UNIDADEcinco REVOLUÇÃO E NOVAS TEORIAS POLÍTICAS DO SÉCULO dezenove

Fotografia. Vista elevada de um local aberto com uma estátua representando Otto Von Bismarck ao centro e em primeiro plano, feita de pedra em tons de bege, de tamanho gigante.  A estátua representa um homem careca, de bigode e casaco, segurando com as duas mãos, à frente do corpo, uma espada com a ponta apoiada no chão.  A estátua está apoiada sobre uma base elevada, feita de pedra de cor bege, em formato circular, com colunas na base e, sobre elas, grafites de letras em preto, azul e roxo. A base de formato circular tem três andares de escadarias que levam ao pedestal, também em formato circular.  Em segundo plano,vista de uma cidade. Logo atrás da estátua, formando uma linha horizontal, um parque com árvores marrons sem folhas. Mais ao fundo, prédios de tijolos de cor marrom e outros prédios em tons de branco e marrom, de tamanhos diversos. No horizonte da cidade, destacam-se algumas torres de igrejas, mais altas que as demais construções. No alto, o céu nublado na cor cinza.
Monumento em homenagem a Óto Bismarck, importante político alemão no século dezenove, localizado na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Esse monumento tem 36 metros de altura e foi construído para celebrar o sucesso da unificação alemã, um dos eventos que marcaram o século dezenove. Fotografia de 2020.
Respostas e comentários

Apresentação

Esta Unidade, intitulada “Revoluções e novas teorias políticas do século dezenove”, relaciona-se às seguintes Unidades Temáticas da Bê êne cê cê do 8º ano: Configurações do mundo no século dezenove e O mundo contemporâneo: o Antigo Regime em crise.

Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1 e número 6, a Unidade estimula o estudante a valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva e a valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

Os conteúdos trabalhados na Unidade (no texto principal, nas seções e nas atividades propostas) também buscam levar o estudante a desenvolver as seguintes Competências Específicas do Componente Curricular História: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (1) e Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos reticências (5).

Pintura. Em um parque, uma multidão formada por homens, mulheres e crianças vestidas com trajes de gala em meio a muitas árvores, cujas copas ocupam toda a parte superior e fundo da pintura. Há homens com cartolas pretas, casacos pretos, calças brancas e sapatos pretos.  Em primeiro plano, à esquerda, duas mulheres sentadas sobre cadeiras de metal dourado. Elas usam um lenço azul sobre a cabeça amarrado logo abaixo do queixo, e estão vestidas com mantos de cor bege. Uma delas segura nas mãos um leque verde. À direita delas, há duas meninas: uma menina de cabelo curto castanho, faixa vermelha no cabelo, vestido branco de mangas curtas bufantes e faixa vermelha na cintura, vista de frente. À frente dela, uma menina loira, agachada no chão e vista de costas, de vestido branco de mangas curtas bufantes e faixa verde amarrada na cintura com um grande laço nas costas. Com uma pequena pá, ela coloca terra em um balde pequeno e preto. Aos pés da outra menina, há outro balde. à direita deltas, uma sombrinha de cor bege, aberta, apoiada no chão. À direita, três cadeiras de metal dourado vazias.  Ao fundo, há outras mulheres e homens, conversando, a maior parte deles em pé.  No alto, entre as copas das árvores, um pedaço de céu azul claro formando um "v" no alto da pintura.
Manê, Eduár. Música nas Tulherias. 1862. Óleo sobre tela, 76,2 por 118,1 centímetros. Galeria Nacional, Londres, Inglaterra.

Movimentos revolucionários, surgimento do nacionalismo, fortalecimento do liberalismo, organização de trabalhadores, elaboração de novas teorias políticas e de novas fórmas de expressão artística... Em geral, esses eventos tomaram fórma na Europa do século dezenove e se expandiram, em sua grande maioria, para outras regiões.

Observando todos eles, podemos dizer que esse período foi extremamente agitado.

Não podemos esquecer ainda que o século dezenove também testemunhou a expansão do capitalismo, o desenvolvimento de novas tecnologias e o crescimento da participação dos trabalhadores na cena política.

Esses acontecimentos são fundamentais para entendermos as configurações políticas, econômicas e sociais que se delinearam ao redor do mundo e que, em alguns casos, permanecem na atualidade, mesmo que em parte. Eles tiveram e têm grande influência na formação da sociedade que conhecemos hoje.

Será que novas práticas e fórmas de pensar o mundo do trabalho e a industrialização trouxeram à tona novos anseios, tanto da parte dos trabalhadores como dos governos europeus de então? Quais as consequências desses acontecimentos para a sociedade hoje em dia?

Você estudará nesta Unidade:

Movimentos revolucionários de 1830 e 1848 no continente europeu

Processos de unificação da Itália e da Alemanha

Expansão da industrialização na Europa do século dezenove

Socialismo, anarquismo e teorias políticas

Comuna de Paris

Aspectos da arte no século dezenove: Romantismo e Realismo

Respostas e comentários

Nesta Unidade

O fervor revolucionário de 1789 reapareceu nas décadas de 1820, 1830 e 1840 em praticamente todo o território europeu. A experiência da dominação napoleônica acrescentou às novas ondas revolucionárias um caráter nacionalista, de libertação e construção nacional, que teve sua máxima expressão nos processos de unificação da Itália e da Alemanha. Na década de 1830 e, com maior intensidade, na década de 1840, as classes trabalhadoras europeias irromperam na cena política com reivindicações específicas e sob a influência do pensamento socialista, propondo a ampliação dos direitos políticos e soluções para a exploração do trabalho e para a pobreza.

Simultaneamente, a industrialização e a urbanização avançavam na Europa, principalmente a partir de meados do século dezenove. Essas mudanças geraram imensas riquezas e produziram um ambiente de confiança no progresso material, científico e tecnológico. Mas, em contrapartida, significaram a ampliação da pobreza para grande parcela da população europeia. As contradições da sociedade capitalista motivaram a formulação de teorias de crítica ao sistema, que vieram acompanhadas de propostas de novas fórmas de organização social. Entre essas teorias destacaram-se a marquicísta e a anarquista.

As revoluções sociais e a acelerada industrialização do século dezenove também inspiraram a criação de novas fórmas de representação da realidade nas artes e na literatura: esse foi o período em que se desenvolveram o Romantismo e o Realismo.

Objetos de conhecimento trabalhados na Unidade

Revolução Industrial e seus impactos na produção e circulação de povos, produtos e culturas.

Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Pensamento e cultura no século dezenove: darvinísmo e racismo.

CAPÍTULO 11 REVOLUÇÕES E UNIFICAÇÕES NA EUROPA

Nas primeiras décadas do século dezenove, a monarquia foi restabelecida em muitos países europeus. Assim, nesse processo, chamado por vários historiadores de Restauração, diversas dinastias reassumiram o poder. No entanto, a volta da monarquia não representou um período de calmaria. Ao contrário, seu ressurgimento provocou sucessivas ondas revolucionárias, que movimentaram o continente europeu.

Essa agitação política teve início em 1820, especialmente na região que corresponde à atual Itália, bem como na Grécia e na península Ibérica como um todo. Como consequência desse período e das mudanças políticas que ocorreram, a Grécia, por exemplo, conquistou sua independência do domínio otomano, em 1829. Nas duas décadas seguintes, as revóltas liberais se espalharam pela Europa.

Nesse século de revoluções, o Romantismo era o movimento artístico predominante. As obras românticas davam vazão às paixões, às emoções e à liberdade. Um exemplo é a obra reproduzida a seguir, de Caspar Dávid Frídric.

Pintura. Em uma praia com solo pedregoso de cor marrom, no centro, em primeiro plano, sobre uma pedra grande e alta, há duas mulheres e um homem, sentados, vistos de costas.  As mulheres estão sentadas lado a lado, com os cabelos castanhos presos em coques. Ambas usam vestidos longos, azuis, de mangas compridas. À direita, também sentado sobre a pedra, um homem com boina azul e casaco em marrom. Eles observam o mar.  À frente deles, pintado em tons de azul escuro, o mar. Sobre as águas, à esquerda, há duas  embarcações à vela, distantes, em tons de cinza.  Ao fundo, o céu, em tons de lilás, azul claro, laranja claro e amarelo e, entre as nuvens, um semicírculo amarelo emanando uma luz dourada que se reflete nas nuvens e nas águas.
Frídric, Caspar Deivid. Nascer da lua sobre o mar. 1822. Óleo sobre tela, 55 por 71 centímetros. Antiga Galeria Nacional, Berlim, Alemanha. Frídric foi um artista do Romantismo alemão. Uma das características de sua obra é a representação da paisagem para evocar sentimentos, muitas vezes até mesmo religiosos, e construir uma narrativa que chegava a emprestar poesia à natureza. Para ele, um artista não deveria pintar aquilo que vê à sua frente, mas também o que vê dentro de si mesmo. Tempestades, céus grandiosos e ruínas são elementos frequentes em suas pinturas.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

O Capítulo propõe o estudo das revoluções liberais na Europa no século dezenove. Inicialmente, é interessante retomar os conceitos de revolução e de independência, assim como os projetos políticos da Revolução Francesa e do Congresso de Viena, pois um dos objetivos dos movimentos revolucionários das décadas de 1820 e 1830 era a derrubada de governos absolutistas que permaneciam no poder em vários países europeus.

A Restauração monárquica foi um processo de reação e de disputa entre os grupos dominantes na Europa após as guerras napoleônicas e como resultado do Congresso de Viena, que estabeleceu um novo mapa político na região. O território da França teve de recuar às fronteiras anteriores às chamadas guerras revolucionárias (1792-1802), e algumas conquistas dos Estados vencedores de Napoleão foram reconhecidas.

O Capítulo possibilita discutir ainda os diversos sentidos de liberdade e igualdade para os grupos que participaram das revoluções liberais. Essa diferenciação ficou mais clara nas jornadas de 1848. A burguesia europeia, que pretendia consolidar o contrôle dos Estados nacionais, enfrentou a pressão de grupos populares, que reivindicavam a ampliação dos direitos de participação política.

É interessante destacar também as relações entre o Romantismo, suas concepções estéticas e o desenvolvimento do nacionalismo. Vale assinalar que muitos escritores e artistas engajaram-se nas lutas políticas e sociais do período, como o francês Victor Hugo, que participou das Revoluções de 1830 e de 1848 em seu país.

Observação

O conteúdo desta página possibilita iniciar o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois três.

Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo

ê éfe zero oito agá ih dois três: Estabelecer relações causais entre as ideologias raciais e o determinismo no contexto do imperialismo europeu e seus impactos na África e na Ásia.

Revoluções liberais do século dezenove

A derrota de Napoleão inaugurou na Europa uma disputa entre dois modelos de sociedade. De um lado, estavam os grupos que defendiam a Restauração, ou seja, a permanência ou o retôrno das bases do Antigo Regime – caracterizado, principalmente, pelo absolutismo monárquico e pelos privilégios da nobreza e do clero. De outro, encontravam-se os grupos defensores do liberalismo político, baseado no fim dos privilégios de nascimento e na valorização do mérito e do esfôrço individual.

A Restauração predominou em grande parte da Europa. Ela resultou, principalmente, das pressões da Santa Aliança, formada por Rússia, Áustria e Prússia. Esse processo estendeu-se até 1830, ano marcado pela eclosão de revoluções liberais em vários países da Europa.

O século das revoluções

Os movimentos revolucionários do século dezenove apresentaram um “ingrediente” novo: o nacionalismo.

O sentimento de pertencer a uma comunidade nacional, que compartilha um passado, uma língua e tradições, era algo novo na Europa. Em grande parte do período medieval, não havia um Estado centralizado, com autoridade para criar leis e governar um povo organizado em determinado território.

As Revoluções de 1830 começaram na França após o rei Carlos décimo ter instituído as Ordenações de Julho, que acabavam com a liberdade de imprensa, dissolviam a Câmara dos Deputados e modificavam a lei eleitoral. Revoltados com as medidas, os franceses ergueram barricadas pelas ruas de Paris e organizaram violentos protestos entre os dias 27 e 29 de julho. Carlos décimo abdicou do trono e o movimento atingiu rapidamente outras regiões, como Bélgica, península Itálica, Estados germânicos e Inglaterra.

Consequências

Os movimentos de 1830 tiveram importantes conse­quências: a Bélgica conquistou sua independência dos Países Baixos; na Inglaterra houve ampliação do número de eleitores e regulamentação da organização do operariado. Em outros Estados, embora tenha sido sufo­cada, a revolução deixou sementes do liberalismo e do nacionalismo.

Pintura. Vista de um local aberto, com uma barricada fechando uma rua, em um ambiente de conflito. À esquerda a fachada de um hotel, com paredes de cor cinza, janelas e portas em formato de arco e esculturas e colunas decorando fachada. Na entrada dessa construção, há militares com chapéus altos de cor preta, casaco azul e calças brancas. Um deles, segura um homem de casaco vermelho desfalecido.
No centro e à direita, há muitas pessoas, majoritariamente homens e meninos, com bandeiras, instrumentos ou armas em mãos.
No centro da imagem, fechando a rua, há uma barricada feita de pedras de cor cinza e tábuas amontoadas em uma grande pilha no chão. Atrás dela, no centro da pintura, há fumaça em tons de preto, marrom e cinza.
No centro da pintura, em pé sobre o monte de pedras da barricada, há um homem de cabelos cacheados, castanhos e curtos, barba e bigode fino, vestido com um lenço marrom amarrado ao pescoço, colete marrom, casaco marrom, calça branca listrada e uma faixa vermelha na cintura, onde ele leva uma pistola presa à cintura. Cruzando seu torso, a alça de uma bolsa a tiracolo marrom. Com um braço, ele segura um jovem desfalecido e com os olhos fechados à esquerda dele. O jovem é loiro, de cabelos curtos e cacheados, está vestido com uma camisa branca e um macacão preto, está ferido, com manchas de sangue na manga e na gola da camisa e empunha uma bandeira da França, com três listras verticais: uma azul, uma branca e outra vermelha. 
O homem no centro, que ampara o jovem, segura uma arma de cano longo com a outra mão, levanta a arma para o alto e olha para a direita com olhos vivos.
À direita desse homem, há um menino, também em pé sobre a barricada. Segurando duas baquetas pretas, o menino toca um tambor prateado e azul preso ao seu corpo com uma faixa branca. Ele olha para a direita, tem cabelos loiros, curtos e lisos, olhos claros, usa uma boina preta, uma camisa branca, um colete marrom aberto e uma calça cinza.
Ainda em primeiro plano, ao pé da barricada, há corpo de um homem caído, com a cabeça inclinada para trás. Ele tem cabelos curtos, loiros e cacheados, veste camisa e calça branca e um casaco militar vermelho aberto. 
À esquerda, há um homem sentado no chão, entre tábuas e pedras, com as costas apoiadas na barricada, olhando para o alto. Ele tem cabelos curtos, castanhos e cacheados, veste casaco preto, colete marrom, lenço estampado amarrado ao pescoço, e calças de cor marrom. Há uma arma de cano longo apoiada verticalmente ao lado dele. 
Entre esses dois homens, há um outro, em pé, visto de costas, com um dos joelhos apoiados na barricada.  Ele usa um gorro vermelho, camisa branca, calças vermelhas, duas faixas brancas cruzadas formando um 'x' em suas costas, uma espada encaixada em um suporte na faixa (à esquerda), uma bolsa preta encaixada em um suporte na faixa (à direita). Com uma das mãos enfaixadas apoiadas na barricada, ele estende a outra à frente, entregando algo que parece ser munição a um homem à frente dele, de joelhos sobre a barricada.
Esse homem é visto de costas, tem um lenço vermelho amarrado à cabeça, camisa branca e calça azul, está descalço. Ele segura uma arma de cano longo em uma mão e estende o outro braço atrás de si, sem olhar para trás, recebendo as munições do homem de calças vermelhas.
À frente dele, do outro lado da barricada, há um menino de gorro vermelho sobre a cabeça, casaco marrom e camisa branca aberta, que levanta uma bolsa para o alto na direção do homem de joelhos sobre a barricada. 
Do lado direito, caminhando na direção do monte de pedras, um grupo numeroso de pessoas armadas vestidas com roupas escuras e usando chapéus e cartolas. Mais ao fundo, uma bandeira vermelha, com o texto em branco, originalmente em francês: 'Viva a Carta!'. 
Um pouco mais atrás, em meio à outros militares, visto de costas, um militar com chapéu alto preto e casaco azul se destaca, apontando para o hotel, à esquerda.
No alto, o céu  azul claro e fumaça de cor cinza e marrom.
Chinêts, Jan-Victor. Lutando em frente ao Hotel de Ville, 28 de julho de 1830. 1833. Óleo sobre tela, 4,58 por 5 métros Museu do Pequeno Palácio, Paris, França. Esta pintura representa um dos episódios das Revoluções de 1830 na França, com barricadas erguidas pelos revolucionários.

Ler a pintura

• De que maneira a pintura valoriza o nacionalismo?

Respostas e comentários

Orientações

Durante o século dezenove, os ideais liberais se difundiam, ao mesmo tempo que a industrialização avançava, o que fortaleceu a burguesia e expandiu o número de trabalhadores nas fábricas. Para a burguesia emergente, o Estado deveria apenas garantir, através da legislação, o direito à propriedade privada e à livre-iniciativa.

Nem sempre as insurreições de 1830 saíram vitoriosas, mas mudanças liberalizantes ocorreram em alguns países. A Bélgica tornou-se independente dos Países Baixos e, na Inglaterra, as agitações produziram reformas que ampliaram o número de eleitores e fizeram entrar em cena o operariado, organizado em sindicatos e associações autônomas.

É importante considerar que o fortalecimento do nacionalismo na Europa, ao longo do século dezenove, foi um dos elementos que deram fórma ao imperialismo. Entender o contexto do nacionalismo na Europa do século dezenove, portanto, possibilita ao estudante tomar contato com as bases de dominação imperialista na África e na Ásia.

Observação

O conteúdo desta página favorece o trabalho com o seguinte objeto de conhecimento: Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Resposta

Ler a pintura: A obra representa diversas classes sociais unidas pelo propósito de impedir o reformismo conservador de Carlos décimo. No centro da imagem, dois jovens que simbolizam uma nova França empunham a bandeira tricolor do país e uma arma, representando o sentimento de união nacional pela defesa da nação.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

O Romantismo e a revolução

O Romantismo foi um amplo movimento sociocultural que atravessou os últimos anos do século dezoito e as primeiras décadas do século dezenove. Influenciado pela Revolução Francesa e pela expansão napoleônica, o movimento captou e reproduziu as tensões da Europa revolucionária nos diversos campos da arte, como na literatura, na pintura, na escultura, na arquitetura e na música.

Os artistas românticos expressavam em suas obras a exaltação da liberdade e valorizavam o nacionalismo, buscando fórmas de representá-lo. Assim, a literatura e a música passaram a valorizar o idioma e o folclore nacional, ao mesmo tempo que exaltavam a pátria. Os artistas românticos transformaram os povos e as nações nos grandes protagonistas da história.

Além disso, os românticos se caracterizaram pela oposição ao Antigo Regime, ao racionalismo iluminista e aos temas da arte neoclássica. Eles propunham uma arte livre, guiada pela imaginação e pela emoção do artista. Defendiam a intuição, a liberdade de pensamento, as sensações humanas, o sonho e a fantasia, o individualismo e a retomada da união do ser humano com a natureza, diante das novidades da sociedade industrial. Opondo-se à arte neoclássica e ao Iluminismo, os românticos valorizavam a época medieval, considerando que ela simbolizava o desejo de retôrno à natureza e à religiosidade e até mesmo à origem das nações.

Pintura. Em um espaço aberto, sob um céu encoberto com nuvens e com a silhueta de uma cidade ao fundo, envolta em fumaça, no centro da pintura, uma mulher, em pé.  Descalça, com o peito desnudo, cabelos presos e olhando para trás, ela usa um barrete vermelho na cabeça e traja um vestido longo amarelo claro. Um tecido vermelho está atado à sua cintura. Em uma das mãos, a mulher segura uma arma de cano longo com uma baioneta acoplada e, na outra, sustenta com o braço erguido uma haste com que empunha a bandeira da França, com listras verticais nas cores vermelha, branca e azul. Ao lado dela, um menino. Ele está em pé, ao lado da mulher, portando duas pistolas, uma em cada mão. Um braço erguido ao alto; o outro abaixado, ao lado do corpo. Ele tem os cabelos cheios e castanhos e usa uma boina azul sobre a cabeça. Veste uma camisa branca com as mangas arregaçadas, um colete com os botões abertos na cor azul escuro e calças largas, claras e remendadas em um dos joelhos. Leva uma bolsa a tiracolo, com uma alça muito comprida para sua altura, ultrapassando sua coxa, chegando a altura do joelho. Diante deles, no solo, à frente da cena, há homens caídos entre pedras e pedaços de madeira, restos de uma barricada. Em primeiro plano, dois homens estão  caídos e desfalecidos no chão. Um deles, à esquerda, veste apenas uma camisa branca e uma meia azul no pé direito. Um pouco acima, um homem de casaco azul e lenço vermelho amarrado na cabeça está ajoelhado sobre os escombros, olhando para a mulher ao centro.  Ao lado esquerdo dela, um homem em pé, de cabelos e barba escura, porta uma espingarda e veste um casaco azul escuro e um colete da mesma cor com os botões metálicos fechados; ele tem a camisa aberta, um colarinho escuro e uma cartola em sua cabeça.  Ao lado dele,  à esquerda, um homem em pé, vestindo uma camisa branca entreaberta, suspensórios, macacão de trabalho de cor clara e uma boina, porta uma espada em uma das mãos e uma pistola presa à cintura.   Ao fundo, uma multidão de pessoas empunhando espadas e armas de fogo em meio à fumaça.
Delacroá, Eugêne. A Liberdade guiando o povo. 1830. Óleo sobre tela, 2,6 por 3,25 métros Museu do Louvre, Paris, França.

De que fórma as características do Romantismo expostas no texto podem ser percebidas na pintura de delacroá? Explique.

Respostas e comentários

Orientações

A associação do Romantismo com a Revolução Francesa é focalizada nesta seção levando em conta que a arte do final do século dezoito e das primeiras décadas do século dezenove é muito reveladora das mudanças da sociedade da época. O objetivo do trabalho proposto é ajudar o estudante a entender alguns aspectos do contexto geral das nações europeias no século dezenove. Considerando esse contexto, é possível compreender o Romantismo como um movimento de valorização do passado pré-industrial, em oposição ao progresso técnico, e a preocupação de algumas expressões do Realismo em denunciar a pobreza e a exploração das camadas populares no contexto do desenvolvimento industrial. Desse modo, as reflexões propostas nesta seção favorecem o desenvolvimento das práticas de análise documental e estudo de recepção.

Observação

O conteúdo trabalhado nesta seção possibilita ampliar o desenvolvimento do seguinte objeto de conhecimento: Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Resposta

A pintura de delacroá representa os levantes de 1830 na França, que acarretaram a queda de Carlos décimo. A obra é uma das expressões do Romantismo europeu. Nela, podemos perceber um ativismo político forjado e inspirado na Revolução Francesa de 1789, bem como a valorização do ideal de liberdade, contra o absolutismo, e a ideia de uma nação unida (o nacionalismo), representada pelas classes sociais e pela bandeira francesa. A pintura, de côres vivas e pinceladas vigorosas, foge do modêlo equilibrado e comedido da pintura neoclássica. Alguns elementos conferem à obra imensa dramaticidade e emoção, características da arte romântica: os cadáveres espalhados pelo chão, com as roupas sujas de sangue; a liberdade, representada pela mulher que carrega a bandeira em uma mão e a baioneta na outra, chamando o povo a segui-la; e o garoto com a pistola apontada para o alto.

Ícone. Sugestão de vídeo.

Sugestão para o estudante:

OS MISERÁVEIS. Direção: Robert Russén. 1982. Duração: 220 minutos.

A adaptação para a televisão da obra do mestre francês Victor Hugo oferece uma oportunidade de conhecer um pouco melhor a vida do operariado francês no século dezenove e a visão desse artista, representante do Romantismo na literatura, que viveu e se posicionou ativamente em relação aos movimentos revolucionários de seu tempo.

A Primavera dos Povos

Em 1848, ocorreu a principal onda revolucionária do século dezenove. Conhecido como Primavera dos Povos, o movimento combinou as aspirações liberais da burguesia e os ideais nacionalistas. Contou também com a participação das classes trabalhadoras, mobilizadas pela terrível crise econômica que atingiu a Europa entre 1846 e 1850, com péssimas colheitas, elevação do custo de vida e desemprêgo.

Assim como na década anterior, a onda revolucionária de 1848 começou novamente na França. Em Paris, os franceses proclamaram a Segunda República, pondo novamente fim à monarquia. As rebeliões espalharam-se pelos Estados germânicos e pela península Itálica, em regiões que futuramente formariam a Itália e a Alemanha, onde foram derrotadas. No entanto, os movimentos revolucionários conseguiram implantar a república em alguns pequenos Estados.

O Império Austríaco também foi fortemente atingido por agitações liberais e, como resultado, aboliu o trabalho servil no campo. Os nacionalistas húngaros reagiram ao domínio estrangeiro, e a Hungria conseguiu tornar-se independente da Áustria. A servidão no campo foi extinta, e se realizou uma reforma agrária, violentamente reprimida no ano seguinte.

As Revoluções de 1848

Mapa. As Revoluções de 1848. Mapa representando parte do continente europeu, da França ao Império Austríaco. Diferentes territórios estão destacados em cores distintas. Há ícones espalhados pelos territórios. Na legenda, um ícone  representando uma chama em amarelo e laranja indica: 'Jornadas revolucionárias de 1848'.  Em amarelo, o Reino da França, com um ícone representando uma chama na região de Paris e a indicação do mês: fevereiro. Ao sul, no Mar Mediterrâneo, em amarelo, a Ilha da Córsega. A leste da França, em marrom, Turim, com um ícone representando uma chama e a indicação do mês: março. Ao sul, no Mar Mediterrâneo, em marrom, a Ilha da Sardenha.  Ao norte de Turim, em laranja, os Estados Germânicos, com um ícone representando uma chama na região de Frankfurt e a indicação do mês: março. E um ícone representando uma chama na região de Munique e a indicação do mês: março a abril. A leste e oeste dos Estados Germânicos, em roxo, o Reino da Prússia, com um ícone representando uma chama na região de Berlim e a indicação do mês: março. Ao sul dos Estados Germânicos, em verde claro, o Império Austríaco, com um ícone representando uma chama na região de Budapeste, e a indicação do mês: março. Um ícone representando uma chama na região de Viena e a indicação do mês: março. Um ícone representando uma chama na região de Zagreb e a indicação do mês: abril. Um ícone representando uma chama na região de Veneza e a indicação do mês: março. Um ícone representando uma chama na região de Milão e a indicação do mês: março. Ao sul do Império Austríaco, na Península Itálica, em verde escuro, os Estados da Igreja com um ícone representando uma chama na região de Roma e a indicação do mês: março.  Ao norte dos Estados da Igreja, em laranja, Módena, com um ícone representando uma chama e a indicação do mês: março.  Ao sul de Módena, em roxo, Florença, com um ícone representando uma chama e a indicação do mês: fevereiro a março. Em rosa, no sul na Península Itálica, o Reino das Duas Sicílias.  À direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 210 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí, . Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 231.

Contrarrevolução

As ideias liberais, o nacionalismo e as questões sociais constituíram grandes marcas nas lutas do século dezenove no continente europeu. Contudo, a onda revolucionária daquele período também teve um saldo violento expresso em uma reação contrarrevolucionária. Essa reação se organizou para enfraquecer a onda revolucionária, na tentativa de impedir que mudanças profundas acontecessem na maioria dos países europeus.

Ícone. Sugestão de livro.

HUGO, Victor. Os miseráveis. São Paulo: Cipiône, 2019. Tradução e adaptação de José Angeli. O livro traz uma adaptação da obra original do escritor francês Victor Hugo. Aspectos do cenário político, econômico e social da cidade de Paris entre 1815 e 1832, aproximadamente, são narrados com base na trajetória de Jan , preso por ter roubado um pão.

Respostas e comentários

Orientações

O nome “primavera” remete ao renascimento da luta pela liberdade e pela democracia. A onda revolucionária de 1848 significou o despertar político de setores da sociedade e teve início na França, como as revóltas da década anterior.

Em 1848, o rei francês Luís Felipe primeiro foi deposto e formou-se um govêrno provisório, que proclamou a Segunda República. Sob pressão dos trabalhadores, o govêrno provisório criou as oficinas nacionais, fábricas do Estado que davam emprêgo aos operários, e estabeleceu o sufrágio universal masculino. Contudo, nas eleições para a Assembleia Constituinte, a burguesia saiu vitoriosa, derrotando os representantes do operariado. Como consequência, as oficinas nacionais foram fechadas. Os operários organizaram levantes, mas acabaram sendo reprimidos. A Constituição, que mantinha a burguesia no poder, foi aprovada, e Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão, elegeu-se presidente.

Observação

O conteúdo desta página aborda aspectos da história europeia no século dezenove e possibilita ampliar o trabalho com o seguinte objeto de conhecimento: Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Ler o texto

Na obra A era do capital, 1848-1875, o historiador inglês Érik Robsbaum analisa as Revoluções de 1848 na Europa. Ele observa que, pela sua velocidade de propagação e pelo número de países que atingiu, talvez possa ser considerada “a primeira revolução potencialmente global”.

É importante notar que, de maneira geral, a onda revolucionária de 1848 acabou sendo, depois de algum tempo, reprimida e controlada pelos governos. Para diversos historiadores, as mudanças provocadas por esse movimento foram poucas, especialmente no campo político, uma vez que, após a repressão, muitas monarquias ainda conseguiram se manter no poder. Mesmo assim, durante a Primavera dos Povos surgiram na cena política novos atores sociais e novas questões.

Leia a seguir um trecho da obra de róbisbáum que trata desse período.

As fôrças da democracia

Se o nacionalismo era uma fôrça histórica reconhecida por governos, “democracia”, ou a crescente participação do homem comum nas questões do estado, era outra. Os dois eram uma única coisa, na medida em que movimentos nacionalistas neste período tornavam-se movimentos de massa, e certamente a esta altura praticamente todos os líderes radicais nacionalistas supunham estes dois conceitos como sendo idênticos. Entretanto reticências uma grande parte do povo comum, como os camponeses, ainda não havia sido atingida pelo nacionalismo reticências, enquanto outras, principalmente as novas classes trabalhadoras, eram praticamente requisitadas para seguir movimentos que, pelo menos em teoria, punham um interesse de classe internacional acima de filiações nacionais. Em todos esses casos, do ponto de vista das classes dirigentes, o fato importante era não que as “massas” acreditassem em alguma coisa, mas que seus credos agora contavam na política. reticências

Tornava-se, portanto, cada dia mais claro, nos países desenvolvidos e industrializados do oeste [da Europa] que mais cedo ou mais tarde os sistemas políticos teriam que abrir espaço para estas fôrças. Além disso, também se tornava claro que o liberalismo que formava a ideologia básica do mundo burguês não tinha defesas teóricas contra esta contingência. reticências Onde deveria ser traçada a linha entre a grande e crescente massa de “respeitáveis” trabalhadores e as baixas classes médias que adotavam muitos dos valôres e comportamentos da burguesia? reticências Além disso, e de fórma mais decisiva, as Revoluções de 1848 tinham mostrado como as massas podiam irromper no círculo fechado dos dirigentes da sociedade, e o progresso da sociedade industrial fez com que sua pressão fosse constantemente maior mesmo em períodos não revolucionários.

róbisbáum, Eric J. A era do capital, 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. página 147-149.

róbisbáum diz que “reticências as Revoluções de 1848 tinham mostrado como as massas podiam irromper no círculo fechado dos dirigentes da sociedade reticências”. Qual seria esse círculo? Faça uma pesquisa em livros e na internet e, com base em suas descobertas, cite exemplos de como as Revoluções de 1848, lideradas pelo povo, atingiram as lideranças de alguns países europeus.

Gravura. Imagem de orientação vertical. Vista de um local fechado com paredes e chão feitos de tábuas de madeira em marrom claro. Vigas de madeira formam uma linha vertical à direita. Alguns homens, muitas mulheres e uma menina trabalham no mesmo ambiente.  As mulheres usam vestidos longos, aventais brancos e lenços nos cabelos.  À direita, um dos homens, em primeiro plano, de cabelos lisos, curtos, castanhos e barba castanha, usa uma camisa azul clara, um colete cinza e uma calça cinza. Ele segura um lápis na mão esquerda, como se anotasse algo em um papel, enquanto conversa com outro homem, à frente dele, visto de costas. Esse homem visto de costas usa uma camisa bege, suspensórios e calças marrons, um avental branco amarado à cintura e um chapéu branco sobre a cabeça. Ele segura um recipiente cilíndrico de cor cinza com as duas mãos. À esquerda,  uma menina de cabelos  longos, castanhos e ondulados, usando um vestido cor de rosa e um avental branco carrega uma pilha de tecidos amarelos nas mãos. À frente dela, há uma grande pilha de tecidos dobrados sobre um carrinho  de madeira com uma haste vertical cinza e rodinhas. Ao fundo, vê-se dezenas de mulheres de vestido longo em cores variadas  (marrom, vermelho, cinza, verde). A maioria está de frente para máquinas, e é possível identificar algumas engrenagens na parte superior da imagem.
Representação de trabalhadores em uma fábrica têxtil no norte dos Estados Unidos, no século dezoito. Século dezenove. Xilogravura. Coleção particular.
Respostas e comentários

Orientações

É importante orientar os estudantes na leitura do texto do historiador inglês Érik Robsbaum e auxiliá-los a estabelecer relações entre o trecho citado e o contexto estudado, para que percebam o significado das transformações do período. A entrada na cena política da massa trabalhadora, da multidão, é um aspecto relevante que deve ser compreendido na análise do texto. Além disso, a ideia de democracia e de que o Estado deveria representar os interesses da maioria é de fato uma contribuição da onda de movimentos revolucionários que surgiram na Europa em 1848.

Resposta

Ler o texto: Oriente os estudantes na pesquisa para que acessem sites confiáveis e encontrem livros que tratem do assunto e tragam contribuições para o estudo. Eles devem perceber que a classe dirigente desse período foi estruturada no pensamento liberal, e este era o círculo fechado contra o qual as massas revolucionárias de 1848 se chocavam.

Durante as revoluções do século dezenove, setores da alta e da média burguesia dos paí­ses europeus defenderam o liberalismo. Os principais fundamentos do pensamento liberal são a limitação do poder estatal e o reconhecimento e a preservação da liberdade e dos direitos individuais. Com isso, a burguesia desses países buscava enterrar definitivamente a arbitrariedade das monarquias absolutistas.

Observação

O trabalho com esta seção favorece a compreensão do contexto geral das nações europeias no século dezenove, fornecendo subsídios para o desenvolvimento do seguinte objeto de conhecimento: Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

A unificação da Itália

Durante a primeira metade do século dezenove, a península Itálica estava dividida em vários reinos. O sul, dominado pelo Reino das Duas Sicílias, era predominantemente agrícola. Já a região norte era industrializada e estava sob a influência direta do Império Austríaco.

Com a onda revolucionária de 1848, houve uma tentativa de unificação política da península Itálica. O Reino Lombardo-Veneziano, o Reino do Piemonte-Sardenha e o Reino das Duas Sicílias declararam guerra contra a Áustria. Porém, os habitantes da península não estavam unidos por um sentimento de identidade nacional capaz de fortalecer a luta e conduzi-la à vitória. Diante dessa situação, estava claro para os nacionalistas que a unificação não ocorreria por meio de uma revolução popular, mas sim de uma guerra com a participação de grandes potências europeias.

De norte a sul da península

Posteriormente, Piemonte-Sardenha, o reino mais industrializado da península Itálica, deu início a um novo processo de unificação política. Em 1859, o primeiro-ministro, o conde de Cavour, apoiado por Napoleão terceiro, da França, derrotou as fôrças austríacas e incorporou diversos territórios ao norte da península.

No sul, o republicano djiuzépe Garibaldi organizou os camponeses em um exército que ficou conhecido como camisas vermelhas. Em 1860, os soldados desembarcaram em Marsala e, sob o comando de Garibaldi, tomaram o Reino das Duas Sicílias.

Com essa vitória, em 1861, a unificação da Itália foi concretizada e Vítor Emanuel segundo, rei do Piemonte-Sardenha, foi proclamado rei da Itália. Em 1866, Veneza foi incorporada à nova nação.

UNIFICAÇÃO DA ITÁLIA (1859-1861)

Mapa. Unificação da Itália (1859-1861). Mapa representando a Península Itálica. Diferentes territórios estão destacados em cores distintas. Há setas indicando rotas e ícones espalhados pelos territórios.  Na legenda, em verde escuro, 'Reino do Piemonte-Sardenha'. Incluindo a região da Savoia, no norte da península e a Ilha da Sardenha, no Mar Tirreno. Destaque para as cidades de Novara, Turim, Alexandria, Gênova e Cagliari. Em verde claro, 'Ducados'. No noroeste da península, incluindo  Parma, Módena e a região da Toscana, com destaque para Florença e a Ilha de Elba.   Em cor de rosa claro, 'Estados da Igreja'. No nordeste, centro e oeste da península, com destaque para as cidades de Roma e Ferrara.  Em  lilás, 'Território do Império Austríaco'. A nordeste da península, na região do Tirol,  com destaque para a cidade de Trento. Em cor de rosa escuro, 'Reino das Duas Sicílias'. No sul da península, incluindo a Ilha da Sicília, no Mar Tirreno. Com destaque para as cidades de Pontecorvo, Nápoles, Régio, Messina, Palermo e Marsala. Hachurado com listras de cor cinza na diagonal, 'Territórios sob influência austríaca'. Compreendendo as regiões do Tirol, Vêneto, Lombardia, Toscana e os ducados de Parma e Módena, no norte da península. Em cor de laranja, 'Reino Lombardo-Veneziano'. No norte da península, compreendendo a região da Lombardia, com destaque para a cidade de Milão, e a região do Vêneto, com destaque para a cidade de Veneza. Um ícone representando chamas de fogo em vermelho e amarelo indica: 'Principais batalhas'. Há indicações de batalhas em Milão, no Vêneto, nos Estados da Igreja e no Reino das Duas Sicílias (uma a leste de Nápoles, na península; outra ao sul de Palermo, na ilha da Sicília).  Um ícone representando uma estrela verde indica: 'Insurreições populares'. Há indicações de insurreições em: Parma, Módena e na Toscana (a leste de Florença). Setas azuis indicam: 'Avanço do exército piemontês'. Partindo da região de Turim, na Savoia, e seguindo para Milão, na Lombardia, assim como para os Estados Papais, em região de batalhas, e de lá para Nápoles, no Reino das Duas Sicílias. Setas vermelhas indicam: 'Expedição de Garibaldi e os mil camisas vermelhas', partindo de Gênova, na Savoia, e seguindo pelo Mar Tirreno até Marsala, na Ilha da Sicília. E de lá, seguindo para Palermo, Messina, Régio e, por fim, Nápoles. Sob o título Revolução de 1848, um pequeno círculo amarelo indica: 'Movimentos revolucionários anteriores a 1848', destacando movimentos em Turim, Alexandria e Gênova (na Savoia), Milão (na Lombardia), Ferrara (nos Estados da Igreja), Nápoles, Régio e Palermo (no Reino das Duas Sicílias).  Sob o título Revolução de 1848,  um ícone de uma estrela de oito pontas na cor verde com contorno vermelho indica: 'Insurreições de 1848'. Localizando insurreições em Turim (na Savoia), Milão (na Lombardia), Veneza (no Vêneto), Florença (na Toscana), Nápoles e Palermo (no Reino das Duas Sicílias). No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 135 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí, . Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 234.

E Roma?

A Igreja católica demonstrava interesse em manter a cidade de Roma independente do restante da Itália. Contudo, Roma foi anexada em 1870, tornando-se, pouco depois, a capital italiana.

Respostas e comentários

Orientações

Quando se fala em nacionalismo, obrigatoriamente se fala do sentimento de identidade de um povo, em geral reunido em determinado território. Discutir as unificações italiana e alemã, tendo em vista a questão da identidade cultural desses povos – ou a falta dela e a ocorrência de guerras –, pode ser uma ferramenta importante para trabalhar o conceito de nacionalismo.

O período das lutas pela unificação da Itália e da Alemanha possibilita retomar com os estudantes o conceito de nação como uma construção histórica. Também é interessante estimulá-los a identificar os pontos em comum na construção da nação italiana e na da alemã: os particularismos e as diferenças regionais que dominaram a história de ambas até meados do século dezenove; as regiões e os grupos sociais que lideraram as lutas pela unificação; a guerra como fator de construção de uma unidade nacional etcétera.

Vale ressaltar que as disputas territoriais envolvidas no processo de unificação da Itália só foram solucionadas em 1929, com o Tratado de Latrão, que criou o Estado do Vaticano, governado pelo papa.

Observação

O estudo da unificação italiana fornece subsídios para o desenvolvimento do seguinte objeto de conhecimento: Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestão para o estudante:

OLIVEIRA, Mauricio. Garibaldi: herói dos dois mundos. São Paulo: Contexto, 2013. (Coleção Guerreiros).

O livro apresenta uma narrativa histórica sobre a trajetória do carismático e popular djiuzépe Garibaldi, que liderou as lutas pela unificação da Itália, além de ter participado da Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, no Brasil do século dezenove.

A formação da Alemanha

Assim como na Itália e em outras regiões europeias, as invasões napoleônicas despertaram o nacionalismo na Alemanha. No entanto, o contexto alemão era diferente do restante da Europa, pois havia muitos alemães vivendo em outras regiões e convivendo com outros povos em toda a Europa Central.

Desde o Congresso de Viena, em 1815, a Alemanha estava dividida em vários Estados, reunidos na Confederação Germânica. Essa associação era liderada pelo Império Austríaco e pela Prússia.

O reino prussiano era industrializado e estava em busca de novos mercados consumidores para seus produtos. Em 1834, a Prússia criou o Zollverein, um acôrdo comercial que suprimia as barreiras alfandegárias entre os Estados alemães. Essa união alfandegária, porém, excluía a Áustria.

O Zollverein impulsionou o desenvolvimento da indústria e do comércio nos Estados alemães e ampliou a comunicação entre eles.

Durante as Revoluções de 1848, já havia ocorrido na Prússia um movimento pela unificação da Alemanha e pelo liberalismo, que reuniu burgueses, pequeno-burgueses e operários e obteve várias conquistas democráticas, como o sufrágio universal. A reação da nobreza conservadora, porém, pôs fim à revolução e revogou as conquistas liberais obtidas. Depois disso, a grande burguesia prussiana, temendo a mobilização do povo, aliou-se à nobreza para conduzir a unificação sem a participação popular.

Em 1862, por escolha de Guilherme primeiro, rei da Prússia, Óto Bismarck assumiu o cargo de chancelerglossário . Ele foi um dos principais líderes da Restauração conservadora de 1848 e transformou-se na figura mais importante da unificação alemã.

Gravura. Cena noturna. Vista de um local aberto, com o céu em tons de cinza escuro e lua cheia entre nuvens, em tons de amarelo. Uma construção grande, de dois andares, ocupando uma esquina ao fundo, um prédio de quatro andares à esquerda, visto parcialmente, e no centro, uma praça, fechada por uma barricada feita de pedras e tábuas.  No centro da praça, uma batalha ocorrendo no ambiente urbano. Há pessoas caídas no chão da praça e sobre elas, algumas manchas vermelhas. Em primeiro plano, à direita, há duas fileiras de homens vistos de costas, com capacetes sobre as cabeças e roupas escuras, apontando armas para o centro da praça, à frente. Há uma intensa fumaça branca saindo das armas. No canto direito, uma grande labareda de fogo em laranja e amarelo e uma estrutura de madeira ardendo. Em frente a esse grupo, entre os dois prédios, há uma multidão atrás da barricada alta, um monte de pedras e tábuas de madeira bloqueando a passagem. Por trás dessa barricada, há pessoas com os braços e com as armas levantadas para alto e uma bandeira aberta, com três listras horizontais: uma amarela, uma vermelha no centro e uma preta, abaixo, as cores da bandeira alemã. Há muita fumaça branca cobrindo esse grupo.   À esquerda, ao lado do prédio de quatro andares, cujas janelas revelam chamas amarelas e cor de laranja em seu interior, há homens de uniforme azul montados sobre cavalos marrons e com armas levantadas para cima. Algumas colunas de fumaça saem das janelas do prédio, em cujo topo há pessoas aglomeradas. Ao fundo, no grande prédio de esquina, as janelas retangulares revelam que há chamas no interior dos dois andares da construção. Com reflexos em amarelo e alaranjado e fumaça branca saindo de algumas janelas. No topo desse prédio, também há pessoas aglomeradas no telhado. Mais à direita, subindo para o céu, uma grande quantidade de fumaça escura.
Barricadas em Berlim. Século dezenove. Litogravura, 33,4 por 41 centímetros. Museu Histórico Alemão, Berlim, Alemanha.

Os acontecimentos de 1848 em Berlim

As Revoluções de 1848 também estouraram em Berlim (na Alemanha). Em 18 de março daquele ano, os rebeldes exigiram o fim da censura e a convocação de um Parlamento prussiano. Mesmo levantando barricadas para impedir o avanço dos soldados, 270 revolucionários morreram nos confrontos, a maior parte deles artesãos. O movimento foi sufocado e logo chegou ao fim.

Respostas e comentários

Texto complementar

A seguir, o historiador Nórbert Elias analisa o processo de unificação alemã:

Em virtude de seus próprios sentimentos de pertença, a classe alta alemã tradicional era particularista; sua leadade era para com a sua terra, em todas as acepções da palavra, não com o império. No comêço, até a lealdade de Bismarck era primordialmente ao rei da Prússia. Foram grupos da burguesia urbana que abraçaram a causa da unificação da Alemanha. Mas a sua luta para atingir esse objetivo tornou-se automaticamente ligada ao conflito de muitos séculos pela supremacia entre os estratos da burguesia e da aristocracia. Aos olhos dos líderes da burguesia, a unificação da Alemanha era um passo para o fim do domínio da aristocracia – no caminho da democratização –, mas os estratos burgueses alemães não tinham os necessários recursos de poder para isso, em parte devido ao fato de estarem divididos entre os muitos Estados alemães soberanos. Assim, manifestou­‑se uma situação sumamente paradoxal no desenvolvimento da sociedade alemã. reticências

Assim, a classe dominante tradicional da Alemanha, os príncipes e a aristocracia retiveram a supremacia dentro do recém-unificado Caiser-raich. E a unificação foi entregue aos pioneiros da classe média numa bandeja, sem que eles fossem capazes, a esse respeito, de atingir o objetivo de sua luta social, o seu objetivo como classe, que era o de privar a aristocracia de poder e democratizar a sociedade alemã. Essa situação paradoxal teve sérias consequências para todo o desenvolvimento da Alemanha.

ELIAS, Nórbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do ábitus nos séculos dezenove e vinte. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 1997. página. 60.

Observação

O estudo da formação da Alemanha fornece mais uma vez subsídios para o desenvolvimento do seguinte objeto de conhecimento: Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Guerra pela unificação

No processo de unificação da Alemanha, Bismarck e seus aliados pretendiam despertar o sentimento nacional na população. Para isso, escolheram a guerra, equipando e modernizando o exército prussiano. Sua primeira ação foi aliar-se aos austríacos e declarar guerra à Dinamarca, que dominava regiões ao norte.

Depois, Bismarck declarou guerra à Áustria, avançando sobre seu território. Vitorioso, ele conseguiu reunir todos os Estados do norte na chamada Confederação Germânica do Norte, liderada pela Prússia. A unificação estava próxima de se tornar realidade, mas ainda faltavam os Estados do sul.

Depois de uma série de provocações e atos hostis, Bismarck conseguiu o que planejava: Napoleão terceiro, da França, declarou guerra à Prússia em 1870. Era a chamada Guerra Franco-Prussiana. Os franceses foram derrotados e perderam a cobiçada região da Alsácia-Lorena, rica em carvão, para os alemães.

Em janeiro de 1871, Guilherme primeiro foi coroado imperador da Alemanha, e Bismarck tornou-se chefe militar do país.

Fotografia em preto e branco. à frente de um caminho ladeado por vegetação baixa, há dois homens vistos de lado, posicionados um de frente para o outro. Ambos usam trajes militares: à esquerda, um homem de cabelos escuros e curtos, de quepe preto, casaco preto, calças pretas e sapatos pretos, apoiado em uma espada metálica cuja ponta está amparada no chão. À direita, um homem de cabelos brancos, bigode branco e espesso, cobrindo os lábios, quepe branco com uma faixa preta, casaco preto com botões metálicos, calças pretas e sapatos pretos, com uma das mãos ao lado de seu corpo. Ao fundo, vegetação e troncos de árvores altas, vistas parcialmente.
O imperador alemão Wilhelm segundo, à esquerda, com Óto Bismarck, à direita, em fotografia da década de 1860.

UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA (SÉCULO dezenove)

Mapa. Unificação da Alemanha. Século 19. Mapa representando parte do norte do continente europeu, com o Mar do Norte a noroeste e o Mar Báltico a nordeste. No continente, entre a França (a oeste), a Rússia (a leste), e o Império Austríaco (ao sul), diferentes territórios estão demarcados com cores distintas.  Na legenda, em cor de laranja, 'Prússia em 1861'. Estendendo-se a oeste, desde a fronteira com os Países Baixos, a Bélgica e a França, com destaque para a cidade de Colônia, até os limites das regiões de Hannover e Nassau, com territórios a norte de Hesse e na Saxônia. E a leste, estendendo-se desde os limites das regiões de Mecklembourg e Saxônia, com destaque para a cidade de Berlim, até a fronteira com a Rússia, atingindo o litoral do Mar Báltico com destaque para a cidade de Dantzig, e o Império Austríaco, ao sul. Em lilás, 'Ducado administrado pela Prússia'. Destaque para a região de Schleswing, na Península da Jutlândia, ao sul da Dinamarca. Em rosa, 'Ducado administrado pela Áustria'. Destaque para Holstein, ao sul de Schleswing, entre os mares do Norte e Báltico. Em roxo, 'Aquisições da Prússia'. Destaque para Lauenburg, ao sul de Holstein. Em amarelo, 'Aquisições prussianas em 1866'. Destaque para as regiões de Hannover, Oldenburg, Mecklembourg, Saxônia, Hesse e Nassau.  Contornada por uma linha vermelha, 'Confederação Germânica do Norte (1866-1871)'. Englobando os territórios da Prússia em 1861 e as regiões de Hannover, Oldenburg, Mecklembourg, Nassau, Hesse, Saxônia, Lauenburg, Holstein e Schleswing.  Em verde claro, 'Estados do sul'. Englobando Wurtemberg e Baviera (com destaque para a cidade de Munique), ao sul da Confederação Germânica do Norte.  Contornado por uma linha verde escura, 'Limites do Império Alemão em 1871'. Englobando os territórios da Confederação Germânica do Norte e as regiões da Alsácia-Lorena (ao sul da Prússia), Wurtemberg e Baviera (com destaque para a cidade de Munique).  Em marrom, 'Alsácia-Lorena', um território ao sul da Prússia, a leste da França e a oeste de Wurtemberg, com destaque para a cidade de Estrasburgo. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 110 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: dubí, . Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 237; Serrán, Piérre; Blasséle, Renê. Atlas Bordas géographique et historique. Paris: Bordas, 1996.

Muitos fatores relacionados à unificação alemã

Apesar do protagonismo de Bismarck, a unificação alemã não foi uma obra individual. Pelo contrário, ela resultou do desenvolvimento industrial da Prússia, da integração econômica de grande parte do território alemão e da expansão de uma cultura nacional e belicista.

Respostas e comentários

Orientações

No estudo sobre a unificação alemã, cabe chamar a atenção dos estudantes para as semelhanças e diferenças entre tal processo e o italiano. No caso alemão, diferentemente do italiano, é importante observar que havia uma dispersão dos Estados e povos por toda a Europa Central, o que dificultava o desenvolvimento da integração territorial, econômica, política e cultural nacional.

Ressalte também que o exército prussiano se tornou a mais poderosa fôrça armada da Europa, como resultado de um grande esfôrço empregado por Bismarck para equipá-lo, modernizá-lo e aperfeiçoá-lo.

A derrota na Guerra Franco-Prussiana nunca foi aceita pelos franceses, que, a partir de então, passaram a nutrir um forte sentimento de revanche contra os alemães.

Observação

O estudo da formação da Alemanha possibilita mais uma vez o desenvolvimento do seguinte objeto de conhecimento: Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

ROBSBAUM, Eric. Nações e nacionalismos desde 1780. 10. edição. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

O historiador analisa a construção dos nacionalismos a partir do final do século dezoito na Europa.

márquis, cal. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Edípro, 2017.

márks aborda nessa obra os episódios que levaram ao golpe de Estado de Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte, na França entre 1848 e 1851.

Toquevíle, Alecsí. Lembranças de 1848: as jornadas revolucionárias em Paris. São Paulo: Pêngüim: Companhia das Letras, 2011.

O livro traz uma apanhado das agitações políticas e sociais na França em 1848.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Em seu caderno, copie e complete o quadro a seguir com informações sobre a onda revolucionária que se espalhou pela Europa na primeira metade do século dezenove.

1820

1830

1848

Motivos

Alcance

Resultados


2. O texto a seguir apresenta uma reflexão sobre a ideia de Estado-nação e sobre o nacionalismo. Leia-o atentamente para responder às questões.

Havia uma diferença fundamental entre o movimento para fundar Estados-nações e o “nacionalismo”. O primeiro era um programa para construir um artifício político que dizia basear-se no segundo. Não há dúvida de que muitos daqueles que se consideravam “alemães” por alguma razão achavam que isso não implicava necessariamente um Estado alemão único reticências. Um caso extremo de divergência entre nacionalismo e nação-Estado era a Itália reticências. No momento da unificação [italiana], em 1860, estimou-se que não mais de 2,5% de seus habitantes falavam a língua italiana no dia a dia reticências. Não é de admirar que (1792-1866) exclamasse em 1860: “Fizemos a Itália; agora precisamos fazer os italianos”.

róbisbáum, Eric J. A era do capital, 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. página 133-134.

  1. Por que, segundo o autor, é preciso diferenciar o nacionalismo dos Estados-nações na Europa?
  2. Explique o significado da frase de citada no texto.
  3. Por que a unificação italiana somente se concretizou por meio de uma guerra?

3. Observe a charge com atenção e registre uma reflexão em seu caderno relacionando-a ao processo de unificação da Alemanha.

Caricatura. Desenho colorido sobre folha de cor bege. Em destaque, no centro da imagem, um homem com a cabeça maior que o corpo, olhando para a esquerda, em pé sobre o desenho de um mapa no chão. Ele usa um capacete preto com detalhes dourados, ponta fina com uma lança dourada na parte superior da cabeça e alça dourada abaixo do queixo. O capacete cobre a cabeça, a testa e os olhos da figura. Ele tem um bigode grande marrom cobrindo seus lábios e usa um traje militar composto de casaco azul escuro com gola e punhos vermelhos, dragonas douradas sobre os ombros, cinto vermelho e dourado, calça azul clara e botas de cano longo pretas. Usa também uma espada de cabo dourado presa à cintura. Ele está com as pernas um pouco afastadas, uma delas flexionada, e segura nas mãos uma vassoura de palha marrom na diagonal, varrendo do mapa sobre o qual está em pé dezenas de soldados, em miniatura, com roupa azul e lanças para o alto.  No alto da gravura, um texto escrito à mão, ilegível. Na parte inferior, um texto impresso, em francês, ilegível.
Caricatura francesa representando Óto Bismarck varrendo os franceses na Guerra Franco-Prussiana. 1870. Litogravura. Coleção particular.
  1. Atualmente, com o agravamento da crise econômica na Europa, o nacionalismo tem assumido uma feição exacerbada e racista. Na França e na Itália, por exemplo, tem crescido a atuação de grupos nacionalistas de extrema-direita, que apoiam políticas anti-imigratórias em seus países. Segundo eles, os imigrantes seriam os responsáveis pela falta de emprego e pelos baixos salários pagos pelas empresas. Os imigrantes também seriam os grandes responsáveis pelos males da sociedade, como o aumento da pobreza e da violência. Reflita sôbre esse tema e discuta as questões a seguir com seus colegas. Lembre-se de escutar as ideias deles com atenção e respeito.
    1. Você concorda com essas ideias? Por quê?
    2. Que medidas poderiam ser tomadas para diminuir o preconceito contra os imigrantes?
    3. No Brasil também existe esse tipo de preconceito? Justifique a resposta.
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objeto de conhecimento

Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Habilidade

São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:

ê éfe zero oito agá ih dois três (atividade 4)

Respostas

1. Motivos:

1820: O movimento se originou como reação às tentativas de restauração do Antigo Regime.

1830: A revolução surgiu na França em reação às conservadoras Ordenações de Julho.

1848: Dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora, elevação do custo de vida, péssimas colheitas, crise econômica e desemprêgo.

Alcance:

1820: Regiões com baixo índice de industrialização, com centro na Itália, na península Ibérica e na Grécia.

1830: O movimento atingiu a península Itálica, os Estados germânicos, a Bélgica e a Inglaterra.

1848: Começou na França e se espalhou pelos Estados germânicos e pela península Itálica.

Resultados:

1820: A Grécia conquistou sua independência do domínio otomano, em 1829.

1830: A Bélgica conquistou sua independência dos Países Baixos; na Inglaterra houve ampliação do número de eleitores e regulamentação da organização do operariado. Em outros Estados, a revolução foi sufocada, porém deixou sementes do liberalismo e do nacionalismo.

1848: Proclamação da Segunda República na França, refôrço do nacionalismo nos Estados germânicos e na península Itálica. O Império Austríaco aboliu o trabalho servil no campo, e a Hungria se tornou independente da Áustria.

2. a) O nacionalismo é o sentimento de identidade que une habitantes de uma região, que compartilham tradições, costumes, língua e uma história comum. O Estado-nação se apropria do discurso nacionalista para criar a centralização política sobre limites territoriais definidos.

b) A frase expressa a contradição do movimento de unificação italiana, que resultou na constituição de um Estado nacional sem que houvesse uma unidade cultural, étnica e territorial na região.

c) A construção do Estado-nação era um projeto político da burguesia e da classe média interessadas na criação de um mercado interno e na modernização econômica. À ausência de um sentimento nacional, somavam-se as contradições entre o norte, industrializado e dinâmico, e o sul, agrário e dominado pelo latifúndio. Por isso, a unificação italiana foi feita por meio da guerra.

3. A charge representa o chanceler da Prússia, Óto fónBismarck, e a vitória da Prússia na Guerra Franco-Prussiana. Esse foi o último conflito antes da unificação da Alemanha.

4. Atividade de debate. Estimule os estudantes a desenvolver a capacidade de dialogar, de cooperar e de valorizar a diversidade de indivíduos.

CAPÍTULO 12 A EUROPA INDUSTRIAL E OS TRABALHADORES

Em grande parte da Europa do século dezenove, os valôres ligados à monarquia e aos privilégios aristocráticos, que caracterizavam o Antigo Regime, deram lugar à república e ao liberalismo.

Naquele cenário, a ciência, a indústria, a arte e até a religião passaram a ser influenciadas pelos ideais de liberdade. Os avanços obtidos pela Revolução Industrial e pelas ciências eram comemorados como grandes conquistas da humanidade.

Além disso, com as mudanças sociais e políticas geradas pelo liberalismo, passou a haver, entre os diversos grupos sociais, maior respeito às leis e maiores espaços para debates políticos.

No entanto, alguns filósofos e pensadores consideravam essas mudanças insuficientes, pois, apesar de conduzirem a uma igualdade política e jurídica, não promoveram a igualdade social nem econômica.

Naquele cenário de transformações, um novo elemento surgiu no conjunto de fôrças da sociedade: os operários. Ao perceberem que a riqueza gerada ia apenas para os cofres do patrão, eles passaram a exigir melhores condições de trabalho nas fábricas. Que iniciativas os operários tomaram? O que fizeram para aumentar o poder de negociação com os donos das fábricas?

Pintura. Vista de local aberto, com muitas pessoas aglomeradas em frente a uma edificação com paredes de tijolos vermelhos, vista de lado e parcialmente, à esquerda, tendo à frente uma escada com cinco degraus.  No alto da escadaria, há um homem de cabelos e barba brancos, vestido de preto e com uma cartola preta sobre a cabeça.  No centro e se estendendo para a direita, há homens, mulheres e crianças, formando um grupo à frente dessa escadaria, vestidos com roupas simples de operários, gente pobre e simples.  No canto esquerdo, há uma mulher de cabelos pretos e saia longa segurando um bebê no colo, coberto por um cobertor preto. Ao lado dela, uma menina, de cabelos castanhos e curtos, blusa branca de mangas longas, vestido de alças preto até os joelhos, meias vermelhas e sapatinhos pretos. Ela olha para o grupo no centro.  Em primeiro plano, nesse grupo, há uma mulher de vestido longo preto discutindo com um homem visto de costas, de casaco cinza manchado e calças pretas. Ele está com os dois braços estendidos para os lados, como quem se justifica.  À esquerda dele, um homem de blusa branca, colete e calças de cor bege, está com as costas curvadas, pegando algo sobre o chão.  Mais ao fundo, um menino de cabelos castanhos, curtos, vestido com camisa branca e macacão cinza, está descalço, correndo ao lado do grupo. À frente do grupo, em pé, diante da escadaria, há um homem de boina preta, casaco preto, camisa vermelha e calças pretas. Ele está na base das escadas, diante do homem de terno e cartola pretos, apontando para a direita. No canto superior direito, há um conjunto de construções baixas com chaminés altas.  Ao fundo, centralizadas, no horizonte, à distância,  fábricas e chaminés, das quais sai muita fumaça.  No alto, céu cinza.
Cuêla, Rôbert. A greve na região de Charleroi. 1866. Óleo sobre tela, 1,81 por 2,75 métros Museu Histórico Alemão, Berlim, Alemanha. A obra representa uma paralisação de trabalhadores em uma fábrica em Charleroi, na Bélgica, em 1866.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

O Capítulo estimula a reflexão dos estudantes a respeito de várias questões relacionadas à formação da sociedade contemporânea, possibilitando estabelecer conexões estreitas com problemáticas da atualidade. Sugerimos que, ao iniciar o estudo, indague aos estudantes: Quais foram os desdobramentos da industrialização na Europa do século dezenove?

O avanço da industrialização, o crescimento das cidades industriais e a concentração de riquezas nas mãos da burguesia fortaleceram a crença no progresso, a visão otimista da sociedade, a valorização da tecnologia e das ciências. O paradoxo entre crescimento econômico e pobreza, que acompanhou a industrialização, a contradição entre os ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade” e as políticas liberais excludentes do século dezenove favoreceram o surgimento do operariado como fôrça política e de pensadores e ativistas que propunham novas fórmas de organização da sociedade, capazes de eliminar a pobreza e as injustiças criadas pelo capitalismo.

Observação

O conteúdo desta página contribui para iniciar o trabalho com aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três e fornece subsídios para o posterior desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois três.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero oito agá ih zero três: Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas.

ê éfe zero oito agá ih dois três: Estabelecer relações causais entre as ideologias raciais e o determinismo no contexto do imperialismo europeu e seus impactos na África e na Ásia.

ê éfe zero oito agá ih dois sete: Identificar as ten­sões e os significados dos dis­cursos civilizatórios, avalian­do seus impactos negativos para os povos indígenas origi­nários e as populações negras nas Américas.

Ciência e Tecnologia

A expansão da industrialização na Europa

Ao longo do século dezenove, a Revolução Industrial se expandiu pelo continente europeu. O processo de urbanização se intensificou e novas fábricas foram instaladas em vários países. O crescimento industrial ocorreu associado à expansão comercial e à livre concorrência, marca típica do liberalismo.

Contudo, a presença da população trabalhadora nas grandes fábricas ainda era minoritária. Em 1831, por exemplo, havia nas ilhas britânicas mais de 12,5 milhões de trabalhadores; destes, apenas 500 mil trabalhavam nas fábricas. Anos depois, em 1851, a Inglaterra — considerada, na época, a oficina do mundo — tinha mais ferreiros que operários siderúrgicos. Isso ocorria porque, mesmo com a expansão da industrialização, a produção artesanal continuava absorvendo a maior parte da mão de obra urbana.

De todo modo, com o passar do tempo, as cidades industriais tornaram-se cada vez mais povoadas e marcadas pelo contraste entre o florescimento de uma rica burguesia e a pobreza do operariado. A desigualdade social podia ser percebida no próprio espaço urbano: escritórios, lojas e demais estabelecimentos comerciais, habitações, praças, parques e vias embelezadas coexistiam com bairros mal iluminados, pequenas casas e cortiços, lixo e esgôto espalhados por ruas e calçadas.

Apesar desses contrastes, o progresso técnico-científico e a produção maciça de bens de consumo no período, mesmo que tenham beneficiado apenas uma parcela pequena da população, proporcionaram mais conforto às pessoas. Com essas conquistas materiais, as elites europeias passaram a valorizar a ciência e a tecnologia.

Pintura. Cena noturna. Vista uma rua, com lojas ao fundo e à direita. Em primeiro plano, no centro, uma mulher com o corpo voltado para à esquerda, de cabelos castanhos cobertor por um chapéu cor de vinho, usando um vestido sob um casaco preto acinturado, longo até os pés, com detalhes de pelos na gola, na barra e nos punhos. Ela olha para a direita, com o rosto voltado para o observador. 
Atrás dela, à direita, há cinco homens. Visto de lado, em pé, com o corpo voltado para a esquerda, um senhor de bigodes grisalhos,  com cartola preta, casaco marrom claro e calça marrom escura, com  as mãos nos bolsos. Outros dois homens de cartola estão mais ao fundo e à esquerda, conversando. Um gesticula com a mão direita, perto do outro, de bigode preto e mãos nos bolsos. 
Na ponta da direita, mais ao fundo, um homem com o corpo voltado à direita, de cartola preta, camisa branca, casaca preta, calça e sapatos pretos, conversa com um homem calvo, com cabelos ralos e grisalhos, visto de lado, com o corpo voltado para a esquerda, de casaco cinza segurando uma cartola preta em sua mão. Acima deles, anúncios luminosos de fundo vermelho e letras brancas com texto ilegível. Abaixo, no canto direito, suas mesas redondas e pequenas, com tampo branco, e sobre o tampo de casa uma, uma bandeja prateada com uma garrada de vidro e uma taça.
Em primeiro plano, à esquerda, Um homem calvo de costeletas de cor cinza, casaco preto, camisa branca e
de avental branco da cintura para baixo. Na mão esquerda, ele segura um pano branco. Está de frente para uma mulher vista de costas, de chapéu preto com plumas azuis com casaco preto e saia longa longa preta co plumas. Ela está com a mão esquerda sobre a cintura. 
Atrás dela, um rapaz de boina preta, camisa preta, casaco azul e calças pretas, segura jornais em suas duas mãos. Está com a boca aberta, como se gritasse algo.
Em segundo plano, uma carruagem preta, puxada por cavalos, com o cocheiro sentado em plano mais elevado, usando uma cartola preta e um casaco preto.
Mais ao fundo, no ambiente de rua, há outras pessoas, homens e mulheres em pé, conversando e observando o entorno.
 Ao fundo, no centro, uma construção de dois andares, com colunas e um frontão de formato triangular sobre a fachada. Esse local é iluminado por luzes em tons de amarelo e há outras pessoas dentro da construção, no andar mais alto.
Berrô, Jan. Boulevard Montmartre e o Teatro Variétés.cêrca de 1885. Óleo sobre tela, 50 por 71 centímetros. Museu Carnavalet, Paris, França. Frequentado pelas elites, o local apresentava espetáculos teatrais e de dança.
Respostas e comentários

Texto complementar

Leia a seguir as impressões de ênguels ao observar o crescimento das grandes cidades inglesas no período da industrialização:

Até mesmo a multidão que se movimenta pelas ruas tem qualquer coisa de repugnante, que revólta a natureza humana. Esses milhares de indivíduos, de todos os lugares e de todas as classes, que se apressam e se empurram, não serão todos eles seres humanos com as mesmas qualidades e capacidades e com o mesmo desejo de serem felizes? E não deverão todos eles, enfim, procurar a felicidade pelos mesmos caminhos e com os mesmos meios? Entretanto, essas pessoas se cruzam como se nada tivessem em comum, como se nada tivessem a realizar uma com a outra, e entre elas só existe o tácito acôrdo pelo qual cada uma só utiliza uma parte do passeio para que as duas correntes da multidão que caminham em direções opostas não impeçam seu movimento mútuo – e ninguém pensa em conceder ao outro sequer um olhar. Essa indiferença brutal, esse insensível isolamento de cada um no terreno de seu interesse pessoal é tanto mais repugnante e chocante quanto maior é o número desses indivíduos confinados nesse espaço limitado; e mesmo que saibamos que esse isolamento do indivíduo, esse mesquinho egoísmo, constitui em toda a parte o princípio fundamental da nossa sociedade moderna, em lugar nenhum ele se manifesta de modo tão impudente e claro como na confusão da grande cidade. A desagregação da humanidade em mônadas, cada qual com um princípio de vida particular e com um objetivo igualmente particular, essa atomização do mundo, é aqui levada às suas extremas consequências.

ênguêl frederíc. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010. página. 68. (Coleção Marcs Ênguels).

Observação

O conteúdo apresentado nesta página contribui para consolidar o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

Ciência e Tecnologia

A valorização do mundo técnico-científico

O progresso técnico-científico possibilitado pela Revolução Industrial passou a ser celebrado em grandes eventos conhecidos como exposições universais. Essas feiras, intimamente ligadas à consolidação do capitalismo, foram as grandes vitrines do mundo inventivo e produtivo da burguesia europeia.

As exposições exibiam e comercializavam os mais variados produtos da atividade humana, da agricultura à metalurgia, dos instrumentos científicos aos novos materiais didáticos, das utilidades em geral às artes plásticas.

Além disso, as exposições universais serviam para demonstrar a solidez do sistema fabril, o triunfo da “civilização” europeia e o poder de intervenção e de domínio do ser humano sobre a natureza. Entretanto, esse otimismo em relação ao mundo das inovações e da tecnologia ocultava as péssimas condições de trabalho dos operários e a devastação do ambiente.

A primeira exposição universal

A Inglaterra, pioneira da industrialização, sediou a primeira exposição universal, realizada em 1851. Para abrigar o evento, foi erguido na cidade de Londres o grande Palácio de Cristal. A suntuosa construção privilegiava a entrada da luz solar, valorizando a iluminação natural.

O evento contou com mais de 14 mil expositores de 28 países e, nos 140 dias em que a exposição esteve aberta, recebeu mais de 6 milhões de visitantes. O sucesso do primeiro empreendimento foi determinante para que outros ocorressem ao longo do século dezenove e tem inspirado iniciativas semelhantes até os dias de hoje.

Ilustração. Vista de  um local fechado, um pavilhão alto, com estrutura de metal, observado em toda sua extensão. A edificação possui dois pavimentos nas laterais e um corredor amplo no centro. O desenho mostra uma visão da altura do segundo pavimento.  No primeiro pavimento, no corredor formado no centro, há muitas pessoas em pé, em grupos, observando uma série de objetos expostos em estandes diferentes: há duas esculturas em forma de cavalo, uma urna alta cor de cobre,  um canhão preto, uma grande rocha marrom, uma escultura branca representando um homem nu de pé, uma escultura equestre, representando um homem à cavalo em cor de bronze, uma grande luminária de piso dourada com base redonda e dez lâmpadas redondas e brancas, e outros objetos diversos, dispostos em estandes e em mesas de cor vermelha. À esquerda e à direita, as laterais do pavilhão são adornadas por cortinas vermelhas.  No pavimento superior, as laterais são protegidas por parapeitos de metal trançado. À direita, um homem de casaco preto, camisa branca, gravata borboleta e colete marrom se apoia no parapeito e observa o andar inferior. Nesse andar, também há muitos objetos dispostos: à esquerda: tapetes estampados e coloridos, à direita, vasos e esculturas em uma estante amarela. Há homens e mulheres caminhando no pavimento superior, observando os objetos. O teto do pavilhão é feito de material transparente sustentado estruturas metálicas cruzadas, que formam pequenos quadrados.
Interior do Palácio de Cristal, construído para a Exposição Universal de 1851, em Londres. 1854. Ilustração. Arquivo Metropolitano de Londres, Inglaterra.
Ícone. Sugestão de livro.

BRAGA, Marco Antonio Barbosa; MORAES, Andreia Guerra de; REIS, José Cláudio de Oliveira. Breve história da Ciência moderna. volume 4: A belle époque da ciência. Rio de Janeiro: zarrár, 2008. O livro fala sobre o século dezenove e a grande euforia em relação às conquistas científicas e tecnológicas da época.

Respostas e comentários

Orientações

Talvez a melhor expressão do ambiente social e cultural de valorização do progresso técnico e científico que a Revolução Industrial propiciou sejam as exposições universais, como as organizadas em Londres (1851) e em Paris (1867). Paralelamente, as ciências tiveram notável desenvolvimento durante o século dezenove. Privilegiando o uso da observação, da experimentação, da lógica e da razão, a ciência mostrava que o mundo natural era governado por leis naturais (e não divinas), opondo-se, portanto, ao pensamento religioso. A reflexão proposta nesta página possibilita explorar o tema contemporâneo Ciência e tecnologia.

Observação

O conteúdo desta página possibilita avançar no desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três e fornece subsídios para o trabalho inicial com a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois três.

Ícone. Sugestão de site.

Sugestão para o professor:

rréchitégui (cerquilha, sustenido)6: Revolução Industrial. [Locução de]: Cesar Agenor; Marcelo Silva. [sem local.]: Fronteiras do Tempo, 16 junho. 2015. Podcast. Disponível em: https://oeds.link/9kLot6. Acesso em: 4 maio 2022.

O podcast apresenta uma discussão sobre o impacto das transformações após a Revolução Industrial.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões para o estudante:

Cordenónsi, A. Z. Le Chevalier e a exposição universal. São Paulo: , 2015.

A história se passa no ano de 1867, quando estava sendo organizada a Exposição Universal, e narra o contexto político do govêrno monárquico de Napoleão terceiro e as conspirações da Prússia que antecederam a Guerra Franco-Prussiana.

TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução industrial. 12. edição. São Paulo: Ática, 2019.

Esse livro oferece ao estudante um panorama das principais transformações que ocorreram na Europa no século dezenove com o advento da sociedade industrial e capitalista.

Algumas teorias científicas do século dezenove

Desde o Renascimento, filósofos e cientistas desenvolveram fórmas de explicar os fenômenos da natureza sem recorrer aos textos bíblicos e sem considerar a ideia de que os eventos são regidos pela vontade de deuses ou espíritos sobrenaturais.

Nesse contexto, o desenvolvimento de uma mentalidade científica levou à perda da influência política das igrejas e à separação entre a Igreja e o Estado. A ciência ficou livre para explorar todas as áreas do conhecimento.

No início do século dezenove, o naturalista francês Jean Batísti de Lamarck, por exemplo, defendeu a ideia da transformação das espécies. Ele propunha que os seres vivos mais simples surgem por geração espontânea e se transformam segundo duas leis: os órgãos são desenvolvidos ou atrofiados de acôrdo com o uso ou o desuso e as características adquiridas (ou perdidas) por um ser vivo são transmitidas a seus descendentes.

Essa e outras teorias influenciaram as pesquisas do naturalista inglês chárlis Dárvin sobre a seleção natural. Segundo Dárvin, os indivíduos de uma mesma espécie apresentam grande variação entre si. Um grupo com determinadas características pode se adaptar melhor ao ambiente do que outros indi­víduos da mesma espécie que apresentem características diferentes. Dessa fórma, esse grupo apresenta mais chances de sobreviver e deixar descendentes. As características que possibilitam melhor adaptação ao ambiente acabarão, com o tempo, se tornando mais comuns naquela espécie. Dárvin chamou esse processo de seleção natural.

Ler os quadrinhos

Quadrinhos. História em quatro quadros. Apresenta como personagens: Deus, um senhor careca, com barba comprida branca, olhos arregalados, vestido com uma túnica de mangas compridas amarela. Darwin, outro senhor careca e de  barba branca longa, este com olhos pequenos e de sobrancelhas unidas. há também, quatro animais diferentes: uma toupeira marrom com a ponta do focinho em forma de estrela cor de rosa. Um ornitorrinco cor de laranja, com focinho e cauda marrom, uma girafa amarela com pintas marrons e um hipopótamo cinza, um morcego, um pinguim e um gorila. Primeiro quadro. Vistos da cintura para cima, à esquerda, a toupeira com focinho em formato de estrela, olhos fechados e boca aberta, de frente para Deus, no centro. À esquerda de Deus, o ornitorrinco.  A toupeira com um balão de fala: 'POR QUE ESSA ESTRELA?'. Deus a olha atento, com a mão no queixo.  à direita, o ornitorrinco com um balão de fala:  'SOU MOTIVO DE PIADA POR TODOS!'.  Segundo quadro. À esquerda, o hipopótamo cinza, com a barriga em bege; no centro, Deus, com a mão no queixo, olhando para o alto; e à direita, no alto, vista do pescoço e da cabeça da girafa. O hipopótamo com expressão irritada e o balão de fala:  'POR QUE SOU TÃO GORDO?' Deus, olhando para cima, está com a mão direita no queixo e tem uma linha fina preta na diagonal acima da cabeça dele. À direita, a girafa, com expressão irritada e o balão de fala: 'E O PESCOÇO?'. Terceiro quadro. À esquerda, em um grupo, a girafa, o hipopótamo, o ornitorrinco e a toupeira com focinho de estrela. Todos olham com cenho franzido para Deus, à direita. Ele está com os olhos fechados, mão abertas para frente e o balão de fala: 'SINTO MUITO, MAS ESSE NÃO É MAIS MEU DEPARTAMENTO. IREI ENCAMINHÁ-LOS PARA O NOVO RESPONSÁVEL'.  Quarto quadro. Dentro de um quarto de paredes de cor marrom, com uma janela, e um aparador marrom com um despertador, à direita. À esquerda, o hipopótamo, a girafa, o ornitorrinco com os braços cruzados, a toupeira de focinho de estrela, um morcego pousado de ponta cabeça sobre o pescoço da girafa, um gorila e um pinguim, todos com expressões aborrecidas. No centro, Darwin deitado sobre uma cama, com uma coberta azul e um travesseiro azul sob sua cabeça. Atrás de Darwin, Deus o observando e chacoalhando com as duas mãos. Deus com um balão de fala:  'DARWIN... Ô DARWIN... '.
RUAS, Carlos. revólta dos bichos. 2011. Para Dárvin, todas as espécies, incluindo o ser humano, derivaram de uma primeira fórma de vida e evoluí­ram conforme a lei da seleção natural.

Os quadrinhos anteriores dialogam com duas explicações diferentes para a origem das espécies. Identifique essas explicações, justificando sua resposta.

Respostas e comentários

Orientações

Nesta página, destacamos o trabalho de Lamarck (1744-1829) e Dárvin (1809-1882), cujas ideias poderão ser aprofundadas com o apôio do professor de Ciências.

Após os estudos de Lamarck, o pesquisadorálfréd rãssel uólace (1823-1913) defendeu a hipótese de que os seres mais bem adaptados ao ambiente sobrevivem.

A atividade científica mostrava que o mundo natural era governado por leis físicas. A ciência podia explicar os fenômenos da natureza sem precisar recorrer aos textos bíblicos e sem atribuir a origem dos eventos a entidades sobrenaturais. O desenvolvimento de uma mentalidade científica foi acompanhado de uma progressiva secularização da sociedade.

Discuta com os estudantes o impacto da divulgação da teoria da evolução por seleção natural e o choque entre a nova mentalidade científica que se desenvolvia na época e as crenças religiosas sobre a origem da vida e as diferenças entre as várias espécies. Com sua teoria, Dárvin concluía que todas as espécies, incluindo o ser humano, teriam derivado de uma primeira fórma de vida e evoluído pela lei da seleção natural.

O conteúdo abordado nesta página possibilita explorar o tema contemporâneo Ciência e tecnologia.

Resposta

Ler os quadrinhos: Nos dois primeiros quadrinhos, os bichos procuram Deus para obter explicações sobre algumas características apresentadas por sua espécie. Assim, esses quadrinhos remetem à explicação bíblica para a origem das espécies, segundo a qual todas elas foram criadas por Deus na origem do mundo, preservando, desde então, as mesmas características. Nos dois últimos quadrinhos, Deus orienta os bichos a pedir a Dárvin as explicações sobre as características de cada espécie. Nesse ponto, a tirinha remete à teoria da seleção natural, mostrando que cabe à ciência, e não à religião, explicar as características das espécies.

Observação

O conteúdo desta seção contribui para dar início ao desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois três.

darvinísmo social

No século dezenove, a teoria da seleção natural de Dárvin foi aplicada por alguns pensadores para explicar a vida em sociedade, dando origem ao darvinísmo social, que considerava os seres humanos desiguais e dotados de capacidades inatas, algumas superiores e outras inferiores. Os indivíduos mais aptos e fortes derrotariam os menos aptos e fracos na luta pela sobrevivência.

Com base nesses princípios pretensamente científicos, surgiram discursos racistas que justificavam a desigualdade social e a prática imperialista das potências europeias na África, na Ásia e na América.

Leia a seguir como um naturalista francês descreve a “superioridade europeia” e justifica a subjugação de outros povos.

É necessário, pois, aceitar como princípio e ponto de partida o fato de que existe uma hierarquia de raças e civilizações, e que nós pertencemos à raça e civilização superior, reconhecendo ainda que a superioridade confere direitos, mas, em contrapartida, impõe obrigações estritas. A legitimação básica da conquista de povos nativos é a convicção de nossa superioridade, não simplesmente nossa superioridade mecânica, econômica e militar, mas nossa superioridade moral. Nossa dignidade se baseia nessa qualidade, e ela funda o nosso direito de dirigir o resto da humanidade. O poder material é apenas um meio para esse fim.

, Júls . Citado em: MARQUES, Ademar; LOPEZ, Luiz Roberto. Imperialismo: a expansão do capitalismo. Belo Horizonte: Lê, 2000. página 18.

E no Brasil...

O darvinísmo social influenciou intelectuais, cientistas e políticos no Brasil e em outros países da América do Sul nas últimas décadas do século dezenove. Para a antropóloga Lilia Chuárquis:

reticências o conhecimento e a aceitação desses modelos evolucionistas e darvinístas sociais por parte das elites intelectuais e políticas brasileiras traziam a sensação de proximidade com o mundo europeu e de confiança na inevitabilidade do progresso e da civilização reticências. Paradoxalmente, a introdução desse novo ideário científico expunha, também, as fragilidades e especificidades de um país já tão miscigenadoglossário .

Chuárquis, Lilia Mórits. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993. página 46.

Ainda segundo Lilia Chuárquis, os darvinístas sociais consideravam que a miscigenação era ruim para a evolução da espécie humana, pois provocaria a degeneração dos indivíduos. Nos meios científicos do Brasil passou a prevalecer a ideia de “hierarquia de raças”, em que o valor era atribuído conforme o grau de “embranquecimento” da pele:

Dessa fórma, o branco [passou a ser visto como] superior ao mestiço, e este, por sua vez, ao negro ou índio. Como se observa, estavam lançadas as bases científicas do preconceito racial e a legitimação das desigualdades sociais em nome da democracia.

BOLSANELLO, Maria Augusta. darvinísmo social, eugenia e racismo “científico”: sua repercussão na sociedade e na educação brasileiras. Educar, Curitiba, número 12, 1996. página 159.

 O uso das ideias do darvinísmo social, no Brasil do século dezenove, trouxe consequências negativas para os indígenas e os afrodescendentes? Por quê?

Respostas e comentários

Orientações

Ao discutir o texto desta página com os estudantes, relacione-o a alguns conteúdos que eles vão estudar mais adiante, preparando-os para a com­preensão crítica do fenômeno do imperialismo europeu, do colonialismo na África e das políticas racistas implantadas no Brasil pós-abolição da escravidão. É importante que eles reconheçam que as teorias de Dárvin foram utilizadas para justificar o poderio e a dominação europeia nos países africanos, mas que o darvinísmo social não expressa o pensamento original do cientista. No Brasil, o darvinísmo social foi difundido ao apoiar os projetos das classes dominantes de branqueamento e exclusão social dos negros na sociedade.

Sugerimos que mencione aos estudantes algumas informações a respeito da expedição que o cientista Charles Dárvin fez ao Brasil. A expedição, que partiu da Inglaterra em 1831 e retornou em 1836, tinha como objetivo levantar informações da costa da América do Sul. Quando chegou ao Brasil, Dárvin teve a oportunidade de conhecer a natureza brasileira, com sua fauna e flora exuberantes. Enquanto esteve no Brasil, o cientista entrou em contato com a realidade social do país, registrando suas impressões em diários e cartas.

A compreensão da teoria da seleção natural, do darvinísmo social e do racismo, que se desenvolveram na Europa a partir do século dezenove, possibilitará aos estudantes refletir sobre seus impactos na formação das colônias nas Américas, principalmente para as populações indígenas e africanas.

Observação

O conteúdo abordado nesta página possibilita desenvolver a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois três e estabelecer conexões com a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete, retomando conhecimentos trabalhados especialmente no Capítulo 11.

Ícone. Sugestão de site.

Sugestão para o professor:

ESPECIAL – Racismo e Eugenia no Brasil. [Apresentação de]: Gabriel Carvalho; Uênderson Ribeiro. [Convidado]: Vêber Lopes Góes. [sem local]: Ontocast, 11 junho. 2021. Podcast. Disponível em: https://oeds.link/xFuyFw. Acesso em: 4 maio 2022.

Nesse podcast o historiador Vêber Lopes Góes apresenta as reflexões resultantes de sua pesquisa sobre as teorias científicas do século dezenove e o racismo.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

A arte realista

A certeza de que a ciência levaria o ser humano ao progresso influenciou também a arte, fazendo surgir o Realismo, corrente artística e cultural que propunha a ruptura com o Romantismo.

Abandonando a intuição, a liberdade de pensamento, a imaginação e o gôsto medievalista da estética romântica, os artistas realistas valorizavam a expressão objetiva e científica dos seres humanos, dos acontecimentos e da paisagem.

Pintura. Em um local com solo bege, pedregoso, um menino e um homem, vistos de costas e lateralmente, trabalham juntos. À esquerda, menino visto de costas, carregando pedra redonda cinza nas mãos. Ele usa camisa de mangas compridas em branco, calça e sapatos marrons. À direita, o homem agachado se apoiando no joelho da perna esquerda. Ele usa camisa de mangas compridas em branco, colete em marrom, calça em marrom-claro e sapatos da mesma cor. Ele segura na mão direita um martelo para cima e no solo, pedaços de pedras. Ao fundo, em segundo plano, morros com grama verde e sombras.
Corbé, Gustáve. Os quebradores de pedra. 1849. Óleo sobre tela, 159 por 259 centímetros. Pinacoteca dos Antigos Mestres, Dresden, Alemanha. Observe como o pintor, que fazia parte do Realismo francês, representou os trabalhadores sem idealização ou dramatização, quase de fórma crua.

Observe, agora, neste trecho do romance Crime e castigo, do escritor russo Fiódor dostoiévisqui (1821-1881), como o narrador descreve um bairro da cidade russa de São Petersburgo:

O calor era insuportável. A vista da cal, dos tijolos, da argamassa, e esse mau cheiro característico do habitante de São Petersburgo que não pode fugir para o campo no verão. reticências O fedor tremendo das tavernas, numerosas nessa parte da cidade, e os ébriosglossário com que topava a cada passo, conquanto fosse dia útil, completavam o colorido repugnante do quadro. reticências Nas ruas centrais de São Petersburgo, onde vive o operariado, o vestuário mais singular não causa a menor estranheza.

dostoiévisqui, Fiódor. Crime e castigo. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1998. página 8-9.

O Realismo se diferenciou do Romantismo principalmente na valorização da observação como a qualidade mais importante de um artista. Com base em princípios da racionalidade científica e com objetividade, os realistas pretendiam ter uma visão fria e distanciada daquilo que estava sendo representado em seus trabalhos.

As obras realistas investigavam e analisavam a realidade social. Comumente, os artistas se inspiravam no cotidiano e na realidade do trabalho de camponeses e de operários urbanos. Interessavam-se, também, pela vida nos subúrbios das grandes cidades.

Que elementos desse texto de Dostoiévski o caracterizam como realista?

Respostas e comentários

Orientações

Na abordagem do Realismo, movimento estético que dominou a segunda metade do século dezenove, é importante destacar a produção de obras de denúncia social, elaboradas por indivíduos que procuravam detalhar a representação da realidade e usar a racionalidade para se expressar, fenômeno relacionado ao desenvolvimento da ciência no período. Além daqueles apresentados na seção, outros artistas realistas podem ser mencionados. No campo da literatura, temos os escritores Gustave Flôbér, Onorrê de Balzac, Charles díquens, Alexandre diumá, ÂnriqueIbsen, Máximo Gorki, entre outros. Nas artes plásticas, podem ser citados gustáv curbê, Onorrê Domiê, eduár manê e Oguíst Rodán, entre outros.

Vale ressaltar que os artistas realistas se dedicavam a temas da vida social, do trabalho e da realidade cotidiana, como os afazeres dos camponeses e dos trabalhadores urbanos ou o modo de vida nos subúrbios das grandes cidades. Eles procuravam sempre investigar a realidade social para depois reproduzi-la de maneira racional e objetiva. Na pintura, por exemplo, buscavam produzir um retrato nítido e concreto do mundo real.

Resposta

dostoiévisqui descreve o bairro de fórma objetiva, com base na observação fria da realidade. A linguagem é direta, os adjetivos não poupam a cidade de São Petersburgo, que não é tratada de fórma idealizada. O autor narra que o bairro era habitado por pessoas malcheirosas e malvestidas, rodeado por fétidas e numerosas tavernas e com ébrios caminhando pelas ruas em pleno dia útil. Essas características revelam o realismo no texto de dostoiévisqui.

Observação

O conteúdo desta seção favorece o desenvolvimento de aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

Atividade complementar

Se considerar relevante, amplie o estudo sobre a arte realista e o momento de seu surgimento. Os estudantes podem optar por pesquisar uma modalidade artística do interesse deles e depois compartilhar os resultados de suas descobertas com a turma, por meio de uma exposição de cartazes ou uma apresentação oral. A atividade deve ser realizada preferencialmente em grupos. A proposta de trabalho nesta atividade favorece as práticas de análise de mídias sociais, análise documental, estudo de recepção e observação, tomada de nota e construção de relatórios.

Novas teorias políticas

O século dezenove estava recheado de novas ideias: novas fórmas de pensar questões sociais e políticas surgiram ao mesmo tempo que novas teorias científicas eram desenvolvidas. Os avanços tecnológicos obtidos com a Revolução Industrial eram comemorados e exaltados. No entanto, a expansão do capitalismo e do liberalismo, apesar de possibilitar o progresso das técnicas, não promoveu igualdade social nem econômica entre as pessoas.

Essa situação contraditória impulsionou o surgimento de propostas para acabar com as injustiças e as desigualdades, e superar os problemas sociais. Veja, a seguir, as proposições de alguns pensadores que viveram na época.

  • sãn simôn foi um teórico francês que dividia a sociedade entre produtores (industriais, operários, artistas, intelectuais e banqueiros) e ociosos (nobres e clérigos). Propunha que o poder político fosse exercido pelos produtores mais eficazes e insistia na solidariedade social.
  • Róbert Ôuen foi um industrial galês que defendia a criação de cooperativas de produtores e consumidores e a educação universal. Em 1797, Ôuen adquiriu uma fábrica têxtil em Níu Lênerc, na Escócia. Ali, adotou medidas que melhoraram as condições de trabalho, como a redução da jornada, a assistência aos operários e seus filhos e a criação de cooperativas. Naquela fábrica, Ôuen também organizou uma escola em tempo integral para os filhos dos trabalhadores.
  • Charles furriê foi um crítico social francês que propôs a criação dos falanstérios, comunidades autônomas e autossuficientes onde as pessoas viveriam de fórma cooperativa e cada uma trabalharia de acôrdo com sua capacidade.
Gravura. Vista de local fechado com piso de madeira marrom claro, pé direito elevado, janelas altas retangulares na parede do fundo, um longo painel de uma ponta a outra dessa parede, com representações de animais (um cavalo branco, um elefante cinza, uma zebra, um tigre, entre outros), há um banco de madeira em toda extensão dessa mesma parede.  No centro, dezenas de meninas vestidas com vestidos brancos, de mangas curtas, e descalças, algumas com os pés em meia ponta. À esquerda e ao fundo, ao redor do salão, homens e mulheres sentados e de pé. Os homens estão vestidos com casacos escuros e calças de cores variadas (preto, azul e outras cores) e as mulheres usam vestidos longos claros (branco ou rosa) e chapéu na cabeça. À direita, três homens sentados em banquetas, vestidos com casacos azuis,  e calças brancas. Cada um deles toca um violino marrom. à frente deles, um pedestal de madeira com um suporte para partituras. Logo abaixo, dois homens em pé, um de costas vestido com casaco marrom e calças escura e outro com casaco azul e calças marrons, este de braços cruzados à frente das meninas.  Ao fundo, na parede da direita, um quadro branco com um mapa desenhado, representando parte da Europa.  À esquerda, em um mezanino de madeira marrom, há outras três pessoas, vistas parcialmente.
Representação de aula de dança na Fundação de Róbert Ôuen em Níu Lênerc, em 1823. Gravura. Coleção particular.
Respostas e comentários

Orientações

O estudo do pensamento socialista (de reformadores, como os “socialistas utópicos”, ou revolucionários, como os “socialistas científicos” e os anarquistas) é importante para que os estudantes compreendam o caráter das lutas políticas do século dezenove e possam se apropriar desse aprendizado para entender as revoluções e os conflitos que marcaram o século vinte.

Três pensadores com distintas visões dos problemas sociais e de suas possíveis soluções são apresentados nesta página. sãn simôn era um liberal de origem nobre, e não propriamente um socialista. Ele defendia a livre empresa e o lucro dos industriais e propunha que o govêrno fosse composto de trabalhadores e capitalistas. Róbert Ôuenera um industrial que investiu em melhorias nas condições de trabalho em sua própria fábrica. Charles furriê propôs a criação de falanstérios (ver seção “Ler o texto” adiante), onde cada um receberia conforme sua capacidade de trabalho. Para furriê, o socialismo seria uma etapa final da história humana, quando os problemas sociais estariam superados.

Observação

O conteúdo desta página possibilita desenvolver em maior profundidade a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três, por meio da reflexão sobre as tensões entre diferentes visões de mundo, teorias sociais e práticas que influenciaram a sociedade europeia do século dezenove, pós-Revolução Industrial.

O socialismo de márks e ênguels

sãn simôn, Ôuen e furriê foram chamados de “socialistas utópicos” por Karl márks e Frídric ênguels porque, segundo eles, criticavam a sociedade capitalista, mas não apresentavam propostas que pudessem superá-la concretamente.

Opondo-se às propostas dos socialistas utópicos, márks e ênguels elaboraram uma teoria que chamaram de “socialismo científico”, por considerarem racional e capaz de solucionar os problemas sociais. Segundo a teoria marquicísta, existe uma permanente luta de classes na sociedade, responsável por mover a história. Em meados do século dezenove, essa luta se manifestava no conflito entre a burguesia e o proletariado.

márks observou que, no capitalismo, a burguesia detinha todos os meios de produção e os trabalhadores vendiam sua fôrça de trabalho em troca de um salário. Porém, o salário era sempre menor do que a riqueza gerada pelo trabalhador. márks chamou essa diferença de mais-valia, que é a base da acumulação de capital promovida pelo sistema capitalista.

Como essa situação poderia ser transformada? Para márks e ênguels, o capitalismo só poderia ser derrubado com uma revolução dos trabalhadores, por meio da qual tomariam o poder, se apropriariam dos meios de produção e instituiriam a ditadura do proletariado. O Estado seria governado pelos trabalhadores até que todas as classes sociais desaparecessem, para, enfim, ser estabelecido o comunismo.

Socialistas utópicos

Apesar das diversas críticas feitas por márks e ênguels em relação aos primeiros socialistas (chamados por eles de “socialistas utópicos”), é importante ressaltar que o diag­nóstico crítico que sãn simôn, Ôuen e furriê fizeram dos limites da democracia implementada com as revoluções liberais do século dezenove foi muito importante para construir um novo conjunto de teorias sociais.

Pintura. Vista de uma rua em perspectiva. À direita e à esquerda, construções em tons de bege. À esquerda, estacionada na rua, uma carruagem vermelha. À direita, uma calçada cinza, onde há um grupo de crianças e mulheres à frente de uma loja, em cujo balcão há um homem. À esquerda, vista da traseira da carruagem vermelha estacionada. A carruagem está aberta, com a cobertura preta e brilhante recolhida na parte de trás do veículo. Nos bancos, sentadas, duas mulheres, ambas de vestido longo vermelho e chapéu vermelho com flores. Uma delas, mais à esquerda, segura uma sombrinha vermelha aberta. Ao redor delas, há três crianças. Duas crianças pequenas com vestes brancas e rendadas e um menino mais velho, loiro, em pé, com chapéu cinza, casaco dourado, colete dourado e camisa com gola de renda branca. Ao fundo,  visto de costas, o cocheiro, sentado em um patamar mais elevado da carruagem, usando cartola preta sobre a cabeça, casaco marrom e segurando um chicote de cabo fino preto.  Na calçada, à direita, diante de uma loja aberta, um homem de chapéu preto, camisa branca e colete marrom, posicionado atrás de um balcão distribui objetos para crianças e mulheres, em primeiro plano, vestidos com roupas simples.  Uma das meninas, ruiva, de cabelos curtos, usa um vestido cor de rosa rasgado e está descalça. Elas estão com o corpo de frente para um balcão, algumas com os braços estendidos, pegando algo sobre ele. Objetos semelhantes a sacolas de cor bege com listras.  Há cerca de dez crianças de idades variadas e três mulheres, uma delas com um bebê no colo. Essa mulher usa um lenço preto sobre os cabelos, xale preto sobre um vestido longo e preto e apoia uma das mãos nas costas de uma criança loira, vista de costas, com chapéu preto, casaco preto, meias longas pretas e botinas pretas. À direita, próximo ao aglomerado de crianças, um cachorrinho branco com manchas cor de caramelo é visto de costas, observando o grupo de crianças.  Atrás dele, atravessando a rua, uma menina mais velha segura a mão de uma menina mais nova. Ambas usam chapéus cor de palha com fitas azuis e seguram bolsas cor de palha com alças. A mais velha usa um vestido cinza e um lenço vermelho no pescoço. A mais nova usa um vestido cor de rosa, meias curtas brancas e sapatinhos pretos. Ao fundo, à esquerda uma senhora com chapéu preto com flores sobre a cabeça, blusa de renda preta, saia armada dourada e uma sombrinha preta fechada, que é seguida por um homem de cabelos brancos, cartola preta e casaco marrom segurando uma caixa, se dirige para a carruagem.  À esquerda e à direita, construções em tons de bege. No centro e no alto, o céu azul claro e nuvens brancas.
Frif, Uílham Páuel. Pobreza e riqueza. 1888. Óleo sobre tela, 81,3 por 119,4 centímetros. Coleção particular. Nesta obra, o artista representou alguns contrastes sociais vistos nas ruas de Londres: à esquerda, uma família em sua carruagem representa a “riqueza”; à direita, homens, mulheres e crianças, possivelmente trabalhadores, representam a “pobreza”.
Respostas e comentários

Orientações

cál marcs nasceu em Treves, na Alemanha, em 1818. Depois de doutorar-se em Filosofia, mudou-se para Paris, onde conheceu fréderique ênguels, seu companheiro de trabalho por toda a vida. Juntos, publicaram, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista, um programa de ação para o proletariado que inspirou a criação de organizações e movimentos mais tarde designados como marquicístas. Segundo o Manifesto, o comunismo seria o último estágio do desenvolvimento social, caracterizado pela ausência de Estado, pela abolição das classes sociais e pela coletivização dos meios de produção.

Observação

O conteúdo apresentado nesta página possibilita aos estudantes compreender o contexto de formação das diversas teorias e pensamentos na Europa do século dezenove, fornecendo subsídios para o aprofundamento do trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

O que é anarquismo?

O anarquismo não pode ser compreendido como uma única corrente teórica, pois apresenta diversas características e diferentes fórmas de atuação.

Para os anarquistas, o Estado é o criador das desigualdades sociais. Por isso, eles não concordavam com a tese de márks de que os trabalhadores devem tomar o poder e instituir a ditadura do proletariado. Para eles, o Estado deve ser abolido e substituído por fórmas de organização cooperativas e baseadas na autogestãoglossário .

A luta dos anarquistas sempre primou pela ação direta como meio de difundir suas ideias. Organizando greves e outras fórmas de luta dos trabalhadores, os anarquistas exerceram forte influência no movimento operário mundial até a década de 1920.

Entre os principais expoentes do anarquismo nos séculos dezenove e vinte estão os franceses Pierre-J e Luíse Michel, os russos Micail Bakunin, Emma Goldman e e a estadunidense Lúci Pársans.

O termo “anarquia” vem do grego anar rôs, que significa “sem govêrno”. Até hoje, mui­tas pessoas associam as pala­vras “anarquia”, “anarquismo” e “anarquista” à desordem ou ao caos; porém esse não era o sentido que os anarquistas davam a suas ideias.

Fotografia preto e branco. Uma mulher vista do busto para cima, com o corpo voltado para a esquerda, olhando para frente. Ela tem cabelos escuros e cacheados cobertos por um chapéu arredondado com plumas claras, usa blusa de gola alta branca e casaco de lapela grande caída por cima. Ela está com o olhar triste e vago.
Fotografia de Lúci Pársans na década de 1920.

A história de Lúci Pársans

Lúci Pársans nasceu em 1851. Chegou a ser escravizada durante a infância, quando vivia no sul dos Estados Unidos. Mais tarde, já livre, passou a fazer parte do movimento operário estadunidense, sendo responsável por fundar algumas organizações de trabalhadores. Foi uma das mais influentes pensadoras do anarquismo em sua época.

Lúci também publicava textos e artigos em jornais. Em 1905, participou da edição do periódico Liberator, que servia como meio de comunicação e informação para os trabalhadores na cidade de Chicago. Depois, em 1927, trabalhou no Comitê Nacional de Defesa do Trabalho, organização que pretendia defender a organização de atividades políticas dos trabalhadores. Lúci Párssons faleceu em 1942.

Respostas e comentários

Orientações

O século dezenove também foi marcado pela forte oposição entre ideologias que se diferenciavam na análise que faziam do capitalismo e nas propostas que apresentavam aos problemas sociais gerados ou intensificados por ele. Basicamente, duas ideologias predominaram: a liberal e a socialista. Enquanto o liberalismo buscava soluções que não gerassem alterações profundas na estrutura social, as diversas vertentes do socialismo tinham em comum a crítica ao capitalismo, à propriedade privada e à divisão da sociedade em classes. Os socialistas e anarquistas divergiam quanto aos caminhos e métodos que deveriam ser empregados para atingir o ideal de uma sociedade igualitária.

Conhecer as teorias socialistas e anarquistas que fizeram contraponto ao capitalismo e ao liberalismo auxiliará os estudantes a compreender as tensões no interior do processo de consolidação dos discursos civilizatórios, bem como o contexto histórico e cultural da Europa no século dezenove.

Observação

O conteúdo desta página oferece subsídios para ampliar o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

Ler o texto

Os falanstérios de furriê

As falanges propostas por furriê seriam correspondentes a pequenas unidades sociais com populações de cêrca de 1 500 habitantes, e cada uma possuiria um edifício comum chamado falanstério no qual todos viveriam harmoniosamente. reticências

reticências como modêlo de redistribuição da riqueza, previa-se que esta seria orientada de acôrdo com a qualidade do trabalho produzido por cada um reticências. Bem estabelecido, não seria uma remuneração privilegiando propriamente tipos diferentes de trabalho, mas sim a eficiência e o benefício real que os grupos profissionais estivessem produzindo para a comunidade. Quanto menos doentes tivesse um falanstério, mais os médicos deste falanstério seriam bem remunerados; quanto menos problemas estruturais ou de manutenção afligissem o edifício, mais ganhariam os engenheiros e técnicos; afinal, tais índices indicariam que eles estavam fazendo melhor o seu trabalho reticências.

reticências As roupas teriam botões nas costas, pois assim os seres humanos precisariam sempre uns dos outros para abotoá-los e desabotoá-los, o que impediria o estabelecimento dos padrões individualistas e egoístas que tanto caracterizavam a sociedade “civilizada” do seu tempo. reticências

BARROS, José dassunção. Os falanstérios e a crítica da sociedade industrial: revisitando chárles furriê. Mediações, Londrina, volume 16, número 1, janeiro/junho 2011. página 246-251.

Gravura. Vista elevada de um local com seis construções, cinco delas retangulares, formando um círculo com um pátio interno livre no centro.  Há três construções na parte superior e três na parte inferior. As construções seguem o mesmo padrão com paredes de cor bege e telhado marrom, com inúmeras janelas no contorno. Perto das construções na parte inferior da imagem, árvores contornam uma pequena parte externa à construção, formando semicírculos na entrada delas. À direta, há um rio de águas azuis, por onde passa uma pequena embarcação; há uma ponte ao fundo e partes com árvores e vegetação.
Representação do falanstério (ou familistério) de Godin, em Guise, norte da França. Final do século dezenove. Gravura.
  1. O que eram os falanstérios propostos por furriê? De que maneira a convivência harmoniosa seria alcançada nessas comunidades?
  2. Como seria definida a remuneração dos trabalhadores nos falanstérios? Qual é a finalidade de estabelecer esse critério de remuneração?
  3. A proposta de furriê foi considerada utópica por outros pensadores, como márks e ênguels. Por quê?
  4. Na sua opinião, as ideias de harmonia e coletividade social são uma utopia? Por quê? Quais são as dificuldades com as quais teríamos de lidar para implantar uma sociedade harmoniosa como a pensada por Fourier?
Respostas e comentários

Orientações

O texto escolhido descreve a estruturação dos falanstérios, uma fórma de organização imaginada por chárles furriê, baseada nos princípios de igualdade e cooperação entre as pes­soas. Estimule os estudantes a refletir sobre o sentido e a origem da palavra utopia, já que furriê foi considerado por seus críticos márks e ênguels um socialista utópico. Para isso, poderão recorrer a um dicionário. Sugerimos ainda mencionar a obra de Tômas Morus, escrita no século dezesseis, em que o autor tece críticas à sociedade inglesa de seu tempo e descreve uma ilha imaginária, onde todos eram felizes, não havia sofrimentos, doenças nem injustiças. Peça aos estudantes que observem a gravura que reproduz uma comunidade organizada segundo os princípios de furriê, construída pelo industrial francês Gudán para abrigar seus operários.

Respostas

Ler o texto:

1. Eram pequenas unidades sociais nas quais vivia um número limitado de pessoas, sem as contradições geradas pelo processo de industrialização. A convivência harmônica nos falanstérios seria alcançada pela construção de novos valôres baseados na ajuda mútua, na coletividade e no bem-estar comum.

2. Os trabalhadores teriam uma maneira diferenciada de remuneração. A diferença salarial entre eles não seria estabelecida com base no tipo de ofício exercido, mas de acôrdo com a eficiência do serviço e com os benefícios que ele gerasse para a coletividade. O objetivo era comprometer os trabalhadores com os resultados do seu trabalho. Ao estabelecer a remuneração com base na eficiência e nos benefícios reais gerados pelo trabalho, haveria maior disposição dos trabalhadores em exercer suas funções da melhor fórma possível.

3. furriê tentou realizar seu projeto com o apôio e o financiamento de diversas pessoas ricas ou influentes, o que nunca aconteceu. Para produzir uma unidade como os falanstérios, seria preciso, além do apôio do idealizador e do grupo de pessoas interessadas nessa experiência, a ação voluntária das elites, que teriam de concordar em perder boa parte de suas propriedades e privilégios em troca do bem-estar comum. Por isso, a proposta de furriê foi considerada utópica por muitos outros pensadores.

4. Resposta pessoal. Esta questão possibilita um debate em sala de aula.

Observação

O trabalho proposto nesta seção favorece a ampliação dos conhecimentos sobre o contexto histórico e cultural da Europa no século dezenove e contribui para o aprofundamento do trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

A Comuna de Paris

Entre 18 de março e 28 de maio de 1871, a capital francesa viveu a experiência da Comuna de Paris, considerada por márks a primeira experiência socialista da história. O movimento teve à frente trabalhadores, teóricos de várias correntes socialistas e anarquistas.

Essa experiência de govêrno teve origem em uma crise agravada pela Guerra Franco-Prussiana. Em setembro de 1870, as tropas prussianas cercaram a cidade de Paris, que se fechou e se dispôs a resistir. Porém a situação na cidade se tornou extremamente difícil: a população teve de lidar com a falta de comida e o surgimento de epidemias.

Em março de 1871, os parisienses, insatisfeitos com a ação violenta do govêrno contra as revóltas populares, tomaram as ruas, levantaram barricadas e forçaram os governantes a fugir. Dias depois, nascia a Comuna de Paris.

O govêrno da Comuna instituiu medidas como a criação de um Estado no qual as decisões eram tomadas pela população em reuniões regulares, o estabelecimento de eleições para escolher os funcionários do Estado e o congelamento dos aluguéis e dos preços de gêneros de primeira necessidade. Além disso, criou creches e escolas para os filhos dos trabalhadores e passou o comando das fábricas abandonadas para os operários. A ideia da igualdade entre homens e mulheres foi colocada em ação pela primeira vez na história.

A Comuna de Paris, no entanto, foi brutalmente esmagada pelo exército francês, com apôio do exército prussiano. cêrca de 20 mil “comunardos” foram assassinados e outros 40 mil foram deportados para colônias francesas. Com o fim da Comuna, uma reforma urbana destruiu os bairros onde foram levantadas as barricadas. A curta experiência da Comuna foi incorporada na memória coletiva dos trabalhadores como modêlo de govêrno popular e colaborou para perpetuar o medo da revolução entre os proprietários franceses.

Fotografia preto e branco. Em uma rua, vista de frente, com construções dos dois lados, no centro, há dezenas de homens vestidos de preto. Eles estão posicionados sobre uma barricada feita com montes de pedras claras impedindo a passagem na rua. Eles usam chapéus, casacos, calças e sapatos escuros. Alguns deles estão à frente, agachados e seguram armas apontadas para  o alto. Outros estão em pé sobre a barricada e um deles, à esquerda, tem um tambor redondo à frente do corpo. Por entre os montes de pedra é possível identificar canos de canhões apontados para a frente. Em segundo plano, à esquerda e à direita, prédios com mais de três andares, vistos parcialmente. Mais ao fundo, prédios vistos parcialmente entre neblina.
Barricada erguida pelos revolucionários na rua Charonne, durante a Comuna de Paris, na França. Fotografia de 1871. Biblioteca Histórica da Cidade de Paris, Paris, França.
Respostas e comentários

Texto complementar

A Comuna de Paris, em 1871, durou apenas 72 dias. Todavia, foi uma experiência revolucionária que mobilizou a cidade de Paris e provocou entusiasmo e temor em toda a Europa. O texto que selecionamos é uma carta do pintor gustáv curbê para os artistas de Paris:

Carta aos artistas de Paris

Paris, 18 de março de 1871

Meus queridos companheiros artistas: As administrações anteriores que governaram a França quase destruíram a arte ao protegê-la e ao suprimir sua espontaneidade. Essa abordagem feudal, sustentada por um govêrno despótico e discricionário, não produziu nada além de arte aristocrática e teocrática, justamente o oposto das tendências modernas, de nossas necessidades, de nossa filosofia, e da revelação do homem manifestando sua individualidade e sua independência física e moral. Hoje, numa época em que a democracia deve reger todas as coisas, seria ilógico a arte, que conduz o mundo, ficar para trás na revolução que está ocorrendo agora na França

reticências

Portanto, para tomarmos decisões sobre bases mais racionais e mais adequadas aos nossos interesses comuns, no intuito de abolir os privilégios, as falsas distinções que estabelecem entre nós hierarquias perniciosas e ilusórias, é desejável que os artistas definam seu próprio curso. Deixe que eles determinem como farão as exposições; deixe que definam a composição dos comitês; deixe que obtenham o local onde será a próxima exposição. reticências

Corbé, Gustáve. Carta aos artistas de Paris. Verve, número 15, página. 123-125, 2009.

Observação

O conteúdo desta página fornece subsídios para o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

CONCEIÇÃO, Marcus Vinicius (Organização.). O significado da Comuna de Paris. Goiânia: Edições Enfrentamento, 2021.

O livro traz diversos textos que analisam as experiências durante a Comuna de Paris.

ROBSBAUM, Eric. A era do capital: 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.

Nessa obra róbisbáum analisa as transformações fundamentais na Europa no final do século dezenove e a consolidação do capitalismo industrial.

Vínti, Crístian F. R. Guimarães. O que é anarquismo. São Paulo: Editora Lafonte, 2020.

O livro traz informações sobre os principais teóricos do anarquismo e as bases do seu pensamento.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. O movimento conhecido como Escola de Barbizon reuniu artistas no vilarejo de Barbizon, na França. A intenção dos artistas era retratar as paisagens do entôrno campestre por intermédio do estudo direto do meio. Jan-Françuá Mié (1814-1875), pintor e membro fundador dessa escola, foi além da ideia original e passou a inserir personagens da vida rural em seu trabalho, como mostra a pintura a seguir.

Pintura. Em um local aberto, um campo cultivado, no centro, em primeiro plano, há três mulheres curvadas na direção do solo, com vegetação de cor bege, seca, segurando ramos de trigo de cor bege. Elas usam um lenços coloridos amarrados na cabeça (nas cores azul, vermelho e amarelo, da esquerda para a direita), vestem blusas de mangas longas coloridas (marrom, branco e azul) e saias compridas (cinza, marrom e azul), e aventais brancos presos à cintura, com o qual as mulheres do centro e da direita fazem uma dobra na qual depositam o trigo colhido. A mulher da esquerda segura as espigas em um chumaço que segura com uma de suas mãos, repousando sobre suas costas flexionadas. Ao fundo, há montes  de espigas de cor amarela, e uma carroça carregada com fardos puxada por animais. As mulheres recolhem apenas as sobras da colheita.   Em segundo plano, à direita, casas com telhados de cor cinza e árvores. No alto, o céu azul e nuvens brancas.
Mié, Jan-Françuá. As respigadoras. 1857. Óleo sobre tela, 83,8 centímetros por 111 centímetros. Museu de Orsay, Paris, França.
  1. Descreva as figuras e o cenário mostrados na pintura.
  2. As características dessa obra são próprias do Romantismo ou do Realismo? Argumente com base em elementos da pintura.
  3. Compare essa pintura de Jan-Françuá Mié com a obra A Liberdade guiando o povo, de delacroá, apresentada anteriormente, na seção "Lugar e cultura". Aponte as principais diferenças entre o Realismo e o Romantismo tomando como exemplo as características das duas obras.
  1. Escreva um texto sobre o aumento populacional ocorrido no século dezenove, considerando os seguintes aspectos: mecanização da agricultura, problemas de saúde pública, expansão das indústrias e escassez de moradias.
  2. O progresso tecnológico do século dezenove foi acompanhado por um desenvolvimento notável da ciência. Identifique algumas das teorias científicas do século dezenove.
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objetos de conhecimento

Revolução Industrial e seus impactos na produção e circulação de povos, produtos e culturas.

Nacionalismo, revoluções e as novas nações europeias.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero oito agá ih zero três (atividades 1, 2, 6, 7, 8, 9)

ê éfe zero oito agá ih dois três (atividade 3, 4, 5)

Respostas

1. a) A pintura mostra um panorama da colheita de trigo. Em primeiro plano, podemos ver três mulheres, que parecem recolher restos da colheita. Elas usam um lenço na cabeça, vestem blusas com mangas longas e saias compridas e trazem uma espécie de saco preso à cintura, no qual depositam o trigo. Ao fundo, vemos outros trabalhadores e o resultado da colheita em grandes montes e também em carroças.

b) A paisagem, os personagens e a iluminação da cena foram representados de maneira realista. Em destaque na obra aparece a imagem da natureza transformada (plantação de trigo), privilegiando a figura das trabalhadoras. A pintura confere dignidade a pessoas e atividades que, na sociedade capitalista, não têm prestígio. A grande colheita está ao fundo da tela para retratar os contrastes sociais existentes na sociedade. Por representar o trabalho rural e a natureza sem idealização, a pintura pode ser considerada uma obra do Realismo.

c) A obra de delacroá está impregnada da emoção e da fôrça dramática da estética romântica. O uso de côres e traços fortes, e a presença de símbolos da Revolução Francesa procuram enfatizar o vigor da mobilização revolucionária e da união nacional na luta pela liberdade. Já a obra de Mié evidencia a preocupação em representar a paisagem e as figuras humanas de maneira realista, sem idealização da paisagem natural e do trabalho. Também não há menção ao nacionalismo, mas simplesmente aos trabalhadores.

2. Sugestão de resposta: A mecanização da agricultura propiciou o aumento da produção de alimentos, o crescimento populacional e o deslocamento de grande contingente de trabalhadores do campo para as cidades em fase de expansão das indústrias. A desigualdade social gerou diversos problemas para os trabalhadores que se aglomeravam nos bairros pobres das cidades que se urbanizavam, com escassez de moradias, de serviços públicos e falta de saneamento, causando graves problemas de saúde pública. Em contrapartida, essa situação favoreceu a formação do operariado urbano, que passou a se organizar pela conquista de direitos.

3. Duas teorias científicas importantes do século dezenove foram elaboradas por Jean Batísti de Lamarck e Charles Dárvin. O primeiro desenvolveu a teoria da transformação das espécies, e o segundo, a teoria da seleção natural. Essas teorias marcaram a ascensão do pensamento científico como maneira de explicar o mundo, assim como a cisão entre a ciência e a religião.


  1. Explique em que medida o darvinísmo social pode ser relacionado com fórmas de racismo surgidas ao longo do século dezenove.
  2. Copie em seu caderno apenas as afirmativas verdadeiras.
    1. Durante o século dezenove, a mentalidade científica na Europa buscava conciliar as conquistas da ciência com os dogmas da fé.
    2. Para a nova mentalidade do século dezenove, a ciência e a tecnologia se mostravam mais capacitadas que a fé para resolver os problemas sociais.
    3. A razão era um instrumento fundamental para a criação artística e literária do movimento romântico.
    4. A observação e a objetividade eram atitudes valorizadas tanto pelo Realismo quanto pela mentalidade científica do século dezenove.
  3. O russo Micail Bakunin (1814-1876) foi o principal porta-voz das divergências que os anarquistas travaram com a teoria elaborada por carl márks. No texto a seguir, o trecho de Bakunin está grafado em tipo normal e o comentário de márks, em itálico.

Já manifestamos nossa profunda repugnância pela teoria de Lassalle e márks, que recomenda aos operários, senão como ideal supremo, pelo menos como objetivo imediato e principal, a instauração de um Estado popular, o qual, segundo sua expressão, não será senão o proletariado erigido em classe dominante. E a gente se pergunta: quando o proletariado for a classe dominante, sobre quem vai dominar? Isto significa que sobrará outro proletariado, submetido a essa nova dominação, a este novo Estado. (Isto significa que enquanto subsistam as outras classes e especialmente a classe capitalista, enquanto o proletariado lute contra elas – pois com a ascensão do proletariado ao poder não desaparecem ainda seus inimigos, nem desaparece a velha organização da sociedade – terá que empregar medidas de violência, isto é, medidas de govêrno reticências).

márquis, cal; ênguêl frederíc. O anarquismo. São Paulo: Acadêmica, 1987. página 73.

Fotografia preto e branco. Sobre um fundo em tons de cinza e preto, um homem visto da cintura para cima. Ele tem cabelos longos e escuros com cachos nas pontas, olhos claros, barba longa em tons escuros com fios grisalhos, usa camisa branca gravata preta, colete preto e casaco escuro. Ele está apoiado com o braço direito sobre uma base de madeira e segura na mão um objeto fino na vertical.
Fotografia de Micail Bakunin, século dezenove.
  1. Qual questionamento Bakunin faz à teoria marquicísta?
  2. Qual foi a resposta de márks à crítica de Bakunin?
  1. Elabore em seu caderno um resumo com as seguintes informações sobre a Comuna de Paris:
    1. Ano de eclosão do movimento.
    2. Causas imediatas.
    3. Grupos que participaram.
    4. Duração e resultados.
  2. Quais ações realizadas pela Comuna de Paris foram influenciadas por ideias socialistas e anarquistas?
  3. Que diferença podemos destacar entre a Comuna de Paris e as revoluções de 1789 e 1848?
Respostas e comentários

4. O darvinísmo social foi utilizado para legitimar o racismo, justificando a crença em raças e povos superiores e mais evoluídos do que outros. A teoria evolucionista serviu aos interesses daqueles que pretendiam manter as desigualdades sociais entre brancos e negros nos países, assim como a dominação imperialista na África.

5. b e d.

6. a) Bakunin questiona a tomada do poder e o contrôle do Estado pelo proletariado. O teórico anarquista se opunha a toda fórma de autoridade e de Estado.

b) márks contrapõe o argumento de que seria necessário um período de transição entre a conquista do poder pelo proletariado e a completa consolidação de uma nova sociedade. Dessa fórma, nessa transição seria necessário o uso da violência e das medidas de govêrno para derrotar os capitalistas.

7. a) Movimento revolucionário que ocorreu de março a maio de 1871.

b) A derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana, o forte descontentamento da população diante das péssimas condições de vida e a repressão violenta do govêrno às revóltas populares levaram os trabalhadores a tomar as ruas da cidade contra as tropas oficiais e forçar o govêrno a recuar.

c) Participaram trabalhadores liderados por grupos anarquistas e socialistas.

d) A Comuna governou a cidade de Paris por dois meses e implantou medidas populares e igualitárias, mas os revolucionários foram duramente reprimidos pelas tropas do govêrno. Muitas pessoas foram mortas, presas ou deportadas. Após a derrota da Comuna, Paris passou por uma grande reforma urbana.

8. As decisões da Comuna eram tomadas pela população em reuniões regulares,com influências de ideias socialistas e anarquistas, como a determinação de que a produção deveria ser organizada por associações de produtores e a de que o ensino deveria ser gratuito, obrigatório e laico, além de estabelecer a igualdade entre homens e mulheres.

9. A Comuna de Paris, apesar de sua curta duração, foi considerada por márks a primeira experiência socialista da história, com um govêrno organizado pela ação popular, que colocou no centro da discussão a igualdade e os interesses dos trabalhadores. A Revolução Francesa de 1789 também tinha como princípio a igualdade entre os grupos sociais, porém a influência do pensamento iluminista e das camadas burguesas foi decisiva para os rumos do movimento. Os movimentos de 1848 misturaram ideias liberais e nacionalistas no enfrentamento das problemáticas sociais, políticas e econômicas.

Ícone. Ilustração do globo terrestre circundado por uma linha amarela, simulando a trajetória da Lua em torno do planeta, indicando a seção Ser no mundo.

Ser no mundo

Economia

O cotidiano do trabalho nas tirinhas

Você já estudou a mecanização da indústria e a posterior expansão da industrialização pela Europa, no século dezenove. As mudanças no mundo do trabalho, a partir da Revolução Industrial, foram enormes. Nesse período, o modo como os empresários organizavam o trabalho em suas fábricas mudou. A fórma como os operários se organizavam para defender seus direitos e exigir melhores condições de trabalho também se modificou.

Observe atentamente as duas tirinhas a seguir. Elas tratam de facetas do mundo do trabalho na sociedade capitalista.

Tirinha. Composta por apenas um quadro, com os personagens Frank, um homem grande de cabelos pretos cobertos por um boné azul usando jardineira azul e camisa preta, e Ernest, homem mais baixo, de cabelos pretos usando o mesmo tipo de roupa do outro. A cena se passa de frente para uma esteira cinza de montagem de peças, no contexto de uma fábrica. À esquerda, uma máquina que joga peças de metal em forma de 'c' na esteira, Frank completa a peça encaixando um parafuso. Ernest a complementa colocando uma porca.  à direita, Frank com um balão de fala: 'VOU ME APOSENTAR AMANHÃ E SABE O QUE VOU FAZER? ANDAR ATÉ O FIM DESTA LINHA DE MONTAGEM E DESCOBRIR O QUE ESTOU FAZENDO HÁ 30 ANOS!'.

têivês, bób. Tirinha de Frênqui e Êrnest. Publicada em 19 de fevereiro de 1997.

Quadrinhos. História em três quadros. Apresenta como personagens, o Chefe, um homem calvo no centro da cabeça com  mechas de cabelos pretos  nas laterais, penteados para cima em forma de chifre. Ele usa terno cinza, camisa branca e gravata vermelha. Além dele, Catbert, um gato de cor laranja avermelhado com listras pretas, corpo arredondado, bigodes pretos e óculos de lentes redondas e brancas. Primeiro quadro. O Chefe, com o corpo voltado para a direita, segurando uma xícara branca com café marrom e o balão de fala: 'NÃO SEI POR QUE TODO MUNDO ANDA DE MAU HUMOR ULTIMAMENTE'. Catbert, sentado no tampo de uma mesa de escritório marrom o observa. Segundo quadro. Foco em Catbert sentado sobre o tampo da mesa e com o balão de fala: 'TALVEZ ESTEJAM COM PROBLEMAS PESSOAIS'. Terceiro quadro. O Chefe,  agora com o corpo para à esquerda, xícara na mão direita e a outra mão para frente, e o balão de fala: 'COMO ELES PODEM TER TEMPO PARA PROBLEMAS PESSOAIS SE FAÇO ELES TRABALHAREM 70 HORAS POR SEMANA?' À direita, Catbert, sentado sobre o tampo na mesa com o balão de fala: 'ENTÃO NÃO SEI O QUE É'.

Ádamis, Iscót. Tirinha do personagem Dílbert. Publicada em 9 de julho de 2014.

  1. Em que ambiente os personagens frênqui e Êrnest foram representados nas tirinhas? Em que função eles estão trabalhando?
  2. Que relação os personagens frênqui e Êrnest têm com os artigos que são produzidos? Utilize seus conhecimentos de História e explique por que isso acontece.
  3. Os personagens frênqui e Êrnest apresentam alguma crítica? Qual?
  4. A rotina de trabalho em uma empresa é o tema central das tirinhas do personagem Dílbert, de iscót ádams. Que problema está sendo tratado na tirinha? Como essa situação problemática afeta a vida do trabalhador?

Será que os autores de histórias em quadrinhos, hoje, desenhariam tirinhas diferentes para falar sobre o trabalho na atualidade, considerando que o mundo do trabalho muda o tempo todo? Para pensar sobre isso, leia o trecho de reportagem a seguir.

Respostas e comentários

Seção Ser no mundo

Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1 e número 6, esta seção propicia ao estudante valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos reticências e valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

O trabalho aqui proposto também possibilita ao estudante desenvolver a Competência Específica do Componente Curricular História número 1: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo.

A abordagem proposta nesta seção, no texto e nas atividades favorece o trabalho com o tema contemporâneo Ciência e tecnologia.

O trabalho proposto nas atividades desta seção também favorece as práticas de análise documental e observação, tomada de nota e construção de relatórios.

Habilidade

ê éfe zero oito agá ih zero três: Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas.

Respostas

1. Os personagens foram representados no interior de uma fábrica. Eles estão trabalhando em uma linha de montagem.

O modêlo de produção industrial em linha de montagem será estudado no livro do 9º ano.

2. De maneira exagerada, com o intuito de provocar o humor, um dos personagens diz que não sabe qual produto está fabricando. Ele trabalha em um posto fixo de uma linha de montagem, e sua função se restringe a uma das etapas do processo industrial.

Com base nos conhecimentos de História que os estudantes já têm, ajude-os a perceber que muitas criações culturais, como quadrinhos, filmes, novelas e músicas, podem ser inspiradas em eventos, processos e conceitos históricos. Essa informação pode representar uma grande descoberta para os estudantes, e a visão deles sobre a disciplina pode se tornar mais positiva.

3. Sim. Os personagens criticam o trabalho exaustivo, rotineiro e alienante de uma linha de montagem. Não ter a visão do artigo final que está sendo produzido na fábrica constitui a crítica clássica ao trabalho na linha de montagem, pois mostra a alienação dos trabalhadores. Em um sistema de trabalho como esse, os operários não participam de todas as etapas da produção.

Mudanças no mundo do trabalho

Com a evolução acelerada da tecnologia, o perfil do trabalho no mundo está mudando. O trabalho a partir de casa, horários flexíveis e vínculos menos formais são exemplos de alteração nas relações entre empregadores e contratados. reticências Para especialistas, as novas fórmas de trabalho precisam de regulação.

BRANCO, Mariana. Novas fórmas de trabalho precisam de regulação, defendem especialistas. Agência Brasil, 1º maio 2016. Disponível em: https://oeds.link/2fIM2K. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Em 2020, com o início da pandemia de covíd-19, o mundo do trabalho sofreu alterações, não apenas para os trabalhadores da área da saúde. Mesmo com a vacinação e os cuidados para evitar a transmissão, ficou claro que os empregadores deveriam adotar fórmas de garantir a saúde dos trabalhadores, estabelecendo o trabalho home office (do inglês, “escritório em casa”) e o rodízio de equipes no local presencial de trabalho, por exemplo.

covíd-19, nova doença no mundo do trabalho

Para [estudiosos da atualidade], a covíd-19 é a primeira nova doença profissional dessa década [2020], o que demanda a rápida detecção das ocupações de maior exposição. Segundo [os autores], além dos trabalhadores da saúde, os últimos fatos revelaram que merecem atenção: vendedores de artigos hospitalares, trabalhadores domésticos, guias turísticos, ourives que atendem turistas, executivos de multinacionais, taxistas, motoristas particulares, agentes de segurança, reticências e trabalhadores da construção.

[Há também outros trabalhadores que merecem atenção por estarem expostos à doença], como tripulações marítimas e aéreas, pessoal dos serviços de emergência (policiais, bombeiros etcétera), cuidadores, educadores, trabalhadores domésticos, da alimentação e os motoristas de transportes públicos.

Para preservar a saúde desses trabalhadores, além das medidas de teletrabalho e quarentena, foram reforçadas as medidas de higiene, assim como foi destacada a importância do rastreamento, notificação e vigilância da doença, ações educativas e acompanhamento por telessaúde.

SOUZA, Diego de Oliveira. A saúde dos trabalhadores e a pandemia de covíd-19: da revisão à crítica. Vigilância sanitária em debate. volume 8. número 3. agosto 2020. página 129. Disponível em: https://oeds.link/XhjHs5. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Fotografia. Grupo de mulheres fotografadas do busto para cima em uma manifestação. À frente, uma mulher de cabelos longos, lisos, castanhos e presos, vestida com camiseta laranja e máscara cirúrgica sobre o rosto em tom azul-claro. Com os dois braços para o alto, ela segura um cartaz no qual está escrito, em espanhol: 'Não cortem as mãos que te cuidam'.  Em segundo plano, no fundo desfocado, outras mulheres segurando cartazes e um muro alto, com vegetação à direita, vista parcialmente.
Trabalhadoras da área da saúde em manifestação em Madri, na Espanha, em 2020, durante a pandemia de covíd-19. No cartaz, estão os dizeres Não cortem as mãos que te cuidam.
  1. O primeiro trecho afirma que o perfil de trabalho mudou muito com a evolução da tecnologia. Que exemplos são citados para explicar essa mudança?
  2. O segundo trecho aborda o mundo do trabalho no contexo da pandemia. Quais foram os impactos da covíd-19 no mundo do trabalho e os trabalhadores mais afetados pela doença?
  3. Se você fosse desenhar uma tirinha de humor para falar sobre algum problema no mundo do trabalho da atualidade, que tirinha você faria? Em seu caderno, desenhe ou descreva sua tirinha.
Respostas e comentários

Respostas

4. É esperado que os estudantes percebam que, na tirinha de Dílbert, o grande problema é a questão do trabalho exaustivo. O excesso de horas trabalhadas faz com que os funcionários da empresa fiquem “de mau humor”, de acôrdo com a visão do “chefe”. Esse “mau humor”, na realidade, deve-se ao cansaço e ao estresse decorrentes do trabalho excessivo. Na tirinha, os funcionários da empresa trabalham tanto que ficam “sem tempo” para ter problemas pessoais. Ou seja, o autor da tirinha critica, de fórma bem-humorada, o excesso de trabalho na vida das pessoas atualmente.

5. A reportagem cita como exemplos o trabalho a partir de casa, os horários flexíveis e os vínculos menos formais.

6. O segundo trecho de reportagem caracteriza a covíd-19 como nova doença profissional e aponta as ocupações mais afetadas. Além dos profissionais de saúde, os estudantes poderão citar trabalhadores domésticos, guias turísticos, taxistas, trabalhadores da construção etcétera.

7. Incentive a criação dos estudantes. É possível que muitos deles façam tirinhas relacionadas à robotização, ao desemprêgo e às dificuldades atuais dos jovens no momento de conseguir o primeiro emprego.

Questões para autoavaliação

Nesta Unidade do livro, as questões sugeridas para autoavaliação – e que podem ser utilizadas, a seu critério, para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estudantes – são:

1. Quais foram as mudanças provocadas pela onda revolucionária que varreu a Europa na primeira metade do século dezenove?

2. Como a ideologia do nacionalismo esteve presente nos processos de unificação da Itália e da Alemanha?

3. Quais foram os desdobramentos da industrialização na Europa do século dezenove e que transformações esse processo provocou nas relações de trabalho e na vida do trabalhador?

4. Quais foram as principais teorias políticas do século dezenove que propunham transformar a sociedade?

5. O que foi a Comuna de Paris?

Glossário

Chanceler
Cargo equivalente ao de primeiro-ministro, que é o chefe do Poder Executivo nos regimes parlamentaristas.
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Miscigenado
Resultante de miscigenação, ou seja, da mistura de diferentes etnias.
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Ébrio
Que está embriagado; bêbado.
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Autogestão
Direção de uma instituição por seus próprios integrantes.
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