor cinza.
O crescimento das cidades industriais foi uma das marcas do século dezenove europeu. O complexo de armazéns e docas chamado de Álbert Dóc, localizado na cidade de Liverpool, na Inglaterra, foi construído em 1846 e serviu como ponto de chegada e de saída de matérias-primas e de produtos industrializados. Essa foi a primeira estrutura da Inglaterra construída com tijolos, pedras e ferro fundido, sem utilizar madeira em suas fundações, o que mostra os avanços na arquitetura do século dezenove. Fotografia de 2020.
Cartum em preto e branco. No centro, um ser com cabeça de homem de cabelos cacheados e curtos, usando cartola preta, e doze braços sinuosos e compridos, como os de um polvo, mas terminados em mãos de forma humana. Junto ao pescoço dessa figura, há um lenço onde está escrito, em inglês, 'Inglaterra'. Os braços longos, como tentáculos, estão alongados em um círculo envolta da cabeça da figura, com cada mão tocando um pedaço de terra, onde está escrito, também em inglês, da esquerda para a direita, Malta, Egito, Índia, Canadá, Jamaica,  Chipre, Colônia do Cabo, Gibraltar, Terra dos Bôeres e Austrália.
A figura, no centro desses territórios, tem dois braços mais próximos da cabeça. Um, à direita, abraçando um pedaço de terra com o nome 'Irlanda', escrito em inglês.
O cartum, publicado em 1882, retrata Djón Bull (um personagem que representa a Inglaterra) como um polvo conquistando terras em todos os continentes.

Você já ouviu falar em imperialismo? Vamos entender melhor esse termo? O imperialismo, entre os séculos dezenove e vinte, correspondeu a uma política de expansão e domínio territorial das nações ricas da Europa sobre regiões como África, Índia e China. Isso quer dizer que nações europeias como Bélgica e Inglaterra dominaram territórios no continente africano e asiático, transformando-os em colônias com o objetivo de explorar as riquezas de cada local.

Além disso, é possível dizer que a industrialização europeia no século dezenove se relaciona profundamente com a “era do imperialismo”. Afinal, as nações ricas da Europa, na corrida imperialista, desejavam transformar os territórios dominados e colonizados em mercados consumidores para os produtos industrializados da Europa.

A industrialização que marcou o século dezenove também promoveu a criação de novas tecnologias. Você sabia que a utilização de novas fontes de energia nas fábricas, o desenvolvimento de novas máquinas industriais e até mesmo o uso de novos materiais na arquitetura das cidades são exemplos desse processo?

Você estudará nesta Unidade:

A Segunda Revolução Industrial

Industrialização em potências mundiais como Estados Unidos e Japão

Vida dos trabalhadores nas cidades industriais

Expressões artísticas: Expressionismo, Cubismo, surgimento do cinema

Características do capitalismo financeiro

Imperialismo na África, na Índia e na China e fórmas de resistência a esse processo

CAPÍTULO 13 A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O século dezenove foi um período de intensas inovações tecnológicas e científicas na Europa, com inventos na área dos transportes, das comunicações e da produção de energia. Parecia, aos olhos das elites, que a civilização europeia tinha instaurado o reino da ciência e do progresso. A crença na capacidade da ciência de explicar o mundo e promover o progresso das sociedades humanas é o que chamamos de cientificismo.

Essas inovações possibilitaram o aumento da produtividade e a geração de capitais excedentes na Europa, o que despertou o interesse das potências europeias em obter novos mercados consumidores para uma quantidade imensa de produtos industrializados feitos nas fábricas e indústrias das nações europeias. Foi então que as nações europeias se lançaram em um novo tipo de colonialismo, que teve como alvo a Ásia e, em especial, a África.

Pintura. Vista de local fechado, uma edificação em formato circular, com paredes altas e janelas de vidro próximas ao teto. Por elas, entram raios amarelados de luz solar, à esquerda, na diagonal. No centro, uma máquina na vertical, com engrenagens de formato redondo dentro de uma estrutura com vigas que formam um cone alto.  Na parte superior, uma  estrutura horizontal, alongando-se à esquerda, conectada a outra estrutura arredondada, grande, apoiada no solo.  Em primeiro plano, alguns homens de pé, trabalhando em uma espécie de projétil longo, apoiado na horizontal. Ao fundo, à direita, outros três homens de frente para uma estrutura cilíndrica na horizontal. O ambiente possui uma atmosfera densa  e sombreada.
Cláussen, Giórgi. Na fábrica de armas em Woolwich Arsenal. 1918. Óleo sobre tela, 182,8 por 317,5 centímetros. Museu Imperial da Guerra, Londres, Inglaterra.
Ciência e Tecnologia

O mundo se transforma

Na segunda metade do século dezenove, nos países da Europa ocidental, nos Estados Unidos e no Japão, descobertas científicas e inovações técnicas, aplicadas à produção industrial, possibilitaram o aumento extraordinário da capacidade produtiva das fábricas, o surgimento de novas indústrias e a modernização dos transportes e das comunicações.

Esse processo de mudanças ficou conhecido como Segunda Revolução Industrial, e o avanço técnico do período teve importantes marcos, como os listados a seguir:

  • Processo Bessemer: em 1856, o inventor inglês Enri béssemer descobriu que a injeção de um jato de ar frio no minério de ferro em fusão possibilitava retirar as impurezas do minério e obter o aço. Com essa descoberta, o aço se tornou mais barato, o que incentivou novos investimentos na indústria siderúrgica.
  • Motor de combustão interna: a partir da década de 1870, foram inventados e aperfeiçoados os primeiros motores de combustão interna, máquinas que transformam energia térmica em energia mecânica por meio da queima de combustíveis.
  • Dínamo: criado por volta de 1870, o dínamo é um dispositivo que transforma energia mecânica em energia elétrica. A eletricidade gerada pelo dínamo passou a ser empregada nas fábricas, nos transportes e na iluminação pública.
Gravura. Vista elevada de local aberto, com um rio visto em diagonal, ocupando a imagem do canto inferior esquerdo até o canto direito da imagem. Nas margens direita e esquerda, muitas construções, indicando acelerado crescimento urbano. Ligando as duas margens do rio, uma ponte pênsil, sustentada por duas torres, uma em cada margem, suspendendo uma larga ponte por meio de cabos de aço. No topo de cada uma das torres, há uma bandeira com as cores da bandeira dos Estados Unidos, listras brancas e vermelhas e um quadrado azul no alto à esquerda. No rio, há muitas embarcações, algumas à vela e outras à vapor. No alto, céu coberto de nuvens cinzas.
CURRIER, Ives. Representação de vista da ponte do Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos. cêrca de 1885. Pouco depois da descoberta do aço pelo inglês Enri béssemer, teve início, em 1869, a construção da primeira ponte feita desse material, a ponte do brúclin.

Avanços técnicos que impulsionaram novos inventos

O uso do aço, da eletricidade e do motor de combustão interna propiciou a expansão das estradas de ferro e o surgimento de novas invenções, como o automóvel e o telefone. Por sua vez, esses inventos revolucionaram os transportes e as comunicações, fortalecendo a crença na capacidade da ciência e da sociedade industrial.

As potências mundiais se modernizam

Da mesma fórma que o uso do carvão e do ferro marcou a industrialização inglesa do século dezoito, o aço, o petróleo e a eletricidade se transformaram em símbolos da Segunda Revo­lução Industrial, que, ao contrário da primeira, se espalhou por vários países.

A economia da Alemanha, por exemplo, depois da unificação política concluída em 1871, teve um desenvolvimento extraordinário. O govêrno estimulou a indústria e a agricultura alemãs e as protegeu da concorrência externa. A extração de carvão e a produção de ferro bruto quadruplicaram em 30 anos. O ensino técnico nas escolas capacitava a mão de obra para o trabalho nas indústrias. Ao iniciar o século vinte, a economia alemã era a mais moderna e dinâmica de toda a Europa.

Já nos Estados Unidos, vemos que o salto na industrialização ocorreu após a Guerra de Secessão (1861-1865). As colônias do norte, industrializadas, impuseram seu projeto modernizador às colônias do sul. Havia disponibilidade de mão de obra, garantida pela imigração. A ocupação das terras do oeste incentivara o desenvolvimento dos transportes e das comunicações.

Por sua vez, o Japão iniciou sua modernização econômica e política na década de 1860, durante a Revolução meidjí. Uma reforma educacional visou erradicar o analfabetismo e qualificar a mão de obra. Assim, o Japão deu sua arrancada industrial: em 1910, tinha mais de 10 mil quilômetros de estradas de ferro, além de bancos, companhias de nave­gação e mineração e uma enorme produção têxtil.

Ilustração. À direita, uma listra vertical amarela com um friso dourado. No canto direito, em um forma oval dourada, um pequeno aparelho banco e cilíndrico; na parte inferior, uma placa amarela com o nome, originalmente em alemão: 'O telefone'. No centro e à direita, ocupando a maior parte da ilustração de orientação vertical, vista do interior de uma cabine, com uma mulher vista de lado diante de um aparelho telefônico antigo preso á uma parede cinza. Ela segura um fone ao lado de sua orelha, o fone cobre apenas sua orelha e está conectado ao equipamento na parede por um fio verde. Ela segura uma espécie de tábua de madeira cor de rosa com a mão direita, onde há uma folha de papel com textos ilegíveis.  De frente para ela, apoiados no chão, dois cilindros marrons, dos quais saem fios que os conectam ao aparelho que a mulher segura com as mãos. A mulher tem cabelos pretos presos em um coque, usa uma franja curta sobre a testa, e está usando um vestido branco e longo, de alças, e uma túnica cinza com estrelas douradas nas bordas amarrada em sua cintura. Usa uma bolsa pequena preta a tiracolo. Está descalça. Ao fundo, uma mesa de apoio cor de rosa e, através da parede envidraçada da cabine, uma paisagem campestre, com vegetação verde, morros e árvores. No alto, o céu em tons de cinza com nuvens e fios telefônicos pretos conectados à postes de madeira altos.
Ilustração, de cêrca de 1895, representando uma mulher utilizando um aparelho telefônico. Coleção particular.
Gravura. Em um local aberto, vista horizontal de uma rua, em primeiro plano, por onde passam pessoas, a maioria caminhando em direção a uma passagem com arco superior, em tons de azul, a entrada de um local protegido por muro de tijolos azuis que forma uma linha na horizontal. O muro, assim como a rua, percorre toda a imagem, da esquerda para a direita, separando a rua de um lugar fechado, com três grandes construções conectadas por um pavilhão horizontal.  Na rua, à esquerda, pessoas com capas vermelhas sentadas dentro de uma charrete conduzida por um homem vestido de branco e puxada por cavalos de cor cinza. À direita, homens, mulheres e criança na rua. Os homens vestem casacos em tons de verde, preto e outros em vermelho, com calças brancas ou pretas e sapatos escuros. As mulheres usam vestidos longos, (em tons de vermelho e amarelo). Ao fundo, do outro lado do muro, as construções têm telhado triangular de cor cinza escuro com linhas na diagonal. Sobre elas, há bandeiras hasteadas, da Áustria, dos Estados Unidos, da França e de outros países.  Ao fundo, depois das construções, vista do mar, com algumas embarcações navegando ao longe. No alto, à direita, um quadrado com bordas verdes com texto em caracteres japoneses. Acima, o céu azul claro e amarelo.
Mercado de iôcorrâma no período meidjí. 1870. Gravura, 37,2 por 76,3 centímetros. Instituto Smithsonian, Washington, Estados Unidos. O govêrno japonês contratou capitais estrangeiros para financiar seu desenvolvimento industrial.

Trabalho e vida nas cidades

Durante a Segunda Revolução Industrial, as novas fábricas expandiram sua capacidade de produção e diversificaram suas atividades, atraindo um fluxo crescente de trabalhadores para as cidades. Contudo, mesmo com todos os avanços tecnológicos aplicados à produção industrial, os operários continuavam trabalhando em condições precárias e sem proteção legal.

Era comum a presença de crianças nas atividades fabris, trabalhando até a exaustão em jornadas que podiam chegar a dezesseis horas diárias. Muitas começavam a trabalhar aos seis anos de idade e recebiam cêrca de um quarto do salário pago aos homens adultos.

Fotografia em preto e branco. Fotografia de orientação vertical. Vista de local fechado, escuro, com um grupo de meninos vistos de lado, segurando hastes de ferro na horizontal diante de um forno de tijolos. Eles trabalham com essas hastes em um ambiente com muita fumaça. Todos estão com blusas de mangas compridas, calças e gorros sobre as cabeças.  Ao fundo, outros meninos. Na parte inferior, sobre o chão, pedaços de madeira e de vidro estilhaçado espalhados no chão perto do forno.
Crianças trabalham em uma fábrica de vidros no estado da Virgínia, Estados Unidos. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos. Fotografia de 1908.
Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Geografia

Saúde.

Mutilações e deformidades físicas causadas pelo trabalho

Depoimentos de trabalhadores em fábricas no final do século dezenove e no início do vinte revelam que as mutilações provocadas por máquinas de córte eram frequentes. As deformidades físicas causadas pelo trabalho exaustivo na indústria também eram comuns. Muitos jovens, por realizarem ações repetitivas nas fábricas, apresentavam encurtamento dos membros, desvios graves na coluna, problemas de visão e ensurdecimento, entre outras deficiências.

  1. Pesquise na internet o número de trabalhadores que foram vítimas de acidentes de trabalho nos últimos anos no Brasil. Levante informações sobre as causas mais comuns dos acidentes de trabalho no país, o número de óbitos decorrentes deles e as medidas que estão sendo adotadas pelo govêrno para combater o problema.
  2. Faça uma pesquisa também sobre a relação entre doenças e mundo do trabalho, com foco na covíd-19. Que implicações essa doença trouxe para a saúde dos trabalhadores desde o início da pandemia, em 2020? Há legislações atuais que determinam garantias de cuidado com o trabalhador em caso de problemas decorrentes da covíd-19?

A pobreza nas grandes cidades

Em diversos países da Europa, o avanço da industrialização foi acompanhado por mudanças no campo: o regime de terras comunais foi chegando ao fim e a mecanização do cultivo avançou, processo que favoreceu os grandes proprietários rurais e uma nascente burguesia agrária. Esses grupos foram concentrando recursos que passaram a ser investidos na modernização capitalista.

A situação dos pequenos proprietários agrícolas se agravou com a primeira grande crise econômica do capitalismo, entre 1873 e 1896, que provocou a queda generalizada dos preços dos produtos. Expulsos da zona rural, milhões de camponeses e assalariados se dirigiram para as cidades em busca de trabalho nas fábricas e nos serviços.

O acelerado êxodo rural transformou a paisagem de muitas cidades europeias. Surgiram, nesse período, as vilas operárias, de condições bastante precárias, como destaca o texto.

reticências uma massa de casas de três a quatro andares, construídas sem planejamento, em ruas estreitas, sinuosas e sujas, abriga parte da população operária. Nas ruas reticências um mercado de legumes e frutas de má qualidade se espalha, reduzindo o espaço para os passantes. reticências Nas casas até os porões são usados como lugar de morar e em toda parte acumulam-se detritos e água suja.

ênguêl frederíc. Citado em: Breciani, Maria IstélaMartins. Londres e Paris no século dezenove: o espetáculo da pobreza. 7. edição São Paulo: Brasiliense, 2013. página 25.

Fotografia em preto e branco. Vista de um corredor estreito, com moradias em dois pavilhões, vistos parcialmente, à esquerda e à direita. No centro, no corredor formado pelos pavilhões com muitas portas uma ao lado da outra,  há crianças, homens e mulheres em meio a objetos e sacos grandes.  À esquerda, em primeiro plano, quatro meninos perto de um homem. Eles usam camisa clara e calça escura. À direita,  sacos grandes brancos, dois colchões e uma mulher sentada. Ela usa blusa de mangas compridas escuras e saia longa e avental branco. Ao fundo, muitas pessoas ocupando todo o fim da corredor.
Despejo dos moradores de uma vila operária da área central de Londres, na Inglaterra. Fotografia de 1901.

Inglaterra, século dezenove

No trecho a seguir, a historiadora Maria Istéla Brecianifala sobre o relato que um médico fez a respeito das habitações precárias na Inglaterra, no comêço do século dezenove.

O médico Doutor quêi expõe longamente, em 1832, que mesmo nos distritos recentemente urbanizados de Manchester reticências as casas sofriam de má drenagem, má ventilação reticências, e no bairro ruas estreitas não eram pavimentadas, e nelas buracos profundos serviam de receptáculos de lama, lixo e sujeira insuportável reticências. A média de vida em Manchester e na cidade portuária de Liverpool era de 26 anos, bem abaixo da expectativa de 41 anos para a Inglaterra e Gales reticências.

Breciani, Maria Istéla. A cidade e o urbano: experiências, sensibilidades, projetos. Urbana, volume 6, número 8, junho 2014. página 72.

Ícone. Sugestão de livro.

Breciani, Maria Istéla M. Londres e Paris no século dezenove: o espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 2013. O livro fala sobre o cotidiano, os problemas e as relações sociais nos bairros operários das cidades de Londres e de Paris durante o século dezenove.

A transformação dos centros urbanos

O avanço da industrialização, a modernização da agricultura e a expansão das áreas agrícolas em várias partes do mundo possibilitaram um grande crescimento populacional.

Nas principais capitais europeias, o acelerado processo de urbanizaçãoglossário levou ao surgimento das primeiras metrópoles. Cidades como Paris e Londres passaram a ter mais de 1 milhão de habitantes.

Parte dessa população, principalmente a classe trabalhadora mais pobre, foi deslocada do centro para as periferias das capitais, que se transformaram em bolsões de pobreza. Muitas metrópoles foram remodeladas, às vezes em prejuízo das construções históricas. Giórgi Eugêne Osmán, prefeito de Paris entre 1853 e 1870 executou seu projeto de reforma e revitalizaçãoglossário da cidade, que visava ampliar as possibilidades de circulação, dificultar a formação de barricadas operárias e, assim, facilitar a ação repressiva da polícia. As regiões centrais de cidades como Londres, Viena, Berlim, Nova York e Chicago também foram remodeladas no mesmo período.

Migração

A modernização na agricultura e a redução da oferta de empregos nas fábricas em razão da crescente inovação tecnológica provocaram o aumento do desemprêgo e da criminalidade nas cidades europeias. Assim, a migração foi a saída para muitos trabalhadores. Entre 1800 e 1930, cêrca de 45 milhões de pessoas de vários países da Europa se deslocaram para outros continentes em busca de uma vida melhor. A América foi o continente que mais recebeu imigrantes europeus.

Fotografia. Vista área de uma área urbana. No centro,  o arco do triunfo, uma construção grande, retangular, de cor bege, com uma passagem em forma de arco no centro. Em volta da construção, formando um círculo, árvores com copas de cor verde clara. A partir do centro desse círculo, parte doze ruas radiais, algumas delas, ladeadas por árvores com copas em tons de verde claro. Próximo ao Arco do Triunfo, os prédios são baixos, de cor bege, com telhados de cor cinza. As construções seguem até a linha do horizonte. No alto, o céu nublado.
A capital francesa, Paris, é uma construção do final do século dezenove. Uma de suas principais características é a presença de grandes avenidas ao redor do Arco do Triunfo. Grandes monumentos, parques e bulevaresglossário formaram a nova paisagem da maioria das capitais europeias a partir desse período. Fotografia de 2020.

A Belle Époque

As transformações científicas, tecnológicas e econômicas relacionadas à Segunda Revolução Industrial criaram um clima de otimismo e de exaltação do progresso. A ideia de uma prosperidade sem fim foi uma das principais marcas desse tempo, que posteriormente recebeu o nome de Belle Époque. Nesse período, a cultura francesa era a mais influente, tanto nas metrópoles europeias quanto em suas colônias, como hoje é a cultura estadunidense em muitos lugares do mundo. As roupas elegantes e a vida nos cafés viraram moda e tornaram-se símbolos dessa época de festa, de culto às aparências e de crença no futuro. Na arte, foi o período da Art Nouveau (Arte Nova), estilo marcado por construções e objetos de decoração muito ornamentados e com curvas sinuosas, baseadas nas fórmas de plantas e animais.

Inspiração para artistas

Com a industrialização, nasceu o fascínio pelas máquinas e por tudo aquilo que elas podiam fazer: fabricar produtos em série, possibilitar deslocamentos a grandes velocidades, conquistar os céus. Muitos artistas passaram a criar suas obras pensando nessas novas tecnologias.

O aparecimento das grandes metrópoles, que possibilitavam o convívio de pessoas de diferentes classes sociais em meio a um movimento caótico de carros e de luzes, também inspirava poetas e pintores.

O escritor estadunidense Edgar Álan Poue o poeta francês charles bôdelér, ambos do século dezenove, revelaram em suas obras as multidões, caracterizadas pelo movimento frenético de pessoas, que se cruzam sem se olhar, apressadas e indiferentes.

Pintura. Imagem de orientação vertical. Vista de uma rua, com edifícios ao fundo e à direita e um poste de iluminação pública com estrutura de metal preta e cinco lâmpadas, à esquerda.  No centro, caminhando, alguns de modo apressado, homens e mulheres vestidos com roupas elegantes e chapéus.  Em primeiro plano, à esquerda, uma mulher de cabelos castanhos cobertos por um chapéu arredondado preto, usando camisa branca, casaco azul marinho, uma rosa na lapela, saia cinza, longa e de pregas, com forro branco, meias azuis e sapatos pretos. Ela segura duas caixas de chapéus, uma branca e uma cor de vinho.  Ao fundo, à esquerda, um homem de chapéu cinza, casaco azul, calças pretas e sapatos pretos segura um cesto de palha grande, com uma alça em um dos seus braços. O conteúdo do cesto está coberto por um pano azul. Na outra mão ele segura um guarda-chuva fechado. À direita, visto de costas, um homem de cartola preta, casaco longo marrom, calças pretas e sapatos pretos, segurando um guarda-chuva fechado e caminhando com pressa para a frente. Em segundo plano, à direita, um prédio em construção com vigas de madeira, e lonas verdes e brancas cobrindo as vigas. Na parte inferior da construção, há muitos cartazes coloridos (em tons de azul, amarelo e branco, com faixas vermelhas).  No alto, à direita, vista parcial dos galhos finos de uma árvore de folhas verdes. Mais ao fundo, prédios baixos de cor bege com telhado cinza. No alto, o céu nublado com muitas nuvens.
BÉRAUD, Jan. Paris, Rue du Havre. cêrca de 1882. Óleo sobre tela, 35,2 por 27,3 centímetros. Galeria Nacional de Arte, Washington, Estados Unidos.

Ler a pintura

• Essa obra foi feita por Jan Berrô, pintor impressionista francês, conhecido por seus quadros retratando a cidade de Paris. Em sua opinião, que características das grandes metrópoles do século dezenove estão presentes nessa pintura?

Ícone. Sugestão de livro.

NEGREIROS, Carmem; OLIVEIRA, Fatima; GENS, Rosa (organizador). Belle Époque: a cidade e as experiências da modernidade. São Paulo: Relicário, 2019. A obra apresenta parte dos estudos desenvolvidos pelo grupo de pesquisadores do Laboratório de Estudos de Cultura e Literatura da Belle Époque (Labéle), sediado no Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (uérj).

A arte de vanguarda

Alguns artistas que viveram no período da industrialização desejavam criar uma arte que representasse o novo mundo urbano e tecnológico. Eles acreditavam que estavam à frente de um processo que modificaria a cultura como um todo. Por isso, foram chamados de vanguardistas.

Os artistas de vanguarda se orientavam por manifestos que definiam os princípios artísticos e políticos do grupo. Algumas dessas vanguardas ficaram muito conhecidas, com destaque para o Impressionismo e o Cubismo.

O Impressionismo

O movimento artístico conhecido como Impressionismo foi inaugurado pelo francês Clôd Monê, em 1872. O pintor fazia parte de uma geração de artistas que utilizava o jôgo de luzes e alterava as côres de acôrdo com a luminosidade presente no local retratado. Outros expoentes do Impressionismo foram artistas como Jan Berrô (abordado anteriormente), eduár manê, edigár degá e Pierre Auguste Renoar.

Os impressionistas romperam com a arte realista, transformando o modo como as obras eram produzidas (utilizavam geralmente ambientes externos) e a técnica empregada (pinceladas soltas e aparentes, de côres fortes e sem contornos definidos). Por meio dessas técnicas, queriam representar a impressão que tinham das fórmas e das côres, em detrimento da própria realidade.

Por não produzirem obras realistas clássicas, os impressionistas foram recebidos com desprêzo pela crítica de arte do período, que considerava suas obras inacabadas. No entanto, a influência do Impressionismo foi profunda e duradoura. Vários movimentos artísticos posteriores dialogaram com a arte impressionista, adotando-a como referência ou criticando-a.

Pintura. Em um lugar aberto, com muitas mulheres, homens e jovens, em grande praça urbana, à luz do dia. Os homens vestidos com chapéus de verão, feitos de palha bege com uma fita preta, casacos escuros, gravatas e camisas claras e as mulheres com os cabelos presos e vestidos longos de primavera, de mangas longas, cores claras, acinturados, de saias armadas. Em primeiro plano, à direita, um grupo de homens e mulheres jovens estão sentados diante de uma mesa sobre a qual há alguns copos, e conversam sorridentes. O efeito da luz, das cores e das sombras confere uma atmosfera alegre à cena. Os efeitos da luz e das sombras produzidas pela luz solar filtrada pelas folhas das árvores, foram reproduzidos pelo pintor, criando pequenos pontos iluminados e desenhos formados por sombras no chão claro e nas vestes dos personagens.  Em segundo plano, homens e mulheres dançam em pares, rodeados por pessoas que os observam.  No centro, um casal dança olhando para frente.  Ao fundo, algumas árvores com folhas em vede claro, postes de iluminação pública com luminárias redondas de cor branca e um quiosque com pessoas aglomeradas, conversando.
Renoar, Piérre-Oguíst. Baile no Moulin de La Galette. 1876. Óleo sobre tela, 1,31 por 1,75 métros Museu de Orsay, Paris, França.

Ler a pintura

• Nesta obra, Renoar representou uma cena de Paris do final do século dezenove. Quais elementos presentes na imagem caracterizam a sociedade retratada como a da Belle Époque?

O Cubismo

O movimento cubista se desenvolveu em Paris nas primeiras décadas do século vinte, liderado pelo pintor espanhol Pablo Picasso e pelo pintor e escultor francês Giórgi Bráque. O marco inaugural do movimento foi o ano de 1907, quando Pablo Picasso expôs o quadro Le Demueséle Davinhón.

Nessa obra, as mulheres foram representadas de modo muito diferente da realidade. Isso porque os cubistas não queriam imitar a realidade, mas interpretá-la, recriá-la e libertar sua imaginação. Esses artistas aproveitavam figuras geométricas, como o cilindro, o círculo e o cone, para recriar objetos, paisagens e corpos da realidade.

Outro detalhe importante da obra Les demoiselles d’Avignon está no rosto das mulheres, que parecem reproduções de máscaras africanas. Esse elemento revela a influência da arte africana na estética cubista. Os cubistas se inspiravam nas produções artísticas das sociedades tradicionais africanas, pois elas eram claramente distintas da visão de arte e de mundo da cultura ocidental, da qual os cubistas queriam se afastar.

Tal como ocorreu com o Impressionismo, o Cubismo foi rejeitado inicialmente pela crítica e pelo público. Depois, muitos artistas do período passaram a produzir obras cubistas. cêrca de uma década mais tarde, o pintor francês Fernán Legêtransformou o Cubismo ao inserir côres fortes e vibrantes na composição das obras, que pareciam mais desenhos do que pinturas, o que popularizou o movimento.

Pintura. Cinco mulheres nuas próximas uma da outra, com o corpo desenhado em formas geométricas, em tons de rosa. Elas tem olhos e cabelos castanhos. Uma, à esquerda, tem o cabelo longo, solto; no centro, uma mulher com o cabelo longo preso em um rabo de cavalo baixo; à direita dela, uma mulher com um coque; à direita, no alto, uma mulher com os cabelos longos, lisos, escuros e soltos, e, abaixo dela, uma mulher cujos cabelos não são visíveis. Quatro das mulheres, estão em pé, duas, no centro, com os braços para trás, flexionados atrás da cabeça; uma, à esquerda vista de lado, com o braço direito para cima apoiado na parede. Na ponta da direita, uma mulher está agachada. Ela tem o rosto vermelho com os traços azuis,  como uma máscara, com partes em azul escuro, olhos grandes e assimétricos, o nariz formando uma curva e uma sombra longa azul sobre o rosto. Acima dela, também à direita, uma das mulheres em pé tem o rosto alongado, como uma máscara, pintado com um fundo branco, e listras diagonais formando sombras verdes e vermelhas. Seu nariz é bastante longo e geométrico. Ao redor delas, também formando ângulos e formas geométricas,  partes em branco e vermelho com sombras em azul. Uma coluna de cor vermelha, dobrada como a ponta de um tecido ou papel, delimita o canto esquerdo da imagem.  Na parte inferior da pintura, formas geométricas em cinza, esferas pequenas em cinza claro, como bagas e uva, e duas frutas vermelhas com sombras brancas.
PICASSO, Pablo. Les demoiselles d’Avignon. 1907. Óleo sobre tela, 2,43 por 2,33 métros Museu de Arte Moderna de Nova York, Estados Unidos. Nesta obra, observa-se que Picasso se inspirou tanto nas fórmas geométricas trazidas pelas novas máquinas quanto naquelas produzidas pelas culturas africanas.
Fotografia. Uma máscara de madeira em marrom representando um rosto humano. O rosto tem um formato oval. A figura tem sobrancelhas arqueadas e unidas no centro da testa, na altura do topo do nariz; os olhos estão fechados, o nariz é reto, a boca tem o formato redondo e está entreaberta com a ponta da língua para fora. Ao redor da boca há um círculo formado por trios de riscos paralelos.  Sobre o topo da cabeça da figura, há uma espécie de coroa ou cocar feito de penas dispostas na vertical e esculpidas em madeira mais escura que a usada no rosto. A madeira usada no rosto tem um tom castanho avermelhado. A usada no cocar é marrom escura. À esquerda e à direita da figura, orelhas pequenas.
Máscara do povo baulê, da África Ocidental. Século dezenove. Madeira, 22,5 centímetros. de altura. Museu de Israel, Jerusalém, Israel. Para os artistas modernos, a arte popular e tradicional dos povos da África, da América, da Ásia e da Oceania era fonte de inspiração, um estímulo para novas criações estéticas.
O nascimento do cinema

Em 1890, o estadunidense tômas édiçone o escocês Uílham Dícsancriaram o cinetoscópio, aparelho que projetava em seu interior imagens encadeadas que, ao serem observadas por uma pessoa através de um orifício na máquina, pareciam estar em movimento. Cinco anos depois, os irmãos franceses Oguíste e Luí Limiérr apresentaram o cinematógrafo, invento que projetava imagens em uma tela. O princípio básico do cinema estava criado: imagens colocadas em sequência para serem projetadas.

Diferentemente de uma peça de teatro, em que os atores precisam estar presentes diante da plateia, o filme pode ser apresentado em diferentes locais, simultaneamente, por meio da projeção de suas cópias. Nenhuma outra fórma de arte representou tão bem o triunfo da técnica como o cinema.

Cena de filme em preto e branco. Em ambiente fechado, no alto, um cenário pintado que representa o céu noturno com nuvens e a lua cheia. Em primeiro plano, no centro, um grupo de mulheres uniformizadas de blusa branca com listras horizontais, camisa branca aberta com as pontas amarradas na cintura, shorts e botas brancas de cano alto. Elas usam chapéus e são vistas de frente, uma ao lado da outra, dispostas lateralmente, formando uma linha horizontal.  À direita, há um homem de barba escura, vestido de preto, com um casaco com botões metálicos e um boné. Visto de lado, segura no alto uma espada longa, que levanta com a mão direita.  À esquerda, um longo canhão, apontado na direção da Lua, pintada no cenário, no alto e em segundo plano.  Um homem vestido de branco, visto de costas, está sobre uma pequena escada e ergue uma longa haste na direção do disparador do canhão.
Cena do filme Viagem à Lua, de 1902, do cineasta francês Jórge Meliés – o primeiro a utilizar o cinema para contar uma história de ficção.

O sucesso do cinema

Desde a primeira exibição pública de um filme, ocorrida em 1895, até os dias atuais, o cinema não parou de incorporar inovações tecnológicas. A redução do tamanho e do pêso das câmeras, os truques fotográficos, a inserção do som e a possibilidade de cortar as tiras de celuloide e montá-las ao gôsto do diretor contribuíram para que o cinema desenvolvesse sua linguagem.

Em 1977, o cineasta estadunidense George Lucas inseriu um efeito de computação gráfica em uma cena do seu filme Guerra nas estrelas. Desde então, a indústria cinematográfica não para de evoluir em busca do aprimoramento dos efeitos digitais, cada vez mais realistas.

Cena de filme. Vista frontal  personagem Homem-Aranha. Cena noturna. No centro da cena, um homem vestido com a fantasia do personagem, de cor preta e linhas finas que imitam a teia de uma aranha. Na mão direita, há um fio de  luz dourada contornando o braço dele. Ao fundo, à esquerda e à direita, árvores de folhas verdes com reflexos de luzes em laranja, à direita.  Ao fundo, fios de energia e uma torre de transmissão de energia, de ferro, à direita. No alto, o céu noturno com uma luz branca no centro, como um curto-circuito.
Cena do filme Homem-Aranha: sem volta para casa, de 2021, na qual pode ser observado o uso de efeitos digitais.

Ler o texto

A literatura das multidões

Vários autores procuraram compreender as cidades em suas narrativas. Era por meio do texto, também, que escritores e leitores aprendiam a lidar com o fascínio e o mêdo que as metrópoles provocavam.

O escritor Charles díquens, por exemplo, elegeu as cidades inglesas como tema preferencial da sua literatura. Parte importante de sua obra trata de ambientes de trabalho degradados, das más condições de vida dos trabalhadores e de relações humanas desgastadas em decorrência das dificuldades cotidianas.

O poeta francês Charles Bôdelér também foi um observador sagaz das metrópoles; embora raramente descrevesse as cidades em seus textos, captou com precisão a melancolia, os temores e as angústias de seus moradores.

Talvez o mais notável narrador das novas cidades, porém, tenha sido o estadunidense Edgar Álan Pôu. Em um conto de 1841, “O homem na multidão”, Pôu constatou o surgimento da multidão e o sentimento de viver, ao mesmo tempo, solitário e cercado de gente.

Há não muito tempo, ao fim de uma tarde de outono, estava eu sentado ante a grande janela do café D... em Londres reticências espreitando a rua reticências. Era esta uma das artérias principais da cidade, e regorgitara de gente durante o dia todo. Mas, ao aproximar-se o anoitecer, a multidão engrossou e quando as lâmpadas se acenderam, duas densas e contínuas ondas de passantes desfilavam pela porta. Naquele momento particular do entardecer, eu nunca me encontrara em situação similar e, por isso, o mar tumultuoso de cabeças humanas enchia-me de uma emoção deliciosamente inédita. Desisti finalmente de prestar atenção ao que se passava dentro do hotel e absorvi-me na contemplação da cena exterior.

reticências

Muitos dos passantes tinham um aspecto prazerosamente comercial e pareciam pensar apenas em abrir caminho através da turba. Traziam as sobrancelhas vincadas, e seus olhos moviam-se rapidamente; quando davam algum encontrão em outro passante, não mostravam sinais de impaciência; recompunham-se e continuavam, apressados, seu caminho. Outros, formando numerosa classe, eram irrequietos nos movimentos; tinham o rosto enrubescido e resmungavam e gesticulavam consigo mesmos, como se se sentissem solitários em razão da própria densidade da multidão que os rodeava. Quando obstados em seu avanço, interrompiam subitamente o resmungo, mas redobravam a gesticulação e esperavam, com um sorriso vago e contrafeito, que as pessoas que os haviam detido passassem adiante. reticências

Pôu, Edgar Álan. O homem na multidão. In: Contos. São Paulo: Cultrix, 1986. página 131-132.

Fotografia em preto e branco. Retrato de um homem visto do pescoço para cima. Ele tem cabelos escuros, curtos,  ondulados e bagunçados, olhos claros arredondados, sobrancelhas e bigode escuros. Usa uma blusa de gola alta branca, com lenço escuro amarrado formando um laço no pescoço e casaco preto sobre a camisa.
Retrato de Edgar Álan pôuproduzido em 1849. Museu Jêi Pol Guéti, Los Angeles, Estados Unidos.

No mesmo ano, Pôu publicou “Os assassinatos da Rua Morgue”, conto que, segundo a maioria dos estudiosos, inaugurou a narrativa policial.

  1. No trecho do texto de Edgar Álan Pou que você acabou de ler, há uma menção a um invento importantíssimo no século dezenove. Que invento é esse?
  2. Identifique pelo menos três situações no texto de Edgar Álan Pou que podem mostrar que o autor está se referindo à vida agitada, fascinante e caótica de uma metrópole do século dezenove. Justifique suas escolhas.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. A saída dos operários da fábrica LumièreÊn   Lyon, filme realizado pelos irmãos Lumière em 1895, é um dos primeiros filmes da história do cinema. É, também, considerado o primeiro filme a ser exibido em público. Sua duração é de apenas cêrca de 45 segundos. No filme, uma câmera aponta para as portas da fábrica, localizada nos arredores de Lyon, na França. As portas se abrem e os operários saem da fábrica, no fim de um dia de trabalho.

No final do século dezenove, ver imagens em movimento era uma novidade tão grande que muitos cafés na cidade de Paris ficavam lotados de pessoas para prestigiar as exibições públicas do filme. O mesmo ocorreu em outras cidades, como Londres e Nova York.

Observe uma imagem do filme citado e, com base em seus conhecimentos, responda: por que os irmãos Lumière, em 1895, escolheram justamente esse tema (a saída dos operários após um dia de trabalho em uma fábrica) para fazer um filme? Explique, argumentando com elementos e informações vistos ao longo deste Capítulo.

Cena de filme em preto e branco. Vista de uma rua  com a porta de edificação ao fundo. Na rua, mulheres e homens por uma passagem de formato retangular por onde se vê, ao fundo, as vigas no interior da edificação, no alto em formato triangular, de madeira.  Em destaque, à frente do grupo, um homem sobre uma bicicleta, de terno, camisa  branca e chapéu claro sobre a cabeça.  Ao fundo, atrás jos homens e mulheres, um carro puxado por dois cavalos, um escuro e o outro branco. O carro é conduzido por um cocheiro, sentado em patamar mais elevado, usando um chapéu alto preto. À esquerda, perto da calçada, saindo de uma porta menor, também retangular, mulheres usando chapéus com flores, blusas de mangas compridas claras e saias longas. Na calçada, também há homens em pé, usando chapéu, casaco, calça e sapatos escuros.
Cena do filme A saída dos operários da fábrica Lumière em Lyon, produzido pelos irmãos Lumière, em 1895.

2. A eletricidade, um dos símbolos da Segunda Revolução Industrial, faz parte do nosso cotidiano.

Você sabe como a energia elétrica é produzida? Reflita sobre como seria sua vida se não existisse energia elétrica ou se um dia ela acabasse. Você viveria sem ela? Você conhece ou já ouviu falar de alguma comunidade nos dias de hoje que não utiliza energia elétrica? Discuta o assunto com os colegas e, em seguida, escreva suas reflexões em seu caderno.

Pintura. Vista de local aberto, à noite, em rua iluminada por um poste de iluminação elétrica pública. O centro da imagem está iluminado pela luz que emana do poste, as bordas, são escuras, em tons de azul marinho.  No centro da imagem, há uma mulher de chapéu e vestido longo de mangas compridas. Ela está segurando a mão de uma menina à sua esquerda. A menina usa chapéu vermelho e um vestido até os joelhos marrom e branco.  À esquerda, um local com escadaria pequena, um menino com a mão esquerda para frente, segurando um buquê de rosas vermelhas e, com a outra mão, um cesto com outras rosas. No alto da escadaria um letreiro de fundo branco com letras em preto e um nome não legível. Em segundo plano, próximo ao poste de luz há uma coluna elevada, em formato cilíndrico, com cartazes colados. Mais ao fundo, outras pessoas caminham. No alto, o céu noturno em azul escuro e galhos  iluminados de uma árvore com folhas pequenas à esquerda.
SALTZMANN, carl. Representação de primeiros postes elétricos em praça, em Berlim, na Alemanha. 1884. Óleo sobre tela, 58 por 73 centímetros. Museu da Comunicação, Frankfurt, Alemanha.

CAPÍTULO 14 O CAPITAL FINANCEIRO E A EXPANSÃO IMPERIALISTA NA ÁFRICA, NA ÍNDIA E NA CHINA

Nas últimas décadas do século dezenove, a economia capitalista se expandiu enormemente. As indústrias passaram a ser controladas por bancos e instituições financeiras. Com isso, elas se capitalizaram e puderam ampliar ainda mais seus negócios. Tomava fórma o capitalismo financeiro.

Para os empresários e donos de fábricas na Europa, a necessidade de novos mercados consumidores para seus produtos e de novas fontes de matérias-primas tornou-se mais urgente. Os países mais industrializados da Europa passaram então a buscar mercados consumidores para seus produtos em outras regiões do planeta, como África, China e Índia. Ao dominar novos territórios e transformá-los em colônias, as nações industrializadas formaram impérios. Como estudaremos neste Capítulo, a intensa industrialização entre as nações ricas da Europa e a expansão do capitalismo financeiro abriram caminho para o imperialismo.

Gravura. Vista de um local coberto por  tendas brancas, sob as quais há muitos homens sentados sobre cadeiras marrons, dispostas sobre tapetes coloridos e estampados sobrepostos. No canto inferior direito, algumas armas no chão, sobre um dos tapetes, como uma espingarda, espadas e facas.  Em destaque, no centro, sentado sob uma tenda, um homem de barba longa escura com tubante branco e com vestes longas brancas. À frente dele, um homem de roupa vermelha e turbante na cabeça estende mais um tapete sobre o chão. Sentado ao lado do homem de barba longa, há um homem loiro, vestido com calça e paletó azuis.  Ele traz uma faixa branca cruzada no torso.   Ao fundo, outros homens em pé fardados, com chapéus brancos sobre as cabeças, casacos vermelhos e detalhes em amarelo.  Ao fundo, sob a tenda, há muitos homens em pé, vestidos com turbantes e túnicas coloridas.
SIMPSON, Uilian. Representação da visita do vice-rei da Índia a um marajá indiano em 1860. 1867. Litografia. Biblioteca Britânica, Londres, Inglaterra. O contato dos europeus com as nações da África e do Oriente quase sempre se fazia com violência. Algumas poucas vezes, os países imperialistas utilizavam a diplomacia como caminho para a aproximação.

A era do capital financeiro

Até meados do século dezenove, os recursos que alimentavam a produção eram obtidos pela própria indústria. Essa fase é conhecida como a era do capitalismo industrial.

A partir dos anos 1870, as novas atividades econômicas exigiam grandes investimentos, que não podiam ser obtidos apenas com recursos individuais ou familiares. Os bancos e as instituições financeiras assumiram um papel central nesse período, financiando as produções industrial, agrícola e mineral. Controlavam, por meio da aquisição de ações, empresas de diferentes setores e atividades. Começava a era do capitalismo financeiro.

Desenho. Vista elevada de um local fechado, com teto de cor bege com vigas horizontais e janelas altas em forma de arco na parede lateral à esquerda.  Do lado direito, há maquinas de tear e produzir tecido. Próximas às máquinas, pessoas em pé. 
Um homem, à esquerda, está com as mãos para o alto, usando blusa de mangas compridas branca e manipulando os fios em uma máquina composta por quatro cilindros na horizontal, com fios brancos enrolados sobre eles. No chão, duas engrenagens redondas, grandes, em cinza escuro. 
À direita, à frente, dois homens de blusas de mangas compridas brancas e calças escuras, um visto de costas, à esquerda, e à direita, um visto de frente, carregando sobre sua cabeça um grande cesto arredondado marrom. 
No centro, no tero, lâmpadas brancas iluminando o local.
REGALT, Antonio. Representação de uma seção de fios em interior de fábrica em Madri, na Espanha. 1881. Desenho.

Nesse contexto, ocorreu uma grande concentração do capital nas mãos dos bancos e dos financiadores. Em decorrência dessa concentração, deflagrou-se a primeira grande crise do capitalismo, iniciada em 1873. Pequenas empresas faliram; e as mais fortes, visando combater a concorrência e aumentar os lucros, criaram fórmas de associação, como:

  • truste: associação de empresas de um mesmo ramo que se fundem com o objetivo de controlar os preços, a produção e o mercado;
  • cartel: agrupamento de empresas independentes que estabelecem acordos ocasionais com o propósito de dividir o mercado e combater os concorrentes;
  • holding: empresa que controla uma série de outras empresas, do mesmo ramo ou de setores diferentes, mediante a posse majoritária das ações dessas empresas.

As organizações empresariais dominavam o mercado formando oligopóliosglossário , em prejuízo das pequenas empresas e da livre concorrência. Esse processo deu origem às transnacionais, grandes corporações empresariais com filiais em diversos países.

Charge. Uma arquibancada à esquerda, em declive no sentido da direita para a esquerda da imagem. Nas cadeiras, muitos homens sentados, vistos de lado, com a atenção voltada para o lado esquerdo da sala. Eles escrevem em papéis dispostos sobre suas mesas e dialogam entre si de forma acalorada.  Esses personagens representam os senadores.  À direita, atrás de uma divisória de madeira marrom, mais ao fundo, dezenas de homens muitas vezes maiores que os outros, gigantes com brandes barrigas redondas. Eles usam cartolas grandes, camisas com gola alta branca tampando o pescoço deles e fraques pretos. À direita, um deles segura c uma bengala marrom. No canto direito da imagem há uma porta, por onde outros homens gigantes entram no salão. No alto da porta está escrito, em inglês: Entrada para monopolistas. Esses são os grandes empresários monopolistas que pressionam os senadores para aprovar leis que os favoreça. Na parte superior, parede em bege, com placas na horizontal com textos em preto.
Quépler, Dioséf. Os chefes do Senado. 1889. Ilustração. Publicada na revista estadunidense Puck. Sociedade Histórica de Nova York, Nova York, Estados Unidos.

Ler a charge

• Qual é a crítica feita nesta charge? Essa crítica, no seu ponto de vista, também é válida para os dias de hoje? Por quê?

A expansão imperialista na África

Até meados do século dezenove, a presença dos europeus no continente africano se limitava a algumas feitorias e colônias no litoral. No continente africano, como um todo, havia uma quantidade enorme de sociedades organizadas. Pequenos reinos, aldeias, grandes impérios, cidades, vilas e populações ruralizadas: a África apresentava sociedades e organizações políticas de todos os tipos, que coexistiam e se organizavam à sua maneira, formando um continente plural e diversificado.

Esse cenário mudaria no final do século dezenove, quando quase todo o continente africano (à exceção da Etiópia e da Libéria) passaria às mãos das potências europeias como parte do processo de expansão imperialista.

A definição das regras para a partilha da África entre as potências europeias aconteceu entre os anos 1884 e 1885, em Berlim, onde se reuniram representantes de Grã-Bretanha, Alemanha, França, Portugal, Bélgica e outros países.

Características da colonização na África

O domínio colonial dos países europeus sobre as populações locais africanas era, na maior parte dos casos, extremamente violento. Os colonizadores estabeleceram um sistema de confisco das terras férteis dos africanos e utilizaram a mão de obra nativa na agricultura, no extrativismo e na construção de obras que facilitassem o escoamento dos produtos até o litoral, para serem embarcados para a Europa.

De maneira geral, duas políticas coloniais foram aplicadas no continente africano: de assimilação e de diferenciação. A primeira, adotada pelos impérios português, francês e belga, baseava-se no ensino da língua da metrópole nas escolas das diversas localidades africanas, bem como da religião e da moral cristã e do modo de vida europeu, com o objetivo de criar, entre os nativos, uma elite de colaboradores locais. A política de diferenciação foi aplicada pelos impérios britânico e alemão, e, por meio dela, os colonizadores recorriam a lideranças locais para cuidar da administração colonial, aproveitando as disputas internas e as estruturas de poder que já existiam no continente africano. Essas lideranças se tornavam representantes dos colonizadores e defendiam seus interesses nas áreas dominadas.

Cartum. No centro, um globo terrestre com oceanos e continentes coloridos demarcados com os nomes: 'África, Europa e Ásia'. Entorno do globo, há três homens, que seguram grandes sacos de cor bege e tocam com suas mãos partes dos continentes. 
O homem à esquerda veste roupas típicas de militares do Império Alemão: capacete dourado com uma ponta em forma de lança sobre a cabeça, uniforme azul com gola vermelha e botas de cano longo pretas. No saco, que segura com uma das mãos, está escrito em inglês: 'Alemanha'.  Ele toca um território à direita da África. No centro, visto de costas, um homem com trajes civis britânicos: chapéu marrom e casaco marrom. No saco que ele carrega em suas costas, está escrito: 'britânico'. Ele segura o saco com as duas mãos, atrás de suas costas. 
À direita, um homem com roupa longa vermelha, uma coroa dourada sobre a cabeça e botas de cano alto pretas. Ele segura com uma das mãos um saco em que está escrito: Rússia. E toca um território na Ásia com a outra mão.
 No alto, o céu azul claro com nuvens.
nást, Tômas. Imperialismo. 1885. No cartum, Alemanha, Inglaterra e Rússia são retratadas como saqueadores das riquezas da África e da Ásia.
O império colonial britânico na África

A entrada formal da Grã-Bretanha no continente africano ocorreu em 1875 com a compra da parte egípcia do canal de Suez, enquanto a outra parte permaneceu propriedade da França.

O canal de Suez, inaugurado em 1869, tinha importância estratégica na região, pois ligava o mar Vermelho ao mar Mediterrâneo facilitando a navegação e o comércio entre a África, a Ásia e a Europa. Buscando assegurar seu domínio sobre o canal e afastar a presença da França, os ingleses estabeleceram, em 1883, um protetoradoglossário no Egito. Em seguida, conquistaram os territórios que viriam a ser o Sudão egípcio, a Rodésia, a Nigéria e a África Oriental Inglesa.

Nas terras que correspondem à atual África do Sul, os ingleses, interessados no ouro e nas pedras preciosas abundantes da região, empreenderam uma guerra contra os bôeres, descendentes de holandeses que haviam colonizado o território no século dezessete. Essa guerra teve início em 1899 e durou até 1902, quando a Grã-Bretanha, vitoriosa, anexou o território a seus domínios.

Gravura em preto e branco. Em local aberto,  com vegetação rasteira, há dois homens um ao lado do outro, à direita. 
À esquerda, um homem de bigode, cabelos escuros, com chapéu redondo escuro, casaco, calça, meias altas e par de sapatos escuros. Ele segura nas mãos uma folha grande, enrolada. 
À direita, um homem com capacete sobre a cabeça, casaco militar, calça, botas de cano alto pretas e as mãos atrás do corpo, segurando um bastão fino.
À esquerda, fincada na terra, uma placa de madeira com os dizeres, em inglês: 'África Oriental Alemã.  Invasores serão perseguidos'.
Mais ao fundo, morros e vegetação. No alto, céu com nuvens. 
Na parte inferior da gravura, o título, do Cabo ao Cairo e texto em inglês ilegível.
TENNIEL, Jonh. Representação do pedido de Cícil Rôdes, colonizador britânico, ao imperador alemão Guilherme segundo, para passar a ferrovia Cabo-Cairo por territórios alemães na África, 1899.

Corrida pelos recursos africanos

Quando falamos sobre imperialismo na África, geralmente pensamos na disputa pelos territórios e pela dominação colonial como um todo. Contudo, é importante levar em conta, também, a corrida pelos recursos minerais encontrados no continente africano. Vale lembrar, por exemplo, que na região sul do continente africano os ingleses passaram a explorar diamantes e ouro. Contudo, a exploração desses recursos passou a ser proibida aos povos africanos, o que mostra o impacto que a dominação imperialista causou às comunidades locais.

O subsolo de algumas possessões britânicas da África tropical era rico em vários recursos minerais reticências. Havia minas de ouro na Costa do Ouro, na Rodésia do Sul, em Tanganica e Serra Leoa. Os diamantes representavam importante produção industrial em Serra Leoa e na Costa do Ouro. Minas de cobre existiam apenas na Rodésia do Norte, e o minério de ferro era uma especialidade de Serra Leoa. Minas de carvão eram exploradas na Nigéria e na Rodésia do Sul, onde representavam importante fonte de energia.

reticências

A descoberta de jazidas minerais nesses países da África não foi obra do acaso, produzida após a chegada dos colonialistas europeus. Os minérios eram conhecidos e explorados desde muito antes da era colonial, e a descoberta de jazidas [pelos europeus] resultara de prospecção deliberada e específica.

KANIKI, Mártin H. Y. A economia colonial: as antigas zonas britânicas. In: boên, álbert Adu (edição). História geral da África, sete: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. edição Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 458; 460.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: O mundo se despedaça, de Chinua Achebe

 

[LOCUTOR 2]: O imperialismo europeu foi um processo violento e excludente em diversos aspectos. Impondo uma dominação cultural que silenciava a voz de africanos e de asiáticos, a literatura, até algumas décadas atrás, era composta quase que exclusivamente de obras produzidas por europeus, que descreviam os personagens africanos e asiáticos de forma pouco complexa e estereotipada.

 

Esse panorama começou a mudar com as lutas anticolonialistas ao longo do século XX. Além de almejarem a liberdade política e econômica, esses movimentos buscaram a independência cultural com relação à história e à imagem que os europeus tinham construído sobre esses povos. Escritores africanos ganharam projeção mundial ao contar sua vida sob o domínio europeu, rompendo o silêncio que há tanto tempo era imposto e podendo mostrar ao mundo a visão do outro lado, a dos povos colonizados, que foram protagonistas de suas histórias de resistência.

 

Chinua Achebe é um desses autores. Nascido na Nigéria em 1930, época em que o território vivia sob a dominação britânica, fazia parte do povo ibo, um dos maiores grupos étnicos africanos. Em sua obra O mundo se despedaça, ele conta a história do estabelecimento do imperialismo em Umuófia, uma comunidade ibo, e a trajetória de seu protagonista, Okonkwo.

 

No trecho a seguir, a narrativa mostra uma reunião dos líderes de Umuófia e o discurso de Okika, um dos líderes da comunidade.

 

[VINHETA]

 

[LOCUTOR 3]:

[...]

O primeiro a falar ao povo de Umuófia naquela manhã seria Okika, um dos seis homens que tinham sido presos. Okika era um grande homem e um bom orador. Mas não possuía o tom de voz tonitruante necessário a todo aquele que fala em primeiro lugar, para impor completo silêncio a uma assembleia do clã. Onyeka, sim, tinha o tom de voz certo, por isso pediram-lhe que dirigisse a saudação de praxe a Umuófia antes que Okika começasse a falar.

– Umuófia kwentu! – berrou ele, erguendo o braço esquerdo e empurrando o ar com a mão espalmada.

–Yaa! – rugiu o povo de Umuófia.

– Umuófia kwentu! – berrou ele novamente, e outra vez e mais outra, voltando o rosto cada uma das vezes para uma direção diferente. E a multidão respondia: – Yaa!

Depois, fez-se um silêncio imediato, como se houvessem jogado água fria numa chama crepitante. Okika pôs-se de pé num salto e também saudou os companheiros do clã quatro vezes. Em seguida, começou a falar:

– Todos vocês sabem por que estamos aqui, quando deveríamos estar construindo nossos celeiros ou consertando nossas cabanas, quando deveríamos estar pondo em ordem nossos compounds. Meu pai costumava me dizer: “Sempre que você vir um sapo saltando em plena luz do dia, é bom saber que algo ameaça a sua vida”. No momento em que vi todos vocês, de manhã cedinho, chegando em massa para esta reunião, vindos de todas as zonas em que reside nosso clã, percebi logo que alguma coisa ameaçava a vida de todos nós.

Fez uma pausa por alguns minutos, e recomeçou:

– Todos os nossos deuses estão chorando. Idemili está chorando, Agbala está chorando, e todos os demais.

Nossos pais mortos estão chorando por causa do vergonhoso sacrilégio que estão sofrendo e da abominação a que todos assistimos com nossos próprios olhos.

Interrompeu-se de novo, para firmar a voz trêmula.

– Esta é uma grande reunião. Nenhum outro clã pode se gabar de possuir maior número de gente ou maior coragem. Mas estaremos todos presentes aqui? Pergunto a vocês: todos os filhos de Umuófia estão aqui hoje?

Um longo murmúrio percorreu a multidão.

– A resposta é não – continuou Okika. – Nosso clã foi rachado e muitos membros tomaram caminhos diversos.

Nós, os que aqui estamos esta manhã, permanecemos fiéis a nossos antepassados, porém alguns de nossos irmãos desertaram, juntando-se a um forasteiro para enodar a terra de seus pais. Se lutarmos contra o forasteiro, teremos de combater esses nossos irmãos e talvez derramemos o sangue de membros do clã. Devemos, contudo, fazê-lo. Nossos pais jamais imaginaram, nem em sonhos, que algo semelhante pudesse acontecer, pois jamais mataram seus irmãos. Mas nunca houve um homem branco no meio deles. Por isso precisamos fazer o que nossos pais nunca fariam. Perguntaram a Eneke, o pássaro, por que ele estava sempre voando, e Eneke respondeu: “Os homens aprenderam a atirar sem errar o alvo e eu aprendi a voar sem pousar num galho”.

Precisamos erradicar este mal. E, se nossos irmãos ficarem do lado do mal, devemos erradicá-los também. E isso deve ser feito já. Precisamos baldear esta água agora, enquanto ela ainda só alcança o nosso tornozelo...

Nesse instante, houve uma súbita agitação na multidão, e todos os olhares se voltaram para o mesmo lado.

Havia uma curva muito pronunciada na estrada que ia da praça do mercado ao tribunal do homem branco e, depois, até o córrego. Por isso ninguém percebera a aproximação de cinco guardas até o momento em que contornaram a curva e chegaram ao pé da multidão. Okonkwo estava sentado bem perto deles.

Levantou-se num salto assim que os viu. Enfrentou o chefe dos guardas, trêmulo de ódio, incapaz de pronunciar uma só palavra. O homem era corajoso e não cedeu terreno, ali ficou, firme, com os quatro companheiros atrás dele.

Naquele breve instante, o mundo também pareceu ficar imóvel, à espera. O silêncio era absoluto. Os homens de Umuófia, mudos, confundiam-se com o cenário de gigantescas árvores e trepadeiras, e esperavam.

A magia foi quebrada pelo chefe dos guardas.

– Deixe-me passar – ordenou.

– O que é que você veio fazer aqui?

 – O homem branco, cujo poder vocês estão fartos de conhecer, ordenou que esta reunião fosse suspensa.

[...]

 

[LOCUTOR 1]: O trecho do livro O mundo se despedaça é de autoria de Chinua Achebe e foi publicado pela Companhia das Letras em 2009. A tradução é de Vera Queiroz da Costa e Silva.

Os franceses na África

Visando controlar a acirrada disputa entre os países participantes do Congresso de Berlim, no qual as principais potências europeias definiram as regras para a divisão do continente africano entre elas, ficou acordado que o princípio definidor da partilha seria o de áreas de influência. Isso significava que, uma vez estabelecida no litoral, a nação estrangeira teria o direito de ocupar a zona do interior.

Assim, a partir do estabelecimento de feitorias na costa africana, como Dacar, atual Senegal, a França estendeu seu domínio sobre uma área que ia do oceano Atlântico ao interior, acompanhando o curso do rio Níger e criando a África Ocidental Francesa. A esses domínios, somavam-se a África Equatorial Francesa (atual Gabão e parte do Congo) e as possessões no norte da África (Marrocos e Tunísia), além da Argélia, onde os franceses já estavam estabelecidos.

Entre os principais produtos procedentes do continente africano e explorados pelos franceses em suas possessões estavam a madeira, explorada no Gabão, e o amendoim, no atual Senegal. Para termos ideia, as exportações de amendoim do Senegal para os mercados europeus compunham 50% da receita da África Ocidental Francesa.

Ilustração. Vista de um local desértico, com chão de terra  marrom e pedras pequenas de cor cinza, dunas de cor bege ao fundo. À esquerda, em primeiro plano, montado sobre um camelo de cor bege, selado com um tecido com listras coloridas, um homem com lenço branco sobre cabeça e as costas, um manto preto sobre as costas, blusa branca, calças brancas, pés descalços sobre o dorso do camelo e um tecido vermelho sobre colo. Ele segura uma haste fina na diagonal.  Mais ao fundo, à direita, um automóvel conversível, com cinco homens passa em velocidade, levantando uma nuvem grande de poeira. Eles são observados pelo homem no camelo. No alto, o céu azul claro e nuvens em tons de bege.
Os efeitos da nova civilização em Trípoli. Ilustração da capa do jornal francês Le Petit Journal de 1911. De acôrdo com o pensamento racista e eurocêntrico da época, a colonização era vista como uma missão civilizadora.

A inserção da África na “economia-mundo”

Até o fim do século dezoito, a África estava inserida no comércio intercontinental de escravizados. Posteriormente, com a dominação imperialista, regiões do continente africano passaram a organizar produções para serem comercializadas e exportadas. Na África Ocidental, por exemplo, produtos como amendoim, óleo de palma e látex (para a produção de borracha) eram destinados aos mercados europeus, principalmente. No Egito, a produção de algodão se destinava às indústrias têxteis na Europa.

Contudo, a produção destinada à exportação para os mercados internacionais (especialmente europeus) alterava profundamente a estrutura produtiva nas diversas regiões africanas. As estruturas e os métodos africanos de produção tiveram de dar lugar a uma divisão do trabalho, semelhante à capitalista. Além disso, as nações europeias implantaram o trabalho forçado em várias de suas possessões na África.

Seguramente, alguns territórios [africanos] ofereciam ampla gama de produtos: algodão, café, cana-de-açúcar, sisal e milho em Angola, a que se podia acrescentar coco, amendoim e arroz em Moçambique; reticências banana na Guiné. Mas a exportação limitava-se ainda, de fórma quase exclusiva, aos minerais e às oleaginosas.

Coquerrí Vidrovít, Caterríne. A economia colonial das antigas zonas francesas, belgas e portuguesas (1914-1935). In: boên, álbert Adu (edição). História geral da África, sete: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. edição Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 434.

Portugueses, belgas e alemães

Portugal, que já possuía as antigas colônias de Angola e Moçambique, reclamou a soberania sobre um território mais amplo e obteve, além dessas, as terras que formaram a Guiné Portuguesa, na costa ocidental africana. Os portugueses, em suas possessões africanas, exploravam principalmente a cana-de-açúcar, o sisal, o algodão, o cacau e o látex. Esses produtos eram exportados para o mercado internacional, especialmente para a Europa. Contudo, foram muitos os casos de trabalhos forçados implantados pelo govêrno de Portugal nas colônias africanas:

Nas colônias portuguesas, estouravam escândalos periódicos, como aquele do trabalho forçado e escravo nas plantações de cacau de São Tomé e Príncipe no início do século vinte. Eram plantações que absorviam de 2 mil a 4 mil “recrutas voluntários” por ano.

Coquerrí Vidrovít, Caterríne. A economia colonial das antigas zonas francesas, belgas e portuguesas (1914-1935). In: boên, álbert Adu (edição). História Geral da África, sete: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. edição Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010.

Na região equatoriana, vizinha a Angola, grande parte da bacia do rio Congo converteu-se em uma espécie de propriedade particular do rei Leopoldo segundo, da Bélgica, um dos principais envolvidos no Congresso de Berlim e em seus resultados. A colonização belga na região do Congo caracterizou-se pela extrema violência contra os nativos e pelo saque das riquezas naturais da região, em especial o marfim e o látex. O marfim, obtido principalmente das presas dos elefantes, é uma substância sólida e branca. No passado, o marfim era um recurso muito utilizado, principalmente na Europa, para fazer pentes, cabos de talheres, teclas de piano, bolas de bilhar, joias, esculturas e outros objetos.

O Estado nacional alemão formou-se tardiamente, em 1871; por isso, o país entrou depois das outras potências na disputa colonial. Mesmo assim, a Alemanha participou da partilha do continente africano, conquistando territórios que deram origem às colônias do Togo e de Camarões, da África Oriental Alemã e da África do Sudoeste.

Fotografia. Um objeto redondo em tons de bege claro, feito de marfim, com relevo de formato de animais. Um, à direita,  similar a um dragão, com bigode fino e escamas, outro à esquerda, como um tigre, com presas na boca aberta, corpo coberto por listras e orelhas para trás. Mais acima e envolta deles há outros animais, em relevo, com os corpos formando um círculo.
Objeto japonês feito de marfim no século dezenove. Museu de Arte do Condado de Los Angeles, Los Angeles, Estados Unidos.
Gravura em preto e branco. Vista de local aberto, tendo em primeiro plano homens negros trabalhando; quatro sentados, no centro, um de frente para uma pilha de materiais, outro em frente a um barril. Mais ao fundo, uma pequena escadaria, com homens e mulheres à direita, com roupa clara, algumas carregando cestos sobre a cabeça. À direita, um poço com abertura circular, com  hastes de madeira, onde está atado um balde. À direita, uma pessoa de vestes longas claras com cesto sobre a cabeça.  Atrás, um muro. Em segundo plano, atrás do muro, em patamar mais elevado, outro local aberto com montes de grãos, com pedaços de madeira mais ao fundo e quatro pessoas em pé.  À direita, uma construção grande com telhado triangular, como um armazém. À esquerda, outra construção do mesmo tipo. Mais ao fundo, vista parcial de árvores.
TAYLOR, T. Local de processamento de amendoim, sementes de palma e borracha, na chamada Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), uma das áreas de domínio português na África. 1888. Gravura. Essa gravura foi produzida com base em uma fotografia.

Ler os mapas

A partilha da África

Você estudou que as principais potências europeias, reunidas no Congresso de Berlim, definiram as regras para a divisão do continente africano entre elas. Observe o mapa a seguir, que apresenta o continente africano em 1880. Faça no caderno as atividades propostas.

África (1880)

Mapa. África (1880). Mapa representando o continente africano. Alguns territórios estão destacados com cores distintas.
Na legenda, a cor laranja indica: 'Possessões britânicas (Grã Bretanha)'. Em 1880, os britânicos tinham possessões no extremo sul do continente: na Colônia do Cabo, em Natal, com territórios ao norte e ao sul do Rio Orange. Também tinham possessões na região da Costa do Ouro, em torno da cidade de Lagos, e na costa oeste do continente, em Serra Leoa e na Gâmbia.
A cor lilás indica: 'Possessões francesas (França)'. As possessões francesas em 1880 estavam situadas no norte da África, na região da Argélia, e  na costa oeste do continente, na região do Senegal e, mais ao sul, na região do Gabão. Os franceses também tinham possessões em Obok, na região do Estreito de Bab el Mandeb, no Mar Vermelho, na Ilha de Madagascar, em Grand-Bassam, na região da Costa do Ouro e em Kita e Bamako, no território que hoje compreende o Mali.  
A cor vermelha indica: 'Possessões espanholas (Espanha)'. As possessões espanholas estavam concentradas em Ceuta, na região do Estreito de Gibraltar, em Ifni, na regão que hoje corresponde ao litoral sul do Marrocos, nas Ilhas Canárias e de Fernando Pó.
A cor rosa indica: 'Possessões portuguesas (Portugal)'. As possessões portuguesas em 1880 incluíam a região da Guiné Portuguesa, na costa oeste da África, a região litorânea de Angola, no Golfo de Benguela,  e a costa de Moçambique, na costa leste do continente. Além das Ilhas da Madeira e de São Tomé. 
A cor verde indica 'Possessões turcas (Turquia)'. Os turcos concentravam domínios sobre uma vasta região do norte da África, a leste da Argélia, estendendo-se desde a região do Cabo Bon e das proximidades da cidade de Túnis, até a Península do Sinai e o litoral do Mar Vermelho, passando pela cidade de Trípoli e pelo Egito. 
A cor marrom indica 'Repúblicas bôeres independentes'. Localizadas no sul do continente, na  República Sul-Africana e no Estado Livre de Orange. 
Fora do mapa, uma seta verde conectadas às regiões do Egito, Senegal e Angola apresenta seguinte texto: 'Este mapa reproduz a visão dos europeus sobre a ocupação do continente africano em 1880. Ela se limitava a pequenas áreas, geralmente nas regiões costeiras'.
Fora do mapa, outra seta verde apontando para o interior do continente, onde não há marcações coloridas indicando possessões estrangeiras, há o seguinte texto: 'Observe que o restante do território não está ocupado, como se fosse um imenso vazio. A visão europeia do período, portanto, ignorou a presença humana já existente na África, bem como as formas internas de organização política no continente'.
No canto superior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 720 quilômetros.
  1. Nesse mapa, podemos verificar a pequena presença europeia no continente africano em 1880. Em que regiões da África os europeus estavam estabelecidos nesse período? Quais países europeus tinham esses domínios? Com base em seus conhecimentos, como você explicaria a ocupação europeia dessas terras?
  2. O mapa reproduz a visão que os europeus tinham da África em 1880. Que visão era essa? Como seria o mapa se fosse feito por povos que lá viviam?

Agora, observe o mapa a seguir. Ele mostra o continente africano em 1914.

África (1914)

Mapa. África (1914).  Mapa representando o continente africano. Todo o território está dividido e destacado com cores distintas. Na legenda, a  cor rosa indica: 'Territórios portugueses (Portugal)'.  Em 1914, os portugueses dominavam os territórios de Angola, Moçambique, Guiné Portuguesa, Cabinda, as Ilhas da Madeira e de São Tomé. Em Angola e Moçambique, as possessões portuguesas avançaram do litoral para o interior do continente.
A cor laranja indica: 'Territórios britânicos (Grã-Bretanha)'. Os territórios britânicos eram Gâmbia, Serra Leoa, Costa do Ouro, Nigéria, Egito, Sudão Anglo-egípcio, Somália Britânica, Uganda, África Oriental Britânica, Niassalândia, Rodésia do Norte, Rodésia do Sul, Bechuanalândia, Suazilândia, Basutolândia e União Sul-Africana.
A cor amarela indica, 'Territórios belgas (Bélgica)'.  Os belgas controlavam Togo, na região do Golfo de Benin  e o Congo Belga, no centro do continente africano.
A cor roxa indica: 'Territórios franceses (França)'. Os franceses tinham controle sobre o Marrocos, a Argélia, a Tunísia, a África Ocidental Francesa, a África Equatorial Francesa, a Somália Francesa , a Ilha de Madagascar e as Ilhas Comores. 
A cor bege indica: 'Estado independente ainda não integrado ao Sudão Anglo-Egípcio'. O território de Darfur, entre a África Equatorial Francesa e o Sudão Anglo-Egípcio, era um estado independente ainda não integrado ao Sudão anglo-egípcio.
A cor marrom indica: 'Territórios alemães (Alemanha)'. Os territórios alemães eram Camarões, África Oriental Alemã e o Sudoeste africano.
A cor vermelha indica: 'Territórios espanhóis (Espanha)'. Os espanhóis controlavam o Marrocos Espanhol, na região do estreito de Gibraltar, o Rio de Oro, a Guiné espanhola e as Ilhas Canárias e de Fernando Pó. 
A cor verde indica: 'Territórios italianos (Itália)'. Os italianos controlavam a Líbia (destacando-se a cidade de Trípoli), a Eritreia e a Somália. 
A cor lilás indica: 'Estados independentes'. Etiópia e Libéria eram estados independentes. 
A cor vinho indica: 'Área cedida à Alemanha pela França em 1911'.Um território entre Camarões e a África Equatorial Francesa foi cedido aos alemães pela França. 
Fora do mapa, uma seta verde conectada ao título do mapa apresenta o texto: 'Verifique como todo o território do continente foi demarcado. As fronteiras que separam cada domínio colonial foram estabelecidas pelos europeus com base na presença que cada país já tinha naquela área ou de acordo com sua força politica e econômica'.
Fora do mapa, uma seta verde conectada aos territórios do Marrocos e da África Ocidental Francesa apresenta o texto: 'Observe que os países europeus não só preservaram suas possessões litorâneas na África como também expandiram esses domínios em relação ao cenários de 1880'.
Fora do mapa, uma seta verde conectada à Somália, África Oriental Alemã e ao Congo Belga apresenta o texto: 'Note que novos países europeus se estabeleceram no continente e garantiram seu quinhão na partilha'.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 715 quilômetros.

Mapas elaborados com base em dados obtidos em: boên, álbert Adu (edição). História Geral da África, sete: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. edição Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 2; 50.

  1. Compare as áreas de ocupação europeia representadas nos mapas África (1880) e África (1914), apresentados anteriormente. Que mudanças ocorreram entre um e outro momento? Que novos países aparecem no mapa de 1914? Há algum que desaparece? Qual?
  2. Observe a evolução da ocupação europeia na África entre 1880 e 1914, e avalie o impacto da partilha do continente na vida dos diversos povos africanos.
A resistência africana à dominação imperialista

A expansão europeia na África a partir do Congresso de Berlim criou, no continente, duas realidades que se chocavam: de um lado, o poder tecnológico e militar das potências industrializadas indicava que a vitória delas era certa; de outro, a reação dos povos africanos revelava que eles estavam determinados a resistir. Com o tempo, essas duas tendências se confirmaram.

Até a década de 1970, a resistência dos povos africanos à colonização era um assunto pouco investigado pelos historiadores. Desde os últimos anos do século vinte, contudo, a análise de novos documentos tem mostrado que ações de resistência ocorreram em praticamente todas as terras subjugadas pelos europeus. Ao contrário do que afirmavam os defensores do colonialismo, os africanos não viam os europeus como libertadores ou como a porta de entrada para a modernidade e a civilização.

Povos tradicionalmente rivais chegaram a se aproximar com o intuito de unir fôrças para derrotar o conquistador. É o que mostra esta mensagem, endereçada em 1904 por Samuel Marrerrerro, líder da resistência do povo herero glossário aos colonizadores alemães, a um antigo inimigo:

Meu desejo é que nós, nações fracas, nos levantemos contra os alemães reticências. Que a África inteira combata os alemães, e antes morrer juntos que em consequência de sevíciasglossário , de prisões ou de qualquer outra maneira.

Marrerrerro, Samuel. Citado em: RANGER, Terence O. Iniciativas e resistências africanas em face da partilha e da conquista. In: boên, álbert Adu (edição). História geral da África, sete: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. edição Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 57.

Muitos movimentos de resistência foram rapidamente derrotados pelos conquistadores. Outros, como na região dos atuais Egito, Somália e Sudão, além de expressar forte capacidade de organização, se prolongaram por vários anos. Algumas ações de resistência conseguiram deter, ainda que temporariamente, o avanço das nações industrializadas no continente e impor pesadas derrotas aos europeus.

Ilustração. Vista de local aberto, com destaque para cena de combate com dezenas de homens lutando.  À esquerda, na parte baixa de um terreno em declive, um grupo de guerreiros negros, uns com o peito nu e vestes vermelhas da cintura para baixo e outros com blusas azuis  ou bege. Eles carregam lanças e alguns levam escudos nas mãos.  No centro, na parte inferior da imagem,  um homem negro com chapéu branco sobre a cabeça, está com a mão esquerda para cima segurando uma espada para o alto. À frente, um homem negro com saiote branco, está com o corpo inclinado para trás, segurando uma espécie de porrete na mão direita e, com a outra mão, segura a lança de um soldado branco à frente dele.  À direita, na parte mais elevada do terreno, sobre rochas de cor cinza, soldados brancos com chapéus, blusas de mangas compridas, calças e  botas de cor marrom. Eles estão armados com armas de fogo de cano longo e as apontam para a esquerda. Ao fundo, à direita, no alto de uma colina rochosa um homem branco de uniforme marrom observa o restante do território com uma luneta.  No alto, o céu azul claro com nuvens brancas.
Batalha entre o povo herero e soldados alemães, em 1904. Ilustração publicada no jornal francês Le Petit Journal em fevereiro de 1904. Biblioteca Nacional da França, Paris, França.

A Rebelião Ashanti

Uma das revóltas mais significativas contra o domínio britânico ocorreu na então Costa do Ouro, atual Gana, entre 1890 e 1900: a chamada Rebelião Ashanti.

A cultura do povo Ashanti baseava-se em uma longa tradição de nações guerreiras, altamente disciplinadas e militarizadas, e em uma história de mulheres orgulhosas e respeitadas. Os tambores, objeto importante da tradição guerreira dos Ashanti, eram usados para a comunicação a grandes distâncias. O império dos Ashanti, entre os séculos dezoito e dezenove, se estendia desde a Gana central até os atuais Togo e Costa do Marfim.

A rebelião explodiu quando autoridades britânicas, seguindo a estratégia do imperialismo de “dividir para dominar”, depuseram um grande número de chefes tradicionais, medida que violou a cultura dos Ashanti. Em seguida, os britânicos nomearam outros líderes locais e instituíram o pagamento de uma indenização pelas revóltas anteriores. Por fim, o govêrnobritânico exigiu que seus representantes se sentassem no Tamborete de Ouro, uma espécie de trono destinado aos líderes sagrados ashantis.

A combinação dessas medidas levou o povo Ashanti a enfrentar os ingleses em sangrentas batalhas, que culminaram, em 1900, com a prisão e a deportação da líder Iá Assentauá, rainha de Edeweso, e de vários generais ashantis. Mesmo diante da resistência africana, no final do século dezenove, o poder das potências europeias no continente já era uma realidade.

Gravura. Vista de local aberto, com destaque para cena de combate em primeiro plano. No centro da imagem, um grupo de soldados brancos avança, da esquerda para a direita. Eles estão vestidos com uniformes com casacos vermelhos, calças brancas e quepes altos de cor preta. Esse grupo usa armas longas com baionetas e sabres com lâminas curvada. Eles ocupam a maior parte da cena, e atacam um grupo de soldados negros, com roupas coloridas, à direita. Há soldados negros deitados no chão, mortos ou feridos, e muitos outros fogem do exército de homens brancos de casacos vermelhos, que avança. Eles seguem na direção de uma montanha grande que ocupa o ultimo plano da paisagem rural.  Em segundo plano, muita fumaça branca e a bandeira do Reino Unido (à esquerda). Mais ao fundo, à direita, morros cobertos de verde; à esquerda, uma fortaleza. No alto, o céu azul e nuvens brancas.
Dáitan, Dênis. Representação da derrota dos Ashanti pelo exército britânico, comandado pelo coronel Sáderlend, em 11 de julho de 1824. 1825. Gravura. Museu do Exército Nacional, Londres, Inglaterra.

Ler a gravura

• A obra retrata a guerra sob o ponto de vista dos Ashanti ou dos britânicos? A que público a obra se destinaria? Justifique suas respostas.

Ícone. Sugestão de livro.

Méredif, Mártin. O destino da África: cinco mil anos de riquezas, ganância e desafios. Rio de Janeiro: zarrár, 2017. O livro traz um panorama sobre a história da África, da Antiguidade até os dias de hoje, mostrando importantes personagens da história do continente.

A guerra entre o Império Britânico e a nação zulu

A região do Transvaal, na atual África do Sul, foi invadida e colonizada pelos bôeres, descendentes de holandeses, que penetraram no território dos zulus, ocuparam fazendas, apossaram-se do gado e passaram a viver em conflito com os nativos. Em 1877, os britânicos anexaram essa região, apoiando os bôeres, e em 11 de janeiro de 1879, cêrca de 15 mil soldados britânicos invadiram o território zulu, mas foram derrotados pelo exército do rei Csetsuáiou, na batalha de Içanduana. O exército britânico voltou à batalha em 4 de julho e venceu a guerra. A nação zulu foi então dividida, e o poder ficou disperso entre inúmeras famílias, o que enfraqueceu a resistência.

Depois de algumas lutas isoladas entre zulus e ingleses, o território sucumbiu definitivamente à colonização britânica em 1884.

Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a seção Em debate.

Em debate

A resistência organizada pelos povos africanos

Diversos estudos buscam identificar como se deu a resistência dos povos africanos à dominação europeia no período do imperialismo. Leia o trecho a seguir.

reticências a conquista da África não foi tarefa simples nem rápida. Muitas vezes, os europeus sofreram reveses. Como na batalha de Içanduana, por exemplo, reticências quando cêrca de 25 mil zulus do rei Csetsuáiou derrotaram as tropas britânicas reticências. O exército zulu era disciplinadíssimo, uma verdadeira máquina de guerra, e, apesar da inferioridade em armas reticências, venceu novamente os britânicos em Rorke’s Drift, Eshowe e Lubâne, antes de cair em Ulundi, em julho daquele ano.

reticências E mesmo quando não logravam vitórias espetaculares reticências, os africanos faziam os europeus pagarem caro pelo atrevimento das conquistas. Em vários lugares, estas só se efetivaram após repetidas e frustradas tentativas. A uma vitória sucedia uma derrota, seguida por uma nova vitória e uma outra derrota. Em certas regiões, a conquista só se completou após vários anos de repetidos combates. reticências

E já no dia seguinte à captura ou submissão de um rei africano, sucediam-se os atos de desobediência e se começava a preparar as revóltas. Cito algumas: as dos andebeles e chônas, em 1896 e 1897, no que é hoje a República do Zimbábue; a dos timenés de Bai Buré, na Serra Leoa, em 1898; o movimento Maji Maji, na atual Tanzânia, em 1905 e 1906; o grande levantamento zulu, em 1906; as rebeliões, em 1915 e 1916, dos baribas do oeste da Nigéria e do leste da atual República do Benim, contra os ingleses e contra os franceses, que haviam dividido entre si os territórios que àqueles pertenciam.

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008. página103-107.

  1. O texto afirma que a conquista europeia da África “não foi tarefa simples nem rápida”. Por quê?
  2. Em sua opinião, conhecer a resistência organizada pelos povos africanos diante da dominação europeia, no período do imperialismo, promove uma visão mais positiva a respeito da história da África? Por quê?

O domínio imperialista na Índia e na China

Em meados do século dezoito, muitos principados indianos estavam submetidos à administração da Companhia das Índias Orientais Britânicas. Essa empresa conseguiu introduzir, com êxito, os tecidos ingleses de algodão na Índia e afetou a produção artesanal indiana. Isso porque os tecidos industrializados ingleses eram vendidos a preços mais baixos. Em consequência, muitas tecelagens indianas faliram e antigos centros têxteis, como a cidade de Dacca, sofreram forte queda populacional.

No século dezenove, quase toda a Índia já era controlada pela companhia, que restringiu a autonomia das lideranças locais e instituiu a cobrança de altos impostos. As políticas estabelecidas pela companhia britânica desestabilizaram muitas sociedades tradicionais e causaram o empobrecimento da maior parte da população local.

A companhia britânica tinha seu próprio exército na região, constituído basicamente por indianos, chamados de sipaios. Em 1857, os britânicos passaram a utilizar gordura animal para impermeabilizar suas munições. Como essa prática era inaceitável tanto para indianos hindus quanto para indianos muçulmanos (por utilizar gordura de animais considerados sagrados para eles), os soldados se amotinaram. Esse fato, aliado às crises de abastecimento e à fome, levou à eclosão da revólta dos Sipaios, ocorrida entre 1857 e 1858.

Para reprimir a rebelião, o Parlamento inglês dissolveu a companhia, e a Coroa britânica assumiu o comando da Índia. Em seguida, os britânicos conquistaram a Birmânia e a Malásia.

Pintura. Dois homens sentados em pequenos bancos de madeira sobre o chão, de cor marrom,  trabalhando em uma máquina feita de madeira,  com montes de algodão espalhados pelo chão.  À esquerda, sentado sobre um banco pequeno de madeira, um homem com turbante quadriculado em bege e vermelho sobre a cabeça, vestido com de blusa de mangas compridas e calças, ambos de cor  bege. Ele segura uma haste na horizontal de madeira com uma ponta redonda branca.  À direita, um homem sentado visto de costas, sentado de frente para a máquina. Ele estende a mão direita para frente, segurando uma manivela da máquina. Usa trajes semelhantes aos do homem à esquerda: turbante quadriculado em bege e vermelho sobre a cabeça e blusa de mangas compridas e calças bege.  Sobre o chão, ao redor dele e da máquina, flocos de algodão branco.  Ao fundo, uma parede cuja metade inferior é revestida com azulejos de cor bege. A  parte superior da parede é branca.
Representação de artesãos indianos descaroçando algodão. 1873. Aquarela sobre papel, 21,6 por 20,3 centímetros. Biblioteca Britânica, Londres, Inglaterra.
A expansão imperialista na China

A China era uma região de grande interesse para as potências imperialistas, uma vez que sua enorme população representava um importante mercado consumidor. Além disso, era um país com enorme extensão territorial, detentor de muitas matérias-primas. Tratava-se também de um lugar onde podiam ser investidos capitais na indústria e nos transportes. Porém, o govêrno chinês era muito centralizador, o que colocava inúmeros obstáculos à invasão estrangeira.

Apesar de não exercer o domínio político sobre a China, a Companhia das Índias Orientais Britânicas comercializava em território chinês. Um dos principais produtos comercializados era o ópioglossário . Estima-se que, em 1836, mais de 12 milhões de chineses consumiam ópio regularmente, o que representava um grave problema para as autoridades.

O vício destruiu indivíduos e famílias, e muitos camponeses deixaram de cultivar alimentos para plantar papoulas. Além disso, a comercialização do produto causou um grave problema financeiro para a China. Os chineses pagavam a mercadoria com moedas de prata, o que levou à fuga do metal precioso do país.

Na primeira metade do século dezenove, o govêrno chinês tentou impedir a comercialização de ópio na China. Diante disso, para assegurar seu negócio com os chineses, a Grã-Bretanha iniciou a Guerra do Ópio (1839-1842). Incapaz de derrotar o inimigo, a China rendeu-se e assinou, em agosto de 1842, o Tratado de Nanjing, que estabelecia a abertura de alguns portos chineses ao comércio com a Grã-Bretanha e transferia a ilha de Róng Kóng ao domínio britânico.

Entre 1879 e 1905, a China foi invadida por britânicos, franceses, estadunidenses, russos, alemães e japoneses, que, além de se instalarem no país, obtiveram alguns direitos de comércio.

Charge. Sobre um fundo azul, cinco pessoas sentadas em torno de uma mesa e uma pessoa em pé, ao fundo, com as mãos espalmadas. No centro da mesa, um círculo grande, de cor bege, com fatias recortadas como uma pizza, onde está escrito, em francês: 'CHINA'. 
Ao redor da mesa, há cinco pessoas representando seus respectivos países. Da esquerda para à direita: uma mulher idosa com cabelos brancos, véu branco cobrindo os cabelos, usando pulseiras douradas, anéis, colares e coroa na mesma cor, segurando uma faca na mão direita, apontada para cima. Ela representa a Rainha Vitória da Inglaterra e dirige um olhar tenso para o homem à direita dela. De bigode espesso cobrindo os lábios, esse homem usa um capacete preto com detalhes dourados e uma lança dourada na parte superior da cabeça. Veste um uniforme militar azul com colarinho vermelho e luvas brancas.  Representa William Segundo e o Império Alemão. Ele segura uma faca com as duas mãos,  fincada no centro do círculo sobre a mesa. 
À direita dele, um homem examina atentamente o círculo sobre a mesa. Ele é loiro, usa barba longa, tem um bigode de pontas finas e usa um chapéu branco sem abas sobre a cabeça. Está vestido com um uniforme militar verde de colarinho vermelho,  usa um par de luvas brancas e tem uma faca na mão direita. Representa Nicolas Segundo e o Império Russo.
Atrás dele, uma mulher de cabelos loiros presos em um coque, com um barrete frígio vermelho sobre a cabeça, vestida com uma roupa de gola com listras vermelhas e brancas, está com uma mão sobre o ombro do homem de traje verde. Ela representa Marianne e a nação francesa. 
Na ponta da direita, um homem de cabelos pretos preso em um coque pequeno, de quimono vermelho com as bordas brancas, com a mão direita sobre o queixo, pensativo. Ele representa o Império Japonês. 
Atrás de todos eles, no centro, ao fundo, de pé, há um homem com olhos saltados, espantado, rugas de preocupação na testa e sobrancelhas levantadas. Ele está com os braços erguidos para cima, as palmas para frente, como quem faz um gesto pedindo aos demais que parem. Ele tem os cabelos longos presos em uma trança fina atrás de suas costas, barba e barbicha grisalha, chapéu largo preto decorado com uma pena longa de pavão sobre a cabeça, veste uma túnica vermelha e uma blusa de mangas compridas amarelas, tem unhas grandes e afiadas e usa colares de contas vermelhas em volta do pescoço. Esse personagem representa a China.
China: o bolo dos reis... e dos imperadores. 1898. Charge publicada no jornal Le Petit Journal em 16 de janeiro de 1898. Biblioteca Nacional da França, Paris, França. A obra representa os interesses das potências europeias na China. Da esquerda para a direita, temos representações dos seguintes monarcas ou governantes: Vitória (Inglaterra), Uilian segundo (Alemanha), Nicolás segundo (Rússia) e o imperador do Japão, pertencente à dinastia meidjí. Estudiosos consideram que a moça, ao fundo da obra, é marriâne, uma representação da França.
Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Multiculturalismo

Os samurais e a aproximação do Japão ao Ocidente

Os samurais surgiram no Japão por volta do século oito, mas só se tornaram importantes a partir dos séculos onze e doze. Nesse período, as disputas entre famílias aristocráticas levaram à instauração do xogunato, em que o poder, de tipo feudal, era exercido pelos xoguns, comandantes militares locais. Eles se cercavam de uma casta de guerreiros leais, os samurais, que se encarregavam de proteger seus senhores e cobrar tributos dos camponeses. Em troca recebiam rendimentos da terra.

Os samurais obedeciam a um código de ética chamado buxido, que pregava honra e absoluta lealdade ao senhor. Se alguma regra fosse quebrada, o samurai deveria se suicidar praticando o araquirí.

A partir dos anos 1860, a abertura do Japão ao Ocidente afetou a vida dos samurais. O jovem imperador meidjí passou a negociar com as economias capitalistas do Ocidente, como a Europa e os Estados Unidos. O novo govêrno proibiu as tradições samurais e promoveu a destruição dos castelos e a desapropriação dos antigos senhores feudais. Ao perder seu principal meio de sustento, muitos samurais se exilaram na ilha de rocáido.

Isolados e marginalizados pelo processo de modernização, muitos resolveram resistir e passaram a se organizar em guerrilhas contra as tropas do govêrno, armadas pelos ocidentais. Durante anos, seguiram-se batalhas terríveis e grandes massacres. Até que, em 1877, os últimos samurais rebeldes, cercados por 30 mil soldados imperiais, se entregaram ao sacrifício, empunhando suas espadas, como determinava a tradição do buxido.

  1. Quem eram os samurais e que funções eles tinham na sociedade japonesa?
  2. O que era o buxido?
  3. Explique por que o poder do xogunato se assemelha ao sistema feudal europeu.
Gravura. Sobre o fundo de uma parede azul, no centro, um homem vestido de samurai em local fechado com piso de tábuas verticais de cor amarela. Ele tem cabelos pretos presos em um coque, usa um lenço azul sobre a cabeça, olha para à direita, tem lábios finos entreabertos. Usa uma blusa de mangas curtas azul, com estampas em laranja, amarelo e marrom, aberta, com o peito nu. Na cintura, usa uma faixa vermelha e dourada e um saiote em vermelho com franjas longas amarelas. Ele usa nos pés um par de chinelos amarelos com cordões com bolas de cor bege. Na cintura, uma espada com bainha vermelha e dourada e cabo azul e dourado. Ele segura na mão esquerda um par de chinelos amarelos.  No alto, vista parcial de galhos marrons de cerejeiras, com flores de pétalas pequenas em cor de rosa. Na ponta inferior esquerda e na parte superior à direita, textos escritos com caracteres japoneses.
Kunisada, Utagáua. Guerreiro samurai sob flores de cerejeira. 1860. Xilogravura colorizada. Coleção particular.

A resistência chinesa

Nas décadas finais do século dezenove, a população camponesa da China havia empobrecido muito e o aumento do banditismo preocupava as autoridades. Além disso, missionários alemães, com o apôio de comunidades cristianizadas, empreenderam violentas ações contra os não cristãos, o que motivou um forte sentimento antimissionário entre muitos chineses.

Assim, muitos chineses passaram a organizar sociedades secretas para defender seus interesses políticos e econômicos, combater a ação dos bandidos e expulsar os estrangeiros do país. Uma das mais importantes, a Sociedade dos Punhos Harmoniosos e Justiceiros, combinava duas tradições dos camponeses chineses: o boxe chinês e o xamanismoglossário .

Os boxers, como ficaram conhecidos os membros dessa sociedade, ocuparam parte da cidade de Pequim em junho de 1900, incendiando diversas áreas e isolando as representações diplomáticas estrangeiras. Dias depois, o govêrno chinês, sob comando da imperatriz Cicsí, que apoiava a revólta, declarou guerra às potências imperialistas. Grã-Bretanha, França, Japão, Rússia, Alemanha e Estados Unidos organizaram uma ação conjunta para combater a rebelião, invadindo Pequim.

Apenas em 1901, um acôrdo de paz foi assinado. Derrotados, os boxers foram perseguidos e várias autoridades chinesas foram fuziladas.

Ilustração. Vista de local aberto, com destaque para cena de batalha. Em primeiro plano, no canto inferior esquerdo da imagem, um grupo de soldados, vistos de costas, com casacas vermelhas, calças e chapéus  brancos, segurando na mão baionetas e outros atirando para frente. Um deles carrega a bandeira do Reino Unido, com uma cruz e um 'x' vermelhos com fundo branco sobre um fundo azul.  À direita, também em primeiro plano, dezenas de soldados vistos de lado, correndo. Eles usam quepes redondos brancos com uma listra amarela, blusas de mangas compridas e calças brancas, e seguram baionetas junto aos seus corpos. Um deles carrega uma bandeira branca com uma listra na horizontal vermelha no centro.  Em segundo plano, voltados na direção dos dois grupos que avançam, outros soldados com quepes vermelhos, casacas e calças azuis,  armados e com bandeiras vermelhas. Entre eles, nuvens brancas com fumaça de pequenas explosões.  Atrás desses soldados, uma construção oriental, com telhado cinza em formato triangular e curvado e paredes de cor vermelha. Há muita fumaça e sinais de explosão em frente às edificação. À direita, sobre uma construção, chamas alaranjadas e fumaça preta. No alto, o céu azul sem nuvens.
A ilustração representa a Guerra dos Boxers em frente ao castelo imperial em Pequim, na China. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos.

Após a Guerra dos Boxers

Depois da derrota dos bóquissers, as nações imperialistas ocidentais exigiram uma indenização de 333 milhões de dólares da China, a ser paga em quarenta anos, com juros altíssimos. Além disso, para garantir sua integridade territorial, a China foi forçada a fazer inúmeras concessões econômicas às potências do Ocidente.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. A expansão imperialista do século dezenove foi motivada por alguns fatores principais que se interligavam. Identifique-os e explique como cada um deles motivou essa expansão.
  2. Com base em seus conhecimentos e nas informações deste Capítulo, estabeleça semelhanças entre a revólta dos Sipaios e a Guerra do Ópio.
  3. O texto e a imagem a seguir tratam da região do Congo, colonizada pelo govêrno belga. Sob orientação do professor, reúnam-se em grupos. Leiam o texto, observem a imagem e realizem as atividades.

[Leopoldo segundo] conseguiu inventar o “Estado Independente do Congo”, abrangendo uma área imensa da bacia do rio Congo que, na verdade, não passou de um imenso território para sua exploração comercial exclusiva reticências. Protegido pelo manto sagrado da missão altruísta e civilizadora de reticências levar a luz da civilização europeia às trevas da barbárie africana, Leopoldo segundo estendeu seu domínio na região. reticências o ambicionado marfim reticências fluiu primeiro como um riacho, depois como uma torrente caudalosa para a Europa e outros mercados consumidores enriquecendo os exploradores e comerciantes do produto, transformando Leopoldo segundo numa das pessoas mais ricas da última década do século dezenove.

A borracha já era conhecida e utilizada em pequena escala desde o comêço [do século dezenove], mas foi com a invenção do pneumático pelo veterinário irlandês Charles Danlóp que o produto conquistou a condição de matéria-prima de alto valor reticências. A região do rio Congo se transformou em grande fornecedora de borracha de exploração natural, a maior, na virada do século, antes da exploração de plantas cultivadas. E a companhia do “Rei do Congo”, Leopoldo segundo, sua grande beneficiária.

PACIORNIK, Celso M. Posfácio. Cônrad, Dioséf. O coração das trevas, seguido de O cúmplice secreto. São Paulo: Iluminuras, 2007. página 174.

Gravura em preto e branco. Sobre um fundo amarelado, no centro, um homem negro de cabelos curtos luta contra uma grande serpente enrolada em seu corpo. No lugar da cabeça da serpente está uma cabeça humana, a cabeça de um homem branco de barba comprida branca, com uma coroa, um nariz pontudo e  uma boca aberta, o rei Leopoldo Segundo da Bélgica.  Mais ao fundo, local com vegetação à esquerda.  À direita, uma mulher negra segurando um bebê no colo olha assustada para a cena principal e faz menção de fugir. Ao fundo, em segundo plano, residência com telhado de palha. No alto, o céu e pássaros sobrevoando à esquerda.
Nas bobinas de borracha, ilustração publicada na revista Punch em 28 de novembro de 1906. Coleção particular. Na legenda, lê-se: “Nas bobinas de borracha. Cena: O Estado ‘Independente’ do Congo”.
  1. Façam uma breve pesquisa em livros e na internet sobre o “Estado Independente do Congo”. Anotem suas descobertas.
  2. Segundo o texto, além da borracha, que outra riqueza natural era explorada pelos belgas na região da bacia do rio Congo?
  3. Com base no texto, expliquem de que maneira a exploração da borracha pode ser relacionada com o contexto da expansão da indústria no século dezenove.
  4. Ao observar a ilustração, respondam:
    • O que a imagem pode nos dizer a respeito do cotidiano dos trabalhadores explorados no Congo sob domínio do rei Leopoldo segundo?
    • De quem seria a “cabeça” representada na serpente de borracha que envolve o trabalhador?
Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Ciência e Tecnologia

Quais são as relações entre o imperialismo e o empobrecimento da África atual?

O imperialismo deixou muitas marcas no continente e nas sociedades africanas. Em uma perspectiva histórica, é possível considerar que a África da atualidade, de modo geral, é um continente empobrecido, em grande parte por causa da intensa exploração imperialista empreendida pelas potências europeias ao longo de décadas.

Quais são as relações entre o empobrecimento da África atual e o imperialismo? De que fórma o imperialismo atrapalhou, bloqueou ou mesmo impediu o desenvolvimento africano?

Para começar a elaborar hipóteses que expliquem esse processo, leia o texto a seguir:

Com efeito, nos tempos pré-coloniais [portanto, antes do imperialismo], a ciência e a técnica africanas respondiam às necessidades da vida, especialmente nos domínios da saúde, da agricultura, da veterinária e dos processos industriais, tais como a conservação dos alimentos, a metalurgia, a fermentação, a fabricação de corantes, de sabões, de cosméticos e outros artigos de higiene pessoal. Como a África teria se tornado tão atrasada no plano científico e técnico?

reticências

O atraso científico e técnico da África atual é o resultado do impacto exercido pelo Ocidente sobre o continente, sobretudo a partir da colonização. reticências Em lugar de estimular e desenvolver as práticas científicas e técnicas existentes, eles [os europeus] dedicaram-se a desacreditar e desencorajá-las, sem contudo deixarem de apropriar-se, secretamente, de algumas das suas ideias para desenvolvê-las no âmbito da ciência ocidental. Por exemplo, os princípios de inoculação, metalurgia, fermentação, bem como todas as outras capacidades passíveis de estabelecerem concorrência com as indústrias ocidentais, foram negados, decretados ilegais e perseguidos de diversas fórmas.

reticências

No século vinte, o progresso científico africano foi retardado, em parte, porque aos africanos foi-lhes imposto esquecerem que, outrora, eles próprios haviam sido criadores científicos. reticências

Mas rúi, Ali A. êti áli. Tendências da filosofia e da ciência na África. In: Mas rúi, Ali A. (edição). História geral da África oito: África desde 1935. 2. edição Brasília, Distrito Federal: unêsco, 2010. página 769-771.

1. Você já sabe que a divisão do continente africano entre as potências europeias, no impe­rialismo, é, por si só, um fator importante para entendermos o empobrecimento atual da África. Afinal, as fronteiras estabelecidas não respeitavam a organização dos povos que já viviam no continente, provocando, até mesmo, conflitos entre eles. Com base nos conhe­cimentos de História adquiridos nesta Unidade, identifique outras práticas do imperialis­mo que podem explicar o empobrecimento atual da África.

2. Segundo o texto que você acabou de ler, que conhecimentos técnico-cien­tíficos os povos africanos dominavam antes do imperialismo? E o que ocorreu com es­ses conhecimentos com a exploração colonial e imperialista? Será que esse processo também pode se relacionar com o empobrecimento do continente africano?

A expansão da técnica e da ciência é parte importante do desenvolvimento de um povo. A falta de incentivos nessas áreas e o impedimento de sua prática, ao longo de décadas de imperialismo, estão entre as causas do empobrecimento dos povos africanos.

Felizmente, hoje, passado muito tempo desde a independência das nações africanas, há iniciativas que tentam promover seu desenvolvimento tecnológico e científico. Pouco a pouco, vislumbra-se o desenvolvimento, nesses países, das áreas de ciência e tecnologia. Veja dois exemplos nas reportagens a seguir.

Produção de energia sobe 60% numa década na Costa do Marfim

As autoridades da Costa do Marfim informaram que o país registou um aumento na capacidade de produção de eletricidade na ordem de 60%, numa década, chegando aos .2229 megawatts, antes da pandemia da covíd-19, em virtude de investimentos feitos no setor energético.

O grande impulso foi dado em 2017, quando entrou em funcionamento a barragem hidroelétrica de Soubré reticências.

Com a estratégia de multiplicação da capacidade de produção de eletricidade, as autoridades do país africano pretendem tornar a Costa do Marfim “um gigante energético da África”.

MUHONGO, Orlando. Produção de energia sobe 60% numa década na Costa do Marfim. Expansão, 13 fevereiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/6B2nFZ. Acesso em: 24 fevereiro 2022.

covíd-19: Seis países africanos recebem tecnologia para produzir vacinas

Egito, Quênia, Nigéria, Senegal, África do Sul e Tunísia são os primeiros seis países que receberão a tecnologia necessária para produzirem vacinas ême érre êne a no continente, anunciou a Organização Mundial da Saúde (ó ême ésse).

reticências

O centro de transferência de tecnologia ême érre êne a da ó ême ésse faz parte de um esfôrço maior que visa capacitar os países de baixo e médio rendimento a produzir as suas próprias vacinas, medicamentos e diagnósticos para enfrentar emergências de saúde e alcançar uma cobertura de saúde universal.

covíd-19: seis países africanos recebem tecnologia para produzir vacinas. dê dábliu, 18 fevereiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/6QMYdS. Acesso em: 24 fevereiro 2022.

  1. Na internet, é possível encontrar exemplos de inovações desenvolvidas em países africanos na área da ciência e da tecnologia. Faça uma pesquisa e encontre pelo menos mais um desses trabalhos. Compartilhe sua descoberta com seu professor e os colegas.
  2. Agora, com base em tudo o que você leu nesta seção, escreva em seu caderno uma dissertação com o seguinte tema: “O empobrecimento da África atual: relação com o imperialismo e algumas soluções”.

Glossário

Urbanização
Em sentido amplo, processo de dotar uma cidade de serviços e recursos para seu funcionamento; em Geografia, é o processo de formação e crescimento das cidades.
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Revitalização
Revigoração; renovação.
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Bulevar
Via de trânsito com calçadas e pistas largas, geralmente arborizada e com cuidadoso tratamento urbanístico.
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Oligopólio 
contrôle da maior parte do mercado por poucas empresas.
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Protetorado
Território ou país que tem certos atributos de um Estado independente, mas que, nas questões essenciais, está subordinado à autoridade de uma potência estrangeira.
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Herero
Povo que habitava a região das atuais Namíbia e Botsuana, no sudoeste da África, apossadas pela Alemanha no século dezenove.
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Sevícia
Maus-tratos; tortura.
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Ópio
Produto extraído da papoula, planta cultivada na Ásia. Ele tem ação anestésica e narcótica e é utilizado para a produção de drogas como a heroína, que leva facilmente à dependência e pode causar a morte.
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Xamanismo
Conjunto de rituais e práticas mágicas conduzido pelo xamã, pessoa escolhida pela comunidade para exercer a função sacerdotal.
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