UNIDADE um REVOLUÇÕES NA INGLATERRA
Você estudará nesta Unidade:
As revoluções inglesas
O pioneirismo inglês na Revolução Industrial
As mudanças sociais decorrentes da industrialização
Os impactos da Revolução Industrial no mundo
Respostas e comentários
Apresentação
A primeira Unidade deste volume, “Revoluções na Inglaterra”, relaciona-se à seguinte Unidade Temática da Bê êne cê cê do 8º ano: O mundo contemporâneo: o Antigo Regime em crise.
Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1 e número7, a Unidade estimula os estudantes a valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva e a argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista reticências que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global reticências ponto
Os conteúdos trabalhados na Unidade também buscam levar os estudantes a desenvolver as seguintes Competências Específicas do Componente Curricular História: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (1) e Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes populações (5).
A monarquia parlamentar foi instituída na Inglaterra no final do século dezessete, após a Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa. Com isso, o poder do monarca foi limitado pelo Parlamento e a influência política da burguesia sobre o govêrno se ampliou. Os burgueses ganharam mais liberdade para expandir suas atividades econômicas e esse cenário criou condições para que a Revolução Industrial ocorresse na Inglaterra.
Você sabia que a monarquia parlamentar ainda é a fórma de govêrno na Inglaterra? Quais são o papel da rainha e o do primeiro‑ministro em uma monarquia parlamentar?
Respostas e comentários
Nesta Unidade
Esta Unidade aborda as revoluções que ocorreram na Inglaterra no século , que foram fundamentais para o processo de consolidação do liberalismo, do capitalismo e da sociedade contemporânea. A Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa convulsionaram a sociedade inglesa no século dezessete , transformaram a estrutura do Estado absolutista e iniciaram um longo processo histórico, impulsionando a industrialização, que posteriormente se alastrou por diversos países, e também o avanço do capitalismo no mundo. A superação do absolutismo representou a incorporação da burguesia no dezessete jôgo político, fator que foi essencial para a industrialização da Inglaterra no século . As relações de trabalho, o comércio, o consumo, o modo de viver e de produzir foram profundamente alterados após a industrialização e a difusão do capitalismo. dezoito
A Revolução Industrial não transformou somente as relações de trabalho, mas também as relações sociais e a relação do ser humano com a natureza. O trabalhador passou a produzir o máximo possível em menos tempo e o meio ambiente passou a ser considerado uma fonte inesgotável de riquezas. O tempo deixou de ser orientado pela natureza para ser dominado pelo relógio e pelo ritmo da produção. Em pouco tempo, as fábricas inglesas passaram a abrigar centenas de trabalhadores. Nesse cenário se confrontariam os dois principais grupos da sociedade industrial: o proletariado, classe social que vende sua fôrça de trabalho em troca de um salário, e a burguesia, a classe proprietária dos meios de produção.
Objetos de conhecimento trabalhados na Unidade
• As revoluções inglesas e os princípios do liberalismo.
• Revolução Industrial e seus impactos na produção e circulação de povos, produtos e culturas.
CAPÍTULO 1 AS REVOLUÇÕES POLÍTICAS
Entre os séculos dezesseis e dezessete, a Inglaterra se afirmava como uma grande potência política e econômica mundial. Diversos fatores contribuíram para o desenvolvimento da economia inglesa, entre eles a expansão do comércio marítimo e da indústria naval, a conquista de territórios e a concentração de riquezas. Esses fatores foram responsáveis por impulsionar o pioneirismo industrial inglês, que acelerou o ritmo de produção e ampliou o comércio. Houve ainda, nesse período, o aumento da produção de carvão mineral, que possibilitou o fornecimento de combustível para as indústrias nascentes.
No plano político também ocorreram mudanças importantes na Inglaterra. As estruturas remanescentes da velha ordem feudal foram derrubadas por movimentos revolucionários, que instauraram um novo regime de poder. As relações entre a população e a monarquia inglesa começaram a se alterar profundamente, criando um ambiente propício para outras fórmas de organização da sociedade.
Esse conjunto de transformações favoreceu o fortalecimento econômico e político inglês, com o acúmulo de capitais, que puderam ser investidos no desenvolvimento industrial, e com a nova configuração das bases de poder do Estado, que possibilitou estruturar o que ficou conhecido como sistema capitalista.
Respostas e comentários
Sobre o Capítulo
A crise do absolutismo na Inglaterra e o questionamento do poder absoluto dos monarcas pela burguesia, classe social que emergia e que reivindicava mais participação política, estiveram na base das Revoluções Inglesas do século dezessete, temas deste Capítulo. Os Estados Modernos centralizados, fundamentados no poder divino dos reis, foram abalados pela nova estrutura política pautada na atuação do Parlamento inglês, que limitava a atuação dos monarcas. A monarquia parlamentar instituída nesse momento é a fórma de govêrno vigente até os dias de hoje na Inglaterra.
Retome com os estudantes algumas informações sobre a consolidação da monarquia inglesa. No século treze, nobres ingleses forçaram a Coroa inglesa a assinar a Magna Carta, documento que, entre outras atribuições, limitava os poderes dos reis. No século catorze instituiu-se o Parlamento, que aprovava ou não as decisões reais. O Parlamento foi dividido em duas casas: a Câmara dos Lordes, formada pelos representantes do alto clero e os nobres, e a Câmara dos Comuns, composta de proprietários de terra e da burguesia urbana. Nenhuma lei poderia ser aprovada sem a aceitação das duas casas.
O fortalecimento do poder monárquico na Inglaterra ocorreu no século quinze, após a Guerra das Duas Rosas (1455‑1485), um intenso conflito entre famílias pela posse da Coroa. A guerra enfraqueceu a nobreza, desequilibrou o reino e despertou o anseio dos seus habitantes de compor um govêrno forte, que acabasse com a insegurança política.
Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo
ê éfe zero oito agá ih zero dois: Identificar as particularidades político-sociais da Inglaterra do século dezessete e analisar os desdobramentos posteriores à Revolução Gloriosa.
Observação
Os conteúdos desta página possibilitam um trabalho inicial com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.
Os monarcas absolutistas
O governante mais emblemático do absolutismo inglês foi o rei Henrique oitavo, que rompeu com a Igreja católica e fundou a Igreja anglicana. Ele fazia parte da dinastia túdor, cujos monarcas governaram a Inglaterra entre 1485 e 1603.
Após se tornar chefe supremo da Igreja da Inglaterra, em 1534, Henrique oitavo confiscou as terras e os bens da Igreja católica. As terras confiscadas foram doadas ou vendidas, resultando no aumento dos recursos financeiros da Coroa e, ao mesmo tempo, da quantidade de terras disponíveis para a agricultura e para a criação de animais. A maioria dos novos proprietários dessas terras era composta de membros da pequena nobreza (conhecida como gentry), que pretendiam ampliar a produção agrícola e a criação de ovelhas, responsável por fornecer lã para a fabricação de tecidos. Com o aumento da produtividade, foi possível ampliar os mercados consumidores internos e externos.
Foi durante o govêrno de Elizabeth primeira, filha de Henrique oitavo, que os ingleses conquistaram importantes colônias ultramarinas na América e na África, das quais obtinham, respectivamente, algodão e azeite. A conquista de novos territórios possibilitou a ampliação do mercado consumidor dos produtos ingleses. Com isso, as colônias nesses continentes se tornaram os principais consumidores dos produtos manufaturados ingleses, sobretudo tecidos. Além disso, as embarcações inglesas intermediavam parte do tráfico de escravizados que ligava o continente africano às colônias americanas, gerando grandes lucros para os comerciantes britânicos.
Respostas e comentários
Orientações
O período da dinastia túdor assistiu a certo equilíbrio entre os interesses do Parlamento e a monarquia inglesa. O govêrno de Elizabeth um, por exemplo, ficou conhecido como “absolutismo disfarçado”.
Elizabeth primeira procurou desenvolver o comércio e a indústria naval. Ao enfrentar e derrotar a Invencível Armada espanhola, em 1588, a soberana preparou a Inglaterra para se tornar a maior potência marítima do mundo. A expansão marítima inglesa favoreceu a grande burguesia, que acumulou fortunas com a exploração comercial e a pirataria. A ascensão e o enriquecimento da burguesia também estão associados à concessão de monopólios comerciais nesse período, que lhes garantia o direito exclusivo de fabricar ou comercializar determinados produtos.
Durante o reinado de Elizabeth primeira houve um intenso desenvolvimento do teatro inglês. O famoso dramaturgo Uilian Xêiquispíer, que escreveu as peças Romeu e Julieta, Hamlet, Otélo, Sonho de uma Noite de Verão, entre outras, viveu e produziu suas obras nesse contexto histórico. Nesse período, criou-se ainda um ambiente de relativa paz entre protestantes e católicos e a Coroa e o Parlamento. Foi uma época favorável à economia inglesa, o que também estimulou as expressões culturais.
Observação
Ao longo de todo o Capítulo, será possível conduzir o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois com os estudantes. Sugerimos explorar com eles, inicialmente, as particularidades político-sociais da Inglaterra do século dezessete.
A Revolução Puritana
Com o fim do reinado de Elizabeth primeira, que não havia deixado herdeiros, o trono foi entregue a Jaime primeiro, da dinastia Stuart, que governava a Escócia. Nesse período, os conflitos entre a monarquia e os grupos sociais que emergiam econômica e politicamente se intensificaram. Esses grupos emergentes eram formados pela burguesia e pela pequena nobreza, que ganhavam importância com a ampliação das relações comerciais e dos mercados consumidores dos produtos ingleses.
Com a expansão do comércio inglês, os preços subiam e a burguesia prosperava rapidamente; no entanto, os rendimentos da Coroa e da alta nobreza mantinham-se estagnados. Para ampliar os recursos do Estado, Jaime primeiro iniciou a cobrança de impostos sem a autorização do Parlamentoglossário e incentivou uma série de perseguições a católicos e calvinistas com o intuito de fortalecer a Igreja anglicana, da qual era o chefe supremo.
Essa política mostrou-se desastrosa: o Parlamento posicionou-se contra o govêrno do rei e a intolerância religiosa desagradou principalmente aos burgueses e às camadas mais baixas da sociedade. Mais tarde, Carlos primeiro, filho de Jaime primeiro, deu prosseguimento à política do pai. Assim, a oposição à política do rei se organizou e se expandiu.
Os membros do Parlamento passaram a exigir mudanças na sociedade, no Estado e nas leis. Contudo, Carlos primeiro se recusou a atender a essas reivindicações e, em 1642, iniciou-se uma guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Puritana. Durante a guerra, a população inglesa dividiu-se em dois grupos opostos:
- Realistas: grupo formado por cavaleiros que apoiavam o rei. Eram grandes proprietários de terras e altos membros da Igreja anglicana.
- Parlamentares: grupo que comandou a guerra contra o rei. Estava dividido em duas facções, a dos puritanosglossário (integrantes da pequena nobreza, burgueses e camponeses, favoráveis à fórma republicana de govêrno e conhecidos como cabeças-redondasglossário ) e a dos presbiterianos (membros da aristocracia e da grande burguesia mercantil, adeptos da monarquia constitucional).
Respostas e comentários
Orientações
Em geral, a burguesia emergente na Inglaterra era composta de seguidores do calvinismo (puritanos e presbiterianos), que não tinham os benefícios dos monopólios reais concedidos aos anglicanos e às companhias de comércio protegidas pela Coroa. Descontente, essa camada passou a reivindicar um govêrno menos autoritário e que interviesse menos na economia.
Avalie a necessidade de retomar com os estudantes alguns conteúdos já estudados no 7º ano sobre Reforma protestante e sobre a colonização da América inglesa. Os primeiros colonos ingleses que foram para a América no início do século dezessete para iniciar a ocupação e a colonização do território de fórma independente da Coroa eram puritanos que fugiam das perseguições religiosas. Por isso, é interessante relacionar o contexto estudado na Inglaterra com o processo de colonização na América inglesa.
Destaque ainda que um dos conflitos deflagrados durante o reinado de Jaime primeiro foi a chamada Conspiração da Pólvora, que ocorreu em 1605, planejada por um grupo de católicos descontentes com os privilégios dos anglicanos. O movimento tinha como objetivo provocar a morte do rei explodindo barris de pólvora escondidos embaixo do Parlamento. A conspiração, no entanto, foi descoberta e todos os envolvidos foram mortos. Ao mesmo tempo, havia uma enorme camada de ex-camponeses sem trabalho e sem terra promovendo agitações e revoltas. A situação no campo após os cercamentos das terras coletivas será abordada neste capítulo no tópico “Mudanças na Inglaterra”.
Sugestão para o estudante:
ELIZABETH, a era do ouro. Direção: Shekhar Kapur. Inglaterra, 2008. Duração: 114 minutos.
O reinado da rainha Elizabeth primeira é o centro da trama do filme, que narra o seu govêrno e os momentos decisivos da política na Inglaterra do século dezessete, como conspirações de outros Estados europeus e de grupos formados por católicos.
Observação
O conteúdo desta página possibilita trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.
A república de crómuél
O grupo dos parlamentares venceu a guerra iniciada com a Revolução Puritana. Óliver crómuél, membro da pequena nobreza e puritano que comandou o exército vencedor, assumiu o govêrno e proclamou a república na Inglaterra, em 1649. O rei Carlos primeiro foi preso, julgado pelo Parlamento e condenado à morte.
Durante o govêrno de Óliver Crom-uél, a economia inglesa ganhou novo estímulo com a aprovação dos Atos de Navegação. Com essa lei, as mercadorias negociadas com a Inglaterra só poderiam ser transportadas em navios ingleses ou nos navios das nações onde as mercadorias haviam sido produzidas. Essa medida fortaleceu a marinha mercante da Inglaterra, que se tornou a maior potência naval do mundo.
Internamente, o govêrno recém-instaurado enfrentou com violência os movimentos de oposição a sua política, além de dissolver o Parlamento e estabelecer uma ditadura hereditária. Então, em 1653, crómuél assumiu o título de “lorde protetor da Inglaterra”.
Após sua morte, em 1658, seu filho e herdeiro, Ricardo, assumiu o govêrno, mas teve dificuldade de manter a estabilidade política e administrativa do Estado inglês. Assim, iniciou-se outra disputa pelo poder. A burguesia, temendo uma nova guerra civil que colocasse em perigo os avanços econômicos conquistados, apoiou a restauração da monarquia em 1660.
Respostas e comentários
Orientações
É interessante estabelecer uma relação entre os Estados Modernos europeus que se consolidavam como grandes potências mundiais nesse período, a atuação desses na exploração territorial e colonial e as disputas que se estabeleciam entre as nações europeias pelo poderio econômico e comercial. Retome com os estudantes alguns temas estudados no livro do 7º ano desta Coleção (Unidade sete), como as práticas mercantilistas, a crise econômica enfrentada pelas nações europeias (especialmente por Portugal) no século dezessete e o predomínio inglês nas relações comerciais nesse período. As manufaturas produzidas na Inglaterra tiveram grande vantagem em relação aos produtos primários produzidos em Portugal, que eram a base da sua economia, pouco voltada para o desenvolvimento manufatureiro e muito dependente da exploração de suas colônias. Quando foi descoberto ouro na América portuguesa, a metrópole já se encontrava em crise e grande parte do metal serviu para pagar as dívidas contraídas com a Coroa britânica, principalmente com a importação dos produtos manufaturados ingleses, que valiam muito mais que os produtos lusitanos, como vinho e azeite. Dessa fórma, nos séculos dezessete e dezoito, muitas toneladas de ouro que saíram do Brasil foram transferidas para o tesouro britânico.
Observação
O conteúdo desta página favorece a continuidade do trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.
Sugestão para o estudante:
crómuél. Direção: Quén Ríus. Inglaterra, 1970. Duração: 139 minutos.
Um político puritano é o personagem que conduz a narrativa do filme. Por meio de sua história, o estudante poderá conhecer também a história da Inglaterra durante a Revolução Puritana.
A Revolução Gloriosa
Com a restauração monárquica, Carlos segundo (filho de Carlos primeiro) assumiu o trono inglês e comprometeu-se a se submeter ao Parlamento. Em 1685, foi substituído por seu irmão Jaime segundo, que era católico.
Nobres e burgueses temiam que o retorno do catolicismo implicasse a devolução das terras que a Reforma anglicana havia confiscado. Por isso, esses grupos se uniram para afastar Jaime segundo do poder e, em 1689, entregaram o trono ao protestante holandês Guilherme de órangi, casado com Maria Istíuart, filha de Jaime segundo. Sem condições de resistir à tomada do poder, Jaime segundo fugiu para a França, e a Revolução Gloriosa triunfou sem derramamento de sangue.
Antes de ser coroado, o novo governante se comprometeu a respeitar as decisões da Revolução Gloriosa, a Magna Carta e a Declaração de Direitos, documento de 1689 que assegurava, entre outros, o poder ao Parlamento.
Com a Revolução Gloriosa, a Inglaterra passou a ser uma monarquia parlamentar e a burguesia consolidou sua influência política. Medidas administrativas posteriores favoreceram o desenvolvimento capitalista no país: o estímulo ao livre-comércio, a modernização dos portos e a construção de estradas e navios. Por outro lado, as práticas econômicas baseadas no mercantilismo, que tanto auxiliaram a Inglaterra e outras nações europeias na acumulação de capitais, agora entravam em declínio. Esse momento marcou um novo período da história inglesa, com a mecanização de sua indústria têxtil e a formação de uma ampla rede de comércio mundial.
Respostas e comentários
Orientações
Após a Revolução Gloriosa, a burguesia transformou seus interesses nos principais objetivos do Estado inglês: a busca do lucro e o estímulo ao desenvolvimento econômico. O modêlo econômico passou a basear-se na liberdade de produção e de comércio. Os monopólios mercantilistas foram abolidos e qualquer indivíduo que tivesse capitais suficientes poderia dar início a uma atividade produtiva e comercializar livremente. Dessa fórma, a Inglaterra conquistou o comércio mundial, impulsionou e mecanizou sua indústria têxtil. É importante enfatizar para os estudantes que as bases do liberalismo surgiram nesse contexto em que a burguesia reivindicava maior protagonismo na economia e na política, em detrimento das práticas mercantilistas em que o Estado gerenciava e protegia os grandes negócios.
Texto complementar
No trecho a seguir, Adam Ismíf, um dos teóricos do liberalismo econômico do século dezoito, trata da autorregulação do mercado:
reticências O interesse da nação em suas relações comerciais com nações estrangeiras é, tanto quanto o do comerciante em relação às diferentes pessoas com as quais trata, o de comprar o mais barato e vender o mais caro possível. Mas será mais plausível comprar barato quando a mais perfeita liberdade de comércio estimular todas as nações a trazerem as mercadorias que precisem adquirir; e, pela mesma razão, será mais plausível vender caro quando, desse modo, seus mercados estiverem cheios com o maior número de compradores. reticências
Ismíf, Adam. A mão invisível. São Paulo: Pêngüim: Companhia das Letras, 2013. página. 44.
Atividade complementar
Se desejar, discuta as bases do liberalismo econômico com os estudantes a partir do texto de Adam Ismíf. Solicite a eles que identifiquem no texto a crítica implícita do autor ao protecionismo do Estado em relação às atividades econômicas e as suas colocações sobre autorregulação do mercado.
Observação
O conteúdo desta página contribui para a continuidade do trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.
Documento
A Declaração de Direitos
A Declaração de Direitos, ou Bill of Rights, foi um conjunto de leis formulado na Inglaterra em 1689, após a deposição do rei Jaime segundo pela Revolução Gloriosa. A Declaração reduziu o poder do rei, estabelecendo a monarquia parlamentar em lugar da monarquia absolutista. Como você deve saber, a monarquia absolutista era baseada no poder absoluto do rei e justificada pelo direito divino.
Leia, a seguir, alguns trechos da Declaração de Direitos:
reticências E portanto os ditos lordes espirituais e temporaisglossário , e os comunsglossário reticências, estando agora reunidos como plenos e livres representantes desta nação reticências, declaram reticências para reivindicar e garantir seus antigos direitos e liberdades:
1. Que é ilegal o pretendido poder de suspender leis, ou a execução de leis, pela autoridade real, sem o consentimento do Parlamento.
reticências
4. Que é ilegal a arrecadação de dinheiro para uso da Coroa, sob pretexto de prerrogativa, sem autorização do Parlamento, por um período de tempo maior, ou de maneira diferente daquela como é feita ou outorgada.
reticências
6. Que levantar e manter um exército permanente dentro do reino em tempo de paz é contra a lei, salvo com permissão do Parlamento.
reticências
8. Que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento.
9. Que a liberdade de expressão e debates ou procedimentos no Parlamento não devem ser impedidos ou questionados por qualquer tribunal ou local fóra do Parlamento.
reticências
13. E que os Parlamentos devem reunir-se com frequência para reparar todos os agravos, e para corrigir, reforçar e preservar as leis.
A DECLARAÇÃO Inglesa de Direitos (1689). In: Ixêi, Micheline R. (.). Organização Direitos Humanos: uma antologia. São Paulo: , 2013. êduspi . 171-173. página
- Após a leitura dos trechos da Declaração de Direitos, identifique:
- Em que período da história da Inglaterra ela foi escrita?
- Quem escreveu a Declaração e em nome de quem ela foi feita?
- Qual era o objetivo principal da Declaração? Justifique sua resposta, utilizando trechos do documento.
- Com base nesse documento, descreva em seu caderno o equilíbrio de fôrças políticas na monarquia parlamentar inglesa.
Respostas e comentários
Orientações
Esta seção apresenta alguns artigos da Declaração de Direitos instituída após a Revolução Gloriosa, que poderão ser analisados em seus detalhes pelos estudantes, favorecendo assim que eles aprofundem a compreensão do processo de transformação que se iniciou nesse período na Inglaterra e os impactos que ele teve na estrutura política desta nação. Além disso, a reflexão proposta possibilita aos estudantes estabelecerem relações entre os princípios identificados na Declaração e as influências que podem ter exercido na formulação das concepções de Estado no mundo contemporâneo.
Observação
O trabalho proposto nesta seção contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.
Respostas
1. a) A Declaração de Direitos foi escrita após a vitória da Revolução Gloriosa, que depôs Jaime segundo e coroou Guilherme de Orange como rei da Inglaterra. Guilherme se comprometeu a respeitar a Declaração, assegurando o poder do Parlamento.
b) A Declaração foi escrita pelos membros do Parlamento em nome da nação inglesa.
c) O principal objetivo da Declaração era limitar o poder do rei, assegurando a soberania parlamentar. Alguns trechos que mostram os limites impostos ao poder do rei são: os reis não poderiam cancelar as leis do Parlamento (item 1 da Declaração), cobrar impostos sem a autorização do Parlamento (item 4) e manter um Exército permanente sem a permissão do Parlamento (item 6).
2. Na monarquia parlamentar inglesa, a base do poder era o Parlamento, cujos membros eram considerados representantes da nação. Por isso, o poder do rei é limitado.
Sugestão para o estudante:
MICELI, Paulo. As revoluções burguesas. São Paulo: Atual, 2005. (Coleção Discutindo a História).
Nesse livro o estudante poderá entrar em contato com uma interpretação abrangente sobre os significados das revoluções burguesas que definiram os rumos da sociedade capitalista contemporânea, como é o caso das Revoluções na Inglaterra do século dezessete.
Mudanças na Inglaterra
Na Inglaterra, além das grandes propriedades senhoriais e das terras voltadas à produção para o mercado, havia as terras comuns, utilizadas de fórma coletiva. Ao longo do século dezesseis, essas terras passaram a ser cercadas por iniciativa de particulares, que pretendiam vendê-las ou utilizá-las para criar ovelhas e fornecer uma das principais matérias-primas da indústria têxtil: a lã.
Propriedades desse tipo espalharam-se por todo o território da Inglaterra. No comêço do século dezoito, o Parlamento criou uma série de medidas para regulamentar e acelerar o cercamento das terras comuns.
A maior parte dos camponeses foi expulsa de suas terras e teve de enfrentar o desemprego e a falta de moradia e alimentação. Muitos se deslocaram para as cidades, em busca de condições de sobrevivência.
A modernização da agricultura
A política de cercamentos resultou na modernização da agricultura inglesa. A introdução do sistema trienal de cultivo (o chamado sistema de três campos), que alternava o cultivo de cereais, tubérculos e gramíneas, possibilitou a disponibilidade de mais alimentos para as ovelhas, que, ao mesmo tempo, forneciam adubo natural e ajudavam a manter a fertilidade do solo.
Outras inovações do período foram o confinamento do gado e a aração profunda, que possibilitaram, respectivamente, o aumento do pêso dos animais e o melhor preparo da terra para o cultivo. No entanto, o custo dessas inovações era elevado e apenas os ricos proprietários puderam introduzi-las em suas terras.
Com as mudanças ocorridas nos campos ingleses, houve o aumento da produção agrícola, necessário para alimentar uma população em constante crescimento, sobretudo nas cidades. Novamente, muitos camponeses, sem condições de competir com a agricultura moderna das propriedades vizinhas, migraram para as cidades em busca de trabalho.
O sistema de três campos
MENEGUELLO, Cristina; , Edgar Salvadori de. déca Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. São Paulo: Atual, 2019. A obra apresenta textos informativos e documentos históricos que abordam, entre outros aspectos, as diferenças entre a vida no campo e a vida na cidade na Inglaterra do século , bem como o cotidiano dos trabalhadores nas fábricas. dezoito
Respostas e comentários
Orientações
É importante destacar que as terras comuns (common fields) eram campos abertos onde se misturavam áreas de diversos proprietários e arrendatários. O acesso a essas terras dependia de incontáveis caminhos, e era impossível precisar os limites entre as posses de um e de outro. Embora fossem formalmente associadas a determinado senhor, elas eram utilizadas de fórma coletiva, principalmente por pessoas mais pobres, que pastoreavam animais, pescavam e obtinham lenha.
As medidas adotadas para regulamentar e acelerar o cercamento das terras comuns desencadearam profundas transformações na sociedade inglesa. Sugerimos chamar a atenção dos estudantes para a situação dos camponeses que foram expulsos das áreas do campo, constituindo um pouco depois o exército de trabalhadores de reserva e a mão de obra assalariada que iria suprir a demanda das fábricas inglesas no início da industrialização.
Observação
O conteúdo desta página favorece a continuidade do trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.
Sugestões complementares referentes ao Capítulo:
ril, crístofer . O século das revoluções (1603-1714). São Paulo: edição. Unésp, 2012.
O livro aborda em profundidade os acontecimentos revolucionários na Inglaterra nos séculos dezessete e dezoito.
Ostrênsqui, Eunice. As revoluções do poder. São Paulo: Alameda, 2005.
A autora analisa o pensamento político difundido na Inglaterra na época da Revolução Puritana de 1640.
Abundância de carvão e ferro
Outro fator que possibilitou aos ingleses mecanizar a produção têxtil foi a facilidade de obter fontes de energia e matérias-primas básicas para o funcionamento das máquinas, como carvão mineral e ferro.
Até o século dezoito, os ingleses usavam o carvão vegetal, produzido a partir da queima da madeira, para aquecer os fornos no processo de obtenção do ferro. Porém as temperaturas atingidas por meio dessa técnica não eram suficientes para a produção de ferro de boa qualidade.
A partir de 1780, os ingleses passaram a utilizar o carvão mineral, que pode ser encontrado na superfície terrestre e tem poder calorífico superior ao do carvão vegetal. Com a descoberta dessa nova técnica, a fabricação de ferro triplicou na Inglaterra. O carvão mineral passou a ser utilizado como combustível para mover pequenas indústrias e na produção do ferro de alta resistência, matéria-prima essencial para construir máquinas, ferramentas e estradas de ferro.
O conjunto de inovações técnicas e as mudanças na fórma de organizar a produção transformaram a paisagem inglesa.
Respostas e comentários
Orientações
Com a política de cercamentos as relações capitalistas avançaram no campo. Ao mesmo tempo ocorriam a modernização da agricultura e a formação de um exército de mão de obra disponível nas cidades (resultado do êxodo rural).
É importante destacar que a Inglaterra contava com jazidas abundantes de carvão e de ferro, duas matérias-primas estratégicas para o pioneirismo industrial do país. Durante a Revolução Industrial, o uso do carvão mineral como fonte de energia deu um grande impulso à indústria e aos transportes. Isso propiciou o funcionamento dos motores a vapor instalados nas máquinas fabris, nas locomotivas e nos navios.
Atividade complementar
Inicie uma discussão sobre o tema das fontes energéticas, estimulando os estudantes a expressar seus conhecimentos prévios sobre o assunto. Comente que as fontes energéticas são recursos da natureza dos quais se pode obter energia usada para movimentar navios, trens e carros, fazer funcionar máquinas, aparelhos domésticos e sistemas de iluminação, entre outras possibilidades. Incentive a reflexão sobre a busca de fontes de energia, mais eficientes e economicamente rentáveis, questão ainda essencial nos dias de hoje. Ao final da discussão, peça aos estudantes que se organizem em grupos e iniciem um trabalho de pesquisa, elaboração de textos, seleção de materiais e produção de um blog sobre o tema, no qual irão divulgar as informações coletadas e elaboradas por eles. O trabalho proposto de pesquisa e elaboração de textos para serem divulgados para a comunidade escolar propicia o desenvolvimento da prática de pesquisa análise documental.
Observação
Ao abordar os desdobramentos das mudanças políticas promovidas pela Revolução Gloriosa, o conteúdo desta página possibilita relacionar o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois ao trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três, que será central nos próximos capítulos.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Descreva os governos de Jaime primeiro e Carlos primeiro, destacando os conflitos entre o rei e o Parlamento na Inglaterra no século dezessete.
- Elabore uma cronologia dos principais acontecimentos políticos das revoluções Puritana e Gloriosa.
- No contexto da Revolução Puritana, quem eram os cavaleiros e os cabeças-redondas?
- Que mudanças a Revolução Gloriosa provocou na Inglaterra do ponto de vista da economia?
- Por que a política de cercamentos foi importante para a modernização da agricultura inglesa? Como a relação entre o campo e a cidade se estabeleceu nesse período? Explique.
- A partir da Revolução Gloriosa, a Inglaterra passou a ser uma monarquia parlamentar. Explique a diferença entre esse sistema de govêrno e a monarquia absolutista.
- Observe a imagem a seguir. Essa obra é intitulada Retrato da Armada e foi pintada no século dezesseis em comemoração à vitória inglesa sobre a poderosa marinha espanhola. Elizabeth primeira foi retratada usando um vestido bordado com pérolas e joias e segurando um globo terrestre. Atrás do ombro esquerdo da rainha, pode ser vista a Armada espanhola destruída.
- Em sua opinião, é possível considerar que esse retrato da rainha Elizabeth primeira foi feito para demonstrar fôrça e poder? Por quê? Justifique sua resposta com elementos da obra.
- Qual seria o significado da coroa ao lado da rainha? Considerando as informações deste Capítulo, por que Elizabeth primeira está tocando um globo terrestre com a mão direita?
Respostas e comentários
Seção Atividades
Objeto de conhecimento
• As revoluções inglesas e os princípios do liberalismo.
Habilidade
São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:
• ê éfe zero oito agá ih zero dois (atividades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7)
Respostas
1. Jaime primeiro criou novos impostos e perseguiu católicos e calvinistas com o intuito de fortalecer a Igreja anglicana, da qual era o chefe supremo. O Parlamento colocou-se contra o seu govêrno. Carlos primeiro, filho de Jaime, prosseguiu com essa política, aumentando os conflitos entre o poder real e o Parlamento.
2. Revolução Puritana (1640-1660)
1642: Começa a guerra civil. A Inglaterra se divide em dois partidos opostos: os realistas e os parlamentares.
1649-1658: República de Oliver crómuél.
1658-1660: govêrno de Ricardo crómuél, caracterizado por um período de intensa instabilidade política.
1660-1688: Restauração da monarquia.
Revolução Gloriosa (1688)
1688: Deposição do rei católico Jaime segundo.
1689: Elaboração da Declaração de Direitos. O rei Guilherme de órangi se compromete a respeitar a Declaração. Estabelecimento da monarquia parlamentar na Inglaterra.
3. Os cavaleiros eram membros do exército realista, grandes proprietários de terras e altos membros da Igreja anglicana. Os cabeças-redondas eram membros do exército parlamentar, puritanos; representavam a pequena nobreza, os burgueses e os camponeses; eram favoráveis à fórma republicana de govêrno.
4. O desenvolvimento do capitalismo, o incentivo ao livre-comércio e a mecanização da indústria têxtil inglesa.
5. Os cercamentos transformaram as terras comunais em propriedades privadas, contribuindo para a modernização da agricultura e o aumento da produção. Além disso, houve o aumento da criação de ovelhas, que forneciam lã para a nascente indústria têxtil. Com os cercamentos, grande parte dos camponeses se deslocou do campo para as cidades, formando uma massa de trabalhadores à disposição da indústria.
6. Na monarquia absolutista, o rei tem poderes ilimitados; ele faz as leis, julga e governa. Já na monarquia parlamentarista, o rei é o chefe do Estado, e o poder se concentra no Parlamento.
7. a) É possível considerar que o retrato da rainha foi feito para demonstrar poder. Seu vestido é ornado com pérolas e joias e o ambiente à sua volta representa a riqueza e o poder da monarquia inglesa.
b) A coroa ao seu lado simboliza o poder da monarquia inglesa. A rainha segura o globo como demonstração do poderio inglês nas transações ultramarinas.
CAPÍTULO 2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E AS MUDANÇAS NA SOCIEDADE
Computadores, aparelhos celulares, óculos, peças de roupa, sapatos, relógios, câmeras fotográficas, fones de ouvido... Você sabe dizer o que todos esses produtos têm em comum? Há, pelo menos, duas características: todos são produzidos por processos industriais e todos são mercadorias, ou seja, foram feitos para serem comercializados.
O surgimento das indústrias ocasionou uma das maiores transformações socioeconômicas da história, modificando profundamente, e em escala mundial, o ambiente e as relações de produção, os hábitos de consumo e a organização do trabalho. Esse processo iniciou-se com a Revolução Industrial na Inglaterra, em meados do século dezoito, e tem reflexos até os dias de hoje na sociedade globalizada.
Neste Capítulo, investigaremos as condições históricas que propiciaram o início da industrialização, bem como suas consequências tanto para os detentores dos meios de produção como para os trabalhadores.
Respostas e comentários
Sobre o Capítulo
O Capítulo traz elementos que estimulam a reflexão sobre o mundo em que vivemos, norteado pela corrida contra o tempo e pelos avanços tecnológicos. Os conteúdos trabalhados ajudam o estudante a compreender as características da sociedade contemporânea e a reconhecer suas origens no processo de industrialização inglês da segunda metade do século dezoito. Ao longo deste Capítulo é possível ainda conduzir uma análise das ambiguidades e das contradições envolvidas no avanço da industrialização. O desenvolvimento técnico e científico apresenta duas faces: por um lado, nos possibilita uma vida mais cômoda e nos dá acesso, por exemplo, ao tratamento e à cura de várias doenças; por outro, estimula a desumanização das relações sociais, amplia as diferenças entre ricos e pobres e intensifica a exploração dos recursos naturais. Pensadores do século dezenove já percebiam que uma sociedade com características antagônicas, mas complementares, surgia na Inglaterra: progresso e selvageria se tornavam lados da mesma moeda.
Propicie uma conversa em sala de aula indagando os estudantes sobre os impactos da Revolução Industrial na vida das pessoas e no mundo do trabalho. Explique a eles que a palavra “indústria” remete a todo esfôrço empreendido pela humanidade para transformar matérias-primas em mercadorias, com o auxílio de ferramentas ou máquinas. A indústria moderna que surgiu na Inglaterra, no século dezoito, caracteriza-se pelo uso de máquinas para a produção de grande quantidade de artigos em série.
Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo
ê éfe zero oito agá ih zero três: Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas.
Observação
O conteúdo desta página possibilita iniciar o trabalho com alguns aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três, que poderá ser desenvolvida ao longo de todo o Capítulo.
Do artesanato à maquinofatura
Antes do surgimento das fábricas, o artesanato era o principal modo de organização do processo produtivo. As mercadorias eram confeccionadas por artesãos, que dominavam todas as fases de produção: compravam a matéria-prima, fabricavam o produto e o vendiam. Além disso, tinham autonomia para determinar o tempo e o ritmo de seu trabalho.
Durante os séculos quinze e dezesseis, com o objetivo de acelerar a produção, homens de negócio se associaram aos artesãos, desenvolvendo o sistema doméstico. Nele, o artesão recebia a matéria-prima e se comprometia a produzir e a entregar a mercadoria em determinado prazo para o empresário, que ficava encarregado de vendê-la. Nesse sistema, o artesão ainda tinha contrôle sobre todo o processo de produção, mas deixava de ser responsável pela aquisição da matéria-prima e perdia o contato direto com o consumidor.
Na segunda metade do século dezessete, as manufaturas se expandiram. Nesse tipo de organização do trabalho, dezenas ou centenas de pessoas ficavam concentradas em um só espaço e trabalhavam, todos os dias, durante uma quantidade determinada de horas. Nesse momento, entrou em cena um novo personagem: o patrão, que mantinha funcionários encarregados de vigiar os trabalhadores.
Na manufatura, os trabalhadores não eram donos dos instrumentos de trabalho nem tinham contrôle sobre o ritmo da produção. Gradualmente, os trabalhadores foram perdendo o conhecimento sobre a totalidade do processo produtivo. Isso quer dizer que eles deixaram de conhecer todas as etapas de produção de determinada mercadoria, já que as tarefas foram divididas em etapas e cada pessoa executava apenas uma parte do processo de fabricação em troca de um salário fixo.
Respostas e comentários
Orientações
A Revolução Industrial transformou as relações de trabalho, a organização da produção e a tecnologia. É importante que os estudantes comparem, nesses três aspectos, a produção artesanal, o sistema doméstico, a manufatura e a maquinofatura e estabeleçam relações com o tempo presente (em graus variados essas diferentes maneiras de organizar a produção convivem até hoje).
Texto complementar
O texto a seguir traz informações sobre a transição das oficinas domésticas artesanais para o sistema de manufaturas:
Estavam lançadas as bases da manufatura. Enquanto a indústria doméstica dava sustentação a uma produção organizada em estágios sucessivos, cada um deles realizado por um artesão em sua casa, a manufatura reunia artesãos num mesmo espaço de trabalho, aproximando estas etapas e, portanto, tornando mais rápido o ciclo produtivo. reticências
reticências
A concorrência estava estabelecida. E aconteceu uma expansão da manufatura, estimulada pelo fato de que o ciclo da produção de uma mercadoria não estava restrito à capacidade e domínio técnico de um artesão especializado sob os regulamentos de monopólio separativista, mas estava compartimentado, na medida em que os novos artesãos, sem especialização maior e sob o contrôle do capital comercial, ocupavam-se de partes da produção. Resumindo, o que se deu a partir da manufatura foi a especialização e o aprofundamento da divisão do trabalho, e os primeiros passos para a emergência do trabalho assalariado.
ispózito, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e urbanização. São Paulo: Contexto, 1988. página. 36.
Observação
O conteúdo desta página favorece o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
A mecanização da indústria
Na segunda metade do século dezoito, com a Revolução Industrial, a manufatura foi substituída pela maquinofatura. Os motores a vapor, aperfeiçoados por djêimes uót em 1769, começaram a mover as máquinas, aumentando a velocidade da produção e a qualidade dos produtos. As principais tarefas do trabalhador passaram a ser alimentar a máquina, controlar sua velocidade e cuidar de sua manutenção.
A busca por lucros levou os industriais a investir na melhoria técnica da produção e no uso de novas fontes de energia. O tear mecânico (1785) deu início à mecanização da tecelagem e à aplicação do motor a vapor na indústria têxtil. A invenção do barco a vapor (1787) e a inauguração da primeira ferrovia (1825) possibilitaram o transporte de um volume maior de mercadorias.
O avanço tecnológico acelerou o ritmo da vida e do trabalho, que deixou de ser determinado pelo tempo da natureza e do corpo e passou a acompanhar o tempo da máquina. O trabalho do ser humano tornou-se dependente da tecnologia industrial, e a eficiência passou a ser medida pelo menor tempo gasto na produção. Em outras palavras, o tempo passou a valer dinheiro.
O trabalho nas fábricas
A concentração dos trabalhadores em um mesmo espaço, a divisão de tarefas, o fim da autonomia do artesão e o surgimento do patrão foram as mudanças fundamentais que marcaram o advento das fábricas.
Respostas e comentários
Orientações
Nesse momento, é interessante ressaltar que no sistema produtivo artesanal os trabalhadores dominavam todo o processo de trabalho. Também controlavam os meios de produção e o produto final de seu trabalho. Com o surgimento das fábricas, os trabalhadores passaram a operar máquinas, dominando apenas uma das etapas produtivas no sistema de maquinofatura.
Observação
O conteúdo desta página pode contribuir para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Sugestão para o estudante:
BREFE, Ana Cláudia Fonseca. Burgueses e operários na era industrial. São Paulo: Atual, 2010. (Coleção A vida no tempo das máquinas).
Esse livro é uma ótima opção para os estudantes conhecerem mais detalhadamente as profundas transformações na vida das pessoas no período da Revolução Industrial, o cotidiano dos trabalhadores e dos habitantes das grandes cidades europeias.
Uma nova sociedade
Além das mudanças no ritmo do trabalho e do cotidiano, na mentalidade e nos valôres, uma das transformações mais importantes produzidas pela indústria foi a configuração de uma nova sociedade. Duas novas classes sociais se consolidaram:
- Burguesia: classe social formada pelos proprietários das fábricas, das máquinas, dos bancos, do comércio, das redes de transporte e das empresas agrícolas. O termo “burguesia” tem origem em “burgo”, aglomerado urbano da Idade Média, cujos habitantes se dedicavam ao comércio e ao artesanato. A partir do século dezoito, a burguesia impôs cada vez mais seu domínio sobre a sociedade.
- Proletariado: classe social composta do operariado, que vive do salário que recebe. Como não tem meios para sobreviver por conta própria, o proletariado vende sua fôrça de trabalho para o patrão em troca de um salário. O salário, porém, paga apenas uma parte do tempo de trabalho do operário nas fábricas. O restante do tempo é apropriado pelo patrão.
As diferenças entre burgueses e proletários podiam ser percebidas na vida cotidiana das cidades. As áreas ricas ficavam, em geral, mais próximas do centro e recebiam mais atenção dos governantes. Já a população operária comprimia-se em bairros de ruas estreitas, mal iluminadas e sujas, com muitos mendigos e desempregados, como relatou o filósofo alemão fréderique ênguels:
Mas no que diz respeito à massa dos operários, o estado de miséria e insegurança é hoje tão grave quanto antes, senão mais grave. O East End de Londres é um pântano cada vez maior de miséria e desespero, de fome nos períodos de desemprego e de degradação física e moral quando há trabalho.
ênguels, Frídric. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010. página 354.
O trabalho das mulheres
Na época da Revolução Industrial, as mulheres eram submetidas ao ritmo de trabalho dos demais operários, mas recebiam salários menores. Segundo a Organização Internacional do Trabalho ( ó í tê), atualmente a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda é muito visível em diversos países. No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ( pê nádi) mostram que, em 2020, as mulheres recebiam cêrca de 77% do salário pago aos homens.
Respostas e comentários
Atividade complementar
Apresente aos estudantes o trecho a seguir, que trata das fórmas de contrôle do tempo com o advento da indústria. Estimule-os a refletir sobre a situação dos trabalhadores e a questão do contrôle do tempo dentro das fábricas inglesas no período da industrialização. Amplie a discussão com eles, fazendo-os estabelecer relações com a situação dos trabalhadores na atualidade, considerando a questão do tempo e do ritmo de trabalho principalmente nas grandes cidades. Oriente-os a perceber a historicidade que envolve a organização do trabalho e a relação com o tempo nas sociedades contemporâneas. Indague-os sobre as experiências e os conhecimentos prévios que eles têm sobre o tema. Depois, peça a eles que pesquisem diferentes tipos de fonte de informação para embasar seus argumentos e a análise das condições de trabalho nos dias de hoje. Por fim eles devem registrar por escrito suas conclusões. O trabalho proposto nesta atividade favorece o desenvolvimento da prática de pesquisa de análise documental.
reticências “Eu trabalhava na fábrica do . brêid”, declarou uma testemunha: Ninguém a não ser o mestre e o filho do mestre tinha relógio, e nunca sabíamos que horas eram reticências Os relógios nas fábricas eram frequentemente adiantados de manhã e atrasados à noite; em vez de serem instrumentos para medir o tempo, eram usados como disfarces para encobrir o engano e a opressão. Embora isso fosse do conhecimento dos trabalhadores, todos tinham medo de falar, e o trabalhador tinha medo de usar o relógio, pois não era incomum despedirem aqueles que ousavam saber demais sobre a ciência das horas.
tompison, éduard P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. página. 293-294.
Texto complementar
O texto a seguir trata do conceito de proletariado:
Em nenhuma fase de sua obra márks utiliza o termo “classe trabalhadora” de modo frequente. Preferia a noção de proletariado, um antigo conceito romano provavelmente datado do século seis antes de Cristo., que descrevia um grupo relativamente grande, mas pouco definido, de cidadãos livres e pobres No final do século dezoito e comêço do dezenove, a palavra “proletariado” conheceu um ressurgimento. Inicialmente, ela foi usada de modo geral para descrever a situação das pessoas sem nenhuma propriedade além da honra. reticências
LINDENI, Marcel van der. O conceito marquiciano de proletariado: uma crítica. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, volume 6, número 1, página. 87-110, abril. 2016.
Observação
O conteúdo desta página pode contribuir para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
O trabalhador no sistema industrial
A expansão das indústrias modificou muito o cotidiano dos trabalhadores. A questão do tempo, que, para eles, passou a ser regulado pelos horários de funcionamento das fábricas, é um exemplo disso. Nas áreas rurais, a medição do tempo estava relacionada aos ciclos da natureza e às tarefas diárias no campo. Já nas cidades, a disciplina passou a ser estabelecida pelo relógio.
Os relógios já existiam antes da Revolução Industrial, mas foi a necessidade de sincronizar o trabalho nas fábricas que ampliou seu uso e sua produção. Com eles, foi possível disciplinar os horários de entrada e saída dos trabalhadores, o intervalo de almoço e o tempo gasto para realizar as tarefas da produção. Fiscais e supervisores garantiam que os trabalhadores respeitassem os horários. Havia prêmios para os operários mais disciplinados e multas para os que descumprissem as normas.
A valorização do tempo, por meio do surgimento da ideia de um “tempo útil”, dedicado ao trabalho e ao ganho de dinheiro, colaborou para a configuração de uma nova moral, que justificava, inclusive, a perseguição policial aos desocupados.
Ler a imagem
• Que elementos desta imagem nos mostram que as trabalhadoras estão em um momento de “descanso”? Repare na silhueta de um homem, no centro da tela. O que ele representa? A sua presença fornece pistas para entendermos a situação das trabalhadoras retratadas? Você acha que essa imagem apresenta uma visão idealizada da Revolução Industrial? Por quê?
Respostas e comentários
Texto complementar
No texto a seguir o historiador Érik Robsbaum descreve as relações de trabalho dentro das fábricas no início da industrialização:
reticências Em primeiro lugar, todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria, ou seja, num ritmo regular de trabalho diário ininterrupto, o que é inteiramente diferente dos altos e baixos provocados pelas diferentes estações no trabalho agrícola ou da intermitência autocontrolada do artesão independente Nas fábricas onde a disciplina do operariado era mais urgente, descobriu-se que era mais conveniente empregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças: de todos os trabalhadores nos engenhos de algodão ingleses em 1834-47, cêrca de um-quarto eram homens adultos, mais da metade era de mulheres e meninas, e o restante de rapazes abaixo dos 18 anos. reticências
ROBSBAUM, Eric. A Era das Revoluções (1789-1848). São Paulo: Paz e Terra, 1991. página. 66-67.
Resposta
Ler a imagem: Na pintura é possível observar que as mulheres estão descansando do trabalho, pois estão conversando, algumas estão sentadas, outras estão comendo e bebendo, carregando cestas de comida etcétera.
No centro da imagem, atrás das mulheres, há um único homem (de roupa escura), provavelmente um funcionário contratado para fiscalizar o horário de descanso e o retorno ao trabalho, o que revela aspectos do cotidiano das mulheres trabalhadoras nas fábricas inglesas no início da industrialização. A imagem não mostra a perspectiva mais dura da exploração do trabalho e, por essa razão, podemos dizer que apresenta uma visão idealizada da Revolução Industrial.
Observação
O conteúdo desta página favorece o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Sugestão para o estudante:
MENEGUELLO, Cristina; DE déca, Edgar. Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. 5. edição. São Paulo: Atual, 2019.
O livro apresenta um apanhado de aspectos relevantes sobre o cotidiano dos trabalhadores fabris no início da Revolução Industrial.
Moradias precárias na cidade
E quanto à moradia dos trabalhadores? A maior parte das casas operárias se localizava próximo às fábricas e era construída pelos próprios empregadores e alugadas aos trabalhadores. Em geral, essas moradias abrigavam um grande número de pessoas, que, muitas vezes, se amontoavam para dormir. Não existia rede de esgoto. Os banheiros eram fossas, ficavam fóra das casas e exalavam um cheiro horrível. Em alguns bairros, havia um serviço de limpeza de fossas, cujos resíduos eram vendidos como esterco aos agricultores. Em outros bairros, os detritos eram jogados nas vias públicas e nos cursos de água.
A água era fornecida em bicas, poços e fontes públicas, nos quais havia longas filas para obter um balde do precioso líquido. As péssimas condições propiciaram o surgimento de surtos de diversas doenças, como a cólera e a tuberculose, que atingiam com frequência os trabalhadores e suas famílias.
Respostas e comentários
Texto complementar
O texto a seguir comenta os registros visuais da situação habitacional dos trabalhadores em Londres feitos pelo artista Dorrê.
reticências O principal ilustrador de gravuras foi Dorrê que foi contratado para ilustrar o livro Londres: Uma Peregrinação, muito criticado por, supostamente, retratar apenas a pobreza da cidade. Mas apesar de todas as críticas, o livro foi um sucesso de vendagem na Inglaterra, valorizando ainda mais o seu trabalho na Europa.
reticências
Estas imagens representam o cotidiano dos moradores dos bairros operários de Londres, onde ele tenta expressar através de suas imagens o grande aglomerado de pessoas dividindo o pouco espaço, as fumaças das fábricas em meio às casas, a ocupação dos porões, o grande número de crianças cuidando de outras crianças, as pessoas habitando em meio a animais entre outras questões. O tom escuro e a representação em preto e branco era uma característica marcante na obra de Doré, o que acentuava ainda mais a situação de insalubridade e deixava evidente as consequências dessa situação calamitosa a qual se submetia a classe operária. O surgimento de doenças epidêmicas, e o risco de alastramento de epidemias causadas pela falta de higiene e condições impróprias de moradia tornou-se uma ameaça não só para a classe operária, mas para toda a sociedade.
MILANO, Daniela Ketzer. Habitações operárias: evolução das imagens de representação. Urbana, ano 3, número 1, 2011. Disponível em: https://oeds.link/Z3zzFz. Acesso em: 14 março. 2022.
Observação
O conteúdo desta página possibilita trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Os impactos ambientais da industrialização
No início da Revolução Industrial, havia a crença de que os recursos naturais eram infinitos e estavam a serviço do ser humano. Nesse momento, ainda não havia o conhecimento de que o consumo desenfreado de matérias-primas e o uso de combustíveis fósseis pudessem causar danos ambientais, em muitos casos irreversíveis, e alterações climáticas que afetariam a vida humana.
A atividade industrial de larga escala acarretou grandes impactos ambientais à Inglaterra. A instalação de fábricas levou à poluição das águas e do ar e à alteração do hábitat de muitas espécies.
Um exemplo disso é o caso das mariposas , na cidade de Bíston Betulária Manchester. A maioria dessas mariposas tinha coloração branca, o que possibilitava sua camuflagem nos troncos das árvores, que eram claras devido à presença de liquensglossário . Com o surgimento e a expansão das fábricas e o aumento da poluição do ar, os líquens desapareceram e os troncos das árvores tornaram-se escuros. As mariposas dessa espécie com coloração branca praticamente deixaram de existir, pois, como não podiam mais se camuflar nas árvores, eram facilmente identificadas pelos predadores.
Respostas e comentários
Orientações
A industrialização intensificou o uso dos recursos naturais. A gravidade da situação atual exige uma rápida conscientização em tôrno da necessidade de se preservar a natureza. Incentive os estudantes a buscar informações sobre o assunto e a tomar atitudes concretas e cotidianas para a preservação do meio ambiente.
É importante destacar que o conteúdo trabalhado nesta página possibilita a abordagem do tema contemporâneo Educação ambiental.
Atividade complementar
Sugerimos um trabalho de pesquisa em conjunto com o componente curricular Ciências sobre a poluição do ar, da água e do solo provocada pela industrialização, com destaque para os prejuízos causados à natureza e ao ser humano. A contaminação de rios, lagos e oceanos, o aumento do efeito estufa e a proliferação de vírus e bactérias são alguns exemplos. É pertinente relacionar esses fatos à Revolução Industrial, que fez elevar consideravelmente o volume de fuligem e gases tóxicos lançados na atmosfera, assim como de resíduos e detritos industriais jogados na água e no solo. Os estudantes podem se organizar em pequenos grupos para realizar a atividade de pesquisa, coleta de informações e sistematização das conclusões. Depois, eles devem confeccionar cartazes sobre o tema da contaminação ambiental causada pela industrialização. Por fim, peça a eles que apresentem os resultados da pesquisa por meio da exposição dos cartazes. O trabalho proposto nesta atividade propicia o desenvolvimento da prática de observação, tomada de nota e construção de relatórios.
Observação
O conteúdo desta página pode contribuir para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
As agressões ao meio ambiente persistem
A construção de ferrovias e de novas fábricas acarretou a derrubada de grandes áreas de vegetação. Além disso, a população dos grandes centros industriais cresceu desordenadamente, causando muitos problemas urbanos, como o acúmulo de lixo e dejetos.
Atualmente, apesar de a superexploração dos recursos naturais persistir, o modêlo de produção implantado com a Revolução Industrial sofre inúmeras críticas, tanto por parte da sociedade como por parte de organizações e instituições dedicadas à preservação ambiental.
Para reduzir as agressões ao meio ambiente, estão sendo desenvolvidos novos métodos produtivos. Além disso, campanhas de estímulo ao consumo consciente dos recursos naturais, ao reúso e à reciclagem de materiais têm o objetivo de diminuir o consumo de recursos no dia a dia. Dessa fórma, procura-se garantir a qualidade de vida das populações atuais e o usufruto desses recursos pelas gerações futuras.
Ler a gravura
• Que elementos da paisagem representada nesta litografia (técnica de gravura em que a impressão da imagem é feita com uma matriz de pedra polida) estão associados à industrialização inglesa?
: Um grito de justiça: o cotidiano e as lutas dos operários durante a Revolução Industrial. Direção: daens . Bélgica/França/Holanda, 1992. Duração: 138 stein conix minutos O filme se passa no final do século , em uma cidade do norte da Bélgica. A fábrica de tecidos local emprega muitos operários que trabalham em péssimas condições. Tudo muda com a chegada de um padre, que se solidariza com os trabalhadores. dezenove
Respostas e comentários
Orientações
Conduza uma discussão em sala de aula sobre os impactos causados no meio ambiente pela industrialização e a sociedade de consumo. É fundamental que os estudantes reflitam sobre o assunto criticamente, que identifiquem as degradações geradas pelas ações humanas no ambiente e as práticas capazes de reduzir os impactos negativos e de promover o consumo consciente, assim como o uso sustentável dos recursos naturais.
O conteúdo trabalhado nesta página possibilita a ampliação do desenvolvimento do tema contemporâneo Educação ambiental.
Resposta
Ler a gravura: O desmatamento, as chaminés das fábricas, o crescimento urbano. Proponha aos estudantes compartilhar as respostas e mencione que a ferrovia (tópico que será estudado no próximo Capítulo), por onde trafega uma locomotiva a vapor, também é símbolo da industrialização. Oriente os estudantes a observar, como contraponto, a paisagem rural, ao fundo.
Observação
O conteúdo desta página contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
O rio Tâmisa
O rio Tâmisa, situado no sul da Inglaterra e com aproximadamente 340 quilômetros de extensão, foi fortemente agredido pelos resíduos industriais e pelo esgoto doméstico da cidade de Londres. Contudo, graças a um programa de despoluição, o Tâmisa se tornou um dos rios mais limpos do mundo em área metropolitana. Mas como será que tudo isso aconteceu?
Ao longo dos séculos dezoito e dezenove, o Pôrto de Londres já era o mais movimentado do mundo. Muitas embarcações mercantes e barcos de pesca navegavam no rio Tâmisa e uma grande circulação de mercadorias acompanhava o desenvolvimento industrial e mercantil da Inglaterra.
Contudo, além dos resíduos das fábricas, todo o esgoto doméstico de Londres era despejado no Tâmisa. Para termos uma ideia, na década de 1850, mais de quatrocentas mil toneladas de esgoto eram jogadas por dia no rio, o que equivalia a 150 milhões de toneladas por ano. O rio Tâmisa, nessa época, foi considerado biologicamente morto e o odor de suas águas era insuportável.
A criação de redes de esgoto para atender toda a cidade de Londres ocorreu a partir da década de 1860. Posteriormente, em 1910, teve início um programa de dragagem do rio Tâmisa e de tratamento da água com adição de cloro. Esses foram passos importantes na recuperação do rio. Mais tarde, já na década de 1960, uma empresa estatal de saneamento iniciou o tratamento biológico do esgoto nas estações de Crossness e Beckton. Na década seguinte, os resultados já podiam ser vistos, com o reaparecimento de espécies de peixes no rio Tâmisa.
Atualmente, dados da Agência Ambiental da Inglaterra e do País de Gales revelam que cento e vinte e uma espécies de peixes e cêrca de quatrocentas espécies de organismos invertebrados vivem no rio Tâmisa. Apesar disso, ainda hoje, toneladas de lixo são retiradas do rio diariamente.
Respostas e comentários
Orientações
Neste boxe apresentamos aos estudantes a história do Tâmisa, o principal rio da Inglaterra. Após ter sido considerado “morto” por cêrca de um século e meio, foi recuperado e hoje é considerado um dos rios mais limpos do mundo em área metropolitana. É importante que os estudantes observem os efeitos do alto nível de poluição do rio sobre a saúde da população, as medidas tomadas pelo govêrno inglês para a recuperação do Tâmisa e a eficácia de cada uma delas, como a construção da rede de esgotos em Londres (1865), a dragagem do rio e o tratamento da água (1910), a construção de estações de tratamento do esgoto (1950) e seu tratamento biológico (1960). Essas constatações podem ser comparadas à situação de alguns rios brasileiros na atualidade.
Além disso, é importante destacar que o conteúdo trabalhado nesta página possibilita mais uma vez o aprofundamento da abordagem do tema contemporâneo Educação ambiental.
Observação
O conteúdo desta página pode favorecer o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
A organização da classe operária
No início do século dezoito, os tecelões ingleses organizaram as primeiras associações trabalhistas. Os antigos artesãos, convertidos em trabalhadores assalariados das manufaturas, fundaram pequenos clubes com a intenção de obter aumento de salário. No entanto, as primeiras associações de trabalhadores organizadas e fortes surgiram apenas com o advento da grande indústria fabril. Por meio dessas organizações, os trabalhadores passaram a exigir melhores condições de trabalho.
Os “quebradores de máquinas”
Uma das primeiras fórmas de organização e resistência dos trabalhadores nas fábricas foi a ação dos chamados quebradores de máquinas. Alguns desses grupos se tornaram bastante conhecidos, como os da região de Lancashire, que atuaram entre 1778 e 1780, e os ludistas, que surgiram no princípio da década de 1810. Eles lutavam contra as longas jornadas e as péssimas condições de trabalho e defendiam a criação de leis trabalhistas e o fim das dispensas arbitrárias.
Os quebradores de máquinas invadiam as fábricas, em geral à noite, e destruíam os equipamentos e as máquinas. Eles foram reprimidos com violência.
Alguns historiadores consideram que os ludistas eram corajosos, mas ingênuos, pois atribuíam a origem de seus problemas às máquinas, e não aos proprietários delas. Para esses autores, os quebradores de máquinas não conseguiram perceber as mudanças profundas decorrentes da produção capitalista industrial.
Pesquisas mais recentes, no entanto, tendem a associar os ludistas a uma reação radical e consciente contra o sistema fabril. Segundo essa vertente, a principal intenção dos ludistas era mostrar que a fábrica não era a única nem a melhor fórma de organização do trabalho e da vida.
Ler a caricatura
foi representado usando um disfarce (no caso, roupas femininas). Por que os ludistas consideravam necessário usar disfarces em suas ações? Explique.
TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 2019. O livro narra a Revolução Industrial por meio da história de dois personagens que vivem na cidade de Londres no comêço do século . dezenove
Respostas e comentários
Orientações
O estudo da formação da classe operária é uma oportunidade para trabalhar o conceito de cidadania e conhecer as primeiras fórmas de associação do operariado com o objetivo de obter direitos.
A adoção do sistema de fábrica e a mecanização da produção tiveram efeitos dramáticos sobre a classe trabalhadora inglesa. O ludismo pode ser visto como um movimento de resistência a esses efeitos. A ação das trade unions e dos sindicatos visava obter conquistas relacionadas à jornada de trabalho, aos salários, à proteção ao trabalho infantil etcétera. O movimento cartista inaugurou uma nova frente de luta ao reivindicar condições para a participação dos trabalhadores na atividade política parlamentar. Esses movimentos se estenderam por todo o século dezenove e início do século vinte, atingindo outros países da Europa e da América à medida que a industrialização se expandia.
É interessante fazer um paralelo do início da industrialização nos países europeus e o início da industrialização no Brasil, investigando a situação dos trabalhadores e as primeiras reivindicações das associações operárias. No Brasil da segunda metade do século dezenove, a indústria praticamente inexistia. Os poucos estabelecimentos, em geral, eram movidos pela fôrça dos escravizados ou de trabalhadores livres pobres. Já no início do século vinte a quantidade de fábricas e de trabalhadores operários nas cidades era expressiva, assim como as greves e as mobilizações por direitos trabalhistas.
Resposta
Ler a caricatura: Provavelmente néd lúd foi representado com roupas femininas porque as ações de sabotagem dentro das fábricas eram reprimidas com violência e, como estratégia, os operários usavam disfarces para não serem facilmente identificados pelos donos das indústrias e pela polícia.
Observação
Os conteúdos desta página contribuem para o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Sugestão para o professor:
ROBSBAUM, Eric. Mundos do trabalho: novos estudos sobre a história operária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
O historiador Érik Robsbaum apresenta nesse livro uma análise da história da classe operária do século dezoitoao século vinte.
A hora dos sindicatos
Para combater a rotina extenuante e as péssimas condições de vida e de trabalho que enfrentavam, os operários começaram a se reunir em associações trabalhistas chamadas trade unions, ou sindicatos. O objetivo dessas associações era reunir os operários e organizar suas lutas para conquistar aumento de salário, redução das jornadas de trabalho, regulamentação das férias e do descanso semanal remunerado e limitação do trabalho infantil.
As associações trabalhistas na Inglaterra, no entanto, foram proibidas em 1799. Mesmo assim, muitas continuaram existindo clandestinamente. Em 1871, essas associações foram efetivamente legalizadas.
O cartismo
O cartismo nasceu em Londres, em 1838, quando uma associação de trabalhadores enviou ao Parlamento inglês a Carta do Povo (que deu origem ao nome “cartismo”). Nesse documento estavam reivindicações como o voto secreto, o sufrágio universal masculino e o direito dos operários a candidatar-se às cadeiras do Parlamento.
A petição recebeu mais de 1 milhão de assinaturas de trabalhadores. A recusa do Parlamento em aprovar a carta desencadeou uma onda de greves, manifestações e prisões. Por volta de 1840, o movimento apresentou outra petição, mais radical que a primeira. Além das reivindicações iniciais, o documento exigia aumento de salário e redução da jornada de trabalho. A nova petição recebeu cêrca de 3,3 milhões de assinaturas.
Aos poucos, as lutas operárias surtiram efeito. As leis trabalhistas do século dezenove e do início do século vinte melhoraram as condições de trabalho nas fábricas e nas minas inglesas. Além disso, essas conquistas fortaleceram as lutas dos trabalhadores de outros países.
Legislação trabalhista na Inglaterra |
|
---|---|
1833 |
Limitou o trabalho das crianças entre 9 e 13 anos a 8 horas diárias. |
1871 |
Legalizou o direito de formar sindicatos. |
1908 |
Instituiu os primeiros sistemas de seguro social. |
1919 |
Estabeleceu a jornada de 8 horas diárias. |
Elaborado com base em dados obtidos em: UK Parliament. Disponível em: https://oeds.link/tRLG06. Acesso em: 16 fev. 2022.
Respostas e comentários
Texto complementar
No texto a seguir ênguels descreve o surgimento do movimento operário na Inglaterra e a importância da concentração dos trabalhadores nas grandes cidades:
reticências Se por um lado a concentração da população é favorável e estimulante para as classes proprietárias, por outro torna ainda mais rápido o desenvolvimento dos operários. Os trabalhadores começam a sentir-se, em sua totalidade, como uma classe; descobrem que, fracos individualmente, unidos constituem uma ; o terreno é propício para sua autonomização em face da burguesia, para a formação de concepções próprias dos operários e adequadas à sua posição no mundo; eles começam a dar-se conta de que são oprimidos e adquirem importância política e social. As grandes cidades são o berço do movimento operário: foi nelas que, pela primeira vez, os operários começaram a refletir sobre suas condições e a lutar; foi nelas que, pela primeira vez, manifestou-se o contraste entre proletariado e burguesia; nelas surgiram as associações operárias, o cartismo e o socialismo. fôrça reticências Sem as grandes cidades e seu influxo estimulante para o desenvolvimento da inteligência pública, os operários ainda estariam longe do ponto em que se encontram hoje. reticências
. ênguêl frederíc A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010. . 160-161 página.
Observação
Os conteúdos desta página favorecem mais uma vez o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Sugestões complementares referentes ao Capítulo:
ROBSBAUM, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 6. edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.
O livro apresenta uma interpretação da história da Revolução industrial na Inglaterra a partir do século dezoito e seus impactos nas posteriores transformações econômicas, produtivas e nas relações de trabalho até a atualidade.
MATTOS, Marcelo Badaró. A classe trabalhadora: de márks ao nosso tempo. São Paulo: Boitempo, 2019.
O livro discute a situação do proletariado no mundo de hoje à luz das interpretações teóricas e conceitos elaborados por márks e ênguels.
Documento
O trabalho das crianças
Nas primeiras fábricas de tecido inglesas, era muito comum que crianças trabalhassem por longas horas. Séra Cárpenter foi uma delas. Séra passou a viver e a trabalhar em uma tecelagem em Derbyshire quando tinha dez anos de idade. Muito tempo depois, em 23 de junho de 1849, deu este depoimento sobre sua experiência ao jornal The Ashton Chronicle.
Depoimento
Nossa refeição mais comum era bolo de aveia. Era pesado e grosseiro. Esse bolo era colocado em latas. Leite fervente e água eram misturados a ele. Esse era nosso café da manhã e nossa ceia. Nosso jantar era torta de batata com bacon cozido, um pouco aqui e um pouco lá, tão grosso de gordura que mal dava para comer, embora tivéssemos fome o suficiente para comer qualquer coisa. Chá, nunca vimos, nem manteiga. Comíamos queijo e pão preto uma vez ao ano. Só nos permitiam três refeições por dia, apesar de nos levantarmos às cinco da manhã e trabalharmos até as nove da noite.
reticências
Existia um contramestre chamado William ríus reticências. Ele veio até mim e me perguntou o que meu maquinário fazia parado. Eu disse que não sabia porque não tinha sido eu quem o havia parado reticências. ríus começou me batendo com uma vara, e reticências eu disse para ele que minha mãe ficaria sabendo disso. Então, ele saiu para buscar o mestre, que passou a lidar comigo. O mestre começou a me bater com um pau na cabeça até que ela ficasse repleta de caroços e de sangue. Minha cabeça ficou tão ruim que eu não consegui dormir por um longo tempo reticências.
Séra Cárpenter. SpartacusEducational. Disponível em: https://oeds.link/RuKAF9. Acesso em: 16 fevereiro 2022. (Tradução nossa).
- Quando Séra Cárpenter deu esse depoimento e para quem o fez?
- Quantas horas as crianças trabalhavam na fábrica por dia, segundo o depoimento?
- Você considera que a alimentação e as horas de descanso que as crianças tinham eram adequadas? Por quê?
- Uma situação como essa seria possível nos dias de hoje? Explique.
Respostas e comentários
Orientações
O longo e extenuante trabalho nas fábricas têxteis inglesas deixava as crianças muito cansadas e sonolentas. Quando diminuíam a velocidade de suas tarefas, as crianças costumavam receber castigos físicos. Também havia castigos para as crianças que chegavam atrasadas ou que conversassem durante as atividades. Aquelas que fugissem eram presas e fichadas na polícia. A extrema exploração do trabalho infantil na Inglaterra ficou registrada nos diversos relatórios e depoimentos do período. A repercussão que essas denúncias tiveram contribuiu para a progressiva regulamentação do trabalho infantil pelas autoridades inglesas.
O conteúdo trabalhado nesta seção possibilita abordar com os estudantes o tema contemporâneo Direitos da criança e do adolescente.
Respostas
1. Séra Cárpenter deu esse depoimento em 23 de junho de 1849 para o jornal The Ashton Chronicle.
2. Segundo o depoimento as crianças trabalhavam 16 horas por dia na fábrica nesse período.
3. Espera-se que os estudantes respondam que não, afinal as crianças consumiam alimentos com poucos nutrientes, ficando condicionadas a uma dieta pobre, distante do que seria necessário para garantir um desenvolvimento físico e intelectual saudável. Além disso, as horas de lazer e de descanso eram insuficientes para crianças em fase de desenvolvimento.
4. Atualmente uma situação como a que Séra Cárpenter narra seria considerada criminosa, pois iria contra os princípios estabelecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, contra os direitos das crianças e dos adolescentes e contra as leis estabelecidas na Inglaterra e em diversos outros países.
Observação
O conteúdo desta seção favorece o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Atividade complementar
Sugerimos uma pesquisa em grupo sobre o trabalho infantil na atualidade. Os estudantes devem montar um pequeno jornal com artigos relativos à regulamentação do trabalho infantil, aos motivos mais comuns que levam as crianças a trabalhar, às diferenças entre o trabalho no campo e na cidade e seus impactos para a saúde e o desenvolvimento da criança. Depois eles podem tirar cópia dos jornais ou disponibilizar para que outros colegas da escola possam ler os artigos com os resultados da pesquisa feita por eles. Para finalizar, discuta com os estudantes quais são os riscos e os prejuízos do ingresso precoce no mercado de trabalho. O trabalho proposto nesta atividade possibilita desenvolver as práticas de revisão bibliográfica, análise documental, análise de mídias sociais e observação, tomada de nota e construção de relatórios.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
1. Copie o quadro a seguir em seu caderno. Com base em seus conhecimentos e nas informações vistas neste Capítulo, preencha-o com as características de cada fórma de trabalho listada.
Formas de trabalho |
Características |
---|---|
Artesanato |
|
Sistema doméstico |
|
Manufatura |
|
Maquinofatura |
- Neste Capítulo, conhecemos um pouco do cotidiano dos operários nas chamadas cidades industriais. Agora, reúna-se com um colega para fazer as atividades a seguir.
- Durante a Revolução Industrial, as cidades industriais eram ocupadas de maneira igualitária por seus habitantes? Por quê?
- E nos dias de hoje, será que a ocupação das cidades reproduz as diferenças sociais? Citem exemplos para justificar sua resposta.
- O jeito de pensar a cidade mudou muito ao longo dos séculos. Em 2020, por exemplo, um órgão ligado à Organização das Nações Unidas lançou uma carta-manifesto, apresentando a necessidade de construirmos gestões mais inclusivas e sustentáveis para as cidades. Leia o texto a seguir e, com os colegas, pensem em uma ação que possa garantir ao menos uma melhoria na cidade em que vocês vivem.
[Em carta, o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos ( Ônu Ábitat)] defendeu a importância de garantir o direito à moradia adequada reticências, assim como abordar os impactos da exclusão socioeconômica e da segregação territorial reticências.
O documento defende ainda a implantação de políticas públicas reticências a partir de três grandes desafios para as futuras gestões municipais: o sanitário, com a ampliação das melhorias habitacionais e do acesso ao saneamento básico nos assentamentos precários, principalmente após a pandemia da covíd-19; o econômico, com a elaboração de um plano de desenvolvimento econômico solidário; e o democrático, por meio de uma gestão pública participativa, integrada e transversal.
Ônu Ábitatapoia manifesto que pede políticas urbanas para redução das desigualdades no Nações Unidas Brasil, 9 setembro 2020. Disponível em: https://oeds.link/47xfjU. Acesso em: 16 fevereiro 2022.
3. Observe atentamente a tirinha a seguir para responder às questões.
- Identifique as personagens que aparecem na tirinha e o papel que elas representam.
- Qual é a crítica feita nessa tirinha? Justifique.
- A tentativa de substituir a mão de obra humana por máquinas gerou diversos conflitos ao longo da história. Cite um exemplo e explique-o.
Respostas e comentários
Seção Atividades
Objeto de conhecimento
• Revolução Industrial e seus impactos na produção e circulação de povos, produtos e culturas.
Habilidade
São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:
• ê éfe zero oito agá ih zero três (atividades 1, 2, 3)
Respostas
1. Artesanato: os artesãos conheciam as etapas de fabricação do produto, possuíam as ferramentas e matérias-primas, eram responsáveis por sua venda e controlavam o ritmo e o tempo de trabalho.
Sistema doméstico: o artesão passou a ser contratado por um empresário que lhe fornecia a matéria-prima e se responsabilizava por vendê-la. Nesse sistema, o artesão conhecia as etapas de produção, mas perdia o contato com o consumidor.
Manufatura: nesse sistema diversos trabalhadores concentravam-se no mesmo local. O trabalhador não detinha mais o contrôle do tempo e do ritmo de trabalho e deixou de ser proprietário dos meios de produção. Surgiu a figura do patrão, responsável por vigiar os demais trabalhadores.
Maquinofatura: com a introdução de máquinas no sistema produtivo, o trabalhador foi convertido em operador, obrigado a adequar seu ritmo de trabalho ao da máquina, e perdeu o conhecimento do processo de produção.
2. a) A ocupação da cidade refletia as diferenças sociais dos burgueses e dos operários. Os primeiros habitavam as regiões centrais das cidades, áreas que recebiam mais cuidados dos administradores. Os segundos residiam nos bairros periféricos, onde as ruas eram mal iluminadas e sujas, o que denunciava a falta de infraestrutura.
b) Atualmente, as cidades ainda refletem as divisões sociais, como pode ser observado na divisão dos bairros ricos e periféricos.
c) A resposta depende das considerações dos estudantes acerca da realidade local, mas é esperado que mencionem ações relacionadas às condições habitacionais e ao saneamento básico.
3. a) Na tira aparecem um homem vestindo terno e gravata, que pode representar um gerente ou mesmo o dono da fábrica, um robô e um operário da linha de produção.
b) A tira critica o modêlo de trabalho da industrialização, que transformou o trabalhador em um operador de máquinas, alheio ao processo de produção.
c) O ludismo, um dos primeiros movimentos de trabalhadores contra a substituição da mão de obra humana pela máquina e contra as péssimas condições de trabalho nas fábricas, é um exemplo. Os ludistas quebravam máquinas, pois eles as consideravam a causa da miséria dos trabalhadores.
CAPITULO 3 OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Há alguns anos, o diretor de marketing da séde brasileira de uma empresa de telefonia, ao falar sobre um modêlo de celular prestes a ser lançado, afirmou que, antes de tudo, era preciso criar nas pessoas o desejo de possuir esse produto.
Essa história ajuda a entender as transformações trazidas pela Revolução Industrial. Antes dela, um produto era lançado no mercado para responder a uma demanda. Depois da mecanização da produção, foi possível fabricar em quantidades tão grandes, com custos tão baixos, que as indústrias passaram a investir na criação de demandas, ou seja, já que não havia necessidade de tantos e tão diversos produtos, os fabricantes começaram a provocar nas pessoas o desejo pelas mercadorias.
Respostas e comentários
Sobre o Capítulo
O Capítulo propõe uma reflexão sobre os profundos impactos da Revolução Industrial na sociedade capitalista ao longo do tempo até os dias de hoje. O estudante será estimulado, assim, a analisar criticamente a própria realidade, a perceber a historicidade de alguns aspectos da sociedade em que vive e o processo de formação do mundo contemporâneo. É interessante, nesse momento, que o estudante reflita sobre as necessidades e os desejos que a sociedade industrial soube tão bem manejar para movimentar o ágil mercado produtivo e o consumo de mercadorias. Dessa , surgiram as empresas de propaganda e de fórma marketing, atreladas às indústrias. É importante analisar esse aspecto da sociedade industrial e capitalista porque ele influi no cotidiano, nos hábitos, na cultura e até mesmo no imaginário das pessoas. A propaganda, os jornais, as revistas, o rádio, o cinema e depois a televisão tiveram um papel fundamental na criação de costumes, em certa medida contribuindo para a homogeneização cultural, já que diversos povos passaram a ter acesso aos veículos de comunicação de massa e aos produtos industrializados comercializados em todos os continentes. Podemos dizer que com o avanço do processo industrial, tecnológico e do capitalismo essas condições se intensificaram de tal modo que os povos de quase todo o globo podem acessar informações e produtos semelhantes com uma facilidade e rapidez cada vez maior.
Observação
O conteúdo desta página possibilita iniciar o trabalho que será desenvolvido ao longo do capítulo com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo
ê éfe zero oito agá ih zero três: Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas.
Circulação de povos, mercadorias e culturas
A mecanização da produção possibilitou uma multiplicação rápida e constante de mercadorias e serviços. Graças a invenções como os trens, os navios a vapor e o telégrafo, as distâncias do planeta foram encurtadas, o que possibilitou a integração da economia capitalista em todos os continentes. Com os novos meios de transporte e de comunicação, a circulação de mercadorias se expandiu vertiginosamente. Os fluxos de capital e de pessoas se aceleraram na mesma velocidade.
Se, por um lado, a industrialização impulsionou a economia da Inglaterra e, posteriormente, dos outros países que passaram por esse processo, por outro, ela causou a desorganização do processo produtivo em diversos locais. Antes da Revolução Industrial, a Índia era tradicionalmente a exportadora de tecidos para a Inglaterra. Com a industrialização, passou a fornecer apenas o algodão, que era a matéria-prima utilizada pelas tecelagens inglesas, e a importar o tecido industrializado, entre outros produtos. Como resultado, a maioria das tecelagens indianas faliu. A produção, em sua maioria artesanal e doméstica, foi incapaz de concorrer com os produtos industrializados ingleses.
Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.
As ferrovias
As necessidades da indústria de carvão foram responsáveis, em grande parte, pelo desenvolvimento dos trens e das estradas de ferro. Era preciso encontrar meios eficientes para trazer grandes quantidades de carvão do fundo das minas até a superfície e, também, para levar o carvão até os pontos de embarque para comercialização.
Inicialmente, eram usados carros de mão sobre trilhos para trazer o carvão do fundo das minas e levá-lo até um canal ou rio. Mais tarde, foram construídas estradas de ferro para que vagões com maior capacidade de carga fossem puxados por cavalos. Em 1804, começou a funcionar a primeira locomotiva a vapor. A primeira linha férrea de mercadorias e passageiros foi a Liverpool-Manchester, inaugurada em 1830.
As vias férreas se expandiram rapidamente na Inglaterra e em vários outros países. Os trens passaram a transportar, além de mercadorias e passageiros, jornais, correspondências e todo tipo de carga. As viagens tornaram-se mais seguras e rápidas. O transporte ferroviário virou símbolo de progresso e velocidade e transformou as paisagens.
Respostas e comentários
Orientações
Procure deixar claro para os estudantes como a industrialização de alguns países resultou na desorganização do processo produtivo de outros. O exemplo da Índia é bastante ilustrativo. Mais informações sobre a situação da Índia após a Revolução Industrial e as relações com a Inglaterra, à época a maior potência mundial, podem ser obtidas na Unidade seis deste volume (“A era do imperialismo”).
A respeito da relação entre a indústria de carvão e o desenvolvimento do transporte ferroviário na Inglaterra, destaque que a primeira linha de locomotivas a vapor ligava a região de carvão de Durham ao litoral inglês. Vagões correndo sobre trilhos e impulsionados por máquinas respondiam à necessidade de transporte mais barato para percursos curtos e longos.
O conteúdo desenvolvido nesta página possibilita a abordagem do tema contemporâneo Ciência e tecnologia.
Sugestão para o estudante:
TEMPOS modernos. Direção: chárlis Chaplin. Estados Unidos, 1936. Duração: 87 minutos.
Nesse clássico do mestre do cinema mudo, chárlis Chaplin, o estudante vai se divertir com o personagem Carlitos e refletir sobre as mudanças que as fábricas trouxeram para a vida das pessoas no período que se seguiu à Revolução Industrial, principalmente nas atividades produtivas e no modo como os trabalhadores assalariados foram incorporados pelas indústrias.
Observação
O conteúdo desta página favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Navios a vapor
O primeiro barco equipado com um motor a vapor foi criado pelo estadunidense Róbert Fúlton, em 1807, nos Estados Unidos. Essa invenção mostrou-se rentável e logo passou a ser empregada nas navegações fluvial e costeira.
Em 1819, o primeiro navio a vapor, chamado Savannah, cruzou o oceano Atlântico, entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Na década de 1860, as grandes companhias de navegação inglesas se desenvolveram e passaram a realizar viagens entre diferentes continentes, do Extremo Oriente às Américas.
A travessia regular dos oceanos foi iniciada pelos chamados navios postais a vapor. O transporte de correspondências era um negócio lucrativo para as companhias marítimas.
Telégrafo
A comunicação de longa distância sofreu uma grande reviravolta com a invenção do telégrafo. Ele foi criado no século dezoito e usava códigos para transmitir informações de um lugar para outro. O principal código utilizado pelos telégrafos foi o código Morse, que surgiu com a criação do telégrafo elétrico na década de 1830. A comunicação via telégrafo desenvolveu-se com a construção de cabos submarinos, que encurtaram as distâncias e, assim, integraram o mundo.
O telégrafo foi usado pelos capitalistas para ampliar e agilizar o comércio e a administração das empresas. Os governos o utilizaram para fins militares e para dar mais eficiência à administração do país. Já os cidadãos comuns se comunicavam com parentes em regiões distantes e viabilizavam negócios.
Os jornais diários também foram beneficiados pelo telégrafo. Eles passaram a difundir notícias do mundo inteiro, recolhendo informações de repórteres que enviavam textos por meio de telegramas.
Respostas e comentários
Texto complementar
O texto a seguir traz mais informações sobre as máquinas e alguns inventos do século dezoito:
Depois do invento de uót, foram desenvolvidas outras máquinas igualmente fundamentais para o nascimento da indústria moderna. A partir de 1700 e por todo o século dezoito, um dos setores que mais se favoreceu da engenhosidade e investimento inglês foi o têxtil. Máquinas e mais máquinas foram criadas para melhorar a qualidade dos fios e beneficiar o algodão. Em 1730, por exemplo, o inventor djôn quêideu a largada para o desenvolvimento de toda uma nova tecnologia na produção de tecidos. Três anos mais tarde, ele apresentava à Inglaterra uma máquina chamada “flying shuttle”, que possibilitava entrelaçar mecanicamente o fio transversal da trama por meio da urdidura longitudinal, formando o tecido. Em 1764, foi a vez de o tecelão djêimes rargrêivs colocar o nome na história do setor têxtil com a criação da spinning jenny, uma roda de fiar múltipla, capaz de produzir dezesseis fios ao mesmo tempo. Em meio à revolução têxtil, a máquina a vapor, claro, estava presente. Só que, por ser muito barulhenta, o maquinismo normalmente ficava do lado de fóra, fazendo girar uma roda de onde saíam correias que acionavam eixos através da parede da fábrica. Dos eixos no teto desciam outras correias que acionavam cada tear no chão da fábrica. Em antigas indústrias ainda há vestígios desse sistema. Mais tarde, o conjunto passaria a ser acionado por motores elétricos. Com tantas invenções, a Inglaterra ganhou mercado e se tornou a maior exportadora mundial de tecidos.
A HISTÓRIA das máquinas. Abimác 70 anos. São Paulo: Abimác Sindimác, 2006. página. 17. Acesso em: 15 março. 2022.
Orientações
É importante destacar que o conteúdo apresentado nesta página possibilita mais uma vez ampliar a abordagem do tema contemporâneo Ciência e Tecnologia.
Observação
O conteúdo desta página contribui para o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Circulação de pessoas
Outro efeito da integração do mercado mundial foi o aumento da movimentação de pessoas e do contato entre culturas.
Durante o século dezenove, por diferentes motivos, milhões de europeus e asiáticos saíram de seus países fugindo de guerras ou buscando uma vida melhor. Mudaram-se tanto para países da Europa como para países de outros continentes, principalmente a América. Essa movimentação foi possível, em grande parte, em função do desenvolvimento dos meios de transporte. Por outro lado, as notícias sobre os lugares mais distantes circulavam e despertavam interesse e esperança nas pessoas.
Muitas situações podem ilustrar essa conjuntura. Entre elas, é possível mencionar, por exemplo, a descoberta de ouro no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que ocorreu em 1849. O aumento populacional na região provocado por essa descoberta fez surgir uma extensa rede de comércio que ligava regiões costeiras do oceano Pacífico. Se o ouro atraiu pessoas de diversos lugares, como mexicanos, chilenos e peruanos, também atraiu milhares de chineses que buscavam oportunidades na rede de comércio que abastecia os novos moradores da região.
Os chineses levaram consigo a larga experiência com o comércio e introduziram uma série de elementos culturais orientais no Ocidente. Dados estatísticos da época mostram o grande fluxo migratório de chineses para a Califórnia. Ao final do período, 25% dos habitantes não californianos do estado eram chineses.
Respostas e comentários
Texto complementar
O poeta charles bôdelér viveu no século dezenove e acompanhou o avanço da urbanização e da industrialização. No poema a seguir é possível captar suas impressões sobre o fenômeno da multidão nas cidades. Se desejar, apresente o texto aos estudantes e peça que reflitam sobre o contexto descrito no poema.
A rua em derredor era um ruído incomum,
Longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;
Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que embala e o frenesi que mata. reticências
Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
Não sabes aonde vou, não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado – e o sabia demais!
Flores do mal. São Paulo: Max Limonád, 1985. página. 236.
Observação
O conteúdo desta página favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.
Sugestões complementares referentes ao Capítulo:
. A era do capital: 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.
Nesse livro Hobsbawm apresenta uma análise da consolidação do capitalismo industrial.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição. São Paulo: êduspi, 2008.
Nessa obra, o geógrafo Milton Santos procura analisar a construção do espaço geográfico no mundo contemporâneo globalizado utilizando ferramentas de diferentes disciplinas.
Integrar conhecimentos
História e Geografia
A Revolução Industrial e o espaço geográfico
Ao longo da história, os seres humanos transformaram o espaço e modificaram de fórma impactante sua relação com a natureza.
O geógrafo Milton Santos considera três momentos para se referir ao meio geográfico: o “meio natural”, o “meio técnico” e o “meio técnico-científico-informacional”. Vamos compreender melhor a visão do autor?
Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza reticências suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida reticências.
Esse meio natural reticências era utilizado pelo homem sem grandes transformações. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza reticências.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição São Paulo: êduspi, 2008. página 235-236.
Esse cenário predominou até a Revolução Industrial, quando ocorreu uma transformação extensa e profunda na relação humana com a natureza. Com a produção de mercadorias em larga escala, a existência de meios de transporte mais eficientes e um amplo comércio internacional, surge o meio técnico, que:
reticências vê a emergência do espaço mecanizado. Os objetos que formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são culturais e técnicos, ao mesmo tempo. reticências
Os objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua própria razão reticências. Utilizando novos materiais e transgredindo a distância, o homem começa a fabricar um tempo novo reticências.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição São Paulo: êduspi, 2008. página 236-237.
Para o geógrafo, no momento atual vivemos no meio técnico-científico-informacional, em que a ciência, a tecnologia e a informação são utilizadas nas transformações do espaço geográfico.
Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. reticências
Da mesma fórma como participam da criação de novos processos vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais), a ciência e a tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da produção, da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu substrato.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição São Paulo: êduspi, 2008. página 237-238.
Após a leitura atenta dos trechos, responda:- Qual é a relação entre a Revolução Industrial e o meio técnico, de acôrdo com os trechos anteriores?
- Ao definir “meio natural”, Milton Santos diz que “as técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza”. O que significa isso? Como a Revolução Industrial alterou essa relação?
Respostas e comentários
Respostas
1. É o meio técnico que testemunha o surgimento do espaço mecanizado. Os objetos técnicos possuem uma fórma de funcionamento própria, independente dos ritmos da natureza, e com eles o ser humano pôde “transgredir distâncias” e construir um “tempo novo”.
Se desejar aprofundar com os estudantes noções do pensamento geográfico de Milton Santos, comente que, para o geógrafo, a emergência do meio técnico é diferente de um lugar para outro, dependendo do contexto, do espaço, dos métodos utilizados e dos usos destinados às máquinas. Mas, de maneira geral, é importante destacar que “A história das chamadas relações entre sociedade e natureza é, em todos os lugares habitados, a da substituição de um meio natural, dado a determinada sociedade, por um meio cada vez mais artificializado, isto é, sucessivamente instrumentalizado por essa mesma sociedade”. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. edição. São Paulo: êduspi, 2008. página. 235.
2. Milton Santos considera que, no meio natural, as ações dos seres humanos não constituíam atos agressivos à natureza; pelo contrário, as técnicas utilizadas respeitavam o ritmo e as condições da natureza. Isso deixou de ocorrer após a Revolução Industrial, já que no meio técnico o “poder” dos seres humanos se sobrepõe ao “poder” da natureza; os seres humanos exploram os recursos naturais sem respeitar o ritmo e as condições da natureza.
Caso queria falar um pouco mais sobre o meio geográfico atual com a turma, comente que o conceito de meio técnico-científico-informacional é bastante conhecido entre os estudiosos de Geografia. Esse conceito foi desenvolvido por Milton Santos ao longo de pelo menos duas décadas e é apresentado em várias de suas obras, sendo mais aprofundado em A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção, motivo pelo qual selecionamos trechos dessa obra nesta seção. Em sua obra, Milton Santos relaciona cada “período” do meio geográfico a uma “época histórica”.
Atividades
Faça as atividades no caderno.
- Explique por que a ferrovia se tornou um símbolo de progresso e velocidade no século dezenove.
- De que fórma os navios a vapor contribuíram para a comunicação entre as pessoas que viviam em diferentes continentes?
- Sob orientação do professor, reúnam-se em grupos. Leiam o texto a seguir e respondam ao que se pede.
Antes da existência da rede de telégrafo e, sobretudo, dos cabos submarinos, o papel de correspondente jornalístico restringia-se a isto: correspondiam-se. Escreviam cartas de onde estavam e que eram enviadas por navio, trem ou carruagem dos correios. As notícias podiam chegar com dias ou semanas de atraso e, assim, não eram os elementos mais instigantes dos jornais. Com o advento do telégrafo, tudo isso mudou. As notícias podiam ser instantâneas; por isso, precisavam ser apuradas e relatadas com a maior velocidade possível.
reticências A princípio, os proprietários de jornais viam o telégrafo com alguma reserva. Havia os que temiam que ele liquidasse seu negócio; outros receavam que ele facilitasse a emergência de novos concorrentes. Com o tempo, porém, a disponibilidade de notícias quase imediatas de lugares remotos ajudaria os jornais a ampliar sua base de leitores e a desempenhar novos papéis.
, Rogê. A ascensão da mídia: a história dos meios de comunicação de gilgaméch ao Google. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. página 198.
- Segundo o texto, como os jornalistas exerciam sua profissão antes da invenção do telégrafo?
- Por que os proprietários de jornais encaravam o telégrafo com reservas? Será que atitude semelhante pode acontecer com alguma invenção da atualidade? Expliquem.
4. Em 2019, os cêrca de 12 mil chineses que construíram, no século dezenove, a primeira linha férrea transcontinental na América do Norte tiveram seu trabalho reconhecido e homenageado pelo govêrno dos Estados Unidos. Seus descendentes participaram de uma cerimônia de homenagem.
Os trabalhadores ferroviários chineses foram quase esquecidos pela História. Agora eles estão recebendo o devido reconhecimento.
Já se passaram 150 anos desde que duas ferrovias foram unidas para formar a primeira Ferrovia Transcontinental [nos Estados Unidos]. Em uma cerimônia em Utah, os trabalhadores ferroviários chineses foram reconhecidos pelo papel fundamental que desempenharam em sua construção.
Zireic, Karen. Chinese railroad workers were almost written out of History. Now they’re getting their due. The New York Times, 14 maio 2019. Disponível em: https://oeds.link/jDmzjr. Acesso em: 16 fevereiro 2022. (Tradução nossa.)
- Qual é o assunto da notícia?
- A linha férrea a que se refere a notícia é conhecida como Pacific Railway. Ela foi construída por duas frentes de trabalhadores. Uma trabalhou a partir do estado de Utah, em direção à costa oeste, e outra a partir do estado da Califórnia, em direção à costa leste. Em 1869, os dois trechos foram unidos. A partir do que você estudou neste Capítulo, responda: em que frente os trabalhadores chineses atuaram? Explique.
Respostas e comentários
Seção Atividades
Objeto de conhecimento
• Revolução Industrial e seus impactos na produção e circulação de povos, produtos e culturas.
Habilidade
São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:
• ê éfe zero oito agá ih zero três (atividades 1, 2, 3, 4)
Respostas
1. A ferrovia expandiu-se rapidamente para vários países e passou a transportar, além de mercadorias, passageiros, correspondências e jornais. Ela modificou as paisagens com as estradas de ferro, as estações, as pontes e os túneis e transformou a vida do cidadão comum. As viagens tornaram-se mais seguras e rápidas e, em muitas regiões, a vida passou a se pautar pelos horários dos trens.
2. Além dos navios a vapor, que tornaram as viagens mais rápidas, havia os navios postais a vapor, que transportavam correspondências e jornais de várias partes do mundo.
3. a) Antes da invenção do telégrafo, os jornalistas se comunicavam por meio de correspondências que costumavam chegar de navio, trem ou carruagem e, assim, as notícias demoravam para chegar de um lugar a outro.
b) Alguns proprietários de jornais temiam que o telégrafo liquidasse seu negócio; outros receavam que ele facilitasse a emergência de novos concorrentes.
4. a) O reconhecimento dos Estados Unidos em relação à participação dos chineses na construção da primeira ferrovia transcontinental dos Estados Unidos.
b) Espera-se que os estudantes expliquem que os chineses chegaram aos Estados Unidos com o objetivo de se instalar na Califórnia. Assim, é mais provável que tenham participado da frente que ia da Califórnia em direção ao leste dos Estados Unidos.
Ser no mundo
Importando costumes
O desenvolvimento tecnológico que ocorreu na Europa durante a Revolução Industrial promoveu a circulação de mercadorias europeias nas mais diversas regiões do mundo. Com os produtos, exportavam-se também os hábitos de uso e os costumes europeus. Esse fato mostra que as ideias também circulam!
Um exemplo desse processo são as peças de vestuário e os costumes que ditavam os rumos da moda. No Brasil, especialmente entre meados do século dezenove e o início do século vinte, após a Segunda Revolução Industrial, roupas femininas e masculinas eram profundamente influenciadas pela moda europeia. A elite brasileira, em geral, era o grupo social que mais consumia produtos, tendências e ideias da moda que surgiam nas ruas de Paris e Londres.
Mas será que o estilo dessas peças de vestuário, ora importadas diretamente da Europa pelos grandes magazines, como os da rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, ora reproduzidas por costureiras e confecções daqui, adequava-se às condições e aos costumes do Brasil?
Respostas e comentários
Seção Ser no mundo
Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1 e número 7, esta seção estimula os estudantes a valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva e a argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global reticências ponto
Os conteúdos trabalhados na seção também buscam levar os estudantes a desenvolver as Competências Específicas do Componente Curricular História número 1 e número 5: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (1) e Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes populações (5).
É importante destacar que o conteúdo desta seção possibilita a abordagem do tema contemporâneo Educação para o consumo.
Além disso, o trabalho proposto nas atividades favorece as práticas de análise documental e observação, tomada de nota e construção de relatórios.
Habilidade
ê éfe zero oito agá ih zero três: Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas.
Entre o final do século dezenove e o comêço do século vinte, por exemplo, grande parte dos homens brasileiros da elite gostava de se vestir com:
reticências várias camadas de roupas de lã sob fraques de casimiras inglesas quentíssimas, com cores escuras e sombrias; ceroulas, coletes, camisa de manga comprida com colarinho alto e apertado, luvas, cartola e polainas. reticências
GORBÉRGUI, Marissa. Parc Royal: um magazine na modernidade carioca. 2013. Dissertação (Mestrado em História, Política e Bens Culturais) — Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2013. página 21.
- Que elementos do vestuário masculino citados no texto indicam a influência europeia?
- Com base no texto que você acabou de ler, será que os homens brasileiros que se vestiam à moda europeia entre os séculos dezenove e vinte se sentiam confortáveis? Por quê?
Hábitos globalizados
Por que certos povos utilizam produtos que não fazem sentido para sua realidade e sua cultura? Seria para exibir ao mundo uma aparência de requinte, de riqueza?
Essas são questões bastante complexas. O historiador Nicolau SEVITCHENCO nos dá algumas pistas para pensar sobre elas.
As pessoas são aquilo que consomem. O fundamental da comunicação — o potencial de atrair e cativar — já não está mais concentrado nas qualidades humanas da pessoa, mas na qualidade das mercadorias que ela ostenta reticências. Em outras palavras, sua visibilidade social e seu poder de sedução são reticências proporcionais ao seu poder de compra.
SEVITCHENCO, Nicolau. A corrida para o século vinte e um: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. página 64.
Na atualidade, com a globalização, muitos hábitos de consumo também se globalizaram. Existem lojas de redes mundiais de fast-food nos mais remotos rincões do planeta. Quanto ao vestuário, a produção é feita de fórma industrial na maior parte dos países, o que estabelece certa padronização nos estilos de se vestir, ao menos na moda do dia a dia.
Esse contexto se estende a outros produtos. É comum que as redes internacionais de lanchonetes, ao se instalar no Brasil, por exemplo, insiram produtos nacionais no cardápio, para agradar os consumidores locais e aproximar-se dos gostos e do paladar do brasileiro. O pão de queijo, o “pão na chapa” e a tapioca, por exemplo, aparecem no cardápio das redes em algumas regiões do país.
- Em seu caderno, escreva um parágrafo relacionando as ideias do historiador Nicolau SEVITCHENCO ao consumo de produtos e ideias “importados”. Você já viveu alguma experiência que se relacione a essa situação? Em caso afirmativo, descreva-a.
- Em sua opinião, os brasileiros de hoje consomem muitos produtos “importados” que influenciam nossos gostos e nossas preferências? Essa influência é negativa ou positiva? Em que condições o consumo desses produtos é consciente?
Respostas e comentários
Respostas
1. O uso de tecidos finos, como as “casimiras inglesas”, e de peças que faziam parte do vestuário europeu, como fraques, luvas, cartolas, polainas, sobretudos, casacos longos e chapéus decorados.
2. Certamente não. Os trajes pesados, as várias camadas de roupa, o material dos tecidos (muitos deles feitos com lã) e os diversos acessórios, como luvas e polainas, não eram práticos nem adequados ao clima do Brasil, em geral mais quente que o da Europa.
3. Nicolau SEVITCHENCO afirma que “as pessoas são aquilo que consomem”, provavelmente atentando ao fato de que elas querem transmitir algum tipo de “recado” ao mundo no momento em que consomem determinados produtos. Para o historiador, no mundo industrializado e globalizado, o que importa, mais do que as qualidades das pessoas, é a qualidade das mercadorias utilizadas. É possível relacionar essa visão com a temática da moda europeia no Brasil entre os séculos dezenove e vinte e com o consumo de produtos e ideias “importados” na atualidade.
4. Resposta pessoal. Se possível, comente que o gôsto por mercadorias ou ideias estrangeiras não é em si “negativo” ou “positivo”. A consciência ou a ausência dela em relação às escolhas de consumo é que determinará se a influência será positiva ou negativa.
Questões para autoavaliação
Ao final de cada Unidade deste livro, incluímos questões que podem ser sugeridas aos estudantes para que eles realizem uma autoavaliação sobre o que apreenderam ao estudar os conteúdos da Unidade. Eles podem respondê-las de fórma escrita, individualmente, ou podem conversar sobre elas em duplas ou em grupos, de maneira que sejam incentivadas a oralidade e a troca de ideias na sala de aula. As questões aqui apresentadas também podem ser utilizadas para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estudantes.
Nesta Unidade, as questões sugeridas são:
1. Qual foi o papel das revoluções inglesas no desenvolvimento do capitalismo industrial na Inglaterra? 2. Que fatores tornaram a Inglaterra pioneira no processo de industrialização?
3. Que transformações a industrialização trouxe às relações sociais e de produção e ao cotidiano das pessoas?
Glossário
- Parlamento
- O Parlamento inglês era composto, desde o século , da Câmara dos Lordes, cujos membros eram nomeados pelo rei, e da Câmara dos Comuns, com representantes eleitos por moradores abastados das diversas regiões do reino. catorze
- Voltar para o texto
- Puritano
- Palavra utilizada para se referir aos calvinistas na Inglaterra.
- Voltar para o texto
- Cabeça-redonda
- Membro do exército parlamentar, assim chamado devido ao córte redondo de cabelo, típico dos puritanos.
- Voltar para o texto
- Lordes espirituais e temporais
- Pertencentes à Câmara dos Lordes do Parlamento, formada por arcebispos e bispos da Igreja anglicana (lordes espirituais) e membros da nobreza britânica (lordes temporais).
- Voltar para o texto
- Comuns
- Refere-se à Câmara dos Comuns, uma das instituições do Parlamento inglês que reuniam a burguesia urbana e a pequena nobreza no século . dezessete
- Voltar para o texto
- Líquen
- Organismo formado pela interação entre certos tipos de fungos e algas, muito sensível à poluição atmosférica.
- Voltar para o texto